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Análise Numérico-Computacional de Blocos sobre Seis Estacas Metálicas


Submetidos à Força de Compressão Centrada Computational Numerical
Analysis of Six Steel Pile Caps Subjected to...

Conference Paper · January 2018

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Rodrigo Gustavo Delalibera Adriana Patrícia de Oliveira Silva


Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
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Antonio Carlos dos Santos


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Análise Numérico-Computacional de Blocos sobre Seis Estacas
Metálicas Submetidos à Força de Compressão Centrada
Computational Numerical Analysis of Six Steel Pile Caps Subjected to Central
Compression Load

Adriana Patrícia de Oliveira Silva (1); Rodrigo Gustavo Delalibera (2); Antônio Carlos dos
Santos (3)

(1) Engenheira Civil, Mestranda em Estruturas pela Faculdade de Engenharia Civil, Universidade
Federal de Uberlândia
email: adriana.oliveiras@live.com
(2) Professor Doutor, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia
email:delalibera@ufu.br
(3) Professor Doutor, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia
email: acds.pir@gmail.com

Faculdade de Engenharia Civil – Universidade Federal de Uberlândia, Campus Santa Mônica


Av. João Naves de Ávila, 2121 - Santa Mônica, Uberlândia - MG, CEP: 38408-100

Resumo
Este trabalho analisou e discutiu a ligação bloco-estaca metálica por meio da simulação numérica de quatro
blocos sobre seis estacas submetidos à ação de força vertical centrada, ação esta aplicada em dois pilares
de seção L. Para tanto, variou-se o comprimento de embutimento da estaca, bem como a utilização de
chapas de base junto ao topo das estacas. Na simulação numérica, foi feita modelagem tridimensional por
meio do método dos elementos finitos, levando em consideração a fissuração do concreto e o
comportamento plástico das barras de aço da armadura. A análise numérica possibilitou investigar o fluxo
de tensões principais de compressão e tração nos modelos, e constataram-se diferenças na transmissão de
forças para os blocos em função das variáveis investigadas nesse trabalho. Verificação não considerada no
modelo mais difundido para dimensionamento de blocos sobre estacas, chamada de Modelo de Bielas e
Tirantes. A partir dos resultados obtidos foi proposta a ligação bloco-estaca metálica mais adequada.
Palavra-Chave: estacas metálicas, ligação bloco estaca, embutimento, bielas e tirantes, análise numérica

Abstract
This paper analyzed and discussed the steel pile to pile cap connection by a numerical simulation of four
models of six steel pile caps subjected to a central compression load, applied by two columns of section L.
For this purpose, steel piles embedded length was varied, as well the use of a plate in the piles footing. A
nonlinear three-dimensional numerical analysis was done using the finite element methods, considering
concrete cracking and plasticity of the reinforcing steel bars. Numerical analysis allowed to investigate the
flow distribution of the principal stresses of compression and tension, and differences in the transmission of
forces to the pile-caps, when changing the analyzed variables, were detected. Verification not considered in
the most widespread model for size pile-caps, called the Strut and Tie Model. With the results obtained, the
most suitable steel pile to pile cap connection was proposed.
Keywords: steel piles, pile-to-pile- cap connection, embedded, strut-and-tie, numerical analysis

ANAIS DO 59º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2017 – 59CBC2017 1


1 Introdução
As estacas metálicas além de serem utilizadas em estruturas de contenção e em pilares
de divisa, têm ganhado mercado como uma solução de alta eficiência em projetos de
fundações profundas, do tipo bloco sobre estacas, em diversas situações (GERDAU
(2015)). Algumas de suas vantagens são a possibilidade de cravação em solos de difícil
transposição e a redução de vibrações, se comparadas à cravação de estacas de
deslocamento como, por exemplo, as estacas pré-moldadas de concreto, estacas
tubulares e estacas do tipo Franki (ABMS (2002)).

Os blocos sobre estacas têm grande importância para as edificações e para obras de
infraestrutura. No entanto, ainda há dúvidas sobre o comportamento estrutural desse
elemento no que diz respeito à forma geométrica das escoras e as distribuições das
tensões de compressão e de tração no interior do bloco. O principal modelo de descrição
do comportamento de blocos sobre estacas é o de Blévot & Frémy (1967), porém alguns
pesquisadores como Adebar et al. (1990), Siao (1993), Munhoz (2004) e Delalibera (2006)
desenvolveram estudos que verificaram a necessidade de algumas adaptações para o
modelo.

