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1ª Edição

Rio de Janeiro RJ/ Brasil

Editora Império da Cultura

2012

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Autoria: Batista D'Obaluayê

Capa: Batista D'Obaluayê

Editor: Editora Império da Cultura Ltda

Revisão de textos: Editora Império da Cultura

Composição: Batista D'Obaluayê

Editoração: Editora Império da Cultura Ltda


www.editoraimperio.com.br
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
Batista D'Obaluayê- Culto aos Egunguns e Ritual de Axexé
Rio de Janeiro: O Autor, 2012.
l 15p; 14/2lcm.

1. Culto aos Egunguns e Ritual de Axexé


Afro-Brasileira 1. Título

Rio de Janeiro - RJ - Brasil-2012

Proibido a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por


qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive através de processos Xerográficos,
sem permissão expressa do Autor ou Editor. Lei nº 9.610 de 19.02.98.

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INDICE

Apresentação------------------------------------------------------- 7 a 8
Ancestralidade africana no Brasil-----------------------------9 a 15
!lê Agboula;Linhagem e descendência-----------------------------16
Principais terreiros de Egun da Bahia-----------------------17 a 21
Calendario Liturgico-------------------------------------------21 a 23
Babá Egun -------------------------------------------------------24 a 30
Mortos do sexo femenino--------------------------------------31 a 3 7
Invocação a Egungun------------------------------------------38 a 55
Assentamento de Egun-----------------------------------------56 a 60
Salão de Festa---------------------------------------------------61 a 71
Origem do Culto de Babá--------------------------------------72 a 73
Mitor Oyá e Egun----------------------------------------------- 74 a 75
Odú torna-se Iyámí--------------------------------------------- 76 a 89
Alguns nomes de Egun, Egum ou Egungun-----------------90 a 93
Oferendas de Egun---------------------------------------------94 a 95
Procedimento do Zelador quando está com um filho enfermo-96
Ritual de Axexé------------------------------------------------97 a 115

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APRESENTAÇÃO

Na Nigéria, o culto a Egungun está relacionado aos


ancestrais. O povo Yorobá acredita nesta energia porque
entendem que não existiria o presente e o futuro sem a
existência do passado. O culto é um dos mais difundidos
em toda a população Yorobá, da qual quase 30 milhões de
pessoas cultuam este, que é um dos Orixás mais venerados.

Apesar da imensa influência da cultura e religião Yorobá no


Brasil, esse culto quase não foi preservado ou difundido
pelas religiões de matriz africana. Somente na Ilha de
Itaparica (BA) é que se pode encontrar um terreiro onde
esse ritual é preservado, seus cultos, raízes e a forte
influência na cultura brasileira.

As qualidades de entidades poderá variar muito o grau de


evolução entre cada um deles. O que queremos dizer é que
entre os Caboclos, assim como Vem da palavra egun, do
idioma africano Iorubá, que significa aquele que é
montado, os Eguns nada mais são do que os espíritos que já
desencamaram, muitas vezes confundido com os
obsessores ditado pela linha espírita Kardecista, mas em
linha geral deve-se creditar em apenas aquele ser que teve
vida enquanto permaneceu na Terra, hoje pertence ao
mundo dos espíritos. Eguns nada mais são do que os
espíritos que já desencamaram, e os Quiúmbas são
exatamente a mesma coisa. Apenas se dá entre eles uma
diferença de evolução.

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Eguns, são todos os que desencarnaram, tiveram vida


humana, em contraposição aos Orixás que são forças da
natureza. Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças e Exus, são
Eguns. (No Candomblé, Exu é considerado como Orixá,
sendo reverenciado e cultuado desta forma).

Quiúmbas são Eguns ainda muito atrasados na escala de


evolução espiritual, que são considerados negativos e que
por vezes, se fazem passar por outras entidades,
normalmente Exus, trazendo inclusive um ponto de vista
muito negativo para estas entidades, os Exus, por eles
mistificados.
É sabido que o termo evolução é extremamente relativo e
dentro de uma mesma entre os Pretos-Velhos e outras
entidades, sempre haverá um que esteja um pouco acima, e
outro um pouco abaixo no nível de evolução. O certo, no
entanto, é que estas entidades, Caboclos, Pretos-Velhos,
Crianças, Exus e algumas outras, já chegaram a um nível
de evolução tal que os permitem diferenciar o certo do
errado e procurarem humildemente ajuda e colaboração das
entidades de níveis mais altos, no sentido de auxiliar aos
filhos que os procuram, nos momentos em que seus
conhecimentos, permissão ou capacidade são impotentes
para a ajuda.

Pesquisador / Escritor
Josécilio Damasceno Pereira

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ANCESTRALIDADE AFRICANA NO BRASIL

O Brasil é um dos países americanos onde a presença da


África permanece mais nítida e mais forte, sob os mais
variados aspectos. E essa presença se deve a um
contingente populacional que, apesar de todos os fatores
adversos, não apenas trouxe para cá suas culturas de origem
como também as recriou, garantindo uma continuidade
histórica surpreendente.
Mas a cultura "oficial" pouco ou quase nada conhece desse
Brasil paralelo e muito peculiar, com seu conjunto
organizado de ideias, conhecimentos, modos de ser e agir;
com suas elites, suas lideranças, seus heróis e sua história;
com sua literatura, sua arte, sua filosofia sua religião.

A pujança nagô na negra Bahia Introduzidas no Brasil com


a escravidão, as culturas negras imprimiram, cada uma com
suas peculiaridades e em diferentes graus, marcas
profundas em quase toda a extensão da alma e do território
brasileiras. E na Bahia essa presença que se recria hoje em
importantes instituições como as comunidades terreiros é
devida basicamente à cultura dos nagôs, não que, vinda da
África Ocidental, foi, entre o fim do século XVIII e o fim
do século XIX, das últimas a serem escravizadas no Brasil.
Kêtu, Egba, Egbado e Sabé são alguns dos segmentos
nagôs que vieram para a Bahia provenientes da grande área
iorubá que compreende sul e centro da atual República de
Benin, ex-Daomé; parte da República do Togo: e todo
sudoeste da Nigéria. E todos eles com destaque para os

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Kêtu contribuíram decisivamente para e implantação da


cultura nagô naquele Estado, reconstituindo suas
instituições e procurando adaptá-las ao novo meio, com o
máximo de fidelidade aos padrões básicos de origem,
fidelidade essa em parte facilitada pelo intenso comércio
que se desenvolveu entre a Bahia e a costa ocidental da
África durante todo o século XIX até os primeiros anos que
se seguiram à Abolição.

Dentre as instituições dos nagôs que floresceram na Bahia,


certamente uma das mais fortes é a tradição dos Orixás.
Com efeito, desde princípios do século XIX, apesar de a
única religião autorizada no Brasil ser a católica, as casas
de culto dedicadas à adoração dos orixás já eram bem
conhecidas. Por essa época, os cultos protestantes só eram
permitidos quando realizados por europeus, e a religião
tradicional africana era reprimida inclusive através da
violência policial.

Durante o cativeiro, uma das únicas coisas que não se pôde


roubar ao negro foi à fé religiosa. E essa fé foi sempre um
fator de aglutinação à continuidade. Assim, a religião
impregnou todas as atividades nagô brasileira influenciando
até a sua vida profana. Recriando, então, aqui, nas
comunidades de terreiro, o espaço geográfico da África e
sua herança cultura, foi justamente através da religião que o
nagô conservou um profundo sentido de comunidade e
transmitiu de geração a geração as raízes de sua cultura.

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Além dos orixás, entidades divinas, poderes e patronos de


forças puras da natureza emanadas das entidades supremas
Olorum, os nagôs e seus descendentes sempre cultuaram
também os antepassados, os Eguns, aqueles espíritos de
indivíduos que depois se converteram em ancestrais, em
"pais" (Baba Egun). O culto aos antepassados, entretanto,
não pode em hipótese alguma se confundir com o culto aos
orixás, já que cada um deles tem doutrina e liturgia
próprias.

Nos terreiros onde se renova a tradição dos onxas se


cultuam também os mortos da casa e os grandes fundadores
e fixadores da religião.

Esses mortos ilustres são invocados no Padê, uma


cerimônia propiciatória, assentados e consagrados no Ilê
Ibô Aku, a casa de adoração aos mortos, situada num
espaço separado do templo dos orixás.
Mas o culto a esses mortos, repetimos não se confunde
nunca com o culto aos orixás. E nem se confunde também
com o culto aos Eguns, que são aqueles antepassados que
tiveram o merecimento de ser preparados para sua
invocação em forma corporizada.
O culto aos Eguns se realiza em terreiros específicos. O
espaço onde se reverencia a memória dos antepassados é o
Ilê lgbalé, representação de uma antiga clareira existente no
âmago da floresta africana e consagrada aos Eguns. Nestes
terreiros, a invocação dos ancestrais é a própria essência e a
razão maior do culto.

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O culto aos Eguns: representação do elo entre passado e


presente.
Os nagôs cultuam os espíritos dos "mais velhos" de
diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram
dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da
preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os
espíritos especialmente preparados para serem invocados e
materializados é que recebem o nome Egun, Egungun,
Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse
culto todo especial.

Porque o objetivo principal do culto dos Eguns é tomar


visíveis os espíritos dos ancestrais, agindo como uma
ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus
antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a
continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito
controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo
uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos
e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os
Babás trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e
seus conselhos, mas não podem ser tocados, e ficam sempre
isolados dos vivos.
Suas presença é rigorosamente controlada pelos Ojé
(sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles.

Os Eguns se materializam, aparecendo para os


descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a
grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e
coloridas, com símbolos característicos que permitem

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estabelecer sua hierarquia. No símbolo "Egungun" está


expresso todo o mistério da transformação de um ser deste
mundo num ser do além, de sua convocação e de sua
presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério
(Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.
A propósito, o texto de uma das cantigas rituais revela:
(Gégé aro aso la ri/La ri, la ri/Gégé oro aso lemon/Ako mó
baba".
Esse texto é fundamental para a compreensão dos conceitos
básicos do culto. A cantiga quer dizer, em síntese, que
embora vendo as roupas e objetos rituais, os assistentes e
fiéis não sabem o que eles são realmente.

O segredo básico do culto dos Eguns reside no fato de que


ninguém pode saber nem querer saber o que há por sob
aqueles panos coloridos que andam, falam, repreendem,
dão conselhos e abençoam, já que a morte e os elementos
estão ligados a ela não são e nunca vão poder ser
conhecidos.
Mas somente os ancestrais masculino podem se
materializar e serem cultuados como Eguns. E também só
quem pode lidar com eles são os homens, embora algumas
mulheres desempenham outras funções no culto.
Em contrapartida, Oyá Igbalé, entidade feminina conhecida
também como Iansã Balé é cultuada junto com os
ancestrais, é considerada rainha e mãe dos Eguns, pois é
quem comanda o mundo dos mortos. Na Bahia, nos
terreiros de Egun, ela é cultuada num assentamento
especial.

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Importante também no culto é a presença de onilê,


representação coletiva dos espíritos que moram dentro da
terra, os ancestrais masculinos. E assim como Onilê, Exu e
Ossanyin são também duas entidades importantes.

Exu por ser o princípio dinâmico sem o qual nada existe


nada se realiza; e Ossanyin por ser o dono das folhas
rituais, sem as quais também nenhum rito, seja ele do culto
dos Orixás ou dos Eguns, se completa.
Dois outros aspectos a serem também considerados são a
hierarquia dos postos na comunidade-terceiro e a utilização
fisica do espaço ritual, onde se adoram os ancestrais
tomados Eguns

Quanto à hierarquia, temos na base da pirâmide os


Amuixan, neófitos em processo de iniciação, mas que ainda
não têm poderes para invocar os ancestrais. Logo. Os Ojé,

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sacerdotes que, num grau superior de iniciação e


merecimento se tomam Ojé-Agbá. Depois, os Alagbá, que
são os chefes de terreiro. E, no topo da pirâmide, o Alapini,
sacerdote supremo do culto, da seita, e da sociedade secreta
dos adoradores dos Egunguns. Além desses, há outros
títulos e funções como o de Alagbê (musico ritual) e os
ijoyê (detentores de postos honoríficos).

Quanto ao aspecto fisico, um terreiro de Egun apresenta


basicamente as seguintes unidades:

a) um espaço público, que pode ser frequentado por


qualquer pessoa, e que se localiza numa parte do barracão
de festas:
b) outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar
os iniciadores, e para onde os Eguns vêm quando são
chamados, para se mostrar publicamente;
c) uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé
(ou Ilê Awô, a casa do segredo), onde também se encontra
um montículo de terra preparado e consagrado, que é o
assentamento de Onilê;
d) um espaço privado ao qual só têm acesso os iniciados da
mais alta hierarquia, onde fica o Ilê Awô, com os
assentamentos coletivos, e onde se guardam todos os
instrumentos e paramentos rituais, como os Ixan, longas
varas com as quais os Ojé invocam (batendo no chão) e
controlam os Egunguns.

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ILÉ AGBOULA: LINHAGEM E DESCENDÊNCIA

Vindo para o Brasil, então, os nagôs trouxeram para cá sua


memória familiar e procuraram preservá-la. Assim, muitos
ancestrais venerados na terra dos iorubás e que representam
linhagens, dinastias, protetores de regiões e cidades, com
funções diferentes e específicas são também e até hoje
cultuados na Bahia.

E assim como o culto dos orixás, o culto dos Eguns na


Bahia remonta pelo menos ao início do século XIX.
Nessa época já havia em Salvador vários terreiros
dedicados especificamente à invocação e à adoração dos
ancestrais. Mas como a história "oficial" pouco ou nada se
preocupou com negros e como só através da tradição oral,
dos rituais e de invocações dos antepassados é que esses
negros conhecem seu passado, a história dos terreiros
praticamente não tem registro escrito. Entretanto, para o
brasileiro a religião é um elemento de coesão comunitária e
de expressão de todo um modo de ser. Então, a história oral
dos negros baianos nos fala da introdução do culto dos
Eguns, das comunidades nas quais esse culto floresceu
comunidades essas que permanecem, por seus
descendentes, coesas na tarefa de manter a continuidade de
sua história.

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PRINCIPAIS TERREIROS DE EGUN DA BAHIA:

Terreiro de Vera Cruz - Localizado na Aldeia de Vera


Cruz, a mais antiga freguesia da Ilha de Itaparica, na Bahia
de Todos os Santos, esse terreiro foi fundado e comandado
pelo africano Tio Serafim, que invocava e fazia aparecer o
Egun de seu próprio pai, o qual ainda é cultuado sob o
nome de Baba Okulelê. Tio Serafim morreu com cerca de
cem anos de idade, entre 1905 e 191 O, tendo plantado os
fundamentos de sua casa de culto ainda bem jovem, por
volta de 1820.

Terreiro do Mocambo - Localizado também em Itaparica,


na fazenda chamada Mocambo, onde havia um grande
número de escravos. Seu chefe foi o africano Marcos
Pimentel (conhecido como Marcos-o-Velho) que,
comprando sua própria alforria, viajou à África com seu
filho, que lá foi iniciado nos segredos do culto. Voltando,
mais tarde, para a Bahia, os dois trouxeram o assentamento
de Babá Olukotun, considerado um dos ancestrais de todo o
povo Nagô, e então fundaram o Terreiro de Tuntun, Ilê
Olukotun.
O Egun de Marcos-o-Velho é cultuado hoje sob o nome de
Babá Soadê.

Terreiro de Tuntun - Também situado na Ilha de Itaparica,


no antigo reduto de africanos denominado Tuntun, esse
terreiro teve como chefe o filho de Marcos-oVelho, Marcos

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Teodoro Pimentel (o Tio Marcos) que morreu Jª quase


centenário por volta de 1935. Daí se deduzir que o Terreiro
de Mocambo tenha sido fundado por volta de 1830 e este, o
de Tuntun, que se originou, tenha começado a funcionar
por volta de 1850.

Terreiro de Encarnação - Encarnação é também uma


localidade da Ilha de Itaparica. E o primeiro chefe da casa
teria sido um filho de Tio Serafim (do fundador do terreiro
Vera Cruz) chamado João-Dois-Metros. A importância
desse terreiro é que lá é que teria sido invocado e aparecido
pela primeira vez Babá Agboulá, um dos patriarcas dos
iorubás.

Terreiro do Corta Braço - Situado na Estrada das Boiadas,


no atual bairro da Liberdade, em Salvador, fora, portanto da
Ilha de Itaparica esse terreiro tinha como um dos Ojé o
legendário João-Boa-Fama e era chefiado pelo não menos
legendário e notável Tio Opé.
Têm-se notícias de várias outras casas que floresceram em
Salvador, em Matatu, na Conceição da Praia, em Água de
Meninos. E entre os Alagbá e Ojé de todos esses terreiros,
certamente Tio Opé foi o mais destacado.

