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Uma economia aberta é uma economia na qual as pessoas e empresas residentes, bem
como o sector público, podem fazer trocas com pessoas, empresas e sectores públicos de
outros países, ou seja, é uma economia aberta ao comércio internacional e ao
financiamento internacional.
Nem todos os bens podem ser transaccionados internacionalmente. Por exemplo, uma
refeição num restaurante não pode ser produzida num país e consumida noutro. A maior
parte dos serviços são não transaccionáveis. Os bens que são susceptíveis de ser
exportados ou importados, como os automóveis, designam-se por bens transaccionáveis.
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Este texto de apoio (1E207 Macroeconomia II, FEP-UP, 2008-09) não dispensa a frequência das aulas e a
consulta da bibliografia recomendada. Comentários e sugestões: João Correia da Silva (joao@fep.up.pt).
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7.1 Restrição Orçamental da Nação
C2 Y2 − T2
C1 + 1 + r = Y1 − T1 − I 1 + 1 + r C + G2 Y
⇒ C1 + G1 + 2 = Y1 − I 1 + 2
G2 T2 1+ r 1+ r
G1 + = T1 +
1+ r 1+ r
C 2 + G2 C + G2 + NX 2 NX 2
C1 + G1 + = C1 + G1 + NX 1 + 2 ⇔ NX 1 + =0
1+ r 1+ r 1+ r
Numa economia aberta, a despesa dos residentes em bens e serviços (A = C+G+I) não
coincide, necessariamente, com o rendimento (Y = C+G+I+X–Z = A+NX), pelo facto de
os agentes residentes poderem obter financiamento do exterior (Sext = –NX).
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O benefício futuro associado ao investimento presente, I1, está incluído em Y2.
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A posição líquida de investimento internacional é igual ao valor dos activos externos detidos por
residentes, líquido do valor dos activos domésticos detidos por não residentes.
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NX 2
NX 1 + = −F
1+ r
Neste modelo com apenas dois períodos, o saldo da balança corrente externa no segundo
período deve ser suficiente para pagar a dívida externa (o caso em que F é negativo
corresponde à existência de dívida externa), com juros.
NX 2
NX 1 + = − F ⇔ NX 2 = −(1 + r ) ⋅ (F + NX 1 )
1+ r
Com NX1=NX2, que, de certa forma, podemos associar a um equilíbrio de longo prazo:
NX 2+r 1+ r
NX + = −F ⇔ ⋅ NX = − F ⇔ NX = − ⋅F
1+ r 1+ r 2+r
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7.2 Taxa de Câmbio Real de Equilíbrio
Para comprar 1 euro são necessários 1,3 dólares. Se a única moeda externa relevante para
a economia europeia fosse o dólar, a taxa de câmbio nominal seria e’=1,3.
A taxa de câmbio real estabelece a relação entre os preços dos bens na economia
nacional e os preços dos bens no exterior.
P
e=
Pf
Estes preços devem estar expressos na mesma unidade. Para converter preços expressos
em unidades monetárias do exterior (Pf*) para unidades monetárias nacionais (Pf),
devemos dividi-los pela taxa de câmbio nominal.
P P P
e= f
= f ∗ = f ∗ ⋅ e'
P P e' P
Suponhamos que para comprar um litro de gasolina nos EUA são necessários 0,9 dólares
(Pf*=0,9), que são equivalentes a 0,7 euros (Pf=0,7), enquanto que na Europa o preço de
um litro de gasolina é igual a 1,4 euros (P=1,4). Se os outros bens tivessem preços
relativos semelhantes, a taxa de câmbio real seria igual a 2.
P 1,4 1,4
e= f∗
= = =2
P e' 0,9 1,3 0,7
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Sendo a taxa de câmbio real a relação entre os preços nacionais e os preços no exterior,
para a medir, é necessário definir rigorosamente o que é o “exterior”. O índice de preços
no exterior deve definir-se como uma média pesada de forma a reflectir o peso de cada
país no comércio internacional da nossa economia.4
Outra possibilidade é calcular a razão entre os preços dos bens não transaccionáveis e os
preços dos bens transaccionáveis. Esta segunda alternativa foca a análise na economia
nacional, enquanto que os termos de troca se centram no comércio internacional.
Quanto mais elevada é a taxa de câmbio real, mais caros são os bens nacionais, e mais
baratos são os bens no exterior. Assim, uma apreciação da taxa de câmbio real conduz a
um aumento do volume das importações e a uma diminuição do volume das exportações.
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A medição da taxa de câmbio nominal envolve a mesma dificuldade.
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valor das importações; se a elasticidade preço da procura de bens importados for inferior
à unidade (bens de primeira necessidade), o efeito da diminuição do preço predomina,
de modo que o valor das importações diminui.
