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INTRODUCAO A ANTROPOLOGIA TEOLOGICA a 4 vf LO UAW ae. een LUIS F, LADARIA\ _ INTRODUCAO A ANTROPOLOGIA TEOLOGICA ‘Tradugao Roberto Leal Ferreira ws, Edigoes Leyola | | | ‘Titulo original: Introduzione alla antropologia teologica i © 1992 — Edizioni PIEMME Spa i 15033 Casale Monferrato (AL) — Via del Carmine, 5 SUMARIO Preparagio ! Silvana Cobueci Leite Revisio Renato da Rocha Carlos Diagramagéo Paula R. R. Cassan Nota preliminar... Bibliografia fundamental I. Twropucio Gera Edigdes Loyola Rua 1822 n# 347 — Ipiranga a (04216-000 Sto Paulo, SP Caixa Postal 42.335 04218-970 Sao Paulo, SP & (Ovrll) 6914-1922 Hom page» onda wwryoacom be Uh ee Di er Oe er as Editorial: loyola@los pi euedibeso (08, Casto Vendas: vendas@loy Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma efou quaisquer meio Concilio Vaticano If e a teologia atual ... ju 0 mundo livremente e para sua gl A Trindade ¢ a criaga IIL. © Howe macem pe Devs O tema da imagem na Bi Cristologia ¢ antropologia.. ISBN: 85-15-01784-2 24 edig&o: maio de 2002 Vv. © BDICOES LOYOLA, Sao Paulo, Brasil, 1998 Breese nutes] ustoricas Os problemas recentes... V. O nomen Prcapor. O PECADO ORIGINAL 85 87 | 88 92 O ensinamento bibl O desenvolvimento histérico da doutrina Os problemas at Os efeitos do pecado ori 101 VL. O nomen Na Geaca DE Cristo 103 ‘A vontade salvifica universal de Deu: 104 primado da graga na salvagéo do homem. A justificagao do pecador 108 ‘A graca como dom da filiagao 116 A graca como transformagao interior do homem. ‘A nova criacao .. 125 . A CONSUMAGAO ESCATOLOGICA, PLENITUDE DA OBRA De Divs & PLENITUDE D0 WOMEN 133 Os principios da escatologi Mise A parusia do Senhor e a ressurreigio final 136 A vida e a morte eterna . 342 ‘A questo do estado intermé 146 NOTA PRELIMINAR doterminar 0 “genero literério” de uma introdugao . Ela nao deve transformar-se num resumo da ma- téria, mas tampouco deve contentar-se em indicar onde 6 possivel estudar as questées com maior amplitude, sem nem mesmo formulé- licar © que, na opinido do autor, seria um princfpio de solugao. ‘ar ambos os extremos, oferecen- do em linhas gerais os contetidos fundamentais da “antropologia jgica” ©, ao mesmo tempo, dando certo espago 2 informagio relativa as diferentes opinides sobre os problemas mais importantes. A bibliografia, numa obra deste género, sem diivida deve ocu- par um lugar importante, mas se for indicada exaustivamente néo deixaré lugar para outras coisas. Optei por selecionar os titulos mais recentes, uma vez que as publicacGes mais antigas se encon- tram indicadas nas obras ger e mas outras que serdo indicadas nas notas. ‘Também omiti, em geral, as referéncias aos atuais comentérios das Escrituras ¢ aos verbetes dos léxicos e dicionérios que o leitor, iado no estudo da teologia, saveré encontrar sem dificuldade. o mas nao de tudo do que aqui se diz, em minha Antropologia teo- Iogica, publicada pela primeira vez em 1983. Esta nova reflexio sobre os mesmos temas, jé passados alguns anos, dew lugar nao a tor poder encontrar uma exposigao mais ampla de muito, 7 InTRODUGAG_A_ANTROPOLOGIA TEOLOGICA uma revisdo substancial, mas talvez a modificagdes de matiz ¢ @ énfases diferentes. Na medida em que elas forem bem sucedidas, cumpre agradecer aos autores das novas publicagées sobre o assun- to e ao estfmulo constante dos alunos da Pontificia Universidade Gregoriana. BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL, So eae ted neientmomsid citer fovea psene aqui as obras gerais recentes (de preferéncia, embora icas), sojam ou nio estritamente trata- dos sobre a mat nadas as varias partes de nosso estudo ou aqui citadas com maior freqiiéncia. Apresentamos outra biblio- grafia nas notas dos capitulos correspondentes. No inicio do tiltimo capitulo, relacionamos alguns tratados de escatologia publicados imos anos. Ao longo de todo 0 livro, as obras abaixo sio citadas de forma abreviada. ‘Atrsno, ., Cristologia e antropologia. Temi teologici attual, Assis, Cittadella, | 1973. rg), Temi di antropologia teologica, Roma, Teresianum, 1981 Il mondo come creezione, Assis, Cittadella, 1977. 