Esse ilustre africano foi precisamente quem 1mc10u a


Eduardo Daniel de Paula, filho de nagôs que, juntamente
com seus familiares e descendentes de Tio Marcos e Tio
Serafim, fundou o Ilê Agboulá, em Ponta de Areia, na Ilha
de Itaparica, hoje no lugar denominado Bela Vista, onde se

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concentraram as pesqmsas e os trabalhos do Projeto


Egungun..

O florescimento, então, de todos esses terreiros que


enumeramos decorreu mais ou menos entre 1820 e 1935.
Durante esse período, os fiéis, os sacerdotes, os chefes de
culto, ou seja, as comunidades de cada um deles se
frequentavam, se relacionavam, trocando experiências, se
constituindo como que uma irmandade, uma poderosa
sociedade com características bem definidas.

A partir desse inter relacionamento, então, foi que os


antigos terreiros sucederam uns aos outros e todos eles
vieram, de certa forma, a se condensar no Ilê Agboulá.
Localizado em Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica, o Ilê
Agboulá é, hoje, o Brasil, um dos poucos lugares dedicados
exclusivamente ao culto dos Eguns. Sua fundação remonta
ao primeiro quarto deste século, mas a comunidade que lhe
deu origem e que lhe mantém os fundamentos está
estabelecida na Ilha, como já vimos há cerca de duzentos
anos.
Essa comunidade se constitui de mais ou menos cem
famílias que vivem da pesca, da coleta e venda de frutos e,
hoje, de pequenos empregos propiciados pela indústria
turística que se expande na Ilha de uns dez anos para cá.
Mas apesar de toda a transformação que os novos tempos
ocasionaram em Itaparica, a comunidade do Ilê Agboulá se
mantém coesa. Tanto que, mesmo os que por qualquer
contingência não moram mais na Ilha, para lá retomam

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sempre que há oportunidade, nas ocas10es de festas e


obrigações, reatando os laços que os unem à sua
ancestralidade.

No Ilê Agboulá, no espaço do terreiro, que fica no Alto da


Bela Vista residem apenas umas poucas famílias. Mas nas
datas importantes do calendário litúrgico e nas obrigações,
toda a comunidade mesmo os que moram em Salvador e
outros lugares para lá acorre, permanecendo no terreiro
dias e noites, reconstituindo assim os laços comunitários,
recebendo as bênçãos, os conselhos e as reprimendas dos
Babás, estabelecendo enfim todo um processo de
continuidade histórica. Daí, a grande importância do culto
aos ancestrais: ele é um elemento de coesão grupal, de elo
entre o passado e o presente, de fortalecimento de
identidade cultural. Pois enquanto o culto dos Orixás
permite ao grupo religar-se ao cosmos, ao universo, o culto
dos Eguns é também um "religar-se", mas um "religar-se"
através da ancestralidade, fortalecendo-se os laços sociais e
comunitários. Assim, um religa o indivíduo e o grupo ao
Universo; e o outro à sociedade.
Então, como dizíamos durante os ciclos litúrgicos toda a
comunidade do Ilê Agboula se mobiliza. Famílias inteiras
se deslocam para o terreiro. E ali, em pequenas casas
construídas em tomo dos lugares sagrados, se acomodam e
se instalam enquanto duram as festas.

As obrigações atravessam dias e noites. Os ritos cânticos,


cores, indumentárias, ultrapassam o universo religioso,

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expressando um riquíssimo patrimônio cultural. Porque o


Ilê Agboulá herdou dos antigos terreiros não só a liturgia, a
doutrina e o conhecimento dos mistérios do culto, mas
também os Egunguns dos ancestrais africanos, aos quais se
juntaram os dos Ojé falecidos no Brasil e que durante sua
vida foram convenientemente iniciados nos mistérios do
culto e suficientemente ilustres para serem hoje invocados e
materializados como Babá, guardiães de uma cultura,
inspiradores de modelos de comportamento, reavivadores
da memória grupal, responsáveis pela continuidade
histórica dos nagôs na Bahia.

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CALENDÁRIO LITÚRGICO

As festas e obrigações obedecem, no Ilê Agboulá, a um


bem elaborado calendário litúrgico. E durante essas festas
podem ocorrer rituais não periódicos e não
obrigatoriamente integrados no calendário, como iniciação
de novos Amuixan ou de novos Ojé, ou mesmo obrigações
e oferendas de outros titulados da comunidade. Mas o
calendário, mesmo, obedece ao seguinte:
Janeiro - Em janeiro, por ocasião do Ano Novo, as
obrigações transcorrem até o dia nove. Esses rituais
começam com uma obrigação para Onilê seguida de outra
para Babá Olukotun. Junto com esta são celebradas as
cerimônias anuais em homenagem a Babá Alapalá e Babá
Ologbojô.

Fevereiro - Em fevereiro, começando no dia 2 e se


estendendo por duas semanas, ocorre uma festa muito
especial, principalmente porque a comunidade de Itaparica
vive do mar e para o mar. É a festa de Yemanjá e Oxum,
deusas das águas, e de Oxalá, o deus da criação.

Nas festas de fevereiro ocorre a prossição e os saveiros


levando os presentes para as entidades das águas. Observe-
se que a comunidade é que dá os presentes, mas os patronos
das obrigações são os Egun Bakabaká e Amorô mi todô.

Junho, Em junho, na época do São João, realiza-se as festas


de Babá Erin, que é o Egun do Sr. Eduardo Daniel de

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Paula, fundador da Casa. As festas se realizam por ocasião


do ciclo de Xangô, que era o orixá do Sr. Eduardo. E
atingem grande brilhantismo porque entre a comunidade do
Ilê Agboulá, que é descendente do povo de Oyó, a
veneração a Xangô é muito forte.

Setembro - De 7 a 17 de setembro ocorrem as festas de


Babá Agboulá. Por essa época é que é feita a colheita dos
primeiros frutos na Ilha de Itaparica, sob a proteção de
Babá. E isto é muito importante pelo fato de até bem pouco
tempo a Ilha de Itaparica ter sido o grande fornecedor de
frutas para a cidade de Salvador.

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Ojé e Amuixan, atentos, acompanham Babá Egun na sua
caminhada.

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BABÁEGUN
Segundo a tradição do culto dos Eguns, é originário da
África, mais precisamente da região de Oyó. O culto de
Egungun, é exclusivo de homens, sendo Alápini o cargo
mais elevado dentro do culto tendo como auxiliares os
Ojés. Todo integrante do culto de Egungun é chamado de
Mariwó. Na África, Xangô é considerado a encarnação do
Deus primordial do Sol, raios e tempestades, Xangô seria a
encarnação de Jakutá, que é considerado a mão de Olorun
que pune, o caráter punitivo de Olorun, ele representa o
poder de Olorun, tanto que fora enviado ao mundo em
criação para estabelecer a ordem entre Oxalá e Oduduá, que
são as duas divindades que foram encarregadas, por
Olorun, para criação. Desta forma, Xangô é cultuado como
um Orixá Egungun, Orixá por ele ser nada mais nada
menos que o Orixá da execução, da punição divina e
Egungun por ele ter tido sua passagem pela terra como
homem e ter se iniciado. Xangô foi o criador do culto de
Egungun e ele foi o primeiro Ojé (Sacerdote do Culto aos
Mortos ) e também foi o primeiro Alapini (Sumo-sacerdote
do Culto aos Mortos) isso é evidenciado em um de seus
Orikis que fala:

"Rei do Trovão (Raios) Rei do Trovão ( Raios ) Encaminha


o Fogo sem errar o alvo (Alusão aos Raios), nosso vaidoso
Ojé Xangô alcançou o Palácio Real Único que possuiu Oiá
Grande líder dos Orixás Rei que conversa no Céu e que
possui a honra dos Oj és Rei que conversa no Céu e que

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possui a honra dos Ojés."

Todos os aspectos do ser, não morrem junto com ele voltam


as suas origens, isto é, ao orun, pois pertencem a olorun e
só ele pode liberá-las. Estas forças divinas animaram os
antepassados, os ancestrais, as raízes mães do asé orisá, ao
partirem do aiyê e voltam ao aiyê para animar seus
descendentes e discípulos. A ancestralidade confirma a
imortalidade, pois a vida continua no orun como ancestrais.
do orun a ancestralidade a tudo assiste. No culto de orisá,
ancestrais significa: "aqueles que um dia tiveram a energia
de vida no aiyê e que cuja energia de vida é repassada as
novas gerações, garantindo a continuidade da vida e do
culto aos deuses africanos".

Através do culto aos ancestrais, os Egun ou Egungun é


possível reconstruir origens, etnias, memona. Essa
memória, enraizada na multiplicidade da herança negro-
africana, expande com força total, um elo que passando a
diversidade de suas expressões manifestas Nagô, Jeje,
Angola, Congo, etc. permitem revelar estruturas, valores,
normas, denominadores comuns onde à questão da
ancestralidade mítica e histórica, marca a existência de uma
forte comunalidade. É na memória e no culto aos
antepassados que essa comunalidade se afirma (MESTRE
DIDI) Egungun ou Egun, espírito ancestral de pessoa
importante, homenageado no Culto aos Egunguns, esse
culto é feito em casas separadas das casas de Orixá.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

No Brasil o culto principal à Egungun é praticado na Ilha


de Itaparica no Estado da Bahia, mas existem casas em
outros Estados. Os yorubás, então, cultuam os espíritos dos
"mais velhos" de diversas formas, de acordo com a
hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua
atuação em prol da preservação e da transmissão dos
valores culturais. E só os espíritos especialmente
preparados para serem invocados e materializados é que
recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou
simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo
especial.
Porque o objetivo principal do culto dos Eguns é tomar
visível os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte,
um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao
mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a
morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os
vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara
entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois
níveis da existência).

Os Aparaká são Eguns mais jovens: não têm Abalá nem


Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem
identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em
vida.

O Egun é a morte que volta a terra em forma espiritual e


visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que
sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes)

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

munidos de um instrumento invocatório, um bastão


chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e
acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a
"morte se tome vida", e o Egungun ancestral
individualizado estão de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente


do culto de Orixá, em que o transe acontece durante as
cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e
iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão,
causando impacto visual e usando a surpresa como rito.

Por exemplo: Se a pessoa não tem odu que transforma esta


energia para boa, esta energia vai acabar. Se der resultado
negativo, a pessoa precisará fazer ebó para egungun para
transformar esta energia em boa.

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente


do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as
cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e
iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão,
causando impacto visual e usando a surpresa como rito.
Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente
recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem
da parte superior da cabeça formando um grande volume de
tecidos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de
quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana,
rouca, ou às vezes aguda metálica e estridente característica

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está relacionada


com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente


a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob
os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob
transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os
mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que
seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não
se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois
as roupas ali estão e isto é Egun.
A roupa do Egun - chamada de eku na Nigéria ou opá na
Bahia , ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra
ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la.
Todos os mariwo usam o ixan para controlar a "morte", ali
representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem
tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas
comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tomará
um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá
passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos
de doença ou, talvez, a própria morte.
Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de
pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas
tiras seja prejudicial. E mesmo os mais qualificados
sacerdotes - como os Ojé atokun, que invocam, guiam e
zelam por um ou mais Eguns - desempenham todas essas
atribuições substituindo as mãos pelo ixan.
Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

(pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e


permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e
suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar
com os vivos. Os Apaaraká são Eguns, ainda mudos e suas
roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um
quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás.
Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para
alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis,
assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babás são divididos em três partes: o abalá, que


é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um
chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do
Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas,
formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o
kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas
que acabam igualmente em sapatos, do qual ,também caem
muitas tiras de pano da altura do tórax; e o banté, que é
uma larga tira de pano especial presa ao kafô e
individualmente decorada e que identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de
axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é
usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis.
Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as
mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e
incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é
altamente benéfico.
Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa,

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o


alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê
egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de
animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às
vezes, o ixan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada
por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de Egun, como Babá e
Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme
suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As
classificações, em verdade, são extensas.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

OS MORTOS DO SEXO FEMININO

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iyámi


Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados
individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada
de forma coletiva e representada por iyámi Oxorongá
chamada também de Iyá Nla, a grande mãe.

Esta imensa massa energética que representa o poder da


ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas
"Sociedades Geledé", compostas exclusivamente por
mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso
oder. O medo da ira de Iyámi nas comunidades é tão grande
que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder
feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam
máscaras com características femininas, dançam para
acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre
o poder masculino e o feminino.

Além da Sociedade Geledé, existe também na Nigéria a


Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo dos
mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma
divindade tal qual Iyámi Oxorongá, sendo considerado o
representante geral dos antepassados masculinos e cultuado
somente por homens. Tanto Iyámi quanto Oro são
manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e
representam a coletividade, mas o poder de Iyámi é maior
e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Outra forma, e mais importante, é culto aos ancestrais


masculinos é elaborada pelas "Sociedades Egungun".

Estas têm como finalidade elaborar ritos a homens que


foram figuras destacadas em suas sociedades ou
comunidades quando vivos, para que eles continuem
presentes entre seus descendentes de forma privilegiada,
mantendo na morte a sua individualidade. Esses mortos
surgem de forma visível, mas camuflada, a verdadeira
resposta religiosa da vida pós-morte, denominada Egun ou
Egungun. Somente os mortos do sexo masculino fazem
aparições, pois só os homens possuem ou mantêm a
individualidade; às mulheres é negado este privilégio,
assim como o de participar diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica


por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes
diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o
conjunto forma uma só religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungun, cujo


tronco comum remonta ao tempo da escravatura: Ilê
Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais
recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em
Itaparica, Bahia. O Egungun simplesmente surge no salão,
causando impacto visual e usando a surpresa como rito.
Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente
recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

da parte superior da Cabeça formando uma grande massa


de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de
quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana,
rouca, ou às vezes agudas, metálica e estridente
característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está
relacionada com a voz do macaco marrom, chamado
ijimerê na Nigéria Babá Egun, sob vigilância do Ojé,
aconselha um fiel prostrado à sua frente. As Iyami ficaram
furiosas com Xangô e juraram vingança, em um certo
momento em que Xangô estava distraido atendendo seus
súditos, sua filha brincava alegremente, subiu em um pé de
Obi, e foi aí que as Iyami-Ajé atacaram, derrubaram a
Adubaiyni filha de Xangô que ele mais adorava. Xangô
ficou desesperado, não conseguia mais governar seu reino
que até então era muito próspero, foi até Orunmilà, que lhe
disse que Iyami é que havia matado sua filha, Xangô quiz
saber o que poderia fazer para ver sua filha só mais uma
vez, e Orunmilà lhe disse para fazer oferendas ao Orixá
Ikú (Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos
mortos, assim Xangô fez, seguindo a risca os preceitos de
Orunmilà.Xangô conseguiu rever sua filha e pegou para sí
o controle absoluto dos Egungun (ancestrais), estando
agora sob domínio dos homens este culto e as vestimentas
dos Egungun, e se tomando extremamente proibida a
participação de mulheres neste culto, provocando a ira de
Olorun, Xangô, Ikú e os próprios Egungun, este foi o preço
que as mulheres tiveram que pagar pela maldade de suas

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

ancestrais as 1yami

Babá Egun, sob vigilância do Ojé, aconselha um fiel


prostrado à sua frente.

Egungun é considerado orixá, pois ele é a única energia que


dá ao homem condições de ser venerado depois de sua
morte, dependendo do histórico da vida da mesma. O culto
a Egungun é altamente mágico e secreto, por isso os Olojés
(pessoas que tem o poder de manipular a energia de
Egungun) são respeitadíssimos. Todas as pessoas podem se
beneficiar da energia de Egungun para solucionar
problemas no amor, trabalho, saúde, espiritualidade, etc.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

No Brasil o culto não é difundido como na Nigéria e apesar


dos equívocos de alguns pais e mães de santo, na Ilha de
Itaparica, existe o culto de Egungun considerado parecido
ao da Nigéria.
Em Itaparica o culto é totalmente secreto, talvez esse o
motivo de não se ter mutilado através dos tempos, da
escravidão aos tempos de hoje. O culto é equivocado no
Brasil pois muitas pessoas dizem que Egun é energia
negativa, e isso não é verdade.

