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AULA 2

ARQUITETURA DE TI E
MODELOS DE NEGÓCIOS

Prof. Leandro Escobar


CONVERSA INICIAL

Na segunda aula sobre Arquitetura de TI e Modelos de Negócios serão


abordadas questões relativas a padronização e consolidação dos recursos de TI,
de forma que o conjunto de tecnologias que suportam o legado e os processos
atuais e suportarão os processos e negócios futuros, bem como os processos e
serviços de TI necessários ao seu funcionamento, sejam adequados para a
eficiência operacional e contribuam para a efetivação da visão futura da empresa.
A aula está organizada em cinco temas:

 Consolidação, no qual são discutidas estratégias, modelos e vantagens


da consolidação da TI e seus recursos.
 Padronização, que estabelece os critérios, impactos, eventuais limites e
benefícios da padronização dos recursos de TI.
 Seleção de plataformas, estabelecendo critérios para a seleção de
plataformas proprietárias ou plataformas abertas.
 Consolidação do Data Center, que percorre os processos para criação de
um Data Center para a empresa.
 Automação do Data Center, que esclarece e exemplifica como um Data
Center pode ser automatizado, quais pontos de atenção considerar e como
implementá-lo.

CONTEXTUALIZANDO

A evolução da Tecnologia da Informação e seu uso extensivo nas


diferentes atividades empresariais requer que os executivos de TI estejam atentos
às maneiras de utilizar tais tecnologias no curto, médio e longo prazos de modo a
apoiar a realização dos objetivos de negócios.
Esse alinhamento é um grande sistema de gestão, processos, decisões e
estratégias que permite à empresa reduzir riscos, proteger investimentos e
aproveitar a Tecnologia da Informação de forma inteligente, contribuindo para sua
competitividade e, portanto, para seu sucesso.
Forma-se uma arquitetura consistente, mediante princípios, procedimentos
e tecnologias que pavimentam a evolução da TI em conjunto com os negócios, de
forma que as mudanças no cenário da empresa sejam rapidamente absorvidas,
reduzindo o tempo de resposta da TI e mantendo os negócios otimizados.

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TEMA 1 – REDUÇÃO DA COMPLEXIDADE E CONSOLIDAÇÃO

A consolidação da TI está relacionada a decisões de longo prazo e seus


desdobramentos no curto prazo. Trata-se de determinar como a diversidade das
operações será eficientemente suportada por recursos cujos gerenciamento e
manutenção consumam o menor esforço possível, simplificando a estrutura de TI,
seus processos e serviços.

1.1 Complexidade no ambiente de TI

O crescimento da empresa, as mudanças no cenário de negócios e a


atualização da tecnologia levam ao aparecimento de diferentes soluções,
desenvolvidas em diferentes plataformas e hospedadas em diferentes tipos de
equipamentos (Hausman; Cook, 2011, Rezende; Abreu, 2013).
A complexidade (ou diversidade) tem impacto sobre os custos de suporte
e manutenção do ambiente de TI (Raynard, 2010; Davenport, 2013). Hausman e
Cook (2011) afirmam que o custo e o esforço para suporte equivalem ao quadrado
do número de diferentes soluções em uso para problemas ou requisitos
equivalentes.
Por exemplo, dois computadores com dois sistemas operacionais
diferentes requerem quatro vezes mais esforço (2 2) se comparados a dois
computadores padronizados.
Esse mesmo princípio pode ser aplicado a linguagens de programação,
aplicativos e equipamentos.
Portanto, é fundamental estar atento aos motivos da complexidade no
ambiente de TI. Citaremos alguns a seguir.
Application Stack: Conjunto de programas de computador integrados para
permitir a realização de uma determinada atividade na empresa. Incluem-se, mas
não se limitam a, servidores de e-mail, servidores de bancos de dados, servidores
de aplicação, sistemas operacionais, plataformas de segurança e ambiente de
gerenciamento de usuários.
Em empresas sem padronização da TI, podem ser encontrados vários
conjuntos de diferentes tipos (diferentes application stacks), o que leva ao
aumento da complexidade e, como consequência, dos custos e do esforço para
suporte e manutenção.

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Hardware: Diferentes tipos de hardware para soluções equivalentes
também contribuem para a maior complexidade do ambiente de TI, tanto quanto
múltiplos softwares, exigindo trabalho adicional, pois:

 manter controle sobre garantias, contratos de suporte e diferentes


fornecedores aumenta o esforço de gerenciamento e dificulta o processo
de compra.
 o tempo para atualização de software e sistemas de informação aumenta
por conta da necessidade de realizar testes e homologações em
diferentes equipamentos, com diferentes configurações ou componentes
específicos de hardware.
 o esforço para manutenção preventiva e corretiva é aumentado por conta
da necessidade de possuir diferentes conjuntos de instalação, realizar
diferentes procedimentos de testes ou da aplicação manual de elementos,
quando não é possível elaborar procedimentos de manutenção
automatizados.
 A recuperação de desastres e continuidade de negócios perde eficiência
porque os investimentos em redundância ativa ou passiva são replicados
e porque aumenta-se o tempo de ativação das redundâncias e da
transferência de soluções entre plataformas distintas.

