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DOSSIER

MEDICINA DE VIAGEM

Vacinação na Medicina
do Viajante
MAFALDA VIEIRA DE CASTRO*

vacinação na Medicina do

A
O efeito protector das vacinas (res-
Viajante é uma das vertentes posta imunológica) demora algum tem-
preventivas mais eficazes e po a efectuar-se, dependendo do esta-
com maior impacto sobre a do imunitário do viajante, assim como
transmissão de doenças evitáveis pelas do número de doses de vacina que são
vacinas existentes. necessárias para haver uma protecção
Destas, algumas encontram-se à eficaz contra a doença, caso contrário,
venda no mercado, estando outras ape- pode-se dar uma falsa sensação de
nas disponíveis nos Centros de Saúde segurança que pode levar o viajante a
(vacinas do Plano Nacional de Vaci- correr riscos com consequências gra-
nação – PNV) ou Centros de Vacinação ves para a sua saúde.
Internacional (vacinas obrigatórias ou Apesar de eficaz, a vacinação não
aconselhadas antes da viagem). deve substituir completamente a ado-
A vacinação tem um custo para o pção de medidas de higiene ou outras
utente e/ou para os serviços, que deve que só por si tenham um efeito de
ser ponderado face ao risco que este protecção contra a transmissão de
vai correr em adquirir doenças ou doenças.
mesmo em as importar para o seu país Por este motivo, o viajante deve pro-
quando regressa. gramar a sua visita ao médico com a
A eficácia e a segurança das vacinas antecedência suficiente para que este
são, em geral, bastante elevadas, sen- possa actuar em conformidade com o
do as reacções adversas pouco fre- risco da viagem (cerca de 4 a 6 sema-
quentes. nas antes da partida).
O PNV protege a maioria das crian- Além do factor tempo, o risco de
ças e dos adultos contra doenças in- exposição à doença no país de destino
fecciosas, sendo as taxas de cobertura deve ser considerado tendo em conta o
vacinais no nosso país bastante satis- tipo de actividade que o viajante vai
fatórias, o que não acontece na maio- desenvolver, se a viagem for de traba-
ria dos países para onde se viaja lho. Se a viagem for de lazer, o local on-
(África, Ásia ou América Latina). de se vai hospedar e o tempo de per-
Assim, quando se pensa na preven- manência no país de destino é também
ção de doenças evitáveis pela vaci- importante para avaliar o risco de con-
nação em viajantes, estamos a actuar, trair uma doença.
quer ao nível da protecção dos indiví- A história vacinal, a idade e o esta-
duos, quer ao nível da protecção das do de saúde do viajante são também
populações nos países de origem ou de determinantes na escolha das vacinas
destino da viagem. necessárias para viajar em segurança.
Este factor é muito importante, con- Pode-se, assim, dizer que existem
siderando a facilidade com que dois motivos essenciais para se prote-
*Médica de Saúde Pública – actualmente se viaja para locais cada ger um viajante com vacinas:
Responsável pelo Serviço de vez mais distantes e com característi- – Para protecção do indivíduo de mo-
Vacinação Internacional/
/Consulta do Viajante
cas epidemiológicas totalmente dife- do a evitar contrair doenças no país de
(ARS de Lisboa) rentes das existentes em Portugal. destino;