O que falta, talvez para as pessoas do Brasil, seriam


informações sobre Egungun. O povo Yoruba acredita em
reencarnação, pois Egungun está interligando vida e morte:
assim que uma criança nasce, eles fazem todo um
procedimento para saber o destino da criança, manipulam
oráculos, ou então pedem a ajuda de babalawo que através
de ifá, sabem se a criança é uma encarnação de algum
antepassado. Constatando-se o fato, é feito o ritual de
ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada
para a comunidade com uma festa.

Na Nigéria existe a iniciação para Egungun, porém há


vários critérios a se analisar:

1º - Analisar o grau de ligação da pessoa com Egungun


2° - Herança familiar (odu de nascimento)

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

3º - Vontade da pessoa
4º - A pessoa pode estar sonhando com Egungun
5º Consulta através dos oráculos podem determinar a
iniciação
Todos estes elementos podem determinar a iniciação da
pessoa em Egungun.
Esse processo de iniciação é muito secreto. Para a pessoa
ser iniciada em Egungun, ela tem que ser uma pessoa que
saiba guardar segredo: o bom feiticeiro não revela seus
dotes mágicos. A pessoa sela um pacto de segredo. Esse
pacto só será fechado depois que a pessoa come elementos
preparados para dar ligação da pessoa com Egungun. Aí ela
se tomará membro do culto a Egungun e com o tempo ela
será um verdadeiro Olojé. Claro que ela tem que ter força
de vontade, humildade e paciência, lembrando-se de que
uma vez iniciado sempre iniciado, pois não tem mais volta.
Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica
por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes
diferentes dos orixás. Embora todos os sistemas de
sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto
forma uma só religião: a iorubana.

O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e


visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé (sacerdotes)


munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e
acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a
"morte se tome vida", e o Egungum ancestral
individualizado estão de novo "vivo".

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

INVOCAÇÃO DE EGUNGUN

BABA Egun lase se inse lkú alura


Kodun Kodun a sagan nugan
Ikú adere Ikú sudan Dan nugan
Se inse Baba ope iwo iwo
Egun etileriwo.To ko Bibiwa
Maria womokokan totopé Iriwa
Ogun Alura-Egun-Atopé
Egun Igigi dagolonan sata Kadukan,
Di Intoto Kukan Kotoyo Kudan
Kotoyo Ese e Kotoyo Sande

PARA TRAZER O BABA EGUN AO OJUBÓ

BABA
Egun min Dide min tie Baba
Y e omon Korin oná lkúo. Emi Onilé
Igabaré Baba, Baba Alaye Aye Baba
Adupé Akoda Ikú Onã.

Nas mais diferentes culturas, a concepção religiosa da


morte está contida na própria concepção da vida e ambas
não se separam. Os iorubás e outros grupos africanos que
formaram a base cultural das religiões afro-brasileiras
acreditam que a vida e a morte alternam-se em ciclos, de tal
modo que o morto volta ao mundo dos vivos,
reencarnando-se num novo membro da própria família. São

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

muitos os nomes iorubás que exprimem exatamente esse


retomo, como Babatundê, que quer dizer O-pai-está de
volta.

Para os iorubás, existe um mundo em que vivem os homens


em contato com a natureza, o nosso mundo dos vivos, que
eles chamam de aiê, e um mundo sobrenatural, onde estão
os orixás, outras divindades e espíritos, e para onde vão os
que morrem mundo que eles chamam de orum.

Quando alguém morre no aiê, seu espírito, ou uma parte


dele, vai para o orum, de onde pode retomar ao aiê
nascendo de novo. Todos os homens, mulheres e crianças
vão para um mesmo lugar, não existindo a ideia de punição
ou prêmio após a morte e, por conseguinte, inexistindo as
noções de céu, inferno e purgatório nos moldes da tradição
ocidental-cristã. Não há julgamento após a morte e os
espíritos retomam à vida no aiê tão logo possam, pois o
ideal é o mundo dos vivos, o bom é viver. Os espíritos dos
mortos ilustres (reis, heróis, grandes sacerdotes, fundadores
de cidades e de linhagens) são cultuados e se manifestam
nos festivais de egungun no corpo de sacerdotes
mascarados, quando então transitam entre os humanos,
julgando suas faltas e resolvendo as contendas e pendências
de interesse da comunidade.

O papel do ancestral egungun no controle da moralidade do


grupo e na manutenção do equilíbrio social através da

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

solução de pendências e disputas pessoais, infelizmente,


não se reproduziu no Brasil.

Embora o culto ao egungun tenha sido reconstituído na


Bahia em uns poucos terreiros especializados, o candomblé
de egungun da ilha de Itaparica (Braga, 1992), mais tarde
também presente na cidade de Salvador e em São Paulo,
está muito distante da prática diária dos candomblés de
orixás e praticamente divorciados da vida na sociedade
profana, perdendo completamente as funções sociais
africanas originais, de tal modo que a religião africana no
Brasil, disseminada pelos terreiros de orixás, acabou por se
constituir numa religião estritamente ritual, uma religião
aética, uma vez que seus componentes institucionais de
orientação valorativa e controle do comportamento em face
de uma moralidade coletiva exercitada nos festivais dos
antepassados egunguns ausentaram-se completamente da
vida cotidiana dos seguidores da religião dos orixás.

O ideal iorubá do renascimento é às vezes tão


extremamente exagerado, que alguns espíritos nascem em
seguida morrem somente pelo prazer de rapidamente poder
nascer de novo. São os chamados abicus (literalmente,
nascido para morrer), que explicam na cultura iorubá
tradicional as elevadas taxas de mortalidade infantil. Em
geral, um abicu renasce seguidamente do útero da mesma
mãe.
Quando uma criança é identificada como sendo um abicu,
muitos são os ritos ministrados para impedir sua morte

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

prematura. Assim como a sociedade Egungun cultua os


antepassados masculinos do grupo (Babayemi, 1980), outra
sociedade de mascarados, a sociedade Gueledé, celebra a
mães ancestrais, às quais cabe também zelar pela saúde e
vida das crianças, inclusive os abicus (Lawal, 1996).

Os festivais Gueledé não sobreviveram no Brasil (segundo


o Professor Agenor Miranda Rocha, em consequência de
disputas, no começo do século, entre lideranças do
candomblé da Casa Branca do Engenho Velho, que
provocaram a cisão do grupo e fundação do Axé Opô
Afonjá por Mãe Aninha Obá Bií). Também não sobreviveu
integralmente a ideia de abicu e o termo passou a designar,
em muitos candomblés, as pessoas que são consideradas
como tendo nascido já iniciadas para o orixá a que
pertencem, não devendo, assim, ser raspadas, como devem
ser os demais que se iniciam na religião.

A maneira fragmentária como a religião africana foi se


reconstituindo no Brasil implicou, claramente, em
acentuadas mudanças nos conceitos de vida e morte,
mudanças que vão afetar o sentido de certas práticas rituais,
especialmente quando sofrem a concorrência de ritos
católicos e de concepções ensinada pela Igreja.

A tradição cristã ensina que o ser humano é composto de


corpo material e espírito indivisível, a alma.
Na concepção iorubá, existe também a ideia do corpo
material, que eles chamam de ara, o qual com a morte

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

decompõem-se e é reintegrado à natureza, mas, em


contrapartida, a parte espiritual é formada de várias
unidades reunidas, cada uma com existência própria. As
unidades principais da parte espiritual são 1) o sopro vital
ou emi, 2) a personalidade-destino ou ori, 3) identidade
sobrenatural ou identidade de origem que liga a pessoa à
natureza, ou seja, o orixá pessoal e 4) o espírito
propriamente dito ou egun. Cada parte destas precisa ser
integrada no todo que forma a pessoa durante a vida, tendo
cada uma delas um destino diferente após a morte.

O emi, sopro vital que vem de Olorum e que está


representado pela respiração, abandona na hora da morte o
corpo material, fabricado por Oxalá, sendo reincorporada à
massa coletiva que contém o princípio genérico e
inesgotável da vida, força vital cósmica do deus-primordial
Olodumare-Olorum. O em1 nunca se perde e é
constantemente reutilizado.
O ori, que nós chamamos de cabeça e que contém a
individualidade e o destino, desaparece com a morte, pois é
único e pessoal, de modo que ninguém herda o destino de
outro.
Cada vida será diferente, mesmo com a reencarnação. O
orixá individual, que define a origem mítica de cada pessoa,
suas potencialidades e tabus, origem que não é a mesma
para todos, como ocorre na tradição judaico cristã (segundo
a qual todos vêm de um único e mesmo deus-pai), retoma
com a morte ao orixá geral, do qual é uma parte
infinitésima. Finalmente, o egun, que é a própria memória

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

do vivo em sua passagem pelo aiê, que representa a plena


identidade e a ligação social, biográfica e concreta com a
comunidade, vai para o orum, podendo daí retomar,
renascendo no seio da própria família biológica.

Quando se trata de alguém ilustre, os vivos podem cultuar


sua memória, que pode ser invocada através de um altar ou
assentamento preparado para o egun, o espírito do morto,
como se faz com os orixás e outras entidades espirituais.
Sacrificios votivos são oferecidos ao egun que integra a
linhagem dos ancestrais da família ou da comunidade mais
ampla. Representam as raízes daquele grupo e são à base da
identidade coletiva.
Na África tradicional, dias depois do nascimento da criança
iorubá, realiza-se a cerimônia de dar o nome, denominada
ekomojadê, quando o babalaô consulta o oráculo para
desvendar a origem da criança. É quando se sabe, por
exemplo, se, se trata de um ente querido renascido. Os
nomes iorubás sempre designam a origem mítica da pessoa,
que pode referir-se ao seu orixá pessoal, geralmente o orixá
da família, determinado patrilinearmente, ou à condição em
que se deu o nascimento, tipo de gestação e parto, sua
posição na sequencia dos irmãos, quando se trata, por
exemplo daquele que nasce depois de gêmeos, a própria
condição de abicu e assim por diante. A partir do momento
do nome, desencadeia-se uma sucessão de ritos de
passagem associados não só aos papéis sociais, como a
entrada na idade adulta e o casamento, mas também à
própria construção da pessoa, que se dá através da

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integração, em diferentes momentos da vida, dos múltiplos


componentes do espírito.

Com a morte, estes ritos são refeitos, agora com a intenção


de liberar essas unidades espirituais, de modo que cada uma
deles chegue ao destino certo, restituindo-se, assim, o
equilíbrio rompido com a morte.

No Brasil, nas comunidades de candomblé e demais


denominações religiosas afro-brasileiras que seguem mais
de perto a tradição herdada da África, a morte de um
iniciado implica a realização de ritos funerários. O rito
fúnebre é denominado axexê na nação queto, tambor de
choro nas nações mina-jeje e mina-nagô, sirrum na nação
jeje-mahim e no batuque, ntambi ou mukundu na nação
angola, tendo como principais fins os seguintes: 1) desfazer
o assentamento do ori, que é fixado e cultuado na cerimônia
do bori, cerimônia que precede o culto do próprio orixá
pessoal; 2) desfazer os vínculos com o orixá pessoal para o
qual aquele homem ou mulher foi iniciado, o que significa
também desfazer os vínculos com toda a comunidade do
terreiro, incluindo os ascendentes (mãe e pai-de-santo), os
descendentes (filhos-de-santo) e parentes-de-santo
colaterais; e 3) despachar o egun do morto, para que ele
deixe o aiê e vá para o orum. Como cada iniciado passa por
ritos e etapas iniciáticas ao longo de toda a vida, os ritos
funerários serão tão mais complexos quanto mais tempo de
iniciação o morto tiver, ou seja, quanto mais vínculos com
o aiê tiverem que ser cortado (Santos, 1976). Mesmo o

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

vínculo com o orixá, divindade que faz parte do orum,


representa uma ligação com o aiê, pois o assentamento do
orixá é material e existe no aiê, como representação de sua
existência no orum, ou mundo paralelo. Mesmo um abiã, o
postulante que está começando sua vida no terreiro e que já
fez o seu bori, tem laços a cortar, pois seu assento de ori
precisa ser despachado, evidentemente numa cerimônia
mais simples.

Em resumo, podemos dizer que a sequencia iniciática por


que passa um membro do candomblé, xangô, batuque ou
tambor de mina (bori, feitura de orixá, obrigações de um,
três e cinco anos, deca no sétimo ano, obrigações
subsequentes a cada sete anos) representa aprofundamento
e ampliação de laços religiosos, quando novas
responsabilidades e prerrogativas vão se acumulando: com
a mãe ou pai-de-santo, com a comunidade do terreiro, com
filhos-de-santo, com o conjunto mais amplo do povo de-
santo etc.

Com a morte, tais vínculos devem ser desfeitos, liberando o


espírito, o egun, das obrigações para com o mundo do aiê,
inclusive a religião. O rito funerário é, pois, o desfazer de
laços e compromissos e a liberação das partes espirituais
que constituem a pessoa. Não é de se admirar que,
simbolizando a própria ruptura que tal cenmoma
representa, os objetos sagrados do morto são desfeitos,
desagregados, quebrados, partidos e despachados.

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O termo axexê, que designa os ritos funerários do


candomblé de nação queto e outras variantes de origem
iorubá e fom-iorubá, Angola ou jeje-nagô, como são mais
conhecidas, é provavelmente uma corruptela da palavra
iorubá àjejé. Em terras iorubás, por ocasião da morte de um
caçador, era costume matar-se um antílope ou outra caça de
quatro pés como etapa do rito fúnebre. Uma parte do
animal era comida pelos parentes e amigos do morto,
reunidos em festa em homenagem ao defunto, enquanto a
outra parte era levada ao mato e oferecida ao espírito do
falecido caçador. Juntamente com a carne do animal,
depositavam-se na mata os instrumentos de caça do morto.
A este ebó dava-se o nome de àjejé (Abraham, 1962: 38).
O axexê que se realiza no candomblé brasileiro pode ser
pensado como um ebó, com a oferenda, entre outras coisas,
de carne sacrificial ao espírito do morto, e no qual se
juntam seus objetos rituais.
Sendo o candomblé uma religião de transe, várias
divindades participam ativamente do rito funerário,
especialmente os orixás associados à morte e aos mortos,
ocupando Oiá ou Iansã lugar de destaque.
Iansã é considerada o orixá encarregado de levar os mortos
para o orum, atribuindo-se a ela o patronato do axexê,
conforme mito narrado por Mãe Stella Odé Kaiodé, ialorixá
do Axé Opô Afonjá, que resume bem a ideia do axexê
como cerimônia de homenagem ao morto.
Assim diz o mito: Vivia em terras de Queto um caçador
chamado Odulecê.
Era o líder de todos os caçadores.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Ele tomou por sua filha uma menina nascida em Irá, que
por seus modos espertos e ligeiros foi conhecida por Oiá.
Oiá tomou-se logo a predileta do velho caçador,
conquistando um lugar de destaque entre aquele povo.
Mas um dia a morte levou Odulecê, deixando Oiá muito
triste.

A jovem pensou numa forma de homenagear o seu pai


adotivo. Reuniu todos os instrumentos de caça de Odulecê
e enrolou-os num pano. Também preparou todas as iguarias
que ele tanto gostava de saborear.
Dançou e cantou por sete dias, espalhando por toda parte,
com seu vento, o seu canto, fazendo com que se reunissem
no local todos os caçadores da terra.
Na sétima noite, acompanhada dos caçadores, Oiá
embrenhou-se mata adentro e depositou ao pé de uma
árvore sagrada os pertences de Odulecê.
Nesse instante, o pássaro "agbé" partiu num vôo sagrado.
Olorum, que tudo via, emocionou-se com o gesto de Oiá-
Iansã e deu-lhe o poder de ser a guia dos mortos em sua
viagem para o Orum.

Transformou Odulecê em orixá e Oiá na mãe dos espaços


sagrados. A partir de então, todo aquele que morre tem seu
espírito levado ao Orum por Oiá.
Antes, porém deve ser homenageado por seus entes
queridos, numa festa com comidas, canto e dança.
Nascia, assim, o ritual do axexê. (Santos, 1993: 91).

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Também participam do axexê os orixás Nanã, Euá, Omulu,


Oxumarê, Ogum e eventualmente Obá, não se incluindo,
contudo, nesta lista Xangô, que dizem ter pavor de egun,
conforme narram outros mitos.

