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PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA

Ênfase para Situações Práticas na


Orientação e Prescrição Farmacêutica
de MIPs

Vera Lúcia Pivello


EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO NO BRASIL

— Resolução 44/2009 (ANVISA) – Boas Práticas e


Serviços Farmacêuticos em farmácias e
drogarias;
— Resolução 585/2013 (CFF) – Atribuições Clínicas
do Farmacêutico;
— Resolução 586/2013 (CFF) – Prescrição
Farmacêutica;
— Lei 13021/2014 – Farmácia como
Estabelecimento de Saúde.
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
À PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
1º) ALEGAÇÃO: A PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA É
ANTIÉTICA: O FARMACÊUTICO IRÁ PRESCREVER E DISPENSAR.

Explicando:
A indicação de MIPs já ocorre no dia a dia – não é
o registro (a prescrição ) que a tornará antiética.

“A prescrição farmacêutica constitui uma atribuição clínica do


farmacêutico e deverá ser realizada com base nas necessidades
de saúde do paciente...” (Res. 586/13 CFF, art.3º, parágr. único)
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
2º ALEGAÇÃO: PARA QUE PRESCREVER, SE É ISENTO
DE PRESCRIÇÃO?

Explicando:
Documentação (prescrição) Ò mais segurança
ao paciente e credibilidade ao farmacêutico

⇑ Valorização profissional
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
3º) ALEGAÇÃO: NÃO CABE AO FARMACÊUTICO FAZER
DIAGNÓSTICO.

Explicando:
Prescrição de MIPs: não requer diagnóstico prévio
(são medicamentos para transtornos menores).
Sugestão: algoritmos - Fascículo II do Projeto Farmácia Estabelecimento de Saúde (CRF-
SP):
http://portal.crfsp.org.br/sobre-o-crf-sp/farmacia-estabelecimento-de-saude.html
ARGUMENTOS CONTRÁRIOS
4º) ALEGAÇÃO: O FARMACÊUTICO NÃO TEM COMPETÊNCIA
PARA FAZER INDICAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Explicando:

Farmacêutico é o profissional do medicamento e deve se


preparar para as novas atribuições (atividades clínicas).
QUEM SÃO OS MEDICAMENTOS
ISENTOS DE PRESCRIÇÃO?

u  MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO – MIPs –


RESOLUÇÃO 138/2003 (ANVISA)
Ver:
u  Lista de Grupos e Indicações Terapêuticas
Especificadas (GITE)
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
ANAMNESE

Evitar:

• Duas ou mais perguntas juntas,

sem tempo para a resposta;

• Perguntas induzidas, que incluem a

possibilidade de resposta na própria pergunta.


O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
ANAMNESE

QUEIXA PRINCIPAL:
Como o paciente refere o problema

HISTÓRIA
Sintomas, há quanto tempo

HISTÓRIA FAMILIAR
Herança familiar como componente
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
ANAMNESE

MEDICAMENTOS QUE UTILIZA


E os possíveis efeitos adversos e interações

HÁBITOS
Que possam ter contribuído para o problema

CONCLUSÃO
Necessidade ou não do atendimento médico
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
O PACIENTE NECESSITA DE ATENDIMENTO MÉDICO:
„Se pertence a grupo de risco (gestantes, lactantes,
recém-nascidos, crianças, idosos);
„ Se o problema não puder ser conduzido com MIP;
„ Se estiver ocorrendo reação adversa a outro medicamento que
o paciente utiliza;
„ Se os sintomas associarem-se a outra doença.
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
O PACIENTE NÃO NECESSITA DE ATENDIMENTO MÉDICO:
„ Se possível o uso de medidas não farmacológicas,
ou
„ Se os sintomas puderem ser aliviados com um MIP.

