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Educação
Patrimonial A série Educação Patrimonial vem complementar as
diversas séries anteriores veiculadas pelo programa
Salto para o Futuro/TV Escola, que abordaram com
MARIA DE
LOURDES muita riqueza temas correlatos, como as manifestações
PARREIRAS
HORTA 1 da cultura popular e o sentido ampliado do que
chamamos de “Patrimônio Cultural”2. As diversas
experiências pedagógicas demonstradas e discutidas
nessas séries, nas quais o trabalho de campo é visto
“A valorização do patrimônio
cultural brasileiro depende,
como o ponto de partida e/ou de chegada para a
necessariamente, de seu co- pesquisa e o aprendizado em sala de aula, vêm
nhecimento. E sua preserva- convergir para um aprofundamento do tema que será
ção, do orgulho que possuí-
mos de nossa própria iden-
apresentado nessa nova série. A Educação Patrimonial
tidade.” será enfocada como uma área de trabalho e de pesquisa
Luiz Antonio Bolcato
Custódio
educacional, que pode ampliar e enriquecer o processo
de ensino e aprendizagem, extrapolando os muros da
escola e também dos museus, bibliotecas e arquivos,
num processo de descoberta em que alunos,
professores, pais, avós e toda uma comunidade podem
estar envolvidos.

O que iremos descobrir nesse processo? Uma metodologia específica


1
para a “leitura do mundo” e das coisas produzidas pelo indivíduo em sua vida
Museóloga, Doutora em
Museologia pela quotidiana, como propõe Paulo Freire, uma “alfabetização cultural” que capa-
Universidade de cite o aprendiz, enquanto cidadão, a melhor entender sua identidade cultural
Leicester, UK. Diretora do
Museu Imperial, IPHAN, e a se “apropriar”, afetivamente e conscientemente, de seus valores e mar-
Ministério da Cultura. cas próprias, de seu “patrimônio” pessoal e coletivo. Muitos professores e
Consultora dessa série..
2
Obs.: A consultora se alunos que acompanham como cursistas o Salto para o Futuro perceberão
refere às séries que já vêm praticando a “Educação Patrimonial”, em suas aulas e projetos
Linguagens e Sentidos e
Visitas, passeios e pedagógicos. O que vamos apresentar nessa série é uma proposta de
excursões, entre outras. metodologia especialmente estudada para esse trabalho de leitura e re-cria-

PROPOSTA PEDAGÓGICA 2
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PROPOSTA PEDAGÓGICA

ção ativa da “linguagem das coisas”, uma linguagem que usamos desde que nascemos, sem
nos darmos conta de que muitas vezes ela é mais rica e ampla que a linguagem das palavras.
Como descrever, por exemplo, o que é um “pôr-do-sol”?
Através de um trabalho consistente e sistemático com a Educação Patrimonial, numa
proposta transdisciplinar, vamos descobrir porque, para darmos um “salto para o futuro”, é
preciso aprender a dar um “salto para o passado”, ativando e enriquecendo os processos da
memória e compreendendo a dinâmica cultural como um movimento contínuo de mudança,
transformação e permanência. Um processo que explica, em seu verdadeiro sentido, o que
significa o “desenvolvimento” humano, econômico e social, tão discutido hoje em todas as
esferas.

Temas que serão abordados nos programas da série:

PGM 1 – O QUE É A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL


O primeiro programa da série pretende abordar as origens, princípios básicos da
metodologia e primeiras experiências na área da Educação Patrimonial, apresen-
tando e debatendo o “patrimônio vivo”: a dinâmica cultural. E ainda: “patrimônio
material” e “imaterial”; o objeto cultural como fonte primária de conhecimento; a
necessidade do passado: o uso dos objetos, monumentos e sítios históricos na Edu-
cação Patrimonial. Como aplicar a metodologia da Educação Patrimonial: etapas,
recursos, objetivos.

PGM 2 – O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA


No 2o programa da série, a proposta é investigar o objeto cultural em seu contexto
histórico-temporal: a observação, as formas de registro, a exploração, a apropriação
criativa. Exemplos de análises de objetos culturais; delimitação de objetivos e metas;
habilidades, conceitos e conhecimentos a serem atingidos; preparação do trabalho de
campo, desenvolvimento em sala de aula, atividades e projetos de extensão do tema
dentro e fora da escola. Fontes primárias e secundárias de pesquisa.

PGM 3 – OS MONUMENTOS E OS CENTROS HISTÓRICOS


Explorando o meio ambiente histórico; definindo o conceito de “meio ambiente histó-
rico”; os remanescentes do passado e as “referências da memória”; bens “consa-
grados” e “não-consagrados”; o que é o processo de “tombamento”; as instituições
de proteção do patrimônio: o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/
IPHAN e outros órgãos de proteção; as “dimensões” do “meio ambiente histórico” –
as camadas superpostas e o processo de transformação; como explorar o meio
ambiente histórico: exercícios de análise, preparação da visita; formas e estados de

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 3
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PROPOSTA PEDAGÓGICA

preservação dos monumentos e sítios históricos. Os Centros Históricos urbanos:


exploração interdisciplinar, método de análise das evidências disponíveis, exercí-
cios propostos para a volta à sala de aula, sugestões de atividades.

PGM 4 – OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E O PATRIMÔNIO RURAL


Escavando o presente para encontrar o passado; o que é a “pré-história”? O que é a
Arqueologia: o que é um “sítio arqueológico”? o que faz um arqueólogo? As “pistas”
do passado no presente: artefatos, estruturas, “ecofatos”; camadas superpostas: a
“estratigrafia”; cuidados necessários na visitação e normas de preservação. Recur-
sos, fontes e contatos para visitas de estudo; sugestões de atividades; o arqueólogo
do futuro. O patrimônio rural: como descobri-lo; experiências e atividades na área
rural; projetos e programas de trabalho: a experiência da “Quarta Colônia” de Imi-
gração Italiana no Rio Grande do Sul; o patrimônio como instrumento de desenvolvi-
mento local; o turismo ecológico e cultural.

PGM 5 – A MULTIPLICAÇÃO DO MÉTODO – OFICINAS DE FORMAÇÃO DE PRO-


FESSORES
Avaliação da experiência
As oficinas de Educação Patrimonial: como organizá-las; sugestões de atividades; a
aplicação do método através da experiência direta; discussão e avaliação; elabora-
ção de projetos transdisciplinares na escola; elaboração de materiais didáticos: as
“folhas didáticas”, as “caixas de descoberta”, os “baús de memória”, os inventários
culturais. Métodos de avaliação das experiências: para o aluno, para o professor;
referências para o professor: o Patrimônio a conhecer, fontes de pesquisa e infor-
mação, o planejamento da visita.