A sequencia do axexê começa imediatamente após a morte,


quando o cadáver é manuseado pelos sacerdotes para se
retirar da cabeça a marca simbólica da presença do orixá,
implantada no alto do crânio raspado durante a feitura,
através do oxo, cone preparado com obi mascado e outros
ingredientes e fixado no coro cabeludo sobre incisões
rituais. O cabelo nesta região da cabeça é retirado e o
crânio lavado com amassi (preparado de folhas) e água.
Esta lavagem da cabeça inverte simbolicamente o primeiro
rito iniciático, quando as contas e a cabeça do novo devoto
são igualmente lavadas pela mãe-de-santo. O líquido da
lavagem é o primeiro elemento que fará parte do grande
despacho do morto.
Depois do enterro, tem início a organização do axexê
propriamente dito. Ele varia de terreiro para terreiro e de
nação para nação. É mais elaborado quando se trata de altos
dignitários e depende das posses materiais da família do
morto. Genericamente conserva os procedimentos básicos
de inversão da iniciação, havendo sempre: 1) música, canto
e dança, 2) transe, com a presença pelo menos de Iansã
incorporada, 3) sacrificio e oferendas variadas ao egun e
orixás ligados ritualmente ao morto, sendo sempre e
preliminarmente propiciado Exu, que levará o carrego,

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

evidentemente, e os antepassados cultuados pelo grupo, 4)


destruição dos objetos rituais do falecido (assentamentos,
colares, roupas, adereços etc.), podendo parte permanecer
com algum membro do grupo como herança, 5) despacho
dos objetos sagrados "desfeitos" juntamente com as
oferendas e objetos usados no decorrer da cerimônia, como
os instrumentos musicais próprios para a ocasião, esteiras
etc.

Quando, no final, o despacho é levado para longe do


terreiro, tudo juntado num grande balaio, nenhum objeto
religioso de propriedade do morto resta no templo. Ele não
faz mais parte daquela casa e só futuramente poderá ser
incorporado ao patrimônio dos ancestrais ilustres, se for o
caso, podendo então ser assentado e cultuado. Por ora, o
egun está livre para partir. Igualmente, o orixá ou orixás
pessoais do falecido já não dispõem de assentos (ibá-orixá)
no terreiro, tendo, portanto seus vínculos desfeitos. O ori,
que pereceu junto com seu dono, também não mais existe
fixado num ibá-ori (assentamento). Se algum objeto ou
assento foi dado a alguém, ele tem novo dono, para quem é
transferida a responsabilidade do zelo religioso. Nada mais
é do morto. Nada mais há que o prenda ao terreiro.

Durante o axexê, acredita-se que o morto pode expressar


suas últimas vontades e para isso o sacerdote que preside o
ritual faz uso constante do jogo de búzios. Assim, antes de
cada um dos objetos religiosos que lhe pertenceram em
vida ser desfeito, rasgado ou quebrado, o oficiante pergunta

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

no jogo se tal peça deve ficar para alguém de seu círculo


íntimo. Não é de bom-tom, contudo, deixar de despachar
pelo menos grande parte dos objetos. Quando se trata de
fundador de terreiro ou outra pessoa de reconhecidos
méritos sacerdotais, é costume deixar os assentos de seus
orixás principais para o terreiro, os quais passam a ser
zelados por toda a comunidade. Não raro, assentos de
orixás de mãe e pais de grande prestígio costumam ser
disputados por filhos com grande estardalhaço, havendo
mesmo relatos de roubos e até de disputas a faca e bala.

O axexê é realizado no terreiro em dois espaços: num


recinto reservado, preferencialmente uma cabana
especialmente construída com galhos e folhas, e no
barracão. Na cabana, em que poucos entram, são colocados
os objetos do morto, onde são desfeitos, aí se realizando os
sacrificios para os orixás e para o egum. No barracão são
celebradas as danças, aí permanecendo os membros do
terreiro, os parentes e amigos do finado.
O morto é representado no barracão por uma cabaça vazia,
que vai recebendo moedas depositadas pelos presentes, no
momento em que cada um dança para o egun. Todos devem
dançar para o egun, como homenagem pessoal. Apesar dos
cânticos e danças, o clima da celebração é propositalmente
constrito e triste. Os atabaques são substituídos por um pote
de cerâmica, do qual se produz um som abafado com uso
de leques de palha batidos na boca, e por duas grandes
cabaças emborcadas em alquidares com água e tocadas com
as varetas aguidavis. Os presentes usam tiras da folha do

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

dendezeiro, mariô, atadas no pulso, como proteção contra


eventual aproximação dos eguns. Todo esse material, ao
final, comporá o carrego do morto. No barracão também é
servido o repasto preparado com as carnes do sacrificio,
reservando-se aos ancestrais, orixás e eguns as partes que
contêm axé.

No quarto reservado, o morto é representado por recipientes


de barro ou cerâmica virgens, os quais futuramente podem
ser usados para assentar o espírito do falecido juntamente
com os demais antepassados ilustres daquela comunidade
religiosa, ou despachados.
Por influência do catolicismo, que costuma repetir a missa
fúnebre em intervalos regulares, em muitos terreiros o rito
do axexê é repetido depois de um mês, um ano e a cada sete
anos, especialmente quando se trata do falecimento do
babalorixá ou ialorixá. Mas a maioria dos iniciados,
entretanto, acaba não recebendo sequer um dia de axexê.
Isto ocorre por falta de interesse da família carnal do morto,
muito frequentemente não participante do candomblé, por
dificuldades financeiras, já que é alto o custo da celebração,
ou por incapacidade do pessoal do terreiro para oficiar a
cerimônia. Na melhor das hipóteses, os otás, pedras
sagradas dos assentamentos, são despachadas com um
pouco de canjica, reaproveitando-se todos os demais
objetos sagrados.

Hoje, com a grande e rápida expansão do candomblé, o


axexê parece estar em franca desvantagem com relação às

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

demais cenmoma. Sobretudo em São Paulo, onde o


candomblé não completou sequer cinquenta anos, poucos
terreiros dispõem de sacerdotes e sacerdotisas capazes de
cantar e conduzir o rito fúnebre, obrigando a comunidade,
em caso de morte, a se valer dos serviços religiosos de
pessoa estranha ao terreiro, que costuma cobrar e cobrar
muito caro pelo serviço. Vários adeptos do candomblé, que
se profissionalizam como sacerdotes remunerados,
especializam-se em axexê. São então chamados para a
cerimônia quando um terreiro necessita de seus préstimos.
Isto, evidentemente, encarece muito a cerimônia, o que
acaba por inviabilizá-la na maioria dos casos.

Mesmo quando morre um sacerdote dirigente de terreiro, há


grande dificuldade para a realização dos ritos funerários,
sobretudo naquelas situações em que a morte do chefe leva
ao fechamento da casa, provocada tanto por disputas
sucessórias, como por apropriação da herança material do
terreiro pela família civil do falecido. Vale lembrar que se
pode contar nos dedos os terreiros que, por todo o Brasil,
sobreviveram a seus fundadores. Em geral, a família do
finado não tem qualquer interesse em realizar o axexê e
nem está disposta a gastar dinheiro com isso. Por outro
lado, pouquíssimos pais e mães-de-santo, sobretudo em São
Paulo e no Rio de Janeiro, se dispõe a realizar qualquer tipo
de cerimônia sem o pagamento por parte do interessado,
mesmo quando o interessado é membro de seu próprio
terreiro. Muitos pais e mães-de-santo mantêm terreiros
especialmente como meio de vida, de modo que as regras

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do mercado suplantam em importância e sentido as


motivações da vida comunitária.

Ao que parece, o empenho das comunidades de culto na


realização dos ritos funerários, na maioria dos casos, é
muito reduzido quando comparado com o interesse, esforço
e empenho despendidos nos atos de iniciação e feitura,
como se, com a morte, pouca coisa mais importasse. Cria-
se assim uma situação em que a preocupação em completar
o ciclo iniciático vai perdendo importância, alterando-se
profundamente, em termos litúrgicos e filosóficos, a
concepção da morte e, por conseguinte, a própria
concepção da vida.

Os conceitos originais africanos de vida e morte vão se


apagando e o candomblé vai cada vez mais adotando ideias
mais próximas do catolicismo, do kardecismo e da
umbanda, criando-se, provavelmente, uma nova religião,
que hoje já se esparrama pelas cidades brasileiras a partir
de São Paulo e Rio de Janeiro, e que muitos chamam, até
pejorativamente, de umbandomblé, em que os eguns, que
são na concepção iorubá ancestrais particulares de uma
específica comunidade, vão perdendo suas características
africanas para se transformar em entidades genéricas, não
ligadas a nenhuma comunidade de culto em particular, que
baixam nos terreiros para "trabalhar", assumindo a
justificativa da caridade, ideal e prática cristã-kardecistas
que aos poucos vão suplantando os modelos africanos de
ancestralidade e seus ideais de culto à origem e valorização

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

das linhagens. Esta nova maneira de pensar a morte e vida


por grande parte dos adeptos do candomblé, sobretudo os
de adesão mais recente, constitui forte razão para a
crescente perda de interesse na realização do axexê para
todos os iniciados.

Com isso, certamente, ganham terreno as concepções e


ideais da umbanda e perdem as do candomblé. Isto é o
contrário do movimento de africanização e já há muito, se
Africanização é o processo de retomada das tradições
religiosas africanas iniciado na década de 60 em terreiros
de nação de origem iorubá ou nagô. Implica reaprendizado
da língua iorubá, recuperação da mitologia e de rituais
esquecidos e alterados constituiu num processo oposto, o da
umbandização do candomblé. Sem axexê, a feitura de orixá
não faz sentido, pelo menos nos termos das tradições
africanas que deram origem à religião dos orixás no Brasil.
O ciclo simplesmente não se fecha e a repetição mítica, tão
fundamental no conceito de vida segundo o pensamento
africano, não pode se realizar.

OS TIPOS DE ROUPA DOS EGUNGUNS

• o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como


se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade
superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos
coloridas, formando uma espécie de franjas ao seu redor;

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• o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e


pernas que acabam igualmente em sapatos; e

• o banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e


individualmente decorada e que identifica o Babá.

•O banté, que foi previamente preparado e impregnado de


axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é
usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis.
Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as
mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e
incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é
altamente benéfico.

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ASSENTAMENTO DE EGUN

MATERIAL NECESSÁRIO

* 7 pregos de viga virgens,


* 1 imã,
* 17 moedas antigas
*pó de ferro,
* azougue,
* azeite doce,
* itába de ungira
* lama do mangue
* tabatinga
*carbureto
* 1 alguidar de barro grande
* 1 corrente de ferro que circule o alquidar
* 1 cadeado pequeno com chave,
* 7 búzios fechados,
* 7 búzios abertos,
* 3 punhal,
* 1 colher de pau
* 7 velas brancas,
* 1 obi,
* 1 orobô
* 1 pinga,
* 1 quartinha macho,
* 1 vinho branco,
* 3 frangos,
* omim,

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MODO DE FAZER O FEITIÇO

1º ir à calunga e pegar um orí de um egun


este deve ser anotado o nome do dito cujo.

2° pegar uma bacia ou alguidar grande e colocar os


apetrechos para se fazer a massa (itába de ungira).
lama do mangue, o carbureto,tabatinga, azougue, um pouco
azeite doce, um pouco de pinga, um pouco de omim (água)
, (cuidado porque o carbureto aquece e pode até pegar fogo
em contato com a água) acenda uma vela branca ao lado e a
quartinha com água,

3º com uma colher de pau grande vai misturando a massa,

4 º pegue um frango branco e sacrifique ele em cima da


massa, e enquanto o egé vai caindo na massa vá dizendo
ekú ho ekú ho do axêxe lonan ekú ho... e continue
misturando até estar bem uniforme.

5° após coloque o imã em baixo no alquidar e a massa


cobrindo até a risca do mesmo, com o ori no meio
prendendo ele com massa.,em volta do ori coloque os
búzios intercalados de preferência presos na massa,
juntamente com as moedas antigas e o orobo na frente.

6° circulando as moedas e os búzios coloque os 7 pregos


espetando na massa ao redor da borda do alguidar deixando
em tomo de 70 % livre acima da massa passe a corrente em

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

tomo do alguidar inchando nos pregos seus elos deixando


as pontas da corrente livres na frente, e em uma das pontas
da corrente o cadeado

7º acenda as velas ao redor e dizendo o nome dele (você


pode batiza-lo com outro nome escolhido babá egun) jogue
um pouco de sal e um pouco de água no ori e diga que a
partir deste momento você egun de fulano de tal vai se
chamar (diga o nome) e responder sempre que eu chamar
ou assobiar seu nome que agora é (diga o nome) vá dizendo
ekú ho ekú ho do axêxe lonan ekú ho.

8° pegue os 2 frangos e corte em cima do ori fazendo a


saudação ekú ho ekú ho do axêxe lonan ekú ho .. , e cante

- egum quando come ele sabe orun - bis


- egum quando come ele sabe orun - bis
- simbelekê simbelekê huumm huummm ,simbelekê - bis
- egum come no obé crum egun come no obé crum - bis
Repita as cantigas até parar de escorrer o egé dos frangos
pegue o obi e confirme se ele recebeu, coloque os pedaços
do obi no alguidar, se deu aláfia bata paó e dizendo a
saudação ekú ho ekú ho do axêxe lonan ekú ho ..... Somente
a titulo informativo como todos os assentamentos de uma
"roça" de candomblé, egun também é de vital importância
para o bom funcionamento da casa e segurança tanto de seu
zelador (a) como também dos filhos de santo e demais
consulentes. O que acontece é que essa figura tem sido
muito mal compreendida em nosso tempo.

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A começar pelo seu assentamento que poucos sabem como


realizar da forma correta. E também a forma de se tratar
Egun, é muito deturpada. Existem pessoas que os tratam
como escravos, e pensam que estão agindo com uma
energia dominável. porém, essa forma de agir com egun, é
equivocada e é ela que traz as consequências erradas para a
casa de candomblé.
Egun deve ser alimentado com respeito e carinho, assim
como as demais entidades que compõem o universo dos
orixás. Não por ser ele, em serviçal de orixá, tem que ser
tratado de forma grosseira, com xingamentos e palavrões de
toda espécie. Egun existe em uma "roça" para nos proteger,
nos amparar, nos livrar de todos os males que nossos
inimigos por ventura venham a nos desejar, e também nos
ajuda em tarefas variadas, desde a cortar uma feitiçaria que
exista contra alguém, e até mesmo auxiliando a
recompormos uma família desfeita.
Obviamente que como todas as forças espirituais, ele possui
seu lado positivo e o negativo e somente devemos invocar o
positivo. Aqueles que invocam egun para o mal, mais dia,
menos dia pagam muito caro pelas artimanhas, uma vez
que, as forças existem para o bem, e somente deus tem o
direito de julgar e punir alguém e nunca nós estamos aptos
para tal. Já vi pessoas que disseram que "quando se assenta
egun em uma casa, ele leva alguém da família". Isso é
errado! egun quando assentado, somente vai para a rua
trabalhar quando nós o mandamos e volta quando o
chamamos.

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Eles nunca pedem a vida de um ser humano por mais vil


que esse seja afinal egun é escravo de orixá e esses, seguem
à risca as leis de deus nosso pai, que proíbe que uma vida
seja tocada ainda mais ceifada.
Tem várias casas com egun assentado, e nunca soube da
morte de quem quer que fosse depois do assentamento,
salvo aquelas destinadas por deus, afinal nenhuma entidade
nos traz a juventude eterna e nossas vidas têm um fim no
dia determinado por olorúm. Egun queridos é para nossa
defesa e de nossos familiares carnais, assim como para a
defesa de nossos filhos de santo e de nossos consulentes.
Afinal seguem eles, as leis de nossos orixás e esses a lei
divina. Claro que algumas restrições existem para se tratar
egun, basta que essas sejam seguidas e teremos aí uma
valorosa força sempre disposta a ajudar.
Não me refiro a egun solto, a alma penada, mas ao egun
escravo de orixá, uma forma de espírito que vive conforme
as determinações do astral superior, ou seja, ao egun
assentado, que passa a trabalhar para a "roça" e para seu
sacerdote pessoas de determinados santos não podem de
forma alguma lidar com egun, pois seus orixás não
convivem com esse tipo de energia, e se por acaso, sua casa
pedir para que um seja assentado, basta que se nomeie uma
pessoa de confiança para se cuidar de seu assentamento
usando essa energia com sabedoria, veremos que muitas
coisas podemos fazer para o bem, não importando a
entidade para a qual oferecemos presentes.

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O SALÃO E A FESTA

Este espaço sagrado é o mundo dos Eguns nos momentos


de encontro com seus descendentes. A assistência está
separada deste mundo pelos ixan que os amuixan colocam
estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão
simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da
"vida". É através do ixan que se evita o contato com o
Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento
que o invoca e o controla. Às vezes, os mariwo são
obrigados a segurar o Egun com o ixan no seu peito, tal é a
volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro
dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter
de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele
zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.

Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar


nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens.
Mas existem raras e previlegiadas mulheres que saõ
exceção, como se fossem a própria Oyá. Elas são
geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem
simultaneamente Oyê no culto de Egun. Essas mulheres
zelam pelo culto fora dos mistérios, ajudam na confecção
de roupas, mantem a ordem no salão, respondendo a todos
os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas
tem o direito de cantar para os Babás.

Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda


para dançar e cantar em louvou aos Orixás; após esta
saudação elas permanecem sentadas junto com outras

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mulheres. Elas funcionan como um elo entre os atokuns e


os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas
conhecem todos os babás, seu jeito e suas manias e sabem
como agradá-los.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda


ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após
Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cântigos
preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um
determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem
seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun.
Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô,
quando morto e vindo como Egun, ele terá suas vestes as
características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e
branco. Portará um osê (machado de lãmina dupla), que é
sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que
também é o rítmo preferido de Xangô e dançará ao som dos
tambores e das palmas entusiastas e hesitantemente
marcadas pelos Oyês femininos, que também responderão
aos cântigos e exigirão a mesma animação das outras
pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias cantigas,


após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele
conversará com fiéis, falará em um possível Yorubá arcaico
e seu atokun funcionará como tradutor. babá Egun
começará perguntando pelos fiéis mais frequentes
principalmente pelos Oyês femininos, depois pelos outros e
fmalmente será apresentado às pessoas que ali chegarem

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pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e


punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro
pai, presente entre seus descendentes para aconselha-los e
protegê-los, mantendo assim a morale a disciplina comum
às suas comunidades, funcionando como um verdadeiro
mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.

Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus


filhos, Babá-Egun parte, a festa termina e a porta pricipal é
aberta; o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará
protegendo e abençoando os que foram vê-lo.

Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de


sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um
primeiro e simples contato com este importante lado da
religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidade cultuadas nessas comunidade de
Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural
e religiosa dos yorubanos da Nigéria.

O termo Egun ou Egum é uma palavra da língua yoruba


usada no Candomblé que significa alma ou espírito de
qualquer pessoa falecida iniciada ou não.

Diferente da palavra Egungun que são considerados


espíritos de homens importantes iniciados nas Religiões
tradicionais africanas, no Culto aos Egungun e no
Candomblé que são cultuados após a morte chamados de
Baba (pai) Egun (espírito).

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

O termo Egun é muito abrangente, pode ser desde um


espírito considerado de luz, de um parente, como um
espírito desorientado obsessor que precisa ser afastado.

Egungun, espírito ancestral de pessoa importante,


homenageado no Culto aos Egungun, esse culto é feito em
casas separadas das casas de Orixá.

No Brasil o culto principal à Egungun é praticado na Ilha


de Itaparica no Estado da Bahia, mas existem casas em
outros Estados.

Normalmente chamado de Babá (pai) Egun, Babá-Egun.


Também pode ser referido como Esse nome dos ancestrais
fundadores do Aramefá de Oxossi (conselho de Oxossi,
composto de seis pessoas). Ou Esa espírito dos adoxu e
dignitários do egbe (casa).

Os nagôs cultuam os espíritos dos mais velhos de diversas


formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da
comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e
da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos
especialmente preparados para serem invocados e
materializados é que recebem o nome Egun, Egungun,
Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse
culto todo especial.

Porque o objetivo principal do culto dos Eguns é tomar


visíveis os espíritos dos ancestrais, agindo como uma
ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus

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antepassados. E ao mesmo tempo em que mantém a


continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito
controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo
uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos
e o dos mortos (os dois níveis da existência).

Os Egunguns se materializam, aparecendo para os


descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a
grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e
coloridas, com símbolos característicos que permitem
estabelecer sua hierarquia.

Os Babás Egun ou Egun Agbá (os ancestrais mais antigos)


se destaca por estar cobertos com uma roupa específica do
Egun chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia, são
enfeitadas com búzios, espelhos e contas e por um conjunto
de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado
Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e
por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina.

Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem


Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem
identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em
vida.

Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um


ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer
coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun
representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos
morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Egunguns, guardiães que são da ética e da disciplina moral


do grupo.

No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da


transformação de um ser deste-mundo num ser-do-além, de
sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos
vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais
importante do culto.

Egungun é um culto muito importante entre os Yorubas.


Eles são aqueles que os yorubas chamam de Ara-orun
kinkin (o povo de céu). Os yorubas acreditam que os
mortos devem ficar em forma de espírito entre o Orun (céu)
e Aiye (terra).

Embora Egun signifique todos os espíritos que já


desencamaram, para muitos, Eguns são espíritos que ainda
não adquiriram um grau de consciência e às vezes nem
mesmo sabem que estão desencamados.
Ele pode se tomar um obsessor quando se liga a algum
encarnado para, por exemplo, vivenciar seus vícios
materiais (álcool, droga, sexo, etc ..) ou por não admitir se
afastar de algum encarnado (esposa, filhos, amigos) ou
ainda para se vingar de seus inimigos.
As pessoas obsediadas irão ser "vampirizadas" por eles,
pois mesmo sem saber, quando um Egun entra no campo
vibratório de um encarnado, por osmose, ele irá sugar a

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

energia vital do encarnado, desvitalizando um e vitalizando


o outro.
O obsediado ira sentir uma forte apatia, "oco" por dentro,
não saber mais o que quer direito, angustia, frio, sono,
fraqueza, dores pelo corpo, calafrios, indisposição,
sentimentos inconstantes, medo ...
A presença do Egun também poderá intensificar também
nossos vícios e fraquezas nos desequilibrando como, por
exemplo: se aquele obsessor tiver o vício de beber e o
encarnado beber, poderá beber além da conta, se os dois
sentirem raiva, poderá ficar violento demais, e assim por
diante.

Os Eguns ficam vagando em nosso meio e às vezes são


aprisionados por "quiumbas" (seres que já sabem que são
desencarnados e fogem do auxílio), servindo-lhes como
escravos e muitas vezes usados para sugarem energia de
seus desafetos, atuando através dos sete estados tidos como
capitais (vaidade, inveja, ira, preguiça, avareza, luxúriaetc).

Muitos ex-viciados são Eguns, pois, como quando na carne,


não conseguem se libertar de seus vícios (tabaco, bebidas
alcoólicas, cocaína, heroína, LSD, cola de sapateiro, crack,
etc .. ). Eles irão se aproximar de algum encarnado que tenha
o mesmo vício para poderem sugar estas energias viciantes
e por esta estar sendo dividido com o Egun, o encarnado irá
fazer um uso maior para poder satisfazer os dois.
Espíritos que também tiveram atitudes que causam

<Batista CJJ'06a[uayê 67
Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

dependência (sexo, riquezas materiais, jogos, fanatismo


religioso, atitudes depressivas, etc.) também são grandes
candidatos para se tornarem Eguns depois de
desencarnados.

Quando um Egun toma consc1encia de seu estado e


condição ele passa a ser um "sofredor", pois começara a
"clamar" por Deus e por ajuda ou passara a ser um
"Quiumba" que foge dos seres de luz para poder continuar
em nosso me10.
Precisamos mudar a frequência de nosso campo vibratório
para que este obsessor não consiga nos perturbar e se
desligue de nós.
E diflcil, pois não somos seres perfeitos e temos muitos
vícios, mas percebemos que nossas fraquezas é que estão
atraindo este tipo de obsessor para a nossa vida e faremos o
possível para mudar.
A oração eleva nossa vibração e consequentemente, eleva a
do obsessor, possibilitando que entidades de luz se
aproximem e o esclareça.
Banho de ervas também tem o mesmo efeito e protege
nosso campo mediúnico não permitindo o acoplamento de
energias contrárias.
Quando este obsessor for um perseguidor desta ou de vidas
passadas, o processo é mais demorado, pois às vezes somos
merecedores daquela perseguição e não mudamos ainda

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

nosso modo de pensar e de sentir, possibilitando assim, a


interferência dele.
Poucos são os casos em que a atuação destes Eguns vieram
através de magia negra contra o encarnado, em sua maioria
foi a lei da atração.
Os Yorubás acreditam que existem duas formas de
Egungun:
Egungun Ara Orun
Egungun Ara Aiye

Egungun Ara Orun: É uma forma de Egungun que existe


quando a pessoa morre no tempo certo e logo ele volta para
orun na forma espírita enquanto o corpo é enterrado.

Este tipo de egun geralmente não perturba muito, ele volta


para terra para ajudar a família quando necessário. Quando
este egungun segue dependente do estado do odu (destino)
da pessoa é determinado se ele (egungun) conseguirá ou
não ajudar a família.

Egungun Ara Aiye: São tipos de egunguns que passaram


pela morte antes do tempo estipulado pelo destino (odu),
eles não ficam no orun (céu) ou aiye (terra), eles voam
entre os dois e geralmente são eguns que incomodam,
principalmente pessoas que são mortas repentinamente.
Este tipo de Egungun é tão perigoso que até a família da
vítima dele é perturbada.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Em alguns terreiros de Candomblé, realiza-se anualmente a


festa para os Eguns, a alma dos Babalorixás, Y alorixás, ou
Filhos de Santo do terreiro, já falecidos. São também nessa
ocasião reverenciadas as almas dos Ogãs ou de pessoas que
tenham exercido posição de destaque dentro do Ilê.

A Festa de Egun tem por finalidade, não só prestar-lhes


uma homenagem, como ajudá-los a ocupar o seu lugar
dentro do culto de Egun. Muitas vezes acontece que eles
não se "compenetram" da sua condição. Normalmente, só
ao fim de sete anos de morte, recebida a homenagem, é que
eles ocupam o seu lugar.

A casa de Egun é indispensável em qualquer terreiro,


embora possam não o festejar. Mas, devem ser servidos e
tratados. É normalmente uma casa pequena, onde são
colocados recipientes contendo alimentos. As louças
usadas, de um modo geral, são louças quebradas, que
simbolizam a vida que se partiu.

Não se faz festa de Egun dentro do terreiro, onde são


festejados os Orixás. Estas festas são realizadas em salão
apropriados aos Eguns ou ao ar livre. Nessas ocas1oes,
geralmente, observa-se o fenómeno de materialização de
alguns Eguns, daí a seriedade e responsabilidade da
cerimónia realizada.

Como em qualquer outra cerimónia, a Festa de Egun


também começa pelo Padê de Exu. Em seguida, canta-se
para todos os Orixás, oferecendo cada um dos presentes,

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

uma moeda por cada Orixá que é invocado, sendo estas


colocadas numa panela de barro que se encontra no centro,
e em torno da qual se canta e dança.

Terminados os cânticos para os Orixás, inicia-se então a


Festa para Egun. Antes de iniciar os cânticos, todos os
filhos da pessoa morta para quem se vai cantar devem
voltar-se em direcção à casa de Egun e pedir licença a
quem a "fez" no Santo.

Durante toda a cerimónia, os Ogês ou Anixás seguram uma


vara listada de preto e branco, o Ixã, com o qual procurarão
conter os Eguns, em caso de necessidade.

Ninguém pode sair antes de terminar a Festa de Egun, sob


pena de poder ser prejudicado por Eguns que se encontrem
na proximidade, sendo que isto também constituiria um ato
de desrespeito a todos eles. Os Eguns são também os
nossos antepassados, que devemos sempre respeitar.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

ORIGENS DO CULTO DE BABÁ

De quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a


morte) vinha à cidade de Ilê Ifé munida de um cajado (opá
iku) e matava indiscriminadamente as pessoas. Nem
mesmo os orixás podiam com lku.

Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as


pessoas. Para tal, confeccionou uma roupa feita com várias
tiras de pano, em diversas cores, que escondia todas as
partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez
sacrificios apropriados. No dia em que a Morte apareceu,
ele e seus familiares vestiram as tais roupas e se
esconderam no mercado.

Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando,


correndo e gritando com vozes inumanas, e ela, apavorada,
fugiu deixando cair seu cajado. Desde então a Morte deixou
de atacar os habitantes de Ifé. Os babalaôs (adivinhos e
sacerdotes de Orumilá) disseram a Ameiyegun que ele e
seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por
todas as gerações, lembrando como eles venceram a Morte.

Origem dos oiê masculinos (relacionados aos cultos a


Egungun) Havia na cidade de Oyó um fazendeiro chamado
Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni
e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou
recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e
os armazenassem, mas que não comessem um tipo especial
de inhame chamado 'ihobia', pois ele deixava as pessoas

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

com uma terrível sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o


comeram em demasia. Depois, beberam muita água e, um a
um, acabaram todos morrendo.

Quando Alapini retomou, encontrou a desgraça em sua


casa. Desesperado, correu ao babalaô que jogou Ifá para
ele. O sacerdote disse que ele se acalmasse, e que após o
17º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que
foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da
árvore sagrada atori e fazer um bastão (assim é feito o ixã).
Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra
e chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez
eles apareceriam. Mas ele também não poderia esquecer de
antes fazer certos sacrifícios e oferendas.

Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham


rostos e corpos estranhos; era então preciso cobri-los para
que as pessoas pudessem vê-los sem se assustarem. Pediu
que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade.
Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele
vestir seus filhos. Desse dia em diante ele poderia ver e
mostrar seus filhos a outras pessoas; as belas roupas que
eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de
mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: pedir às
pessoas que elas as farão com imenso prazer.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

MITOS OYÁ E EGUN

Oyá não podia ter filhos, e foi consultar o babalaô. Este lhe
disse, então, que, se fizesse sacrificios, ela os teria. Um dos
motivos de não os ter ainda era porque ela não respeitava o
seu tabu alimentar (evó) que proibia comer carne de
carneiro. O sacrificio seria de 18.000 mil búzios (o
pagamento), muitos panos coloridos e carne de carneiro.
Com a carne ele preparou um remédio para que ela o
comesse; e nunca mais ela deveria comer desta carne.
Quanto aos panos, deveria ser entregues como oferenda.

Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz nove filhos


(número místico de Oyá). Daí em diante ela também passou
a ser conhecida pelo nome de 'Iyá orno mésan', que quer
dizer 'a mãe de nove filhos' e que se aglutina 'Iyansan'. Há
outra lenda para explicar o mito de Iansã: Em certa época,
as mulheres eram relegadas a um segundo plano em suas
relações com os homens. Então elas resolveram punir seus
maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando
desta decisão, humilhando-os em demasia.

Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniram na floresta.


Oyá havia domado e treinado um macaco marrom chamado
ijimerê (na Nigéria). Utilizara para isso um galho de atori
(ixã) e o vestia com uma roupa feita de várias tiras de pano
coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os
panos. Seguindo um ritual, conforme Oyá brandia o ixã no
solo o macaco pulava de uma árvore e aparecia de forma
alucinante, movimentando-se como fora treinado a fazer.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Deste modo, durante a noite, quando os homens por lá


passavam, as mulheres (que estavam escondidas) faziam o
macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados.

Cansados de tanta humilhação, os homens foram ter com


um babalaô para tentar descobrir o que estava acontecendo.
Através do jogo de Ifá, e para punir as mulheres, o babalaô
lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as
mulheres através de sacrificios e astúcia. Ogum foi o
encarregado da missão. Ele chegou ao local das aparições
antes das mulheres. Vestiu-se com vários panos, ficando
totalmente encoberto, e se escondeu. Quando as mulheres
chegaram, ele apareceu subitamente, correndo, berrando e
brandindo sua espada pelos ares. Todas fugiram
apavoradas, inclusive Oyá.

Desde então os homens dominaram as mulheres e as


expulsaram para sempre do culto de egun; hoje, eles são os
únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo assim, eles
rendem homenagem a Oyá, na qualidade de Igbalé, como
criadora do culto de egun. Convém notar que, no culto,
egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé). No Brasil,
no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são colocadas
oferendas de comidas e realizadas cerimônias aos Eguns.

Oyá é também cultuada como mãe e rainha de egun, como


Oyá Igbalé. E, como nos explica a lenda, Oyá, a floresta e o
macaco estão intimamente ligados ao culto, inclusive em
relação à voz do macaco como modo de o egun falar.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

ODU TORNA-SE IYÁMÍ

Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que


vive no orun, mandou vir ao ayê (universo conhecido) três
divindades: Ogum (senhor do ferro), Obarixá (senhor da
criação dos homens) (2 - Um dos orixás funfun, isto é,
orixás que têm como principal preceito o uso do branco nos
ritos e nas oferendas; em algumas regiões Obarixá é
adotado como um cognome de Oxalá) e Odu, a única
mulher entre eles há do, Obarixá foi até Orumilá fazer o
jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e
vencer Odu, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.

Obarixá e Odu foram viver juntos. Ele então lhe revelou


seus segredos e, após algum tempo, ela lhe contou os seus,
inclusive que adorava egun. Mostrou-lhe a roupa de egun, o
qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos
eles adoraram egun.