Quando se utiliza estacas metálicas, em particular, têm-se também divergências acerca


da ligação mais adequada das estacas com o bloco. Supõe-se que a ligação da estaca
metálica com o bloco tem influência na distribuição de tensões no interior do bloco.
Entretanto, na literatura técnica não há um critério totalmente definido para esse tipo de
avaliação. A ABNT NBR 6122:2010 sugere o estudo e detalhamento dessa ligação pelo
engenheiro responsável, podendo ser através de chapas de base, fretagem, solda de
barras de aço para aumento de aderência, entre outros. Recentemente, a maior parte das
pesquisas desenvolvidas em relação ao tema abordado nesse trabalho, concentra-se na
análise linear teórica e na análise de resultados experimentais. Xiao e Chen (2013)
estudaram o comportamento da ligação bloco-estaca metálica utilizando barras soldadas.
Até mesmo as normas internacionais, como o ACI (2014), a EHE (2008) e o CEB-FIP
(2010), não apresentam detalhes específicos para a verificação da região nodal inferior.

Em relação ao presente artigo, para o estudo da ligação bloco-estaca metálica foi


escolhida a variável embutimento da estaca e a utilização de chapa metálica. Essas
variáveis foram escolhidas, pois estas, a princípio, modificariam a formação das escoras
junto às zonas nodais inferiores, podendo interferir no modelo de biela e tirante
empregado no dimensionamento. Características como modelo da estaca, dimensões do
pilar, geometria dos blocos e taxa de armadura não foram consideradas como variáveis.

2 Justificativa
Os blocos de coroamento têm a função de transmitir as cargas da superestrutura às
estacas, o que, por sua vez, é influenciada pela ligação da estaca com o bloco. A
depender do tipo da ligação estaca-bloco ocorrem diferentes distribuições de tensões em
seu interior. Em virtude disso, é importante conhecer a real forma geométrica das bielas

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de compressão e a distribuição das tensões de tração para que seja definida a ligação
bloco-estaca mais adequada. Nesse contexto, haveria melhora do desempenho desse
elemento estrutural, trazendo maior segurança para a estrutura.

Há escassez de pesquisa e muitas divergências acerca do tema no meio técnico,


inclusive para blocos com mais de cinco estacas. Aspecto que torna este trabalho
necessário e sugere a relevância dos resultados desta pesquisa.

3 Metodologia de análise
Este trabalho contempla a modelagem numérica de quatro blocos de concreto armado
apoiados sobre seis estacas metálicas, com dois pilares em L, baseada no método dos
Elementos Finitos, utilizando o software ANSYS. Após a definição do modelo, procurou-se
variar os comprimentos de embutimento das estacas no bloco, bem como analisar a
utilização de chapa de base no topo da estaca. O modelo considerou a fissuração do
concreto e o comportamento plástico das barras de aço da armadura. Os resultados de
simulação foram correlacionados com dados experimentais do trabalho de Delalibera
(2006), para validação do modelo numérico computacional.

3.1 Modelo geométrico e armadura


Na modelagem foram empregadas estacas metálicas de perfil I modelo W310 X 38,7, da
empresa Gerdau, em aço laminado de alta resistência (ASTM A572 Grau 50). O perfil
adotado possui dimensões conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Propriedades geométricas do perfil (Adaptado de Gerdau (2015)).


d (mm) 310
bf (mm) 165
tw (mm) 5,8
tf (mm) 9,7
h (mm) 291
d' (mm) 271

No dimensionamento dos modelos de blocos foram utilizadas as recomendações


sugeridas por Blévot & Frémy (1967), bem como as indicações contidas na
ABNT NBR 6118:2014. Esse procedimento consiste na verificação das tensões
admissíveis nas regiões nodais superior (junto à base do pilar) e inferior (junto à estaca
mais solicitada), utilizando-se como limites de tensões os valores iguais a 1,40∙fck, na
região junto ao pilar, e a fck, junto à estaca. Assim, foi determinada a força máxima que o
elemento suporta, adotando para o dimensionamento dos tirantes o menor valor dentre os
obtidos. Em seguida, definiu-se a quantidade necessária de barras de aço para equilibrar
as tensões de tração existentes na face inferior do bloco. A área do pilar foi calculada de
forma a ter compatibilidade com o perfil da estaca metálica adotado, ou seja, resistir à
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carga admissível estrutural das seis estacas metálicas. Dessa forma, a geometria do
bloco ficou definida conforme Figura 1 e Figura 2.

