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“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; Se é triste ver meninos sem
escola, mais triste é vê-los sentados enfileirados, em salas sem ar, com exercícios
estéreis, sem valor para a formação do homem”.
Drummon
RESUMO
O trabalho tem por objetivo discutir as grandes transformações que marcam a educação
infantil que vem se refletindo num processo histórico desde o século XVI até nossos
dias, fazendo uma abordagem de como surgiram os primeiros pensadores dessa área.
Questiona-se as transformações apontadas por este recorte interpretativo ao longo da
história, analisando-se as mudanças que vêm ocorrendo, principalmente no mundo
globalizado, onde os valores éticos e morais vêm sofrendo profundamente mudanças
que precisam ser revistas e repensadas, a fim de que se alcance uma educação, onde os
educandos possam tornarem-se sujeitos do seu próprio conhecimento e assim, construir
uma sociedade mais justa e mais humanitária. Enfim, propõe-se sugestões como solução
para melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que essa construção requer mudança também, no que se entende por formação
do aluno enquanto sujeito de sua própria história. Esta deve ser uma busca para a
formação da cidadania: o sujeito que sabe, que faz, que pensa, que se emociona e que
pode participar, criticar e conscientemente agir na sociedade em que vive.
Para compreender a arte no espaço da educação infantil no momento atual, mesmo que
brevemente, é preciso situar o panorama histórico ao longo da história da humanidade.
Para isso buscou-se explicar esse fato a partir das grandes civilizações, onde a educação
sempre foi questionada, a fim de se encontrar soluções para que resolvesse uma questão
tão antiga quanto a própria história – a educação.
Por outro lado, aqueles que se rebelaram contra a estrutura social vigente, clamavam por
uma instrução mais democrática, calcada em modelos populares e modernos, que
permitissem ao homem lidar com os novos modos de produção, subvertendo as velhas
corporações artesanais, permitindo-lhes descobrir e conquistar a nova sociedade.
Baseado em vários teóricos preocupados em delinear uma nova proposta educativa para
adolescentes, jovens e homens. Uns com o propósito de salvar-lhes as almas, através do
restabelecimento da disciplina e do ensino do cristianismo, outros na tentativa de lhes
garantir uma socialização e um conseqüente domínio das ciências letras e instrumentos
de produção.
Apesar de uma grande parcela da população infantil continuar sendo educada segundo
as antigas práticas de aprendizagem, o surgimento do sentimento de infância provocou
mudanças no quadro educacional. Começaram a surgir as primeiras preocupações com a
educação das crianças pequenas. Campanella (1568-1639), em sua obra “Cidade do
Sol”, criticou o ensino servil da gramática e da lógica aristotélica e ressaltou a
importância das crianças aprenderem ciências, geografia, os costumes e as histórias
pintadas nas paredes das cidades,“sem enfado, brincando”.
Vários teóricos desenvolveram seus ideais sobre educação, incluindo aí a educação para
a infância, influenciados por idéias de universalização dos conteúdos da instrução, seu
caráter moderno e científico, a didática revolucionária, a articulação da instrução com o
trabalho, a importância do trabalho agrícola, sempre marginalizado na reflexão dos
filósofos e pedagogos (MANACORDA 1989, p. 218). Procurou-se rastreá-los
enfatizando suas contribuições para o delineamento da educação da criança pequena.
Todos os ramos principais que uma árvore virá a ter, ela fá-los despontar do seu
tronco, logo nos primeiros anos, de tal maneira que, depois apenas é necessário que
eles cresçam e se desenvolvam. Do mesmo modo, todas as coisas, que queremos
instruir um homem para utilidade de toda a vida, deverão ser-lhes plantadas logo nesta
primeira escola. (COMÊNIO, 1985, p. 415)
Ao atribuir aos pais a tarefa pela educação da criança pequena, o que na época
representava um grande avanço, pelo fato dos pais, até então, não terem essa
responsabilidade, Comênio chamou a atenção para a importância desse período e suas
repercussões na vida do ser humano.
Procuram sempre o homem no menino, sem cuidar no que ele é antes de ser homem.