O USUÁRIO DEVE SER ORIENTADO QUANTO à administração e


modo de ação dos medicamentos / duração do tratamento/
/ reações adversas, contraindicações e interações.
PROCESSO DA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA
Res. 586/2013 CFF - Art. 9º

† Redação em vernáculo, legível,


por extenso;
† Nomenclatura/sistema de pesos
e medidas oficiais;
†  Sem rasuras;
†  SUS: necessariamente de acordo
com a DCB, ou DCI;
† Âmbito privado:
preferencialmente de acordo com
a DCB, ou DCI;
†  Vedada a prescrição sem
identificação, ou em código.
CRF-SP, 2014
PROCESSO DA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA
CUIDADO AO ESCREVER:

EVITAR PREFERIR

I, II III, IV 1, 2, 3, 4

,125 mg 0,125 mg

5,0 mg 5 mg

U Escrever “unidade”

Colher de xxx x mL

1 medida OK, se a medida vier junto ao medicamento


PROCESSO DA PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA
CUIDADO AO ESCREVER:

EVITAR PREFERIR
Tomar conforme orientado Discriminar a orientação
Usar S/N Usar se houver febre/dor/cólica
VO Tomar por boca
Instilar Pingar
3 x dia 3 x dia ≠ 8 em 8 horas
Cefaleia Dor de cabeça
Mialgia Dor muscular
Administrar sobre a Aplicar no ferimento
escoriação
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
TRANSTORNOS MENORES
como
PROBLEMAS DE SAÚDE AUTOLIMITADOS
“Enfermidade aguda de baixa gravidade, de breve período de
latência, que desencadeia uma reação orgânica que tende a
cursar sem dano para o paciente e que pode ser tratada de
forma eficaz e segura com medicamentos e outros produtos
com finalidade terapêutica, cuja dispensação não exija
prescrição médica...”.
Resolução CFF 585/2013 - Glossário
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
RESUMINDO – TRANSTORNOS MENORES

Problema de saúde autolimitado, que tende a se

resolver naturalmente.

Apresenta sintomas há 7 dias ou menos, não está


relacionado a outra doença e não é causado por
medicamento.
CRF-SP, 2014
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO
FARMACÊUTICA
TRANSTORNOS MENORES – EXEMPLOS
Ÿ Relacionados à dor: dores de cabeça, dores musculares;
Ÿ Afecções femininas: dismenorreia, cistite;
Ÿ Transtornos menores digestivos;
Ÿ Oculares: olho seco, conjuntivite alérgica;
Ÿ Infantis: dermatite de fraldas, pediculose, verminose, aftas;
Ÿ Cutâneos: pé de atleta, acne, sarna
verrugas, dermatites.
DÚVIDAS FREQUENTES
1º) O farmacêutico RT na farmácia magistral
poderá exercer duplicidade de atividade, ou seja,
a responsabilidade técnica e atividades clínicas
na farmácia?

R – Sim, e tanto a atenção ao paciente como a manipulação são


atos privativos do farmacêutico (CRF-SP, 2014).
DÚVIDAS FREQUENTES
2º) A Farmácia Magistral pode manipular prescrições de
farmacêuticos que atendam em drogarias, farmácias
magistrais, ambulatórios, ou outros estabelecimentos
farmacêuticos?
R – Sim, e de acordo com a Res. 586/2013 art. 4º:
“O ato da prescrição farmacêutica poderá ocorrer em
diferentes estabelecimentos farmacêuticos (... ) desde que
respeitado o princípio da confidencialidade e a privacidade do
paciente no atendimento.”
DÚVIDAS FREQUENTES

3º ) Os medicamentos homeopáticos dinamizados


podem ser prescritos e manipulados?

R – Sim, as preparações homeopáticas isentas de


prescrição médica podem ser prescritas e
manipuladas na própria farmácia (CRF-SP, 2014).
DÚVIDAS FREQUENTES
4º) Por quanto tempo os registros deverão ser mantidos, na
farmácia (com ou sem manipulação)?
R - Arquivamento: o farmacêutico deverá manter registro
desse processo na forma da lei (Res. 586/2013, art. 7º
inciso VII).
Pode ser aplicada a Resolução 44/2009, art. 89:
“Toda documentação deve ser mantida no estabelecimento
por no mínimo 5 (cinco) anos.... “.
DÚVIDAS FREQUENTES
5º) Quanto ao trecho da Res. 585/2013 “Prover consulta
farmacêutica em consultório farmacêutico (...)”, este
consultório pode ser a sala de aplicação de injetáveis?
R – A consulta deve ocorrer em ambiente com privacidade.
O art.15 da Resolução 44/2009 (ANVISA) estabelece os requisitos
para o ambiente destinado aos Serviços Farmacêuticos - deve ser
diverso do destinado à dispensação e circulação de pessoas, e
possuir lavatório com água corrente, toalha descartável, sabonete
líquido, gel bactericida e lixeira com pedal e tampa.
DÚVIDAS FREQUENTES

6º) A consulta e a prescrição poderão ser cobradas?

