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influencias

pós-modernistas
A igreja precisa reforçar seu foco
Uniformidade
doutrinário
Tensão entre a nossa
M úsica
e catástrofe para evitar
sacradesvios e atalhos
O que a Bíblia diz sobre
O futuro da
esperança
Projeto alcança 1,4 milhão
esperança e a realidade o uso de instrumentos de pessoas e consolida o uso
da vida diária de percussão da mídia para o evangelismo
MATÉRIA DE CAPA
por RUBENS S. LESSA

Influências
s-modernistas A perda de foco
doutrinário tem levado
membros da igreja a
aceitar ideias relativistas

Neste breve artigo, pretendemos


mostrar as principais sutilezas da fi-
losofia de nosso tempo e, acima de
tudo, reafirmar os parâmetros mo-
rais e espirituais dados por Deus em
Sua Palavra, visando ao desenvolvi-
mento de uma experiência cristã li-
vre de atalhos e desvios.

Definições - O pós-modernismo
é fruto de forte reação à cultura do
período modernista. Em seus pri-
mórdios, a era modernista gerou um
clima de euforia, tendo como plata-
forma as "alvissareiras perspectivas
da ciência". O método racional era
tido como a única medida da verda-
de. A fé foi descartada para dar lugar
à razão. Mas, como sabemos, a uto-
pia criada pelo progresso científico e
pela revolução industrial não durou
muito tempo. Como consequência
das guerras, das desigualdades so-
ciais e do recrudescimento das ambi-
ções humanas, o castelo de areia do
racionalismo ruiu fragorosamente,
deixando enorme vazio, que gerou
u m sentimento de frustração. Isso
gem adventista do sétimo dia é rigorosamente ocorreu, em sua fase embrionária, na
bíblica. Não é fruto da mistura de verdades sagradas década de 1930, mas foi nas três últi-
com filosofias humanas. Tudo está estribado no mas décadas do século X X que a se-
mente do pós-modernismo medrou
'Assim diz o Senhor" Contudo, é preocupante o e se tornou árvore frondosa. Hoje,
número de membros de nossa igreja que absorvem ideias milhões e milhões de pessoas se de-
forjadas nas oficinas do pós-modernismo. Alguns caem nessas liciam com seu fruto.
armadilhas por dois motivos: 1) desconhecem o que está por Os adeptos do pós-modernismo,
escudados nas ideias de Michel
trás dessa onda insinuante e 2) ignoram as doutrinas básicas
Foucault (1926-1984), Jacques Derrida
das Escrituras Sagradas. Já outros, por serem hostis a normas e (1930-2004) e Richard Rorty (1931-
princípios, acolhem deliberadamente os conceitos relativistas 2007), defendem o conceito de que
desta era de mudanças radicais. Esse novo estilo de vida é não existe um centro unificador a que
possamos chamar de "verdade". Por
visto em áreas como lazer, namoro, casamento, conversação, isso, rejeitam explicações unificadas e
vestuário, música e crenças. abrangentes, bemcomotodadescrição
definitiva. O conhecimento dá lugar importante do que valores morais rajosa postura de José: "Como, pois,
à interpretação. Nesse ponto, entra o e espirituais. cometeria eu tamanha maldade e pe-
gosto de cada indivíduo como crité- A globalização está a serviço do caria contra Deus?" (Gn 39:9).
rio de escolha e comportamento. Esse bem e do mal. E Satanás não perde Por falta de respeito ao referencial
enfoque abre caminho para o impé- tempo em propagar verdades "lo- seguido por José, muitos agem como
rio das emoções e intuições. "Faço cais" sem "um foco definido que faça a maioria das pessoas. São marione-
isto porque gosto." "Para m i m , não a união dos elementos diversos e di- tes do controle social. A Bíblia, po-
existe verdade central." Foucault, por vergentes da sociedade pós-moderna rém, diz: "Não seguirás a multidão
exemplo, estava sempre em busca do num todo único". 6
para fazeres mal" (Êx 23:2). A voz da
"prazer completo e total", da "expe- Como afirmamos no início, a multidão sugere: "O que interessa é
riência-limite". Embora tenha sido mensagem adventista do sétimo dia o que é gostoso." E não faltam incen-
considerado por muitos o "arqueó- é rigorosamente bíblica, mas, para tivos e modelos em livros, jornais, re-
logo do conhecimento", morreu numa nossa tristeza, a maioria dos mem- vistas, televisão e internet.
