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06 Janeiro 2020

Herança Cátara. Parte 2:


Catharose de Petri, a Rosa dos
cátaros
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É na rosa dos cátaros que brilha a luz do amor.

Texto: Grupo de autores Logon Imagem: photosforyou via Pixabay CCO


Em 16 de março de 1244, 205 homens e mulheres - a fina flor e a coroa espiritual da
fraternidade cátara - andaram placidamente em direção à fogueira onde seriam
queimados. A partir deste fato, foi escrita a profecia que se popularizou em um poema
de Felibre August Teulié: “Após 700 anos, o loureiro reverdecerá”.

Decorridos exatamente 7 séculos, o patriarca dos cátaros, Antonin Gadal, foi até
Montségur, no sul da França, e reacendeu a flama no mesmo local em que seus
precedentes deram a vida por Cristo. A chama do fogo foi reacesa como sinal do
retorno dos filhos da Luz, a Gnosis do Amor.

Agora damos um salto para 1956, quando Hennie Stok-Huizer, uma mulher de 44
anos, nascida em Roterdã, escreve seu nome na história do mundo moderno como
Catharose de Petri, uma  líder espiritual do século XX tão intensa quanto discreta. O
nome espiritual lhe foi dado por Gadal por significar Rosa dos Cátaros, onde brilha a
luz do amor.

O caminho de Gadal, Catharose e do fundador da Sociedade Rosacruz, Jan Van


Rijckenborgh, começou a se cruzar dez anos antes, em 1946, quando a dupla de
rosacruzes holandeses foi ao  sul da França para conhecer a região onde viveram os
cátaros e se sentiram como se já conhecessem o lugar.

Na visita ao Jardim das Rosas de Albi, Catharose e Rijckenborgh deram forma a “um
desenvolvimento gnóstico contemporâneo que religaria o mundo ocidental às raízes
originais de seu passado” (O triunfo da gnosis, p. 20). Não conheceram Gadal nesta
ocasião, mas no fim do mesmo ano eles fundaram e assumiram a liderança da Escola
Espiritual da Rosacruz Áurea.

O encontro dos três aconteceu somente em 1954, quando a Rosacruz Áurea foi
consolidada por Gadal como o novo elo da Corrente Universal de Fraternidades, dando
continuidade ao trabalho. No encontro seguinte, ele presenteou a senhora Stok-
Huizer, que depois denominaria Catharose, com um tecido onde tinha ele mesmo
desenhado uma pomba branca com as asas abertas, sobre um fundo azul. A imagem
correspondia exatamente à que ela tinha visualizado aos 28 anos, por meio de um
experiência interior de intensa contemplação filosófico-religiosa, na qual buscava sua
missão.

A humanidade sabe que alguns entre nós vivem como se não fossem deste mundo.
São pessoas que parecem ver mais longe, ou ao contrário, vêem nossa existência com
tais minúcias que parecem estar equipados com um sensório diferente, ou mesmo
possuírem órgãos não catalogados pela medicina. Possuem características que
admiramos. De certa forma, se os elegemos como  “heróis espirituais”, é porque
percebemos que são como instrumentos musicais extremamente bem afinados.

Pode ser que sejam Iniciados.

Iniciação é a segunda fase do processo espiritual que começa com a  Purificação, ou


seja, a fecundação da semente divina em nosso coração (a rosa do coração). Para
Alice Bailey, “iniciação é como uma seqüência progressiva de impactos direcionados
de energia”. Iniciados seriam aqueles grávidos de sementes divinas, seres em
processo de tornarem-se mais conscientes de algo, não intelectualmente, não de
modo teórico, mas pela experimentação. O passo seguinte será a Iluminação, que é
quando o novo ser entra no mundo da Luz e, finalmente, a Libertação, quando o novo
homem cresce e se desenvolve.

