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Mauro Tule recebe uma moeda no metrô. O homem que a entrega diz que o objeto é o
pagamento de uma dívida. A partir de então, o escritor em crise passa a conviver com despertares
Brevíssima sinopse
do romance. de outras consciências dentro de si, enxerga com os olhos de outras pessoas e cospe pensamentos
que reconhece não lhe pertencerem. Porém, não sabe se isso tem a relação com a exótica moeda
cunhada em 411 a.C. ou se é sequela da omelete que comeu.
Esta é apenas uma sinopse pobre da nova e complexa obra-híbrida do escritor Lourenço
Mutarelli. Há quatro anos sem lançar romances, “O Grifo de Abdera” tem previsão de lançamento
pela Cia. das Letras em novembro de 2014, ano em que o autor completou 50 anos. A definição
Referência ao título
do próprio criador sobre o trabalho é uma “esquizofrenia mutarellica”, pois o livro contém um
da entrevista.
encarte em quadrinhos de 80 páginas e ainda se desdobra em um apêndice; um filme, ainda em
fase de captação.
Características do romance e outros elementos (referidos pelo jornalista como apêndice), no caso, a adaptação
do romance para os cinemas.
Utilizar esta imagem.
O Grifo de Abdera veio nesta moeda que Mutarelli comprou em uma feira de antiguidade
Artista múltiplo: termo O coeficiente é a síntese das frentes mais recorrentes de atuação de quem concebeu a
também utilizado na
entrevista anterior. literatura “O Cheiro do Ralo”, em 2002, ponto de ramificação e consagração como artista
múltiplo, convidado a participar de diversos projetos como roteirista, ilustrador, cenógrafo e
Adotar esse termo, em
vez de artista
multifacetado? dramaturgo. (Algumas de suas atividades)
Parágrafo entrará na O livro é alusão à apropriação de diversas personalidades das quais um compositor de
parte sobre a
performance, que ficções faz para estruturar o que tece. Na verdade, é a segunda autobiografia falsa de Mutarelli
comparo e falo sobre a
metáfora de Xipe Totec
porque o próprio está presente no romance no papel de um dublê de Mauro Tule, escritor que
e do escritor) elege Mutarelli para carnificar um ghost writer. (Obs: A primeira biografira fake está
materializada em “Caixa de Areia”, de 2006.)
Para elucidar minimamente como funciona a cabeça deste escritor psicológico e paulista,
Mutarelli gentilmente recebeu o Ideafixa em seu apartamento e vizinhança, entre Marlboros e
cafés, para uma conversa franca em que abriu um pouco do processo criativo e falou sobre
ocultismo, transes e demônios.
IMPORTANTE:
Contracapa e capa dos quadrinhos encartados no Grifo de Abdera (3 níveis: prosa, quadrinho e a
mistura dessas duas linguagens na
IDEAFIXA: Por que embrenhar-se em tantas camadas com “O Grifo...”? terceitra parte do livro - como
abordado no TCC)
Processo criativo. imaterial distorcida que são as impressões da minha infância. Geralmente começo com algo
pequeno que vai tomando forma, geralmente em indivíduos solitários, pesquiso as profissões que
possuem e os coloco no que sempre me fascinou no ser humano; o lado sombrio.
MUTARELLI: Não acredito no que leio nos livros acadêmicos. Eles refletem opiniões
Comentado na palestra.
Escrevi sobre isso? e vontades de quem os redigiu. Cresci no regime militar onde tudo era inquestionável na escola.
O método que encontrei para ir a fundo em algo é escrevendo. Nos livros não se encontra
respostas, nem na vida, mas com a escrita acalmo minhas dúvidas. Ao me dividir, amplio o que Somos muitos
MUTARELLI: Sou em essência escritor, mas preciso me jogar para não me acomodar e
porque sou experimental. Estou perdido e indo para um lugar que desconheço. Há um bando de
cordeiros por aí reproduzindo referências ao seguir o rebanho. Sou praticamente um punk de
moicano invertido com meu “do it yourself”. Não entendo como alguém faz a mesma coisa por
30 anos, seguindo fórmulas.
Escrivaninha da jaula
MUTARELLI: Escrever me melhora como pessoa. Não contamino tanto minha vida
com meus fantasmas. Espremo furúnculos da alma assim. É preciso negociar e acalmar seus
demônios e não exorcizá-los. Não consegui me enquadrar no sistema tradicional, mas converto o
que faço e como sou em trabalho e é como pago as contas.
Detalhes em amarelo
nas artes originais (e
também no poster).
Como Utilizá-los?
MUTARELLI: Fui criado em escola de padres, mas com avô ateu. Costumo brincar ao
dizer que estou fundando uma igreja de um homem só. Recentemente tive duas experiências
místicas que me afastaram do ceticismo. A primeira foi em 2008, no Museu de Arte Pré- (História também
Colombiana, no Chile. Estava desenhando o deus Xipe Totec porque as fotografias não eram contada durante a
palestra)
permitidas no local. No meio da ilustração tive uma enxaqueca e a visualizei em padrões pré-
colombianos. Sempre tive dores de cabeça aguda, mas desde então só as tenho com as mandalas.
A outra foi ao fazer a preparação de atores para a adaptação de “Natimorto” para o cinema. Ao
fazer os exercícios vendados senti forte presença imaterial ao meu lado.
Mais do material inédito de Mutarelli
MUTARELLI: Sim, mas não àquela visão maniqueísta católica do que seria o diabo.
Isto é algo corrompido. Há muito tempo pesquisei ocultismo e demonologia, queria catalogar os
diversos nomes de demônios que existem porque é muito difícil encontra isso por aí. Sempre tive
O Livro IV
curiosidade por religiões, tanto que meu próximo livro será uma espécie de teoria mística religiosa
sobre o bem e o mal. Este deus pré-colombiano que mencionei é Xipe Totec, uma entidade
criadora associada à morte. Na lenda, ele vem à terra e usa o corpo de um homem morto menor
que ele como roupa. O intuito é se disfarçar, mas a “fantasia” fica toda esticada. Esta é uma das
minhas referências presentes na obra.
Destacar: importante.
Fonte: http://cargocollective.com/caioluiz/filter/Death/Entrevistas
Em: 20/02/2019