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Estilos de aprendizagem
ESTILOS DE APRENDIZAGEM
UMA ANÁLISE DOS ALUNOS DO CURSO DE ENGENHARIA EM UMA UNIVERSIDADE
PARTICULAR NA CIDADE DE SÃO PAULO/SP
Resumo: O objetivo principal do presente artigo é o de explorar o uso dos estilos de aprendizagem
dos alunos do curso de graduação de Engenharia. Pretende, pois, responder as seguintes questões:
qual o estilo de aprendizagem predominante? Para tanto, aplicou-se dois modelos para investigar
quais os Estilos de Aprendizagem predominante nesses alunos. Foram aplicados questionários em
uma amostra de 150 alunos de uma instituição privada, localizadas na cidade de São Paulo, durante
seis meses. Concluiu-se que os estilos de aprendizagem predominante entre os alunos de
engenharia estudados foram o “Esquivo” e o “Tátil”. Por meio desse resultado é possível apontar os
possíveis motivos dos baixos rendimentos encontrados haja vista esses alunos se encontrarem
desmotivados, muito provavelmente pela falta de atividades práticas ao longo do curso, dificultando
a compreensão de disciplinas mais abstratas.
Introdução
Todas as questões que permeiam o processo de Ensino e Aprendizagem estão
sendo alvo de inúmeros estudos, haja vista sua importância em explorar a
capacidade com a qual as pessoas possuem de aprender através de métodos e
técnicas para a transmissão dessas informações para os indivíduos ou para o
coletivo (GOMES DOS REIS, PATON e NOGUEIRA, 2011)
Falar sobre os Estilos de Aprendizagem é tratar sobre a forma com que uma pessoa
usa para adquirir conhecimento, sendo esses de modo pessoal e único. Segundo
Gomes dos Reis, Paton e Nogueira (2011), o Estilo de Aprendizagem não se refere
ao que aprendemos, mas sim o modo como nos comportamos durante o
aprendizado.
Diante desse pressuposto surge a motivação de estudar os estilos de aprendizagem
presentes em uma sala de aula para que, consequentemente, possam ser propostas
novas metodologias de ensino visando o aumento de desempenho dos alunos de
engenharia para resolução de problemas puramente teóricos e problemas práticos.
1 russo.anacarolina@gmail.com, prof.adilsonmello@gmail.com
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Referencial teórico
De acordo com Martins, Meireles, Ramos de Melo e Nalini (2003), a aprendizagem
ocorre quando o aluno adquire um conhecimento que a priori não o detinha. Esse
conhecimento adquirido pode ocorrer através de manifestações específicas e
particulares de cada indivíduo, ou seja, um estilo de aprendizagem. Para Schmeck
(1982), estilo de aprendizagem é:
O estilo que um indivíduo manifesta quando se confronta com
uma tarefa de aprendizagem específica, afirmando que é, também,
uma predisposição do aluno em adotar uma estratégia particular
de aprendizagem, independentemente das exigências específicas
das tarefas.
Brown (1993), em seu trabalho, aponta que os estilos de aprendizagem são
compostos tanto por elementos cognitivos (como memorização, compreensão e
reflexão) quanto emocionais, uma vez que eles exercem influência essencial e
absoluta em todas as formas de nosso comportamento e em todos os momentos do
processo educativo (VIGOTSKI, 2003), e são determinados pela forma com que os
alunos assimilam todo o seu contexto. É importante ressaltar que a identificação
desses diferentes estilos é importante não somente para o aluno, mas também para
os docentes, uma vez que influenciará diretamente em sua maneira de ensinar, pois
os professores tendem a aplicar a metodologia de ensino que mais lhe agradam, ou
seja, seguindo o seu próprio estilo de aprendizagem e não o estilo dos alunos
(CERQUEIRA, 2000).
Os estilos de aprendizagem e suas características
A luz da natureza multidimensional do processo de aprendizagem, busca-se
conscientizar os discentes sobre seus próprios estilos de aprendizagem de modo a
favorecer a uma melhor efetividade nos estudos e possibilitar a escolha da
ferramenta mais adequada a ser aplicada para a melhor compreensão de uma dada
disciplina (JONES, 1997; TYACHE, 1998).