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 4
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PGM 1

O QUE É
EDUCAÇÃO A proposta de uma metodologia para o desenvolvimento
PATRIMONIAL
de ações educacionais voltadas para o uso e a
MARIA DE apropriação dos bens culturais que compõem o nosso
LOURDES
PARREIRAS “patrimônio cultural” foi introduzida no Brasil, em termos
HORTA 1 conceituais e práticos, por ocasião do 1o. Seminário
sobre o “Uso Educacional de Museus e Monumentos”,
realizado em julho de 1983, no Museu Imperial, em
Petrópolis, RJ. A partir dessa proposta inicial, inúmeras
experiências e atividades vêm sendo realizadas, em
diferentes contextos e locais do país, que vieram
demonstrar resultados surpreendentes na recuperação
da memória coletiva, no resgate da auto-estima de
comunidades em processo de desestruturação, no
desenvolvimento local e no encontro de soluções
inovadoras de preservação do patrimônio cultural, em
áreas sob o impacto de mudanças e transformações
radicais em seu meio ambiente.

O desenvolvimento de programas de Educação Patrimonial


Patrimonial, envolven-
do não só a rede escolar, mas também as organizações da comunidade local,
as famílias, as empresas e, principalmente, as autoridades responsáveis,
contribuiu para a ampliação de uma nova visão do Patrimônio Cultural Brasi-
leiro em sua diversidade de manifestações, tangíveis e intangíveis, materiais
1
Museóloga, Doutora em
e imateriais, como fonte primária de conhecimento e aprendizado
aprendizado, a ser
Museologia pela
Universidade de utilizada e explorada na educação de crianças e adultos, inserida nos currícu-
Leicester, UK. Diretora do
los e disciplinas do sistema formal de ensino, ou ainda como instrumento de
Museu Imperial, IPHAN,
Ministério da Cultura. motivação
motivação, individual e coletiva, para a prática da cidadania e o estabeleci-
Consultora dessa série e
mento de um diálogo enriquecedor entre as gerações.
autora dos 5 textos deste
Boletim.
O princípio básico da Educação Patrimonial é a experiência direta dos
bens e fenômenos culturais, para se chegar à sua compreensão e valoriza-

O QUE É FOLCLORE E CULTURA POPULAR 5


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PGM 1

ção, num processo contínuo de descoberta. A realização de inúmeras oficinas de treinamento


de professores na prática da metodologia proposta promoveu a disseminação do método e
das experiências, enriquecida pela contribuição de cada agente educacional em seus diferen-
tes contextos. A demanda por materiais e bibliografia relacionados com o tema fez com que,
em 1999, produzíssemos, com o apoio do IPHAN e do Ministério da Cultura, um “Guia Básico
da Educação Patrimonial”, que pudesse servir de suporte ao trabalho em diferentes circuns-
tâncias e experiências. Os textos dessa apostila reproduzem parte deste material, no momen-
to esgotado para distribuição. O interesse despertado pelo assunto já motivou duas teses de
mestrado em Educação, apresentadas à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e
outra apresentada à Universidade Federal de Santa Maria, RS. Algumas das propostas e prá-
ticas sugeridas foram inspiradas no trabalho educacional sobre o Patrimônio Cultural desen-
volvido na Inglaterra, um país que se destaca pela qualidade de seu sistema educacional e
pela riqueza de seus museus e de seus monumentos. Estas referências constam da bibliogra-
fia sugerida, mas são de difícil acesso no Brasil, e publicadas em inglês. Muitos artigos, entre-
tanto, já estão publicados por autores brasileiros em revistas universitárias e científicas, o
que não supre a necessidade de mais estudos e publicações sobre o tema. É preciso, assim,
que os professores e agentes educacionais que se envolvam na exploração da Educação
Patrimonial, em sua atividade pedagógica, registrem e analisem essas experiências, contri-
buindo para o aprofundamento de conceitos e do embasamento teórico de sua prática.

O que é, afinal, a Educação Patrimonial?


Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado
no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e
coletivo. Isto significa tomar os objetos e expressões do Patrimônio Cultural como ponto de
partida para a atividade pedagógica, observando-os, questionando-os e explorando todos os
seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos. Só após esta explo-
ração direta dos fenômenos culturais, tomados como “pistas” ou “indícios” para a investiga-
ção, se recorrerá então às chamadas “fontes secundárias”, isto é, os livros e textos que pode-
rão ampliar esse conhecimento e os dados observados e investigados diretamente. A partir
da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos
os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca
levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento
conhecimento, apropriação e valorização
de sua herança cultural,
cultural capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando
a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.
A observação direta e a análise das “evidências” (aquilo que está à vista de nossos olhos)
culturais permitem à criança ou ao adulto vivenciar a experiência e o método dos cientistas,
dos historiadores, dos arqueólogos, que partem dos fenômenos encontrados e da análise de

O QUE É EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 6


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PGM 1

seus elementos materiais, formais e funcionais para chegar a conclusões que sustentam suas
teorias. O aprendizado desse método investigatório é uma das primeiras capacitações que
se pode estimular nos alunos, no processo educacional., desenvolvendo suas habilidades de
observação, de análise crítica
observação crítica, de comparação e dedução
dedução, de formulação de hipóteses e de
solução de problemas colocados pelos fatos e fenômenos observados.

O conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte das comunidades e indiví-


duos do seu “patrimônio” são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável
desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania
cidadania. O
patrimônio, como o nome diz, é algo herdado de nossos pais e antepassados. Essa herança só
patrimônio
passa a ser nossa, para ser usufruída, se nos apropriarmos dela, se a conhecermos e reconhe-
cermos como algo que nos foi legado, e que deveremos deixar como herança para nossos filhos,
para as gerações que nos sucederão no tempo e na história. Uma herança que constitui a nossa
riqueza cultural, individual e coletiva, a nossa memória, o nosso sentido de identidade, aquilo que
nos distingue de outros povos e culturas, que é a nossa “marca” inconfundível, de pertencermos
a uma cultura própria, e que nos aproxima de nossos irmãos e irmãs, herdeiros dessa múltipla e
rica cultura brasileira. O conhecimento dos elementos que compõem essa riqueza e diversidade,
originários de diferentes grupos étnicos e culturais que formaram a cultura nacional, contribui
igualmente para o respeito à diversidade, à multiplicidade de expressões e formas com que a
cultura se manifesta, nas diferentes regiões, a começar pela linguagem, hábitos e costumes. A
percepção dessa diversidade contribui para o desenvolvimento do espírito de tolerância, de
valorização e de respeito das diferenças, e da noção de que não existem povos “sem cultura”, ou
culturas melhores do que outras. O diálogo permanente que está implícito neste processo edu-
cacional estimula e facilita a comunicação e a interação entre as comunidades e os agentes
responsáveis pela preservação e o estudo dos bens culturais, possibilitando a troca de conheci-
mentos e a formação de parcerias para a proteção e valorização desses bens.

A Educação Patrimonial pode ser assim um instrumento de “alfabetização cultural ” que


possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do
universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo
leva ao desenvolvimento da auto-estima dos indivíduos e comunidades, e à valorização de sua
cultura, como propõe Paulo Freire em sua idéia de “empowerment ”, de reforço e capacitação
para o exercício da auto-afirmação
auto-afirmação.