Normalmente, uma taxa de câmbio real elevada afecta negativamente o saldo da balança
corrente externa. O saldo da balança corrente externa depende também, positivamente, de
o rendimento no exterior, e, negativamente, do rendimento nacional.5
NX = NX a + nx1 ⋅ Y f − nx2 ⋅ Y − u ⋅ e
A taxa de câmbio real de equilíbrio é aquela que faz com que a balança corrente seja tal
que a restrição orçamental da nação se verifica, no longo prazo.
1+ r
NX = NX a + nx1 ⋅ Y f − nx 2 ⋅ Y − u ⋅ e = − ⋅F ⇔
2+r
1+ r
⇔ u ⋅ e = NX a + nx1 ⋅ Y f − nx2 ⋅ Y + ⋅F ⇔
2+r
1 1+ r
⇔ e = ⋅ NX a + nx1 ⋅ Y f − nx2 ⋅ Y + ⋅F
u 2+r
Quanto mais competitiva for a economia nos sectores de bens transaccionáveis, maior é a
capacidade de vender nos mercados internacionais e menor é a vulnerabilidade das
empresas nacionais à concorrência internacional. Ou seja, maior é a tendência para
exportar, e menor é a tendência para importar (NXa é mais elevado). Portanto, mais
elevada é a taxa de câmbio real de equilíbrio.
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A influência dos factores de natureza estrutural, como a estrutura produtiva do país, os recursos naturais, e
as preferências dos consumidores, está incorporada num parâmetro que podemos designar por exportações
líquidas autónomas (NXa).
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A descoberta de recursos naturais, como o petróleo e o gás natural, aumenta as
exportações e diminui as importações, levando à apreciação da taxa de câmbio de
equilíbrio. Esta apreciação torna os bens nacionais mais caros, e os bens produzidos no
exterior mais baratos, prejudicando a competitividade internacional das empresas
nacionais (doença holandesa).
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Recorde que a taxa de juro real pode ser medida como a razão entre os preços de um cabaz de bens não
transaccionáveis e um cabaz de bens transaccionáveis.
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7.3 Determinação da Taxa de Câmbio Nominal
A variação da taxa de câmbio nominal está relacionada com a diferença entre a taxa de
inflação nacional e a taxa de inflação externa.
P ∆e ∆P ∆P f * ∆e'
e= ⋅ e ' ⇒ = − f* +
P f* e P P e'
A taxa de câmbio real de equilíbrio é bastante estável, dado que depende essencialmente
de factores de natureza estrutural. A teoria da paridade dos poderes de compra
pressupõe que os preços dos bens transaccionáveis tendem a igualar-se, no longo prazo.
Segundo a versão absoluta da teoria da paridade dos poderes de compra, a taxa de câmbio
real deveria ser igual a 1. Na versão relativa da teoria da paridade dos poderes de compra,
a taxa de câmbio real mantém-se apenas constante (não sendo necessariamente igual a 1).
Em qualquer das versões, a evolução da taxa de câmbio nominal é igual à diferença entre
a inflação nacional e a inflação externa.
∆e ∆e' ∆P f * ∆P
=0⇒ = f* − =π f*
−π
e e' P P
∆e' f
π = m − yN ⇒ =π f*
−π = m f − yN − m + yN = m f − m
e'
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Podemos concluir que países com maiores taxas de crescimento da massa monetária
tendem a ver a sua taxa de câmbio nominal depreciar-se de forma sistemática.
No curto prazo, não é razoável assumir que a taxa de câmbio real permanece constante.
Como os preços têm alguma rigidez, a taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal
tendem a evoluir de forma semelhante. As variações da taxa de câmbio real, no curto
prazo, reflectem as variações da taxa de câmbio nominal.
∆P f * ∆P ∆e ∆e '
f*
= =0⇒ =
P P e e'
Figura: Evolução da taxa de câmbio real e da taxa de câmbio nominal nos EUA.
Fonte: Gordon, R. “Macroeconomics”, 10th ed., Addison-Wesley, 2006.
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A rentabilidade de um activo nacional (em termos da moeda nacional) é dada pela taxa de
juro nominal, i. A rentabilidade dos activos internacionais é igual à taxa de juro
internacional, corrigida pela desvalorização da unidade monetária externa.
Se a rentabilidade dos activos nacionais for superior, entram fundos no país. Aumenta a
procura de moeda nacional e ocorre uma apreciação da taxa de câmbio nominal. Se a
rentabilidade dos activos internacionais for superior, então o fluxo financeiro é de saída
do país, o que aumentando a oferta de moeda nacional, e leva à depreciação da taxa de
câmbio nominal.
∆e'
i = i f − E
e'
De acordo com esta expressão, se a taxa de juro na zona euro for de 3%, e a taxa de juro
em vigor nos EUA for de 4%, então é de esperar uma apreciação anual do euro de 1%.
No curto prazo, é de esperar igual apreciação da taxa de câmbio real.
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