R – Não há proibição na legislação para a cobrança

da consulta, que é um serviço prestado;

A prescrição, enquanto documento emitido na consulta,


não deve ser cobrada. (CRF-SP, 2014)
DÚVIDAS FREQUENTES
7º) O farmacêutico poderá prescrever medicamentos que
exijam prescrição médica, desde que essa prescrição esteja
condicionada a um diagnóstico prévio?
R – Sim, se a atividade estiver prevista em programas, protocolos,
diretrizes ou normas técnicas, em instituições de saúde, ou por
meio de acordos de colaboração com outros prescritores ou
instituições.
Nesse caso, é exigido o título de especialista na área (Res. 586/13 -
art. 6º §1º).
DÚVIDAS FREQUENTES
8º) Pode o farmacêutico sem especialização
prescrever medicamentos isentos de prescrição (MIPs)?

R – Sim: MIPs industrializados, magistrais (alopáticos e


dinamizados), plantas medicinais, drogas vegetais e outras
categorias que venham a ser aprovadas pelo órgão
sanitário federal para a prescrição farmacêutica.
A prescrição deve estar fundamentada em conhecimentos e
habilidades clínicas do profissional.
(Res. 586/2013 art. 5º)
ALGORITMOS - EXEMPLO

Para a condução de problemas


autolimitados
ALGORITMO PARA AVALIAÇÃO - DOR
Ÿ Menos de 2 anos;
Ÿ Grávida, ou amamentando;
Ÿ Adulto, tem dor há mais de 10 dias; ENCAMINHAR
SIM
Ÿ Criança, tem dor há mais de 5 dias. AO MÉDICO

NÃO
ENCAMINHAR
AO MÉDICO SE
Apresenta dor de garganta? SIM NÁUSEA,
FEBRE, VÔMITO
NÃO
X
X
(CONT.) x
DOR (cont.)
ŸAlergia ao AAS;
ŸAsma:
ŸGastrite, úlcera; INDICAR
SIM
Ÿ Problema hemorrágico; PARACETAMOL
Ÿ Uso de anticoagulante

NÃO
INDICAR
ŸSuspeita de dengue; PARACETAMOL
SIM
ŸProblema renal ou DIPIRONA
NÃO

Ÿ Criança ou adolescente; SIM NÃO INDICAR


Suspeita de infecção viral SALICILATOS
(CONT.)
DOR (conclusão)
PREFERIR
ŸIdoso SIM INDICAÇÃO DO
PARACETAMOL
NÃO