A metodologia específica da Educação Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidên-


cia material ou manifestação da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento
ou um sítio histórico ou arqueológico, uma paisagem natural, um parque ou uma área de
proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade da área rural, uma mani-
festação popular de caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal,

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PGM 1

tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre os


indivíduos e seu meio ambiente.Outro aspecto de fundamental importância no trabalho da
Educação Patrimonial é o seu caráter transdisciplinar
transdisciplinar, podendo ser aplicado como método
em todas as disciplinas, como veremos mais adiante.

O Patrimônio vivo: a dinâmica cultural


Todas as ações por meio das quais os povos expressam seu modo específico de ser
constituem a sua cultura, que vai ao longo do tempo adquirindo formas e expressões diferen-
tes. A cultura é um processo eminentemente dinâmico,
dinâmico transmitido de geração em geração,
que se aprende com os ancestrais e se cria e recria no cotidiano do presente, na solução dos
pequenos e grandes problemas que cada sociedade ou indivíduo enfrentam. Neste processo
dinâmico de socialização,
socialização em que se aprende a fazer parte de um grupo social, o indivíduo
constrói a própria identidade.
Reconhecer que todos os povos produzem cultura e que cada um tem uma forma diferen-
te de se expressar é aceitar a diversidade cultural. Este conceito nos permite ter uma visão
mais ampla do processo histórico, reconhecendo que não existem culturas mais importantes
do que outras. O Brasil é um país pluricultural e deve esta característica ao conjunto de etnias
que o formaram e à extensão do seu território. Estas diversidades culturais regionais contri-
buem para a formação da identidade do cidadão brasileiro, incorporando-se ao processo de
formação do indivíduo, e permitindo-lhe reconhecer o passado, compreender o presente e
agir sobre ele.
O Patrimônio Cultural Brasileiro não se resume aos objetos históricos e artísticos, aos
monumentos representativos da memória nacional ou aos centros históricos já consagrados e
protegidos pelas instituições e agentes governamentais responsáveis por essa proteção, como
o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no âmbito federal, e os órgãos
de patrimônio estaduais e municipais. Existem outras formas de expressão cultural que cons-
tituem o patrimônio vivo da sociedade brasileira: artesanatos, maneiras de pescar, caçar,
plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir moradi-
as e fabricar objetos de uso, a culinária, as danças e músicas, os modos de vestir e falar, os
rituais e festas religiosas e populares, as relações sociais e familiares, as canções, as histó-
rias e lendas contadas de geração a geração, tudo isto revela os múltiplos aspectos que pode
assumir a cultura viva e presente em uma comunidade.
O saber e a experiência da vida na floresta é parte fundamental da herança cultural dos
índios da Amazônia, ou de outras regiões do país, nas quais muitas vezes esse patrimônio
cultural vem se perdendo na memória dessas comunidades. O maracatu, tão popular no Nor-
deste e no Norte do país, é a expressão de elementos trazidos pela cultura africana, incorpo-

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rando uma prática religiosa e uma manifestação popular, sendo assim, da mesma forma, um
elemento significativo da cultura brasileira. O Carnaval de Olinda, as vaquejadas do Pantanal,
as técnicas tradicionais da pesca no litoral de Santa Catarina, o trabalho das rendeiras nor-
destinas, as panelas fabricadas pelas mulheres do Vale do Jequitinhonha, a maneira de plan-
tar, fiar e tecer o linho que ainda sobrevive no interior do Rio Grande do Sul, as rodas de
samba cariocas, as festas do Divino em Parati, são exemplos da cultura viva que pode ser
trabalhada e conhecida por meio da Educação Patrimonial.

A necessidade do passado: o uso do patrimônio cultural no


processo educacional
O processo educativo, em qualquer área de ensino/aprendizagem, tem como objetivo
levar os alunos a utilizarem suas capacidades intelectuais para a aquisição de conceitos e
habilidades, assim como para o uso desses conceitos e habilidades na prática, em sua vida
diária e no próprio processo educacional. A aquisição é reforçada pelo uso dos conceitos e
habilidades, e o uso leva à aquisição de novas habilidades e conceitos. A Educação Patrimonial
consiste em provocar situações de aprendizado sobre o processo cultural e, a partir de suas
manifestações, despertar no aluno o interesse em resolver questões significativas para sua
própria vida, pessoal e coletiva. O patrimônio histórico e o meio ambiente em que está inseri-
do oferecem oportunidades de provocar nos alunos sentimentos de surpresa e curiosidade,
levando-os a querer conhecer mais sobre eles. Nesse sentido podemos falar na “necessidade
do passado ”, para compreendermos melhor o “presente” e projetarmos o “futuro”. O estudo
dos remanescentes do passado motiva-nos a compreender e avaliar o modo de vida e os
problemas enfrentados pelos que nos antecederam, as soluções por eles encontradas para
enfrentar esses problemas e desafios, e a compará-las com as soluções que encontramos
hoje, para os mesmos problemas (moradia, saneamento, abastecimento de água, iluminação,
saúde, alimentação, transporte, e tantos outros aspectos). Podemos facilmente comparar es-
sas soluções, discutir as causas e origens dos problemas identificados e projetar as soluções
ideais para o futuro, num exercício de consciência crítica e de cidadania.

A metodologia da Educação Patrimonial


A metodologia proposta para as atividades de Educação Patrimonial se estrutura sobre
etapas, caracterizadas por diferentes recursos pedagógicos, visando objetivos defini-
cinco etapas
dos para cada uma. Estas etapas seguem uma determinada ordem mas podem, naturalmente,
acontecer simultaneamente, dependendo das respostas e iniciativas das crianças. As etapas
propostas, os recursos, atividades e objetivos visados podem ser resumidos no quadro abai-
xo, e podem ser enriquecidas e inovadas pelo professor:

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Etapas Recursos/Atividades Objetivos


1) Observação exercícios de percepção/sensorial, por identificação do objeto:
meio de perguntas, manipulação de objetos, função/significado; desenvolvimento da
medição, anotações, dedução, percepção visual e simbólica
comparação, jogos de detetive, etc.

2) Registro desenhos, descrição verbal ou escrita, fixação do conhecimento percebido,


gráficos, fotografias, maquetes, mapas e aprofundamento da análise crítica;
plantas baixas, modelagem, etc. desenvolvimento da memória,
pensamento lógico, intuitivo e
operacional

3) Exploração análise do problema, levantamento de desenvolvimento das capacidades de


hipóteses, discussão questionamento, análise e julgamento crítico,
avaliação pesquisa em outras fontes como interpretação das evidências e
bibliotecas, arquivos, cartórios, documentos significados
familiares, jornais, revistas, entrevistas, etc.