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condição deplorável, vítima de Aids. bros da igreja tem conhecimento su- Casamento. A instituição que, no
Segundo o escritor Michel perficial da verdade. Por isso, correm princípio do mundo, foi estabelecida
Maífesoli, uma tendência da era pós- o risco de perder o foco numa época por Deus como refúgio dos valores
moderna é "a ligação orgânica entre sem foco definido. morais e espirituais da família, hoje
o bem e o mal, entre o trágico e a ju- não é levada a sério, tida apenas como
bilação. Por u m surpreendente para- C o n s e q u ê n c i a s - Quando mem- experiência passageira, marcada por
doxo, é aceitando o mal, em suas di- bros da igreja acolhem ideias e costu- brigas, ciúmes e traição. Em certa
ferentes modulações, que podemos mes do "presente século" (2Tm 4:10; igreja, a comissão proibiu os pasto-
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alcançar certa alegria de viver". Rm 12:2; l j o 2:15), há perigo no ar. A res de dizerem: "Até que a morte os
A maior ameaça do pós-moder- cidadela do coração dessas pessoas separe." Nesse caso, o critério de deci-
nísmo é seu pluralismo relativista, tem muros baixos, devido à falta de são da igreja foi a possibilidade de fra-
uma espécie de politeísmo de va- conhecimento dos princípios cristãos. casso e não o padrão divino.
lores. O bem e o mal estão juntos, Por outro lado, há membros que os- Por não ter foco centrado na von-
criando u m estilo de vida. Essa ma- tentam bom conhecimento intelec- tade de Deus, o modelo mundano
neira de pensar dá espaço à natureza tual da verdade, mas sem relaciona- propõe: "Até que a novidade acabe."
"local" da verdade. O que é bom para mento algum com Jesus. Por isso, seus Consequentemente, os filhos sofrem
João pode não ser bom para Pedro. "A muros de proteção contra o munda- e, quase sempre, andam pelo mesmo
verdade pode mudar de acordo com nismo são também vulneráveis. caminho. Por causa desse compor-
o contexto", dizem seus seguidores. As duas situações mencionadas tamento, alguns lares adventistas
Não se consultam revelações divi- acima constituem solo propício para não são mais laboratórios do cristia-
nas. O "Assim diz o Senhor" vai para o desenvolvimento de ideias e atitu- nismo. São tubos de ensaio de ideias
a lata de lixo mais próxima. Stanley des ditadas pelos conceitos relativis- e costumes condescedentes.
J. Grenz afirma que "o abandono da tas de nosso tempo. Os adventistas Entretenimento. De modo sutil, a
verdade universal implica a perda de desprovidos do conhecimento da ver- recreação cristã foi substituída pela
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todo critério final" e Maífesoli diz dade correm o risco de ser engana- diversão. Diz Eilen G. White: "A re-
que "o Deus único absoluto, trans- dos, enquanto os que apenas conhe- creação, na verdadeira acepção do
cendente, criador do mundo, que cem as doutrinas correm o risco de termo - recriação - tende a fortale-
serve de referência ao homem do- ser iludidos. Para tais pessoas, a raiz cer e construir.... O divertimento, por
minador da natureza, dá lugar a u m do problema consiste em agir sem o outro lado, é procurado com o fim de
politeísmo multiforme". A conse- foco unificador da Palavra de Deus. proporcionar prazer, e é muitas vezes
quência imediata de tudo isso, ele A seguir, daremos algumas pince-
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levado ao excesso". A atual geração de
acrescenta, são "identificações múl- ladas em importantes áreas da vida, adventistas está exposta a u m modelo