Logins, credenciais e políticas de acesso: O núcleo de uma rede


corporativa está baseado em serviços de diretório, a partir dos quais são
gerenciados contas de usuários, permissões de acesso a recursos, aplicações,
dados, repositórios de arquivos, sistemas de comunicação e conectividade.
A existência de múltiplos serviços de diretório amplia o esforço para
gerenciamento de contas de usuários e fragiliza a segurança por requerer que os
usuários possuam várias chaves de acesso e senhas.
Desenvolvimento de aplicações: A existência de várias linguagens de
programação, frameworks ou modelos de desenvolvimento de software amplia os
custos de desenvolvimento e de manutenção.
Surgem diferentes aplicações em diferentes plataformas para atender a
requisitos similares. Sem contar que mais linhas de código significam mais custo
para desenvolvimento e manutenção.
Outro problema relativo à baixa padronização de linguagens se reflete na
dificuldade de se contratar profissionais que dominem todas as linguagens e

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modelos adotados na empresa. Como consequência, o número de membros nas
equipes aumenta.
Conectividade: É rara uma empresa que não utilize algum tipo de
conectividade digital e, muito embora os protocolos e arquiteturas de redes
permitam a ampla conectividade, podem surgir problemas relativos à convivência
entre redes atualizadas e redes antigas, ou mesmo dificuldades relacionadas a
requisitos de segurança, como criptografia, automação de políticas de acesso e
falhas de autenticação.
Obviamente, a pluralidade de soluções de conectividade aumenta o esforço
em suporte e manutenção, mas é fundamental levar em consideração que a
redução da complexidade dos recursos de rede não deve significar a redução da
conectividade em si nem dos serviços utilizados pelas áreas de negócios.
Regulamentos e legislações aplicados à TI e aos Sistemas de
Informação: Alguns segmentos de mercado possuem exigências específicas
sobre segurança e conformidade de TI, especialmente quanto ao acesso às
informações. No setor de educação superior, por exemplo, informações sobre o
desempenho acadêmico dos alunos são sigilosas. No setor financeiro, além dos
aspectos relativos à segurança, também há padrões mandatórios para a troca de
informações entre instituições.
Dessa forma, os diferentes regulamentos sobre segurança ou protocolos
de troca de dados aumentam a complexidade do ambiente de TI.
A arquitetura de TI deve buscar, incessantemente, a redução da
complexidade, mantendo-se atenta à visão futura da tecnologia e dos negócios.
Elaborar soluções de longo prazo requer planejamento da adoção de tecnologias,
desenvolvimento de sistemas e integração dos novos recursos com o legado,
protegendo investimentos, reduzindo riscos e aumentando a eficiência da TI e dos
negócios.

1.2 Impactos da complexidade no ambiente de TI

Possuir soluções diversas para resolver problemas, atender a requisitos ou


dar suporte a processos equivalentes traz uma série de problemas que levam à
perda exponencial da eficiência da TI (Ross; Weil; Robertson, 2008, Raynard,
2010, Hausman; Cook, 2011).
Aumento do custo com pessoal: Em um cenário complexo de TI são
requeridos poucos profissionais que dominem todos os modelos e tecnologias ou

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vários profissionais especializados em cada recurso. Nos dois casos os custos
são altos e equivalentes, pois os profissionais com domínio amplo tendem a ser
mais bem remunerados.
Aumento dos custos para continuidade dos negócios: Qualquer
situação relacionada à recuperação de desastres ou continuidade dos negócios
é, na melhor das possibilidades, um trabalho difícil. No entanto, se for necessário
considerar a restauração de diferentes configurações ou da integração de
diferentes plataformas, o esforço de recuperação será ampliado, aumentando
custos, especialmente quando se trata de redundâncias ativas.
Aumento dos custos com licenciamento de software: Possuir vários
tipos de software, de diferentes fabricantes, além de aumentar o esforço para
gerenciamento de licenças, dilui o número de licenças entre fornecedores,
impedindo que a empresa aproveite programas de licenciamento por volume, que,
via de regra, têm menor custo unitário por licença.
As desvantagens oriundas da complexidade do ambiente de TI devem ser
investigadas e claramente comunicadas para as unidades de negócios,
demonstrando, assim, os benefícios que podem ser alcançados com a
padronização, consolidação e simplificação da arquitetura de TI.

