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Revista UNIANDRADE

DOI: http://dx.doi.org/10.18024/1519-5694/revuniandrade.v16n2p101-108

Riscos Associados ao Uso de Plantas Medicinais Durante o Período da


Gestação: uma Revisão

Rafaela Aparecida Martins Borges1, Vinícius Bednarczuk de Oliveira1

1. Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE), Paraná, Brasil.

e-mail: vinicius.bednarczuk@hotmail.com

Resumo — O uso de plantas medicinais no Abstract — The use of medicinal plants in


tratamento de enfermidades possuem registros treating diseases have records since the beginning
desde o inicio da civilização, este conhecimento of civilization, this knowledge of plants are being
sobre as plantas vêm sendo passado de geração passed from generation to generation, and its use
em geração, e seu uso é amplamente difundido e is widespread and popular, because very rarely
popular, dado que raríssimas vezes sua utilização use is accompanied by a qualified professional .
é acompanhada por profissional habilitado. Os Herbal were always allied to popular belief,
fitoterápicos sempre foram aliados à crença however today its use has gained prominence as
popular, porém hoje seu uso já ganha destaque the study of medicinal plants, since the
assim como o estudo das plantas medicinais, uma therapeutic properties, in many cases, are
vez que as propriedades terapêuticas, em muitos confirmed as no scientific validity. This work
casos, não se confirmam quanto à validade aims to evaluate through a literature review, the
científica. Este trabalho tem como objetivo potential risks of using the most common
avaliar através de uma revisão bibliográfica, os medicinal plants used during pregnancy and
potenciais riscos do uso de plantas medicinais breastfeeding. Through the analysis of
mais comuns utilizadas durante a gestação e information, identifies the need to be developed
amamentação. Por meio da análise das based studies from the perspective of public
informações obtidas, identifica-se a necessidade awareness of the use of medicinal plants during
de serem desenvolvidos estudos baseados na pregnancy, taking into consideration that several
perspectiva do conhecimento populacional sobre species used during pregnancy can result in
o uso de plantas medicinais na gestação, levando serious problems and even toxic even lead to
em consideração que diversas espécies utilizadas miscarriage. This knowledge becomes extremely
no período gestacional podem acarretar em important and should be considered in the
problemas tóxicos graves e até mesmo levar ao formulation of public policies for promoting the
aborto. Este conhecimento torna-se rational use of medicinal plants during
extremamente importante e deve ser considerado pregnancy.
na formulação de políticas públicas para Keywords: pregnancy, herbal medicine, herbal
assegurar a promoção do uso racional de plantas medicines, self-medication, teratogenicity.
medicinais na gestação.
Palavras-chave: gestação, fitoterapia, plantas
medicinais, automedicação, teratogenicidade.

