Junho / 2008
Por Dra. Susan Watkins (Universidade de Arkansas), com
a revisão técnica de Paulo Alfredo Nicolau (Assistente
Técnico - Aviagen do Brasil).
Introdução
É essencial que haja uma provisão diária de água limpa para ga-
rantir a saúde dos lotes e o melhor resultado econômico. As linhas
de fornecimento de água para as aves não são transparentes; por-
tanto, é impossível ver o que acontece dentro das mesmas. É fácil
esquecer essa parte do galpão quando são realizadas as limpezas
e desinfecções entre cada lote. É importante limpar o sistema de
condução de água depois de cada lote.
Uma boa higienização da água começa com um programa de lim-
peza profunda das linhas de água. A variabilidade e dinâmica dos
sistemas de condução de água criam desafios constantes em relação
à sua limpeza, porém, estes podem ser superados com informação
sobre a qualidade da água, um pequeno esforço e as ferramentas
corretas. Recomenda-se seguir estas orientações, para que as aves
tenham um abastecimento de água de primeira qualidade:
Primeiro passo: fazer a análise da água
Analise a água para verificar os minerais que causam incrustações:
cálcio, magnésio e manganês. Caso a água contenha mais do que 90
ppm de cálcio e de magnésio de forma combinada, ou 0,05 ppm de
manganês, seu programa de limpeza precisará de um “descalcifica-
dor” ou a utilização de algum ácido. Estes produtos dissolverão os
depósitos minerais no encanamento de água e os acessórios.
Segundo passo: escolher um produto de limpeza higienizador
Escolha um produto higienizador que permita dissolver com efi-
ciência o biofilme e o lodo nas linhas. Um dos melhores produtos
para isto são as soluções concentradas de peróxido.
Antes de usar limpadores fortes, deve-se verificar se os encana-
mentos estão funcionando corretamente, de modo que qualquer
bolsa de ar no seu interior seja liberada. Consulte os fornecedores
do equipamento antes de usar produtos com o objetivo de evitar
possíveis danos.
Terceiro passo: preparação da solução higienizador
Para obter melhores resultados, use produtos higienizadores com
a maior concentração recomendada nas especificações. A maioria
dos dosadores permite apenas concentrações entre 0,8% e 1,6% do
produto original. Caso for necessário utilizar altas concentrações, é
preferível misturar a solução base inicial em um recipiente de maior
volume, distribuindo-a sem o uso de dosadores. Por exemplo, se
for necessária uma solução de 3%, misture três volumes do produto
com 97 volumes de água para a mistura final.
É possível preparar um excelente produto higienizador por meio
de uma solução de peróxido a 35%. Misture, como já foi descrito,
para obter uma solução a 3%.
Quarto passo: limpeza das linhas
Para encher e limpar 30 metros de encanamento de 20mm de
diâmetro, são necessários de 30 a 38 litros de água. Caso o galpão
for de 150 metros de comprimento e tiver duas linhas de água,
será preciso um mínimo de 380 litros de solução desinfetante. O
esquema das linhas de água deve permitir a drenagem completa
das mesmas quando a limpeza for finalizada.
Siga estes passos para limpar o encanamento de água:
1. Abra a linha de água até que se esgote por completo.
2. Injete o produto de limpeza/higienizador através das linhas de água.
3. Observe se a água sai pela drenagem das linhas com sinais do
produto, tais como espuma ou sujeira.
4. Assim que as linhas de água tenham se enchido com a solução,
feche o registro para que o produto permaneça dentro das linhas
durante o período de tempo recomendado pelo fabricante (se
possível, mais do que 24 horas).
5. Retire o produto do encanamento depois do período de espera. A
água usada na limpeza das linhas deve conter o nível do produto
higienizador normalmente usado na água de beber das aves.
Na ausência de um programa padrão de higienização da água,
acrescente 113g de lixívia a 5% por litro de solução base, a pro-
porção desta solução base que deve ser aplicada será de 7,5g por
litro de água. Isto proverá 3-5 ppm de cloro na água do enxágüe.
6. Depois da limpeza, higienização e enxágüe do sistema, a água
deve ficar fresca e estar clorada (3-5 ppm no bebedouro mais
longe da fonte). Caso for usado um medidor do potencial de
óxido-redução (POR), a leitura deve ser no mínimo de 650 mV.
7. O encanamento de água desde o reservatório até os galpões tam-
bém deve ser limpo e higienizado entre lotes. É preferível não
deixar que corra a água destas linhas externas de água através
das linhas internas de água dos prédios. Ligue uma mangueira
de água ao registro principal para esvaziar as linhas externas.
Quinto passo: eliminação das incrustações de origem mineral
Depois da limpeza das linhas, podem ser usados descalcificadores
ou produtos à base de ácido para eliminar o acúmulo mineral.
Use os produtos de acordo com as recomendações do fabricante. Um
dos produtos que podem ser utilizados para este caso é o ácido cítrico.
1. Prepare uma solução, misturando 1-2 bolsas de ácido cítrico
(uma bolsa contém aproximadamente 410g) em 3,8 litros de
água. A proporção desta solução base será de 7,5g por litro
(0,8% ou 1:128). Encha os canos de água e mantenha-os
assim por 24 horas. É fundamental que o pH da água seja
menor do que 5, para conseguir uma ótima eliminação das
incrustações.