Cumpre, pois, estudar o menino. “Não se conhece a infância; com as falsas idéias que
se tem dela,quanto mais longe vão mais se extraviam”. A infância, tem maneiras de
ver, de pensar, de sentir, que lhes são próprias. (ROUSSEAU, 1979, p. 118)
Apesar de tê-lo situado no Século XVIII, é importante destacar que suas contribuições
foram de grande valia para a estruturação do pensamento educacional do século XIX.
MANACORDA (1989, p.261) afirmou que “Seu exemplo concreto e suas intuições de
psicologia infantil e didática constituíram um dos pontos de partida de toda a nova
pedagogia e de todo o novo engajamento educativo dos Oitocentos”.
Considerado como o clássico da primeira infância, Fröebel (1988) fez suas primeiras
incursões no campo educativo, dando aula em uma escola que fundamentava seu
trabalho nas idéias de Pestalozzi. Posteriormente, organizou suas idéias educacionais em
vários livros. Essas idéias tiveram uma aplicação prática na primeira infância, mas
considerava-se que elas se estendiam a todos os níveis educacionais pois, para ele o
conhecimento se dá em:
Foi no final do Século XIX e no decorrer do Século XX, que aconteceram, na Europa e
nos Estados Unidos da América, mudanças significativas no campo educacional. As
escolas laicas marcaram a ruptura do domínio da Igreja sobre a educação, reafirmando a
hegemonia da burguesia liberal. Um grande movimento de renovação pedagógica
denominado “movimento das escolas novas“, também, aconteceu nesse período.
Em conseqüência, concluiu que o que mais interessa ser conhecido pela criança é, em
primeiro lugar, ela mesma, para depois conhecer o meio em que vive. Foi em função
dessas conclusões e das características e domínios, que apresentou seu programa de
idéias associadas, concebido da seguinte maneira: a criança e suas necessidades; a
criança e seu meio.
Partir do interesse da criança significa respeitar o seu desenvolvimento e suas
necessidades, é desenvolver uma proposta educativa que considere o seu universo real e
respeite seus desejos.
John Dewey (1859 – 1952) denominado como o máximo teórico da escola ativa e
progressista foi considerado um dos mais importantes teóricos da educação americana e,
por que não dizer, da educação contemporânea. Em sua abordagem sobre educação
considerava que o método científico deveria subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal
maneira que o conhecimento fosse trabalhado de forma experimental, socialmente,
desde a infância, com o intuito de torná-la um bem comum.
Partia do princípio de que o caminho mais viável para o aprender é o fazer, isso
significou, superar aquela visão de que cabia ao professor a responsabilidade integral
pelo conhecimento a ser adquirido pelo aluno. Ao definir os objetivos, o professor
poderá dimensionar um plano de ação e, conseqüentemente, os recursos disponíveis,
condições, meios e obstáculos para sua exeqüibilidade.
Maria Montessori (1870 – 1952). O que mais chamou a atenção foi o fato de que
foram os homens que começaram a se preocupar com a educação infantil, uma tarefa
atribuída, quase que exclusivamente, à mulher. Vale destacar que dos dez teóricos
arrolados, somente um, Maria Montessori, é mulher. É considerada, uma das mais
importantes representantes dessa mudança radical que se dá na escola com relação à
concepção de ensino e aprendizagem. Seu envolvimento com a educação da criança
pequena data de 1907, quando fundou em Roma a primeira “Casa dei Bambini“, para
abrigar, aproximadamente, cinqüenta crianças normais carentes, filhas de
desempregados.
Nessa casa-escola, Montessori realizou várias experiências que deram sustentação a seu
método, fundamentado numa concepção biológica de crescimento e desenvolvimento.
Por ser médica preocupou-se com o biológico, contudo, não deixou de lado, em seu
método, o aspecto psicológico bem como o social. Montessori, ao referir a seu próprio
método enfatiza:
Por outro lado, a complexidade e a extensão da obra de Jean Piaget (1896 – 1980),
evidencia aspectos que estão mais diretamente ligados à educação, numa perspectiva de
ensaio. Criador, como se sabe, de uma epistemologia, “a epistemologia genética” e
sempre esteve preocupado em investigar como se dava a construção do conhecimento
no campo social, afetivo, biofisiológico e cognitivo, mais especificamente, qual é a sua
gênese, seus instrumentos de apropriação e, em como se constituem, sendo as crianças o
seu objeto de investigação, para a construção de seu conhecimento científico.