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1. INTRODUÇÃO relacionado com interferência de agentes
químicos, principalmente nas fases iniciais da
O termo Fitoterapia deriva do grego “phyton” gestação – nos três primeiros meses 6.
que significa vegetal e de “therapeia”, Durante a gestação o organismo da mulher se
tratamento, e consiste no uso de espécies de torna mais sensível, o qual resulta em respostas
origem vegetal “in natura” ou sob a forma de fisiológicas importantes, por isso é indispensável
medicamentos no tratamento de diversas a avaliação e acompanhamento, devendo ser
patologias 1. Segundo a Agência Nacional de considerado que a exposição materna a agentes
Vigilância Sanitária (ANVISA), fitoterápicos são externos entre outros agentes químicos podem
medicamentos de origem exclusiva de vegetais, resultar em danos ao embrião como excitação e
reconhecidos principalmente por apresentarem contração do útero de uma gestante, levando a
grande eficácia e pela sua constância na acontecer um parto prematuro ou até um aborto 7.
qualidade, entretanto ainda há o desconhecimento Levando em consideração o potencial tóxico
do potencial farmacológico e da sua segurança de algumas espécies vegetais e o período de
destes produtos 2. gestação, este trabalho teve como objetivo,
Produtos naturais por muitas décadas foram realizar um levantamento bibliográfico das
considerados como medicamentos isentos de diversas espécies utilizadas no nosso cotidiano
efeitos colaterais, sem restrição de uso e principalmente na forma de chás, verificando se o
posologia. Estes produtos, muitos deles, ainda se uso de plantas medicinais pode acarretar
desconhece por uma grande parte da população, a problemas mais sérios neste período ou para o
presença de substâncias químicas, que próprio feto.
dependendo da dosagem e o tipo de manipulação
que recebem, acabam por ter um grande potencial 2. METODOLOGIA
tóxico que é nocivo ao organismo humano 3.
Em 1978 a Organização Mundial de Saúde A pesquisa foi realizada nas bases de dados
(OMS) reconheceu formalmente o uso de Google Scholar, Lilacs, Scielo e banco de teses e
fitoterápicos como terapia profilática, curativa e dissertações, utilizando como critérios de seleção
paliativa, considerando-os como ferramenta nesta revisão artigos completos publicados no
muito importante no âmbito médico, diagnóstico período de 1995 a 2014, contemplando os
e farmacêutico, que resultou em diversos seguintes critérios: teratogenicidade, gestação,
trabalhos referente à necessidade e importância fitoterápicos, plantas medicinais e
do uso desta classe de medicamentos 4. automedicação. Foram excluídos estudos que não
Em 2009, estudos de casos isolados apresentavam relação entre produtos de origem
mostraram que a população mundial aderiu o uso vegetal e gestação.
de fitoterápicos, que consequentemente elevou a
preocupação quanto à qualidade de tais produtos,
devido principalmente à autenticidade, pureza e 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
da sua composição química 5. Devido a estas
questões, houve maior investigação referente à Fitoterapia
ação toxicológicas das plantas, que geralmente A fitoterapia pode ser definida como o estudo
são associadas a autodefesa natural destes seres e aplicação dos efeitos terapêuticos de drogas
vivos, como por exemplo os glicosídeos vegetais e derivados, dentro de um contexto
cianogênicos, presença de ricina (proteína tóxica holístico 8. Segundo Vanaclocha e Folcará 9,
da mamona), alcaloides como coniína, entre Fitoterapia significa etmologicamente
outros, levando a um considerável número de “terapêutica com plantas”, e se define como a
casos de intoxicações 3. ciência que estuda a utilização dos produtos de
O ser humano é classificado como um ser origem vegetal com finalidade terapêutica para se
mamífero, que ao longo de muito tempo se prevenir, atenuar ou curar um estado patológico.
adaptou as diversas mudanças no seu meio, e Neste contexto a fitoterapia engloba plantas
neste processo a sua exposição a agentes medicinais, extratos e medicamentos
químicos foi inevitável, até mesmo como forma fitoterápicos.
de sobrevivência. Considerando que a reprodução Em 1978, Planta Medicinal foi definida pela
do ser humano passa por diversas etapas e ciclos OMS como qualquer planta que contenha um ou
complexos, devemos considerar que seu processo mais de seus órgãos substâncias que possam ser
pode ser alterado e acarretar danos tanto ao feto utilizadas com finalidade terapêutica, ou que seus
como a mãe, e isso na maioria das vezes está

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precursores sejam utilizados para semi-síntese fitoterápicos comercializados é de venda sem
químico-farmacêutica 10. prescrição médica. A população que utiliza estes
É comprovado cientificamente que as plantas recursos raramente informa o fato aos
medicinais não são isentas de efeitos colaterais, o profissionais da saúde. Um dos principais
que contraria o ditado popular que diz: “Se é problemas da utilização destes produtos é a
natural, é bom; senão fizer bem, mal não fará.” 11. crença de que produtos de origem vegetal são
Deste modo, antes de fazer o uso de qualquer tipo isentos de reações adversas e efeitos tóxicos 14, 15.
de planta, a gestante deve comunicar um A regulamentação brasileira exige que
profissional da saúde. 12. Sendo de grande medicamentos fitoterápicos tenham suas eficácia
importância a percepção de médicos e e segurança comprovadas, inclusive segurança
farmacêuticos em questionar e alertar as para uso na gravidez e lactação 16, 17. No gráfico 1
gestantes sobre a utilização de plantas é possível verificar o número de mulheres
medicinais13. intoxicadas por plantas no Brasil em um período
de 10 anos, totalizando 8265 casos de
Plantas de Uso Difundido na Gestação intoxicação, com uma média de 7 casos a cada
No Brasil, o uso de plantas medicinais é três dias.
amplamente difundido e a maior parte dos

Gráfico 1. Número de mulheres intoxicadas por plantas no Brasil de 2002 a 2012.


FONTE: Sinitox (Sistema de informações tóxico farmacológicas) 18.