TEMA 2 – CONSOLIDAÇÃO DA TI

A consolidação da TI é um conjunto de ações de curto, médio e longo


prazos que visam à integração e a concentração de recursos, diminuindo a
complexidade no ambiente de TI e criando uma série de políticas que formam as
bases da arquitetura de TI.

2.1 Determinação do que deve ser consolidado

Planejar a consolidação cuidadosamente é imprescindível, dada a


preocupação de proteger investimentos passados e atender a especificidades das
áreas de negócios. Tudo isso se dá ao mesmo tempo em que se busca atualizar
o ambiente de TI e, principalmente, transformá-lo na arquitetura que habilitará a
visão futura dos negócios.
Assim, a seleção dos elementos que serão consolidados passa a ser um
momento crucial para a arquitetura de TI. Os recursos que serão atualizados,
simplificados e centralizados devem cobrir uma parte relevante das

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funcionalidades das áreas de negócios e, ainda, a padronização deve permitir que
as especificidades das unidades de negócios continuem sendo atendidas.
Hausman e Cook (2011) sugerem uma abordagem em dois estágios.
Primeiramente, selecionar o maior grupo de funcionalidades e os recursos que as
atendem. Esses recursos são os candidatos iniciais para a consolidação e sua
atualização, e a centralização será então planejada.
Num segundo momento, deve-se avaliar se os demais recursos podem ser
substituídos pelo padrão tecnológico.
Os autores defendem essa abordagem por acreditarem que padronizar e
centralizar uma parte dos recursos é viável e permite que a maioria dos projetos
e operações de negócios sejam endereçadas para a consolidação. Ao mesmo
tempo, cria-se espaço para que exceções sejam avaliadas e tornem-se padrões
eventualmente.
Trata-se de reconhecer que todos os elementos dentro de uma arquitetura
de TI têm valor para os negócios e que o uso de elementos padronizados tem
grande valor.
Ainda que nem todos os processos de negócios sejam suportados por
recursos padronizados, dadas as suas particularidades, isso deve ser uma
exceção dentro da arquitetura de TI.

2.2 Gerenciar obsolescência

O ciclo de vida dos recursos de TI obedece ao próprio avanço tecnológico


e às mudanças nos negócios. A obsolescência da tecnologia não é um evento
claro e fácil de ser percebido, mas sim uma relação permanente entre o uso e as
possibilidades apresentadas.
Sempre é possível ter elementos obsoletos na empresa. Às vezes, isso
acontece porque não há alternativas, outras vezes porque os investimentos não
foram compensados ainda. Porém, esse cenário pode levar à condição em que
muitos processos de negócios são suportados por tecnologias ultrapassadas,
criando um risco de descontinuidade por problemas de funcionamento.
A arquitetura deve, então, incluir ciclos de renovação, em que hardware,
software e demais elementos são atualizados em toda a empresa, garantindo que
a obsolescência seja gerenciada.

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Ross, Weil e Robertson (2008), Housman e Cook (2011) e Rezende e
Abreu (2011) recomendam que a obsolescência seja planejada seguindo duas
estratégias:

1. Atualização cíclica: Uma parte do ambiente é substituída com


regularidade, por exemplo, anualmente. Isso evitará situações em que todo
o parque de TI precise ser substituído de uma só vez.
2. Encapsulamento da obsolescência: Aplicada especialmente ao software,
trata-se de utilizar modelos orientados a serviços, nos quais os sistemas
legados são envolvidos por camadas de software capazes de integrá-los
com novas funcionalidades. Isso prolonga o tempo de vida de sistema
críticos ou cujo custo de substituição seja inviável.

Ao se tornarem obsoletas, no entanto, as soluções legadas trazem riscos à


continuidade dos negócios. Hardware pode parar de funcionar porque peças de
reposição não são mais encontradas. Software pode deixar de funcionar porque
não há mais suporte por parte dos fabricantes. Pode ser impossível atualizar um
sistema de informações porque não há profissionais disponíveis no mercado.
A arquitetura de TI deve planejar a retirada de produção de hardware,
software e sistemas de forma gerenciada, evitando que os processos de negócios
sofram interrupções porque a tecnologia não é mais funcional (Ross; Weil;
Robertson, 2008; O’Brien, 2010).

