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Rev Bras Med Trab - Pre-Proof (as accepted)

ARTIGO ESPECIAL - DIRETRIZES /


SPECIAL ARTICLE - GUIDELINES

Diretriz Técnica da ANAMT: Telediagnóstico Ocupacional


ANAMT Technical Guideline: Occupational Telediagnosis

Francisco Cortes Fernandes, Rosylane Nascimento das Mercês Rocha,


Mírian Pérpetua Palha Dias Parente, Ricardo de Almeida Sebba,
Leonardo Pereira Cabral, Wanderley Marques Bernardo

http://doi.org/10.47626/1679-4435-2023-1226

PRE-PROOF
(as accepted)

This is a preliminary, unedited version of a manuscript that has been accepted


for publication in Revista Brasileira de Medicina do Trabalho. As a service to
our readers, we are providing this early version of the manuscript, as accepted.
The manuscript will still be copyedited, translated, typeset, and approved by the
authors before it is published in final form.

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Diretriz Técnica da ANAMT: Telediagnóstico Ocupacional

Francisco Cortes Fernandes1


Rosylane Nascimento das Mercês Rocha1
Mírian Pérpetua Palha Dias Parente1
Ricardo de Almeida Sebba1
Leonardo Pereira Cabral1
Wanderley Marques Bernardo2

1 - Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), Núcleo


Diretrizes, São Paulo, SP, Brasil.
2 - Associação Médica Brasileira (AMB), Programa Diretrizes, São Paulo, SP,
Brasil.

Autor correspondente
Francisco Cortes Fernandes
E-mail: francisco_cortes_fernandes@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0003-2298-8227

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Resumo
As relações entre trabalho e saúde/doença são a principal tarefa do Médico do Trabalho,
sendo o exame ocupacional utilizado para abordar estas relações, juntamente com o estudo do
local de trabalho e análises epidemiológicas. Este estudo teve como questão clínica
norteadora: o exame ocupacional por telemedicina (telediagnóstico) é acurado quando
comparado ao exame ocupacional presencial? Os trabalhos foram selecionados por 4 revisores
independentes, atendendo aos critérios de elegibilidade. Foram recuperados nas bases
consultadas Medline, Embase, Scholar e manual, respectivamente, 12.654, 29, 3 e 0 artigos.
Desse montante, foi selecionado pelo título e resumo um total de 284 estudos (referências
excluídas), dos quais não foi possível selecionar nenhum estudo que atendesse aos critérios de
elegibilidade previamente estabelecidos. No momento, não há evidência comparando o exame
ocupacional regular ou padrão (presencial) e o mesmo exame por meio de telemedicina.
Portanto, não há como recomendar o uso de telediagnóstico ocupacional (exame ocupacional).
Palavras-chave: telemedicina; exames médicos; saúde ocupacional; guia de prática clínica.

Abstract
The relationship between work and health/disease are the main task of the Occupational
Physician and the occupational exam is used to address these relationships together with the
study of the workplace and epidemiological analyses. This study had as a guiding clinical
question: is the occupational examination by telemedicine (telediagnosis) accurate when
compared to the occupational examination in person? Papers were selected by 4 independent
reviewers, meeting the eligibility criteria. The number of articles 12,654, 29, 3 and 0 were
retrieved in the databases consulted Medline, Embase, Scholar and manual, respectively. Of
this total, a total of 284 studies were selected by title and abstract (references excluded), from
which it was not possible to select any study that met the previously established eligibility
criteria. There is currently no evidence comparing regular or standard (face-to-face)
occupational testing and the same telemedicine testing. Therefore, there is no way to
recommend the use of occupational telediagnosis (occupational examination).
Keywords: telemedicine; medical examination; occupational health; practice guideline.

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INTRODUÇÃO

As relações entre trabalho e saúde/doença são a principal tarefa do Médico do Trabalho