4) Apropriação recriação, releitura, dramatização, envolvimento afetivo, internalização,


interpretação em diferentes meio de desenvolvimento da capacidade de auto-
expressão, como a pintura, escultura, expressão, apropriação, participação
drama, dança, música, poesia, texto, filme e criativa, valorização do bem cultural
vídeo, exposição em classe

Antes de iniciar o trabalho com qualquer dos temas do Patrimônio Cultural, procure estu-
dar e conhecer o tema a ser tratado. Você pode conversar com os técnicos do Museu local, do
Instituto do Patrimônio, com membros da comunidade, ir a bibliotecas e arquivos para ampliar
seu enfoque e conhecer os recursos a serem explorados. Defina seus objetivos educacionais
pretendidos. Decida que habilidades
e os resultados pretendidos habilidades, conceitos e conhecimentos você quer
que seus alunos adquiram e de que modo o trabalho se insere no seu currículo
currículo. Verifique que
outras disciplinas poderiam estar envolvidas na exploração do tema, e converse com outros
professores dessas matérias. Converse com a coordenação pedagógica de sua escola para
discutir como o trabalho será avaliado, e como poderá ser mostrado na escola, de modo a ser
aproveitado pelos demais alunos.
Como será a preparação do trabalho de campo e o desenvolvimento posterior em sala de
aula? A maioria das crianças vai sentir que aproveitou mais a experiência se tiver um produto
final tangível. Uma sessão de diapositivos, um vídeo, uma dramatização ou uma pequena expo-
sição das fotos, textos e trabalhos feitos podem documentar todo o processo, e possibilitar a
discussão pedagógica entre os professores e coordenação.
Uma apresentação ou entrevista com outras pessoas, como colegas de escola, professo-
res, pais, avós, moradores da vizinhança podem ser recursos para multiplicar e reforçar o
trabalho realizado, promovendo a integração das crianças com a comunidade escolar, fami-
liar e da vizinhança.

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O OBJETO
CULTURAL – O OBJETO CULTURAL COMO FONTE PRIMÁRIA DE

UMA
DESCOBERTA
CONHECIMENTO

Nada substitui o objeto real como fonte de informação


sobre a rede de relações sociais e o contexto histórico
MARIA DE
LOURDES em que foi produzido, utilizado e dotado de significado
PARREIRAS pela sociedade que o criou. Todo um complexo sistema
HORTA 1
de relações e conexões está contido em um simples
objeto de uso cotidiano, uma edificação, um conjunto de
habitações, uma cidade, uma paisagem, uma
manifestação popular, festiva ou religiosa, ou até
mesmo em um pequeno fragmento de cerâmica
originário de um sítio arqueológico. Descobrir esta rede
de significados
significados, relações, processos de criação,
fabricação, trocas, comercialização e usos diferenciados,
que dão sentido às evidências culturais e nos informam
sobre o modo de vida das pessoas no passado e no
presente, em um ciclo constante de continuidade,
transformação e reutilização
reutilização, é a tarefa específica da
Educação Patrimonial. Neste processo de
descobrimento da realidade cultural de um
1
Museóloga, Doutora em
determinado tempo e espaço social é possível se aplicar
Museologia pela uma metodologia apropriada que facilite a percepção e
Universidade de Leicester,
UK. Diretora do Museu a compreensão dos fatos e fenômenos culturais.
Imperial, IPHAN,
Ministério da Cultura.
Consultora dessa série e
autora dos 5 textos deste A metodologia da Educação Patrimonial nos leva a formular hipóteses
Boletim. sobre os objetos e fenômenos observados, buscando descobrir sua função
original e sua importância no modo de vida das pessoas que os criaram. Por
exemplo, um simples botão, de plástico, de osso ou de madeira, parece não

o que é folclore e cultura popular 11


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oferecer uma grande margem de exploração de significados. Mas se pensarmos em como era
a vida das pessoas antes da invenção do botão, podemos descobrir fatos interessantes... Até
a Idade Média, na Europa, as roupas, em especial os casacos e coletes, eram amarradas com
laços e cadarços, de tecido ou de couro. Após o surgimento do botão, fechando o vestuário, as
pessoas passaram a ter uma melhor proteção contra o frio e o vento, em suas atividades
diárias. Isto veio contribuir para a diminuição das doenças contraídas pela exposição a esses
fatores atmosféricos, inclusive à umidade, em uma época em que a medicina ainda estava
engatinhando, e em que não se conheciam os antibióticos e outros medicamentos para com-
bater a gripe, a pneumonia, a bronquite. A invenção do botão veio assim aumentar a expecta-
tiva de vida dos indivíduos, influenciando também a moda, e gerando uma sucessão de outros
recursos para o fechamento das roupas, em tempos posteriores, como os zíperes, os botões
de pressão em metal, e mais recentemente as fitas “velcro”. A popularização do uso do botão
levou à criação de usos correlatos para este pequeno objeto, que passa a ostentar monogramas,
indicativos da profissão do usuário (como nos uniformes do período imperial, no Brasil, que
ostentam a sigla PI ou PII, em referência aos dois Imperadores), a ser símbolo de prestígio
social, como as abotoaduras de ouro ou madrepérola usadas nos punhos das camisas, ou
ainda o uso na propaganda, com os conhecidos “buttons”/ botões com siglas partidárias, de
campanhas sociais, de eventos ou clubes. Podemos ainda lembrar do “futebol de botão”, tão
popular entre adultos e crianças.

Este exemplo pode ser aplicado na exploração de qualquer objeto, equipamento ou


expressão cultural, descobrindo-se a sua trajetória no tempo,
tempo a partir de sua criação,
função e uso original, e acompanhando-se sua transformação, formal e funcional, ao lon-
go desse trajeto. O famoso paradoxo de Zenon, um filósofo grego da Antigüidade, sobre o
vôo de uma flecha, pode servir de modelo para esta exploração. Zenon propôs que, ao
longo da trajetória de uma flecha em movimento, se poderia distinguir os diferentes pon-
tos no espaço ocupados sucessivamente por este objeto, e que em sua sucessão e deslo-
camento, dariam origem ao movimento real. Todo objeto, em sua trajetória histórico-
temporal, percorre um caminho de etapas sucessivas e em contínua transformação, em
sua forma e uso. A Educação Patrimonial propõe um exercício de exploração do “horizon-
te do passado ” de cada objeto e fenômeno observado, buscando a partir do presente
descobrir esta trajetória no tempo. Usando a imagem de um grande arco-íris em sua
curva no céu, podemos tentar descobrir onde começa o fenômeno, as suas múltiplas “co-
res”, ou significados e usos, de que se revestem para as sociedades que os utilizaram, e
os sentidos diferenciados que tiveram, as relações com outros fenômenos e outras in-
venções, chegando até os nossos dias. É comum encontrarmos em uso na decoração das
casas de hoje objetos que perderam sua função e significados originais, como por exem-
plo os antigos ferros de passar, do tempo da vovó, hoje transformados em vasos de flo-

