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Marina Valladares

DRE: 115093954

Fichamento nº 5

História da Música Ocidental

Donald J. Grout Claude V. Palisca

Editora Gradiva, 1994, Lisboa

Capítulo 6 (pág. 184-223)

A Era Renascentista: De Ockeghem a Josquin

Características gerais:

A experiência de redescoberta da antiga cultura greco-latina avassalou a tal ponto a Europa dos
séculos XV e XVI que não podia ter deixado de afetar om modo como as pessoas concebiam a
música. É verdade que não era possível um contato direto com a própria musica da antiguidade,
ao contrario do que sucedera com os monumentos arquitetônicos, com a escultura e a poesia.
Mas um repensar do papel da música à luz daquilo que podia ler-se nas obras dos antigos
filósofos, poetas, ensaístas e teóricos musicais era não apenas possível, como até, na opinião de
muitos, urgentemente necessário. Os que liam a literatura antiga interrogavam-se sobre o fato de
a música moderna não despertar neles paixões diversas, à semelhança do que se dizia suceder
com a música antiga. O bispo Bernardino Cirillo (v.vinheta) não foi o único a manifestar um
certo desencanto pela música erudita do seu tempo e uma aspiração de regresso à grandeza do
passado: Assim, como os músicos de hoje deveriam procurar fazer no seu oficio aquilo que
fizeram os escultores, pintores e arquitetos do nosso tempo, recuperando a arte dos antigos, e o
que fizeram os escritores, arrancando a literatura ao inferno para onde fora banida por eras mais
corruptas, explicando-a e oferecendo-a ao nosso tempo em toda a sua pureza, tal como aconteceu
com as ciências.

Tal opinião era bastante comum entre os leigos no mesmo momento em que músicos como
Zarlino chamavam orgulhosamente a atenção para os progressos da técnica contrapontística da
sua época. Tanto os críticos como os defensores da música moderna exprimiram as suas opiniões
como reação a um movimento a que se deu o nome de humanismo. Consiste ele num reavivar da
sabedoria da antiguidade, em particular nos domínios da gramatica, da retorica, da poesia, da
historia e da filosofia moral. Este movimento incitou os pensadores a avaliarem as suas vidas,
obras de arte, costumes e estruturas sociais e politicas segundo os padrões da antiguidade. Tanto
o bispo Cirillo como Zarlino deploravam o declínio da música após a época clássica e queriam
ver de novo igualado o nível das realizações dessa época.
O humanismo foi o movimento intelectual mais característico do período a que os historiadores
chamam o Renascimento. Afetou a música relativamente mais tarde do que alguns outros
domínios, como, por exemplo, a poesia e a crítica textual literária, mas o hiato não foi tão grande
como, por vezes, se chegou a concluir. A leitura do tratado de Boécio enquanto texto clássico, e
já não como base para a aprendizagem profissional, na escola de Vittorino de Feltre para jovens
nobres e talentosos, fundada em 1424 na corte Mântua, pode ser considerada como um marco
que assinala o início dos novos estudos sobre os primórdios gregos da teoria musical. Não muito
depois, os mais importantes tratados musicais gregos emigrados ou por caçadores italianos de
manuscritos como um fruto do seu saque em Bizâncio.

Franchino Gaffurio foi um dos estudiosos da música que teve ao seu dispor algumas destas
traduções e incorporou boa parte dos conhecimentos e da teoria gregos nas suas obras mais
importantes Theorica musice (1492) e De harmonia musicorum instrumentorum opus (1518). Os
escritos de Gaffurio foram os que maior influencia tiveram na música do século XV e inicio do
século XVI e, a par das traduções e três comentários publicados acerca de algumas das obras
acima indicadas, estimularam um novo florescer do pensamento sobre temas como os modos, a
consonância e a dissonância, o proposito e os parâmetros do sistema tonal, a afinação, as relações
entre música e palavra e a harmonia da música, do homem, do espírito e do cosmos.

Sistemas de afinação

A procura de novos sistemas de afinação foi estimulada não apenas por um desejo de conseguir
consonâncias mais suaves, como também pela expansão dos recursos tonais para além dos
modos diatônicos, até às notas da escala cromática. A música ficta improvisada só requeria um
número limitado de acidentes - principalmente fa#, do#, sol#, sib e mib - mas, à medida que os
compositores procuravam obter novos efeitos expressivos, começaram a explorar ciclos de
quintas, que os levaram a reconhecer até mesmo notas como dób e sibb. Foram então concebidas
escalas ficta, tomando por modelo a escala convencional, por forma a incluir nota sustenida e
nota bemol correspondente, como do# e reb, não coincidiam. Isto levou à criação de teclados
duplos nos órgãos e nos cravos. Nicola Vicentino ficou famoso por ter inventado um cravo com
três teclados que podia ser tocados nos gêneros cromático, enarmônico e diatônico.