Quanto à aplicabilidade de sua teoria no campo pedagógico, é fundamental reafirmar
que esse não foi seu objetivo, seu interesse voltava-se para o campo epistemológico. O
próprio Piaget adverte:
Por certo, poderíamos destacar, nas obras de Piaget, vários aspectos relevantes para a
educação infantil, dentre eles a construção do real, a construção das noções de tempo e
espaço, a gênese das operações lógicas.
“[...] tais processos psicológicos superiores se desenvolvem nas crianças por meio da
imersão cultural nas práticas das sociedades, pela aquisição dos símbolos e instrumentos
tecnológicos da sociedade e pela educação em todas as suas formas”. (MOLL. 1998, p.
98)
No Brasil, as idéias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa
(1849-1923). No século XX, vários educadores se destacaram, especialmente após a
divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Podemos
mencionar Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971), grandes
humanistas e nomes importantes de nossa história pedagógica.
Dessa forma as idéias de Froebel, continuadas por Alice Temple e Dewey, foram
introduzidas no Brasil por três educadores famosos: Anísio Teixeira, Lourenço Filho e,
especialmente no âmbito da pré-escola, por Heloísa Marinho.
Por outro lado, o professor deve aprender observando as crianças, utilizar com estas as
artes, ciências e literatura no processo educacional e ainda dar importância à filosofia,
como essencial para determinação dos fins da educação e escola do caminho a seguir.
O professor deve ter conhecimento da criança, esta como ser motor, que tem que agir
para aprender e dar importância à experiência da mesma e estimular a aprendizagem
como modificação de conduta e atitude.
Quando se decide fazer algo, está se realizando uma escolha. Manifestando certas
preferências por umas coisas em vez de outras. Evocam-se então, certos motivos para
justificar as decisões, os valores.
Com isso, designa-se em sentido muito amplo tudo aquilo que é bom, útil, positivo, ou
algo que se deve realizar. Valores são também coisas como a justiça, o amor, o prazer, a
solidariedade. São critérios segundo os quais se valorizam ou desvalorizam-se as coisas,
contudo são também razões que justificam ou motivam as ações, tornando-as preferíveis
a outras, por isso os valores reportam-se, em geral, sempre em ações que as justificam.
Dessa forma, dentro de uma sociedade os valores estão presentes com significados
dispostos nas entrelinhas, na dimensão entre ações e na construção do pensamento.
Portanto, não são coisas, nem simples ideais que se adquirem, mas conceitos que
traduzem as preferências. Assim, existe uma enorme diversidade de valores, os quais
podem ser agrupados em:
-Valores éticos – referem-se às normas ou critérios de conduta que afetam todas as áreas
da atividade humana como: solidariedade, honestidade, verdade, lealdade, bondade e o
altruísmo. Já os valores estéticos, esses visam expressões como harmonia, belo, feio,
sublime e o trágico.
Em se tratando de valores religiosos, estes estão relacionados com a transcendência do
homem encontrados no sagrado, na pureza, na santidade, e na perfeição. E os valores
políticos concentram-se na justiça, na igualdade, na imparcialidade, na cidadania, e na
liberdade, não podendo ser esquecido a saúde e a força estabilizando os valores vitais.
Contudo, não se atribui a todos os valores a mesma importância, pois na hora de tomar
uma decisão, cada ser, hierarquiza os valores de forma diversa. A hierarquização é a
propriedade de que tem os valores de se subordinarem aos outros, isto é, de serem uns
mais valiosos que outros. As razões porque se fazem são múltiplas.
É através de escolhas de valores que se cria o juízo de valor, ou seja, juízos (idéias)
sobre os fatos ou atos em função de valores ou preferências. E assim, forma-se a
consciência moral, que nada mais é que uma espécie de “juiz interior” que ordena o que
deve ser feito, através de um ponto de vista crítico no ato de agir, permitindo um bom
convívio social.
A sociedade atual mudou, tem-se uma inversão de papeis e valores, mais informações
do que se pode absorver, a mulher trabalha fora, o avanço tecnológico foi grande, a
família mudou, a criança mudou, o aluno e a escola também mudaram. Tanta mudança
gera confusão e expectativas.