Figura 1 – Vista em planta do modelo de bloco sobre estacas

Figura 2 – Detalhamento da armadura


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Os modelos receberam as siglas BL1E10, BL2E20, BL1E30 e BL4E10Ch, que designam
a variação do comprimento de embutimento da estaca, sendo eles, respectivamente, 10
cm, 20 cm, 30 cm e 10 cm com utilização de chapa de base no topo da estaca. A chapa
metálica, em formato retangular, possui dimensões de 36,5 cm x 51 cm, e espessura de
5 cm. A Figura 2 apresenta o detalhamento das armaduras dos modelos. Conforme pode
ser visto, os blocos foram construídos com armadura longitudinal de flexão e os pilares
com armadura transversal e longitudinal. No modelo optou-se pela utilização de barras
retas dispostas sobre estacas, tendo em vista os trabalhos de Clarke (1973). Em seu
trabalho, ele sugere que os ganchos das armaduras poderiam ser abolidos e que as
barras, se dispostas sobre as estacas, leva a um aumento da força última em comparação
com blocos com a mesma taxa de armadura, porém, distribuídas uniformemente, o que
também é apresentado nos trabalhos de Blévot & Frémy (1967).

4 Análise numérico-computacional
4.1 Elementos finitos utilizados
No software ANSYS os tipos dos elementos foram definidos para permitir a consideração
da não linearidade na análise. Deste modo, para a modelagem dos blocos e pilares,
constituídos de concreto, utilizou-se o elemento finito Solid65 e o critério de ruptura
Concrete. O elemento possui oito nós com três graus de liberdade para cada nó:
translações nas direções x, y e z, com capacidade para deformações plásticas, fissuração
em três direções ortogonais, esmagamento e fluência. Para controlar a retenção de
rigidez nos planos fissurados, utiliza-se coeficientes de transferência de tensão de
cisalhamento.

Na modelagem das barras de aço da armadura foi utilizado o elemento finito Link180.
Esse elemento é definido por dois nós, em que cada nó possui três graus de liberdade:
translações nas direções x, y e z. Ele é capaz de trabalhar apenas a compressão ou a
tração, não sendo considerada nenhuma flexão no elemento. Por meio dele é possível
avaliar a plasticidade, fluência, rotação, grandes deflexões e deformações. No modelo as
armaduras são discretas, logo optou-se por esse elemento. A plasticidade do material foi
considerada através do modelo Bilinear Kinematic Hardening.

As estacas metálicas, por sua vez, foram modeladas com o elemento finito do tipo
SOLID185. Ele é definido por oito nós com três graus de liberdade em cada nó:
translações nas direções x, y e z. O elemento também permite a consideração da
plasticidade e grandes deformações. Da mesma forma, a plasticidade do material foi
considerada através do modelo Bilinear Kinematic Hardening.

4.2 Análise comparativa


A validação dos modelos numéricos foi feita utilizando os dados dos modelos de blocos
sobre duas estacas ensaiados experimentalmente por Delalibera (2006), cuja
nomenclatura dada foi B35P25E25e0Asw,0 e B45P25E25e0Asw,0. Na análise comparativa,
utilizaram-se os mesmos elementos finitos empregados nas análises dos blocos sobre
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seis estacas, ou seja, o Solid65, modelando o material concreto (blocos, pilares e
estacas) e o Link180, discretizando as barras de aço. Todas as propriedades mecânicas e
geométricas adotadas na análise comparativa foram as mesmas dos ensaios
experimentais. As condições de contorno empregadas nos modelos numéricos e o
carregamento também buscaram representar, de maneira fiel, os testes experimentais.