tiplas" e "comunhões musicais, es- tendo como pano de fundo as propos- focado na competição, no prazer e na
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portivas, religiosas". tas relativistas do pós-modernísmo. satisfação de paixões carnais. O que
Outra característica da vida pós- Namoro. Essa fase de relaciona- está a igreja oferecendo às crianças e
moderna é a globalização. Domênico mento entre duas pessoas perdeu aos jovens? Se não está provendo re-
de Masi afirma: "A vida inteira é glo- o foco. O respeitoso conhecimento creação cristã, deveria, pelo menos,
balizada. O mundo inteiro escuta as mútuo deu lugar à exploração física, mostrar alternativas ao alcance de to-
mesmas canções, assiste aos mes- uma espécie de arqueologia das pai- dos. O apóstolo Paulo deixou u m ma-
mos filmes, usa os mesmos objetos xões inferiores. O que vale é o "pra- nual de procedimentos: "Finalmente,
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e tende aos mesmos costumes." Dá- zer total", a "experiência-limite". irmãos, tudo o que é verdadeiro,
se mais valor a coisas do que a pes- Poucas pessoas consultam o manual tudo o que é respeitável, tudo o que é
soas. O valor simbólico que se atri- de procedimentos vindos do Alto. justo, tudo o que é puro, tudo o que é
bui a u m bem é considerado mais Raramente alguém manifesta a co- amável, tudo o que é de boa fama, se
alguma virtude há e se algum louvor plicar a origem do Universo usando Precisamos corrigir desvios tendo
existe, seja isso o que ocupe o vosso as lentes do evolucionismo! como parâmetro as orientações das
pensamento" (Fp 4:8). Santas Escrituras.
Conversação. O jeito de falar Conclusão - Em todos os aspectos 5. "Aqui está e perseverança dos
da multidão é pueril e irreverente. mencionados acima fica evidente o santos, os que guardam os manda-
Deus é desonrado quando certas fato de que algumas pessoas estão vi- mentos de Deus e afé em Jesus" (Ap
palavras e expressões do "presente vendo sem u m foco unificador. Ago- 14:12). Os dez mandamentos não
século" são usadas no lar, no traba- ra, porém, não têm desculpas, pois já acolhem interpretações pessoais.
lho, na escola e no âmbito da igreja. conhecem as causas do comporta- Não aprovam o "Eu quero porque
Alguns pregadores banalizam a lin- mento permissivo de nosso tempo. gosto", mas o "Assim diz o Senhor".
guagem para atrair a atenção dos ou- Por isso, vale a pena resumir o que 6. "Eu sou o caminho, e a verdade,
vintes. Esse método é de mau gosto. foi dito até aqui e destacar o padrão e a vida; ninguém vem ao Pai senão
Diz a Bíblia: "Não saia da vossa boca divino para a conduta humana. por Mim" (Jo 14:6). Jesus é o centro
nenhuma palavra torpe; e sim uni- Se, na era moderna, a busca da de todas as referências morais e es-
camente a que for boa para edifica- verdade se valia apenas da razão hu- pirituais. E o que Ele espera de nós?
ção, conforme a necessidade, e, as- mana, descartando a fé nas revela- Ele mesmo responde: "Se M e amais,
sim, transmita graça aos que ouvem" ções divinas, hoje, o superego pós- guardareis os Meus mandamentos"
(Ef4:29). Portanto, o jeito do mundo moderno baseia-se no "tudo vale". (v. 15). U m trem só está seguro en-
não é o jeito de falar do cristão. Mas Stanley Grenz nos adverte: "O quanto anda sobre os trilhos.
Música. O inimigo tem feito evangelho cristão cuida não somente Como vocêacabou dever, não existe
muito estrago nessa área tão sensível da reformulação de nossos compro- campo para a subjetividade humana e
da igreja. Durante séculos, a música missos intelectuais, mas também da para a ideia de que "tudo vale".