A utilização de plantas medicinais para o medicamentos para amenizar o desconforto. Essa


tratamento de indisposições e doenças é uma necessidade, que muitas gestantes têm de buscar
prática frequente entre grávidas. Fórmulas e chás alívio para os seus sintomas, gera grande
são preparados nos cuidados da saúde da gestante preocupação quando produtos de escolha recaem
e do bebê, de geração em geração, de mãe para sobre as plantas medicinais de uso corriqueiro
filha, de forma deliberada e sem indicações pela população, tendo em vista que a maioria das
médicas 19. usuárias desconhece os efeitos adversos oriundos
Na gestação normalmente ocorrem alterações dessa prática 20.
fisiológicas próprias do período, que podem Desde a catástrofe da talidomida o uso de
eventualmente causar sintomas desagradáveis à fármacos durante a gestação tem sido evitado
gestante, levando assim a utilização de devido à preocupação da teratogenicidade e

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outros efeitos no desenvolvimento fetal. Dados como emenagogas abortivas por pacientes
obtidos no serviço pré-natal do Sistema Único de grávidas 21. Os dados de cada uma destas plantas
Saúde (SUS) de diversas capitais brasileiras encontram-se resumidos na Tabela 1.
apontam as dez principais plantas utilizadas

Tabela 1. Relação das dez plantas mais utilizadas como emenagogas/abortivas por pacientes do
Serviço Pré-natal do Sistema Único de Saúde do Brasil.
Nome popular Nome científico Família

Sene Senna alexandrina Mill. Fabaceae

Arruda Ruta graveolenses L. Rutaceae

Boldo Peumus boldus M. Monimiaceae

Buchinha –do – norte Luffa operculata(L) Cogn. Cucurbitaceae


Cabacinha

Marcela Egletes viscosa (L) Asteraceae

Canela Cinnamomum verum J. Presl. Lauraceae

Quina-quina Coubrea hexandra K. Schum Rubiacae

Cravo Syzgium aromaticum(L.) Merr. & L. Myrtaceae

Aroeira Astronium urundeuva Anacardiaceae

Agoniada Himathanthus lancifolius Woodson Apocynaceae


FONTE: adaptado de MENGUE et al., 2004.

Alguns dos medicamentos fitoterápicos mais confundido, no Brasil, com o falso-boldo (Coleus
comercializados atualmente possuem ação sobre barbatus Andrews Benth. – Lamiaceae) 3. Um
o SNC, e devem ser evitados por mulheres estudo observou alterações anatômicas e nos
grávidas. No Brasil, com a publicação da Lista de blastocistos quando extratos de P. boldus foram
Registro Simplificado de Fitoterápicos 22, administrados durante a gestação, bem como
diversos medicamentos passaram a ter sua alguma atividade abortiva 23. Ainda, verificou-se
comercialização condicionada à apresentação de que o falso-boldo, quando administrado em
receita médica, entre eles aqueles contendo: animais no período pré-implantação, causa um
equinácea (Echinacea purpúrea (L.) Moench – aumento significativo da perda embrionária. Um
Asteraceae), hipérico (Hypericum perforatum L. possível mecanismo para a ação anti-implantação
– Clusiaceae), tanaceto (Tanacetum parthenium do falso-boldo seria um efeito relaxante sobre a
(L.) Sch. Bip. – Asteraceae), ginkgo (Ginkgo mobilidade tubária, interferindo, assim, no
biloba L. – Ginkgoaceae), cava-cava (Piper transporte do embrião em direção ao útero e sua
methysticum G. Forst – Piperaceae) e valeriana posterior implantação 7.
(Valeriana officinalis L. – Valerianaceae). Na tabela 2 é possível verificar a relação de
O Peumus boldus Molina, pertencente a plantas comumente utilizadas e que apresentam
família Monimiaceae, conhecido como boldo- atividades biológicas prejudiciais a gestação.
verdadeiro, é natural do Chile e frequentemente

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Tabela 2. Plantas utilizadas como emenagogas, abortivas, laxantes e as atividades biológicas
prejudiciais à gestação.
Finalidade Nome popular Nome científico Atividade biológica

Emenagoga Arruda Ruta graveolensis L. Abortiva, estimulante do útero


Boldo Verdadeiro Pneumus boldus Molina Abortiva citotóxica
Buchinha Luffa operculata L. Abortiva
Camomila Matriaca recutita Relaxante do útero
Laxantes Babosa mutagênica Aloe vera Abortiva, citotóxica
Cáscara sagrada Rhamnus purshiana DC Abortiva estimulante do útero
Ruibarbo Rheum rhabarbarum Abortiva,genotóxica,
mutagênica
Sene Cassia angustifolia L. Abortiva
Fonte: Simões et.al.2003; Brasil, 2002;Plantas e Ervas Medicinais e Fitoterápicos (modificada).