O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA 12


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PGM 2

res, ou como objetos de enfeite nas estantes. Esta “re-funcionalização ”, ou “re-signifi-


cação ” dos objetos de uso cotidiano oferece um excelente tema de exploração, discus-
são e pesquisa, dentro ou fora da sala de aula.
Os problemas encontrados por uma comunidade no passado levaram a soluções
que deixaram suas marcas no presente. Por exemplo, a existência de um aqueduto, ou de
uma ponte de ferro, nos indica como uma comunidade resolveu seu problema de abaste-
cimento de água, ou de travessia de um rio. As evidências do passado que encontramos
hoje nos permitem analisar e identificar os problemas do passado
passado, e as soluções encon-
tradas no presente para resolver os mesmos problemas (sistema de encanamento de
água, reservatórios e açudes, pontes de concreto, construção de novas estradas, etc.). O
avanço e a descoberta de novas tecnologias nos ajudam a explicar as novas soluções e a
projetar hipóteses sobre soluções futuras para os problemas que vivenciamos hoje, num
exercício das capacidades intelectuais superiores dos alunos em processo de aprendi-
zado, como a dedução, a comparação, a formulação de problemas e de hipóteses para a
sua solução.
A habilidade de interpretar os objetos e fenômenos culturais amplia nossa capaci-
dade de compreender o mundo
mundo. Cada produto da criação humana, utilitário, artístico ou
simbólico, é portador de sentidos e significados,
significados cuja forma, conteúdo e expressão de-
vemos aprender a “ler”, ou seja, a “decodificar”. Cada época, circunstância, ou contexto
códigos
histórico são marcados por “códigos
códigos” de comportamento, de valores, de costumes, que
regem a vida social e suas formas de expressão. O que é válido e pertinente para uma
determinada época pode já não o ser nos dias de hoje. Compreender os códigos de uma
determinada sociedade nos facilita a compreensão de seu modo de ser e de agir. Para
desenvolver este aprendizado, o conhecimento especializado não é essencial. Qualquer
pessoa pode fazê-lo, desde que utilize suas capacidades de observação e de análise dire-
ta do objeto ou fenômeno estudado, e saiba recorrer a fontes complementares para ex-
plorar os dados percebidos.
A metodologia da Educação Patrimonial pode levar os professores a utilizarem
os objetos culturais na sala de aula, ou nos próprios locais onde são encontrados, na
casa do aluno, em visitas e passeios a lugares de interesse, como peças chave no de-
senvolvimento dos currículos, e não simplesmente como mera “ilustração” das aulas e
dos livros.

Aplicando a Metodologia da Educação Patrimonial


A análise de um objeto ou fenômeno cultural pode ser feita através de uma série de
perguntas e reflexões:

O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA 13


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PGM 2

Investigando um objeto cultural : aspectos principais a


observar:
Aspectos O que parece ser este objeto?
físicos/materiais
(função/uso)

Outras perguntas: Que cor tem?


Que cheiro tem?
Que barulho faz?
De que material é feito?
O material é natural ou manufaturado?
O objeto está completo?
Foi alterado, adaptado ou consertado?
Está usado?

Modo/processo Como foi feito?


de construção
Outras perguntas: Onde foi feito?
Foi feito à mão, ou à máquina?
Foi feito em uma peça única, ou em partes?
Com uso de molde, ou modelado à mão?
Como foi montado? (com parafusos, pregos, cola ou encaixes...).

Função/uso Para que foi feito?


Outras perguntas: Quem o fez?
Para que finalidade?
Como foi ou é usado?
O uso inicial foi mudado? Por quê?

Desenho/forma O objeto tem uma boa forma? é bem desenhado?


Outras perguntas: Ele é bem adequado para o uso pretendido?
De que maneira a forma indica a função?
O material usado é adequado à função?
É decorado, ornamentado?
Como é a decoração?
O que a forma e a decoração indicam?
Sua aparência é agradável? Por quê?

O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA 14


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Valor/significado Quanto vale este objeto?


Outras perguntas: Para as pessoas que o fabricaram?
Para as pessoas que o usam (ou usaram)?
Para as pessoas que o guardaram?
Para as pessoas que o venderam?
Para você?
Para um Banco?
Para um Museu?

Você pode dar às crianças uma folha como essa para ajudá-las no exer-
cício de analisar um objeto, sem limitar sua própria capacidade de propor
perguntas e respostas.
Ao lado das perguntas e aspectos acima, você pode criar duas colunas,
para anotação:

Aspectos
descobertos
pela observação Aspectos a pesquisar
...........................................................................
...........................................................................
............................. ...........................................................................
............................. ...........................................................................
............................. ...........................................................................
............................. ...........................................................................

É importante notar que, todo objeto ou evidência da cultura traz em si


significados Neste processo de etapas
uma multiplicidade de aspectos e significados.
sucessivas de percepção, análise e interpretação das expressões culturais
é necessário definir e delimitar os objetivos e metas da atividade, de acordo
com o que se quer alcançar, e com a natureza e complexidade do objeto estu-
dado. Por exemplo, em um museu, definir o tema abordado, de acordo com as
coleções existentes; em um monumento ou uma cidade, definir os aspectos a
serem investigados (arquitetônico, urbanístico, social, econômico, histórico,
etc.). Em um único monumento podemos analisar os aspectos construtivos e
materiais, a área de entorno, o interior, a decoração, o mobiliário, os habi-
tantes ou usuários, as transformações ocorridas no tempo. Cada um desses
aspectos oferece uma infinidade de enfoques a abordar, que podem ser ex-
plorados nas diferentes disciplinas do currículo.

O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA 15


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A investigação de um objeto cultural se baseia assim em diferentes atividades, num pro-


cesso que requer:
observação > pesquisa/estudo > discussão > conclusões
levando-nos assim ao conhecimento do objeto.

Descobrindo um objeto
O objeto mais comum de uso doméstico ou cotidiano pode oferecer uma vasta gama de
informações a respeito do seu contexto histórico-temporal, da sociedade que o criou, usou e
transformou, dos gostos, valores e preferências de um grupo social, do seu nível tecnológico
e artesanal, de seus hábitos, da complexa rede de relações sociais. A observação direta, a
manipulação e o questionamento do objeto,
objeto feitos com perguntas apropriadas, podem reve-
lar estas informações em um primeiro nível de conhecimento,
conhecimento que deverá ser expandido por
meio do estudo e da investigação de fontes complementares como livros, fotografias, docu-
mentos, arquivos cartoriais e eclesiásticos, arquivos de instituições, clubes, associações, ar-
quivos familiares, pesquisas, entrevistas, etc.

Considere a CADEIRA em que você está sentado. Usando a metodologia da Educação


Patrimonial, em sua primeira etapa, a observação, é possível perguntar: de que material é
feita? Por que foi feita desse material? Qual sua cor, forma e textura? É confortável? É dife-
rente de outras cadeiras? O que diz sua ornamentação? Ela tem cheiro? Em que época foi
feita? Ela já foi consertada? Como? Por quê? Ela está limpa? Ela se relaciona com outros
objetos na sala? De que maneira? Foi fabricada artesanalmente ou industrialmente? Você já
olhou embaixo da cadeira ou passou o dedo sob ela? Isto altera alguma das respostas acima?
Agora você pode pensar em outras perguntas que poderiam ser feitas com o objetivo de
ampliar a sua investigação sobre a cadeira, percebendo a quantidade de informações que um
simples objeto de uso cotidiano pode revelar.

A segunda etapa da metodologia leva-nos a registrar as observações e deduções fei-


tas. Você poderia, assim, tentar descrever em palavras esta cadeira, desenhá-la, fotografá-la
em diferentes ângulos, medi-la, pesá-la, observar e anotar as formas de encaixe ou constru-
ção, ou mesmo reproduzi-la em tamanho pequeno ou natural, em diferentes materiais. Seu
conhecimento sobre este objeto ficará, sem dúvida, mais consolidado e registrado em sua
memória.