1 vangolo della grazia, Assis, Cittadela, 1972, Basti, K., Kirchliche Dogmatik, /1, IW/2, Munique, EVZ, 2, ed, 1959, 1961. V. Bacmasan, H. U., Teodrammatica, 2. Le persone del dramma Dio. 3. Le pe.sone... Luomo in Crisio, 5. Luli Book, 1982, 1983, 1986. Bewzo, M., Hombre profano, hombre sagrado, Mat 4 Cotzatt, G., Antropologia teologica. L'uomo paradosso e mistero, Bolonha, Dehoniane, 1988. ‘ 2 9 INPRODUGAG_A_ANTROPOLOGIA THOLOGICA Fuck, M.; Atszsciy, Z., Fondamenti di una antropologia teologica, Floren- 1970. izio della salvezza, Florenga, Fiorentina, 1961. , Hl vangelo della grazia. Un trattato dogmatico, Florenga, 1964, Il peccato ot Queriniana, 1972. —— I primordi della salvezza, Casale Mor , Marietti, 1979. Gaxocay, A., Dottrina della creazione, 1985. ——, Dalla sua pienezza noi tutti abbiamo ricevuto. Lineamenti fondamentali della dottrina della grazia, Broscia, Quoriniana, 1991 L, Proyecto de hermano. teolégica del he nbre, Gozzeus0, G., Vocazione e destino teologica fondamentale, Turim, Lanania, L. F,, Antropologia teologica, Ca PUG, 1986, ‘Motmaave, J, Dio nella creazione. Dottrina ecologica della creazione, Brescia, Queriniana, 1986. Pannexnens, W., Antropologia in prospettiva teologica, Brescia, Queriniana, 1987. smo in Cristo. Antropol ICI, 1986. le Monferrato-Roma, Piemme- Pescn, O. H., Liberi per grazia. Antropologia teo! 1986. gica, Queriniana, Brescia, Raunes, K., Corso fondamentale sulla fede. Introduzione al concetto di cristianesimo, Roma, Paoline, 1977. Rur ve La Peta, J. L., Teologia della creazione, Roma, Borla, 1988. Imagen de Dios. Antropologia teolégica fundamental, Santander, Sal Terrae, 1988. Sasa, L, Luomo via fondamentale della Chiesa. Trattato di antropologia teologica, Roma, Dehoniane, 1989. Scurrrczvk, L., Einflihrung in die Schopfungslehre, Darmstadt, Wiss. 10 I INTRODUCAO GERAL 1. A “ANTROPOLOGIA TEOLOGICA”. DELIMITAGAO DO CONCEITO ode-se falar do homem, e de fato dele se fala, sob muitos pontos de vista: filosélico, psicolégico, médico, sociolégico... O termo jornou-se em muitos casos um termo equivoco. E Javra nos remete ao homem, nos mostra que ele de nosso estudo. Mas isso ndo basta; precisamos te, o ponto de vista fa partir do qual procuramos abordé-lo. O adjetivo “teolégica” diz~ -nos qual 6 esse ponto de vista: trata-se do que o homem em sua relagéo com o Deus Uno e Trino revelado em Cristo. Ao mesmo nos, pelo menos em linhas gerais, 0 método que estudo da revelagao ina ou, melhor ainda, naquela parte ou setor da ‘que nos ensina o que somos a luz de Jesus Cristo naquela dit teologia dogm. revelador de Deus. Jesus Cristo 6, com efeito, 0 revelador do Pai. Quando, na teo- logia crista, se fala de revelacdo, 6 Deus que se dé a conhecer. Em outros volumes desta colecao, essa questao, que podemos funda- ‘mentalmente pressupor conhecida, é abordada de modo mais dire- rt InTRODUGAO_A ANTROPOLOGIA TEOLOGICA to. Devemos responder a uma outra pergunta: se é Deus quem se rovola em seu Filho Jesus, que sentido tem falar do que a revelagao crista nos diz sobre o homem? E evidente que ele é o destinatério da revelagdo. Como pode entdo ser seu objeto? Num texto de capital importancia, ao qual voltaremos com freqiiéncia ao longo de nossa exposigdo, 0 Concflio Vaticano I disse que Cristo, ao revelar 0 mistério do Pai e de seu amor, desvela também plenamente 0 ho- mem ao homem e Ihe faz conhecer sua altissima vocagao (cf. GS 22). Enquanto destinatério da revelagdo, o homem 6 objeto dessa revelacdo. Enquanto destinatério do amor do Pai, chega a conhecer até as tiltimas conseqiiéncias quem é ele mesmo. A verdade reve- lada 6 verdade de salvagio. ff justamente essa verdade que nos diz quem 6 0 homem, fazendo-nos conhecer ao que ele 6 chamado; precisamos pressupor uma coeréncia fundamental entre nosso ser ¢ nosso destino se