Aproveitando um dia quando Odu saiu de casa, ele


modificou e vestiu a roupa de egun. Com um bastão na
mão, Obarixá foi à cidade (o fato de egun carregar um
bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas.
Quando Odu viu egun andando e falando, percebeu que foi
Obarixá quem tomou isto possível. Ela reverenciou e
prestou homenagem a egun e a Obarixá, conformando-se
com a supremacia dos homens e aceitando para si a derrota.
Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em egun, e
lhe outorgou o poder: tudo o que egun disser acontecerá.
Odu retirou-se para sempre do culto de Egungun.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

O conjunto homem-mulher dá vida a egun (ancestralidade),


mas restringe seu culto aos homens, os quais, todavia,
prestam homenagem às mulheres, castigadas por
Olodumarê através dos abusos de Odu. Também por esta
razão é que as mulheres mortas são cultuadas
coletivamente, e somente os homens têm direito à
individualidade, através do culto de egun

Os eguns, egunguns (do iorubá egúngún, "'espírito de


ancestral"), ou babás ("pais", em iorubá) são espíritos
ancestrais especialmente preparados para serem invocados
e materializados, homenageados em um culto do
candomblé completamente separado das casas de Orixá.

Na Bahia, há duas dessas sociedades de Egungun, cujo


tronco comum remonta ao tempo da escravatura: Ilê
Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e outra mais
recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em
Itaparica, Bahia. O objetivo do culto é tomar visível os
espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um
veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. Ao
mesmo tempo, mantém a continuidade entre a vida e a
morte e um estrito controle das relações entre os vivos e
mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os
dois mundos: o dos vivos e o dos mortos.

O egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e


visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que
sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé (sacerdotes)
munidos de um instrumento invocatório, um bastão

<Batista CJJ'06a[uayê 77
Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e


acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a
"morte se tome vida", e o egungun ancestral fique de novo
"vivo".

Todos os mariwo usam o ixã, no lugar das mãos, para


controlar a "morte", ali representada pelos eguns, até
mesmo os sacerdotes mais qualificados, como os ojé
atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais eguns.
O abalá, uma armação quadrada ou redonda, como se fosse
um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do
Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas,
formando uma espécie de franjas ao seu redor; O kafô, uma
túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que
acabam igualmente em sapatos; e o banté, que é uma tira de
pano especial presa no kafô, individualmente decorada, que
identifica o Babá.

Acredita-se que sob as tiras de pano encontra-se um


ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer
coisa associada à morte. Neste último caso, o egungun
representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos
morais e são os mais respeitados e temidos, guardiães que
são da ética e da disciplina moral do grupo. Os apaaraká
são eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não
têm tiras, abalá ou banté e parecem um quadro de pano com
duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses eguns ainda
estão em processo de elaboração para alcançar o status de

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Babá; são travessos e imprevisíveis, assustam e causam


terror ao povo.

Esta imensa massa energética que representa o poder de


ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas
"Sociedades Geledê", compostas exclusivamente por
mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso
poder. O medo da ira de iyámí nas comunidades é tão
grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao
poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e
usam máscaras com características femininas, dançam para
acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre
o poder masculino e o feminino.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra,


perto, mas separada do grande salão, chamada de ilê awo
(casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da
floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-
sala, onde somente os ojé podem entrar, e o lesànyin ou ojê
agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungun, os assentamentos


estes são elementos litúrgicos que, associados,
individualizam e identificam o egun ali cultuado e o ojubô-
babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado
por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local. Nos ojubô
são colocadas oferendas de alimentos e sacrificios de
animais para o egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo
também está o assentamento da divindade Oyá na
qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos


adeptos e pelos próprios Eguns.

No balé os ojê atokun vão invocar o egun escolhido


diretamente no assentamento, e é neste local que o awo
(segredo) o poder e o axé de egun nascem através do
conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e egun se
toma visível aos olhos humanos.

O espaço fisico do salão é dividido entre sacro e profano. O


sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabê e várias
cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas
quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por
alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou
andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com
sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir
os vivos com os mortos.

Antes de iniciar os rituais para egun, elas fazem uma roda


para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta
saudação elas permanecem sentadas junto com as outras
mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os
atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis.
Elas conhecem todos os Babás, seu jeito e suas manias, e
sabem como agradá-los. Através deles entendemos o
porquê de certos ritos e preceitos usados e conservados no
dia-a-dia dos cultos. Vários textos explicam o mesmo fato
ou se complementam, e às vezes de forma diferente e
aparentemente contraditória; mas isto é reflexo de se terem
originado em diferentes regiões. De uma forma ou de outra,

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

porém, chegam aos mesmos fundamentais conceitos


religiosos.

De quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a


morte) vinha à cidade de Ilê Ifé munida de um cajado (opá
iku) e matava indiscriminadamente as pessoas. Nem
mesmo os orixás podiam com Iku. Convém notar que, no
culto, egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé). No
Brasil, no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são
colocadas oferendas de comidas e realizadas cerimônias aos
Eguns.

Oyá é também cultuada como mãe e rainha de egun, como


Oyá Igbalé. E, como nos explica a lenda, Oyá, a floresta e o
macaco estão intimamente ligados ao culto, inclusive em
relação à voz do macaco como modo de o egun falar.

O conjunto homem-mulher dá vida a egun (ancestralidade),


mas restringe seu culto aos homens, os quais, todavia,
prestam homenagem às mulheres, castigadas por
Olodumarê através dos abusos de Odú. Também por esta
razão é que as mulheres mortas são cultuadas
coletivamente, e somente os homens têm direito à
individualidade, através do culto de egun.

Os mortos da família devem ser honrados. Entre os yoruba,


os mortos manifestam-se a seus descendentes por
intermédio de uma entidade chamada Egun. É o espírito
dos mortos que retoma a terra debaixo de belos panos

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

decorados com aplicações de tecido recortado, bordados e


ornamentados com búzios, espelhos e miçangas.

Sociedades estritamente reservadas aos homens


constituíram-se em tomo dos Egun. São esses homens que
invocam os mortos, os chamam e cuidam deles na terra. O
Egun serve de intermediário aos espíritos do além. Ele
aparece a certas famílias alguns dias após a morte de um
de seus membros ou durante as cerimônias realizadas para
honrar a memória desses mortos. Vêm também trazer a
bênção dos ancestrais aos casamentos de seus
descendentes. Por ocasião de suas aparições fazem-lhe
oferendas de comida e de dinheiro.

O Egun fala com voz rouca e profunda. Dança de bom


grado ao som dos tambores bata, de preferência ou, na sua
falta, ao som dos tambores obgon. O contato de sua roupa
pode ser fatal aos vivos. Assim sendo, os mariwo, membros
da sociedade Egun, os acompanham sempre munidos de
compridas varas (isan), para afastar os imprudentes. O
vento provocado por suas roupas, quando ele dança,
girando é, ao contrário, benéfico. Egun não significa, de
modo algum, esqueleto, como afirmam certos autores. A
pronúncia desse termo (Egun) é diferente.

Egun manifestam-se no Brasil quase sempre entre os


descendentes dos Yoruba, que permaneceram muito fiéis às
tradições africanas e que ainda sabem tratá-lo e invocá-lo
de acordo com as formas apropriadas. O Egun é invocado,

<Batista CJJ'06a[uayê 82
Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

chamado, batendo-se no chão três vezes com uma vara


(izan).

Para os espíritos dos antigos, é necessário estabelecer a


distinção entre a alma e a cabeça. A alma (emi, okan) é
representada pela sombra (ojiji) das pessoas. Diz-se que
existem três espécies de sombra: de manhãzinha, as pessoas
têm duas sombras, uma à esquerda e uma à direita; ao meio
dia, ela se toma uma só; após as seis horas da tarde, elas
são em numero de três. Essa sombra é enterrada com o
morto e, ao cabo de três dias, toma-se areia no fundo do
túmulo. No nono dia, a alma (emi) deixa o túmulo com essa
areia para tomar-se a sobra de um recém-nascido. A cada
dia acorrem, em princípio, duzentos enterros e duzentos
nascimentos. A alma pode ir para qualquer família.
Quando, debaixo de sua roupa, ele vem visitar seus filhos,
dirigem-lhe a oriki (louvações) da família ou então ele
mesmo os recita a seus descendentes.

Grandes festas são organizadas para comemorar sua vinda e


frequentemente, durante essas reuniões, o Egun realiza
"milagres". Dissimula-se ao centro de uma praça, sob um
grande pano, e sai dele tendo assumido diversas formas,
para grande alegria das pessoas reunidas. Assim,
transformam-se sucessivamente em camaleão (agemo),
crocodilo (oni), píton (ere), velho (sambala), mulher jovem
(awele), etc.

Entre os Yoruba existe outra entidade, Oro, que tem o


poder de comunicar-se com os mortos. Oro manifesta-se

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

por meio de queixas estridentes, urros e gritos


inarticulados. Quando se faz ouvir, de dia ou de noite, as
mulheres e os não iniciados devem trancar-se nas casas,
fechando todas as portas e janelas. Unicamente os membros
da sociedade Oro podem sair e ir sauda-lo.

Baba, Egungun ou Egun ou até mais conhecido como


Egum é um ancestre (relativamente é um ou vários
membros de nossa família que desencamaram).
Na Nigéria, o culto a Egungun está relacionado aos
ancestrais. O povo Y oruba acredita nesta energia porque
entendem que não existiria o presente e o futuro, sem a
existência do passado. O culto é um dos mais difundidos
em toda a população Yoruba. Na Nigéria são quase 30
milhões de pessoas que cultuam Egungun. Para se ter uma
ideia da força desta energia, na Nigéria os três orixás mais
cultuados são Exu, Ogun e Egungun.

O que falta, talvez para as pessoas do Brasil, seriam


informações sobre Egungun. O povo Y oruba acredita em
reencarnação, pois Egungun está interligando vida e morte:
assim que uma criança nasce, eles fazem todo um
procedimento para saber o destino da criança, manipulam
oráculos, ou então pedem a ajuda de babalawo que através
de ifá, sabem se a criança é uma encarnação de algum
antepassado. Constatando-se o fato, é feito o ritual de
ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada
para a comunidade com uma festa.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Este ritual de ikomojade é feito dessa maneira: para o


menino só depois de sete dias de vida e a menina após nove
dias. O nome é muito importante para os Yoruba.
Se os babalawo, ao consultarem o oráculo, constatam que
a criança é uma reencarnação de um antepassado,
determinam o nome de babatunde (para meninos) e
iyabode (para meninas). Esses nomes são utilizados no
caso de reencarnação dos avós. Existem outros nomes que
são dados dependendo do que for analisado pelo oráculo,
trazendo sorte ao destino da pessoa:

Das poucas sociedades secretas africanas de que se têm


notícias no Brasil, a única sobrevivente é a chamada
sociedade secreta de Egungum, ou culto aos Eguns. A
semelhança das organizações ainda hoje encontradas em
alguns lugares do Continente Africano, o chamado
candomblé de Egun luta para preservar as características
originais dos tempos imemoriais de quando foram
organizados pelos seus fundadores. No Brasil,
particularmente, na cidade de Itaparica, referência para se
pensar tal culto, antepassados africanos como Baba
Olukotum, Baba Agboulá, Baba Bakabaká, Baba Alapalá,
Baba Omorotodô, Baba Ajimuda e muitos outros
representantes dos antepassados que deram origem às
famílias africanas que saíram para povoar o mundo,
juntam-se a antepassados brasileiros ou que se fizeram
brasileiros como Baba Xoadê, Marcos Pimentel, chamado
de Marcos, o velho e Baba Olu, Marcos Teodoro Pimentel,
seu filho, lembrados como um dos fundadores em finais do

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

século XIX do Terreiro Tuntum. Segundo a tradição oral,


após conseguir a sua alforria, Marcos, o velho e seu filho,
teriam ido à África de onde trouxeram objetos rituais do
culto a Baba Olukotum para poder adorara-lo no Brasil.

Soma-se a estes, antepassados como Baba Oba Erin, Baba


Alateorum, Baba Obaladê, Baba Oba Marun, Baba
Etawexe, Baba Nilá e muitos outros, o antepassado mais
brasileiro de todos, que aparece no raiar do dia, trazendo
alegria e permitindo intercalar as frases em ioruba ritual
com o português: Baba Yawô, o índio. O candomblé de
Egun é um culto familiar.
Nele são reverenciados nossos pais e mães, aqueles que nos
antecederam e são os responsáveis pela manutenção,
concretização e perpetuação da memória negro africana no
Brasil. Na ilha de Itaparica, além do Ilê Agboulá e do Ilê
Tuntum podemos encontrar ainda o Ilê Obaladê, o Ilê
Kiobé, o Ilê Orno Nilê, o Ilê Odelorum e o Ilê Marabô, ao
lado de outros terreiros em expansão. Na cidade de
Salvador, não podemos deixar de mencionar o Ilê Axipá.
Em todos podemos perceber a afirmação da existência
coletiva através do culto aos antepassados.

A Sociedade Secreta de Egungun é uma organização


masculina. Apenas os homens tem o poder de evocar os
mortos, penetrar na casa do segredo, fazendo nascer da
terra aqueles que um dia estiveram conosco.
Não obstante este fato, as mulheres gozam de prestigio e
distinção dentro do grupo. A elas são distribuídas cargos,

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

chamados postos. Os postos exortam o papel, a função e o


significado das mulheres na criação e reorganização do
mundo que tem a morte como principal elemento para se
perceber a dinâmica da vida. Outra presença marcante no
culto a Baba Egun, são as crianças. Meninas desde cedo
dividem o espaço do barracão reservado as mulheres com
as suas mães a fim de reverenciar Baba e ser saudadas por
ele. Baba chama cada uma dessas mulheres pelo seus
postos. Quanto aos meninos, assim que começam a andar já
passam imitar seus pais e começam a correr desde cedo
com uma vara de madeira na mão, a semelhança dos ixãs,
varas consagradas ritualmente utilizada para evocar os
espíritos, conduzi-los até os vivos e protegê-los do segredo
velado pelas roupas.

No barracão onde se desenrolam as festas, os Eguns


dançam embalados pelas músicas entoadas pelas mulheres,
trazendo a alegria e revigorando durante toda a noite as
forças esgotadas dos dias de trabalho. Baba Egun também
aconselha, faz dar risada, pular, sacudir o corpo, afinal, está
vivo é está no mundo caminhando, dançando, comendo,
bebendo, tendo sucesso, etc.

O centro do culto a Baba Egun é a benção, ela serve como


já lembramos, para aumentar os anos de vida de quem a
pede. Ser abençoado é ter saúde, dinheiro, sucesso no
comércio, nas relações inter pessoais, em fim em tudo que
faz. Em algumas dessas comunidades, o mês de setembro
reveste-se de enorme significado, pois nesta ocasião são

<Batista CJJ'06a[uayê 87
Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

reverenciados dois antepassados africanos considerados


fundamentais para a consolidação da memória negro
africano no Brasil: Baba Agboulá e Baba Bakabaká. O
primeiro no dia 8 de setembro e o segundo no dia 13 do
mesmo mês. Ambos são reis africanos e como ainda em
partes desse Continente, surgem nas primeiras horas da
manhã liderando um cortejo saudado por fogos e palmas
das pessoas que se enfeitam para recebê-los e saudar os
nossos pais fundadores.

Não obstante o significativo número de trabalhos e estudos


publicados tendo como referência algumas dessas casas, o
Candomblé de Baba Egun goza ainda de um certo
abandono por parte dos órgãos responsáveis em proteger,
promover e salvaguardar o patrimônio material e imaterial
afro-brasileiro. É como se as famílias das localidades
chamadas Bela Vista e Barro Branco, por exemplo, não
existissem, não pagassem impostos, não cumprissem com
a sua obrigação de cidadãos brasileiros. A fim de proteger o
segredo do culto dos olhares curiosos que sempre lhes
acompanhou, é verdade que no decorrer de suas vidas estas
comunidades foram desenvolvendo estratégias para se
preservar, temendo à sua redução à teatralização e ao
espetáculo.

Desta maneira, tal observação foge a reinvidicação de se


está na mídia, mas deve-se ao menos se ter garantidas
questões mínimas ligadas à infraestrutura como estradas
acessíveis, iluminação, ou mesmo ações que garantam estas

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

comunidades manter um culto que funciona como uma


espécie de síntese de várias expressões da cultura popular
na Ilha de ltaparica. Sentimos falta dos Programas de
Incentivo a Cultura.