Numa terceira etapa


etapa, a da exploração
exploração, você poderá querer descobrir mais informações
e significados relacionados com a cadeira em que você está sentado. Neste caso, levante-se
dela e procure descobrir por meio de perguntas a outras pessoas, consulta a livros, revistas
ou documentos, pesquisa em arquivos de fotografias e textos, visitas a instituições

O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA 16


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especializadas, todo o contexto histórico, social, econômico, tecnológico e político em que esta
cadeira está inserida. Você pode explorar ainda os outros tipos de “cadeiras” que você conhe-
ce, e os seus diferentes usos, inclusive os simbólicos (por exemplo, o Trono Imperial que está
no Museu de Petrópolis é um tipo de cadeira, que representa a dignidade do governante
máximo em sua época).
Finalmente, você descobriu a cadeira em que está sentado e se apropriou dela intelec-
tual e emocionalmente. Você é capaz de recriar esta cadeira de alguma forma? Poética, plás-
tica, musical, com movimentos ou dramatização? De escrever a história dessa cadeira? De
dialogar com ela? Neste momento, é a sua própria capacidade de expressão criativa que
estará se revelando.
Você pode aplicar este exercício com qualquer objeto existente na sala de aula, como um
modo de preparar seus alunos para a visita a um museu, monumento ou sítio histórico. Ou
propor que tragam algum objeto de casa, para ser explorado em sala, em grupos de dois ou
três alunos.

O OBJETO CULTURAL – UMA DESCOBERTA 17


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OS MONUMENTOS
E CENTROS
HISTÓRICOS EXPLORANDO O “MEIO
MEIO AMBIENTE HISTÓRICO
HISTÓRICO”

MARIA DE
3
MARIA FERREIRA
LOURDES
O conceito de “meio ambiente histórico”
PARREIRAS
HORTA Olhar um monumento, uma paisagem, um centro histórico,
ou uma área rural adquire uma dimensão bem mais ampla
e profunda quando utilizamos o conceito de “meio
meio
ambiente histórico
histórico” como eixo de nossa observação. É
comum, ao falarmos do meio ambiente em que vivemos,
considerar-se unicamente a questão do meio ambiente
natural, em seus aspectos físicos e biológicos. Mas é
inevitável, ao se questionar os efeitos da poluição, do
desmatamento, da extinção dos mananciais e da
contaminação do ar e das águas, chegarmos ao “agente”
responsável por estes problemas: o ser humano e sua
ação sobre o meio ambiente natural. Os aspectos
históricos da ação transformadora do homem sobre a
natureza, para dela tirar o seu sustento e criar as
condições necessárias à sua sobrevivência e à vida em
sociedade, não podem deixar de ser estudados e
analisados criticamente, para uma compreensão mais
abrangente e complexa dessa interação, e de suas
conseqüências para a vida em sociedade.

O que é o “meio ambiente histórico” ?


É o espaço criado e transformado pela atividade humana,
humana ao longo do
tempo e da história. Pode ser um pequeno núcleo habitacional, uma cidade,
uma área rural, cortada por caminhos, pontes e plantações. Até mesmo uma

o que é folclore e cultura popular 18


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paisagem natural, rios e florestas, zonas de alagados ou desertos já sofreram, em algum


momento no tempo, o impacto da ação humana. Algumas áreas foram ocupadas no passado,
em tempos pré-históricos, ou séculos atrás, e hoje não apresentam sinais visíveis de ocupa-
ção, que só poderá ser conhecida pelo trabalho dos arqueólogos.
O meio ambiente histórico está em toda a parte, em torno de nós, acima e abaixo dos
nossos pés; o que pode variar é a extensão e o modo em que ele pode ser identificado e
percebido, no meio ambiente em que vivemos hoje. Você já pensou alguma vez no que pode
ter existido ou ainda estar soterrado debaixo do chão e do solo em que você pisa agora?
Os monumentos e sítios que conhecemos hoje são fragmentos do cenário do passado,
elementos de uma paisagem que sofreu modificações ao longo do tempo, e funcionam como
“chaves
chaves” para a reconstituição das sucessivas camadas da ocupação humana e dos remanes-
chaves
centes que chegaram até nós. Não é por acaso que as fotos antigas dos lugares que nos são
hoje familiares podem nos causar tanta surpresa, e muitas descobertas...
O meio ambiente histórico é dinâmico
dinâmico, e continua a mudar no presente. O conceito de
mudança e continuidade é essencial para a compreensão do Patrimônio Cultural, em todos
os seus aspectos, como um dos conceitos básicos a serem trabalhados no processo da Edu-
cação Patrimonial.
Um exercício que pode ajudar a compreensão deste conceito é o de pesquisar e docu-
mentar as mudanças ocorridas no espaço da escola, ou da casa do aluno, ao longo dos últimos
anos, e observar as mudanças ocorridas na sua rua, ou no bairro. Os jornais e revistas são
excelentes fontes para esse estudo.

As dimensões do meio ambiente histórico


A atividade sobre o meio ambiente, resultante das necessidades humanas de vida em
grupo e de sobrevivência, dá origem a uma série de estruturas
estruturas, com diferentes finalidades
finalidades:
abrigo, defesa, cultos religiosos, agricultura, fabricação de utensílios e ferramentas, comér-
cio, governo, etc.
Normalmente encontramos estruturas apropriadas a todas essas funções no espaço de
uma mesma área, quer seja rural ou urbana. Ao longo dos séculos, as necessidades básicas
continuam as mesmas, e o desenvolvimento das tecnologias vai modificar as estruturas, com
a introdução de recursos mais sofisticados. Novas necessidades da vida social vão provocar o
aparecimento de novas estruturas: “shopping centers” no lugar de lojas, cinemas no lugar de
galpões, igrejas no lugar de cinemas, estádios de futebol no lugar de áreas desocupadas.
O meio ambiente histórico tem duas dimensões: a dimensão horizontal
horizontal, que revela o
aspecto de toda uma área em determinado período de tempo, no passado ou no presente, e a

OS MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS 19


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dimensão vertical,
vertical que mostra as sucessivas camadas e modificações de uma mesma área ao
longo do tempo. A sobrevivência de cada uma dessas camadas depende de uma série de
fatores, como o tipo de material usado nas estruturas construídas, ou o processo de mudança
nas atividades, na agricultura, na indústria e na população. Algumas estruturas recentes po-
dem esconder uma estrutura mais antiga, por trás das fachadas. A expansão urbana e as
atividades agrícolas provocaram, em um passado muito recente, e ainda provocam, a destrui-
ção de muitos sítios e monumentos históricos.
As alterações do meio ambiente natural vão refletir essas mudanças de uso e ocupação
das áreas, e vão estar também refletidas nas estruturas e nos equipamentos construídos pelo
homem para enfrentar as condições climáticas de uma determinada região.