sendo o exame ocupacional o instrumento utilizado para abordar estas relações juntamente
com o estudo do local de trabalho e análises epidemiológicas.
A semiologia é o ramo da medicina que trata da identificação das diversas
manifestações das doenças e pode ser classificada em dois componentes: a semiotécnica
(técnica de busca de sinais) e a propedêutica (que busca reunir e interpretar os sinais e
sintomas para chegarmos a um diagnóstico). Assim sendo, a propedêutica tem a seguinte
estrutura: anamnese clínica e ocupacional, exame físico e considerações diagnósticas.
O exame ocupacional, muitas vezes pode ser visto apenas como a emissão de um
atestado, mas devemos entender e realizar o mesmo de uma forma extremamente séria e
comprometida, haja vista suas possíveis repercussões em diversas esferas judiciárias e éticas.
Uma característica importante do atendimento do médico do trabalho é que as consultas
ocupacionais muitas vezes não são motivadas por uma busca ativa do trabalhador. É uma
consulta prevista em lei onde uma anamnese e exame físico minuciosos, podem abrir espaço
para o relato de possíveis doenças.
Finalmente, é importante lembrar que o exame ocupacional não visa apenas avaliar a
saúde do trabalhador, devendo verificar a efetividade da proteção dele aos riscos existentes
nos postos de trabalho, além do impacto que exposições ocupacionais podem levar aos
trabalhadores, bem como de sua saúde do ponto de vista global, sendo diferente do exame
clínico que se dispõe a avaliar, diagnosticar e tratar uma doença.
O exame clínico constitui-se assim no principal instrumento da prática da medicina do
trabalho. Através de um exame bem realizado, obtemos dados que podem ser transformados
em informações que geram o conhecimento da população de trabalhadores para a atuação do
médico do trabalho.
Sumarizando, podemos dizer que o exame ocupacional tem por objetivos precípuos:
a) Alocar o trabalhador em postos de trabalhos adequados a suas condições
físicas e psíquicas;
b) Avaliar o estado de saúde do trabalhador;
c) Solucionar problemas médicos detectados no trabalhador;

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d) Avaliar se a exposição a fatores de risco ocupacionais está impactando


na saúde do trabalhador;
e) Realizar realocações do trabalhador;
f) Realizar levantamentos epidemiológicos;
g) Promoção da saúde do trabalhador;
h) Avaliar aptidão ao trabalho;
i) Cumprir com requisitos legais que tornam o exame obrigatório.

Para cumprir os objetivos da medicina do trabalho na realização do exame


ocupacional, precisamos saber sobre os riscos aos quais está exposto o
trabalhador na sua jornada de trabalho. Esse conhecimento permitirá ao médico identificar
realmente as condições de trabalho e conhecer os supervisores que lideram estas atividades.
A anamnese ocupacional cuidadosa é a forma mais efetiva de diagnosticar
estas doenças, sendo importante questionar em relação a todas as ocupações
e duração de cada uma delas. Não se trata apenas de uma lista dos trabalhos,
deve incluir a duração e as atividades detalhadas, o uso de equipamentos de
proteção individual além das práticas de higiene e segurança do trabalho. É
importante incluir a denominação da ocupação em cada um dos trabalhos.
A medicina entendida como ciência requer que se utilize apurada técnica
para atingir sua finalidade. Na realização da anamnese, a técnica está
representada pela ordem e pela profundidade das perguntas. A atitude
cuidadosa do médico ao realizar o exame físico, amplia sua percepção.
Devido a desdobramentos legais e éticos, recomenda-se a realização de um exame físico
abrangente que possibilite a identificação de alterações
decorrentes da exposição ocupacional que podem passar despercebidos num
exame focalizado.
Lembrando ainda que os princípios do exame físico são a inspeção, a
palpação, a percussão e a ausculta.

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MÉTODO

Questão Clínica
O exame ocupacional por telemedicina (telediagnóstico) é acurado quando comparado
ao exame ocupacional presencial?

Critérios de elegibilidade (estudos a serem selecionados)


Paciente: trabalhador em exame ocupacional
Intervenção: exame físico por telemedicina
Comparação: exame físico presencial
Desfecho: diagnóstico ou suspeita diagnóstica
Desenho de estudo: estudo transversal
Período consultado: sem restrições
Idioma: sem restrições
Texto completo ou resumo com dados

Bases consultadas e estratégia de busca


As buscas pela evidência foram executadas no Medline, Embase e Google
Scholar. Busca complementar manual. As estratégias utilizadas foram:
#1 (Employee OR Employment OR Labor OR Occupational OR Work OR Worker
OR Working OR Workplace OR Workload)
#2 (Physical Examination OR Physical Examinations OR Physical Exam OR
Physical Exams)
#3 (Telemedicine OR Tele-Referral OR Tele Referral OR Tele-Referrals OR
Virtual Medicine OR Mobile Health OR mHealth OR Telehealth OR eHealth)
#4 = #2 AND #3
#5 = #1 AND #3 AND (sensitiv*[Title/Abstract] OR sensitivity and specificity[MeSH
Terms] OR diagnose[Title/Abstract] OR diagnosed[Title/Abstract] OR
diagnoses[Title/Abstract] OR diagnosing[Title/Abstract] OR diagnosis[Title/Abstract]
OR
diagnostic[Title/Abstract] OR diagnosis[MeSH:noexp] OR (diagnostic
equipment[MeSH:noexp] OR diagnostic errors[MeSH:noexp] OR diagnostic
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imaging[MeSH:noexp] OR diagnostic services[MeSH:noexp]) OR diagnosis,


