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Resposta celular

Se a resposta inata for suficiente para anular a ação de um agente infectoparasitário, não
ocorrerá ativação da resposta imune adaptativa e, por- tanto, não formará memória
imunitária. Por outro lado, caso ocorra persistência da infecção, devido aos mecanismos de
escape desse agente, haverá a neces- sidade da ativação da resposta imune adaptativa. Em
função da natureza do agente infectoparasitário e da forma com que seus antígenos são
processados, a resposta imune adaptativa pode seguir dois caminhos distintos, que levam à
proliferação de células CD8+ (resposta celular predominantemente Th1) e à secreção de
anticorpos por células B e plasmócitos (resposta humoral predomi- nantemente Th2) (Figura
14). Th1 e Th2 não são sinônimos de resposta celular e humoral. Existe predomínio, mas
células Th2 são funcionais, e existem anticorpos IgG ligados ao Th1.

A imunidade mediada por células se desenvolve por uma rede de interações que resulta em
defesa contra microrganismos que sobrevivem dentro de fagócitos ou de outras células. Os
antígenos de patógenos processados no citosol, fora de vesículas ácidas, são conduzidos até a
superfície celular pela molécula de classe I e apresentados para as células T CD8+ que
eliminam diretamente a célula infectada, enquanto os antígenos de patógenos processa- dos
em vesículas ácidas são apresentados pelas moléculas de classe II às células T CD4+, que
podem se diferenciar em dois tipos: CD4+Th1, que ativam células mononucleares (macrófagos
e linfócitos) e CD4+Th2, que induzem a proliferação e diferenciação das células B em
plasmócitos produtores de anticorpos.

Figura 14. Esquema geral da resposta celular e humoral

8.1. Resposta celular e o mecanismo de ação das células T CD8+

Os linfócitos T CD8+ ativados se diferenciam em células T citolíticas (CTL), que destroem


somente as células portadoras do antígeno associado a produtos de classe I do MHC, não
danificando a célula vizinha durante o evento. O mecanismo de ação pode ocorrer pela lise
direta através das enzimas perforinas e granzimas, como também pela indução de apoptose.
No primei- ro processo, após a ligação do TCR/CD3 com o antígeno via MHC I, os microtúbulos
da célula CD8+ se movem para a área de contato com a célula alvo, e os grânulos contendo as
enzimas citolíticas também se aglomeram nesta região. Neste contato, as proteínas
formadoras de poros (perforinas) entram em contato com concentrações de Ca++ e sofrem
polimerização. Esta polimerização forma um canal permeável a íons na membrana plasmática
da célula alvo, levando a um desequilíbrio osmótico e lise (Figura 15). Além de lise direta, as
células CD8+ CTL produzem IFN-g, que estimula a atividade fagocitária de macrófagos, inibe
diretamente a replicação de vírus e induz a expressão de moléculas de classe I. O segundo
mecanismo de destruição de célula-alvo envolve a interação da molécula ligante de Fas,
denominada Fas-L e presente no CTL, com a molécula Fas (CD95), presente na célula alvo. Essa
interação leva a célula-alvo à apoptose, que também pode ser induzida pela ação das
granzimas. Neste evento, as células acometidas condensam o citoplasma e a cromatina,
formando os corpos apoptóticos, que serão fagocitados rapida- mente por células vizinhas sem
a formação de reação inflamatória adjacente (Figura 15). Um efeito adicional da apoptose é a
ativação de enzimas celulares que degradam genomas virais em até 200 pares de bases e seus
múltiplos.
Mecanismo de ação das células CD4+ Th1 e CD4+ Th2

Alguns microrganismos como Mycobacterium spp são patógenos intracelulares que crescem
em vesículas, onde são parcialmente protegidos da ação dos anticorpos e das células CD8 CTL.
Estes normalmente inibem a fusão destas vesículas com o lisossomo, prevenindo sua
destruição. Diante disso, esses microrganismos são eliminados normalmente quando estas
células são ativadas através de citocinas inflamatórias, como o IFN-g, produzido pelas células
CD4+Th1.

O processo de ativação, através do contato dos macrófagos com as células CD4+Th1, gera uma
série de ações bioquímicas que convertem o macrófago numa potente célula anti bacteriana.
Estas reações são: fusão do fagossomo com o lisossomo, expondo as bactérias às enzimas
lisossomais; aumento da expressão de MHC de classe I e classe II; expressão de receptor de
TNF-a e secreção de TNF-a, que junto com o IFN- g, sinergiza para o aumento da ação
bactericida, resultando na produção de óxido nítrico (NO) e oxigênio reativo (O2); secreção de
IL-12, que orienta a diferenciação de células Th0 para Th1; e secreção de IL-10, que inibe a
produção de IFN-g e serve para amortecer os efeitos lesivos da ativação exacerbada de
macrófagos nos tecidos. Quando um patógeno resiste aos efeitos iniciais da resposta imune
celular, pode-se evoluir para uma inflamação crônica, consistindo intenso infiltrado
mononuclear e proliferação de tecido conjuntivo característico de inflamação inespecífica ou
por um padrão de inflamação crônica que se distingue pela formação de granuloma que se
caracteriza por agregados de macrófagos ativados, os quais assumem uma aparência
epitelioide circundados por linfócitos T. Fre- quentemente, mas não invariavelmente, células
gigantes multinucleadas, que derivam da fusão de vários macrófagos, são encontradas em
granulomas mais antigos. As células CD4 Th1 e Th2 participam regulando tais granulomas com
produção de citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias, prevenindo a dissemi- nação dos
patógenos e lesões tissulares.

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