As primeiras definições sobre o assunto foram propostas por Keefe (1979), em que,
segundo ele, os estilos de aprendizagem são uma composição das características
cognitivas, afetivas e fatores fisiológicos, que indicam como é a aprendizagem, inte-
ração e resposta do aluno em contato com o novo conhecimento a ser adquirido.
O aumento do interesse pelo assunto levou diversos pesquisadores a se
debruçarem sobre o tema, fazendo com que no início dos anos 90 houvessem mais
de trinta diferentes taxonomias de estilos de aprendizagem (RIDING e CHEEMA,
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uma única resposta correta. Outro ponto forte á a aplicação prática das ideias,
também utilizam o raciocínio hipotético dedutivo, definem bem os problemas
e tomam decisões. Se seus estilos estão demasiadamente polarizados em
convergência, pode ser que resolvam problemas equivocadamente e tomem
decisões precipitadas. Porém, se carecem de convergência, não comprovam
suficientemente suas ideias, o que pode fazer com que se mostrem dispersos.
Trata-se de pessoas como economistas, físicos, informatas, engenheiros, e
entre outros;
• Divergente: são pessoas que se destacam por suas habilidades para
contemplar as situações de diversos pontos de vista e organizar muitas
relações em um todo significativo. Atuam bem nas situações que são
requeridas novas ideias. Preferem aprender pela experiência concreta e
observação reflexiva. São criativos, geradores de alternativas, reconhecem os
problemas e compreendem as pessoas. Os carentes desse estilo encontram
dificuldades para gerar ideias, reconhecer problemas e as oportunidades.
Possuem campo de trabalho como orientadores, terapeutas, assistentes
sociais, enfermeiras, artistas, músicos e atores.
c) Interação social
Este modelo caracteriza os alunos pela forma com que eles interagem em sala de
aula. Nesta camada, autores de destaque são Riechmann & Grasha (1974). Para os
autores, a classificação ocorre na forma de pares, a saber:
• Competitivos x Colaborativos: os competitivos são mais predispostos a
competir com os colegas por recompensas, que vão desde terem mais atenção
do professor ou serem os mais populares da turma até a disputa pela
obtenção das melhores notas. Os colaborativos gostam de estabelecer
parcerias com os professores e os colegas;
• Esquivos x Participativos: os esquivos não são entusiasmados com a
aprendizagem, evitam interagir com os colegas e os professores, não têm
interesse em frequentar as aulas, evitam as atividades em sala de aula e não
gostam de ficar em evidência no grupo. Os participativos são identificados
com a escola, participam das atividades escolares o máximo possível e
aproveitam as oportunidades de participar de discussões;
• Dependentes x Independentes: os dependentes limitam-se a estudar o que
lhes é exigido, demonstram pouca curiosidade intelectual e são totalmente
dependentes do professor. Os independentes preferem pensar por si, confiam
em sua capacidade de aprender, preferem trabalhar a sós e apreciam
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Procedimentos metodológicos
Segundo a classificação de Cooper e Schindler (2003) a presente pesquisa se
caracteriza por ser formal, de interrogação/comunicação, ex post facto, descritiva,
transversal, caracterizada como em ambiente de campo. Após a classificação da
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n=(N.Z^2.p.(1-p))/(Z^2.p(1-p)+e^2.(N-1)) Equação 1
Em que:
N = Tamanho da População;
Z = Nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios padrão;
p = proporção com a qual o fenômeno se verifica. Foi utilizado um valor p = 0,50.
Segundo Mattar (2005), se não há estimativas prévias para p, admite-se 0,50; q =
(1-p) é a proporção da não ocorrência do fenômeno;
e = erro amostral expresso na unidade variável.
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Resultados e discussão
Através da aplicação dos questionários os dados foram analisados e dispostos em
tabelas de modo a facilitar a visualização dos mesmos.
A Tabela 1 apresenta a porcentagem de alunos do sexo masculino e feminino e a
idade média para cada uma das turmas de estudo (informações adquiridas através
do questionário presente no Anexo I).