2. Esvazie as linhas de água. Faça uma mistura da solução base com
60-90g de lixívia a 5% por litro. Encha as linhas com água limpa
que contenha esta pré-mistura com uma proporção de 7,5g/litro
(0,8% ou 1:128). Mantenha a mesma nas linhas de água durante
4 horas. Esta concentração de cloro eliminará qualquer resto
residual de bactérias e resíduos adicionais de biofilme.
3. Deixe que escorra a água nas linhas, usando água com o nível
normal de higienizador (o nível normal de higienizador equi-
vale a 30g por litro de lixívia a 5% de pré-mistura; a proporção
desta pré-mistura será de 7,5g por litro de água). Continue
fazendo a água escorrer até que os canos não contenham mais
do que 5 ppm de cloro.
Sexto passo: mantenha o sistema limpo
Uma vez que o sistema tenha sido higienizado, é muito importante
que permaneça limpo. Desenvolva um bom programa de higieni-
zação diária de água para suas aves. O programa de higienização
do encanamento de água deve incluir a injeção tanto de um
produto higienizador como de um ácido. Vale a pena mencionar
que este procedimento requer dois injetores ou dosadores, consi-
derando que os ácidos e a lixívia nunca devem ser misturados na
mesma pré-mistura inicial.
Caso apenas se disponha de um único dosador ou injetor, então
se deve preparar uma solução base com 40g de lixívia (a 5% de
concentração) por litro; a proporção que deve ser aplicada é de
7,5g de solução de pré-mistura por litro de água potável.
O objetivo é prover água de beber limpa com um nível constante
de 3-5 ppm de cloro no ponto mais longe do prédio em relação
ao dosador.
Tabela 1: Níveis operacionais sugeridos na água
Limites por ml ufc* Boa Aceitável Inaceitável
Tomada principal de água 0-100 101-300 >301
E.coli 0 1
Pseudomonas 0 1
* ufc = unidades formadoras de colônia
Outros desinfetantes:
O ozônio (O3) é um bactericida e antivirótico muito eficaz e, ao
mesmo tempo, um oxidante químico. O ozônio reage com o ferro
e o manganês de tal forma que são muito mais fáceis de eliminar
por filtragem. Funciona independentemente do pH e também pode
desativar o cloro se forem usados simultaneamente. Entretanto, o
ozônio é um higienizador “de ponto de contato” que se dispersa
rapidamente e não deixa nenhum resíduo no sistema de água.
O dióxido de cloro está sendo comercializado no mercado como
higienizador de água potável para aves, em parte porque sua apli-
cação está se resolvendo com a introdução de métodos de dióxido
de cloro de nova geração. O dióxido de cloro é tão efetivo quanto
o cloro como bactericida e, inclusive, mais efetivo como antiviró-
tico, além do fato de também ser superior ao cloro na eliminação
do ferro e do manganês. Não é afetado pelo pH.
Notas finais
1. Não usar os ácidos como único método para o tratamento de
água, pois se forem usados apenas ácidos, podem causar o cres-
cimentos das bactérias e fungos nos sistemas de linha de água.
2. O peróxido está ganhando popularidade como higienizador da água.
O pH e a alcalinidade do bicarbonato têm um papel muito impor-
tante na eficácia do peróxido. O peróxido pode ser armazenado “em
loco”, mas se deteriorará depois de algum tempo. Também é um
oxidante muito potente, mas seu efeito não dura muito.
3. O peróxido é muito agressivo e seu manejo requer extremo
cuidado. Deve ser realizado um teste em cada componente antes
de utilizá-lo como produto químico. É muito importante seguir
as instruções de manejo e uso da forma como descrito, com a
finalidade de evitar danos em pessoas e equipamentos.
Um produto à base de peróxido a 50% e estabilizado com nitrato
de prata é muito eficaz como higienizador e limpador de encana-
mento, que não estraga as linhas de água.
4. Quando outros produtos são administrados às aves, é uma
boa idéia deixar de incluir o cloro (e outros higienizadores) na
água de beber. O cloro desativa as vacinas e reduz a eficácia de
alguns medicamentos. Retome o tratamento com cloro e/ou ou-
tros produtos higienizadores depois de finalizar o tratamento.
5. A higienização da água pode estar regulada por medidas locais,
portanto, consulte as autoridades locais e sempre siga as instru-
ções do fabricante.
Notas sobre a autora
A Dra. Susan Watkins é formada, sendo mestre e Ph.D pela
Universidade de Arkansas. Trabalhou como supervisora de campo
e de controle de qualidade de Mahard Egg Farm em Prosper, no
Texas (EUA), obtendo a qualificação de “Especialista em Aves”,
em 1996. A Dra. Watkins é especialista em questões de nutrição e
manejo de aves, principalmente.
Seu trabalho inclui a identificação de fontes alternativas de ma-
terial para as camas mais econômicas para a indústria avícola.
Além disso, a Dra. Susan tem realizado avaliações de tratamen-
tos para as camas, com o objetivo de melhorar o meio ambiente
das aves. Na área de pesquisa, seu trabalho inclui a avaliação de
aditivos e ingredientes da ração e seu efeito no rendimento das
aves. É também coordenadora do departamento do programa de
práticas de empresa.
A Aviagen agradece à Dra. Susan Watkins pela sua contribuição
neste artigo e pelo seu trabalho na indústria avícola no desen-
volvimento de programas de higiene da água.