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CAPÍTULOS DO JURAMENTO
DO DUQUE DE HOANDO

(11-1-1666)

suMario - Explicação pormenorizada do que prometeu observar o


Duque de Hoando para com o Rei de Portugal, seguida
de igual promessa do Rei de Portugal para com o Duque.

Primeiramente promete o Duque de Hoando D. Antonio Affon-


ço, e todos os seos Fidalgos, e Macotas de não conhecer a outro
algum Senhor, natural nem estrangeiro, mais que a El Rey de
Portugal, debaixo de cuja protecção, e dominio se avassala, e jurou
fidelidade naturalizando por seu legítimo Senhor, e Rey natural
para todo o sempre, pelo rimir com as suas armas do rigor, e
tirania de El Rey de Congo D. Antonio, quando estas o vencerão
em campanha, ficando nela morto, em 29 de outubro de 1665
annos, sendo Gouernador e Capitam General André Vidal de Ne-
greiros.
2° — Item que elle dito Duque de Hoando promete livre, e
voluntariamente entregar as minas de metal, que estiverem em suas
terras, e senhorios, e de prezente faz mercê a El Rey de Portugal
seu Senhor, por si e por seus Sucessores, das minas do Embu, em
recompensação do tributo que está obrigado a pagar cada hum
anno como Vassalo, e sendo cazo o beneficiar se, dar passagem
franca e dezempedida por suas terras, e acodir com o que lhe
for ordenado como Vassalo,
3° — Item que será obrigado, ele dito Duque, e todo seu
Senhorio, de ser amigo de amigos, inimigo de inimigos daqueles
que o forem d'El Rey de Portugal, e como seu Vassalo socorrer
com sua pessoa, e armas seos Prezideos, Fortalezas, acampar seos
exercitos sendo necessário, dando inteiro cumprimento ás ordens
que lhe forem vindas do Governo.
4° — Item que terá ele dito Duque cuidado, sabendo que hé
chegado novo Governador do Reino à Cidade de Loanda, mandar
seos Embaixadors a vezitalo, e darlhe obediencia, para que o
conheça por Vassalo, fazendo ao Governo avizos de tudo o que
souber, e alcançar contra o serviço de Deos, e El Rey.
5° — Item que será obrigado o dito Duque a dar livre, e
dezembargada entrada em suas terras e senhorios a todo o portu-
guês, ou seos pumbeiros, que a elas vierem com seu negocio, e
trato, e que este será livre, e voluntário, sem subjeição alguã de
tributo, ou penção, guardando inteira justiça a estes como aos
naturais.
6° — Item que será obrigado a não fazer guerras, nem con-
quista alguã, nem consentir que outros a fassão a Sova Vassalo
algum que for da Coroa, antes a estes deve amparar athé ordem
do Governo.
7° — Item que será obrigado elle dito Duque a entregar todos
os escravos de portuguezes fugidos em suas terras, e senhorios, e
naõ consentir recolherse fugido algum, antes a estes fará prender,
e remeter à Cidade de Loanda para entregar se a seos donos,
pagando se o achado costumado como vassalo.
8° — Item que será obrigado todo aquele que for eleito Duque
de Hoando, por sua republica e senhorio, mandar à cidade de
Loanda ao Governo, para se conformar, e vndar C), e sem a tal
confirmação ficará sendo intruzo para com El Rey de Portugal,

(') O que significa undar, segundo Fernão de Sousa, que governou


Angola de 1524-1630: «Vndar é cerimonia de que huzão os Souas quando
succedê nas Terras por morte do vitimo senhor da terra, ou quando por
causas justas conforme a suas leis, e costumes lanção o senhor fora da
terra, e ellegê os macotas, que são os do Conselho, outro senhor, o qual
costuma ser o sobrinho do morto, filho de sua Jrmã, porque este té por
legitimo senhor, e não o filho, que dizê pode ser adulterino; este tanto
que he electo, e antes de o ellegerem, o fazê saber ao Gouernador, pedin-
dolhe que o aja por bem, e que o queira undar, que he o mesmo que
confirmalo na terra; e vndar he estando o soua diante do Gouernador
peito por terra, em sinal de vassalamento a sua Magestade, se lhe lança
hüa pouca de farinha por cima dele, e elle a toma cõ suas maõs, e se
enfarinha poios peitos, e braços, e então se tê por senhor da terra; o
manda vestir em acabando de se vndar, conforme a calidade, e poder do
soua». BAL., Cód. 51-IX-20, fl. 241 v. Os franceses têm o verbo ondoyer,
do latim undare, que devia dar undar em português, na sua tradução do
francês, que significa baptizar sem o cerimonial do Ritual católico. Todavia
os dicionários são alérgicos ao undar, nem o registando sequer.
e o que for confirmado, ficará sendo verdadeiro senhor (^), e como
tal será conservado em seu estado como Vassalo de S. Magestade.
9° — Que será obrigado o dito Duque de Hoando a propagar
a Fé de Nosso Senhor Jezus Christo, como christão, dilata la
em suas terras, e senhorios, procurando do Governo que lhe
asista hum Sacerdote para augmento da fé, e hum Capitam para
o que for do serviço d'El Rey, e naõ receberá macunge C) de
parte contraria alguã, sem que o dito Capitam esteja prezente.

O que El Rey de Portugal está obrigado


a guardar a este seu uassalo D. Antonio
Affonço Duque de Hoando.

Primeiramente está obrigado a defende lo, e amparar de todo


aquele Rey, ou Senhor, que lhe quizere destruir, ou evadir C) suas
terras, ou Senhorios, guardando lhe inteira justiça a elle, e a todos
os seus Vassalos para sua conservaçaõ.
2° — Item que será obrigado a guardar lhe todos os seos
foros, privilégios, honras, e estatutos a elles Duques conteúdos, e
fazer lhos cumprir, e guardar como a seu Vassalo.
AA— 1933, I, doc. VII.

(2) Nos Arquivos de Angola lê-se: mor.


(?) Imposto de portagem, pago ao duque, por quem atravessasse as
suas terras, tributo pertencente ao senhor de quem é vassalo. Por isso
tem o capitão, representante do governador, a quem o duque prestou
vassalagem, de estar presente.
(^) Leia: envadir ou invadir suas terras.

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