Devido à presença de grandes concentrações de tensões oriundas do carregamento, o


topo do pilar foi modelado como sendo uma placa de aço com comportamento elástico. A
base das estacas foi modelada com material concreto com comportamento também
elástico, enquanto que, para o restante dos elementos, foi atribuída a plasticidade.

Em um primeiro momento foram impedidas as translações (nas três direções, x, y e z) de


todos os nós dos elementos posicionados nas pontas das estacas, condição de contorno
nomeada como CC1. Em seguida, foi verificada uma segunda situação, CC2, em que as
mesmas translações foram impedidas apenas na linha de nós centrais da ponta das
estacas, configuração que apresentou melhores resultados. A Figura 3 apresenta os
materiais com diferentes propriedades, representados em cores distintas, e a condição de
contorno empregada.

Figura 3 – Detalhe dos apoios (CC2)

Algumas tentativas buscando a convergência do resultado experimental com o numérico


foram realizadas e os melhores resultados foram obtidos por meio do critério de Newton-
Raphson modificado, para a resolução de equações não lineares. Para isso, admitiu-se
uma tolerância de 50% para a convergência em deslocamentos e em força; coeficiente
igual a 0,85 para transferência de cisalhamento para fissuras abertas e coeficiente igual a
1 para transferência de cisalhamento para fissuras fechadas. A carga foi gradualmente
aplicada, em um total de cem incrementos, sendo aplicado prioritariamente um
incremento por vez, podendo atingir um máximo de dois e mínimo de meio incremento por
vez.

A Figura 4 apresenta os resultados obtidos para o modelo B35P25E25e0Asw,0 com as


condições descritas anteriormente, reduzindo-se o módulo de elasticidade do bloco e
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modificando as condições de contorno com a finalidade de melhorar a conformidade dos
resultados.

Figura 4 – Gráfico força vs deslocamento de aferição do modelo B35P25E25e0Asw,0

O valor da força última para o modelo numérico foi de 1230,47 kN, que corresponde a
87,5% do valor obtido experimentalmente (1406 kN). O modelo com módulo de
elasticidade do bloco no valor de 5000 MPa, equivalente a 13,25% do valor experimental
e com a CC2, foi o que apresentou melhor correlação entre o resultado numérico e
experimental.

As mesmas condições foram utilizadas na modelagem de B45P25E25e0A sw,0. Os


resultados são apresentados na Figura 5.

Figura 5 – Gráfico força vs deslocamento de aferição do modelo B45P25E25e0Asw,0


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O valor da força última obtida numericamente para o modelo B45P25E25e0A sw,0 foi de
1577,95 kN, que corresponde a 75,5 % do valor obtido experimentalmente (2090 kN), o
que indica uma boa correspondência entre os resultados numéricos e experimentais.

4.3 Propriedade dos materiais


Para a modelagem do material concreto, foi necessário fornecer ao software ANSYS os
seguintes dados de entrada: módulo de elasticidade longitudinal do concreto, coeficiente
de Poisson, resistência última do concreto à compressão e tração, e coeficientes de
transferência de cisalhamento.

Foi adotado concreto classe C30 e com base nas recomendações da


ABNT NBR 6118:2014 foram determinados o módulo de elasticidade longitudinal do
concreto, Ecs, e a resistência última à tração, ftk. No entanto, conforme testes feitos na
calibração do modelo, o módulo de elasticidade do concreto foi penalizado, utilizando-se
apenas 13,25% do seu valor calculado, para uma melhor eficiência da convergência do
modelo. O coeficiente de Poisson, ν, adotado para o concreto foi de 0,2 e os coeficientes
de transferência cisalhamento, β, foram definidos também conforme resultados da seção
4.2, sendo 0,85 para fissuras abertas e 1 para fissuras fechadas.

Para as barras de aço, adotou-se modelo de plasticidade que considera critério de ruptura
de Von Mises. O módulo de elasticidade utilizado foi de 210 GPa, o coeficiente de
Poisson igual a 0,3 e a resistência característica ao escoamento igual a 500 MPa (Aço
CA50).

Na modelagem das estacas metálicas, bem como da chapa de base, adotou-se também
modelo de plasticidade que considera critério de ruptura de Von Mises. O módulo de
elasticidade utilizado foi de 200 GPa, o coeficiente de Poisson igual a 0,3 e a resistência
característica ao escoamento igual a 345 MPa.

