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Igor Dutra dos Santos nº8572650 Período: Sexta(8hrs)

Introdução aos gêneros do discurso de Bakhtin

Em “Os gêneros do discurso”, presente no livro Introdução ao


pensamento de Bakhtin, José Luiz Fiorin busca, de forma simplificada,
apresentar os conceitos bakhitinianos dos gêneros a partir das diversas formas
na qual o discurso se apresenta.

A priori, Fiorin introduz, de forma sucinta, o papel dos gêneros que vem
de longa data sendo teorizados. Além disso, ele ressalva a instituição desse,
no âmbito pedagógico, como forma normativa em relação ao estabelecimento
do ensino do Português no Brasil. Contudo, é necessário reforçar que nem
Bakhtin nem Fiorin buscam entender o gênero por seus resultados, mas sim
sua funcionalidade com relação a sua produção, seja esta escrita ou oral.

É de extrema importância a consideração do ato de fala para Bakhtin.


Compreende-se a partir de seus estudos que nada disso é material sintético,
ou seja, meramente criado, mas há todo um envolvimento sociológico por meio
da produção de enunciação que deve ser levado em conta. Para expressar
essas ideias, Fiorin apropria-se de termos como “esferas de ação” e “esferas
de atividade”.

Assim seguindo a análise, diz-se que gênero é um sistema de textos


agrupados, no qual encontram-se semelhanças. É necessário destacar
também que esse sistema não é fixo, e que suas características são mutáveis,
podendo haver o apagamento ou a criação de um gênero, tal como elucida
Fiorin a partir de exemplos como e-mails e SMSs, que surgiram com a
tecnologia, ou a epopeia, que caiu em desuso por motivos históricos. “Os
gêneros são, pois, tipos de enunciados relativamente estáveis, caracterizados
por um conteúdo temático, uma construção composicional e um estilo.”.

Discorrendo sobre o aspecto do conteúdo temático, apresenta o autor a


ideia de que o que rege a comutatividade dos textos dentro do sistema é sim
uma esfera de sentido comum entre eles, e não necessariamente sobre o que
se fala. Apresentam-se então alguns exemplos como a relação de uma carta
de amor com seu conteúdo temático, no qual nesse caso apresenta-se como a
relação amorosa, deixando de lado o assunto a qual ela se propõe a tratar.
Assim serve-se também a ligação entre textos jurídicos e as sentenças.

Em relação ao que Fiorin chama de ato estilístico, este compõe-se em


relação ao locutor e seu locutário. Vale lembrar que, como diz o texto, é
necessário haver uma ancoragem de ambos os locutores num espaço e tempo,
ou seja, uma relação de “eu/você” em um “aqui/agora”, no qual muitas vezes
esses últimos elementos confundem-se entre si. No que diz a divisão,
entendem-se como forma de agrupamento os meios lexicais, fraseologia e
gramática. Não se aprofundando muito, Bakhtin ainda divide em quatro
instâncias as tipagens sendo: estilo oficial, aquele que diz respeito a
requerimentos e discursos parlamentares; estilo objetivo-neutro, tal como
exposições científicas; estilo familiar, no qual os interlocutores não se
apresentam num âmbito “das hierarquias das convenções sociais, como nas
brincadeiras com amigos”; e o estilo íntimo, no qual ambos os locutores
possuem um grau de intimidade, como nas cartas de amor.

Mais à frente, destrincha-se no texto certas ideias bakhtinianas. Fiorin


reafirma a vinculação íntima do gênero com a produção discursiva. Além disso,
retoma o conceito de instabilidade do gênero, mostrando que apesar de muitos
textos encaixarem-se na categoria de romances, seu entendimento varia de
acordo com a situação histórica, expressa no texto pela contraposição ao
romance naturalista. Além desses, o texto traz também uma comparação entre
os textos jornalísticos atuais e os do início do século XX, afirmando haver uma
imensa discrepância entre esses dois períodos. Adiciona ainda o autor a
grande semelhante presente entre a crônica e o conto, que hoje em dia
confundem-se pois “esses dois gêneros são mais fluidos do que gostaria nossa
alma taxonômica”, corroborando assim com o ideal semi-estático dos gêneros.

A partir desse ponto o autor busca a todo momento exemplificar por


diversas formas as variantes lexicais dentro de um mesmo gênero,
contrastando textos presentes em diferentes períodos históricos, com intuito de
afirmar que o material até então analisado, os gêneros, são passiveis de
alteração, mas que ao mesmo tempo organizam-se de forma a serem possíveis
de categorizarem-se segundo uma correlação de seus elementos.

Desses, destaco eu, o exemplo do soneto. Assim já expresso pelo texto,


o soneto sempre constituiu-se de uma forma fixa de quatorze versos. Porém
adiciono que embora ambos os sonetos apresentem o mesmo número total de
versos, os sonetos inglês e italianos constituem-se de uma diferente
formulação sendo aquele constituído de três quartetos e um dístico e este, dois
quartetos e dois tercetos. Dito isso, adiciono a diversidade apresentada em
relação a um poeta parnasiano e um mais moderno. Nesses diferenciam-se as
matérias, ou temática, podendo fugir de um conceito considerado canônico.
Com isso tem-se que, apesar de pontos de divergência, todos enquadram-se
no mesmo quadro devido a elementos em comum.

Outro ponto a ser aprofundado no texto é a relação dos interlocutores


perante seus discursos. Entende-se, pela ótica do autor, que reflete a de
Bakhtin, que a classificação dos gêneros não só é um processo dialógico mas
também social. É a partir da produção enunciativa que cria-se conhecimento
dando aos membros envolvidos o material presente para construção do texto,
entendido aqui como comunicação formadora de sentido. Atrela-se a isso o
forte caráter social de criação conceitual de mundo, tal como expressa Fiorin
em:

“Os gêneros são meios de aprender a realidade. Novos modos de ver e conceptualizar a
realidade implicam no aparecimento de novos gêneros e a alteração dos já existentes. Ao
mesmo tempo, novos gêneros ocasionam novas maneiras de ver a realidade.”

Por fim, apresenta o autor mais uma divisão dos gêneros, sendo essa
relação a sua utilização. Entende-se a partir daqui de que enunciado não é
apenas produzido por meio escrito, mas que a formulação de textos é possível
a partir da oralidade. Com isso em mente, Bakhtin faz uma clivagem,
separando os gêneros em dois: os primários e os secundários. Aqueles,
referem-se ao âmbito do cotidiano, de predominância oral. Nestes encontram-
se e-mails, SMSs, bilhetes, chats. No que diz respeito ao segundo, este
apresenta-se de forma mais formal, sendo em sua maioria na forma escrita,
tendo uma função mais séria, tais como os textos jornalísticos, jurídicos ou
religiosos. Entende-se também que esse segundo tem predominância sobre o
primeiro. Isso ocorre pelo desgarramento da realidade na forma que se
apresenta.

Contudo, apesar de segrega-los, Bakhtin entende a interdependência


deles. Na sua maioria, o gênero secundário parte do primário. Porém, há vezes
que o primário parte do secundário, como explicita Fiorin ao trazer à luz o
exemplo de uma dissertação filosófica que teve origem numa conversação.

Em resumo, José Luiz Fiorin expõe os conceitos bahkitinianos do


gênero, mostrando a sua utilidade durante os tempos, o forte teor sociológico
no qual os gêneros se apresentam e traz à tona algumas definições tais como
conteúdo temático, esfera de atividades e as divisões desses. Logo tem-se um
texto conciso que busca de forma fácil explicitar conceitos teóricos do gênero
segundo a visão do filósofo russo Bahktin.

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