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br – Informativo de Jurisprudência Nº 56 – Janeiro/2014

Informativo de Jurisprudência
Dr. George Felício, advogado
do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

Supremo Tribunal Federal


Selecionado a partir dos informativos 726 a 732 do STF público, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas,
que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e
barreiras à acessibilidade, serão aplicadas, entre outros, a: a)
ADMINISTRATIVO Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações
internas e externas, inclusive escolas, residências,
01. Entes públicos e acessibilidade: É dever do Estado- instalações médicas e local de trabalho”]. Sublinhou-se que,
membro remover toda e qualquer barreira física, bem ao remeter à lei a disciplina da matéria, a Constituição não
como proceder a reformas e adaptações necessárias, de obstaculizou a atuação do Poder Judiciário, em especial
modo a permitir o acesso de pessoas com restrição quando em debate a dignidade da pessoa humana e a busca
locomotora à escola pública. Com base nessa orientação, de uma sociedade justa e solidária (CF, artigos 1º, III, e 3º, I).
a 1ª Turma deu provimento a recurso extraordinário em que Reputou-se que as normas definidoras dos direitos e
discutido: a) se o ato de se determinar à Administração garantias fundamentais teriam aplicação imediata, sem que
Pública a realização de obras significaria olvidar o princípio fossem excluídos outros direitos decorrentes do regime e dos
da separação dos Poderes, porquanto se trataria de ato princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais de
discricionário; b) se necessário o exame de disponibilidade que a República Federativa do Brasil fosse parte (CF, art. 5º,
orçamentária do ente estatal. Consignou-se que a §§ 1º e 2º). Assinalou-se que o acesso ao Judiciário para
Constituição (artigos 227, § 2º, e 244), a Convenção reclamar contra lesão ou ameaça de lesão a direito seria
Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, cláusula pétrea. Observou-se que a acessibilidade, quando
a Lei 7.853/1989; e as Leis paulistas 5.500/1986 e se tratasse de escola pública, seria primordial ao
9.086/1995 asseguram o direito das pessoas pleno desenvolvimento da pessoa (CF, art. 205).
com deficiência ao acesso a prédios públicos. Lembrou-se que o art. 206, I, da CF
Frisou-se o dever de a Administração adotar Estudando para a AGU? asseguraria, ainda, a “igualdade de
providências que viabilizassem essa Não deixe de conhecer o condições para o acesso e permanência na
acessibilidade. Pontuou-se presente o escola”. Registrou-se que barreiras
Curso Preparatório para arquitetônicas que impedissem a
controle jurisdicional de políticas públicas.
Asseverou-se a existência de todos os as carreiras da locomoção de pessoas acarretariam
requisitos a viabilizar a incursão judicial Advocacia-Geral da União inobservância à regra constitucional, a
nesse campo, a saber: a natureza colocar cidadãos em desvantagem no
constitucional da política pública
(AGU) tocante à coletividade. Concluiu-se que a
reclamada; a existência de correlação Totalmente online e com imposição quanto à acessibilidade aos
entre ela e os direitos fundamentais; a todos os pontos do edital! prédios públicos seria reforçada pelo direito
prova de que haveria omissão ou prestação à cidadania, ao qual teriam jus as pessoas
deficiente pela Administração Pública, www.ebeji.com.br com deficiência (RE 440028/SP / i-726).
inexistindo justificativa razoável para esse
comportamento. Destacou-se a promulgação, por 02. AG. REG. NO ARE N. 661.760-PB / RELATOR:
meio do Decreto 6.949/2009, da Convenção MIN. DIAS TOFFOLI / EMENTA: Agravo regimental no
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Concurso
e seu Protocolo Facultativo, incorporado ao cenário normativo público. Candidata aprovada, inicialmente, fora das vagas do
brasileiro segundo o procedimento previsto no § 3º do art. 5º edital. Desistência dos candidatos mais bem classificados.
da Constituição. Ressalvou-se o disposto no artigo 9º do Direito a ser nomeada para ocupar a única vaga prevista no
mencionado decreto [“1. A fim de possibilitar às pessoas com edital de convocação. Precedentes. 1. O Tribunal de origem
deficiência viver de forma independente e participar assentou que, com a desistência dos dois candidatos
plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes mais bem classificados para o preenchimento da única
tomarão as medidas apropriadas para assegurar às pessoas vaga prevista no instrumento convocatório, a ora
com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades agravada, classificada inicialmente em 3º lugar, tornava-
com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à se a primeira, na ordem classificatória, tendo, assim,
informação e comunicação, inclusive aos sistemas e assegurado o seu direito de ser convocada para assumir
tecnologias da informação e comunicação, bem como a a referida vaga. 2. Não se tratando de surgimento de vaga,
outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso seja por lei nova ou vacância, mas de vaga já prevista no

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edital do certame, aplica-se ao caso o que decidido pelo E DAS MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITOS.
Plenário da Corte, o qual, ao apreciar o mérito do RE nº MAGISTÉRIO DA DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA.
598.099/MS-RG, Relator o Ministro Gilmar Mendes, concluiu PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DA PRETENSÃO CAUTELAR E
que o candidato aprovado em concurso público dentro do CONFIGURAÇÃO DO “PERICULUM IN MORA”. MEDIDA
número de vagas previstas no edital tem direito subjetivo à LIMINAR DEFERIDA (i-732).
nomeação. 3. Agravo regimental não provido (i-726).

03. Licença médica e dispensa: Não é possível a dispensa CIVIL E PROCESSO CIVIL
— com o consequente rompimento do vínculo trabalhista
— de servidor ocupante apenas de cargo em comissão, 01. Vara especializada e competência: É constitucional lei
em licença médica para tratamento de doença. Com base estadual que confere poderes ao Conselho da
nessa orientação, a 1ª Turma, negou provimento a agravo Magistratura para atribuir aos juizados da infância e
regimental (AI 759882 AgR/MG / i-732). juventude competência para processar e julgar crimes de
natureza sexual praticados contra criança e adolescente,
04. Processo administrativo: contraditório e ampla defesa: nos exatos limites da atribuição que a Constituição
Por ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa, Federal confere aos tribunais. Com base nesse
a 2ª Turma deu provimento a recurso ordinário em mandado entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus em que se
de segurança para declarar nulo ato administrativo e seus discutia a incompetência absoluta de vara especializada para
consectários, a fim de garantir à impetrante manifestação processar e julgar o paciente pela suposta prática de delito de
prévia em processo administrativo destinado a verificar a atentado violento ao pudor contra menor (CP, artigos 214 e
regularidade da concessão de benefício fiscal. Asseverou-se 224). Reputou-se que não haveria violação aos princípios
que a prerrogativa de a Administração Pública controlar constitucionais da legalidade, do juiz natural e do devido
seus próprios atos não dispensaria a observância dos processo legal, visto que a leitura interpretativa do art. 96, I,
postulados supramencionados em âmbito administrativo. a, da CF admitiria a alteração da competência dos órgãos do
Ademais, ressaltou-se que a manifestação em recurso Poder Judiciário por deliberação dos tribunais. Consignou-se
administrativo não supriria a ausência de intimação da que a especialização de varas consistiria em alteração de
recorrente. Pontuou-se que caberia à Administração dar competência territorial em razão da matéria, e não em
oportunidade ao interessado em momento próprio e que alteração de competência material, regida pelo art. 22 da CF
a impugnação, mediante recurso, de ato que anulara (HC 113018/RS / i-726).
benefício anteriormente concedido, mesmo diante de
exame exaustivo das razões de defesa apresentadas, não 02. Complementação de precatório e citação da Fazenda
satisfaria o direito de defesa da impetrante (RMS Pública: O pagamento de complementação de débitos da
31661/DF / i-732). Fazenda Pública Federal, Estadual ou Municipal,
decorrentes de decisões judiciais e objeto de novo
05. TCU – Desconsideração da Personalidade Jurídica – precatório não dá ensejo à nova citação da Fazenda
Poderes Implícitos – Princípio da Legalidade (Transcrições) / MS Pública. Com base nessa orientação, a 1ª Turma, em
32.494-MC/DF* / RELATOR: Ministro Celso de Mello / conclusão de julgamento e por maioria, reformou decisão do
EMENTA: PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E Ministro Ricardo Lewandowski, que, ao conhecer de recurso
DESCONSIDERAÇÃO EXPANSIVA DA PERSONALIDADE extraordinário, determinara a expedição de novo precatório
JURÍDICA. “DISREGARD DOCTRINE” E RESERVA DE derivado do reconhecimento, pelo tribunal de origem, de
JURISDIÇÃO: EXAME DA POSSIBILIDADE DE A saldo remanescente de parcelas de acordo, com a
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, MEDIANTE ATO PRÓPRIO, conseguinte citação da Fazenda Pública — v. Informativo
AGINDO “PRO DOMO SUA”, DESCONSIDERAR A 623. A Turma destacou que o recurso extraordinário fora
PERSONALIDADE CIVIL DA EMPRESA, EM ORDEM A interposto em data anterior à regulamentação do instituto da
COIBIR SITUAÇÕES CONFIGURADORAS DE ABUSO DE repercussão geral. Asseverou que, ante a insuficiência no
DIREITO OU DE FRAUDE. A COMPETÊNCIA pagamento do precatório, bastaria a requisição do valor
INSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO E A complementar do depósito realizado. Pontuou que
DOUTRINA DOS PODERES IMPLÍCITOS. eventual erro de cálculo não impediria que a Fazenda
INDISPENSABILIDADE, OU NÃO, DE LEI QUE VIABILIZE A Pública viesse aos autos para impugná-lo. O Ministro
INCIDÊNCIA DA TÉCNICA DA DESCONSIDERAÇÃO DA Ricardo Lewandowski reajustou o voto proferido
PERSONALIDADE JURÍDICA EM SEDE ADMINISTRATIVA. anteriormente. Vencido o Ministro Dias Toffoli, que negava
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O PRINCÍPIO DA provimento ao recurso, por entender necessária a citação da
LEGALIDADE: SUPERAÇÃO DE PARADIGMA TEÓRICO Fazenda Pública (AI 646081 AgR/SP / i-730).
FUNDADO NA DOUTRINA TRADICIONAL? O PRINCÍPIO
DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA: VALOR
CONSTITUCIONAL REVESTIDO DE CARÁTER ÉTICO-
JURÍDICO, CONDICIONANTE DA LEGITIMIDADE E DA
VALIDADE DOS ATOS ESTATAIS. O ADVENTO DA LEI Nº
12.846/2013 (ART. 5º, IV, “e”, E ART. 14), AINDA EM
PERÍODO DE “VACATIO LEGIS”. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA E O POSTULADO DA
INTRANSCENDÊNCIA DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

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ELEITORAL direito assegurado, expressamente, no § 3º do art. 17 da