Ÿ Faz uso crônico de álcool ou ENCAMINHAR


SIM
medicamento hepatotóxico AO MÉDICO

NÃO

Recomendar analgésico MIP nas doses


e período de tempo adequados X
X
x
DISPENSAÇÃO ORIENTADA -
PRESCRIÇÃO

CASOS PRÁTICOS
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO
Caso 1 Carmen, 27 anos, operadora de telemarketing, pede “algo bom
para tosse”, que se manifesta há 3 dias. Ela acha ser consequência de
um resfriado, do qual só restou a tosse seca, sem outro sintoma.
Indagada pela farmacêutica, diz que toma levotiroxina para o
hipotireoidismo, e não sabe se tem alergia a algum medicamento
(Baseado na exposição da Prof.ª Dra. María José M. Calero. Grupo de Investigación
en Farmacoterapia y Atención Farmacéutica Universidad de Sevilla, España, 2012).
INDICAÇÃO DE MEDICAMENTO dextrometorfano xarope (Benalet TSC®),
antitussígeno central, 30 mg (10 mL) a cada 6-8 horas;
OU
Dropropizina xarope (Vibral®), antitussígeno periférico, 10 mL (30 mg), 3 a
4 x dia.
RECOMENDAÇÕES - Beber bastante água - Umidificar o ambiente - Utilizar demulcentes
(ex. mel, pastilhas ), que a ajudem no trabalho.
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO
Caso 2 Luisa busca medicação para diarreia de 2 dias de evolução.
Sintomas: 4-5 evacuações diárias, fezes líquidas com muco e um
pouco sanguinolentas; dor abdominal. Esse quadro é recorrente
há quase um ano, repetidas vezes. Luísa está estressada: tem
jornada de trabalho “puxada”, é mãe de 2 crianças
(Baseado na exposição da Prof.ª Dra. María José M. Calero. Grupo de Investigación
en Farmacoterapia y Atención Farmacéutica Universidad de Sevilla, España,
2012).
Atuação farmacêutica - Encaminhamento ao médico.
Diagnóstico médico: colite ulcerativa.
Tratamento - Prednisona 30 mg, 2 comp/24 h - Mesalazina 500 mg, 1 comp 8/8 h.
Atuação farmacêutica - Dispensação do tratamento, e orientação no seu
desenvolvimento.
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO
Caso 3 Paciente adulto recorre o farmacêutico para
aconselhar-se sobre uma diarreia com 2 dias de
evolução. Apresentou 5 evacuações líquidas sem
exsudatos ou sangue, e sem febre. Refere dor
abdominal leve (CRF-SP, 2014).

Conduta do farmacêutico:
Algoritmo para Diarreia
w Hidratação
w Aconselhamento para a alimentação
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO E PRESCRIÇÃO
Caso 4 Thiago, estagiário de informática, trabalhou várias horas na
mesma posição, e ficou com dor ao movimentar o pescoço.
Questionado, relata que não possui problemas de saúde, nem toma
medicamentos. Elabore uma prescrição farmacêutica para ele.
R – Thiago pode ter alívio com a associação analgésico + relaxante
muscular. Os relaxantes musculares de formulações MIP Ò orfenadrina
e carisoprodol.
Exemplos com orfenadrina:
„ Dipirona + orfenadrina + cafeína (cafeína para ampliar a ação
analgésica) Dorflex®, Relaflex®;
„ Paracetamol + orfenadrina + cafeína – Dorflex®P, Benoflex® P.
Exemplos com carisoprodol:
„ Paracetamol + carisoprodol + cafeína - Dorilax® (obs: formulações
com diclofenaco não são MIPs).
Caso 4 - Prescrição
Farmácia TRINDADE
Rua Trindade, 1822 – São Paulo – SP – tel. xxxx xxxx

Para: Thiago S. F. Oliveira - tel 9 xxxx xxxx


Dorflex comprimidos Tomar 1 compr. de 8 em 8 horas por 2 dias,
melhor após as refeições.

Obs: usar compressa ou bolsa térmica aquecida no pescoço


à noite, por 15 min
20/01/16

Igor Carlos S. Santos Neves


Igor Carlos S. Santos Neves
Farmacêutico - CRF-SP xxxxx  
CASOS PRÁTICOS – ORIENTAÇÃO E PRESCRIÇÃO
Caso 5 Alfredo, 25 anos, queixa-se de tosse produtiva há 4
dias. Indagado sobre o aspecto da secreção, diz que não há
sangue, nem coloração amarelo-esverdeada. Não tem febre
nem dor torácica. Diz também que não tem outros problemas
de saúde, nem faz uso de outros medicamentos.
Propor orientação medicamentosa e prescrição, e medidas não
medicamentosas (cuidados gerais) para Alfredo (baseado em
MARQUES, L. A. M. 2008).

R - Orientação medicamentosa do farmacêutico - mucolítico ou


expectorante (carbocisteína, acetilcisteína, ambroxol, guaifenesina);
Cuidados gerais: tomar bastante líquido (hidratação).
Caso 5 - Prescrição
FARMÁCIA ALIANÇA
Avenida Aliança 446 – São Paulo – SP Telefone xxxx xxxx

Para Alfredo A. L.
Tel - 9 xxxx xxxx
Carbocisteína xarope adulto (Mucolitic) 1 frasco 100 mL
Tomar 10 ml (usar o copo medida) 2 x dia por 5 dias

Obs: Ingerir bastante líquido para facilitar a expectoração.