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MEDICINA DE VIAGEM

– Para protecção da população vulne- O uso indiscriminado de vacinas se-


rável do país de origem, à importação gundo protocolos predeterminados
de doenças no regresso da viagem. não deve ser rotina uma vez que a
Em Portugal, o manual de referência abordagem do viajante, como a de
sobre Medicina do Viajante é o livro qualquer utente deve ser individual e
publicado anualmente pela Organiza- única.
ção Mundial de Saúde intitulado Inter- A consulta médica nunca deve ser
national Travel and Health, o qual in- substituída pela prescrição de um
forma sobre a obrigatoriedade ou reco- «pacote» de vacinas que por ser impes-
mendação da vacinação contra várias soal pode fazer o viajante correr riscos
doenças. de saúde e acarreta custos desneces-
Destas, em Portugal encontram-se sários ao sistema de saúde.
disponíveis as seguintes: A consulta médica deve ser efectua-
• Vacinação de rotina da pelo médico de família ou pelo mé-
Tuberculose dico da consulta de Medicina do Via-
Difteria/tétano/pertussis (DTP) jante com formação específica nessa
Hepatite B área, nomeadamente Infecciologia ou
Haemophilus influenzae tipo b (Hib) Medicina Tropical.
Poliomielite (oral ou inactivada)
Sarampo/Papeira/rubéola (VASPR) Consultas do Viajante
Tétano/difteria (Td).
Instituto Higiene e Medicina Tropical
Rua da Junqueira no 96
• Vacinação selectiva para viajantes
1349-008 Lisboa
Influenza
Horário: 8:30 às 19:00
Hepatite A
Telef. 213 627 553
Encefalite Japonesa
Meningite a meningococos Hospital Egas Moniz
Infecção a pneumococos R. Junqueira 126
Raiva 1349-019 Lisboa
Febre Tifóide (oral ou inactivada) Horário: após as 14h
Febre Amarela (protecção indivi- Marcações. 213 650 349
dual)
Centro de Saúde dos Guindais
R. Arnaldo Gama, 64
• Vacinação Obrigatória
400-094 Porto
Febre Amarela (para protecção de
Marcações: 222 002 540
países vulneráveis)
Meningite a meningococos (para Centro de Saúde e de Serviços
Hajj, Umra) de Saúde Pública da Sub-Região
Além das vacinas obrigatórias quer de Saúde de Coimbra
do PNV quer do Regulamento Sanitário R. Antero de Quental, 184
Internacional (Febre Amarela) e ainda 3000-031 Coimbra
a Vacina contra a Meningite Meningo-
cócica teravalente (ACW135Y) para via-
jantes que se desloquem em peregrina- Bibliografia
ção a Meca todas as outras devem ser
1. World Health Organization - Internatio-
prescritas pelo médico de acordo com nal Travel and Health, Genéve, 2002.
o estado imunitário do viajante e o tipo 2. Atouguia J, Varandas L, da Cunha S,
de viagem (local, duração e tipo) depen- Valente C, Rabadão E, Borges F. Vacinaçao –
dendo ainda da antecedência com que 1a Reunião de Consenso sobre Medicina do
se programa a viagem. Viajante. Rev Port Doenç Infec 2003; 2: 49-51

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QUADRO

VACINAÇÕES EXIGIDAS POR PAÍS

Febre Febre Outras Febre Febre Outras


País Amarela Paludismo Tifóide Doenças País Amarela Paludismo Tifóide Doenças
Afeganistão l l1 l A Gabão lll l l A,B
África do Sul ll l l Gâmbia lll l l A,B
Albânia ll l Gana ll l l A,B
Angola lll l l A,B Geórgia l A
Antígua/Barbuda ll Grécia ll l
Antilhas Holandesas ll Granada ll
Arábia Saudita l l l Guadalupe ll
Argélia ll 2 l A Guam l
Argentina l A Guatemala ll l A
Arménia l1,4 l A Guiana ll l
Austrália l Guiana Francesa lll l
Azerbeijão l1 l A Guiné lll l l A,B
Bahamas l Guiné Equatorial ll l l A,B
Bahain l Guiné-Bissau lll l l A,B
Bangladesh ll l l Haiti l l
Barbados ll Honduras l l
Belize l l l A Hong Kong 2 A
Benin lll l l A,B Ilha Pitcaim ll
Birmânia (Mayanmar) l l l A,C Ilhas Caimanes
Bolívia ll l l A Ilhas Cook l
Botswana l1 l1 Ilhas Fiji ll l
Brasil lll l l A,B Ilhas Malvinas l
Brunei Darussabam lll l A Ilhas Marshal l
Burkina Faso lll l l A Ilhas Reunião ll l l
Burundi lll l l A,B Ilhas Salomão l l
Butão l l l A,B Ilhas Virgens Americanas
Cabo Verde ll l2 l A,B Ilhas Virgens Britânicas
Camarões lll l l A,B Índia lll l l A,B,C
Cambodja l l l A Indonésia l l l A
Chade ll l l A,B Iraque l l1 l
Chile l B Israel l
China l l A,C Jamaica ll
Chipre l Japão A,C
Colômbia l l A Jordânia ll l
Comores l A,B Kasaquistão l l A
Congo lll l l A,B Kirghizistão l A
Costa do Marfim lll l l A,B Kiribati ll l
Costa Rica l l A Koweit l
Cuba Lesotho l l
Djibuti ll l l A,B Líbano l l
Dominica ll Libéria lll l l A,B
Egipto ll 2 l A Líbia l 2 l A
El Salvador ll l l A Madagáscar l l l A,B
Emirados Árabes Unidos l l Malásia ll l l A
Equador lll l A Malawi l l l A,B
Eritreia l l l A Maldivas l l A
Est. Fed. da Micronésia l Mali lll l l A,B
Etiópia lll l l A,B Malta ll l
Filipinas ll l3 l A,C Marrocos 2 A