Lei Maior, direito esse indispensável à existência e ao
01. MED. CAUT. EM ADI N. 4.795-DF / RELATOR: MIN. desenvolvimento desses entes plurais e, sem o qual, fica
DIAS TOFFOLI / EMENTA: Ações diretas de cerceado o seu direito de voz nas eleições, que deve ser
inconstitucionalidade. Julgamento conjunto da ADI nº 4.430 e acessível a todos os candidatos e partidos políticos. 3. A
da ADI nº 4.795. Artigo 45, § 6º, e art. 47, incisos I e II, da Lei solução interpretativa pela repartição do horário da
nº 9.504/97 (Lei das Eleições). Conhecimento. Possibilidade propaganda eleitoral gratuita de forma igualitária entre todos
jurídica do pedido. Propaganda eleitoral no rádio e na os partidos partícipes da disputa não é suficiente para
televisão. Inconstitucionalidade da exclusão dos partidos espelhar a multiplicidade de fatores que influenciam o
políticos sem representação na Câmara dos Deputados. processo eleitoral. Não há igualdade material entre
Violação do art. 17, § 3º, da Constituição Federal. Critérios de agremiações partidárias que contam com representantes na
repartição do tempo de rádio e TV. Divisão igualitária entre Câmara Federal e legendas que, submetidas ao voto popular,
todos os partidos que lançam candidatos ou divisão não lograram eleger representantes para a Casa do Povo.
proporcional ao número de parlamentares eleitos para a Embora iguais no plano da legalidade, não são iguais quanto
Câmara dos Deputados. Possibilidade constitucional de à legitimidade política. Os incisos I e II do § 2º do art. 47 da
discriminação entre partidos com e sem representação na Lei nº 9.504/97, em consonância com o princípio da
Câmara dos Deputados. Constitucionalidade da divisão do democracia e com o sistema proporcional, estabelecem regra
tempo de rádio e de televisão proporcionalmente à de equidade, resguardando o direito de acesso à propaganda
representatividade dos partidos na Câmara Federal. eleitoral das minorias partidárias e pondo em situação de
Participação de candidatos ou militantes de partidos privilégio não odioso aquelas agremiações mais lastreadas
integrantes de coligação nacional nas campanhas regionais. na legitimidade popular. O critério de divisão adotado –
Constitucionalidade. Criação de novos partidos políticos e as proporcionalidade à representação eleita para a Câmara dos
alterações de representatividade na Câmara dos Deputados. Deputados – adéqua-se à finalidade colimada de divisão
Acesso das novas legendas ao rádio e à TV proporcional e tem respaldo na própria Constituição
proporcionalmente ao número de representantes Federal, que faz a distinção entre os partidos com
na Câmara dos Deputados (inciso II do § 2º do e sem representação no Congresso Nacional,
art. 47 da Lei nº 9.504/97), considerada a Prepare-se para os concedendo certas prerrogativas,
representação dos deputados federais que concursos da Advocacia- exclusivamente, às agremiações que gozam
tenham migrado diretamente dos partidos de representatividade nacional (art. 5º,
pelos quais foram eleitos para a nova
Geral da União com LXX, a; art. 103, VIII; art. 53, § 3º; art. 55,
§§ 2º e 3º; art. 58, § 1º). 4. O conteúdo do
legenda no momento de sua criação.
Momento de aferição do número de
representantes na Câmara Federal. Não
GEAGU art. 45, § 6º, da Lei nº 9.504/97 não
afronta a exigência de observância do
aplicação do § 3º do art. 47 da Lei Resolução de questões caráter nacional pelos partidos políticos,
9.504/97, segundo o qual, a objetivas, peças, pareceres e reforçando, ao contrário, as diretrizes de
representação de cada partido na Câmara tal exigência constitucional, ao possibilitar
dissertações
Federal é a resultante da última eleição ao partido político que se utilize, na
para deputados federais. Critério inaplicável www.ebeji.com.br propaganda eleitoral em âmbito regional, da
aos novos partidos. Liberdade de criação, imagem e da voz de candidato ou militante de
fusão e incorporação de partidos políticos (art. partido político que integre a sua coligação em
17, caput, CF/88). Equiparação constitucional. âmbito nacional. Cabe à Justiça Eleitoral ponderar
Interpretação conforme. 1. O não conhecimento da ADI nº sobre eventuais abusos e excessos na participação de
1.822/DF, Relator o Ministro Moreira Alves, por figuras nacionais nas propagandas locais. 5. A história dos
impossibilidade jurídica do pedido, não constitui óbice ao partidos políticos no Brasil e a adoção do sistema
presente juízo de (in)constitucionalidade, em razão da proporcional de listas abertas demonstram, mais uma vez, a
ausência de apreciação de mérito no processo objetivo importância do permanente debate entre “elites locais” e
anterior, bem como em face da falta de juízo definitivo sobre “elites nacionais” no desenvolvimento de nossas instituições.
a compatibilidade ou não dos dispositivos atacados com a O sistema eleitoral brasileiro de representação proporcional
Constituição Federal. A despeito de o pedido estampado na de lista aberta surgiu, exatamente, desse embate, resultado
ADI nº 4.430 se assemelhar com o contido na ação anterior, que foi da conjugação de nossa ausência de tradição
na atual dimensão da jurisdição constitucional, a solução ali partidária com a força das nossas bases eleitorais regionais.
apontada não mais guarda sintonia com o papel de tutela da 6. Extrai-se do princípio da liberdade de criação e
Lei Fundamental exercido por esta Corte. O Supremo transformação de partidos políticos contido no caput do
Tribunal Federal está autorizado a apreciar a art. 17 da Constituição da República o fundamento
inconstitucionalidade de dada norma, ainda que seja para constitucional para reputar como legítimo o
dela extrair interpretação conforme à Constituição Federal, entendimento de que, na hipótese de criação de um novo
com a finalidade de fazer incidir conteúdo normativo partido, a novel legenda, para fins de acesso
constitucional dotado de carga cogente cuja produção de proporcional ao rádio e à televisão, leva consigo a
efeitos independa de intermediação legislativa. 2. A exclusão representatividade dos deputados federais que, quando
da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão de sua criação, para ela migrarem diretamente dos
das agremiações partidárias que não tenham partidos pelos quais foram eleitos. Não há razão para se
representação na Câmara Federal representa atentado ao conferir às hipóteses de criação de nova legenda tratamento

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diverso daquele conferido aos casos de fusão e incorporação auditoria independente do software mediante o sorteio de 2%
de partidos (art. 47, § 4º, Lei das Eleições), já que todas (dois por cento) das urnas eletrônicas de cada Zona Eleitoral,
essas hipóteses detêm o mesmo patamar constitucional (art. respeitado o limite mínimo de 3 (três) máquinas por
17, caput, CF/88), cabendo à lei, e também ao seu intérprete, município, que deverão ter seus votos em papel contados e
preservar o sistema. Se se entende que a criação de partido comparados com os resultados apresentados pelo respectivo
político autoriza a migração dos parlamentares para a novel boletim de urna. § 5º É permitido o uso de identificação do
legenda, sem que se possa falar em infidelidade partidária ou eleitor por sua biometria ou pela digitação do seu nome ou
em perda do mandato parlamentar, essa mudança resulta, de número de eleitor, desde que a máquina de identificar não
igual forma, na alteração da representação política da tenha nenhuma conexão com a urna eletrônica”]. Asseverou-
legenda originária. Note-se que a Lei das Eleições, ao adotar se que, nos termos do caput da norma questionada, seria
o marco da última eleição para deputados federais para fins permitido ao eleitor conferir seu voto, pois associado o
de verificação da representação do partido (art. 47, § 3º, da conteúdo desse ato de cidadania com a assinatura digital
Lei 9.504/97), não considerou a hipótese de criação de nova da urna. Entretanto, anotou-se que a inviolabilidade e o
legenda. Nesse caso, o que deve prevalecer não é o segredo do voto suporiam a impossibilidade de se ter, no
desempenho do partido nas eleições (critério inaplicável aos exercício do voto ou no próprio voto, qualquer forma de
novos partidos), mas, sim, a representatividade política identificação pessoal. Registrou-se, ademais, que o sigilo
conferida aos parlamentares que deixaram seus partidos de da votação também estaria comprometido caso
origem para se filiarem ao novo partido político, recém criado. ocorresse falha na impressão ou travamento de papel na
Essa interpretação prestigia, por um lado, a liberdade urna eletrônica, visto que necessária intervenção
constitucional de criação de partidos políticos (art. 17, caput, humana para resolver o problema, o que exporia os votos
CF/88) e, por outro, a representatividade do partido que já registrados até então. Além disso, em eventual pedido de
nasce com representantes parlamentares, tudo em recontagem, seria novamente possível a identificação
consonância com o sistema de representação proporcional dos eleitores. Salientou-se que a introdução de
brasileiro. 7. Continência entre os pedidos da ADI nº 4.430 e impressoras potencializaria falhas e impediria o
da ADI nº 4.795. Uma vez que se assenta a transcurso regular dos trabalhos nas diversas seções
constitucionalidade do § 6º do art. 45 da Lei 9.504/97 e que o eleitorais. O módulo impressor, além de apresentar
pedido maior, veiculado na ADI nº 4.430, autoriza o juízo de problemas de conexão, seria vulnerável a fraudes.
constitucionalidade sobre os vários sentidos do texto Ademais, haveria a possibilidade de cópia, adulteração e
impugnado, inclusive aquele referido na ADI nº 4.795, julga- troca de votos decorrente da votação impressa. Seria
se parcialmente procedente o pedido da ADI nº 4.430, no também maior a vulnerabilidade do sistema, porque o
sentido de i) declarar a inconstitucionalidade da expressão “e voto impresso não atingiria o objetivo de possibilitar a
representação na Câmara dos Deputados” contida na cabeça recontagem e a auditoria. Lembrou-se que o voto impresso
do § 2º do art. 47 da Lei nº 9.504/97 e ii) dar interpretação teria sido anteriormente previsto, por força da Lei
conforme à Constituição Federal ao inciso II do § 2º do 10.408/2002, mas não teria sido levado a efeito em razão das
art. 47 da mesma lei, para assegurar aos partidos novos, dificuldades jurídicas e materiais constatadas. Por esse
criados após a realização de eleições para a Câmara dos motivo, promulgara-se a Lei 10.740/2003, que abandonara
Deputados, o direito de acesso proporcional aos dois aquele modelo, segundo o qual o voto digital era impresso e
terços do tempo destinado à propaganda eleitoral depositado em urna lacrada. Rememorou-se, ademais, que a
gratuita no rádio e na televisão, considerada a partir da implementação paulatina do voto eletrônico, desde
representação dos deputados federais que migrarem 1996, abandonara-se a impressão de votos, para incrementar
diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos para a o segredo desse ato, conforme assegurado na Constituição.
nova legenda no momento de sua criação. Por A respeito, discorreu-se que o segredo do voto seria
conseguinte, fica prejudicado o pedido contido na ADI nº conquista destinada a garantir a inviolabilidade do querer
4.795 (i-726). democrático do eleitor e a intangibilidade do seu direito
por qualquer forma de pressão. Registrou-se que a
02. Voto impresso e art. 14 da CF: O Plenário julgou história do País conteria diversos vícios nos processos
procedente pedido formulado em ação direta para declarar a eleitorais, que teriam sido consideravelmente atenuados
inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 12.034/2009, que com o sistema de votação eletrônica. Retroagir nesse
dispõe sobre o voto impresso [“Art. 5º Fica criado, a partir das ponto configuraria afronta à Constituição, e a impressão
eleições de 2014, inclusive, o voto impresso conferido pelo do voto feriria o direito ao segredo. Consignou-se que o
eleitor, garantido o total sigilo do voto e observadas as cidadão não poderia ser compelido a prestar contas
seguintes regras: § 1º A máquina de votar exibirá para o sobre seu voto, porquanto a urna seria espaço de
eleitor, primeiramente, as telas referentes às eleições liberdade cidadã, onde ele poderia realizar sua escolha
proporcionais; em seguida, as referentes às eleições livre e inquestionável, não podendo ser tolhido pelo
majoritárias; finalmente, o voto completo para conferência exigir do outro, sob pena de viciar todo o sistema. Frisou-
visual do eleitor e confirmação final do voto. § 2º Após a se que, se o ato de votar seria próprio, não haveria
confirmação final do voto pelo eleitor, a urna eletrônica necessidade de prová-lo ou de prestar contas.
imprimirá um número único de identificação do voto Corroborou-se que o sistema seria dotado de segurança
associado à sua própria assinatura digital. § 3º O voto deverá incontestável, como reiteradamente demonstrado.
ser depositado de forma automática, sem contato manual do Acentuou-se que eventual vulneração do segredo do voto
eleitor, em local previamente lacrado. § 4º Após o fim da comprometeria não apenas o art. 14 da CF (“A soberania
votação, a Justiça Eleitoral realizará, em audiência pública, popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto

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direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PROCESSO ELEITORAL.
termos da lei, mediante: ...”), mas também o art. 60, § 4º, LEGITIMIDADE RECURSAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
II (“§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de SÚMULA 11 DO TSE. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL.
emenda tendente a abolir: ... II - o voto direto, secreto, OFENSA REFLEXA À CONSTITUIÇÃO. 1. Segundo a
universal e periódico”), que é núcleo imodificável do Súmula 11 do TSE, “No processo de registro de
sistema. Acresceu-se que o § 2º do dispositivo questionado candidatos, o partido que não o impugnou não tem
retiraria o segredo do voto, pois o número de identificação legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu,
associado à assinatura digital poderia favorecer a coação de salvo se se cuidar de matéria constitucional”. A
eleitores pela possibilidade de vincular o voto a aplicação desse entendimento ao Ministério Público não
compromissos espúrios. O eleitor seria identificado e poderia é incompatível com o disposto no art. 127 da
ser compelido a comprovar sua ação na cabine de votação. Constituição, que atribui a esse órgão a incumbência de
Explicou-se que o sistema atual permitiria que o resultado defender a ordem jurídica, o regime democrático e os
fosse transmitido às centrais sem a identificação do eleitor e interesses sociais e individuais indisponíveis. A
com alteração sequencial dos eleitores a cada sessão, a atribuição constitucional dessa incumbência não inibe o
reforçar o segredo. Sublinhou-se, ademais, que a impressão legislador de dar conformação processual ao seu efetivo
do voto criaria discrímen em relação às pessoas com exercício no âmbito jurisdicional. 2. Agravo regimental a
deficiência visual e aos analfabetos, que não teriam como que se nega provimento (i-730).
identificar seus votos, razão pela qual pediriam ajuda de
terceiros, em violação ao direito de sigilo constitucionalmente 04. AG. REG. NA MED. CAUT. NA AC N. 3.298-PB /
assegurado. Destacou-se o princípio “um eleitor, um voto”, RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI / EMENTA:
conquista recente que seria reforçada no sistema eletrônico, CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO CAUTELAR.
pois somente seria aberta a urna após a identificação do MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO MANDATO, MAIS
eleitor, que não seria substituído e não votaria mais de uma DE UM ANO ANTES DO SEU TÉRMINO. INELEGIBILIDADE
vez. Entretanto, vedada a conexão entre o instrumento DO CÔNJUGE. CF, ART. 14, § 7º. INOCORRÊNCIA. 1.
de identificação e a respectiva urna, nos termos Evidencia risco de dano irreversível “a
da lei questionada, possibilitar-se-ia a subtração ao titular, ainda que parcial, do
permanência da abertura da urna, e o eleitor Estudando para a DPU? conteúdo do exercício de um mandato
poderia votar mais de uma vez, a contrariar político.” (ADI 644-MC, Rel. Min. Sepúlveda
a garantia da unidade eleitor e voto. Esse Não deixe de conhecer o Pertence, Pleno, DJ de 21.2.1992). 2. Há
princípio sustentaria a democracia plausibilidade na alegação de que a
representativa, haja vista que Curso Preparatório para morte de Prefeito, no curso do mandato
asseguraria a correlação entre o (que passou a ser exercido pelo Vice-
conteúdo das urnas e a vontade do o concurso de Defensor Prefeito), não acarreta a inelegibilidade
eleitorado. Pontuou-se que a justiça Público Federal do cônjuge, prevista no art. 14, § 7º, da
eleitoral estaria em constante Totalmente online e Constituição Federal. Trata-se de
aperfeiçoamento de rigoroso sistema de situação diferente da que ocorre nos
segurança, paralelamente ao sistema de baseado no último edital! casos de dissolução da sociedade
informatização, o que garantiria total www.ebeji.com.br conjugal no curso do mandato, de que
inviolabilidade e transparência da votação trata a Súmula Vinculante 18. 3. Agravo
eletrônica. Destacou-se, ainda, a Lei regimental improvido (i-730).
10.740/2003, que instituíra o Registro Digital de Voto
- RDV, a permitir o armazenamento dos votos em formato
digital e a resguardar o sigilo. Com o RDV seria possível PENAL E PROCESSO PENAL
recontar os votos de forma automatizada, sem comprometer
o segredo dos votos ou a credibilidade do sistema de 01. Lei penal no tempo e combinação de dispositivos: É
votação. Além disso, os interessados poderiam auditar o vedada a incidência da causa de diminuição do art. 33, §
sistema antes, durante e depois das eleições. Mencionou-se, 4º, da Lei 11.343/2006 (“§ 4o Nos delitos definidos no
também, outro sistema de segurança, a denominada “votação
paralela”, uma simulação realizada um dia antes das caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser
eleições, monitorada por empresa de auditoria externa e reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente
acompanhada pela imprensa, pelo Ministério Público, pela seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
OAB e por fiscais dos partidos. O Ministro Celso de Mello atividades criminosas nem integre organização
sublinhou o art. 312 do Código Eleitoral, a tipificar o crime de criminosa”), combinada com as penas previstas na Lei
violar ou tentar violar o sigilo do voto, o que demonstraria a 6.368/76, no tocante a crimes praticados durante a
gravidade dessa prática. Além disso, destacou que esse vigência desta norma. Essa a conclusão do Plenário que,
diploma estabeleceria, em seu art. 220, a sanção da nulidade por maioria, proveu parcialmente recurso extraordinário para
de votação, quando preterida a formalidade essencial do determinar o retorno dos autos à origem, instância na qual
sigilo dos sufrágios (ADI 4543/DF / i-727). deverá ser realizada a dosimetria de acordo com cada uma
das leis, para aplicar-se, na íntegra, a legislação mais
03. AG. REG. NO ARE N. 757.179-MG / RELATOR: MIN. favorável ao réu. Prevaleceu o voto do Ministro Ricardo
TEORI ZAVASCKI /EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. Lewandowski, relator. Inicialmente, o relator frisou que o
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ART. 127 núcleo teleológico do princípio da retroatividade da lei penal
mais benigna consistiria na estrita prevalência da lex mitior,

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de observância obrigatória, para aplicação em casos ineditismo, constituiria lei nova mais benéfica, razão pela qual
pretéritos. Afirmou que se trataria de garantia fundamental, deveria retroagir. Nesse caso, adequar a causa especial de
prevista no art. 5º, XL, da CF e que estaria albergada pelo diminuição à pena prevista na lei antiga não significaria
Pacto de São José da Costa Rica (art. 9º). Frisou que a combinar normas, porque o juiz, ao assim agir, somente
Constituição disporia apenas que a lei penal deveria retroagir movimentar-se-ia dentro dos quadros legais para integrar o
para beneficiar o réu, mas não faria menção sobre a princípio da retroatividade da lei mais benéfica. Vencido,
incidência do postulado para autorizar que algumas partes de também, parcialmente, o Ministro Marco Aurélio, que
diversas leis pudessem ser aplicadas separadamente para desprovia o recurso, por considerar que o caso diria respeito
favorecer o acusado. O relator destacou que o caso em apenas à inadmissível mesclagem de normas, sem que se
exame diferenciar-se-ia da simples aplicação do princípio da pretendesse relegar ao juízo de origem a definição da lei a
retroatividade da lei penal mais benéfica, pois pretendida a ser aplicada (RE 600817/MS / i-727).
combinação do caput do art. 12 da Lei 6.368/76 com a causa
de diminuição do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006. Explicou 02. Aplicação retroativa da Lei 12.015/2009 e juízo da
que a lei anterior estabelecera, para o delito de tráfico, pena execução: Cabe ao juízo da execução criminal avaliar a
em abstrato de 3 a 15 anos de reclusão, mas a norma atual aplicação retroativa da Lei 12.015/2009 — norma
cominara, para o mesmo crime, reprimenda de 5 a 15 anos considerada mais benéfica — em favor de condenados
de reclusão. Assim, este diploma impusera punição mais pela prática dos crimes de atentado violento ao pudor e
severa para o delito, mas consagrara, em seu art. 33, § 4º, estupro, em concurso material. Com base nesse
causa especial de diminuição a beneficiar o agente primário, entendimento, a 2ª Turma não conheceu, por maioria, da
de bons antecedentes, não dedicado a atividade criminosa e impetração, mas concedeu a ordem de ofício para determinar
não integrante de organização criminosa. Concluiu, no ponto, que o juiz da execução aprecie as condutas criminosas
que o legislador teria procurado diferenciar o traficante praticadas pelo paciente e, se for o caso, proceda ao
organizado do traficante eventual. Observou, entretanto, que redimensionamento das penas. Preliminarmente, consignou-
essa causa de diminuição de pena viera acompanhada de se que seria incabível impetração de habeas corpus em face
outra mudança, no sentido de aumentar consideravelmente a de decisão monocrática de Ministro do STJ, sendo
pena mínima para o delito. Assim, haveria correlação entre o indispensável a interposição de agravo regimental. Vencidos
aumento da pena-base e a inserção da minorante. O relator os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello. Pontuavam
considerou não caber ao julgador aplicar isoladamente a que o recurso de agravo seria voluntário e não necessário.
pena mínima prevista na lei antiga em combinação com a Portanto, a parte poderia perfeitamente abster-se de interpô-
novel causa de diminuição, que teria sido prevista para incidir lo. Além disso, afirmavam que o relator no STJ, ao proferir a
sobre pena-base mais severa. Acresceu que a minorante decisão monocrática, com apoio no art. 38 da Lei 8.038/90,
representaria benefício para os que tivessem praticado crime pronunciar-se-ia em nome do Tribunal. Aludiam que não
de tráfico sob a vigência da lei anterior. Porém, para que isso haveria, em relação ao habeas corpus, o mesmo tratamento
ocorresse, dever-se-ia considerar a pena-base nos termos da dado ao recurso extraordinário, que imporia o exaurimento da
Lei 11.343/2006. Não seria lícito, portanto, combinar a pena via recursal ordinária. Assinalavam que essa exigência
mínima de uma norma com a minorante de outra, criada para restringiria o direito de liberdade (HC 117640/SP / i-728).
incidir sobre pena-base maior. Ressaltou que, ao assim
proceder, o juiz criaria nova lei e atuaria como legislador 03. HC N. 117.837-SP / RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA /
positivo. Embora o crime fosse o mesmo, a combinação de EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL.
dosimetrias implicaria uma sanção diversa da previamente PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE HOMICÍDIO
estabelecida pelo legislador, seja sob o enfoque da lei antiga, QUALIFICADO, FORMAÇÃO DE QUADRILHA, PORTE
seja sob a ótica da lei nova. Destacou precedentes da Corte ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E
a corroborar esse entendimento. Vislumbrou, ainda, situação COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO. REVOGAÇÃO DE
absurda provocada por essa combinação, a significar que o PRISÃO PREVENTIVA. QUESTÃO NÃO SUSCITADA NAS
delito de tráfico poderia ser punido com reprimenda de até INSTÂNCIAS ANTECEDENTES. INDEVIDA SUPRESSÃO
um ano de reclusão, semelhante às sanções cominadas a DE INSTÂNCIA: IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE
crimes de menor potencial ofensivo. Ponderou que, na dúvida OFENSA À COISA JULGADA. HABEAS CORPUS
sobre qual o diploma que seria mais benéfico em CONHECIDO PARCIALMENTE E, NESSA PARTE,
determinada hipótese, caberia ao juiz analisar o caso DENEGADO. 1. O Supremo Tribunal Federal não admite o
concreto para verificar qual a lei que, aplicada integralmente, conhecimento de habeas corpus com argumentos
seria mais favorável ao réu. O Ministro Luiz Fux acrescentou inéditos, não apresentados nas instâncias antecedentes.
que o Código Penal Militar contém norma que serviria de Ausência de ilegalidade apta a provocar, no caso, a
norte interpretativo para solucionar a questão, em seu art. 2º, supressão de instância. 2. Ao acolher alegação da existência
§ 2º (“§2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei de vício na quesitação, e determinar a realização de novo
posterior e a anterior devem ser consideradas julgamento do Paciente pelo Tribunal do Júri, o Tribunal de
separadamente, cada qual no conjunto de suas normas Justiça de São Paulo não apreciou, por prejudicada, a outra
aplicáveis ao fato”). Vencida a Ministra Rosa Weber e os tese deduzida no recurso de apelação interposto pelo
Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello, que Ministério Público relativa à manifesta contrariedade da
proviam o recurso. Consideravam cabível a retroação da decisão recorrida à prova dos autos. 3. Afastado o
norma penal nos aspectos em que beneficiaria o réu, sem reconhecimento da nulidade na quesitação pela Quinta
que isso implicasse a criação de terceira lei. Ressaltavam Turma do Superior Tribunal de Justiça no Habeas Corpus n.
que a minorante não existia na legislação pretérita e, por seu 206.008, hígida a determinação de que aprecie o juízo de 2ª

