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Agostinho de Hipona

Vida e obra
Agostinho de Hipona 354 d.c - 430 d.c
Conhecido universalmente como Santo Agostinho, foi um dos mais
importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo cujas
obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e
filosofia ocidental.

Ele era o bispo de Hipona, uma cidade na província romana da África.


Escrevendo na era patrística, ele é amplamente considerado como sendo
o mais importante dos Padres da Igreja no ocidente. Suas obras-primas
são "A Cidade de Deus" e "Confissões", ambas ainda muito estudadas
atualmente.
Agostinho está do nosso lado
Os grandes representantes da Reforma do século XVI, Martinho Lutero,
João Calvino, Martin Bucer, Philip Melanchton e tantos outros,
encontraram na vigorosa teologia agostiniana fundamento tanto para o
rompimento com o status quo da igreja romana como para afirmar a
unidade do pensamento genuinamente cristão que remonta aos ensinos
dos Pais da Igreja e dos Apóstolos.

Para ilustrar, vejamos como o pensamento de Agostinho foi de grande


importância para alguns dos reformadores mais destacados:
Martinho Lutero
- Era monge agostiniano

- Lutero disse: “No começo de minha carreira, como professor de teologia, eu


não simplesmente lia Agostinho, mas devorava suas obras com voracidade”
João Calvino
Com João Calvino não foi diferente. A influência da teologia agostiniana também
é bem evidente em toda sua carreira teológica. Ele mesmo disse que “ficaria feliz
em confessar toda sua fé pelas palavras de Agostinho”

O historiador Justo Gonzalez lembra que na principal obra de Calvino, as


Institutas, “se manifesta um conhecimento profundo, não só das Escrituras, mas
também de antigos escritores cristãos, particularmente Agostinho”

Na última edição das Institutas, de 1559, encontram-se mais de 400 citações de


textos de Agostinho
Embates Teológicos e Filosóficos

Pré - Conversão
Maniqueísmo
Dualismo religioso sincretista que se originou na Pérsia e foi amplamente
difundido no Império Romano (século III d.C. e IV d.C.), cuja doutrina consistia
basicamente em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o reino da luz
(o Bem) e o das sombras (o Mal), em localizar a matéria e a carne no reino das
sombras, e em afirmar que ao homem se impunha o dever de ajudar à vitória do
Bem por meio de práticas ascéticas, especialmente evitando a procriação e os
alimentos de origem animal.
Plotino e o Neoplatonismo
O Neoplatonismo foi uma corrente de pensamento iniciada no século III que se
baseava nos ensinamentos de Platão e dos platônicos, mas interpretando-os de
formas bastante diversificadas.

O neoplatonismo começou com o filósofo Plotino, apesar de ele afirmar que


recebeu seus ensinamentos de Amônio Sacas, um estivador iletrado em
Alexandria.
continuação...
Neoplatonismo é uma forma de monismo idealista. Plotino ensinou a existência
de um Uno indescritível do qual emanou como uma sequência de seres menores.
Os neoplatônicos não acreditavam no mal e negavam que este pudesse ter uma
real existência no mundo. Isto era mais uma visão otimista do que dizer que
tudo era, em última estância, bom. Era dizer apenas que algumas coisas eram
menos perfeitas que outras.
continuação.
O que outros chamavam de mal, os neoplatônicos chamavam de imperfeição, de
"ausência de bem". Neoplatônicos acreditavam que a perfeição humana e a
felicidade poderiam ser obtidas neste mundo e que alguém não precisaria
esperar uma pós-vida (como na doutrina cristã). Perfeição e felicidade (uma só e
mesma coisa) poderiam ser adquiridas pela devoção à contemplação filosófica.
Embates Teológicos e Filosóficos

Pós - Conversão
Pelágio e o Pelagianismo
Pelágio era um monge que viveu no fim do século 4 e início do século 5 D.C.

Ele ensinava que os seres humanos nasciam inocentes, sem a mancha do


pecado original e pecado herdado.

Também acreditava que Deus criava diretamente toda alma humana e, portanto,
toda alma era livre do pecado.

Pelágio acreditava que o pecado de Adão não tinha afetado as gerações futuras
da humanidade. Essa interpretação ficou conhecida como Pelagianismo.
Pelagianismo - continuação
O Pelagianismo contradiz muitas Escrituras e princípios bíblicos. Primeiro, a
Bíblia nos ensina que somos pecadores no momento da concepção (Salmo 51:5).
Além disso, a Bíblia ensina que todos os seres humanos morrem como resultado
do pecado (Ezequiel 18:20; Romanos 6:23). Embora o Pelagianismo diga que os
seres humanos não nascem com uma inclinação natural ao pecado, a Bíblia diz o
contrário (Romanos 3:10-18). Romanos 5:12 claramente afirma que o pecado de
Adão é a razão pela qual o pecado afeta o resto da humanidade. Qualquer
pessoa que tenha tido filhos pode atestar ao fato de que bebês precisam ser
ensinados a se comportarem; eles não precisam ser ensinados a pecar. O
Pelagianismo, no entanto, é claramente anti-bíblico e deve ser rejeitado.
As Confissões
Trata-se de sua autobiografia, escrita em treze livros no curso de três anos, entre
os anos de 397 e 400.

Nela Agostinho empreende uma profunda investigação da própria alma, da sua fé


e de sua sincera busca por Deus. Ele abre seu coração e, numa conversa dirigida
a Deus, confessa seus pecados, dramas, angústias d’alma, frustrações e também
sua luta pela verdade e sua luta com o próprio Deus.
Livro Primeiro - Cap. I, Louvor e Invocação
És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu
poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de
tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de
sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que
resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação,
deseja louvar-te.

Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti,
e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.
cont.
Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e
louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas
alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando,
facilmente estará em perigo de invocar outrem.

Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser


conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como
haverão de crer que alguém lhos pregue?
cont.
Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o
buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo.

Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois


me pregaram teu nome. invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que
me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu
pregador.
Conversão - Livro 8, cap. XII
Mas logo que esta profunda reflexão tirou da profundeza de minha alma, e expôs
toda minha miséria à vista de meu coração, caiu sobre mim enorme tormenta,
trazendo copiosa torrente de lágrimas.

E para dar-lhe toda vazão com seus gemidos, afastei-me de Alípio; a solidão
parecia-me mais adequada e me afastei o mais longe possível, para que sua
presença não me fosse embaraçosa. Tal era o estado em que encontrava, e
Alípio percebeu-o, pois lhe disse alguma coisa com um timbre de voz embargado
de lágrimas que me denunciou
Alípio, atônito, continuou no lugar em que estávamos sentados; mas eu, não sei
como, me retirei para a sombra de uma figueira, e dei vazão às lágrimas; e dois
rios brotaram de meus olhos, sacrifício agradável a teu coração. E embora não
com estes termos, mas com o mesmo sentido, muitas coisas te disse como esta:
E tu, Senhor, até quando? Até quando, Senhor, hás de estar irritado! Esquece-te
de minhas iniqüidades passadas! Sentia-me ainda preso a elas, e gemia, e
lamentava: “Até quando? Até quando direi amanhã, amanhã? Por que não agora?
Por que não pôr fim agora às minhas torpezas?”
Assim falava, e chorava oprimido pela mais amarga dor do meu coração. Mas eis
que, de repente, ouço da casa vizinha uma voz, de menino ou menina, não sei,
que cantava e repetia muitas vezes: “Toma e lê, toma e lê”. E logo, mudando de
semblante, comecei a buscar, com toda a atenção em minhas lembranças se
porventura esta cantiga fazia parte de um jogo que as crianças costumassem
cantarolar; mas não me lembrava de tê-la ouvido antes. Reprimindo o ímpeto das
lágrimas, levantei-me. Uma só interpretação me ocorreu: a vontade divina
mandava-me abrir o livro e ler o primeiro capitulo que encontrasse.
Tinha ouvido dizer que Antão, assistindo por acaso a uma leitura do Evangelho,
tomara para si esta advertência: “Vai, vende tudo o que tens, dá-lo aos pobres, e
terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” – e que esse oráculo decidira
imediatamente sua conversão. Depressa voltei para o lugar onde Alípio estava
sentado, e onde eu deixara o livro do Apóstolo ao me levantar. Peguei-o, abri-o, e
li em silêncio o primeiro capítulo que me caiu sob os olhos: “Não caminheis em
glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e em leviandades,
não em contendas e rixas; mas revesti-vos de nosso Senhor Jesus Cristo, e não
cuideis de satisfazer os desejos da carne”.
Não quis ler mais, nem era necessário. Quando cheguei ao fim da frase, uma
espécie de luz de certeza se insinuou em meu coração, dissipando todas as
trevas de dúvida. Então, marcando com o dedo, ou não sei com que, fechei o
livro, e com o rosto já tranqüilo, revelei a Alípio o que se passara. Ele, por sua
vez, me revelou o que acontecera com ele, e que eu ignorava. Pediu para ver o
que eu tinha lido; mostrei-lhe, ele prosseguiu a leitura. Eu ignorava o texto
seguinte, que era este: “Recebei ao fraco na fé”, palavras que aplicou a si
mesmo, e mo revelou. Fortificado por essa advertência, firmou-se nessa
resolução e santo propósito, bem de acordo com seus costumes, nos quais já há
muito tempo tomara grande vantagem sobre mim
Fomos depois à procura de minha mãe, que ao saber do sucedido, ficou radiante.
Contamo-lhe como o caso se passara; ela exultou, triunfante e bendizendo a ti,
que és poderoso para dar-nos mais do que pedimos ou entendemos, porque via
que lhe havias concedido, a meu respeito, muito mais do que constantemente te
pedia com tristes gemidos e lágrimas...
De tal forma me converteste a ti, que já não procurava esposa, nem abrigava
esperança alguma deste mundo, mas estava já naquela “regra de fé” em que há
tantos anos me havias mostrado à minha mãe. E assim converteste seu pranto
em alegria, muito mais fecunda do que havia desejado, e muito mais preciosa e
pura do que a que podia esperar dos netos nascidos de minha carne.
Por que ler Agostinho?
Em nossa breve tradição protestante no Brasil, a reação ao catolicismo
romano tem, não raras vezes, rejeitado muito dos símbolos, tradição,
produção teológica, proponentes da fé que são, normalmente, associados
à Roma.

Assim, não é incomum alguma desconfiança do leitor mais desavisado,


porém sincero e zeloso, quando se fala no proveito que temos pela leitura
e aprendizado com aqueles que estejam ligados à tradição romana...
Por que ler Agostinho? (continuação)
Mas essa reação muitas vezes é exagerada e mais emocional do que
justa. Muito do que é rejeitado é herança da cristandade, da fé cristã na
história e de imenso proveito para os cristãos hoje.

Faríamos bem em, ao contrário dessa tendência, resgatar e valorizar


esse rico legado.

Em Agostinho, particularmente, há muito que aprender – como fizeram


também nossos pais reformadores e toda tradição cristã nesses últimos
dezessete séculos.
E pra terminar...

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