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A AMAZÔNIA LEGAL
Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro1; Marcelo de Ávila Chaves2; Vicente Paulo Soares1;
Humberto Paulo Euclydes3
Abstract- With the advent of Geographic Information Systems (GIS) technology and the increasing
availability of high-resolution digital elevation models (DEM), the automated derivation of basin
physiographic characteristics has become a viable alternative to traditional, manual extraction of
these parameters from topographic maps. This is particularly important when dealing with
watersheds of the size of the Amazon basin. This paper presents the main issues related to the
development of a gridded topographic database for the entire Legal Amazon region, which
encompasses an area of 4.8 million square kilometers. The integration of the vector hydrography
layer into the DEM and assuring the correctness of the flowdirection on flat areas in the DEM posed
a major challenge for this task. The solutions adopted in this study play a crucial role for improving
1
Universidade Federal de Viçosa; Departamento de Engenharia Florestal; Campus Universitário; 36.571-000; Viçosa;
MG; (31)38991186; (31)38992478; cribeiro@mail.ufv.br
2
Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais;; Av. José Cândido da Silveira no 2000 - Horto; 30.330-120; Belo
Horizonte; MG; (31)34892395;; avila@cetec.br
3
Universidade Federal de Viçosa; Departamento de Engenharia Agrícola; Convênio RuralMinas-UFV; 36.571-000;
Viçosa; MG; (31)38992851; (31)38992735; hpeuclyd@mail.ufv.br
the accuracy of digital watershed delineation and to derive the corresponding physiographic
parameters.
INTRODUÇÃO
A caracterização do terreno por meio de seus parâmetros fisiográficos tornou-se um capítulo
importante na modelagem de processos hidrológicos. Há muito reconhece-se a topografia como
fator dominante nos processos e fenômenos de superfície, ditando a distribuição espacial do clima,
que é uma variável ambiental controladora da distribuição e da produtividade dos sistemas
biológicos. A topografia também influencia, diretamente, o escoamento superficial e subterrâneo de
água e, por conseguinte, o potencial de erosão e a umidade do solo, afetando suas características
físicas e químicas (Hutchinson, 1996).
O uso de modelos digitais de elevação (MDE), com o propósito de automatizar o
delineamento da bacia hidrográfica e da sua respectiva rede de drenagem, tem crescido
substancialmente nos últimos anos. Com o advento de sofisticados e poderosos algoritmos,
possibilitando um processamento rápido e eficiente de um grande volume de informações, as
abordagens automatizadas têm substituido, com vantagens, os métodos manuais tradicionalmente
utilizados – mapas e levantamentos de campo – na extração das características morfométricas das
bacias hidrográficas. Tais vantagens incluem, dentre outras, a confiabilidade e a reprodutibilidade,
economia de tempo e de mão de obra, gerando resultados que, no contexto da informação digital,
podem ser facilmente conectados a outras bases de dados, compiladas para a região de estudo
(Saunders, 1999). Antes da popularização dos sistemas de informações geográficas (SIG), qualquer
tentativa de se obter parâmetros fisiográficos mais complexos tais como declividade, comprimento
do curso d’água principal, densidade de drenagem, etc, era seriamente dificultada pelo volume de
trabalho, limitando sobremaneira diversas aplicações potenciais de análise de escoamento
superficial (Garbrecht e Martz, 2000).