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instância a outra tese deduzida no recurso do Ministério 07. HC N. 115.831-MA / RELATORA: MIN. ROSA WEBER /
Público, daí não se inferindo ofensa à coisa julgada. 4. EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL.
Habeas corpus conhecido parcialmente e, nessa parte, EMENDATIO LIBELLI. LAVAGEM DE ATIVOS.
denegado (i-728). DESCLASSIFICAÇÃO NO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA,
PARA ESTELIONATO. ART. 383 DO CÓDIGO DE
04. HC N. 114.591-RS / RELATOR: MIN. ROBERTO PROCESSO PENAL. MOMENTO PROCESSUAL
BARROSO / Ementa: HABEAS CORPUS IMPETRADO EM ADEQUADO. RELATIVIZAÇÃO. ESPECIALIZAÇÃO DO
SUBSTITUIÇÃO A RECURSO ORDINÁRIO. 1. O JUÍZO. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal
condenado que estiver cumprindo pena privativa de Federal é a sentença o momento processual oportuno
liberdade em regime aberto não tem direito à remição da para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do Código de
pena pelo trabalho, nos termos do art. 126 da Lei nº Processo Penal. 2. Tal posicionamento comporta
7.210/1984. 2. Esse entendimento não foi alterado com a relativização – hipótese em que admissível juízo
edição da Lei nº 12.433/2011. Precedentes. 3. Habeas desclassificatório prévio –, em caso de erro de direito,
Corpus extinto sem resolução de mérito por inadequação da quando a qualificação jurídica do crime imputado
via processual (i-728). repercute na definição da competência. Precedente. 3. Na
espécie, a existência de peculiaridade – ação penal
05. HC N. 111.076-MS / RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI / relacionada a suposto esquema criminoso objeto da ação em
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO trâmite na vara especializada em lavagem de ativos –,
INTERESTADUAL. DESNECESSIDADE DE recomenda a manutenção do acórdão recorrido que
TRANSPOSIÇÃO DE FRONTEIRA ENTRE ESTADOS DA chancelou a remessa do feito, comandada pelo Tribunal
FEDERAÇÃO. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. 1. A Regional Federal da 1ª Região para a 1ª Vara Federal da
jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de ser Seção Judiciária do Maranhão, que detém tal especialização.
desnecessária a efetiva transposição das fronteiras 4. Ordem denegada (i-729).
interestaduais para a incidência da majorante prevista no
inciso V do art. 40, “bastando a comprovação 08. HC N. 107.090-RJ / RELATOR: MIN. RICARDO
inequívoca de que a droga adquirida num LEWANDOWSKI / EMENTA: HABEAS CORPUS.
estado teria como destino outro estado da PENAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO.
Federação” (HC 115893, Relator(a): Min. Prepare-se para o concurso CIÚME. MOTIVO FÚTIL. QUALIFICADORA
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda da Defensoria Pública da ADMITIDA NA PRONÚNCIA. EXCLUSÃO
Turma, DJe de 04-06-2013). Precedentes. União com PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
2. Ordem denegada (i-728). RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA

06. Júri - Soberania - Revisão Criminal -


Possibilidade (Transcrições) / ARE
GEDPU DETERMINAR
ADMISSIBILIDADE.
ORDEM
SUA

DENEGADA.
INCLUSÃO.
PRECEDENTES.
I - A
674151/MT* /
Resolução de questões jurisprudência desta Corte está
RELATOR: Ministro Celso de Mello / objetivas, peças, pareceres e assentada no sentido de que apenas a
EMENTA: REVISÃO CRIMINAL. dissertações qualificadora manifestamente
CONDENAÇÃO PENAL PELO JÚRI. ERRO www.ebeji.com.br improcedente deve ser excluída da
JUDICIÁRIO. INOPONIBILIDADE DA pronúncia, o que não acontece na
SOBERANIA DO VEREDICTO DO hipótese dos autos. II - De todo modo, a
CONSELHO DE SENTENÇA À PRETENSÃO análise da existência ou não da qualificadora
REVISIONAL. JULGAMENTO DESSA AÇÃO do motivo fútil deve ser feita pelo Tribunal do Júri,
AUTÔNOMA DE IMPUGNAÇÃO PELO TRIBUNAL DE que é o juiz natural da causa. Precedentes. III - Ordem
SEGUNDO GRAU. CUMULAÇÃO DO “JUDICIUM denegada (i-729).
RESCINDENS” COM O “JUDICIUM RESCISSORIUM”.
POSSIBILIDADE. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO A 09. Remição e cálculo da pena: O cálculo da remição da
QUE SE NEGA SEGUIMENTO. - O Tribunal de segunda pena será efetuado pelos dias trabalhados pelo
instância, ao julgar a ação de revisão criminal, dispõe de condenado e não pelas horas, nos termos da Lei de
competência plena para formular tanto o juízo Execução Penal (Lei 7.210/84). Com base nesse
rescindente (“judicium rescindens”), que viabiliza a entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus em que se
desconstituição da autoridade da coisa julgada penal discutia a possibilidade de se adotar o critério de dezoito
mediante invalidação da condenação criminal, quanto o horas para um dia remido, com o mínimo de seis horas como
juízo rescisório (“judicium rescissorium”), que legitima o correspondente a uma jornada de trabalho. Enfatizou-se que,
reexame do mérito da causa e autoriza, até mesmo, nos termos dos artigos 33 e 126 da LEP, a contagem é feita
quando for o caso, a prolação de provimento absolutório, pelos dias trabalhados pelo apenado, à razão de “1 (um) dia
ainda que se trate de decisão emanada do júri, pois a de pena a cada 3 (três) dias de trabalho” (LEP, art. 126, § 1º,
soberania do veredicto do Conselho de Sentença, que II) (HC 114393/RS / i-731).
representa garantia fundamental do acusado, não pode,
ela própria, constituir paradoxal obstáculo à restauração
da liberdade jurídica do condenado. Doutrina. Precedentes
(i-728).

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TRIBUTÁRIO cujos sócios teriam condição de disputar o mercado de