Os demais critérios utilizados na calibração do modelo, que levaram a eficiência da


convergência do modelo, foram todos utilizados na modelagem.

5 Análise dos Resultados


A Figura 6 traz o gráfico força versus deslocamento para os modelos analisados,
referentes à seção de meio do vão.

A Tabela 2 apresenta os valores relativos à força última (Fu) resistida pelos modelos, à
força que originou a primeira fissura (Fr), à força teórica (Fteo) obtida pelo Método de
Bielas e Tirantes, bem como a relação entre elas.

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Figura 6 – Curva força versus deslocamento da seção do meio do vão

Tabela 2 – Valores de força obtidos na análise numérico-computacional


Modelo Fr (kN) Fu (kN) Fteo (kN) Fu/Fteo Fr/Fu
BL1E10 1638 6678 3736 1,79 0,25
BL2E20 1974 6678 3736 1,79 0,30
BL3E30 2142 6846 3736 1,83 0,31
BL4ECh 2310 6846 3736 1,83 0,34

Pode-se verificar que ao se aumentar o comprimento de embutimento da estaca de 10 cm


para 30 cm ocorreu um aumento significativo da força que causou a primeira fissura
(30,8%), no entanto, a força de ruptura dos modelos ficou bastante próxima (aumento de
2,5%). A força última obtida dos modelos numéricos superou a força teórica calculada,
sendo cerca de 80% maior, sugerindo que o método de bielas desenvolvido por Blévot &
Frémy (1967) é conservador.

O comprimento de embutimento da estaca alterou a relação entre a força de


aparecimento da primeira fissura e da força última, em que a força que originou a primeira
fissura foi maior para os blocos de maior comprimento de embutimento. No entanto, pode
ser observado que a primeira fissura surgiu com força em torno de 29% da força última. A
capacidade portante do bloco foi maior para os modelos com 30 cm de embutimento de
estaca em relação aos modelos com menores embutimentos sem chapa de base.

Apesar da utilização de chapas de base ser uma opção tecnicamente conveniente, é


preciso que se tomem os devidos cuidados para a execução adequada das soldas das
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chapas metálicas ao topo da estaca, garantido assim as boas práticas de execução, bem
como que as condições em campo favoreçam uma boa qualidade da solda entre a chapa
metálica e a estaca.

A Figura 7 apresenta um panorama geral das fissuras dos modelos analisados, no


instante que surgiram as primeiras fissuras e na ruptura do bloco. Os locais onde surgiram
as primeiras fissuras nos modelos estão indicados com um círculo para melhor
visualização.

BL1E10 BL2E20

(a) (b) (a) (b)

BL3E30 BL4ECh

(a) (b) (a) (b)


Figura 7 – Panorama de fissuração dos blocos modelados: (a) Primeira fissura; (b) Fissuração na ruptura

Para os modelos BL1E10 e BL2E20 as primeiras fissuras surgiram nas regiões nodais
inferiores, junto às estacas mais solicitadas, enquanto que para os modelos BL3E30 e
BL4ECh elas tiveram origem nas regiões nodais superiores. De maneira geral, é possível
observar uma concentração das fissuras nas proximidades dos pilares nos quatro
modelos analisados. No entanto, para os modelos sem chapa metálica, há ainda maior
concentração de tensão na região das estacas. Sendo observada para os modelos
BL2E20 e BL3E30 uma propagação das fissuras ao longo da altura do bloco.

Na Figura 8, podem ser observadas as tensões principais de compressão por meio de


duas vistas distintas: vista isométrica de um corte feito no eixo de simetria do bloco, com a
faixa horizontal que divide o bloco ao meio e vista frontal da seção pertencente ao plano
das abas das estacas. Na Figura 9 é apresentado o fluxo das tensões principais de
compressão em uma vista frontal e uma vista lateral do bloco.