2.3 Consolidar serviços de TI

A consolidação dos serviços exerce papel crítico no sucesso de uma


arquitetura de TI porque permite ganhos de escala que devem ser buscados nas
fases iniciais da sua implementação.
Cria-se uma equipe de TI centralizada, capaz de resolver todos os
problemas que surjam em todas as unidades de negócios de forma adequada e,
especialmente, rápida.
Uma unidade de TI eficiente e eficaz pode criar confiança nos usuários,
facilitando a aceitação da arquitetura de TI. Por outro lado, respostas lentas ou
baixa competência podem afastar os usuários e comprometer o sucesso da
consolidação.
Ross, Weil e Roberstson (2008) e Raynard (2010) recomendam que uma
equipe centralizada seja especializada e capaz de lidar com todos os problemas
que surjam em qualquer local. Os autores sugerem também que os atendimentos
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a configuração de hardware e resolução de dúvidas e dificuldades dos usuários
sejam realizados por equipes menos especializadas nos diferentes locais ou
sedes de negócios.
A criação de uma equipe de TI centralizada permite aprofundar as suas
competências e ampliar conhecimentos, tanto pela colaboração quanto pelo
ganho em escala com treinamentos.
Raynard (2010) e Rezende e Abreu (2011) afirmam que muitas
funcionalidades avançadas de software e hardware deixam de ser usadas por
desconhecimento das equipes.
Ainda além, Ross, Weil e Robertson (2011) lembram que uma vez que a
equipe foi centralizada, é mais fácil gerenciar turnover, férias e eventuais
ausências.

TEMA 3 – PREOCUPAÇÕES SOBRE A PADRONIZAÇÃO DA TI

Embora a padronização traga benefícios em muitos sentidos, há limitações


sobre as preferências, flexibilidade e customizações dos usuários, o que pode
gerar oposição dentro das unidades de negócios.
Usuários podem demonstrar preocupação com perdas de funcionalidades,
e equipes técnicas podem iniciar boicotes e conflitos por conta de suas
preferências por produtos específicos. Tudo isso combinado pode influenciar a
alta administração a retomar investimentos em tecnologias sem padrão ou não
consolidadas, prejudicando os ganhos de escala que a arquitetura de TI pode
gerar.
Mesmo que a oposição à padronização pareça infundada, deve-se levá-la
a sério, e as preocupações devem ser dadas como válidas até que surja prova em
contrário.
Deve-se desenvolver um sistema de argumentação e comunicação
baseado em evidências relativas aos ganhos, de forma a manter o engajamento
das áreas de negócios.

3.1 Preocupação com a redução das funcionalidades

A preocupação com as perdas de funcionalidades é oriunda da expectativa


de que os recursos atuais não existam nas novas soluções. Esse receio é válido
quando há customizações nos softwares para atender a problemas específicos ou

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quando há softwares departamentais (de uso exclusivo de uma unidade de
negócios).
Deve-se identificar as funcionalidades críticas e customizações importantes
para os negócios e, caso não estejam presentes nas novas soluções, a equipe de
TI deve trabalhar junto à equipe de negócios de forma a desenvolver alternativas
que atendam às necessidades específicas.

3.2 Preocupação com a redução da produtividade

Novos sistemas ou novos procedimentos podem causar descontinuidades


nas atividades das unidades de negócios. As funcionalidades das novas soluções
podem gerar trabalhos que não eram realizados antes.
Esses aspectos são bastante prováveis e indicam possíveis falhas no
planejamento das novas soluções.
O gerenciamento da mudança deve ser focado na determinação do que
deve ser suportado, nos novos processos e nas capacidades das equipes. A
descontinuidade, embora ocorra, deve ser temporária e resolvida mediante a
gestão da mudança.

3.3 Preocupação com incompatibilidade entre soluções

Há sempre o risco de que as aplicações existentes sejam incompatíveis


com novas soluções. Casos clássicos de incompatibilidades ocorrem ao
padronizar servidores de banco de dados, por exemplo. Uma aplicação pode
requerer um banco de dados específico.
Isso também pode ocorrer com aplicações legadas de controle de
equipamentos, como sistemas de controle digital em fábricas.
Em todos os casos, a compatibilidade entre soluções deve ser considerada
nos estágios iniciais do planejamento da padronização e as soluções técnicas
devem ser elaboradas mediante um regime de comunicação intensa com os
interessados, para criar segurança sobre os planos e tranquilidade durante a
entrada em produção das novas soluções.

3.4 Preocupação com a dependência concentrada em poucos fornecedores

A homogeneidade tecnológica causada pela padronização e pela


consolidação tende a reduzir o número de fornecedores e prestadores de
serviços. A dependência de poucos fornecedores pode trazer riscos ao
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atendimento, pois uma crise no fornecedor seria sentida rapidamente na empresa,
ou nas negociações, pois a certeza da dependência pode levar o fornecedor a
praticar preços exorbitantes.
A solução para essa preocupação está baseada no processo de seleção e
contratação de fornecedores, que deve levar em conta a capacidade técnica e
estabilidade dos serviços que serão prestados, bem como a seleção adequada de
fornecedores.
Entretanto, a padronização da arquitetura de TI é influenciada por
tecnologias de amplo uso em diferentes mercados, evitando soluções
extraordinárias que não têm uso difundido. Isso, por si só, já garante que as
tecnologias adotadas tenham ampla rede de fornecedores de serviços (por serem
difundidas no mercado), reduzindo os riscos de descontinuidade por problemas
junto aos fornecedores.