trabalho sem assistência do Estado. A Corte, ainda, teria
01. Simples Nacional: vedação e isonomia: É constitucional reconhecido a possibilidade de se estabelecerem exclusões
a exigência contida no art. 17, V, da LC 123/2006 (“Art. 17. do regime simplificado com base em critérios subjetivos.
Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma Dessa forma, reputou-se não haver óbice a que o legislador
do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de infraconstitucional criasse restrições de ordem subjetiva a
pequeno porte: ... V - que possua débito com o Instituto uma proteção constitucionalmente prevista. Asseverou-se, no
Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas tocante à vedação disposta no inciso V da norma em debate,
Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade que toda e qualquer exigência de regularidade fiscal sempre
não esteja suspensa”). Essa a conclusão do Plenário ao teria, como efeito indireto, a indução ao pagamento, ainda
desprover, por maioria, o recurso extraordinário. De início, que parcelado, de tributos. Caberia perquirir, portanto, se a
rememorou-se que o Simples Nacional teria sido criado com citada regra imporia discriminação arbitrária, desarrazoada e
o objetivo de concretizar as diretrizes constitucionais do incompatível com a isonomia, considerada a capacidade
tratamento jurídico diferenciado às microempresas e contributiva dos agentes. No ponto, anotou-se que a
empresas de pequeno porte (CF, artigos 170, IX, e 179). instituição do Simples Nacional teria por escopo implementar
Lembrou-se, ainda, que a EC 42/2003 trouxera modificações justiça tributária, ao diferenciar microempresas e empresas
ao texto constitucional, dentre elas a necessidade de edição de pequeno porte dos demais contribuintes, em razão da
de lei complementar para se definir o tratamento favorecido capacidade contributiva presumidamente menor naqueles
às microempresas e às empresas de pequeno porte, e casos. Observou-se que, em razão desse regime tributário
facultara a instituição de regime único de arrecadação de favorecido, houvera significativa redução na carga tributária
impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito das empresas, a tornar mais fácil o cumprimento das
Federal e dos Municípios (CF, art. 146, III, d, e parágrafo obrigações para com o Fisco. Frisou-se que essa presunção
único). Salientou-se existir o princípio constitucional do de capacidade contributiva reduzida, porém, não seria válida,
tratamento favorecido para microempresas e empresas de aprioristicamente, aos inadimplentes. Assim, o tratamento
pequeno porte, fundado em questões sociais e econômicas tributário a ser conferido nesses casos não poderia implicar
ligadas à necessidade de se conferirem condições justas e desoneração, pois todos os contribuintes estariam adstritos
igualitárias de competição para essas empresas. Destacou- ao pagamento de tributos. Afirmou-se que não seria razoável
se, no ponto, a relevância do setor na geração de emprego e favorecer aqueles em débito com o Fisco, que participariam
renda no País. Sinalizou-se, ainda, que a alta carga tributária do mercado com vantagem competitiva em relação aos
seria o segundo principal motivo para o encerramento das adimplentes. Consignou-se, ainda, que nos termos da lei
atividades em empresas dessa categoria. Frisou-se que, complementar, para que o empreendedor usufruísse de
nesse contexto, teria sido promulgada a LC 123/2006, a outras benesses do sistema, como o acesso a crédito, dentre
estabelecer tratamento diferenciado e favorecido outros, também não poderia estar em débito com o Fisco e
especialmente no que se refere a regime de arrecadação com o INSS. Salientou-se, ainda, que as micro e pequenas
tributária; cumprimento de obrigações trabalhistas e empresas teriam a prerrogativa de parcelamento de débitos
previdenciárias; acesso a crédito e ao mercado; capitalização dessa natureza, o que corroboraria a ideia de que o Simples
e inovação tecnológica; associativismo; regras de inclusão; Nacional estimularia o ingresso de contribuintes. Ponderou-se
acesso à justiça, dentre outros. Esse tratamento favorável que admitir o ingresso no programa daquele que não possui
estaria inserto no contexto das políticas públicas voltadas à regularidade fiscal, e que sequer pretende parcelar o débito
concretude dos objetivos da Constituição. Assinalou-se que ou suspender seu pagamento, significaria comunicar ao
o Simples Nacional seria regime especial de tributação adimplente que o dever de pagar seus tributos seria
de caráter opcional por parte dos contribuintes, mas de inconveniente, pois receberia o mesmo tratamento dado ao
observância obrigatória pelos entes federados. Não inadimplente. Dessa perspectiva, a norma em discussão não
configuraria mero benefício fiscal, mas microssistema violaria o princípio da isonomia, mas o confirmaria, pois o
tributário próprio, aplicável apenas a alguns adimplente e o inadimplente não estariam na mesma situação
contribuintes, no contexto constitucional aludido. Assim, jurídica. Ressaltou-se que a imposição de confissão de dívida
mesmo que a adesão fosse facultativa e que as vedações ao mediante parcelamento de débito para aderir ao regime não
ingresso no regime constassem expressamente do texto violaria o acesso à justiça, o contraditório e a ampla defesa,
legal, os critérios da opção legislativa precisariam, pois seria requisito exigido de todo contribuinte que
necessariamente, ser compatíveis com a Constituição. No pretendesse parcelar seu débito. Além disso, não haveria
que se refere aos critérios adotados pelo legislador, impedimento ao acesso ao Judiciário. Ademais, lembrou-se
observou-se que, primeiramente, ter-se-ia definido o universo que a Corte inadmitiria apenas expediente sancionatório
dos contemplados pela proteção constitucional com base na indireto para forçar o cumprimento da obrigação tributária
receita bruta auferida pela pessoa jurídica. Além disso, ter-se- pelo contribuinte, o que não seria o caso. Reputou-se, de
ia estipulado requisitos e hipóteses de vedações, norteados outro lado, que a regularidade fiscal, nos termos da LC
por aspectos relacionados ao contribuinte e por fatores 123/2006, também teria como fundamento extrafiscal o
predominantemente extrafiscais (LC 123/2006, art. 17). incentivo ao ingresso dos empreendedores no mercado
Sublinhou-se que a Corte já teria afirmado não haver ofensa formal. Registrou-se que a condicionante em análise não
ao princípio da isonomia tributária se a lei, por motivos seria fator de desequilíbrio concorrencial, pois seria exigência
extrafiscais, imprimisse tratamento desigual a microempresas imposta a todas as empresas, e representaria forma indireta
e empresas de pequeno porte de capacidade contributiva de se reprovar a infração das leis fiscais, de forma a garantir
distinta, ao afastar do Simples Nacional as pessoas jurídicas a neutralidade, com enfoque na livre concorrência. Vencido o

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Ministro Marco Aurélio, que provia o recurso por reputar atividades essenciais é do Fisco. 6. Recurso extraordinário
inconstitucional o preceito em questão, que configuraria provido (i-729).
coação política (RE 627543/RS / i-726).
04. RE N. 606.107-RS / RELATORA: MIN. ROSA WEBER /
02. Imunidade tributária e serviço de impressão gráfica: As EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
prestadoras de serviços de composição gráfica, que CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE.
realizam serviços por encomenda de empresas HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO AO PIS E COFINS. NÃO
jornalísticas ou editoras de livros, não estão abrangidas INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA. EMPRESA
pela imunidade tributária prevista no art. 150, VI, d, da CF EXPORTADORA. CRÉDITOS DE ICMS TRANSFERIDOS A
(“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao TERCEIROS. I - Esta Suprema Corte, nas inúmeras
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito oportunidades em que debatida a questão da
Federal e aos Municípios: ... VI - instituir impostos sobre: ... d) hermenêutica constitucional aplicada ao tema das
livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua imunidades, adotou a interpretação teleológica do
impressão”). Com base nesta orientação, a 2ª Turma, em instituto, a emprestar-lhe abrangência maior, com escopo
conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a de assegurar à norma supralegal máxima efetividade. II -
agravo regimental em recurso extraordinário em que discutida A interpretação dos conceitos utilizados pela Carta da
a exigibilidade do ISS relativamente à confecção/impressão República para outorgar competências impositivas (entre
(insumos intangíveis) de jornais para terceiros — v. os quais se insere o conceito de “receita” constante do
Informativos 497, 541 e 550. A Turma destacou que a seu art. 195, I, “b”) não está sujeita, por óbvio, à prévia
garantia da imunidade estabelecida pela Constituição, em edição de lei. Tampouco está condicionada à lei a
favor dos livros, dos jornais, dos periódicos e do papel exegese dos dispositivos que estabelecem imunidades
destinado à sua impressão revestir-se-ia de significativa tributárias, como aqueles que fundamentaram o acórdão
importância de ordem político-jurídica, destinada a de origem (arts. 149, § 2º, I, e 155, § 2º, X, “a”, da
preservar e a assegurar o próprio exercício das CF). Em ambos os casos, trata-se de
liberdades de manifestação do pensamento e interpretação da Lei Maior voltada a
de informação jornalística. Pontuou que a Prepare-se para o concurso desvelar o alcance de regras tipicamente
mencionada imunidade objetivaria constitucionais, com absoluta
preservar direitos fundamentais — como da Defensoria Pública da independência da atuação do legislador
a liberdade de informar e o direito do União com tributário. III – A apropriação de créditos
cidadão de ser informado —, a evitar de ICMS na aquisição de mercadorias
situação de submissão tributária das
empresas jornalísticas. Frisou que, no
GEDPU tem suporte na técnica da não
cumulatividade, imposta para tal tributo
ponto, os serviços de composição gráfica Resolução de questões pelo art. 155, § 2º, I, da Lei Maior, a fim
realizados por empresas contratadas para objetivas, peças, pareceres e de evitar que a sua incidência em
realizar esses trabalhos, seriam meros cascata onere demasiadamente a
prestadores de serviço e, por isso, a eles dissertações atividade econômica e gere distorções
não se aplicaria a imunidade tributária. www.ebeji.com.br concorrenciais. IV - O art. 155, § 2º, X, “a”,
Vencido o Ministro Eros Grau, que dava da CF – cuja finalidade é o incentivo às
provimento ao recurso. (RE 434826 AgR/MG / i- exportações, desonerando as mercadorias
729). nacionais do seu ônus econômico, de modo a
permitir que as empresas brasileiras exportem produtos, e
03. RE N. 470.520-SP / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI / não tributos -, imuniza as operações de exportação e
EMENTA: Imunidade. Entidade educacional. Artigo 150, assegura “a manutenção e o aproveitamento do montante do
inciso VI, alínea c, da Constituição Federal. ITBI. Aquisição imposto cobrado nas operações e prestações anteriores”.
de terreno sem edificação. Fato gerador. Momento da Não incidem, pois, a COFINS e a contribuição ao PIS sobre
aquisição. Destinação às finalidades essenciais da entidade. os créditos de ICMS cedidos a terceiros, sob pena de frontal
Presunção. Ônus da prova. Precedentes. 1. No caso do violação do preceito constitucional. V – O conceito de receita,
ITBI, a destinação do imóvel às finalidades essenciais da acolhido pelo art. 195, I, “b”, da Constituição Federal, não se
entidade deve ser pressuposta, sob pena de não haver confunde com o conceito contábil. Entendimento, aliás,
imunidade para esse tributo. 2. A condição de um imóvel expresso nas Leis 10.637/02 (art. 1º) e Lei 10.833/03 (art. 1º),
estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para que determinam a incidência da contribuição ao PIS/PASEP
destituir a garantia constitucional da imunidade. 3. A regra da e da COFINS não cumulativas sobre o total das receitas,
imunidade se traduz numa negativa de competência, “independentemente de sua denominação ou classificação
limitando, a priori, o poder impositivo do Estado. 4. Na regra contábil”. Ainda que a contabilidade elaborada para fins de
imunizante, como a garantia decorre diretamente da Carta informação ao mercado, gestão e planejamento das
Política, mediante decote de competência legislativa, as empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida
presunções sobre o enquadramento originalmente conferido para a determinação das bases de cálculo de diversos
devem militar a favor das pessoas ou das entidades que tributos, de modo algum subordina a tributação. A
apontam a norma constitucional. 5. Quanto à imunidade contabilidade constitui ferramenta utilizada também para fins
prevista no art. 150, inciso VI, alínea c, da Constituição tributários, mas moldada nesta seara pelos princípios e
Federal, o ônus de elidir a presunção de vinculação às regras próprios do Direito Tributário. Sob o específico prisma
constitucional, receita bruta pode ser definida como o

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ingresso financeiro que se integra no patrimônio na condição


de elemento novo e positivo, sem reservas ou condições. VI -
O aproveitamento dos créditos de ICMS por ocasião da saída
imune para o exterior não gera receita tributável. Cuida-se de
mera recuperação do ônus econômico advindo do ICMS,
assegurada expressamente pelo art. 155, § 2º, X, “a”, da
Constituição Federal. VII - Adquirida a mercadoria, a empresa
exportadora pode creditar-se do ICMS anteriormente pago,
mas somente poderá transferir a terceiros o saldo credor
acumulado após a saída da mercadoria com destino ao
exterior (art. 25, § 1º, da LC 87/1996). Porquanto só se
viabiliza a cessão do crédito em função da exportação, além
de vocacionada a desonerar as empresas exportadoras do
ônus econômico do ICMS, as verbas respectivas qualificam-
se como decorrentes da exportação para efeito da imunidade
do art. 149, § 2º, I, da Constituição Federal. VIII - Assenta
esta Suprema Corte a tese da inconstitucionalidade da
incidência da contribuição ao PIS e da COFINS não
cumulativas sobre os valores auferidos por empresa
exportadora em razão da transferência a terceiros de créditos
de ICMS. IX - Ausência de afronta aos arts. 155, § 2º, X, 149,
§ 2º, I, 150, § 6º, e 195, caput e inciso I, “b”, da Constituição
Federal. Recurso extraordinário conhecido e não provido,
aplicando-se aos recursos sobrestados, que versem sobre o
tema decidido, o art. 543-B, § 3º, do CPC (i-730).