Durante a última década, diversos métodos foram desenvolvidos para automatizar o processo
de caracterização morfométrica do terreno. Isso assume uma conotação especial ao se trabalhar com
bacias hidrográficas do tamanho da Bacia Amazônica. Entretanto, para escalas iguais ou superiores
a 1:250.000, a região ainda carece de mapeamento altimétrico detalhado em diversas áreas. A única
fonte de informação de altimetria atualmente disponível é o Projeto GTOPO301, que possui
resolução horizontal de 1km, tendo sido desenvolvido em escala mundial pelo United States
Geological Survey (USGS). Tendo por diretriz a preocupação genuína e lúcida com a convergência
de ações que elevem a capacidade científica e tecnológica, base imprescindível para a utilização
racional dos recursos naturais da Amazônia e para a preservação de um dos mais belos, frágeis e
complexos ecossistemas de nosso planeta, o governo brasileiro coloca em operação o Projeto
SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia. Trata-se de um ambicioso programa para
implementar um sofisticado sistema regional de vigilância territorial e ambiental sem precedentes e
que combina detalhadas fontes de dados, continuamente atualizadas, com poderosas ferramentas de
suporte à decisão para criar uma vasta gama de soluções, contemplando diversas áreas que vão
desde a saúde, detecção de mudanças no uso da terra e da cobertura vegetal, passando pelos
monitoramentos climatológico e ambiental até o apoio necessário ao fiel cumprimento da legislação
ambiental. Os dados serão gerados a partir de sistemas imageadores de última geração instalados a
bordo de aeronaves EMB-145, projetadas e produzidas pela EMBRAER e especificamente
adaptadas paras as condições de vôo da Amazônia Legal, incluindo sensores multi e hiperespectrais
bem como perfilamento a laser e interferometria por Radar, esses últimos viabilizando a geração de
modelos digitais de elevação com resolução submétrica. Cada um desses sensores produz diferentes
tipos de dados que serão, finalmente, processados e agregados em uma base de informações
unificada, utilizando tecnologias de ponta desenvolvidas pela equipe técnica do Projeto SIVAM,
sendo então disponibilizada para uma ampla gama de usuários.
Porquanto certos estudos independam da estrutura adotada para o armazenamento das
informações, é certo que os estudos hidrológicos beneficiam-se sobremaneira de uma organização
topológica que tenha a bacia hidrográfica como base de endereçamento. Tal sistema impõe, antes de
mais nada, rigorosa caracterização do relevo, permitindo assim padronizar a extração e a
estruturação topológica para armazenamento e disseminação de informações morfométricas que
irão subsidiar o planejamento e a gestão de recursos hídricos, estudos hidrológicos de superfície e
quaisquer estudos que façam uso da forma e do relevo das bacias hidrográficas, evitando-se a
replicação onerosa de recursos e procedimentos e viabilizando, por fim, a criação de uma base de
dados unificada.
Um dos principais empecilhos ao uso dos modelos digitais de elevação na grande maioria dos
estudos hidrológicos é a discordância entre o traçado da hidrografia mapeada e o trajeto de
escoamento superficial derivado numericamente. Adicionalmente, encontram-se, com freqüência,
depressões espúrias ao longo da drenagem numérica, que impedem o escoamento contínuo até o
ponto de deságüe da bacia analisada. Tais fatos inviabilizam a correta delimitação da área de
contribuição à montante do ponto de interesse, comprometendo todas as demais etapas do estudo. O
problema torna-se ainda mais acentuado em regiões de planície, onde a informação altimétrica não
1
http://edcwww.cr.usgs.gov/landdaac/gtopo30/gtopo30.html
é suficientemente detalhada para carcterizar corretamente a calha do curso d’água. Esse é,
especificamente, o caso da Bacia Amazônica. No presente trabalho apresentam-se e discutem-se as
soluções adotadas para contornar essas limitações.
METODOLOGIA
Características do conjunto de dados
O desenvolvimento dos modelos digitais de elevação hidrologicamente consistentes, pela
equipe técnica do Departamento de Engenharia Florestal, no âmbito do convênio firmado entre o
SIVAM e a Universidade Federal de Viçosa, utiliza a base de dados digital de altimetria e
hidrografia produzida pelo IBGE. Esses temas foram digitalizados, no formato DGN, a partir dos
mapas originais em escala 1:250.000, adotando-se o sistema de projeção Cônica de Áreas
Verdadeiras de Albers. Considerando-se a escassez dos dados de altimetria para certas áreas da
Amazônia Legal, essa base foi convenientemente complementada com pontos cotados obtidos a
partir do GTOPO30, um modelo digital de elevação global, com resolução geométrica de 1km,
produzido e disponibilizado pelo USGS. A Figura 1 mostra a subdivisão adotada para a geração dos
modelos digitais de elevação hidrologicamente consistentes para a Amazônia Legal, tendo por base
a seqüência dos trabalhos de digitalização do IBGE.