Automedicação e Farmacovigilância na aliviar ou mesmo curar algumas enfermidades 25.


Gestação A ideia equivocada das pessoas de que as
Dado a associação de produto fitoterápico e plantas medicinais são inócuas a saúde, contribui
planta medicinal ao termo “inócuo”, e sua com a automedicação, que se entende como o
utilização por ditos populares, nota-se um emprego de medicamentos sem prescrição,
aumento do uso de fitoterápicos na gestação, para acompanhamento ou orientação médica 26-28.
alívio de alguns sintomas inerentes da gestação, Todavia, as plantas medicinais quando utilizadas
fato que se agrava quando do uso concomitante a corretamente podem ser consideradas como
medicamentos alopáticos. A automedicação é medicamento, mas seu uso inadequado é
uma forma importante de cuidados pessoais e extremamente perigoso 29.
evidências mostram que é a forma mais comum O uso de plantas medicinais durante a
de resposta a sintomas. Fatores diversos, como a gravidez ou lactação é um assunto delicado uma
medicalização e as estratégias promocionais, vez que podem causar estímulo da contração
podem contribuir para a prática e desejo uterina e consequente aborto ou parto prematuro;
“irracional” de utilização de medicamentos por ação hormonal que possibilite alterações no
gestantes. desenvolvimento fetal ou do sexo da criança;
O risco da automedicação e da ingestão de ações genotóxicas, mutagênicas, citotóxicas,
comprimidos sem avaliação médica vem em dose fetotóxicas e teratogênicas que podem levar a
dupla para as grávidas; tanto a mãe quanto o feto malformação no feto 30.
podem ser vítimas dos efeitos colaterais das O uso de plantas medicinais durante a
medicações, naturais, fitoterápicas, alopáticas e gravidez e risco para malformações congênitas
até mesmo homeopáticas, sejam elas que vão foi detalhadamente descrito recentemente em
desde uma simples alergia até má formação fetal. uma tese de doutorado 30, onde foi realizado um
Segundo a Organização Mundial de Saúde estudo do tipo caso-controle de base hospitalar e
(OMS) 65 a 80% da população mundial, multicêntrico com o propósito de estimar a
principalmente em países em desenvolvimento, frequência do uso de plantas medicinais e seus
acreditam nos produtos a base de plantas derivados durante a gravidez, particularmente as
medicinais no tratamento de suas doenças 24.No com potencialidades abortivas e as com efeito
Brasil, mesmo com o incentivo da indústria sobre o sistema nervoso central, descrevendo as
farmacêutica para a utilização de medicamentos principais substâncias utilizadas e as razões de
industrializados, há um grande número de seu uso. Tais frequências foram comparadas entre
pessoas que fazem o uso de práticas auxiliares 443 mães de bebês portadoras de defeitos
para cuidar da saúde, como o emprego das congênitos maiores e 443 mães de bebês normais,
plantas medicinais, utilizando tais plantas para onde 39,7% das mães de bebês malformados e