Como encontramos o meio ambiente histórico


Podemos encontrá-lo todo dia, a qualquer momento, em torno de nós.
Para as crianças, com um tempo de vida mais recente e menor que o dos adultos, quase
tudo que as rodeia é produto de um passado distante, “do tempo da vovó”. A própria casa, a
família ou a escola, podem ser materiais úteis para iniciar a compreensão da mudança e da
continuidade.
As estruturas remanescentes do passado são encontradas em diferentes estados de
preservação:
intactas
intactas: escolas, casas, igrejas, prédios públicos, teatros, museus, parques, etc.
incompletas
incompletas: não mais usadas por terem sido danificadas pela atividade humana, ou
pela ação do tempo, como a chuva, o vento, o mofo, a ferrugem, transformando-se em
ruínas (normalmente correspondem à noção mais comum de monumento histórico ou
prédio antigo, atraindo o interesse turístico).
enterradas
enterradas: estruturas desaparecidas por abandono de uso e pela própria decadên-
cia dos materiais (madeira, barro, por exemplo) menos resistentes à ação do tempo. A
mudança nas atividades da área provocou o seu desaparecimento sob novas camadas
de solo (estes sítios são descobertos e estudados pelos arqueólogos, a partir de al-
guns vestígios encontrados no solo).

O que é um monumento histórico?


Um monumento é uma edificação ou sítio histórico de caráter exemplar,
exemplar por seu signi-
ficado na trajetória de vida de uma sociedade/comunidade e por suas características pecu-
liares de forma, estilo e função.
função Existem monumentos construídos especialmente para cele-

OS MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS 20


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brar ou relembrar algum episódio, momento ou personagem de nossa história, criados por
arquitetos, escultores, artistas, como por exemplo: o Monumento às Bandeiras, em São Paulo,
ou o Monumento aos Mortos na 2a. Guerra Mundial, no Rio de Janeiro, ou o Memorial JK, em
Brasília. Outros são remanescentes do passado, que sobreviveram ao tempo, e que são con-
sagrados pela sociedade como símbolos coletivos
coletivos, e como referências da memória de um
povo.
Em suas estruturas, formas e uso,
uso revelam um momento determinado do passado, e
são testemunhas dos modos de vida, das relações sociais, das tecnologias, das crenças e
valores dos grupos sociais que os construíram, modificaram e utilizaram.
Alguns monumentos continuam a servir à mesma função original,
original como as igrejas da
época colonial. Outros servem a novas funções
funções, como as Casas de Câmara e Cadeia, transfor-
madas em museus ou repartições públicas, como aconteceu em Ouro Preto, MG; alguns per-
manecem vazios, sem uso particular, constituindo freqüentemente um pólo de atração turísti-
ca, como, por exemplo, os fortes para a defesa da costa ou das fronteiras do país.
Alguns estão bem conservados em seu aspecto original, outros sofreram modificações
ao longo do tempo para servir a novos usos, outros ainda se encontram em ruínas, como as
Missões Jesuítico-Guarani, no Rio Grande do Sul. Uma parte do monumento pode estar enter-
rada sob camadas do solo, como resultado de modos sucessivos de ocupação do espaço: as
casas dos guaranis, as oficinas e o colégio dos padres, nas Missões de São Miguel, São Nicolau
ou São João Batista só são conhecidos como resultado de escavações arqueológicas.

O que é um monumento “Tombado”?


Alguns edifícios isolados, sítios ou conjuntos de edificações têm um significado especial
para a História do Brasil, como marcos na trajetória nacional.
nacional Outros têm uma importância
regional ou local. Os técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN
IPHAN),
IPHAN
do Patrimônio Estadual ou Municipal, puderam identificar estes edifícios e sítios por meio de
estudos e pesquisas, como base para o trabalho de conservação e restauração, e para sua
proteção oficial, de acordo com a Constituição Federal e o Decreto-lei n. 25, de novembro de
1937, a chamada Lei do Tombamento. Os monumentos assim identificados são chamados
tombados quando inscritos nos “Livros de Tombo” do patrimônio
monumentos ou edifícios tombados,
nacional, estadual ou municipal.
tombamento
A origem do termo “tombamento
tombamento” é muito antiga e se refere à Torre do Tombo, em Portu-
gal, onde se guardam até hoje os livros e os documentos da história daquele país, e muitos
referentes à História do Brasil. O tombamento é assim um registro oficial e legal de um edifício,
um conjunto de edificações, centros urbanos históricos, ou objetos e coleções de significado

OS MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS 21


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exemplar para a sociedade. Um monumento é antes de tudo uma referência a um momento na


trajetória histórico-cultural de um povo, um instrumento da memória coletiva. Assim, jamais
pode ser estudado isoladamente. Um monumento deve ser visto como um elemento do meio
ambiente histórico, e como tal deve ser analisado em seu contexto social e histórico, ao longo do
tempo. A partir de 2002, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional criou um novo
Livro de Registro, destinado a referenciar e proteger as manifestações culturais que são carac-
terizadas como o “patrimônio imaterial” brasileiro, ou seja, os saberes e modos de fazer peculia-
res às diferentes regiões do Brasil, as festas e folguedos, as cantigas e lendas, o artesanato, a
culinária, a música, a poesia e a literatura populares. O ofício das “paneleiras” do Vale do
Jequitinhonha, no Espírito Santo, foi a primeira manifestação registrada no Livro do Patrimônio
Imaterial Brasileiro. Qualquer pessoa pode indicar aos órgãos do IPHAN, em sua região, alguma
manifestação que seja considerada merecedora de registro neste “Livro”.

O monumento: explorando o meio ambiente histórico


Ao analisar um monumento ou sítio histórico é importante que os alunos sejam levados a
considerar as dimensões do meio ambiente histórico em que eles se inserem, e a avaliar a
influência da paisagem local sobre esses comportamentos naquela localidade, que contribui
para o seu caráter especial.
As disciplinas da História, Geografia, Matemática, Estatística e Ciências Sociais são áreas
que podem ser especialmente desenvolvidas nesta exploração. Da mesma forma a Literatura
e a Linguagem.
Analisar uma fortaleza na entrada de uma baía, ao longo da costa brasileira, ou em uma
região de fronteira, no Norte ou no Oeste do país, uma igreja barroca em Minas Gerais ou as
ruínas das Missões Jesuítico-Guarani, no Rio Grande do Sul, o mercado do “Ver-o-Peso”, em
Belém do Pará, ou a feira de Caruaru, em Pernambuco são exercícios que podem nos fazer
compreender a natureza dessa interação entre o homem e o seu meio ambiente físico e cultural.
Ao estudar um local, monumento ou sítio histórico, e a interação entre a atividade huma-
na e a paisagem, pode-se usar um conjunto estruturado de perguntas, como ponto de partida
para que os alunos proponham suas próprias questões:
fundamental: Como é este lugar hoje/ Como era este lugar no passado? –
A questão fundamental
é o ponto de partida para a coleta de dados, o trabalho de campo, as observações orientadas
e as diferentes atividades. A partir dessa pergunta, que já implica um exercício mental de
observação, comparação e dedução, é possível observar, entre outros aspectos:
Onde ele está situado?
Como ele se insere na paisagem natural?