E ao contrário do que se pode vim afirmar, estas


comunidades tem procurado alguns destes, mas tem se
deparado com a falta de vontade política que faz se arrastar
durante anos processos que beneficiariam estas
comunidades. O bom mesmo é que não obstante estes fatos,
o culto aos antepassados continua vivo na ilha de Itaparica
graças às redes de solidariedade estabelecidas entre as
famílias que mais do que o pacto de não revelar o segredo
de seu culto, acreditam que a única maneira de sobreviver
às situações de riscos sociais que são constantemente
expostas é através da afirmação de que só conseguimos
permanecer no mundo através da afirmação de identidades
feitas em comunidades à semelhança das tiras de pano que
quando juntas formam a "roupa" que se faz e desfaz,
distribuindo axé, vida que nos mantém no mundo dos vivos
ao mesmo tempo em que nos coloca diante do segredo
escondido pela mesma roupa do mundo da morte, onde a
existência não tem fim.

Egun = Babaegun (uma coisa só) Energia positiva


Oku orun (cidadão do orun) Energia positiva
Oku (espírito sem procedência) Energia negativa

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

ALGUNS NOMES DE EGUN, EGUM OU EGUNGUN

BÁBÀ ABICURE
ARÁSOJÚ
ALOJADE
BÁBÀOJÚIRE
NILEKÉ
BÁBÀAFERAN
DANORÚN
OMIODO
OJUINÃ
ONIRE
BÁBÀYAO
ONILA
OKIM
NILÁ
ILEKÉ
BÁBÀ XIGUIDI
Dentro da religião Afro (o culto ao orixá, Candomblé,
Jejê, Nagô, Angola), às vezes o culto é um pouco difuso, o
culto a Egun (Oro, Orun) é tão necessário quanto o culto ao
orixá, nem sempre é preciso ter uma babá Egun montado,
na maioria das vezes só a reverência é preciso. Dando um
exemplo como você para no pé do Babá Exu da casa de
santo (Bara Orixá), você cumprimenta da padê, cachaça,
saúda Exu, agradece e faz seus pedidos; o Culto a Egun é
importantíssimo e deve ser sempre reverenciado, antes do
Toque de orixá, antes de uma Bori, feitura, Obi d'água,

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Obrigação, isto é, é um culto tão obrigatório quanto o Culto


a Eleguá (Exu Bara Orixá).

Nos países pertencentes ao antigo Império Yorubá, as


empresas têm focado suas práticas no culto de Egun
(mortos), de fundamental importância para a religião a
partir da cultura, porque, como dizem no sistema religioso
Oxa-Ifá", Iku Lobbi Orixá "(da morte nasceu Orixá),
normalmente traduzido como" os mortos levavam a santa."

Para os iorubás, o conceito de morte é muito maior do que


as outras religiões, para nós, seres humanos são compostos
principalmente de três elementos: Emi (espírito), Ori (alma,
cabeça) e Ara (corpo). A EMI e a Ori vivem no Ara
separados, Ori é aquele que está aprendendo e sabedoria de
outras encarnações, que permanece fechado para a
consciência da pessoa até a sua morte, durante iniciação
religiosa a pessoa passa por um ritual de corte onde abre
um pouco o Ori para abrir seu chakára para outros
conhecimentos, que está sempre dentro do Ara, na região
próxima da hipófise.

O Emi é um que permite o diálogo interno, que guarda


memórias desta modalidade e que dá um passo atrás em
nossa consciência quando nós incorporamos o ser montado,
(virar com santo ou desvirar) com o Orixá, deixando o Ara
(corpo). Quando morremos, EMI e Ori viram um só, e o ara
(corpo) transforma-se em e deixar o Oku (o corpo morto) e
ambos sendo uma só energia esperam o destino, seja para

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

voltar ao Aiye (terra), ou seja, o Arunwá (reencarnação), se


eles se em Egun (morto) ou se Aragbá Orun (rota para Orun
"céu") e, posteriormente, alcançar o estado de Ara Orun
(habitante do Orun). Culto sociedades Iyami Egun fêmea
chamada Agba (minha avó), a maioria fez um culto de
Egun coletivo, não individual, no caso da Companhia
Gelede esta energia, que inclui o sexo feminino é de Iyami
Oxorongá Egun, também chamado Nla Iya (mãe que está
para além).

A Companhia é composta exclusivamente por mulheres


Gelede e só lidam com este imenso poder de Iyami
Oxorongá. O medo que representa Iyami em partes da
Nigéria faz os homens da região em suas festas, dancem
vestidos de mulheres com máscaras do sexo feminino e
dança em sua honra para apaziguar a raiva e íra para
estabelecer um equilíbrio entre as forças masculinas e
femininas. Esta empresa não veio com o seu culto da Ilha
de Cuba.
Sociedade culto Egun (egungun) do sexo masculino, não é
individual, porque uma pessoa não é conhecido o culto em
Cuba, mas de forma generalizada, como é no caso da
Sociedade Secreta a Oro, que se basea no culto a uma
energia que representa o poder sobre os Eguns, através de
seu capataz "Oro". Em o caso de a sociedade Geledé, seu
culto praticamente se encontra extinto na África e na
América nunca chegou a realizar-se.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

O poder atribuídos a elas (Yamim xorongá) é tão grande


que deve ser cuidadosamente controlado, às vezes com a
ajuda da Sociedade mais importantes a Egun, depois destas
sociedades que são Egun individuais, envolvidas nas
figuras importantes do culto religioso ou familiar, estas são
as "Sociedades Egungún", onde o culto é baseado Egun
masculino, que se manifestam (as fêmeas não aparecem) e
usam figurinos grande tecidos coloridos que os cobrem da
cabeça aos pés, este tipo de vestuário em África é chamada
Baía EKU e na Bahia o nome Opa.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

OFERENDAS A EGUN

OGUIDÍ

Coloca-se de molho, numa panela de barro, uma quantidade


de farinha de milho bem fina (milharina). Esta farinha
deverá permanecer de molho por dois ou três dias até que
fermente. Uma vez fermentada, acrescenta-se canela em
casca; anis estrelado em pó (Pimpinella anisum, L.),;
baunilha (Epidendrum vanilla, L.) e açúcar mascavo.
Cozinha-se em fogo lento.

Quando tudo tiver adquirido a consistência de uma massa,


retira-se do fogo e enrola-se em folhas de mamona (Ricinus
communis, L.). Depois de enroladas e bem amarradas para
que não se abram, coloca-se uma panela com água para
ferver. Assim que a água estiver fervendo, colocam-se
dentro, as trouxinhas, deixando que cozinhem durante
quinze minutos, retirando-se em seguida e colocando-se de
lado para que esfriem. Quando estiverem frias, retira-se o
invólucro de folhas e arruma-se numa travessa de barro,
regando-se com bastante mel.

Deve-se fazer sempre, um número de nove oguidís ou


então, o número correspondente ao Odu que determinou a
oferenda.
Entrega-se a Egun na porta do cemitério ou nos pés de uma
árvore seca.

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OLELE

Deixar, por 3 (três) dias, uma porção de feijão fradinho


(Vigna sinensis, Endl.) de molho na água.

No terceiro dia, moe-se o feijão fradinho no liquidificador


usando a menor quantidade de água possível, para que a
massa resultante fique bem espessa.

Refoga-se, numa panela à parte, uma cebola, pimentão


vermelho, cominho, orégano e tomate. Quando tudo estiver
bem refogado, se junta 2 ovos e deixa-se no fogo por mais
um tempo, mexendo sempre, com uma colher de pau. Tira-
se do fogo e colocam-se, com a colher, pequenas porções
em folhas de mamona, embrulhando-se em forma de
trouxinhas. Colocam-se as trouxinhas para ferver durante
25 minutos, depois do que, retira-se da água e deixa-se
esfriar. Depois de frias, retira-se as folhas de mamona,
arria-se nos pés de Egun e, no terceiro dia, retira-se e
enterra-se num terreno baldio ou dentro de uma mata.
Importante: As comidas oferecidas a Egun não levam sal,
com exceção daquelas feitas para o consumo das pessoas,
das quais retira-se uma pequena porção para oferecer a
Egun.

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PROCEDIMENTO DO ZELADOR QUANDO ESTÁ


COM UM FILHO ENFERMO, MUITO MAL.

O que se faz normalmente é arriar o Ybá do santo do pepelê


e coloca-lo sob água. Se for Yabá colocamos água dentro
da tirrina, e se for Aboró com assentamentos de Ybá, de
massa devemos coloca-lo dentro de uma bacia com água,
arriamos um ebô, até que se defina a situação.
Em hipótese nenhuma devemos fazer sacrificio animal em
casos como esses, temos que ter paciência e fé, e somente
esperar, nada mais. Acontecendo a recuperação do
enfermo, ficando ele fora de perigo, suspendemos o santo
para o pepelê, despachamos aquela água e o ebô, e a vida
segue em frente, fazendo uma limpeza em regra na casa de
santo, e aí sim, pode se pensar em fazer um jogo e pedir
permissão para dar comida de Injé aos Orixás.

Mas como estou falando da morte após o falecimento,


despacha-se a água do Ybá na casa de Egun e o ebô, é
carrego para ser despachado num rio.
Para melhor esclarecimento, supondo que o falecimento foi
o zelador ou a zeladora o procedimento é o seguinte:
Arriam-se todos os seus assentamentos, juntamos todos os
seus pertences e colocamos tudo na casa de Egun (Ilê Ybô
Akú ) arrumado provisoriamente até a chegada do zelador
que vai dar inicio ás obrigações que antecedem o Axexe.
A manutenção desses fundamentos secretos só é feito com
pessoas altamente capacitadas, longe dos leigos.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

RITUAL DE AXEXÊ

A morte para nós espíritas é transitória, episódica, porque o


termo morrer, não tem grande sentido, pois nós somos
conscientes que ela representa apenas um pulo de uma vida
para outra, cujo mistério e segredos só Oxalá é sabedor.
Só que cabe lembrar que para os iniciados no culto dos
Orixás, temos que passar por um grande ritual para dar
caminho ao Egun para que ele seja encaminhado ao seu
destino que lhe foi reservado e somente através deste ritual
é que se poderá ter contato com o Egun e saber a direção
que ele vai tomar.

Uma delas é saber se ele quer ser despachado ou quer ser


assentado para ajudar todos que ficaram para dar
continuidade ao barracão.
Entramos numa parte do santo muito séria que é o culto a
Baba Egun, onde tem que se ter um grande conhecimento e
ter cargo dado pelo santo, pois do contrário irá por em risco
a sua vida e a dos outros. O culto a Egun não pertence a
ninguém mas se tem que ter um grande respeito, porque o
egun não é a morte, mas contém a morte por isso ter muito
cuidado para não atrair Ikú.

Todas as casas de Santo tem por obrigação de ter seu


Lessen (local onde fica os ojubó dos eguns, Onilé, Ikú, Ôya
Balé, Bara Elerú e Ossanhe que é guardião da floresta de
Ikú ) para segurança do zelador e de todos que frequentam

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

a roça e também para poderem fazer os cenmoma1s


fúnebres que são restritos e sérios.
O ritual é perigoso para quem não está capacitado para tal
poderá ter consequências com o risco da própria vida.
O sacerdote feito no santo não estará completo se não tiver
conhecimento dessa parte.

A roça sendo própria do zelador a situação fica mais fácil


para análise perante o Asé. O jogo de Yfá dará toda
orientação necessária ao responsável pela obrigação, e a
palavra do Egun, será ouvida para que ele determine quem
será o sucessor que assumirá o destino da casa de santo.

Axexê cerimônia realizada após o ritual fúnebre (enterro)


de uma pessoa iniciada no candomblé. Tudo começa com a
morte do iniciado, chamado de ultima obrigação, este ritual
é especial, particular e complexo, pois possibilita a desfazer
o que tinha sido feito na feitura de santo, é bem semelhante
com o processo iniciático chamado de sacralização, só que
agora este procedimento é uma inversão chamada de
dessacralização, no sentido de liberação do Orixá protetor
do corpo da pessoa.

Com uma navalha o Babalorixá ou yalorixá raspa o topo do


crânio do falecido e retira o Oxu, juntamente com todos os
pós colocado na sua iniciação, em seguida quebra-se um
ovo, oferece um obi Obi ritual, pintando-o com efun, wáji,
e ossun, coloca-se um novo oxu, um pombo é sacrificado, o
sangue que escorre é recolhido num pedaço de algodão,

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parte dos objetos é enrolado no pano branco e colocado na


sepultura, e outra é levado para dar inicio ao ritual do
Axexe propriamente dito.

O processo de preparação e entrega, ou despacho do


Carrego de Egum é a cerimônia fúnebre mínima que se
dedica a qualquer iniciado no candomblé quando morre. As
variações surgem, como foi já colocado, dependendo do
grau iniciático ao qual pertencia o morto mas também da
Nação em que fora iniciado.

Se o morto era uma pessoa graduada na religião é que


mereceria um Axexê. O Axexê nesses casos antecede ao
Carrego de Egum e consiste em uma, três ou seis noites de
cânticos e danças na qual se celebra a partida do iniciado
para o outro mundo, rememorando o nome de outros
iniciados já falecidos e, enfim, os eguns em geral.

Canta-se também a certa altura para os orixás, menos para


Xangô, para os quais se canta no depois da entrega do
carrego no ritual do arremate. Todos os participantes
devem vestir branco, a cor do nascimento e da morte no
candomblé, as mulheres devem estar com a cabeça e o
pescoço cobertos e os homens com os pulsos envoltos na
palha da costa.

Obedecem-se vários preceitos rígidos de comportamento


dentro do terreiro durante todo o processo, para evitar
melindrar o espírito que está sendo respeitosamente
despedido.

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Depois do carrego despachado, canta-se o arremate no dia


seguinte à tarde, antes do pôr-do-sol, as mesmas cantigas
do Axexê são ainda entoadas e no final são louvados os
orixás, e empreende-se uma limpeza ritual do terreiro, com
a participação eventual dos orixás que porventura tenha se
manifestado em seus elegun.

Ao longo do Axexê mesmo somente orixás mais ligados à


morte como Oyá-Iansã, Obaluaiyê, Nanã e Ogum, etc.
costumam se manifestar. No caso em que o morto era um
pai ou mãe de santo cujo terreiro permanecerá ainda aberto,
deverá ficar fechado ao público durante um ano ou mais
conforme determinação do jogo, mas as cerimônias internas
continuam, costuma-se repetir o ritual de um, três, seis
meses, e um, três, sete anos depois do Axexê inicial.

O Axexê também é conhecido pelos nomes de sirrum e


zerim, nomes em Língua Fon significando os instrumentos
que são percutidos em substituição aos atabaques.

O sirrum é uma metade de cabaça emborcada em um


alguidá onde se encontra uma mescla de substâncias
líquidas abô e o zerim é um pote com certas substâncias
dentro que é percutido com um abano (leque de palha)
dobrado em dois.

Quando se trata de uma pessoa especialmente antiga e


poderosa na religião, o Axexê é tocado com atabaques
mesmo, com os couros ligeiramente afrouxados para serem
depois também despachados no carrego. Em alguns

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terreiros da Nação Ketu também se usa tocar Axexê com


três cabaças: duas inteiras e uma com a ponta cortada.

Lá nos princípio dos tempos quando se começou a ter essa


prática no candomblé, só os grandes guerreiros das tribos
tinha direito a essa cerimônia.
Ela se inicia ao morrer um ADÓSÚ do barracão, quando
este solta seu último EMI (sopro dado por Deus ao nascer)
e parte para o Orun.
Acreditamos que nesta hora o Orisà Obaluaê senta-se em
seu peito até a hora deste ser devolvido a mãe terra (hora do
sepultamento) assim sendo ele entrega a sua mãe NANA
aquele espírito para que seja conduzido ao Orun. Baseado
nesta crença é regulada a lei do candomblé que proíbe que
o APARAKÀ (defunto), corpo de um adósú seja colocado
numa gaveta ou cremado, a nós é privada esta regalia.

O VELÓRIO

O velório do zelador deverá ser feito no barracão onde ele


passou a maior parte de sua vida espiritual, ao lado do deus
Ybás, e dos filhos do Asé.
Todos os filhos da casa do falecido deverão estar de branco,
sendo que as mulheres, com suas roupas simples, sem
brilho nenhum, sem anáguas, sem pinturas nenhuma, com
seus ojás de cabeça sem orelhas, e com uma conta de
Xangô somente.

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Cuíto aos P.gunguns e <Rjtua[de JI.zy.zy

Os homens deverão estar de calça, camisa, uma conta de


Xangô, e os Ogans, além disto, um Eketé.
Todos deverão usar contra Egun e as mulheres,
umbigueiras e um detalhe importante, todos tem que estar
descalços.
Neste período do velório que serão feitas as obrigações do
Ori do Egun, por quem de direito, acompanhado pelos seus
Ogans.