nao queremos que este wiltimo aparega como algo meramente exterior a nés mesmos, que nao nos realiza interiormen- te. Enquanto destinatério da revelagio salvifica, 0 homem 6 tam- bém, conseqiientemente, de um modo derivado, objeto dessa reve- ago. Deste ponte de vista, a denominacao “antropologia teolégica se justifica. Também por isso se explica a pretensdo que o cristia- nismo tem de oferecer uma visio original do homem, conhecida na f6 e por isso objeto do estudo teoldgico. Essa visdo deriva do que a f@ nos diz sobre Deus e sobre seu Filho Jesus Cristo, que se fez homem por nés. A prépria revelagao crista, que nos fala de Jesus Cristo como 0 Filho de Deus encarnado e de nosso encontro com Ele na fé, pres- supée um conhecimento e uma experiéncia do que significa ser homem como sujeito livre e responsavel por si mesmo. Do contré- rio néo poderemos ter acesso a Jesus, nem ao mistério de sua encaragio. Por isso, a revelagao crista nao pretende de modo al- gum ser a tinica fonte de conhecimentos sobre 0 homem. Antes, ela pressupde expressamente o contrério. Sem perder nada da especificidade teolégica, a reflexao crista sobre o homem deve enriquecer-se com os dedos @ as intuigdes provenientes da filosofia e das ciéncias humanas. Todos esses conteiidos, porém, devem ser considerados sob uma luz nova e mais profunda: a luz da relacao do homem com Deus. Fsta 6 @ dimensdo siltima e mais profunda do scr humano, a tinica que nos dé a medida exata do que somos: © objeto privilegiado do amor de Deus, # tinica criatura da terra que Deus quis por si mesma (Vaticano Il, GS 24), e que, no mais profundo de sou ser, foi chamada & comunhao de vida com o pré- prio Deus Uno e Trino. a2 IxrRODUGAO CHIL Essa relagiio com Deus, sempre mediada por Cristo, que a reve- lacéo nos faz conhecer apresenta-se a nds de forma articulada, nfo simplesmente de um modo global em que nao se dé a possibilidade de distinguir aspectos e pontos de vista. Pelo contrério, para ter uma visio completa do homem do ponto do vista da {6 crista, & preciso distinguir entre os aspectos fundamentais de nossa referén- cia a Deus. Creio que as dimensdes fundamentais a ser levadas em conta sio trés: 1. A dimensio mais propria e espectfica da antropologia teol6- gica 6 a que se refere a relagio de amor ¢ de paternidade que Deus quer estabelecer com todos os homens em Jesus Cristo, seu Filho. Voltando ao texto do Vaticano II (GS 22) a que nos referimos no inicio destas reflexdes, Jesus manifesta o homem ao homem na revelacio do mistério do Pai e de seu amor. “Pela graca”, por um favor divino, o homem foi chamado & filiago divina, a participar, no Espfrito Santo, dessa relagio que 6 propria somente de Jesus. Bsta 6 a vocagio definitiva e ultima do homem e de cada homem, a vocagao divina (GS 22, 5). Somos amados por Deus em sou Filho e somos chamados a participar plenamente de sua vida no fim dos tempos. 2, Esse chamado e essa “graca”, porém, pressupdem nossa existéncia como criaturas livres. Ndo temos em nés a tiltima razio de ser da nossa existéncia. Existimos porque esse dom nos foi dado, pola bondade de Deus, que livremente quer dar-nos o ser. £ claro que Deus nos criou para poder chamar-nos @ graca da comunhio com Ele. Mas isso néo significa que nosso ser de cria- turas ndo tenha consisténcia propria, sempre em total referéncia a Deus, do qual recebernos tudo, Pelo contrério, essa consisténcia 6 necesséria para que esse chamado, dirigido ¢ nés mesmos, possa realizar-se. Por outro lado, a condigao de criatura do homem nao foi conhecida pela primeira vez com Cristo, mas jé era suficien- temente clara no Antigo Testamento, conhecem-na também outras roligioes que se inspiram pelo menos em parte neste ultimo (0 Isla), e inicialmente poderia ser até conhecida filosoficamente. Por que, entéo, tal dimenso de criatura deve ser estudada pela teologia crista? Nao poderia sor consideiada um dado prévio, j4 sabido? Nao podemos contentar-nos com isso, porque a perspe tiva a