Imprensa musical

Foram feitos manuscritos em cada centro, comportando o repertorio local, e copiados outros
manuscritos geralmente oferecidos como presentes em aniversario, casamentos e outras ocasiões.
Mas este processo era dispendioso e nem sempre transmitia fielmente as obras do compositor.
Com os progressos da arte da imprensa tornou-se possível uma difusão muito maior e mais exata
da música erudita. No final do século XV surgiram exemplos de música impressa com blocos de
madeira; este método continuou a ser utilizado, quer isoladamente, quer conjugado com a
impressão de caracteres moveis, mas acabou por se extinguir. A primeira coletânea de peças
polifônicas impressa com caracteres móveis foi editada em Veneza, no ano de 1501, por
Otaviano de Petrucci. Petrucci utilizava o método da tripla impressão, ou seja, uma primeira para
as linhas da pauta, uma segunda para a letra e uma terceira para as notas. Era um processo,
moroso, difícil e caro; alguns impressores do século XVI reduziram-no a duas impressões, uma
para letra e outra par a música. A impressão única, ou seja, com caracteres que imprimiam
pautas, notas e texto numa única operação, foi praticada pela primeira vez por John Rastell em
Londres, cerca de 1520. O método de movimento das vozes ao inventar uma peça que consistia
em começar por uma estrutura a duas vozes, geralmente tenor-soprano, acrescentando em
seguida uma terceira voz e, finalmente, uma quarta conforme ensinavam os manuais mais
antigos, era agora considerado impróprio. Pietro Aron aconselhava os compositores a escreverem
todas as vozes em simultâneo, e não uma de cada vez.

Compositores do Norte

A hegemonia dos músicos do Norte, que começara já no inicio do século XV, fica bem ilustrada
pelas carreiras dos principais compositores e interpretes entre 1450 e 1550; a maioria passou boa
parte da vida ao serviço do imperador, do rei de França, do papa ou de uma das cortes italianas.
Na Itália as cortes ou cidades de Nápoles, Ferrara, Modena, Mântua, Milão e Veneza foram os
mais importantes centros de difusão da arte dos compositores franceses, flamengos e dos Países
Baixos

Johannes Ockeghem

Nasceu em torno de 1420 e não foi um músico excepcionalmente prolifico. As suas obras
conhecidas incluem cerca de treze missas atesta o fato de na segunda metade do século XV ser
essa a forma principal de composição, na qual se esperava que o compositor mais plenamente
revelasse o seu engenho e sua imaginação. A maioria das missas de Ockeghem, incluindo a
missa Caput são semelhantes, na sonoridade global, às de Dufay. Quatro vozes de natureza
basicamente idêntica interagem numa textura contrapontística de linhas melódicas
independentes. Todavia, o baixo, que até 1450 raramente cantava abaixo de dó, desce agora até
sol ou fa e, por vezes, ate uma quarta mais abaixo em combinações especiais de vozes graves;
nos restantes dos casos, a tessitura das vozes é geralmente a mesma que na primeira metade do
século.

Jacob Obrecht

Deixou 29 missas, 28 motetes e várias chansons. A maioria das suas missas são constituídas
sobre cantus firmi, que tanto podem ser canções profanas como melodias gregorianas, mas há
uma grande variedade no modo de tratamento destes temas alheios. Em certas missas é usada a
melodia inteira em todos os andamentos; noutras a primeira frase da melodia é usada no Kyrie, a
segunda no Gloria, e assim sucessivamente. Algumas missas combinam dois ou mais cantus
firmi; a Missa carminum inclui cerce de vinte melodias profanas diferentes. Ao longo das missas
surgem frequentes passagens em cânone.
Chanson

A música sacra polifônica, especialmente as composições sobre o ordinário da missa, adquiriram


maior prestigio na segunda metade do século XV do que em qualquer outro período dos dois
séculos anteriores, não faltaram nessa época as composições profanas.

Odhecaton

É uma seleção de chansons escritas, aproximadamente, em 1470 e 1500; inclui peças que vão
dos últimos compositores do período borgonhês anos da geração moderna. Mais de metade das
chansons são para três vozes, e são estas que, em geral, estão escritas em estilo mais antiquado.
Entre os compositores representados na coletânea estão Isaac, Josquin e dois contemporâneos
destes, Alexander Agricola e Loyset Compère.

Josquin Des Prez

Nasceu por volta de 1440 provavelmente na França. Foi saudado como o senhor das notas. Foi
cantor da catedral de Milão, e depois ficou a serviço de seu irmão, o cardeal Ascanio Sforza.
Suas composições foram publicadas num grande número de coletâneas impressas do século XVI
e surgem também em muitos manuscritos da época. O conjunto das suas obras inclui cerca de 18
missas, 100 motetes e 70 chansos e outras peças vocais profanas.

Heinrich Isaac

Incorporou no seu estilo pessoal muitas influencias musicais da Itália, França, Alemanha,
Flandres e Países Baixos, de forma que a sua produção tem um caráter mais plenamente
internacional do que a de qualquer outro compositor da sua geração. Os estilos simples, em
acordes e declamatório, das quase sempre anônimas canções carnavalescas influenciou as
versões que Isaac escreveu de algumas cantigas populares alemãs.

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