MATERIAIS PARA MONTAGEM DO AXEXÉ

Os materiais usados no Axexé variam de nação para nação,


e aos queridos irmãos que muito embora digamos que Egun
não tem nação, isto é verdade, não obstante, os rituais são
diferentes embora, usemos mais ou menos as mesmas
c01sas.

MATERIAIS PARA MONTAGEM DO YBALÉ

No Ybalé que é montado para inicio da obrigação, nós


reunimos todos os pertences do morto, todos os Ybás de
Santo, e tudo isto obedece a um ritual de profundidade.

COMIDA PARA O POVO

A comida a ser servida para o pessoal que está participando


das obrigações é o peixe ou outras iguarias oriundas do
mar, como bacalhau, camarão etc. Não usando peixe, pode

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ser feito arroz com salada, macarrão, enfim tudo o que


puder sem levar nada de carne animal.

TEMPO DE DURAÇÃO DO AXEXÉ

Se for zelador com casa de santo aberta, o tempo de


duração é de 7 dias. Ebomis com obrigação de sete anos
também são sete dias. Se for Yawó com um ano, o tempo é
de um dia, se for Yawó de três anos, o tempo é de três dias.
Ogans, Ekedy, Obás em qualquer situação são sete dias.
Yawôs ou qualquer vodunssi sem obrigação tenha ele
quantos anos tiver tem direito ao menos a um dia de Axexé.

INDUMENTÁRIA

Como todos sabem o branco representa o luto de Oxalá, e


representa a paz, na nossa religião o branco para essa
obrigação é uniforme geral para quem vem assistir.
As senhoras usam saias, camisa, calçolão, pano da costa,
ojá de cabeça. Os detalhes é que não usam anáguas, e nem
roupas brilhosas, orelhas nos ojás e bata.
Quanto à bata, só poderão usá-las as Yalorisás de outros
Asés e a zeladora da casa, se for o caso.

RITUAL DAS DANÇAS

Sabemos que o Candomblé e todo ele é ritmado e a


cerimônia de Axexé é também tocada pelos potes e

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cabaças, que através dos Ogans, são encontrados os


cânticos sagrados de louvação ao espírito do falecido. Esses
cânticos são lamentos, rezas e orações que propiciam o
encaminhamento do Egun, viabilizando o seu desligamento
das coisas terrenas. Os primeiros dias são de uma presença
marcante, porque ele ainda não entendeu o seu passamento.
Quando o falecimento é normal toma-se mais fácil, porém
quando o falecimento é ocasionado por acidente, crime ou
qualquer outra situação traumática, a aceitação é muito
mais demorada.

Esta é a razão por que se faz o Axexé de mês, três meses,


seis meses, ano, três anos, sete anos, quartoze anos e vinte e
e um anos. Este caso é para Babalorixás e Yalorixás que
tiveram vidas muito ativas em suas casas quando eram
VlVaS.

O ritual das danças nativas obedece a uma ordem rígida ao


que se refere ao ritual, apelidado de tirar o pé de Egun isto
quer dizer que a Y alorixá ou o Babalorisá mais velho é
quem vai dançar primeiro lugar.
A ordem é do mais velho para o mais novo, e quando esses
estão dançando, os demais colocam as mãos para o alto no
sentido de orar a pessoa, bem como transmitir uma energia
positiva e forte para fila.
Neste andamento uns vão trocando de pessoas na frente do
Ibalé, e colocando em suas mãos moedas, que são
adquiridas com os Ogans. A troca de moedas correntes
trata-se de um ebó que esta sendo passado. Visto que o

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dinheiro anda em tudo que é lugar e troca de mãos em mãos


em bons e maus ambientes do planeta. Os antigos
aproveitam este dinheiro adquirido, no decorrer dos dias,
para ajudar a pagar a missa de sétimo dia do Egun.

ACOMPANHAMENTO COMO DAR ENTRADA NO


YBALÉ CEMITÉRIO

A saída do corpo deverá ser feita após a encomendação do


Egun, e entre outros detalhes, tem Orô especial para isto.
Quando chegar no Ybalé, os Ogans da casa, e outros
também que são amigos, colocam o caixão nos ombros e ao
passar o portão principal é levantado e isto, todos cantando
as louvações corretas para entrada e acompanhamento.
Ultrapassada a entrada principal, os Ogans abaixam o
caixão do ombros e os levam pelas mãos segurando pelas
alças.

Em cada encruzilhada do Ybalé que passar, tem que parar e


dar uma embaladinha para frente e para trás três vezes, e aí
são trocados os Ogans em cada uma, até chegar à sepultura.
No sepultamento deverá ser o caixão ser coberto por uma
toalha branca, deverá ser derramado sobre ele, Deburú,
Ebô, Acaçás, Ekurus, e os atins de Oxalá, além das flores
que ficam a critério da família.
Após o sepultamento nos tempos da antiga os filhos do
terreiro voltavam todos para a roça para dar início aos

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preparativos para o ritual do Axexé, que começava no


mesmo dia do sepultamento.

Bom isto é nos tempos idos realmente, porque atualmente


não é possível este procedimento devido ao alto custo de
vida, não cedendo margem para viabilizar a obrigação.
O que se faz hoje é uma lista de ajuda, para ser passada aos
membros da casa, clientes, no sentido de angariar fundos
para enfrentar as despesas decorrentes da cerimônia
fúnebre.
Aí então, será marcado o dia do inicio e se avisa a toda
comunidade do Egbé para que compareça ao cerimonial.

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OUTRA MODALIDADE PARA


DESENVOLVIMENTO DE AXEXÉ

A primeira cantiga entoada pelo Babalorixá ou Iyálorixa é


uma reverência a todos os Axexés que, como dissemos, são
os primeiros ancestrais da criação, o começo e a origem do
universo, de uma linguagem, de uma linhagem, de uma
família, de um "terreiro". A venerável morta a Adosun que
merece essa cerimônia e é seu objeto converter-se-á
também num Axexé.

A Iyalase saúda:

Axexé , Axexé o!;

1. Axexé , mo juba ; Axexé , Axexé o!;


2. Axexé o ku Agbà o!; Axexé, Axexé o!;
3. Axexé , éru ku Àgbà o!; Axexé , Axexé o!

Tradução:
Axexé eu lhe apresento meus humildes respeitos oh!;
Axexé eu venero e saúdo os mais antigos,
Axexé a escrava saúda os mais antigos.

É o seguinte o texto da Segunda cantiga:

Bibi bibi lo bi wá ; Ode Arolé lo .

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Tradução:
Nascimento do nascimento que nos trouxe Ode Arolé
(Ósôsi ) nos trouxe ao mundo.

Saudando particularmente Oxossi que, como já dissemos, é


o ancestre mítico fundador dos "terreiros" Ketu e
consequentemente, Axexé do filhos do "terreiro".

Todos os presentes estão obrigados a despedir-se do morto


e delegar-se nele por meio das moedas que colocam na
. . .
cma-em1ssano.

d) Quando todos os presentes protestaram suas homenagens


e despediram-se do morto, formam uma roda e todo o egbé
e os parentes do morto entoam, entre outras, a cantiga:

Ó tó ' n1 egbé ma sokún orno ó tó ' n1 egbé ma sokún orno


égun ko gbe eyin o!
Ekikan ejare àgbà Orixá gbe ni máse ekikan esin enia niyi r'
õrun

Tradução:
Ele alcançou o tempo (de converter-se) no éru egbé (o
carrego que representa o egbé). Não chore, filho. Oficiante
do rito, não chore.
Alcançou o tempo (de converter-se) no carrego (no
representante) do egbé .

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Não chore, filho. Que Égun nos proteja a todos!


Proclamai o que é justo. Que Àgbà Orixá nos proteja a
todos!
Proclamai (que) foi enterrado um dos seus, que foi para o
órun. (isto quer dizer, falai alto, com justa razão, porque
enterram alguém venerável que irá ao órun).
A roda se desfaz e cada um volta para seu lugar.

e) Algumas adósu trazem vasilhas com comidas


especialmente preparadas para essa ocasião e as colocam ao
lado da cuia. Junto também é colocado um obi .

f) Os sacerdotes vêm e levantam ritualmente a cuia cheia de


moedas, apagam a vela e transportam tudo, também obi . e
as comidas, para o recinto especial exterior, onde tudo é
colocado junto aos objetos que pertenceram ao morto.

g) Os membros do egbé na sala, descobrem suas cabeças,


enrolam o pano branco por de baixo dos braços e formam
uma Segunda roda, saudando e homenageando os orixás.
Acaba essa parte da cerimônia, eles se cobrem novamente e
continuam a roda cantando uma última cantiga de adeus ao
morto.

3) Axexé: sexto e sétimo dias:

O ritual do sexto e sétimo dias é o ponto culminante do


ciclo. No crepúsculo canta-se o Padê e continuam-se como
nos dias precedentes até a fase.

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Seguem-se os seguintes ritos:


a) Ao pé das comidas e do obi colocam-se, ao lado da cuia,
os animais que vão ser oferecidos de acordo com o asé do
morto.

b) Um sacerdote vem do exterior e põe no punho esquerdo


de todos os assistentes pequenas tiras de màriwõ . É isso
que os identifica como filhos do "terreiro" e os protege.

c) Os membros do egbé retomam seus lugares e esperam


ser avisados do fim do rito que se desenrola do Ilé-ibo .

d) Nesse meio tempo, os sacerdotes preparam o chamado


final do morto. Trazem tudo, "assentos", objetos
pertencentes ao morto, cuia, comidas e animais para o Ilé-
ibo-akú. Traça no solo de barro batido um pequeno círculo
com areia e por cima, um círculo com cada uma das três
cores símbolos. É um ojúbo provisório, em que se invoca o
morto.
No meio dele, parte-se o obi e, com seus segmentos,
consulta-se o oráculo sobre a destinação a ser dada a cada
um dos objetos e "assentos" do morto. Trata-se de uma
sacerdotisa de grau elevado, às vezes acontece que o
"assento" de seu orixá fique no "terreiro" para ser adorado,
com a condição de que o morto, consultado, esteja de
acordo.

Também pode querer deixar alguns objetos de uso pessoal,


determinadas joias ou emblema a um parente ou a uma

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irmã do "terreiro". O resto, o que o morto não deixa para


ninguém, em especial seu Bara, seu Ipórí , é posto em volta
do pequeno círculo assim como as três vasilhas novas de
barro, que descreveremos falando do "assento" dos Égun
das adósu . Se o morto pertence à cúpula do "terreiro" ou
possui méritos excepcionais, as três vasilhas são separadas
para se proceder mais tarde a seu "assentamento" no Ilé-
ibo-akú . Caso contrário, que é a maioria, as três vasilhas
são colocadas junto aos que circundam o círculo-ojúbo .

O sacerdote do grau mais elevado invoca o morto três


vezes, batendo no solo com um isan novo preparado com
uma grossa tala de palmeira. Invoca-se para que venha
apanhar seu carrego, para que leve e se separe para sempre
do egbé e do "terreiro".

Insiste-se e, na terceira invocação, o morto responde e


simultaneamente tudo é destruído, quebrado com isan ,
rasgando-se vestimentas e colares. Os animais são imolados
e colocados por cima dos restos destruídos, onde se coloca
partes das moedas que se esparramaram ao quebrar a cuia, e
os màriwó que, retirados dos punhos irão juntos com os
despojos do morto. Coloca-se por cima o punhado de terra,
com a areia e as três substâncias cores recolhidas
oportunamente.

Um grande carrego é preparado: é o eru e sacerdotes


levarão a perigosa carga especificado pelo oráculo para que
Exu e Eleru disponha dele.

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e) Um sacerdote previne o egbé que, em silêncio, esperava


na sala. Todos se levantam a saída do eru-ikU :

Gbe 'rú le mã lo a fi bo
Tradução:
O carrego da casa está saindo cubram-nos.

f) Todos os participantes esperam em silêncio a volta dos


sacerdotes que, ao seu regresso, irão, em primeiro lugar,
prestar conta de sua missão aos ancestrais no Ilé-ibo-akú .
Em seguida, virão à sala para comunicar o feliz término de
sua missão.

O egbé forma uma roda, canta saudando os orixás, e dois


cantos finais despedindo-se do morto.
Iku o! Iku o gbe lo o gbe, <lide k' o jo eku o! ódigbõse o!
Oh! Morte, morte o levou consigo ele partiu, levantem-se e
dancem, nós o saudamos! Adeus!

No entardecer do sétimo dia, canta-se o Padê de


encerramento e, em seguida, procede-se ao sacudimento,
isto é, a lavar, varrer e sacudir todos os Ilé e a sala, com
ramos de folhas especiais.
O asé da adósu passou a integrar o do "terreiro". Se a
pessoa falecida é a Iyálàse , deverá proceder -se a "retirar"
sua mão de todos os objetos, todos os borí , celebrada pela
Iyálàse substituta. Durante esse rito, ela pousará a mão
sobre o orí de cada um dos membros do egbé , transferindo-
lhes seu próprio asé.

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Se o grau da adósu falecido (a) o permite, e se a resposta do


oráculo o confirma uma vez preparado o carrego, o ibo
desta será preparado ritualmente com três vasilhas novas de
barro.

Um àpéré especialmente aprontado com uma combinação


de folhas apropriadas é colocado diretamente sobre a terra
no Ilé-ibo no lugar em que será implantado o "assento"
formado com três recipientes; coloca-se junto uma
quartinha com água e tudo é recoberto com um pano
branco.
Cumprindo um ano, uma oferenda especial será feita e a
sacerdotisa falecida passará a fazer parte dos mortos e dos
ancestrais venerados no Ilé-ibo-akú , Axexé protetores do
"terreiro".

Uma cantiga entoada na terra Yorubá diz:

Iyá mi, Axexé !; ba mi, Axexé !; Olórun un mi Axexé o o!


ki ntoo bó orixá à e.

Tradução:
Minha mãe é minha origem! Meu pai é minha origem!;
Olórun é minha origem! Consequentemente, adorarei
minhas ongens antes de qualquer outro orixá.
E no "terreiro" invoca-se:

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Gbogbo Axexé tinu ara.


Todos (o conjunto dos) Axexé no interior de nosso corpo ...
(do "terreiro).

Sem Axexé , não há começo, não há existência. O Axexé é


a origem e, ao tempo, o morto, a passagem da existência
individual do àiyé à existência genérica do órun. Não há
nenhuma confusão entre a realidade do àiyé o morto e seu
símbolo o seu doble no órun o Égun . Há um consenso
social, uma aceitação coletiva que permite transferir,
representar e simultânea do àiyé e do órun, a vida e da
morte.
O asé integrado pelos três princípios-símbolos e veiculado
pelo princípio de vida individual manterá em atividade a
engrenagem complexa do sistema e, através da ação ritual,
propulsionará as transformações sucessivas e o eterno
renascimento.

Quando um iniciado no candomblé morre, junta-se todos


seus pertences pessoais utilizados em sacrificios e
obrigações, como roupas, colares e os assentamentos de
santo e se faz uma consulta oracular para se saber do
destino dos objetos separados, se ficam com alguém.

Em caso positivo, o objeto ou objetos em questão é lavado


com ervas sagradas e entregue ao herdeiro ou herdeiros
revelado(s) no oráculo, e em caso negativo, o objeto é
separado para junto com os demais e, após serem os colares
rompidos, as roupas rasgadas e os assentamentos

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quebrados, são colocados em uma trouxa que será entregue


em um local também indicado pelo oráculo.
O processo de preparação e entrega, ou despacho do
Carrego de Egun é a cerimônia fúnebre mínima que se
dedica a qualquer iniciado no candomblé quando morre. As
variações surgem, como foi já colocado, dependendo do
grau iniciático ao qual pertencia o morto mas também da
Nação em que fora iniciado. Se o morto era uma pessoa
graduada na religião é que mereceria um Axexê

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS E IMAGENS

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Orixás. Editora Pallas.
• www.fflch.usp.br/sociologia/prandi/axexe.rtf
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• www .dihitt.com. br/n/religiao/.. ./eguns-ou-egunguns
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• www.dicionarioinformal.eom.br/egum
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• pt. wikipedia.org/wiki/Axexê
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• pt.scribd.com/doc/... /Eguns-Ou-Egunguns-Asese
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* www.dihitt.eom.br/n/religiao/.. ./eguns-ou
*egungunsmagiadosorixas.blogspot.com/ .. ./assentamento-de-
egu ...
*magiadosorixas.blogspot.com/ .. ./assentamento-de-egu

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