Dessa forma, buscando proteger de forma excessiva os filhos das mudanças, os pais
podem impedir o desenvolvimento da maturidade emocional e psicológica, ao invés de
desenvolver nos filhos a capacidade de auto-estima e autonomia para escolhas seguras
na sociedade a qual pertence. Por outro lado, a família encontra-se num momento de
transição ficando assim confusa diante das várias mudanças que vêm ocorrendo na
sociedade.
Por isso acaba transferindo a responsabilidade da educação dos filhos somente para a
escola que tem agora a função de educar seus filhos e geralmente esta tende a assumir
um papel que não é seu, acarretando equívocos quanto a distinção de papéis na
construção de valores entre família e escola. Sabe-se que cabe principalmente à família
o alicerce de valores e à escola a continuação desta construção e a formação de
habilidades para competências na vida adulta.
Portanto, vive-se numa época que aceita como dado adquirido que os valores estão em
crise. Neste sentido, com certa insistência são feitas duas afirmações similares; a de que
não existem atualmente critérios seguros para distinguir o justo do injusto, o bem do
mal, o belo do feio; tudo é relativo, subjetivo e que também não existem mais valores,
tudo depende das circunstâncias e dos interesses em jogo.
Com essas afirmações, conclui-se que os valores que tradicionalmente eram dados como
imutáveis, ou foram postos em causa, ou foram abandonados, pois o que predomina
hoje segundo muitos autores são apenas posições relativistas que variam com as
circunstâncias.
No entanto, para explicar esta crise de valores que atravessa todos os domínios da
sociedade são apontadas algumas razões como a crítica sistemática que muitos fizeram
aos valores tradicionais, que segundo Karl Marx, defende a construção de valores de
uma sociedade pela classe proletária, por ser mais humanitária, ao invés de valores
típicos da classe dominante privilegiando a mesma, reinante na época.
Já Nietzsche ao falar de crise afirmou por seu turno que não existiam valores absolutos.
Os valores são sempre produtos de interesses egoísta dos indivíduos. Não podendo
esquecer das palavras de Freud ao mostrar que os valores morais fazem parte de um
mecanismo mental repressivo formado pela interiorização de regras impostas pelos pais.
5 VALORES E A FAMÍLIA
A partir das últimas décadas do século XIX, identificava-se um novo modelo de família.
A Proclamação da República trouxe a industrialização e a urbanização do país,
alterando a família brasileira aos moldes da burguesia européia. Trata-se de uma família
constituída por pai, mãe e poucos filhos. O homem continuava detentor da autoridade e
a mulher passava à “rainha do lar”. Desde cedo a menina era educada para desempenhar
papel de mãe e esposa, zelar pela educação dos filhos e pelos cuidados do lar.
Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas diretrizes gerais:
utilizar mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no
desenvolvimento global do aluno. E ainda, conscientizar e comprometer os segmentos
sociais, a comunidade escolar, a família e o próprio portador de necessidades especiais,
na defesa de seus direitos e deveres. Entre seus objetivos específicos, temos:
envolvimento da família e da comunidade no processo de desenvolvimento da
personalidade do educando;
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1°, 2°, 6° e 12.
Sem falar da recente iniciativa do MEC que instituiu a data de 24 de abril como o Dia
Nacional da Família na Escola. Pois, conforme declaração do Ministro Paulo Renato
Souza “quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais”.
Atualmente, como se vê a responsabilidade primária (dos pais) está sendo passada para
uma instituição secundária (escola). É preciso alertar que a família independente do
modelo como se apresente, é um espaço de afetividade e de segurança.
Só não pode ser esquecido que, papel da escola é papel da escola. Papel de pai é papel
de pai. Ambos precisam definir claramente seus códigos de conduta e têm o dever de
fazer com que sejam seguidos pelos jovens.
Os laços afetivos entre pais e filhos são dos mais fortes. Hoje, sabe-se que o ambiente
moral da casa tem grande importância na formação moral das crianças. Os filhos
acabam assumindo os valores da família. O papel da escola também é fundamental, mas
não pode ser comparado ao da família.
Os filhos são frutos do meio, porém é na relação familiar que os verdadeiros valores se
formam e se consolidam. De nada adianta os pais darem limites, proibir certas atitudes,
cobrar respeito ao próximo, exigir que não falem palavrão, se eles burlam as leis e os
valores morais e adotam a postura: “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”.