 Não se mede o grau de iniciação espiritual, nem mesmo pode-se provar que alguém
seja um Iniciado. No entanto, podem-se ler os sinais, como no caso de Catharose de
Petri, uma mulher que esteve por 22 anos à frente de uma escola de mistérios que
ajudou a criar e desenvolver, e produziu uma extensa obra literária de onde emerge a
fala de uma Iniciada.

Antonin Gadal  diz que devemos compreender que

o rastro característico deixado pelos iniciados é, na verdade, a Gnosis, a


Gnosis do novo nascimento, que denominamos com justiça: a era de Cristo.

Ele se refere aos iniciados como

aqueles que se haviam dedicado por inteiro ao reino do Espírito, ao Império


do amor. (O triunfo da gnosis universal, p. 57)

Em tudo isso Catharose de Petri se encaixa. E assim como outras Iniciadas da era
cristã - Maria Madalena, Hildegarda de Bingen, Esclermond de Foix e Madame
Blavatsky - que tiveram figuras masculinas em seu percurso, Catharose de Petri tinha
Rijckenborgh ao seu lado.

Era uma mulher que exigia clareza.  Muitos dos que a conheceram diziam que em um
encontro com ela as pessoas viam-se obrigadas a olhar para si mesmas com muita
objetividade. Introduziu as mesmas linhas claras na organização do trabalho.
Enquanto seu par representa a figura-chave da Escola Espiritual moderna, ela foi a
guardiã da estrutura interna.

A dupla de rosacruzes e gnósticos herméticos modernos desfez-se, no entanto, com a


morte de Jan van Rijckenborgh, em 1968.  Catharose continuou à frente da Escola
Espiritual da Rosacruz Áurea para consolidar o que fizeram juntos, de modo que o
trabalho pudesse seguir sem a presença de qualquer um dos dois. Demonstrou ali
uma incontestável liderança em nível espiritual. Ela preservou e desenvolveu o
trabalho espiritual da escola de mistérios que fundaram, e mais tarde reforçou o
trabalho da comunidade a serviço do ser humano, ao mesmo tempo em que
preservou a herança literária de Rijckenborgh.

Catharose de Petri, aquela onde o plantio dos cátaros floresceu, a mulher que
desabrochou da Gnosis do Amor, colocou a liderança da instituição que ajudara a criar
nas mãos de um colegiado de vários membros, mas não transferia ali a direção
administrativa. Assim como Gadal fizera antes em relação a ela e Rijckenborgh,
formou pescadores de homens. Podia reconhecer neles os efeitos dos impactos
direcionados de energia gnóstica que produzem a iniciação, o que garantiu uma
estrutura viva para a força espiritual autônoma ativa na Rosacruz Áurea.

Durante 44 anos de trabalho, 22 dos quais na liderança, a Rosa dos Cátaros protegeu
a instituição em todos os aspectos, baseada em sua autoridade espiritual, profundo
conhecimento e confiança na força da vibração de Cristo.

Quando faleceu, em 1990, tinha cumprido a missão que antevira aos 28 anos, quando
lhe surgiu a imagem da pomba branca: a de que a “Rosacruz, como Escola Espiritual,
devia, com a força do Espírito, tornar-se conhecida por todos os que aspiravam a
libertação da alma”. As sementes deixadas pelos antigos cátaros já tinham se
desenvolvido e estavam, enfim, em condições de colheita e replantio.

Catharose de Petri, a Rosa dos Cátaros, foi a guardiã do jardim. 

Fontes
Gadal, Antonin. O Triunfo da Gnosis Universal .Jarinú, SP: Pentagrama Publicações,
2017.

Huijs, Peter. Chamados pelo Coração do Mundo. Tradução de Jorge Figueira e Maria


das Mercês Rocha Leite. Jarinú, SP: Pentagra,a Publicações, 2015.

Salomó, Eduard Berga. O Catarismo na Tradição Espiritual do Ocidente. São Paulo:


Instituto Civitas Solis, 2012.

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