05. EMB. DECL. NO RE N. 581.906-SC / RELATOR: MIN.


DIAS TOFFOLI / EMENTA: Embargos de declaração
recebidos como agravo regimental. Tributário. Repercussão
geral. Prodec. Programa de incentivo fiscal de Santa
Catarina. Retenção, pelo Estado, de parcela destinada aos
municípios. Inconstitucionalidade. RE nº 572.762–RG. 1. A
jurisprudência da Corte é pacífica no sentido de que o
repasse da quota constitucionalmente devida aos
municípios não pode sujeitar-se à condição prevista em
programa de benefício fiscal de âmbito estadual. A
limitação acaba por configurar indevida interferência do
Estado no sistema constitucional de repartição de
receitas tributárias. 2. Agravo regimental ao qual se nega
provimento. Multa (i-731).

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Informativo de Jurisprudência
Dr. George Felício, advogado
do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

Superior Tribunal de Justiça


Selecionado a partir dos informativos 531 e 532 do STJ financeira, o agente arrecadador, de sorte que a relação
existente entre esta e o mutuário é decorrente da
transferência ao Fisco do valor integral da exação tributária.
CIVIL E PROCESSO CIVIL Esse é o objeto do financiamento acessório, sujeito às
mesmas condições e taxas do mútuo principal destinado ao
01. Direito processual civil. Competência para processar e pagamento do bem de consumo. Nesse contexto, o fato de a
julgar execução fiscal. Recurso repetitivo (art. 543-C do CPC instituição financeira arrecadadora financiar o valor devido
e Res. 8/2008-STJ): Na hipótese em que, em razão da pelo consumidor à Fazenda não padece de ilegalidade ou
inexistência de vara da Justiça Federal na localidade do abusividade. Ao contrário, atende aos interesses do
domicílio do devedor, execução fiscal tenha sido ajuizada financiado, que não precisa desembolsar de uma única vez
pela União ou por suas autarquias em vara da Justiça todo o valor, ainda que para isso esteja sujeito aos encargos
Federal sediada em local diverso, o juiz federal poderá previstos no contrato. Tese firmada para fins do art. 543-C do
declinar, de ofício, da competência para processar e CPC: “Podem as partes convencionar o pagamento do
julgar a demanda, determinando a remessa dos autos Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF)
para o juízo de direito da comarca do domicílio do por meio de financiamento acessório ao mútuo principal,
executado. Isso porque, nas comarcas do interior onde sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais.” (REsp
não funcionar vara da Justiça Federal, os juízes 1.251.331-RS e REsp 1.255.573-RS / i-531).
estaduais são competentes para processar e
julgar os executivos fiscais da União e de suas 03. Direito processual civil. Competência do
autarquias ajuizados contra devedores Estudando para a AGU? juízo deprecado para a degravação de
domiciliados nas respectivas comarcas (art. Não deixe de conhecer o depoimentos colhidos: O juízo deprecado
15, I, da Lei 5.010/1966). Portanto, a “e não o deprecante” é o competente
Curso Preparatório para para a degravação dos depoimentos
decisão do juiz federal que declina da
competência quando a norma do art. 15, as carreiras da testemunhais colhidos e registrados
I, da Lei 5.010/1966 deixa de ser Advocacia-Geral da União por método não convencional (como
observada não está sujeita à Súmula 33 taquigrafia, estenotipia ou outro
do STJ, segundo a qual “a incompetência
(AGU) método idôneo de documentação) no
relativa não pode ser declarada de ofício”. Totalmente online e com cumprimento da carta precatória. De
No mesmo sentido é o teor da Súmula 40 todos os pontos do edital! fato, a redação dada pela Lei 8.952/1994
do TFR, segundo a qual "a execução fiscal ao “caput” do art. 417 do CPC, ao
da Fazenda Pública Federal será proposta www.ebeji.com.br possibilitar o registro dos depoimentos de
perante o Juiz de Direito da comarca do testemunhas por “taquigrafia, estenotipia ou
domicílio do devedor, desde que não seja ela sede outro método idôneo de documentação”, não só
de vara da Justiça Federal". "Será proposta", diz o texto, permitiu tornar mais céleres os depoimentos “tendo em
a significar que não há opção, nem relatividade. Cabe vista a desnecessidade, em princípio, de sua redução a
ressaltar, ademais, que essa regra pretende facilitar tanto termo”, mas também possibilitou registro fiel da íntegra do
a defesa do devedor quanto o aparelhamento da ato, com imagem e som, em vez da simples escrita. Além
execução, que assim não fica, em regra, sujeita a disso, no que diz respeito à necessidade de degravação dos
cumprimento de atos por cartas precatórias (REsp depoimentos colhidos, tem-se que, nos termos do § 1º do art.
1.146.194-SC / i-531). 417 do CPC, os depoimentos somente deverão ser
datilografados “quando houver recurso da sentença ou
02. Direito civil. Possibilidade de financiamento do IOF. noutros casos, quando o juiz o determinar, de ofício ou a
Recurso repetitivo (Art. 543-C do CPC e Res. 8/2008-STJ): requerimento da parte”. Nessa conjuntura, o Poder Judiciário
Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto tem buscado, nos recursos tecnológicos, meios para otimizar
sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de a prestação jurisdicional em busca de celeridade. Todavia,
financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos devem-se harmonizar todos os interesses daqueles que
mesmos encargos contratuais. Não se discute que a atuam no feito, observando-se o devido processo legal.
obrigação tributária arrecadatória e o recolhimento do tributo Nesse contexto, a regra trazida pelo CPC “de
à Fazenda Nacional são cumpridos por inteiro pela instituição desnecessidade de degravação e de não transcrição dos

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depoimentos orais registrados por taquigrafia, estenotipia ou sobre terceiro, estranho ao dever de alimentar. De fato, a
outro método idôneo de documentação” deve adequar-se à prisão administrativa atinge apenas o devedor de alimentos,
hipótese em que ocorra a deprecação do ato, pois, para que segundo o art. 733, § 1°, do CPC, e não terceiros. Dessa
o juízo deprecante tome conhecimento do conteúdo dos forma, sendo o inventariante um terceiro na relação entre
depoimentos colhidos pelo juízo deprecado, tem-se por exequente e executado “ao espólio é que foi transmitida a
necessária a degravação dos testemunhos. Dessa maneira, obrigação de prestar alimentos (haja vista o seu caráter
torna-se de observância obrigatória pelo juízo deprecado personalíssimo)”, configura constrangimento ilegal a coação,
a realização do procedimento de transcrição dos sob pena de prisão, a adimplir obrigação do referido espólio,
depoimentos como parte do cumprimento integral da quando este não dispõe de rendimento suficiente para tal fim.
carta precatória (CC 126.747-RS / i-531). Efetivamente, o inventariante nada mais é do que,
substancialmente, auxiliar do juízo (art. 139 do CC/2002),
04. Direito processual civil. Competência para o não podendo ser civilmente preso pelo descumprimento
processamento de execução de prestação alimentícia: Na de seus deveres, mas sim destituído por um dos motivos
definição da competência para o processamento de execução do art. 995 do CC/2002. Deve-se considerar, ainda, que o
de prestação alimentícia, cabe ao alimentando a escolha próprio herdeiro pode requerer pessoalmente ao juízo,
entre: a) o foro do seu domicílio ou de sua residência; b) o durante o processamento do inventário, a antecipação de
juízo que proferiu a sentença exequenda; c) o juízo do local recursos para a sua subsistência, podendo o magistrado
onde se encontram bens do alimentante sujeitos à conferir eventual adiantamento de quinhão necessário à sua
expropriação; ou d) o juízo do atual domicílio do alimentante. mantença, dando assim efetividade ao direito material da
De fato, o descumprimento de obrigação alimentar, antes de parte pelos meios processuais cabíveis, sem que se ofenda,
ofender a autoridade de uma decisão judicial, viola o direito à para tanto, um dos direitos fundamentais do ser humano, a
vida digna de quem dela necessita (art. 1º, III, da CF). Em liberdade (HC 256.793-RN / i-531).
face dessa peculiaridade, a interpretação das normas
relativas à competência, quando o assunto é alimentos, deve, 06. Direito civil e processual civil. Legitimidade para buscar
sempre, ser a mais favorável aos alimentandos, sobretudo reparação de prejuízos decorrentes de violação da imagem e
em se tratando de menores, por incidência, também, do da memória de falecido: Diferentemente do que ocorre em
princípio do melhor interesse e da proteção integral à criança relação ao cônjuge sobrevivente, o espólio não tem
e ao adolescente (art. 3º da Convenção sobre os Direitos da legitimidade para buscar reparação por danos morais
Criança e art. 1º do ECA). Nesse contexto, é relativa (e não decorrentes de ofensa post mortem à imagem e à
absoluta) a presunção legal de que o alimentando, diante memória de pessoa. De acordo com o art. 6º do CC -
de seu estado de premente necessidade, tem dificuldade segundo o qual “a existência da pessoa natural termina com
de propor a ação em foro diverso do seu próprio a morte [...]” -, os direitos da personalidade de pessoa natural
domicílio ou residência, que dá embasamento à regra do se encerram com a sua morte. Todavia, o parágrafo único
art. 100, II, do CPC, segundo a qual é competente o foro “do dos arts. 12 e 20 do CC estabeleceram duas formas de tutela
domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em póstuma dos direitos da personalidade. O art. 12 dispõe que,
que se pedem alimentos”, de modo que o alimentando pode em se tratando de morto, terá legitimidade para requerer a
renunciar à referida presunção se lhe for mais conveniente cessação de ameaça ou lesão a direito da personalidade, e
ajuizar a ação em local diverso. Da mesma forma, ainda que para reclamar perdas e danos, o cônjuge sobrevivente ou
se trate de execução de alimentos “forma especial de qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
execução por quantia certa”, deve-se adotar o mesmo O art. 20, por sua vez, determina que, em se tratando de
raciocínio, permitindo, assim, a relativização da competência morto, o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes são
funcional prevista no art. 475-P do CPC, em virtude da partes legítimas para requerer a proibição de divulgação de
natureza da prestação exigida. Desse modo, deve-se escritos, de transmissão de palavras, ou de publicação,
resolver a aparente antinomia havida entre os arts. 475-P, exposição ou utilização da imagem da pessoa falecida. O
II e parágrafo único, 575, II, e 100, II, do CPC em favor do espólio, entretanto, não pode sofrer dano moral por constituir
reconhecimento de uma regra de foro concorrente para o uma universalidade de bens e direitos, sendo representado
processamento de execução de prestação alimentícia pelo inventariante (art. 12, V, do CPC) para questões
que permita ao alimentando escolher entre: a) o foro do relativas ao patrimônio do de cujus. Dessa forma, nota-se que
seu domicílio ou de sua residência (art. 100, II, CPC); b) o o espólio, diferentemente do cônjuge sobrevivente, não
juízo que proferiu a sentença exequenda (art. 475-P, II, e possui legitimidade para postular reparação por prejuízos
art. 575, II, do CPC); c) o juízo do local onde se encontram decorrentes de ofensa, após a morte do de cujus, à memória
bens do alimentante sujeitos à expropriação (parágrafo e à imagem do falecido (REsp 1.209.474-SP / i-532).
único do art. 475-P do CPC); ou d) o juízo do atual
domicílio do alimentante (parágrafo único do art. 475-P do 07. Direito processual civil. Momento adequado para a
CPC) (CC 118.340-MS / i-531). alegação de suspeição do perito: A parte não pode deixar
para arguir a suspeição de perito apenas após a
05. Direito civil. Impossibilidade de prisão civil do apresentação de laudo pericial que lhe foi desfavorável.
inventariante pelo inadimplemento de pensão alimentícia: Por se tratar de nulidade relativa, a suspeição do perito deve
Não cabe prisão civil do inventariante em razão do ser arguida na primeira oportunidade em que couber à parte
descumprimento do dever do espólio de prestar manifestar-se nos autos, ou seja, no momento da sua
alimentos. Isso porque a restrição da liberdade constitui nomeação, demonstrando o interessado o prejuízo
sanção de natureza personalíssima que não pode recair eventualmente suportado sob pena de preclusão (art. 245 do