Suas atitudes valem mais que mil palavras. Devem buscar ações simples e concretas que
possam ajudar seu filho a assumir responsabilidades de forma coesa e concreta, pois a
criança que aprende a ter responsabilidades desde pequena, enfrenta melhor a escola e a
própria vida.
Por outro lado, os educadores têm um papel relevante para com seus alunos, bem como
aos seus pais. O papel da liderança dos pais e dos educandos que deve estar presente
todo dia na vida das crianças e adolescentes. Declarar valores pessoas e estimular o seu
desenvolvimento pode auxiliar nesta tentativa. Em qualquer oportunidade de tempo,
desde que seja feito.
Da mesma maneira que um corpo está em evolução até atingir um nível relativamente
estável – caracterizado pela conclusão do crescimento e pela maturidade dos órgãos,
também a vida mental pode ser concebida como evoluindo na direção de uma forma de
equilíbrio final, representada pelo espírito adulto.
6.1 Anomia
Para Piaget, este período vai do nascimento até a aquisição da linguagem marcado por
um extraordinário desenvolvimento mental. Esta fase é decisiva para todo o curso da
evolução psíquica, pois a inteligência aparece, com efeito, antes da linguagem. Para a
criança, o “eu”, está no centro da realidade, mesmo sendo inconsciente de si mesma, e a
partir do momento que toma consciência de si própria, o mundo exterior passa a ser
real, obsessivo como nos afirma Piaget (1999, p. 20):
Daí a necessidade de atenção, cuidados e carinho, pois a consciência moral surge bem
depois da sensação moral, que nesta fase é desencadeada pelo sentimento da criança ser
bem aceita pelos que a cercam, além da segurança, por isso Piaget chama a atenção da
educação para as relações sociais, na troca e na comunicação com os demais indivíduos.
A partir desta admiração ao ser visto superior, e pela sua imitação surge o respeito,
como salienta Bovet, (1983) quando afirma ser o respeito do pequeno pelo grande que
os tornam aceitáveis e obrigatórios para as crianças. Mas, mesmo fora deste núcleo de
obediência, desenvolve-se toda uma submissão inconsciente, intelectual e afetiva,
devida à coação espiritual exercida pelo adulto.
Esses valores aparecem também das relações interindividuais, já que os valores advêm
da troca de sentimentos entre pessoas. Surge na criança um jogo sutil de simpatia e
antipatia, sendo que o primeiro aparece em relação às pessoas que a valorizam, pois
através da linguagem “concordam entre si”, “têm gostos comuns”. Ao contrário, a
antipatia nasce da ausência de gostos comuns e da escala de valores comuns. Segundo
estes princípios, a criança escolherá seus primeiros companheiros ou até na relação com
adultos estranhos à família, e pelo mesmo princípio explica-se o amor da criança pelos
pais, pois para eles, o laço do sangue está longe de explicá-lo, logo há uma íntima
valorização entre pais e filhos, já que os valores destes são moldados à imagem de seu
pai e de sua mãe.
Entre os valores interindividuais, a criança reserva aqueles que julgam superiores a si, a
algumas pessoas mais velhas e aos pais que é o respeito, composto de afeição e temor.
Segundo Bovet, o respeito está na origem dos primeiros sentimentos morais, quando
afirma com efeito, que é suficiente que os seres respeitados dêem aos que os respeitam
ordens e sobretudo avisos para que estas sejam sentidas como obrigatórias e produzam
assim o sentimento do dever.
Para Bovet, (1996) é desta forma que vai formar na criança a primeira moral, esta é
unilateral que é a obediência, e o primeiro critério do bem, que é a vontade dos pais.
Incutindo os valores morais como valores normativos, como regras e não mais como
simples regulamentação espontânea como a simpatia e a antipatia. Embora os valores
ainda visto como impostos por seres superiores, intuitivos e não por vontade interior. E
pelo mesmo motivo a criança aceita a regra de conduta que impõe a veracidade, antes de
compreender o valor da verdade, por isso julga a mentira “ruim” quando dirigida aos
adultos, mas não quando aos companheiros.
