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1/8/2010
Segundo Krauss, Rodin foi o principal artista responsável pela quebra desse
paradigma. Na passagem do século XIX / XX, o artista realizou, sob encomenda,
uma série de projetos para monumentos que teriam sido recusados em virtude do
grau de subjetividade que atribuía ao sentido de monumento e homenagem. Dentre
eles, o mais exemplar nesse sentido, foi o Monumento a Balzac. Para Rodin,
homenagear o escritor significava evidenciar o “humano” em Balzac, ou seja, reduzir
a distância entre a figura ilustre do grande escritor francês e do homem Honoré de
Balzac.
Com isso, a escultura adquire uma certa autonomia que só viria a crescer nos anos
subsequentes. Vale mencionar também que Rodin é responsável por elevar a
modelagem à um nível de importância jamais visto. Até então, os procedimentos
envolvidos na produção de esculturas ficavam restritos ao entalhe em madeira, ao
desbaste da pedra, à fundição em bronze e à modelagem em cera e argila,
compreendida como etapa preparatória e de menor valor.
Mas Rodin não foi o único responsável por produzir rupturas fundamentais no campo
da escultura e as transformações acompanham as mudanças que se estabeleceram
na arte com o surgimento da fotografia, no final do século XIX.
A partir dos anos 50/60 a arte foi tomada por proposições efêmeras, tais como,
happenings, performances, body art, arte ambiental, entre outras. Com forte ênfase
na experiência e na vivência, colocavam o objeto artístico em segundo plano. Nesse
momento, a escultura é concebida e explorada como situação escultórica ou como
práxis. Tais procedimentos, que têm no processo sua matriz, florescem com
intensidade na arte conceitual nos anos 70, cujos pressupostos prosseguem no
horizonte de muitas manifestações contemporâneas.
De todos esses termos, criados ao longo da história da arte, talvez os dois que
abrangem uma gama mais ampla de experiências e que são mais usados na
atualidade sejam objeto e instalação. Os termos construção e assemblage, parecem
ter sido relegados à um plano operacional para designar uma ação ou procedimento,
e ficaram circunscritos ao âmbito do fazer. Em contrapartida, objeto e instalação são
utilizadas hoje tão indiscriminadamente que passam a incorporar um sem número de
experiências e conseqüentemente passam a dizer muito pouco. No uso desses
termos, entretanto, há uma intenção manifesta de distinção.
Uma das primeiras diferenças fundamentais entre objeto e escultura está na escala
das coisas. No Kroller-Muller Museum, na Holanda, há uma enorme pá-de-pedreiro
fincada no chão, de aproximadamente 5 metros de altura. É difícil chamar de objeto
essa obra de Claes Oldenburg, embora ela seja uma reprodução em escala
monumental de um objeto cotidiano e banal e esteja colocada como tal (fincada no
chão, tal como o fazem os pedreiros nas obras). Os objetos guardam uma
correspondência, uma relação ou proximidade, com as coisas do mundo cotidiano,
seja pelo tamanho, que remete ao uso e à manipulação humana, seja pela
funcionalidade ou pelo fato de serem apropriadas ou poderem se confundir com
esses objetos banais.
Obviamente não se pode generalizar. Não podemos, por exemplo, conceber como
objeto uma pequena escultura de Sergio de Camargo. São de fato pequenas
esculturas, pois sua forma e material as diferencia das coisas do mundo, possuem
uma qualidade plástica e uma artesania, que nos remete à toda uma tradição
escultórica que nela se atualiza.
Como vimos no início desse texto, a relação entre o lugar da escultura e a obra
remonta há mais de 500 anos - era um dos fatores que determinava a lógica do
monumento. Mas a relação espaço físico/obra, em sua especificidade, é distinta e
tem alguns antecedentes na Arte Moderna. Podemos evocar operações intencionais
análogas em Malevich, quando montava seus quadros de forma singular nas
paredes; o uso do canto arquitetônico nos Relevos de Tatlin ou as instalações dos
grandes painéis de Monet.
A idéia de totalidade, tão cara para muitos dos artistas da década de 60, inclusive
para Helio Oiticica, no Brasil, ampliou as possibilidades e levou os artistas a unir
diversos meios em um único trabalho e a explorar outros sentidos além da visão.
Som, luz, cheiro, paladar, vivência, interatividade são elementos capazes de ativar
uma experiência artística. O que parece implícito nessas proposições é a intenção
de inserir a arte no real do mundo e de estabelecer o intercâmbio incessante entre
ambos.
Geórgia Kyriakakis
Texto escrito para o projeto De lá...prá cá, da Pinacoteca do Estado de SP