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20/07/2020 Bolsonaro finalmente realizou seu projeto de juventude: colocou uma bomba nos quartéis - 19/07/2020 - Celso Rocha

lso Rocha de Barros - …

Celso Rocha de Barros (/colunas/celso-rocha-de-barros/)

Bolsonaro finalmente realizou seu projeto de


juventude: colocou uma bomba nos quartéis
Militares parecem ter achado que desfrutariam das vantagens de ser governo sem
assumirem as responsabilidades

19.jul.2020 às 23h15

Em 1986, o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que atuava


clandestino dentro do PT, tentou assaltar um banco em Salvador. Presos, os
militantes disseram que seu objetivo era arrecadar fundos para a Revolução
Nicaraguense (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/sob-criticas-nicaragua-anuncia-medidas-timidas-
contra-coronavirus.shtml).

Foi um enorme constrangimento para o PT, que imediatamente expulsou os


radicais e passou os 15 anos seguintes tentando provar que havia moderado
suas posições o suficiente para presidir a República. Moderaram, presidiram.

Agora imaginem o tamanho do erro que o PT teria cometido se, em 2002,


depois de todos esses anos dando mostras de moderação, decidisse lançar
para presidente não o Lulinha paz e amor (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/2002-
lula-vira-paz-e-amor-conquista-o-mercado-e-finalmente-chega-la.shtml), mas um dos assaltantes de

Salvador que nunca tivesse dado qualquer sinal de arrependimento.

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20/07/2020 Bolsonaro finalmente realizou seu projeto de juventude: colocou uma bomba nos quartéis - 19/07/2020 - Celso Rocha de Barros - …

Imagine o desastre que seria o governo do maluco, os esforços diários que os


dirigentes petistas teriam que fazer para tentar impedi-lo de distribuir as
armas do Exército para os centros acadêmicos de ciências sociais. Imagine o
problema para o PT se o fã dos sandinistas resolvesse adotar o mesmo
descaso que Daniel Ortega (https://m.folha.uol.com.br/folha-topicos/daniel-ortega/) vem
demonstrando diante da pandemia na Nicarágua.

Mais ou menos na mesma época do assalto de Salvador, ocorreu mais um ato


tardio de extremismo político no Brasil. O capitão do Exército Jair Messias
Bolsonaro (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1884033-bolsonaro-admitiu-atos-de-indisciplina-e-
deslealdade-no-exercito.shtml) foi acusado de planejar explodir bombas em unidades

militares no Rio de Janeiro.

E quem os militares, que haviam demonstrado moderação e respeito à


democracia por quase 30 anos (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/ditadura-formou-
geracao-de-militares-que-hoje-povoam-governo-bolsonaro.shtml), resolveram lançar para presidente
quando a oportunidade de eleger alguém surgiu?

Pensavam que poderiam controlá-lo, mas subestimaram Bolsonaro, e


superestimaram a própria habilidade. O vice-presidente Hamilton Mourão
tem razão quando diz que Bolsonaro não fez sua formação intelectual no
Exército. Bolsonaro fez sua formação intelectual no baixo clero da política
carioca, na escola Jorge Picciani (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/felipe-picciani-filho-de-
jorge-picciani-mdb-e-solto-no-rio.shtml), na escola Eduardo Cunha (https://www1.folha.uol.com.br/folha-

topicos/eduardo-cunha/). Em termos de manobra de baixo clero, Bolsonaro tem um

dos poucos PhDs do primeiro escalão que não é falso.

Gabriela Prioli (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gabriela-prioli/) notou o padrão em um


vídeo de 16 de julho: ao colocar Pazuello na Saúde
(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2020/07/alvo-de-gilmar-mendes-pazuello-e-quase-unanimidade-entre-

secretarios-de-saude.shtml),
Bolsonaro amarrou seu fracasso na pandemia ao Exército.
É isso que Gilmar Mendes tentou avisar (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/gilmar-
mendes/): Bolsonaro está usando as Forças Armadas como refém enquanto foge

da Justiça. Ele quer criar uma situação em que, se for para o banco dos réus,
vá na companhia de oficiais do Exército. E torce para que ninguém tenha
coragem de mandar generais para a prisão.

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20/07/2020 Bolsonaro finalmente realizou seu projeto de juventude: colocou uma bomba nos quartéis - 19/07/2020 - Celso Rocha de Barros - …

Alguém pode reclamar, bom, mesmo assim, o Gilmar não podia ter usado o
termo “genocídio”. Conrado Hübner Mendes (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/conrado-
hubner-mendes/) mostrou que há argumentos para discutir genocídio no caso
específico das tribos indígenas (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/conrado-hubner-
mendes/2020/07/o-genocidio-assombra-bolsonaro.shtml). Quem Bolsonaro colocou como

responsável pela Amazônia, general Mourão?

Os militares parecem ter achado que desfrutariam das vantagens de ser


governo sem assumirem as responsabilidades, sem virarem vidraça. Nem
todo mundo sabe ser PMDB, senhores.

Ao que parece, Bolsonaro finalmente conseguiu realizar seu objetivo de


juventude (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/livro-detalha-como-tribunal-absolveu-bolsonaro-e-
condenou-a-imprensa.shtml): colocou uma bomba nos quartéis. O exercício de

desarmá-la exigirá responsabilidade, cuidado, e será mais um teste de


estresse para a institucionalidade brasileira. Enquanto isso, a curva do
número de mortos (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/coronavirus/) permanece estável em
mais de mil brasileiros mortos por dia.

Celso Rocha de Barros


Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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barros/2020/07/bolsonaro-finalmente-realizou-seu-projeto-de-juventude-
colocou-uma-bomba-nos-quarteis.shtml

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