TEMA 4 – PADRONIZAÇÃO DE PLATAFORMAS

A escolha por uma plataforma tecnológica auxilia na determinação do


ambiente de TI, dos processos de suporte e dos métodos de gerenciamento da
arquitetura de TI (Ross; Weil; Robertson, 2008; Rezende; Abreu, 2011).
O passo inicial para o planejamento da arquitetura de TI é estabelecer
padrões para o corpo de tecnologias utilizadas na empresa, podendo incluir:

 Plataformas de hardware;
 Sistemas operacionais;
 Linguagens e ferramentas de desenvolvimento de software;
 Sistemas de gerenciamento de bancos de dados;
 Soluções móveis, entre muitos outros.

Esses elementos formarão as bases do padrão a ser adotado e servem de


ponto de partida para especificações técnicas, determinação de programas de
capacitação e processos de compra.

4.1 Benefícios e desafios da padronização

A padronização da plataforma de TI traz benefícios que devem ser


considerados e comunicados desde o início do planejamento da arquitetura de TI:

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Economia de escala: As aquisições podem ser realizadas em volume, o
que, geralmente, resulta em descontos. Cada fabricante possui políticas de
licenciamento por volume e a empresa toma vantagem disso.
Facilidade na integração: Especificações compartilhadas em diferentes
elementos (por conta da padronização) facilitam a integração de novos
componentes de hardware ou de software. Esse compartilhamento de
especificações permite o planejamento gradativo de compras e de implantação,
reduzindo os impactos no fluxo de caixa da empresa e os riscos relativos à adoção
extensiva de novas ferramentas.
Ganho da eficiência: Usuários e equipe de TI podem desenvolver
conhecimentos profundos utilizando menores quantidades de soluções.
Consequentemente, a eficiência é aumentada.
Ampla rede de suporte e serviços: Plataformas amplamente adotadas no
mercado contam com amplas redes de suporte. Empresas especializadas,
comunidades técnicas, comunidades de usuários e literatura estão disponíveis, o
que reduz riscos de descontinuidade e acelera a solução de problemas.
Simplificação dos processos de compra e atualização: Se a plataforma
é padronizada, as especificações são mais estáveis, o que permite elaborar
processos de compra ou contratação reaproveitáveis (com poucas alterações).
Por outro lado, a atualização dos componentes também fica mais simples, porque
o conhecimento das equipes é mais profundo ou porque é possível automatizar
os processos.
No entanto, além dos benefícios, a padronização da plataforma de TI pode
trazer desafios.
Custos: Os custos de substituição de plataformas podem ser tornar
proibitivos para a empresa. Portanto, é importante planejar a substituição de
elementos de forma evolucionária, na qual a empresa tem menores desembolsos
cíclicos. Essa abordagem evolucionária também reduz riscos relacionados à curva
de aprendizado e permite que a empresa passe a aproveitar os benefícios da
atualização ainda nos estágios iniciais.
Dependência de tecnologias específicas: Algumas soluções críticas
para os negócios podem requerer plataformas específicas. Aplicações podem
exigir servidores de banco de dados, empresas da área da saúde podem exigir
hardware específico, automação industrial pode contar com protocolos
mandatórios. Todas essas questões devem ser consideradas no planejamento,

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alinhadas com as áreas de negócios e, eventualmente, esses tipos de elementos
não serão incorporados nos padrões da arquitetura de TI.
Risco de desatualização prematura: Como o processo de padronização
requer substituição de elementos evolucionários, é possível que algumas
configurações evoluam no mercado, passando a ideia de desatualização do
parque que foi adquirido há pouco. Embora essa desatualização seja inevitável,
se o padrão tecnológico foi adequadamente selecionado, a substituição ou
evolução junto aos fabricantes não trará ameaças. A obsolescência gerenciada
controlará esses casos e manterá o ambiente de TI adequado em longo prazo.
Diferentes níveis de necessidades: Ao observar as necessidades das
áreas de negócios, é possível deparar-se com diferentes níveis de uso. Por
exemplo, um determinado departamento poderia continuar trabalhando com
planilhas eletrônicas, porque não tem necessidade de grandes automações ou
espaços de armazenamento. Funcionalidades de nível corporativo podem ser
dados como desnecessárias. Porém, ainda que casos específicos possam surgir,
manter unidades de negócios fora do padrão corporativo de TI resultará em custos
adicionais de suporte e administração de recursos, bem como riscos de
descontinuidade operacional pela falta de rotinas padronizadas de manutenção.
Parceiros com diferentes padrões técnicos: Diferentes soluções críticas
para os negócios podem ser desenvolvidas em diferentes plataformas. Como a
consolidação tem o pressuposto da integração, interconectar essas soluções pode
requerer esforço adicional no desenvolvimento de camadas de orquestração. Tal
decisão deve ser tomada levando em conta os ganhos em produtividade e a
eliminação de trabalhos redundantes nas unidades de negócios, convertendo-se
em ganhos de eficiência.