sacra teve parâmetros bíblicos. Mas, transformação de toda a nossa vida Meu irmão, ponha de lado o re-
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nas últimas décadas, o foco de alguns como crentes que somos." lativismo pós-modernista, pois ele é
compositores, intérpretes e ouvin- Como povo chamado para restau- hostil à ideia de uma verdade única,
tes é aquilo de que eles gostam. Toda rar as verdades pregadas por Jesus e exclusiva, objetiva, externa ou trans-
pessoa atenta sabe identificar dife- pelos apóstolos, cumpre-nos ter em cendente. Não caia na armadilha de
rentes tipos de música: rock, samba, mente o centro unificador do Livro que a verdade é ilusíva, polimorfa,
frevo, música sertaneja, tango, bo- Sagrado. Eis alguns parâmetros: íntima e subjetiva. Você faz parte de
lero, música clássica, música sacra, 1. "No princípio, criou Deus os céus u m movimento que tem a Palavra
música gospel, etc. Qual seria a rea- ea Terra" (Gn 1:1). Nosso Planeta não de Deus como centro unificador.
ção do público se, num show de rock, é fruto do acaso, mas de u m propó- Portanto, não se deixe levar pela
alguém subisse ao palco e começasse sito divino. A vida aqui não deve ser subjetividade do "eu quero porque
a cantar: "Jesus, Tu és a Minha Vida"? uma balada, mas uma preparação gosto", mas pela convicção de que o
Ou: "Bem Junto a Cristo"? Contudo, para a Nova Terra. "Assim diz o Senhor" lhe dá o rumo
por que alguns membros da igreja 2. "Façamos o homem à nossa ima- certo. Afinal, "o mundo passa, bem
não estranham quando veem al- gem, conforme a nossa semelhança" como a sua concupiscência; aquele,
guém subir à plataforma e interpre- (Gn 1:26). Portanto, temos uma ori- porém, que faz a vontade de Deus
tar canções com algumas pitadas de gem nobre, conhecemos o lugar em permanece eternamente" (ljo 2:17).
rock, música sertaneja e outras coi- que estamos e sabemos para onde Levante-se, tome uma atitude co-
sas? Motivo: desconhecem o con- vamos. Por isso, precisamos seguir rajosa e faça a diferença em sua casa,
ceito bíblico de adoração. A verda- o estilo de vida estabelecido para na escola, no trabalho e na igreja.
deira adoração não consulta gostos nosso bem. Evite desvios e atalhos. Ande nos
identificados com interpretações 3. "Pois nEle vivemos, e nos mo- trilhos. A
múltiplas ou locais. vemos, e existimos" (At 17:28).
Crenças. Muitas igrejas que se de- Dependemos de Deus em todas Rubens S. Lessa é redator-chefe da Casa
nominam cristãs não têm foco defi- as áreas da vida. Os pós-moder- Publicadora Brasileira.
nido no "Assim diz o Senhor". Umas nos consultam manuais de bens de
Referências
oferecem vantagens imediatistas; consumo, enquanto os cristãos con- 1. Michel foircaij lt,' The Minimalen Self", in: íblitks, philosoply, aiítwe:
outras afirmam que o importante é sultam o manual de procedimentos Interviews (ndotiter wtkings, 1977-1984, ed. Lawrence D. Kritzman,
trad. Alan Sheridan et al. (NewYoik, Routlegde, 1988, p. 12).
sentir fortes emoções. Algumas per- preparado por Aquele "em quem não 2. Michel Maffesoli, A Parte i/o Diabo (Editora Fíecord: Rio de Janeiro, RJ,
2004), p. 20.
deram o foco no equilíbrio, dando pode existir variação ou sombra de 3. Stanley J. Grenz, Pós-modetnimo (Vida Nova: São Paulo, SP, 2008),
lugar a atitudes extremistas. Outras mudança" (Tg 1:17). p.234.
4. Maffesoli Op. ct, p. 53,152.
partem para u m evangelho mera- 4. "Toda a Escritura é inspirada 5. Don*nico de Masi, OÕdo Criativo (Sextante: Rio de Janeiro, RJ, 2000),
p.134.
mente social, olvidando a prepara- por Deus e útil para o ensino, para 6. Stanley J. Grenz, Op ct, p. 36.
ção para a vida no Céu. E o pior é a repreensão, para a correção, para 7. Elle n G. White, Educação (C PB: Tatu í, SP, 1996), p. 207.
8. Stanley Grenz, Op c/r., p. 245.
quando teólogos liberais tentam ex- a educação na justiça" (2Tm 3:16).

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