Dados de hidrografia
O pré-processamento incluiu a derivação da linha de centro para os rios de margens duplas, a
fim de se produzir uma rede composta por arcos simples, conectados e orientados no sentido do
escoamento. Inicialmente a hidrografia vetorial foi desmembrada em duas pastas (coverages): uma
com topologia de polígonos, contendo os trechos de margens duplas, e outra, com topologia de
linhas, contendo os trechos da hidrografia mapeada respresentados por arcos simples. Para
automatizar o procedimento de identificação da linha de centro dos trechos de margens duplas, os
arcos desses polígonos foram primeiramente adensados quanto ao número de vértices, e os vértices
resultantes foram então convertidos em uma pasta de pontos, utilizando-se o comando
NODEPOINT do módulo Arc. Em seguida, procedeu-se à geração de polígonos de Thiessen para
essa pasta. Os polígonos de Thiessen contêm uma linha eqüidistante dos pontos originais,
materializando a linha central para os trechos de margens duplas (Ladak e Martinez, 1996). Após
diversas tentativas, a solução mais efetiva para separar a linha de centro foi a seleção manual dos
respectivos segmentos inicial e final, utilizando-se a opção SELECT PATH do módulo ArcEdit,
que é baseada no algoritmo do menor caminho. As diversas linhas de centro, associadas aos trechos
de margens duplas, foram então anexadas à pasta de arcos simples e manualmente conectadas ao rio
mais próximo.
Embora tenha sido originalmente concebida para identificar os arcos que formam um
polígono, a opção SELECT OUTLINE do módulo ArcEdit mostrou-se uma solução eficiente e
rápida para verificar a conectividade de todos os segmentos que compõem uma dada rede de
drenagem, bastando para isso selecionar qualquer arco da pasta de hidrografia. Se não houver arcos
desconectados, toda a rede será selecionada.
Dados de elevação
A fonte primária de dados de elevação foi o tema de curvas de nível, com eqüidistância
vertical de 50m, produzido pelo IBGE. Embora o método de interpolação do Arc/INFO permita a
imposição da drenagem, o programa age conservadoramente ao remover as depressões espúrias.
Isso significa que as condições de drenagem não serão impostas em locais que violem os dados
originais de elevação. Assim, os dados de altimetria deverão ser também cuidadosamente
verificados e editados de forma a coincidirem com os dados de hidrografia. A Figura 2 exemplifica
alguns tipos de erros comumente encontrados nas curvas de nível com relação ao traçado da
hidrografia. Considerando-se os procedimentos de restituição fotogramétrica adotados para ambos
os tipos de dados, conclui-se que os dados de hidrografia possuem uma acurácia locacional muito
mais elevada que a das curvas de nível, uma vez que a sua extração da rede hidrográfica é feita com
base na visualização de feições nítidas conquanto a extração das curvas de nível fundamenta-se na
interpretação do operador, sendo fortemente afetada pela presença de vegetação arbórea.
Pós-processamento
O objetivo primordial do TOPOGRID é produzir um modelo digital de elevação sem
despressões espúrias, condição sine qua non para a delimitação automática de qualquer bacia
hidrográfica e da respectiva rede de drenagem, bem como para a extração automática dos seus
parâmetros fisiográficos. Os modelos digitais de elevação gerados no TOPOGRID para relevos
suaves geralmente não satisfazem tais quesitos. A eliminação de tais discrepâncias exigiu ainda
vários refinamentos, descritos a seguir.