Se houver piora dos sintomas ou febre, buscar avaliação médica.
12.01.16

Alberto S. M. Oliveira
Alberto S. Mendes Oliveira
Farmacêutico CRF–SP xx
xxx
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO
Caso 6 Igor, com tosse produtiva, recebeu indicação farmacêutica de
acetilcisteína granulado 600 mg à noite, por no máximo 10 dias. Após
5 dias de uso a secreção cessou. Igor interrompeu o uso, mas passou
a apresentar tosse seca e queimação no estômago.Questionado pelo
farmacêutico, relatou ser alérgico, com crises frequentes de rinite.
O que causou a queimação e a tosse seca? Qual deve ser a conduta
do farmacêutico? (Baseado em MARQUES, L. A. M. 2008).

R – Queimação g provavelmente pelo uso da acetilcisteína, que pode


causar gastralgia pela presença de enxofre na molécula (dores no
estômago) e alergia (tosse seca);
Conduta do farmacêutico: evitar que Igor retome o uso da
acetilcisteína;
Se a tosse seca não desaparecer, Igor deve ser encaminhado ao
médico.
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO
Caso 7 Rita, mais ou menos 35 anos, solicita um laxante, pois
“o intestino anda muito preso”. Diz que tomava bisacodil
(Dulcolax®) quase diariamente, mas “não faz mais efeito”.
Como orientá-la sobre o uso de laxantes?

R - O uso prolongado de laxantes que agem estimulando, ou


“irritando” a musculatura lisa do intestino pode causar danos
ao sistema nervoso intestinal, causando hábito e a “síndrome
do colo preguiçoso”, além de desequilíbrios relacionados à
água e sais do organismo.
Na constipação crônica Ò uso apenas no início do tratamento,
para auxiliar a mudança de hábito intestinal.
CASOS PRÁTICOS - ORIENTAÇÃO
Caso 7 – cont.
Fibras de origem vegetal, mucilagens (Benefiber®, Fiber
mais®, Metamucil®, Plantaben®), gomas, farelos Ò mais
indicados para uso prolongado. Agem lentamente
(reeducadores intestinais).
Orientações em relação aos laxantes à base de fibras
1º) Tomar bastante líquido, para evitar obstrução intestinal (o
conteúdo fecal necessita de líquido para se movimentar);
2º) Tomá-los longe de outros medicamentos, pois podem
diminuir o aproveitamento daqueles;
3º) Não são imediatos: são necessários vários dias para o
efeito.
CASOS PRÁTICOS

AO ORIENTAR OU PRESCREVER UM MIP, NÃO


ESQUECER QUE O USUÁRIO PODE JÁ UTILIZAR
OUTROS, PRESCRITOS E DE USO CONTÍNUO...
CASOS PRÁTICOS
Caso 8 Sr. Genaro,60 anos, está tomando diariamente 2
colherinhas de bicarbonato de sódio (NaHCO3) com um pouco de
água, para “melhorar a digestão e não sentir queimação”. Sobre
outros medicamentos, relata uso de maleato de enalapril
(Renitec®) 20 mg 1 x dia (manhã).
No acompanhamento da PA na farmácia, verificou-se discreto
aumento da mesma, de algumas semanas para cá. Sobre possíveis
doenças, ele diz que “há tempos não vai ao médico”.
a) O que pode estar alterando a PA do Sr. Genaro?
R – Antiácidos Ò podem reduzir a biodisponibilidade dos inibidores da ECA.
Esse costume deve ser desaconselhado - os sintomas gástricos devem ser
investigados.
Caso 8 (conclusão)