Segundo Piaget, (1987) a criança na educação infantil não é capaz de ter uma educação
moral como regra social, pois para ele, a fase de anomia, que é do nascimento aos seis /
sete anos, a criança necessita de carinho, ternura, afeto, necessita também da
compreensão do não, dos limites claros, da coerência na afetividade que a ela se
entrega, mas também deve haver cobrança, pois esta implica na passagem para a
segurança. Então quem deve ser instruído nesta fase, quanto aos valores morais, são os
adultos que acompanham o desenvolvimento destes seres.
Segundo Antunes, (2001) baseando-se nos estudos de Piaget, dita ferramentas essenciais
aos adultos que educam emocionalmente a criança nessa fase, a saber: propõe uma
relação marcada sempre pela espontânea alegria; o emprego sempre possível de uma
voz com entoação serena, tranqüila e segura; dar preferência na hora de ficar com a
criança a momento em que se está em estado emocional favorável;
Antunes diz que “é sempre importante que outras crianças brinquem com outras
crianças” e que se deve incorporar o hábito de se ouvir músicas em momentos
específicos do lazer e do som, pois o efeito da música suave como tranqüilizante para a
mente constitui hoje inabalável certeza.
Celso Antunes afirma que se devem legitimar os atos emocionais da criança e ainda
saber ouvi-la com empatia. Caso tenha que apresentar uma crítica, criticar o ato e não a
pessoa que o causou;
6.2 Heteronomia
A idade média de sete anos, que coincide com o começo da escolaridade da criança,
marca uma modificação decisiva no desenvolvimento mental. Esta fase é chamada por
Piaget de heteronomia, na qual surge de forma evidente interesse em participar de
atividades coletivas e regradas, portanto, já abrigando procedimentos que podem
envolver uma educação moral.
Quanto às relações inrterpessoais, a criança, depois dos sete anos, torna-se capaz de
cooperar, pois já percebe o ponto de vista do outro. Isto é visível na linguagem entre
crianças. Pois já discutem, logo são capazes de ouvir opiniões de outros e tentam
justificar ou provar sua própria afirmação. Com esta idéia de justificação lógica, a
linguagem egocêntrica desaparece quase que totalmente.
É depois dos sete anos que um espaço racional começa a se construir. A ação passa de
intuitiva à operatória, e os valores existem em função de um sistema total ou “escala de
valores”, pois as noções e relações se organizam em conjuntos, nas quais os elementos
são solidários e se equilibram entre si. Assim, quando a criança se liberta do seu ponto
de vista imediato para “grupar relações”, o espírito atinge um estado de coerência,
paralelo à cooperação no plano social, que subordina o “eu” às leis de reciprocidade.
Piaget (1999, p.53) acredita que nessa fase a criança desenvolve um realismo moral, e
defende duas idéias que devem ser conhecidas por todos os alfabetizadores emocionais.
Uma das idéias diz que todo ato que é desenvolvido de acordo com as regras ou de
acordo com as normas passadas pelos adultos é sempre um bom e justo e, a outra diz
que as regras valem pelo que dizem e não pela intencionalidade que as envolvem, julga
muito mais as conseqüências que e intencionalidade.
Ao observar o quadro típico e geral da heteronomia, deve-se fazer uma reflexão sobre
em que bases devem estar apoiadas a alfabetização moral. Esta educação, segundo
Antunes (2001, p. 25) embasado nos estudos de Piaget, deve além de incorporar
sugestões apresentadas para a fase da anomia, precisa sempre alternar três
possibilidades invariavelmente presentes, ainda que não simultâneas: o exemplo, a
coação e a cooperação.
Para Antunes (2001), “a relação de cooperação”, como o nome indica, é uma relação na
qual os dois pólos – adulto e criança – interpõem formas de pensar, critérios e verdades.
É vista de uma maneira literal, como uma relação sem reciprocidade, mas nem por isso
pode estar ausente de uma educação moral. As leis, normas religiosas e valores sociais
nos chegam através de princípios de coação, sem que entretanto estes possam ser
execradas”.
Quanto à relação de coação, Celso Antunes acredita que cabe aos pais e à escola
estabelecer regras e fazer com que as mesmas sejam cumpridas, embora não necessite
de um exercício autoritário na cobrança de seu cumprimento. E ainda que o “não”
necessite ser dito, mas há abismos profundos separando o “não” porque não de um
“não” acompanhado de uma opção. Use o “sim” sempre que possível e o “não” apenas
em circunstâncias imprescindíveis.