4.2 Soluções open source ou proprietárias

A decisão sobre a utilização de soluções abertas (open source) ou


proprietárias é um dos aspectos que devem ser abordados no planejamento da
arquitetura de TI. O objetivo é determinar os pontos fortes e a contribuição de cada
tipo de solução para a visão futura da arquitetura de TI e dos negócios (Rezende;
Abreu, 2011).
Pontos relativos a custos de implantação, custos de manutenção ao longo
do tempo, desempenho e treinamento da equipe devem ser considerados antes
de decidir o tipo de plataforma (Ross; Weil; Robertson, 2008).

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Soluções de código aberto são aquelas que podem ser alteradas pela
comunidade, o que traz a possibilidade de desenvolvimento rápido.
Entretanto, nem toda solução open source é gratuita. Há empresas que
possuem versões de comunidade de seus produtos, mas oferecem atualizações
ou funcionalidades avançadas mediante licenciamento pago.
Há também empresas que desenvolvem open source, mas que cobram
pelos serviços de implantação, treinamento e customização. Tudo é uma questão
de modelo de negócios.
Para Hausman e Cook (2011), as vantagens de plataformas de código
aberto são:

 muitas plataformas open source são gratuitas ou tem baixos custos iniciais;
 há muitas alternativas open source para servidores de banco de dados,
servidores de aplicação e desenvolvimento de software que são seguras e
confiáveis;
 open source pode ser uma alternativa de baixo custo se a empresa está
testando novas tecnologias ou desenvolvendo projetos com riscos
funcionais ou tecnológicos importantes.
Por outro lado, os autores também evidenciam desvantagens do open
source:

 o benefício do baixo custo de implantação vem acompanhado da


necessidade de conhecimento especializado. Geralmente, é mais difícil
manter soluções abertas;
 há o risco de que a solução aberta perca a equipe de suporte ou
desenvolvimento por motivos de migração tecnológica ou por simples
desinteresse da comunidade. Para evitar essa ameaça, a empresa deve
optar por plataformas abertas que sejam representadas por grandes
comunidades, com maturidade e que possuam rede de suporte ampla;
 nos casos de ferramentas para uso direto dos usuários, como planilhas
eletrônicas ou aplicativos de documentos, pode haver necessidade de
treinamentos específicos, porque a ferramenta adotada pode não ser
amplamente conhecida.

Ross, Weil e Robertson (2008) e Hausman e Cook (2011) recomendam,


finalmente, que se as empresas não desejam ou não podem investir em equipes
internas com competências aprofundadas para suporte e manutenção, elas não

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devem optar por plataformas abertas, por conta da necessidade de, ainda que
pequena, uma equipe especialista interna.
Hausman e Cook (2011) recomendam plataformas abertas para empresas
que desejam substituir os custos com licenciamento por custos com serviços de
suporte e manutenção, pois estes podem ser interessantes para o planejamento
financeiro da empresa.
Soluções proprietárias, por outro lado, são protegidas por seus
desenvolvedores e a comunidade não tem permissão para alterá-las. Ainda que
seja mais restrita que as soluções abertas, esse tipo de plataforma tem um forte
apelo comercial e é construído com focos bastante específicos.
As plataformas abertas contam com empresas estruturadas e com a
tradição no mercado.
Para Hausman e Cook (2011) as vantagens de plataformas proprietárias
são:

 orientação para a acessibilidade, tornando-as de uso mais fácil para


usuários finais;
 o suporte e a garantia são, frequentemente, responsabilidade de
fabricantes ou representantes diretos, o que traz uma certa segurança em
caso de problemas de funcionamento;
 como os softwares não podem ser alterados, eles acabam por ser
altamente parametrizáveis, permitindo adaptações do comportamento da
ferramenta sem alteração do seu núcleo (código-fonte);
 trata-se de software comercial por ter documentação mais ampla e fácil
acesso a suporte junto aos fornecedores.