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CPC). Permitir que a alegação de irregularidade da decorrentes da procedência de ação revocatória não
perícia possa ser realizada pela parte após a publicação podem ser compensados com eventual crédito habilitado
do laudo pericial que lhe foi desfavorável seria o mesmo no processo de falência pelo réu condenado. Isso porque
que autorizá-la a plantar uma nulidade, o que não se à ação revocatória subjaz uma situação de ilegalidade
coaduna com o sistema jurídico pátrio, que rejeita o preestabelecida em prejuízo da coletividade de credores,
venire contra factum proprium (AgRg na MC 21.336-RS / i- ilegalidade que não pode beneficiar quem a praticou,
532). viabilizando satisfação expedita de seus créditos. Nessa
ordem de ideias, a ação revocatória, de eficaz
instrumento vocacionado à restituição de bens que
COMERCIAL / EMPRESARIAL escoaram fraudulentamente do patrimônio da falida,
tornar-se-ia engenhosa ferramenta de lavagem de
01. Direito empresarial. Sujeição de crédito derivado de capitais recebidos em desconformidade com a par
honorários advocatícios sucumbenciais à recuperação conditio creditorum. Ademais, a doutrina vem apregoando
judicial: Os créditos derivados de honorários advocatícios que as hipóteses legais que impedem a compensação do
sucumbenciais estão sujeitos aos efeitos da recuperação crédito perante a massa não estão listadas exaustivamente
judicial, mesmo que decorrentes de condenação no art. 46 do Decreto-Lei n. 7.661/1945 (correspondente, em
proferida após o pedido de recuperação. De fato, essa parte, ao art. 122 da Lei n. 11.101/2005). Aplicam-se também
verba não pode ser considerada como "créditos existentes à ao direito falimentar as hipóteses que vedam a compensação
data do pedido de recuperação judicial" (art. 49 da Lei previstas no direito comum, como aquelas previstas nos arts.
11.101/2005) na hipótese que tenha nascido de sentença de 1.015 a 1.024 do CC de 1916, entre as quais se destaca a
prolatada em momento posterior ao pedido de recuperação. compensação realizada em prejuízo de direitos de terceiros
Essa circunstância, todavia, não é suficiente para excluí- (art. 1.024) (REsp 1.121.199-SP / i-531).
la, automaticamente, das consequências da
recuperação judicial. Cabe registrar que 03. Direito empresarial. Termo inicial dos juros de
possuem natureza alimentar os honorários mora relativos a crédito veiculado em cheque:
advocatícios, tanto os contratualmente
Prepare-se para os Os juros de mora sobre a importância de
pactuados como os de sucumbência. concursos da Advocacia- cheque não pago contam-se da primeira
Desse modo, tanto honorários Geral da União com apresentação pelo portador à
advocatícios quanto créditos de instituição financeira, e não da citação
origem trabalhista constituem verbas
que ostentam natureza alimentar. GEAGU do sacador. A mora ex re independe de
qualquer ato do credor, como interpelação
ou citação, porquanto decorre do próprio
Como consequência dessa afinidade Resolução de questões
ontológica, impõe-se dispensar-lhes, na inadimplemento de obrigação positiva,
espécie, tratamento isonômico, de modo
objetivas, peças, pareceres e líquida e com termo implementado, desde
que aqueles devem seguir “na ausência de dissertações que não seja daquelas em que a própria lei
disposição legal específica” os ditames www.ebeji.com.br afasta a constituição de mora automática.
aplicáveis às quantias devidas em virtude da Assim, em se tratando de mora ex re, aplica-
relação de trabalho. Assim, em relação à ordem se o antigo e conhecido brocardo dies interpellat
de classificação dos créditos em processos de pro homine (o termo interpela no lugar do credor).
execução concursal, os honorários advocatícios têm Com efeito, fica límpido que o art. 219 do CPC, assim
tratamento análogo àquele dispensado aos créditos como o 405 do CC, deve ser interpretado à luz do
trabalhistas. É necessário ressaltar que os créditos ordenamento jurídico, tendo aplicação residual para casos de
trabalhistas estão submetidos aos efeitos da mora ex persona - evidentemente, se ainda não houve a
recuperação judicial, ainda que reconhecidos em juízo prévia constituição em mora por outra forma legalmente
posteriormente ao seu processamento. Dessa forma, a admitida. Assim, citação implica caracterização da mora
natureza comum de ambos os créditos “honorários apenas se ela já não tiver ocorrido pela materialização de
advocatícios de sucumbência e verbas trabalhistas” uma das diversas hipóteses indicadas no ordenamento
autoriza que sejam regidos, para efeitos de sujeição à jurídico. No caso, a matéria referente aos juros relativos à
recuperação judicial, da mesma forma. Sabe-se que o art. cobrança de crédito estampado em cheque por seu portador
24 do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) prevê a é regulada pela Lei do Cheque, que estabelece a incidência
necessidade de habilitação dos créditos decorrentes de dos juros de mora a contar da primeira apresentação do título
honorários quando se constatar a ocorrência de "concurso de (art. 52, II). Ademais, por materializar uma ordem a
credores, falência, liquidação extrajudicial, concordata ou terceiro para pagamento à vista, o momento natural de
insolvência civil". É importante ressaltar que o Estatuto da realização do cheque é a apresentação (art. 32), quando a
Advocacia (Lei 8.906/1994) é anterior à publicação da Lei de instituição financeira verifica a existência de
Recuperação Judicial e Falência (Lei 11.101/2005), de modo disponibilidade de fundos (art. 4º, § 1º), razão pela qual a
que, por imperativo lógico, não se poderia exigir que apresentação é necessária (REsp 1.354.934-RS / i-532).
vislumbrasse nas hipóteses de concessão de recuperação
judicial (REsp 1.377.764-MS / i-531).
CONSUMIDOR
02. Direito empresarial. Compensação no processo
falimentar: Os valores a serem restituídos à massa falida 01. Direito do consumidor. Exigência de caução para

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atendimento médico de emergência: É incabível a exigência interesse estatal na aplicação de pena, de idêntico modo,
de caução para atendimento médico-hospitalar não deve haver interesse na aplicação de medida
emergencial. Antes mesmo da vigência da Lei socioeducativa (HC 251.681-PR / i-531).
12.653/2012, a Quarta Turma do STJ (REsp 1.256.703-SP,
DJe 27/9/2011) já havia se manifestado no sentido de que
é dever do estabelecimento hospitalar, sob pena de
responsabilização cível e criminal, da sociedade PENAL E PROCESSO PENAL
empresária e prepostos, prestar o pronto atendimento.
Com a superveniente vigência da Lei 12.653/2012, que 01. Direito penal. Comunicabilidade do arrependimento
veda a exigência de caução e de prévio preenchimento posterior: Uma vez reparado o dano integralmente por um
de formulário administrativo para a prestação de dos autores do delito, a causa de diminuição de pena do
atendimento médico-hospitalar premente, a solução para arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP,
o caso é expressamente conferida por norma de caráter estende-se aos demais coautores, cabendo ao julgador
cogente (REsp 1.324.712-MG / i-532). avaliar a fração de redução a ser aplicada, conforme a
atuação de cada agente em relação à reparação
efetivada. De fato, trata-se de circunstância comunicável,
em razão de sua natureza objetiva. Deve-se observar,
portanto, o disposto no art. 30 do CP, segundo o qual "não se
CRIANÇA E ADOLESCENTE comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime" (REsp
01. Direito da criança e do adolescente e penal. 1.187.976-SP / i-531).
Aplicabilidade de escusa absolutória na hipótese de ato
infracional: Nos casos de ato infracional equiparado a 02. Direito processual penal. Processo administrativo para
crime contra o patrimônio, é possível que o adolescente aplicação de falta disciplinar ao preso. Recurso repetitivo (art.
seja beneficiado pela escusa absolutória prevista no art. 543-C do CPC e Res. 8/2008-STJ): Para o reconhecimento
181, II, do CP. De acordo com o referido artigo, é isento de da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução
pena, entre outras hipóteses, o descendente que comete penal, é imprescindível a instauração de procedimento
crime contra o patrimônio em prejuízo de ascendente, administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional,
ressalvadas as exceções delineadas no art. 183 do mesmo assegurado o direito de defesa, a ser realizado por
diploma legal, cujo teor proíbe a aplicação da escusa: a) se o advogado constituído ou defensor público nomeado. No
crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja âmbito da execução penal, a atribuição de apurar a conduta
emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; b) ao faltosa do detento, assim como realizar a subsunção do fato à
estranho que participa do crime; ou c) se o crime é praticado norma legal, ou seja, verificar se a conduta corresponde a
contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. uma falta leve, média ou grave, e aplicar eventual sanção
Efetivamente, por razões de política criminal, com base disciplinar é do diretor do estabelecimento prisional, em razão
na existência de laços familiares ou afetivos entre os de ser o detentor do poder disciplinar (Seção III do Capítulo
envolvidos, o legislador optou por afastar a punibilidade IV da LEP). Não se olvida, entretanto, que, em razão do
de determinadas pessoas. Nessa conjuntura, se cumpre cometimento de falta de natureza grave, determinadas
aos ascendentes o dever de lidar com descendentes consequências e sanções disciplinares são de competência
maiores que lhes causem danos ao patrimônio, sem que do juiz da execução penal, quais sejam, a regressão de
haja interesse estatal na aplicação de pena, também não regime (art. 118, I), a revogação de saída temporária (art.
se observa, com maior razão, interesse na aplicação de 125), a perda dos dias remidos (art. 127) e a conversão de
medida socioeducativa ao adolescente pela prática do pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181,
mesmo fato. Com efeito, tendo em mente que, nos termos § 1º, d, e § 2º). A propósito, o art. 48 estabelece que a
do art. 103 do ECA, ato infracional é a conduta descrita como autoridade administrativa “representará” ao juiz da execução
crime ou contravenção penal, é possível a aplicação de penal para adoção dessas sanções disciplinares de
algumas normas penais na omissão do referido diploma legal, competência do juiz da execução penal. Dessa forma,
sobretudo na hipótese em que se mostrarem mais benéficas constata-se que a LEP não deixa dúvida ao estabelecer que
ao adolescente. Ademais, não há razoabilidade no todo o "processo" de apuração da falta disciplinar
contexto em que é prevista imunidade absoluta ao sujeito (investigação e subsunção), assim como a aplicação da
maior de 18 anos que pratique crime em detrimento do respectiva punição, é realizado dentro da unidade
patrimônio de seu ascendente, mas no qual seria penitenciária, cuja responsabilidade é do seu diretor.
permitida a aplicação de medida socioeducativa, diante Somente se for reconhecida a prática de falta disciplinar de
da mesma situação fática, ao adolescente. De igual natureza grave pelo diretor do estabelecimento prisional, é
modo, a despeito da função reeducativa ou pedagógica que será comunicado ao juiz da execução penal para que
da medida socioeducativa que eventualmente vier a ser aplique determinadas sanções, que o legislador,
imposta, não é razoável a ingerência do Estado nessa excepcionando a regra, entendeu por bem conferir caráter
relação específica entre ascendente e descendente, jurisdicional. No tocante à formalização dessa sequência de
porque, a teor do disposto no art. 1.634, I, do CC, atos concernentes à apuração da conduta faltosa do detento
compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores, e aplicação da respectiva sanção, o art. 59 da LEP é
dirigir-lhes a criação e educação. Portanto, se na expresso ao determinar que: “praticada a falta disciplinar,
presença da imunidade absoluta aqui tratada não há deverá ser instaurado o procedimento para a sua apuração,