Quanto às relações de cooperação, Celso Antunes acredita que ao lado dessas relações
educativas através do exemplo e de inevitáveis coações, é sempre necessário estar
presente as relações de cooperação que, como descrevia Piaget, são simétricas, portanto
surgidas pela reciprocidade entre educadores e educandos, pois exige que as crianças se
descentrem de seus egoísmos para compreender um ponto de vista alheio e fazê-lo
comum.
Antunes (2001, p. 26) propõe que os pais escolham uma escola que saiba proporcionar a
relação de cooperação. A reciprocidade não surge porque as crianças simplesmente
estão juntas, mas porque junto a elas estão educadores que orientam, norteiam, mostram
e estimulam essa coordenação entre o ponto de vista próprio e o ponto de vista do outro.
Não se chega à máxima “não faça a outros o que a ti não desejas”, senão pela
aprendizagem prática do mesmo.
Afirma que uma boa educação moral não convive com estereótipo, abomina abrir
exceções que não possam ser plenamente justificadas, assimiladas e compreendidas, e
que é essencial que a criança aprenda a não generalizar julgamentos e procedimentos.
Outra importante tarefa da educação moral ligada às relações de cooperação é a escola
fazer-se desejada pela criança. Sabendo seduzi-la por sua alegria, animá-la por sua
espontaneidade, encantá-la por abrigar pessoas felizes em acolhê-las.
Uma ferramenta também imprescindível é fazer com que a criança descubra que pode
aprender a organizar o seu tempo e, dessa maneira, ter oportunidade para tudo fazer sem
sobrecarga. Além de a escola adequar-se ao nível de compreensão, é importante que
discutam em um círculo de debates “estudos de casos”, envolvendo virtudes e valores.
Histórias contadas, vídeos assistidos, transposição de cenas reais são importantes meios
para se abrir discussões e permitir espontânea troca de pontos de vista diferentes.
Acredita-se que a educação moral, nesta fase, não precisa ser realizada em aulas prontas
e disciplinadoras, mas este aprendizado deve se fazer em todos os momentos da vida do
educando, seja no ambiente escolar ou no familiar, através de discussões sobre o
assunto e pelo exemplo.
6.3 Autonomia
Quanto ao pensamento, segundo Piaget, por volta de onze a doze anos efetua-se
transformação fundamental no pensamento da criança, que marca o término das
operações construídas durante a segunda infância, é a passagem do pensamento
concreto para o “formal”, ou, como se diz em termo bárbaro, “hipotético-dedutivo”.
Assim, servindo para mediar a relação dos seres humanos, entre si e a natureza, aqueles
elegem valores para construir o seu pensamento. Já que este é constituído ou mediado
pelo conhecimento, e o mesmo será acessado pelo que a cultura dispuser ou eleger
como referência para uma determinada sociedade.
A personalidade começa a ser estruturada por volta do fim da infância (8 a 12 anos) com
a organização autônoma das regras, dos valores e a afirmação da vontade, com a
regularização e hierarquização moral das tendências.
Quanto à vida social do adolescente, pode-se encontrar como nos outros campos uma
fase inicial de interiorização (chamada negativa) e uma fase positiva. Durante a primeira
fase, o adolescente aparece, muitas vezes, completamente anti-social. Além disso, a
sociabilidade do adolescente se afirma muitas vezes desde o início, com o contato dos
jovens entre si. A sociedade dos adolescentes é de discussão: a dois, ou em pequenos
cenáculos, o mundo é reconstruído em comum, sobretudo através de discursos sem fim,
que constatam o mundo real.
[...] o sujeito autônomo não é alguém reprimido pelas imposições sociais, mas uma
pessoa livre, pois livremente convencido de que o respeito mútuo é bom e é legítimo.
Essa liberdade, assim, estrutura a razão e a afetividade incorpora espontaneamente
esses limites.
Segundo Arruda (2001) os valores são num primeiro momento herdados pela sociedade
vigente. E, durante o processo de desenvolvimento da moralidade, o sujeito vive
diferentes estágios onde valores são construídos. Na adolescência, depois de ter vivido o
estágio de anomia, e faz o confronto de seus próprios valores com os valores do mundo
adulto para alcançar sua autonomia – estágio em que os valores já foram refletidos e
estão interiorizados, têm significado real para o sujeito e fazem parte de sua consciência
moral. Neste momento o jovem faz um vínculo com a realidade e com o contexto social,
contexto esse que é representado pelo sistema que por sua vez é corporificado por
sujeitos e valores.