Tabela 1. Informações do aluno (Anexo 1).
Sexo
Turma Idade (média)
M F
I 64% 36% 25
II 57% 43% 27
III 52% 48% 23
IV 68% 32% 23
Fonte: dados da pesquisa.
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Turma
Estilo
I II III IV
Competitivo 6% 9% 9% 8%
Colaborativo 7% 17% 13% 11%
Esquivo 43% 38% 20% 36%
Participativo 12% 15% 13% 17%
Dependente 32% 21% 45% 28%
Fonte: dados da pesquisa.
De acordo com a Tabela 2 pôde-se constatar que, com exceção III em que houve a
predominância do estilo “Dependente”, as outras três turmas apresentaram o estilo
“Esquivo” como o predominante. Os Esquivos são alunos sem entusiasmos no
aprendizado e não têm interesse em frequentar as aulas. Tal resultado vai de
encontro ao que era esperado uma vez que a maior parte dos alunos respondeu
que o que os levaram a cursar engenharia havia sido a motivação pessoal.
A Tabela 3 apresenta os dados da aplicação do questionário proposto no trabalho
de Reid (1987).
Tabela 3. Resultados do questionário Perceptual learning style preference questionnaire (Anexo 3).
Turma
Estilo
I II III IV
Visual 25% 19% 27% 29%
Tátil 36% 41% 22% 28%
Auditivo 22% 18% 20% 19%
Cinestésico 17% 22% 31% 26%
Fonte: dados da pesquisa.
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Conclusão
Por meio dos dados obtidos pode-se aferir que os estilos de aprendizagem
predominante entre os alunos de engenharia estudados foram o “Esquivo” e o
“Tátil”. Através desses resultados foi possível apontar a falta de atividades práticas
como um dos motivos para o baixo rendimento dos alunos ao longo do curso.
Sendo assim, destaca-se a importância do planejamento didático de modo a utilizar
diferentes técnicas de ensino correspondendo às preferências de alguns alunos e
desafiando as limitações de outros.
Propõe-se aqui que os professores procurem empreender um trabalho
comprometido com uma nova realidade tecnológica, criando metodologias de
ensino que estejam sob a luz da realidade da universidade e de seus protagonistas,
relacionando o cotidiano escolar a contextos mais amplos, articulando o senso
comum ao saber sistematizado e socialmente construído, integrando e
contextualizando os diversos componentes curriculares à nova realidade social
sem deixar de lado as especificidades e necessidades que o aluno (com seus
respectivos estilos de aprendizagem) possam requerer.
Referências
BASÍLIO, V. B.; VASCONCELLOS, L. Estilos de Aprendizagem e Desempenho
Acadêmico: Um estudo dos alunos de administração da FEA – USP. XIV Seminários
em Administração. [S.l.]: [s.n.]. 2011.
BROWN, H. D. Principles of language learning and teaching. [S.l.]: Pearson,
1993.
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ANEXO I
2) Idade
( ) Realização pessoal
( ) Pressão da família
( ) Dinheiro
( ) Outros. Especifique
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ANEXO II
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ANEXO III
Tabela 7. Questões segundo “Perceptual learning style preference questionnaire (REID, 1987)”.
Item CM C I D DM
1 Quando o professor dá as instruções, eu as entendo melhor
5 4 3 2 1
2 Eu prefiro aprender fazendo as atividades na sala de aula.
5 4 3 2 1
3 Eu produzo mais quando trabalho com outros aprendizes.
5 4 3 2 1
4 Eu aprendo mais quando estudo em grupo.
5 4 3 2 1
5 Na aula, eu aprendo mais quando trabalho com os outros.
5 4 3 2 1
6 Eu aprendo mais lendo o que o professor escreve no quadro de giz.
5 4 3 2 1
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Nas tabelas a seguir indique o valor, por você atribuído, respectivamente a cada
uma das questões solicitadas nas tabelas.
Visual Tátil
6 11
10 14
12 16
24 22
29 25
Total Total
Total x2 Total x2
Auditivo Cinestésico
1 2
7 8
9 15
17 19
20 26
Total Total
Total x2 Total x2
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