partir da qual, na teologia, se deve estudar a criago e, por conseguinte, a condigio de criatura do homem 6 nova, 6 assina- lada por Cristo desdé o primeiro momento. Nao existe outro, ho- 13 INTRODUGAO_A_ANTROPOLOGIA TEOLOGICA mem sendo aquele que, desde 0 primeiro momento, foi criado & imagem ¢ semelhanga de Deus; e tudo foi criado por meio de Cristo e caminha para Ele. A condigao de criatura do homem 6 um determinant fundamental ¢ total de seu ser e deve ser teologica~ mente considerado em sua prépria consisténcia, enquanto de fato orientado para a comunhio pessoal com Deus de que 6, a0 mesmo tempo, o pressuposto necessério. 3. Em terceiro lugar, o homem criado por Deus e chamado comunhéo com Ele encontra-se sempre (mesmo que em medidas diferentes, de acordo com as circunstancias) sob o signo do pecado, da infidelidade a Deus, sua propria e dos outros. O amor de Dous {que nos criou e quer fazer de nés os seus filhos ndo encontrou no homem uma resposta adequada de acolhida, mas, desde o inicio, encontrou nao s6 a indiferenca, mas até a rejeigio. A antropologia teolégica deve considerar 0 homem em seu ser pecador, deve ocu- parse sobretudo do que a tradigao teolégica chama de “pecado original”. ‘Contemplar 0 homem em sua relagao com Deus, partindo de qualquer um desses trés pontos de vista, nio significa consideré-lo jsolado da humanidade o da relagao com os outros. Por sua propria condigao de criatura, o homem ¢ chamado a viver em sociedad. O pecado original é uma elogiiente demonstragdo, mesmo que em sentido nogativo, da solidariedade humana. Enfim, a graga e o favor de Deus so vividos ¢ experimentados sobretudo na Igreja ‘Além disso, precisamos ressaltar que essas trés dimensdes que definem nossa relagio com Deus nao podem ser pastas no mesmo plano. Nao seria de todo correto apenas enumeré-las, sem fornecor algume explicagao. As duas primeiras sio de ordem positiva, refe rem-se & constituigdo do homem, ao plano de Deus para ele. A tercoira dimensdo é acrescentada historicamente e, além disso, ¢ de ‘ordem negativa, algo que nao deveria existir, que 6 destrutivo do ser do homem. ‘Trata-se, porém, de uma dimensdo real, que pertence existencialmente & nossa condi¢ao humana e, portanto, no pode ser deixada de lado. Nao terfamos uma visio completa de nossa relacfio com Deus se nao a levéssemos em conta. Pelo contréi nossa propria consideragao do homem como “agraciado” por Deus ¢ objeto de seu amor seria insuficiente som ela, porque, segundo Novo Testamento, um aspecto essencial do amor de Deus manifes- tado em Cristo 6 justamente 0 perdao misericordioso, a acolhida do pocador, sua “justificagao’ 4 TeTRODUGAO_GEEAL Nao 6 necessério insistir no fato de que essas trés dimensdos ‘ou aspoctos fundamentais de nossa relag3o com Deus nio se refe- rem a trés homens, mas a um s6. Seré mais util observar que tampouco nos encontramos diante de trés etapas sucessivas, que podem ser delimitadas cronologicamente, destinadas simplesmen- te a ser superadas uma apés a outra no caminho da vida pessoal ‘ou da histéria da salvagao. £ evidente, pelo menos, que nossa condigio de criaturas 6 um dado permanente; deixar de ser criatu- ra significa voltar ao nada. Sao mais complexas as relagdes entre fa graga e o pecado. Aqui devemos assinalar desde 0 inicio um ponto fixo de mudanga, tanto na “historia salutis” como na vida de cada homem. Com sua morte @ ressurreigéo, Cristo venceu 0 peca- do ¢ morte, e nossa insergéo nEle mediante o batismo 6 um acontecimento decisivo na histéria pessoal de cada cristio. Nao po- demos dizer, porém, que, até a vinda de Cristo ao mundo, ndo hou- vesse graga, hem que a vontade selvifica universal de Deus nao abarcasse os que viveram até entao, como tampouco podemos di- zor que 0 pecado e suas conseqiiéncias tenham sido eliminados totalmente depois da Péscoa, ou que desaparegam completamente no homem depois de seu batismo. A experiéncia cotidiana mostra-

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