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RESUMO
Esse artigo relata a experiência de execução de medidas judiciais voltadas para homens que
cometem delitos relacionados à violência de gênero na cidade de Belo Horizonte/MG. O
estudo relatado tem como objetivo discutir e apresentar o Projeto Temático sobre Violência
Doméstica, que consiste na participação dos homens agressores em grupos reflexivos e
educativos, tendo como perspectiva a temática de gênero. Nesse contexto buscou-se
também a compreensão da atuação do profissional de Serviço Social.
______________
1
Assistente Social e integrante do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), da Prefeitura de Belo
Horizonte/MG.
2
Assistente Social, Coordenadora do Espaço BH – Cidadania/CRAS, da Prefeitura de Belo Horizonte/MG e
Técnica Social do Programa CEAPA de 2005 a 2011.
2
1 INTRODUÇÃO
aplicação da pena alternativa é medida suficiente como resposta penal ao ato ilícito
praticado. Em todos os casos de aplicação das penas alternativas o agente perde a
primariedade e passa a possuir antecedentes criminais.
Nesse contexto, “Despenalizar, significa adotar processos ou medidas substitutivas
ou alternativas, de natureza penal ou processual, que visam, sem rejeitar o caráter ilícito da
conduta, dificultar, evitar ou restringir a aplicação da pena de prisão ou sua execução ou,
ainda, pelo menos, sua redução” (GOMES, 2000:72). Sendo assim, a despenalização está
ligada a ideia de diminuir a pena de um delito sem descriminalizá-lo; é a possibilidade legal
de que o processo penal seja suspenso em certo momento e a solução do conflito seja
alcançada mediante aplicação de penas alternativas.
A participação dos homens nos grupos é obrigatória, equivalendo à medida protetiva,
caso esta seja concedida pelo juiz.
acompanharem essas mulheres e suas respectivas famílias. Tudo isto é feito por
compreender-se que esse trabalho em conjunto é fundamental para que haja um
rompimento no ciclo da violência.
O Assistente Social atua também na coleta de dados com o intuito da construção do
perfil socioeconômico das famílias envolvidas em situação de violência doméstica, tais como:
renda, idade, escolaridade, situação de trabalho, formas de ocupação da moradia, cor
declarada e ainda levantamento do histórico de conflito familiar. Importante ressaltar que o
objetivo não é simplesmente coletar dados para pesquisas, mas também colaborar no
entendimento desse fenômeno complexo, problematizar e envolver a sociedade nesse
debate, de forma a se elaborar políticas públicas mais dinâmicas e eficazes.
A incorporação das perspectivas de promoção da igualdade de gênero e respeito aos
direitos humanos deve ser instrumento contínuo de trabalho dos Assistentes Sociais, com
vistas à diminuição de todas as formas de violência de gênero. Fundamentado no Código de
Ética (1993), o profissional tem como princípio fundamental a opção por um projeto
vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem
dominação/exploração de classe, etnia e gênero. Nesse sentido, a formação ético política
permite um olhar crítico sobre a dinâmica da realidade social, evidenciando-se que é preciso
construir propostas que apontem para a busca da paz social e o fim da violência contra
mulheres.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
este o subsistema mais complexo dessa problemática que envolve a violência doméstica e
intrafamiliar. Nesse sentido, o comportamento humano se apresenta como o fator com
maior probabilidade de desorganizar o sistema social como um todo.
Partindo-se da constatação de que a reflexão é um fator que pode contribuir com a
redução da violência doméstica, entende-se que as penas alternativas temáticas
estabelecem um novo paradigma de intervenção junto ao indivíduo infrator. É nesse
contexto que se retoma à finalidade preventiva da pena para destacar que o rigor punitivo
não pode sobrepor-se à missão social de educar, que é o esforço da pena alternativa –
considerada uma medida essencialmente restauradora. Nesse horizonte, tem-se que a
execução penal não se esgota na perspectiva punitiva, pois há a preocupação com o sujeito
que cometeu o ato delituoso e o propósito de fazê-lo refletir sobre sua conduta.
Devido à complexidade da violência contra a mulher, entende-se ser um equívoco
pensar o seu combate apenas com o fortalecimento do aparato policial e/ou mesmo
prisional. Assim, é fundamental que se construam alternativas de prevenção que possam
reeducar o infrator e o estimular a não reincidência. É essencial despertar o infrator para sua
responsabilidade para com uma sociedade mais segura e mais humana.
Importa destacar, ainda, que é importante realizar pesquisas periódicas para se
medir a eficácia do Projeto quanto à sua contribuição para a redução da violência doméstica.
O dado quantitativo de que 84% dos homens que passaram pelo Projeto não tiveram
reentrada no sistema de justiça é relevante, mas é preciso também avaliar a mudança
qualitativa, subjetiva e social que o Projeto denominado Homens Gestando Alternativas para
o Fim da Violência (ANDROS), contribuiu de fato na redução da violência doméstica.
É nesse cenário com grandes desafios que se inserem as propostas de trabalho do
Serviço Social. Os Assistentes Sociais com seus fundamentos teóricos, metodológicos e ético-
político, por meio de sua intervenção, devem buscar, sobretudo, construir propostas que
apontem para autonomia e cidadania das famílias envolvidas em práticas de violência
doméstica. Por conseguinte, o profissional, nesse espaço, deve buscar a construção de
interface entre os direitos sociais e o direito penal.
14
REFERÊNCIAS
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setembro de 2012.
Notas explicativas:
1
CEAPA – Central de Acompanhamento de Penas/Medidas Alternativas, implantada em Belo
Horizonte em Março de 2006. Órgão ligado a Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), através
da Superintendência de Prevenção Criminal.
2
CP2 Consultoria Pesquisa e Planejamento Ltda: fundada em 1987, a CP2 – Consultoria, Pesquisa e
Planejamento Ltda. firmou-se no mercado mineiro alicerçada na qualidade de seu atendimento e
precisão no oferecimento de respostas a seus clientes. A CP2 é associada ao Conselho Regional de
Estatística (CONRE) e à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) (Cf. informação
disponível em: <http://www.cp2.com.br/empresa.php>. Acesso em: 20 de novembro de 2012).