Os autores também citam desvantagens das plataformas proprietárias:

 migrar entre diferentes produtos proprietários ou fornecedores pode ser


difícil ou ter alto custo;
 customizar software proprietário pode ter alto custo e demandar a
contratação do fornecedor. Também há limitações na customização;
 produtos proprietários também atingem seu final de vida, mas,
diferentemente das plataformas abertas, não é possível manter seu
funcionamento por muito tempo e a atualização se tornará forçada.

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Ross, Weil e Robertson (2008) e Hausman e Cook (2011) recomendam que
empresas que não têm condições para realizar investimento inicial com
licenciamento e serviços de implantação não adotem soluções proprietárias.
Hausman e Cook (2011) recomendam plataformas proprietárias para
empresas que desejam implantações mais simples e não querem investir em
equipes altamente especializadas, deixando as competências mais profundas por
conta dos fornecedores.
A escolha da plataforma, aberta ou proprietária, embora controversa, deve
estar orientada às capacidades internas, ao modelo de gestão da arquitetura de
TI e ao foco nos negócios. Flexibilidade, facilidade de uso e manutenção e
segurança técnica e comercial são aspectos comuns às duas plataformas e
devem ser os termos básicos para a tomada de decisão.

TEMA 5 – CONSOLIDAÇÃO DO DATA CENTER

Um projeto de arquitetura de TI envolve esforços para unificar boa parte


dos recursos de TI, eliminando eventuais silos tecnológicos e consolidando
diferentes tecnologias com funcionalidades similares, criando assim mais
disponibilidade de recursos para as operações e para futuros projetos, reduzindo
custos com manutenção, administração e compras e causando uma grande
redução da complexidade do ambiente de TI.
Ross, Weil e Robertson (2008) e Rezende e Abreu (2011) afirmam que a
maneira mais eficaz de lidar com silos tecnológicos é contar com o apoio da alta
administração e iniciar a consolidação pelas informações, acompanhadas do
hardware e do software necessários para seu armazenamento e uso, criando um
data center capaz de atender aos requisitos de negócios com segurança e alta
disponibilidade.
O data center é um conceito que pode ser implantado dentro da empresa
(on premisses), em terceiros especializados (hosting), ou na forma virtualizada em
nuvens (cloud).

5.1 Benefícios de um data center consolidado

Partindo do pressuposto de que a consolidação do data center é uma


alternativa melhor do que a criação de silos de TI na empresa, os benefícios
devem ser amplamente comunicados e demonstrados.

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Uso otimizado de recursos: Equipamentos distribuídos pela empresa e a
redundância desnecessária são eliminados. A capacidade de processamento é
mais bem compartilhada e a disponibilidade de recursos é ampliada para toda a
empresa.
Gerenciamento otimizado de documentos: Não só o armazenamento
centralizado de documentos, mas as políticas de acesso e sistemas de
versionamento melhoram a gestão de conteúdos e da segurança. Pode-se
implementar portais de compartilhamento, wikis e workflows que permitam a
colaboração e a disseminação de conteúdos otimizada.
Segurança otimizada: Os riscos de exposição de arquivos, dados ou
conteúdos são drasticamente reduzidos pelo fato de se criar uma central segura
de armazenamento.
Ganhos de escala: Armazenamento, soluções de backup, suporte e
gerenciamento de dados, arquivos e conteúdos passam a compartilhar padrões,
equipes de suporte e conectividades. Quanto mais utilizado o data center,
menores são os seus custos de manutenção e administração.

5.2 Virtualização

A virtualização trata de ocupar melhor a capacidade computacional dos


equipamentos, compartilhando memória, processadores e discos na forma de
imagens.
Na prática, um hardware passa a ser explorado como se fosse multiplicado.
Virtualização de servidores: São criadas imagens dos sistemas
operacionais e de todas as soluções que neles devem rodar. Essas imagens são
hospedadas e executadas em um equipamento robusto e com tolerância à falhas.
Como as imagens são similares a arquivos, elas podem ser rapidamente
copiadas para outros equipamentos em caso de desastres ou em casos nos quais
o equipamento hospedeiro passa a apresentar limitações de processamento.
Virtualização de desktops: Diferentes imagens de computadores para
uso pessoal são hospedadas em servidores robustos. Os usuários passam a
acessar esses desktops virtuais e todo o processamento relativo às suas
atividades é realizado dentro do servidor hospedeiro.
Com isso, a obsolescência de desktops é mais bem gerenciada, a
frequência de renovações é reduzida porque o reaproveitamento é maior e o poder

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de processamento passa a estar nos hospedeiros, barateando as estações de
trabalho.