differential[MeSH:noexp] OR diagnosis[Subheading:noexp]))
FINAL = #4 OR #5

Seleção dos trabalhos


Os trabalhos foram selecionados por 4 revisores independentes, atendendo aos
critérios de elegibilidade, inicialmente pelos títulos e resumos, e depois
confirmado pelos textos completos.

Extração dos dados


Uma vez selecionado o estudo, deste serão extraídas as características do
trabalhador, do teste (exame físico por telemedicina) e do padrão de referência
(exame físico presencial). As medidas de acurácia do teste minimamente a
serem extraídas serão prevalência de alterações identificadas, sensibilidade e
especificidade. Se houver detalhes como verdadeiros positivo e negativo, e
falsos positivo e negativo, estes também farão parte dos dados extraídos.

Qualidade da evidência
O risco de vieses nos estudos será estimado por meio do instrumento QUADAS-21,
sendo este graduado em baixo, alto ou muito alto. A qualidade da evidência será diretamente
extrapolada desse risco, sendo expressa em muito baixa, baixa ou alta.

Análise e expressão dos resultados


Se os resultados de um ou mais estudos forem comuns, os dados serão
agregados em uma análise (meta-análise) única (software meta-disc2) e
expressos em sensibilidade, especificidade, valores preditivos positivos e
negativos.

Síntese da evidência
A evidência disponível sustentará a síntese que procurará responder à questão
inicial desta revisão. A resposta poderá ser qualitativa (na ausência da meta-
análise) ou quantitativa (com os dados meta-analisados).

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RESULTADOS

Foram recuperados nas bases consultadas Medline, Embase, Scholar e manual,


respectivamente, o número de artigos de 12.654, 29, 3 e 0. Desse total foi selecionado pelo
título e resumo um total de 284 estudos, dos quais não foi possível selecionar nenhum estudo
que atendesse aos critérios de elegibilidade previamente estabelecidos (referências excluídas –
veja Anexo 1 - https://s3.sa-east-
1.amazonaws.com/publisher.gn1.com.br/rbmt.org.br/pdf/1226+-+DIRETRIZ_ANAMT_-
_TELEDIAGN%C3%93STICO_OCUPACIONAL_Anexo.docx). Os motivos de exclusão
estão explicitados nas Tabelas de 1 a 4 (https://s3.sa-east-
1.amazonaws.com/publisher.gn1.com.br/rbmt.org.br/pdf/1226+-
TAB+1+TELEDIAG+OCUPA+MEDLINE+PARTE+1.xlsx; https://s3.sa-east-
1.amazonaws.com/publisher.gn1.com.br/rbmt.org.br/pdf/1226+-
TAB+2+TELEDIAG+OCUPA+MEDLINE+PARTE+2.xlsx; https://s3.sa-east-
1.amazonaws.com/publisher.gn1.com.br/rbmt.org.br/pdf/1226+-
TAB+3+TELEDIAGNOSTICO+OCUPACIONAL+-+EMBASE.xlsx; https://s3.sa-east-
1.amazonaws.com/publisher.gn1.com.br/rbmt.org.br/pdf/1226+-
TAB+4+TELEDIAGN%C3%93STICO+OCUPACIONAL+-
+SCHOLAR+(Conflito+de+codifica%C3%A7%C3%A3o+Unicode).xlsx).

SÍNTESE DA EVIDÊNCIA
No momento, não há evidência comparando o exame ocupacional regular ou
padrão (presencial) e o mesmo exame por meio de telemedicina. Há apenas
evidência esparsa testando o uso de telemedicina em áreas ou topografias
isoladas do corpo humano, como pele, olhos, orelhas, sistema nervoso e
musculoesquelético, e mental. Portanto, não há como recomendar o uso de
telediagnóstico ocupacional (exame ocupacional).

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REFERÊNCIAS

1. QUADAS- 2. A quality assessment tool for diagnostic accuracy studies. Disponível em:
https://www.bristol.ac.uk/population-health-sciences/projects/quadas/quadas-2/
2. Meta-DiSc: a software for meta-analysis of test accuracy data. Disponível em: https://meta-
disc.software.informer.com/1.4/

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