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24,8% das mães de controle utilizaram plantas graves e colaborar com a identificação do
com potencialidades abortivas. medicamento responsável pela reação adversa 34.
As observações evidenciaram que o uso de As ações de farmacovigilância devem ser
fitoterápicos e ansiolíticos / antidepressivos de integradas e organizadas para que as informações
origem vegetal durante a gravidez não parece possam ser triadas e analisadas corretamente.
estar associado ao aparecimento de defeitos Assim, podemos falar em um modelo mundial,
congênitos maiores nesta amostra, mas, no em que centros municipais, regionais ou
entanto, a observação de que as mães de crianças estaduais recebem as notificações e encaminham-
malformadas utilizaram mais chás considerados as para centros nacionais que, por sua vez, após
abortivos ou suspeitos de algum tipo de risco análise e tomadas de providências nacionais,
para a gestação, sugere uma associação entre o remetem- nas para centros mundiais, entre eles o
uso destas substâncias e o desfecho malformação da própria OMS, localizado em Uppsala. A
congênita maior na população estudada 30. função dos centros de farmacovigilância é
Como toda população, as gestantes também coordenar as ações de coleta de notificação e
utilizam plantas medicinais com frequência. As também de busca ativa de possíveis reações
causas da inclusão desta terapêutica durante a adversas, falhas terapêuticas e desvios de
gestação evidencia o tratamento de manifestações qualidade de produtos 34.
clínicas da própria gravidez 31. É importante levar em conta que os
Segundo Silva, Dantas e Chaves 32 a carência fitoterápicos são em muitos casos, misturas
de conhecimento da população em relação à complexas de várias plantas das quais se conhece
toxicidade das plantas pode acarretar sérias pouco sobre a toxicidade e particularmente sobre
consequências, principalmente no período o perfil de reações adversas além da dificuldade
gestacional, podendo promover o estímulo da de distinguir reações adversas de eventos
contração uterina e consequente aborto ou parto relacionados à qualidade do produto fitoterápico,
prematuro. adulteração, contaminação, preparação incorreta
O primeiro país a institucionalizar a ou estocagem inadequada e/ou uso inapropriado,
farmacovigilância foi o Reino Unido, há mais de irracional 36.
160 anos, quando uma jovem de 15 anos faleceu
ao usar clorofórmio como anestésico numa 5. CONCLUSÃO
cirurgia do dedo do pé, desenvolvendo fibrilação
ventricular como reações adversas a A aceitação dos fitoterápicos pela comunidade
medicamentos (RAM) grave 33. médica e a integração da fitoterapia na medicina
A farmacovigilância colabora para científica somente ocorrerá se estes produtos
estabelecer o valor terapêutico dos atenderem aos critérios de eficácia, segurança e
medicamentos, ajudando a prescrever qualidade exigidos para os medicamentos
racionalmente com conhecimento dos riscos e convencionais 15.
benefícios e, contribui para formular decisões Dentre os critérios de segurança necessários
administrativas 34. estão os estudos sobre a toxicidade reprodutiva
Segundo a Organização Pan- americana de dos produtos fitoterápicos, que incluem uma
Saúde (2002) 35, farmacovigilância é também um avaliação das ações sobre a fertilidade e a
instrumento importante para a Atenção performance reprodutiva para os produtos
Farmacêutica na medida em que provê administrados durante a gametogênese e
informações sobre medicamentos, permitindo fecundação; elucidação dos efeitos adversos
uma melhor avaliação da relação risco/benefício sobre os fetos durante a vida intra e extrauterina
de um medicamento, otimizando os resultados da para os produtos administrados durante a
terapêutica. gestação; e determinação dos efeitos adversos
Reações adversas a medicamentos permitem sobre a mãe, o parto e o desenvolvimento pós-
que o farmacêutico ocupe um lugar relevante no natal para os produtos administradas neste
programa de farmacovigilância, podendo, período 16.
informar aos pacientes sobre os cuidados que O Rio de Janeiro é o único Estado Brasileiro
devem ter com os medicamentos para prevenir as que possui uma legislação sobre a utilização de
reações adversas; orientar os pacientes a plantas medicinais por mulheres grávidas. A
procurarem um farmacêutico ou médico se Resolução da Secretaria de Estado de Saúde/RJ
surgirem reações adversas que não possam N° 1757 17, leva em conta o potencial tóxico,
suportar; alertar para que se dirijam a um pronto- teratogênico e abortivo de diversas espécies
socorro hospitalar se surgirem reações adversas vegetais medicinais e visa a esclarecer a

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população em geral e aos profissionais de saúde periods of pregnancy in rats. Journal of
sobre o risco do uso indiscriminado de espécies ethnopharmacology, 2000, 73, 53-60.
medicinais. Ainda, contraindica o uso interno de
8. Eldin S, Dunford A. Fitoterapia na atenção
drogas vegetais medicinais durante o primeiro
primária à saúde. São Paulo: Manole. 2001.
trimestre de gestação e lactação, cujos efeitos
toxicológicos não tenham sido investigados, bem 9. Vanaclocha BV, Folcará SC. Fitoterapia:
como de produtos que tenham efeitos tóxicos vade mécum de prescripción. 4. ed. Barcelona:
comprovados. Masson, 2003. 1091.
Através desta revisão bibliográfica verificou- 10. Kalluf L. Fitoterapia Funcional, dos
se que para a maioria das plantas medicinais não Princípios Ativos à Prescrição de fitoterápicos, 1ª
há dados a respeito da segurança do uso durante a ed., VP editora, São Paulo, 2008.
gravidez. Ainda se faz necessário estudo
detalhado de possíveis efeitos sobre a mãe e o 11. Oliveira CJ, Araújo TL. Plantas medicinais:
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mulheres grávidas de não utilizar qualquer 12. Sartório ML, Trindade C, Resende P,
medicamento, seja ele de origem vegetal ou não, Machado JR. Cultivo orgânico de plantas
sem o conhecimento prévio do seu médico, uma medicinais.Viçosa, MG: Aprenda fácil, 2000.
vez que apenas este, poderá avaliar o risco- 258.
benefício do uso de qualquer medicação.
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