5.3 Redundâncias

Com a instalação de um data center, vários recursos podem ser


implantados para garantir alta disponibilidade (oferta adequada de capacidade
computacional) e tolerância a falhas (continuidade do funcionamento mesmo em
catástrofes).
Storage: Equipamentos de armazenamento com discos, fontes e
conectividade redundantes. Em caso de falha em um desses itens, outro assume
a tarefa imediatamente. Usuários dos bancos de dados e dos repositórios de
arquivos são os principais beneficiados.
Failover: os servidores no data center possuem recursos de redundância
que os permitem continuar fornecendo funcionalidades mesmo em momentos de
falhas. Energia, discos e até mesmo o computador são replicados para garantir
seu funcionamento permanente.
Balanceamento de carga: A carga de processamento é distribuída
automaticamente entre vários servidores. Assim, os usuários não são afetados
por picos intensos de processamento, sem redução da disponibilidade e da
velocidade.
Sites redundantes: Uma técnica que requer mais investimentos, mas é
adequada a empresas cujas operações são críticas. O data center é duplicado,
geralmente em outra instalação física ou prédio, e permanece de prontidão para
assumir as operações em casos de falhas. Ainda além, sites redundantes também
podem ser utilizados para o balanceamento de carga.

5.4 Automação do data center

Como o data center é um conjunto que requer manutenção e


gerenciamento, sua automação é fundamental para o ganho de eficiência e para
a velocidade operacional das equipes de TI.
Atualização de versões: A atualização de versões impacta toda a rede de
computadores, incluindo as estações de trabalho. Seu gerenciamento pode se
tornar muito desgastante, porque um sistema desatualizado pode criar
vulnerabilidades ou apresentar falhas de funcionamento. Para tanto, são adotadas
soluções de atualização (patch deployment) automatizadas, capazes de verificar

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as versões de software instaladas, baixar e instalar correções e atualizações,
mantendo os equipamentos sempre em seu melhor estado.
Instalação baseada em imagens: Sistemas operacionais e demais
softwares são instalados em uma matriz e todas as atualizações e configurações
são aplicadas. Então, cria-se um arquivo de imagem que servirá para instalar os
demais equipamentos. Essa imagem pode ser aplicada pela rede ou por mídias
removíveis (pendrives). Como resultado, o tempo para instalação de novos
computadores ou para reparo de defeitos é reduzido.
Soluções de backup: a criação de cópias de segurança requer um
controle rígido das versões, datas e arquivos. A rotina de cópias também deve
garantir a qualidade das cópias e a total possibilidade de restauro dessas cópias.
Existem sistemas automatizados para essas tarefas, que realizam todos os
procedimentos de cópia, controle e testes, reduzindo falhas nas cópias e o esforço
operacional requerido.

FINALIZANDO

A consolidação é o cerne da arquitetura de TI. Para que as iniciativas de TI


sejam alinhadas com os objetivos de negócios, todo o espectro da tecnologia da
informação deve ser influenciado pelos mesmos princípios de gestão e operação.
Portanto, planejar a consolidação requer atenção, porque se deve atender a
inúmeras demandas, muitas vezes conflitantes, por funcionalidades e
especificidades oriundas das unidades de negócios. Isso sem perder de vista os
aspectos relativos a custos e à atualização tecnológica.
O arquiteto-chefe da TI deve preocupar-se com um grande mosaico, no
qual há influência mútua entre todas as peças.
Ainda, para garantir a consolidação, o arquiteto chefe precisa comunicar-
se com as unidades de negócios, na busca incessante das necessidades a serem
satisfeitas; com o mercado fornecedor, para compreender o que está disponível
atual e futuramente; e com a alta administração da empresa, que patrocina o
projeto de arquitetura de TI e deve ter suas expectativas gerenciadas e objetivos
atendidos.
Assim, a consolidação é a fundação da arquitetura de TI, permite os ganhos
esperados de eficácia e eficiência, aprofunda as competências e aumenta a oferta
de soluções para as áreas de negócios.

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REFERÊNCIAS

HAUSMAN, K. K; COOK, S. IT Architecture for Dummies. Indianapolis: Wiley


Publishing, 2011.

O'BRIEN, J. A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da


internet. São Paulo: Saraiva, 2010.

RAYNARD, B. TOGAF: The Open Group Architecture Framework – 100 Success


Secrets: 100 Most Asked Questions – The Missing TOGAF Guide on how to achieve
and then sustain superior Enterprise Architecture execution. [S.l.]: Emero
Publishing, 2010.

REZENDE, D. A.; ABREU, A. F. de. Tecnologia da informação: aplicada a


sistemas de informação empresariais. São Paulo: Atlas, 2013.

ROSS; J. W.; WEIL, P.; ROBERTSON, D. C. Arquitetura de TI como estratégia


empresarial. [S. l.]: M. books, 2007.

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