b) Se houver uso eventual de um antiácido, o bicarbonato é a melhor


escolha? Se não, quais as alternativas?
R - Bicarbonato de sódio e carbonato de cálcio Ò são absorvidos pelo
organismo (o carbonato de cálcio em menor quantidade): não devem
ser utilizados continuamente: podem alterar o pH do sangue.
Sais de Al e Mg não são absorvidos (não-absorvíveis) Ò mais adequados.
No entanto, todos (pelo efeito antiácido) podem prejudicar a
biodisponibilidade do IECA – se for usado o antiácido, afastá-lo por
algumas horas da administração do IECA.
A queimação deve ser investigada, e não apenas “mascarada” com o uso
de antiácidos.
CASOS PRÁTICOS
Caso 9 Cida, 57 anos, toma glimepirida (sulfoniluréia -
Amaryl®), 2 mg 1 x dia de manhã. Diz que está tomando
ibuprofeno 400 mg (Advil®) 2 x dia por conta própria, pois
tem “muitas dores pelo corpo, já há algum tempo”. Agora
está sentindo tontura, fraqueza, suores e “batedeira no
peito”. Como orientá-la?
R – AINEs (ex. ibuprofeno) podem causar hipoglicemia, pelo
deslocamento da sulfonilureia das proteínas plasmáticas
(aumentando sua fração livre - e ativa no sangue).
Conduta orientada pelo farmacêutico: interromper o uso do
ibuprofeno e buscar orientação médica: o tratamento de
dores crônicas difere do de dores agudas: Cida não vai obter
o alívio necessário, além de sofrer os efeitos adversos do
AINE.
CASOS PRÁTICOS
CASO 10 Sr. Américo, 64 anos, hipertenso, toma besilato de
anlodipino 10 mg (Pressat®) pela manhã e atenolol 50 mg à
tarde. Está utilizando antigripais com fenilefrina (como
Resprin® e Coristina D®) há 2 semanas, “todos os dias, por
causa do nariz tampado”, diz ele. Qual é o risco desse uso,
da forma como ele está fazendo? Oriente-o.
R – Fenilefrina, descongestionante Ò não deve ser administrada
continuamente (+ de 5 dias), seja como spray tópico, ou por
via oral: pode causar hábito, e rinite medicamentosa.
Até que o Sr. Américo possa passar por avaliação médica, é
recomendável usar apenas soro fisiológico.
Descongestionantes com vasoconstritor associado podem, se em uso
por muitos dias, prejudicar o efeito dos anti-hipertensivos, por
sua ação adrenérgica.
 