Aprofundamento da hidrografia
De uma maneira geral observa-se, ao longo dos rios e, principalmente em regiões
relativamente planas, uma falta de informação de altimetria detalhada o bastante para retratar
adequadamente esses vales no modelo digital de elevação. A principal conseqüencia disso é uma
severa discrepância entre o traçado da hidrografia vetorial mapeada e a respectiva rede de drenagem
derivada numericamente a partir desse modelo. A técnica de aprofundamento da hidrografia,
também conhecida como stream-burning, é a solução mais comumente adotada para integrar a
hidrografia vetorial ao modelo digital de elevação (Saunders, 1999). A hidrografia vetorial é
primeiramente convertida para um grid e então o valor de elevação de cada célula da hidrografia
rasterizada é obtido diretamente do modelo digital de elevação. É conveniente ressaltar que todas as
demais células desse grid de hidrografia são assinaladas com o valor NODATA. Em seguida, um
valor suficientemente grande, e.g., 1000m, é subtraído dos valores de elevação de todas as células
do MDE associadas à hidrografia, sendo os demais valores do modelo digital de elevação mantidos
inalterados. O efeito final é o de um fosso bastante profundo ao longo da hidrografia.
Z
Zmrg − Zrios
Zp = × distrios + Zrios
distrios + dist mrg
Z-mrg
P
ZP
Z-rios dist-mrg
dist-rios
0 xP X
CONCLUSÕES
O processo tradicional de aprofundamento da hidrografia, aliado ao método de criação de
declives ao longo da hidrografia, geralmente produz resultados satisfatórios em regiões
montanhosas com hidrografia encaixada mas mostra-se inadequado para gerar modelos digitais de
elevação isentos de depressões espúrias para áreas de topografia relativamente plana, como aquelas
freqüentemente encontradas na Bacia Amazônica. A presença de tais depressões ao longo da
hidrografia interrompe o escoamento superficial, comprometendo a exatidão dos resultados dos
processos de delineamento automático de bacias de contribuição e das respectivas redes de
drenagem.
A imposição da direção de escoamento para células dentro das margens ao longo da
hidrografia apresenta-se como uma solução alternativa para se produzir modelos digitais de
elevação hidrologicamente consistentes sem que haja a necessidade de se aplicar recursivamente a
seqüência de refinamentos do relevo, que é um processo consideravelmente demorado. Embora o
modelo digital de elevação resultante não seja, de fato, isento de depressões espúrias como seria
desejado, o grid correspondente de direção de escoamento o é!
Os procedimentos descritos nesse trabalho desempenham um papel fundamental na melhoria
da qualidade do delineamento automático de bacias hidrográficas e na extração dos respectivos
parâmetros morfométricos. A efetividade dessas soluções para integrar a hidrografia mapeada ao
modelo digital de elevação é corroborada pelas seguintes constatações:
• ausência de qualquer trecho da hidrografia interceptando os limites da bacia de contribuição;
• capacidade de se replicar fielmente a hidrografia mapeada, delineando-se o trajeto superficial a
partir de um ponto associado à nascente de qualquer rio até a respectiva foz.
A Figura 5 mostra os limites de uma bacia de contribuição delimitada automaticamente a
partir de um ponto selecionado arbitrária e manualmente sobre a hidrografia mapeada, para uma
região da folha Seringal Axioma (SB-20-Y-A), localizada na Amazônia Legal.
HELLWEGER, F. L. AGREE – DEM surface reconditioning system. In GIS Hydro 97: Integration
of GIS and Hydrologic Modeling. CD-ROM, Environmental Systems Research Institute, Inc.,
Redlands, CA. 1997.
LADAK, A.; MARTINEZ, R. B. Automated derivation of high accuracy road centrelines Thiessen
polygons technique. In 1996 International User Conference Proceedings, Environmental
Systems Research Institute, Inc., Redlands, CA. 1996.
SAUNDERS, W. Preparation of DEMs for use in environmental modeling analysis. In 1999 ESRI
International User Conference Proceedings, Environmental Systems Research Institute, Inc.,
Redlands, CA. 1999.