Desta forma, deve-se indagar como a escola pode restabelecer uma escala de valores
que sirva de referencial para o jovem?
Antes de tudo, os adultos devem entender que, nessa fase, a palavra principal não é
formação, e sim transformação. Os jovens colocam os valores em dúvida e querem
testá-los, o que é fundamental para seu amadurecimento, ao mesmo tempo, faz com que
a família perca importância, enquanto cresce a influência do grupo de convívio, e que
entre os valores principais da juventude estão a imitação (dos amigos), a cumplicidade
(com os amigos) e a transgressão (de limites). E desta forma, vem a dúvida; quem vai
estabelecer as regras? A resposta é: o adulto que estiver educando. Na escola, o
professor. Em casa, os pais. Pais e professores devem estar atentos quando cobram
disciplina, pois devem ser exemplos, isto é, agirem da mesma forma que falam.
Mais que a escola, o papel dos pais na educação é de maior relevância. Os laços afetivos
entre pais e filhos são os mais fortes. Por isso os filhos acabam assumindo os valores da
família – mas também podem assumir valores opostos para recusá-las.
Sempre se discute o que se deve e o que não se deve fazer. Quando se fala de virtude,
fala-se sobre o que é desejável, e as regras ganham sentido. Partindo dessa idéia chave,
ao contrário do que muitos adultos pensam, jovens gostam, sim, de falar sobre valores, e
o caminho é não fugir do tema. Do que estamos falando quando cobramos determinados
comportamentos? A resposta não está lá fora, está dentro de cada um. E fazer inter-
relação, entre o que é interno e externo é justamente o papel da educação.
Diante desses fatos é de suma importância que se repense numa nova perspectiva
de se resgatar valores que não são mais utilizados ou aplicados no dia-a-dia,
principalmente na formação do indivíduo como cidadão, portanto responsável pelo
seu próprio desenvolvimento e produção de conhecimento. Eis algumas sugestões
que servirão de base para a implementação desses valores na escola e na sociedade:
- A escola deve ser um lugar onde os valores morais são pensados, refletidos, e não
meramente impostos ou frutos do hábito;
- Construir uma imagem positiva de si, o respeito próprio traduzido pela confiança
em sua capacidade de escolher e realizar seu próprio projeto de vida e pela
legitimação das normas morais que garantam a todos, essa realização.
Privilegiou-se neste estudo as questões que nos causam inquietações sobre a formação
de valores: a presença destes valores no convívio da criança, suas causas e
conseqüências, tanto no convívio social, quanto ao indivíduo como pessoa.
Descobriu-se que esses valores sofrem mutações ao mesmo tempo em que influencia a
sociedade, onde temos uma educação que tem por finalidade a formação do aluno, em
termos e instrução, de atitudes e de cidadania. A educação deve ter um compromisso
maior na formação do indivíduo, tornando importante perceber, identificar e estabelecer
ações e estratégias para consolidar esta formação no momento atual.
Assim a comunidade escolar tem que estar disponível para um novo tipo de trabalho,
portanto, há que se ter uma ruptura no “modelo tradicional” e uma busca de um modelo
pedagógico transformador que vise a formação do aluno “por inteiro”, isto é, instrução e
vivência de atitudes e valores.
De uma forma geral, busca-se uma escola que a partir de reflexões filosóficas possibilite
criar um ambiente de cultura, onde os alunos pensem e atuem em prol da humanidade.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso, 1937 – A alfabetização moral em sala de aula e em casa, do
nascimento aos doze anos – Petrópolis, RJ: Vozes,2001
GOMEZ, Maria Tereza; Mia,Victoria; SERRATS, Maria Graça. Como criar uma boa
Relação Pedagógica – Edições Asa S.A, 2000. Portugal.
__________. O Julgamento moral da criança. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1977.
GOKHALE, S.D. A Família Desaparecerá? In Revista Debates Sociais n° 30, ano XVI.
Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980.
PUIG, J. M. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1998.