CASOS PRÁTICOS
Caso 11 D. Angelina, 65 anos, hipertensa (controlada com ramipril +
anlodipino: Naprix A® 10/5 mg pela manhã); utiliza clopidogrel
(Plavix®- antitrombótico) 75 mg 1 x dia.
Toma, pelo menos 3 x semana, naproxeno 500 mg 2 x dia, porque “sente
dores que ‘andam’ pelo corpo: nas costas, nádegas e pernas, e pioram
ao pressionar determinados pontos”.
Ela começou a sentir ardência no estômago, e para aliviar esse
sintoma, toma antiácidos do tipo sal de frutas, ou pastilhas de
Magnésia Bisurada® (carbonato de bismuto, magnésio e cálcio +
bicarbonato de sódio).
Por sinal, ela veio à farmácia para adquirir antiácidos e naproxeno.
A PA verificada na farmácia aumentou discretamente nas últimas
semanas.
Como se poderá orientar D. Angelina? Avalie as possíveis interações
entre os medicamentos que ela está utilizando.
CASOS PRÁTICOS
Caso 11 (cont.) – Baseando-se no Método Dáder:
Fármacos Necessidade Efetividade Segurança Conduta Farmac.
Ramipril + Sim - controle Sim, até Sim Não alterar seu uso
anlodipino 10/5 mg da PA introdução do
1 x dia naproxeno
Clopidogrel 75 mg -1 Sim: antitrom- Não pôde ser Não, se uso Não alterar seu uso
x dia bótico avaliada conjunto com
naproxeno
Naproxeno 500 mg 3 Questionável; Não – Não: risco de Desaconselhar o
x semana Dor crônica? automedicação hemorragias e uso; buscar
(automedicação) sem investigar a prejuízo do tratamento correto
causa da dor controle da PA p/a dor
Antiácidos Questionável; Não: uso após Não: pode Desaconselhar o
(automedicação) Acidez pode provável RAM prejudicar uso
ser devida a efeito do
RAM ramipril
CASOS PRÁTICOS
Caso 11 (conclusão)
Explicando as Interações:
w AINEs (ex. naproxeno) Ò muita cautela com clopidogrel ou outros
anti-agregantes plaquetários (possibilidade de hemorragias e lesão
gastrintestinal);
w AINEs Ò também prejudicam o controle da PA, pela inibição de
prostaglandinas vasodilatadoras;
w Antiácidos Ò podem prejudicar a ação do anti-hipertensivo IECA
(ramipril); podem mascarar uma possível agressão gastrintestinal.
Conduta: o farmacêutico deve desaconselhar o uso do AINE e orientar o
retorno ao médico para tratamento correto da dor. Esse tipo de dor
sugere fibromialgia, e dores crônicas têm tratamento específico. O
uso contínuo de AINEs pode piorá-las.
Ardência no estômago: causada pelo uso do AINE ; mas se persistir, é
necessário investigá-la, e não mascará-la c/antiácidos.
CASOS PRÁTICOS
Caso 12 Adelino, 55 anos, toma ticlopidina (Ticlid®, antitrombótico)
250 mg 2 x dia, sinvastatina 20 mg e enalapril 20 mg, ambos 1 x dia
pela manhã, “para não se esquecer”, diz ele.
Solicita naproxeno, porque “tem muitas dores nas juntas, e seu vizinho
disse que esse remédio é muito bom”.
Há risco de PRM? As medicações estão sendo usadas corretamente?
R – Há risco de PRM: ticlopidina em conjunto com o AINE pode aumentar
a possibilidade de hemorragia e agressão gastrintestinal;
AINE: pode prejudicar o controle da PA, por inibir a síntese de
prostaglandinas (inclusive as vasodilatadoras).
Horários: sinvastatina deve ser tomada à noite, quando há síntese do
colesterol pelo organismo. Os outros medicamentos estão corretos,
quanto ao horário.
Orientá-lo a buscar avaliação médica para as dores articulares.
Obs: a ticlopidina está na lista de Beers-Fick, de medicamentos inapropriados para idosos.
CASOS PRÁTICOS
Caso 13 Nélia, 28 anos, solicita um analgésico para dor de cabeça
eventual. Questionada sobre uso de outros medicamentos, diz que
toma o anticoncepcional Mercilon® (etinilestradiol + desogestrel).
Nélia não quer o paracetamol, pois já o utilizou e não obteve alívio.
Como orientá-la?
R - Dor de cabeça: pode ser devida ao contraceptivo, e se for
recorrente, deve ser aconselhado o retorno ao ginecologista para
possível alteração do método contraceptivo (ex. barreira).
Se o uso for ocasional, pode ser orientada a dipirona, ibuprofeno,
naproxeno e mesmo AAS.
Se houver aumento da PA, evitar as associações com isometepteno
(ex. Neosaldina®) pelo efeito adrenérgico deste.
Utilizar AINEs com cautela (possibilidade de aumento da PA, pela
inibição de prostaglandinas vasodilatadoras).
FONTES DE CONSULTA
BENETOLI, A. et al. Abreviaturas perigosas e descrições inadequadas de dose em prescrições de medicamentos. R.
Bras. Farm Hosp. Serv Saúde São Paulo, v. 2, n. 1, jan/abr 2011. Disponível em:
http://www.sbrafh.org.br/rbfhss/public/artigos/RBFHSS_02_art02.pdf
BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Painel internacional de avaliação da segurança da
dipirona. Brasília, 2001. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/divulga/informes/relatoriodipirona2.pdf.
u  BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução RDC 44 de 17 de agosto de 2009. Dispõe sobre
boas práticas farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, dispensação e comercialização de produtos e
da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 ago. 2009.
Disponível em http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/pdf/180809_rdc_44.pdf
u  BRASIL, Resolução nº 585 de 29 de agosto de 2013. Regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/585.pdf
u  BRASIL, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução 138 de 29 de maio de 2003. Categoria de
venda de medicamentos: medicamentos isentos de prescrição. Disponível em:
http://www.cff.org.br/userfiles/33%20%20BRASIL_%20MINIST%C3%89RIO%20DA%20SA%C3%9ADE
%202003%20RDC_138_2003_ANVISA.pdf
u  BRASIL, CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução 585 / 2013. Regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico.
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FONTES DE CONSULTA
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u  PIVELLO, V. L. Farmacologia: como agem os medicamentos. São Paulo: Atheneu; 2014.
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u  SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes SBD 2015. Disponível em:
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