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BL1E10

BL2E20

BL3E30

BL4ECh

Figura 8 – Tensões principais de compressão

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BL1E10

(a) (b)
BL2E20

(a) (b)
BL3E30

(a) (b)
BL4ECh

(a) (b)
Figura 9 – Fluxo de tensões principais de compressão: (a) Vista frontal; (b) Vista lateral

Nos modelos de dimensionamento para bloco sobre estacas, baseados em Escoras e


Tirantes, não é considerada a formação das bielas junto à face superior das estacas
metálicas no interior do bloco, diferentemente do que pode ser analisado pela Figura 8 e
Figura 9. Há concentração de altas tensões na região de embutimento das estacas e nas
proximidades dos pilares. Verifica-se que as estacas das extremidades não são
solicitadas de maneira uniforme, sendo as regiões das estacas mais afastadas das bordas
do bloco mais solicitadas.

A Tabela 3 apresenta as tensões principais de compressão nas regiões nodais extraídas


do programa ANSYS (σ) e as tensões teóricas (σteo). As tensões nodais (σ) superiores
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obtidas do modelo numérico corresponde à máxima tensão no bloco na região da
interface pilar/bloco e as tensões nodais (σ) inferiores se referem à máxima tensão nas
estacas. Para cálculo da tensão teórica (σteo ) referente a estaca foi utilizada a reação da
estaca mais solicitada e a área da seção bruta da estaca, enquanto que para o pilar foi
considerada a força última dividida pela área do pilar, conforme Equação 1.

........................(Equação 1)

Tabela 3 – Tensões principais de compressão nas zonas nodais.


Máximas tensões de compressão nas zonas nodais (MPa)
Modelo Superior Inferior
σ σteo σ σteo
BL1E10 38,47 23,85 267,65 234,71
BL2E20 44,90 23,85 227,32 233,74
BL3E30 35,45 24,45 232,81 240,00
BL4ECh 38,12 24,45 90,23 240,10

Pode-se observar que o modelo BL2E20 na zona nodal superior está sujeito a uma
tensão maior do que os outros modelos, apesar da aplicação de uma tensão menor
(23,85 MPa). As tensões de compressão nas zonas nodais inferiores (σ) diminuíram com
o aumentou do comprimento de embutimento da estaca de 10 cm para 20 cm e 30 cm.
Fato que indica a alteração na distribuição de tensões em função da variável analisada
nesse trabalho. Com a utilização da chapa de base as tensões nodais foram
significativamente reduzidas.

As tensões axiais na armadura dos blocos no último incremento de carregamento são


apresentadas na Figura 10. Como pode ser visto as tensões não são constantes ao longo
do tirante, as maiores tensões de tração ocorreram na seção de meio de vão do bloco,
diminuindo sensivelmente nas seções junto às estacas.

BL1E10 BL2E20

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(continuação)
BL3E30 BL4ECh

Figura 10 – Tensões axiais nas barras de aço do bloco e dos pilares

6 Conclusões
A abordagem realizada neste trabalho levou em consideração o método de Bielas e
Tirantes para a criação de um modelo de blocos sobre seis estacas metálicas. Esses
modelos foram simulados através do software ANSYS, envolvendo na simulação a
variação da posição da estaca no interior do bloco e a utilização de chapa de base na
ligação estaca-bloco. No trabalho foi contemplada a análise tridimensional não linear dos
modelos, para consideração da fissuração do concreto e do comportamento plástico das
barras de aço da armadura. Além disso, foi feita a correlação e validação do modelo.

Por meio da análise comparativa entre os modelos numéricos e experimentais nota-se


que os modelos experimentais possuem maior rigidez, por isso a necessidade de redução
do módulo de elasticidade, sendo que, após o ajuste do modelo numérico, a análise não
linear apresentou boa correlação com modelo experimental.

Pode-se concluir que a formação das bielas de compressão se modifica em função da


posição das estacas metálicas no interior do bloco, havendo a formação de bielas junto à
face superior das estacas. Sendo assim, os modelos de dimensionamento para bloco
sobre estacas metálicas, baseados em Escoras e Tirantes, devem ser modificados,
considerando o comprimento de embutimento das estacas.

A análise numérica leva a verificação de que o tipo de ligação estaca metálica-bloco


também altera a capacidade portante do bloco e o aparecimento de fissuras. Os melhores
resultados foram obtidos para o modelo de bloco com embutimento da estaca de 30 cm e
o modelo que utilizou chapa de base. No entanto, por questões construtivas a adoção de
um comprimento de embutimento igual a 30 cm pode ser mais adequado.

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ANAIS DO 59º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2017 – 59CBC2017 15

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