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conforme regulamento, assegurado o direito de defesa”. E as sanções disciplinares de sua competência, dentre elas,
mais, mesmo sendo a referida lei do ano de 1984, portanto, quando for o caso, a regressão de regime, ocasião em que o
anterior à CF de 1988, ficou devidamente assegurado o apenado deverá ser previamente ouvido, por meio de sua
direito de defesa do preso, que abrange não só a autodefesa, defesa técnica. Dessarte, verifica-se que a defesa do
mas também a defesa técnica, a ser realizada por profissional sentenciado no procedimento administrativo disciplinar
devidamente inscrito nos quadros da OAB. Não por outro revela-se muito mais abrangente em relação à sua oitiva
motivo o legislador disciplinou expressamente nos arts. 15, prevista no art. 118, § 2º, da LEP, tendo em vista que esta
16 e 83, § 5º, da LEP, a obrigatoriedade de instalação da tem por finalidade tão somente a questão acerca da
Defensoria Pública nos estabelecimentos penais, a fim de regressão de regime, a ser determinada ou não pelo juiz da
assegurar a defesa técnica daqueles que não possuírem execução. Nota-se que os procedimentos não se confundem.
recursos financeiros para constituir advogado. Ademais, vale Ora, se de um lado, o PAD visa apurar a ocorrência da
ressaltar que o direito de defesa garantido ao sentenciado própria falta grave, com observância do contraditório e da
tem assento constitucional, mormente porque o ampla defesa, bem como a aplicação de diversas sanções
reconhecimento da prática de falta disciplinar de natureza disciplinares pela autoridade administrativa; de outro, a oitiva
grave acarreta consequências danosas que repercutem, em do apenado tem como único objetivo a aplicação da sanção
última análise, em sua liberdade. Com efeito, os incisos LIV e concernente à regressão de regime, exigindo-se, por óbvio,
LV do art. 5º da CF respaldam a obrigatoriedade da presença que já tenha sido reconhecida a falta grave pelo diretor do
de defensor regularmente constituído na OAB, em presídio. Conquanto a execução penal seja uma atividade
procedimento administrativo disciplinar, no âmbito da complexa, pois desenvolve-se nos planos jurisdicional e
execução da pena. No particular, registre-se que a Súmula administrativo, da leitura dos dispositivos da LEP,
Vinculante 5, a qual dispõe que “a falta de defesa técnica por notadamente do seu art. 66, que dispõe sobre a
advogado no processo administrativo disciplinar não competência do juiz da execução, conclui-se que
ofende a Constituição”, não se aplica à execução não há nenhum dispositivo autorizando o
penal. Primeiro, porque todos os precedentes magistrado instaurar diretamente
utilizados para elaboração do aludido verbete Estudando para a DPU? procedimento judicial para apuração de
sumular são originários de questões não falta grave. Assim, embora o juiz da Vara
penais, onde estavam em discussão
Não deixe de conhecer o de Execuções Penais possa exercer,
procedimentos administrativos de quando provocado, o controle de
natureza previdenciária (RE 434.059); Curso Preparatório para legalidade dos atos administrativos
fiscal (AI 207.197); disciplinar-estatutário realizados pelo diretor do
militar (RE 244.027); e tomada de contas
o concurso de Defensor estabelecimento prisional, bem como
especial (MS 24.961). Segundo, porque, Público Federal possua competência para
conforme mencionado, na execução da Totalmente online e determinadas questões no âmbito da
pena está em jogo a liberdade do execução penal, não lhe é permitido
sentenciado, o qual se encontra em baseado no último edital! adentrar em matéria de atribuição
situação de extrema vulnerabilidade, www.ebeji.com.br exclusiva da autoridade administrativa, no
revelando-se incompreensível que ele possa que concerne à instauração do
exercer uma ampla defesa sem o conhecimento procedimento para fins de apuração do
técnico do ordenamento jurídico, não se podendo, cometimento de falta disciplinar pelo preso, sob
portanto, equipará-lo ao indivíduo que responde a processo pena de afronta ao princípio da legalidade (REsp
disciplinar na esfera cível-administrativa. Ademais, observa- 1.378.557-RS / i-532).
se que o Regulamento Penitenciário Federal, aprovado pelo
Dec. 6.049/2007 “que disciplina as regras da execução da 03. Direito penal. Prescrição da pretensão executória: A
pena em estabelecimento prisional federal, seguindo a diretriz possibilidade de ocorrência da prescrição da pretensão
traçada pela Lei 7.210/1984 (LEP)”, determina executória surge somente com o trânsito em julgado da
expressamente a obrigatoriedade de instauração de condenação para ambas as partes. Isso porque o título
procedimento administrativo para apuração de falta penal executório surge a partir da sentença condenatória
disciplinar, bem como a imprescindibilidade da presença de definitiva, isto é, com o trânsito em julgado para
advogado. Seria, portanto, um verdadeiro contrassenso acusação e defesa, quando também surgirá a
admitir que o preso que cumpre pena em estabelecimento possibilidade de ocorrência da prescrição executória.
penal federal, regido pelo aludido Decreto, possua mais Antes do trânsito em julgado para ambas as partes,
direitos e garantias em relação àquele que esteja cumprindo eventual prescrição será da pretensão punitiva. Todavia,
pena em presídio estadual. Ademais, quanto ao disposto no esse entendimento não altera o termo inicial da
art. 118, I e § 2º, da LEP “que determina que o apenado deva contagem do lapso prescricional, o qual começa da data
ser ouvido previamente antes de ser regredido em que a condenação transitou em julgado para a
definitivamente de regime”, mesmo que se entenda que acusação, conforme dispõe expressamente o art. 112, I,
somente o juiz possa ouvi-lo, não se pode perder de vista que do CP (HC 254.080-SC / i-532).
antes de ser aplicada qualquer sanção disciplinar pela prática
de falta grave deve ser instaurado o devido procedimento 04. Direito processual penal. Ilegalidade no reconhecimento
administrativo pelo diretor do presídio. Somente após todo de falta grave: A mudança de endereço sem autorização
esse procedimento é que o diretor do estabelecimento judicial durante o curso do livramento condicional, em
prisional representará ao juiz da execução para que aplique descumprimento a uma das condições impostas na

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http://www.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 56 – Janeiro/2014

decisão que concedeu o benefício, não configura, por si necessidade de lei ordinária, diante da diversidade de
só, falta disciplinar de natureza grave. Com efeito, essa situações jurídicas semelhantes (AI no REsp 1.266.318-RN /
conduta não está prevista no art. 50 da LEP, cujo teor i-532).
estabelece, em rol taxativo, as hipóteses de falta grave, a
saber, as situações em que o condenado à pena privativa de 03. Direito tributário. Caução para expedição de certidão
liberdade: a) incitar ou participar de movimento para positiva com efeitos de negativa: O contribuinte pode, após
subverter a ordem ou a disciplina; b) fugir; c) possuir, o vencimento de sua obrigação e antes da execução
indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade fiscal, garantir o juízo de forma antecipada mediante o
física de outrem; d) provocar acidente de trabalho; e) oferecimento de fiança bancária, a fim de obter certidão
descumprir, no regime aberto, as condições impostas; f) positiva com efeitos de negativa. De fato, a prestação de
inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do artigo 39 caução mediante o oferecimento de fiança bancária,
da LEP; e g) tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho ainda que no montante integral do valor devido, não se
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação encontra encartada nas hipóteses elencadas no art. 151
com outros presos ou com o ambiente externo. Desse modo, do CTN, não suspendendo a exigibilidade do crédito
não é possível o reconhecimento da falta grave com tributário. Entretanto, tem o efeito de garantir o débito
fundamento na simples mudança de endereço durante o exequendo em equiparação ou antecipação à penhora,
curso do livramento condicional, sem que evidenciada permitindo-se, neste caso, a expedição de certidão
situação de fuga, sob pena de ofensa ao princípio da positiva com efeitos de negativa (AgRg no Ag 1.185.481-
legalidade (HC 203.015-SP / i-532). DF / i-532).

TRIBUTÁRIO

01. Direito tributário. Formação da certidão de dívida ativa: A


ausência de prévio processo administrativo não enseja a
nulidade da Certidão de Dívida Ativa (CDA) nos casos de
tributos sujeitos a lançamento de ofício. Com efeito, cabe
ao contribuinte impugnar administrativamente a
cobrança tributária e não ao fisco que, com observância
da lei aplicável ao caso, lançou o tributo (AgRg no AREsp
370.295-SC / i-531).

02. Direito tributário. Manutenção da penhora na hipótese de


parcelamento tributário: São constitucionais os arts. 10 e
11, I, segunda parte, da Lei 11.941/2009, que não exigem
a apresentação de garantia ou arrolamento de bens para
o parcelamento de débito tributário, embora autorizem,
nos casos de execução fiscal já ajuizada, a manutenção
da penhora efetivada. Não há infringência ao princípio
constitucional da isonomia tributária (art. 150, II, CF), pois
o que a lei realiza, ao regrar a faculdade de obtenção do
parcelamento “sem contudo determinar o cancelamento
da penhora”, é distinguir situações diversas, ou seja,
aquela em que ainda não haja penhora decorrente do
ajuizamento da execução fiscal, e aquela em que já exista
a penhora decretada judicialmente. Note-se que o
devedor que ainda não chegou a ser acionado revela-se,
em princípio e concretamente, menos recalcitrante ao
adimplemento da dívida tributária do que o devedor que
já chegou a ter contra si processo de execução e
penhora, devedor este que, certamente, tem débito mais
antigo - tanto que lhe foi possível antes o questionar,
inclusive em processo administrativo. A garantia, no caso
do devedor que já tem penhora contra si, deve realmente ser
tratada com maior cautela, em prol da Fazenda Pública.
Assim, a distinção das situações jurídicas leva à diferença de
tratamento das consequências. Isso quer dizer que, já
havendo penhora em execução fiscal ajuizada, a exigibilidade
do crédito tributário não se suspende, permanecendo intacto,
exigível. A propósito, os comandos legais em questão não
pressuporiam lei complementar (art. 146, III, b, da CF c/c art.
97, VI, do CTN), pois a reserva legal não vai além da

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