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QUADRO

VACINAÇÕES EXIGIDAS POR PAÍS (continuação)

Febre Febre Outras Febre Febre Outras


País Amarela Paludismo Tifóide Doenças País Amarela Paludismo Tifóide Doenças
Martinica ll l Rwanda lll l l A,B
Maurícia ll 2 l A,B Saint-Kitts-et-Nevis ll
Mauritânia ll5 l Saint-Vicent-et-Grenadines ll
Mayotte l Samoa ll l
México ll l3 l A Samoa Americana ll l
Moçambique ll l l A,B Santa Helena ll l
Mongólia A,B Santa Lucia ll
Montserrat São Tomé e Principe lll l A,B
Namíbia ll ll l Senegal ll l l A,B
Nauru ll l Serra Leoa ll l l A,B
Nepal ll l l A,B,C Seychelles lll l A,B
Nicarágua ll l l A Singapura lll l A
Niger lll l l A,B Somália ll l l A,B
Nigéria lll l l A,B Sri Lanka ll l l A,C
Nioué lll l Sudão lll l l A,B
Nova Caledónia lll l Suriname ll l
Oman l l l Swazilândia l l l
Palaos ll l Tadjikistão l1 l
Panamá l l Tailândia ll l3-4 l
Papua Nova Guiné ll l l Togo lll l l A,B
Paquistão l l A Tonga ll l
Paraguai l l Trinidad e Tobago ll l
Perú l A Tunísia ll l A
Polinésia Francesa ll l Trukmenistão l A
Quatar l Turquia l l
Quénia lll l l A,B Tuvalu l
Rep. Árabe Síria l l1 l Uganda ll l l A,B
Rep. Centro Africana lll l l A,B Uruguai l
Rep. Coreia 2 A,C Uzbequistão l
Rep. Tanzânia lll l l A,B Vanuatu l l
Rep. Dem. Congo lll A,B Venezuela l l A
Rep. Dem. Popular do Laos l l l A,C Vietnam ll l3 l A,C
Rep. Dominicana l3 Yémem ll l l
Rep. Islâmica do Irão l l l A Zâmbia l l A,B
Rep. Pop. Dem. da Coreia 6 A Zimbabwe l1 l A,B

Fonte: International Travel and Health (OMS/2000)

Legenda:
l Vacina ou medicação oral recomendadas para protecção contra a doença 1 Risco em apenas algumas estações do ano (Maio a Novembro); Junho a Outubro na
l Certificado de vacinação exigido aos viajantes que passem por zona de risco ou país infectado Arménia, Azerbeijão, Tadjikistão; Novembro a Junho no Botswana e Zimbabwe
l Excepto crianças com menos de um ano; menos de seis meses no caso das Antilhas Holandesas, 2 Risco limitado, sem profilaxia
El Salvador, Grécia, México, Perú; menos de nove meses no caso do Brasil e Malta 3 Apenas em zonas rurais
l Certificado de vacinação exigido a todos os viajantes 4 Sem risco nas zonas turísticas
l A vacina é exigida àqueles que atravessaram uma zona infectada nos últimos seis dias 5 Excepto se vão permanecer menos de 15 dias no país
6 Aguardam-se resultados de estudo epidemiológico
A Casos de cólera descritos
B Podem ocorrer epidemias de meningite meningocócica
C Encefalite Japonesa (a vacinação contra a Encefalite Japonesa está indicada nos casos de
estadia prolongada em meio rural nas zonas endémicas)

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