OS MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS 22


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Quantas estruturas existiam ali?


De que eram feitas? Para que serviam?
Quantas pessoas viviam ali?
Perguntas como estas podem ser aplicadas a alunos de todas as idades, com a ajuda dos
professores para os mais jovens. Para tanto, é importante que o professor prepare a sua
visita e estude os elementos perceptíveis no local, bem como a história da evolução do mes-
mo, de modo a orientar a observação e as perguntas dos alunos.
Apesar de serem colocadas separadamente, as questões se relacionam entre si. Um
conjunto de perguntas depende de outras. Entretanto, colocá-las separadamente ajuda a com-
preender e a estruturar os diferentes passos de uma pesquisa. Na base dessas perguntas
está a intenção de compreender a evidência física que observamos, com o intuito de conhecer
mais sobre ela, sobre a vida no local e as mudanças que ocorreram, de modo a perceber sua
importância ou significado no presente.
As questões básicas de abordagem podem ser assim estruturadas:

Idade Localização Aspecto

Sítio

História Função

Estes elementos de análise podem ser aprofundados em diferentes pontos:

Sítio

Quando foi construído? Onde está? Quem construiu?

Qual a sua forma? Como é?

Como foi construído? Por que foi construído? Como foi usado?

O que aconteceu neste lugar?

As atividades resultantes desse questionamento implicam o exercício de diferentes


habilidades, tais como: a observação, o registro verbal, gráfico, matemático, a análise, a
habilidades
dedução, a comparação, a síntese e a apresentação dos resultados, em diferentes formas.
O uso e a compreensão de mapas, plantas, fotografias aéreas, fotos antigas e recentes,
documentos originais, arquivos, bibliografia são outras habilidades envolvidas na exploração
orientada de um sítio ou monumento histórico.

OS MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS 23


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O essencial nesse processo é fazer as questões adequadas,


adequadas levantar problemas, discu-
tir os resultados e verificar as conclusões mais apropriadas, isto é, as mais sensíveis e possí-
veis.
Respostas corretas são raramente possíveis em sítios históricos, pois não podemos
captar as idéias dos habitantes originais, a não ser por fontes secundárias (documentos, diá-
rios, cartas, etc.). É importante que os alunos percebam isto, e que suas respostas sejam
avaliadas pela maneira em que se apóiam na evidência disponível. Neste processo ativo de
descoberta da evidência cultural, é importante que os professores não forneçam de antemão
as informações disponíveis nos livros ou arquivos, mas que levem os alunos a propor as
questões pertinentes e a buscar as “chaves
chaves
chaves” para o descobrimento daquele local.
De volta à sala de aula é possível analisar os dados coletados no local, reformulando os
resultados a partir de pesquisas e discussões posteriores e apresentando as conclusões de
forma coletiva, com painéis, desenhos, mapas, gráficos, cronologias, exposições de objetos e
fotos, maquetes, etc.

Preparando a visita
A visita a um monumento/sítio histórico ou arqueológico requer algumas precauções:
Escolha um sítio/monumento, de preferência bem conservado, evitando os que apre-
sentem algum risco de desmoronamento.
Verifique se o sítio/monumento tem suficiente documentação histórica e registros
anteriores, para facilitar a comparação com seu aspecto atual.
A facilidade de acesso ao local é fundamental. No processo de estudo é possível que
se necessite voltar ao sítio para complementar e esclarecer alguns aspectos.
Nem todas as perguntas poderão ser respondidas no local, ou porque as evidências
não existem mais ou porque ainda não foram encontradas. É importante que os alunos
percebam as limitações das evidências. Isto pode levar à formulação de hipóteses
sobre os elementos disponíveis, mas os alunos devem perceber também os riscos e
problemas da interpretação de evidências incompletas, levando a conclusões inexatas
ou distorcidas.

OS MONUMENTOS E CENTROS HISTÓRICOS 24


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OS SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS
E O PATRIMÔNIO O QUE É UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO?

RURAL É um lugar onde se encontram vestígios da vida e da


cultura material dos povos do passado. Estes vestígios
MARIA DE
LOURDES podem estar sobre a superfície do solo – uma aldeia
PARREIRAS indígena abandonada, uma fortaleza do século XVIII, as
HORTA
ruínas de uma igreja, ou enterradas – um sambaqui, por
exemplo, locais à beira do mar onde se acumularam
conchas, ossos, restos de alimentos e utensílios
utilizados por grupos humanos que ali viveram.

Qualquer pessoa pode encontrar, por acaso, vestígios de um sítio ar-


queológico. Para compreender o que ele contém de informações sobre a
queológico
vida humana naquele lugar é preciso algumas pistas, e para isso é necessá-
ria a ajuda de um arqueólogo
arqueólogo. Se tentarmos escavar ou explorar um sítio
arqueológico sem o conhecimento dos métodos apropriados para essa tare-
fa, podemos destruir as informações que ele contém. Os sítios arqueológi-
cos são protegidos por lei – a Lei Federal n. 3.924/61; destruí-los é incorrer
em um crime contra o Patrimônio Nacional.

O que faz um arqueólogo?


Para um arqueólogo, um montinho de lascas de pedra pode trazer um
sem número de informações que para uma pessoa comum pode não ter o
menor significado. O trabalho da Educação Patrimonial é parecido com o dos
arqueólogos: aprender a ler as evidências do passado no presente, para
delas tirar conclusões e conhecimentos.
Para encontrar as informações que procura, o arqueólogo remove cuidado-
samente, às vezes com um pincel, as camadas de terra ou entulho que cobrem os
artefatos e vestígios da ocupação humana, encontrados em um sítio arqueológi-
co. Às vezes, ele encontra camadas superpostas de vestígios diferentes, que
correspondem a diferentes períodos de ocupação. Os períodos mais antigos en-

25
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contram-se nas camadas mais profundas. Esta superposição de camadas no solo, como se fosse
um bolo, e o seu estudo, é o que se chama, em Arqueologia, a estratigrafia do sítio. Ela permite
identificar as datas sucessivas de ocupação, umas em relação a outras, levando à descoberta de
como viviam essas populações, o que comiam, o que fabricavam, os instrumentos de que dispu-
nham, e a evolução das tecnologias ao longo do tempo. Por isto é tão importante preservar e
proteger os sítios arqueológicos da destruição – eles são fontes preciosas para o conhecimento de
nossa história, de nossa pré-história, de nossos antepassados e de nossa trajetória cultural.

O que é a Arqueologia?
É a ciência que nos permite conhecer o passado do homem, antes dos registros históri-
cos. A palavra vem do grego Archaios, que significa antigo, e o sufixo logia, que significa o
estudo de alguma coisa. Um arqueólogo é como um detetive: ele estuda os vestígios e pistas
que indicam como vivia o homem no passado. Para isso ele emprega métodos e instrumentos
específicos. Existem diferentes tipos de trabalho arqueológico. Os mais praticados no Brasil
são: a arqueologia pré-histórica,
pré-histórica que se refere ao longo período antes de 1500, quando os
europeus chegaram aqui; a arqueologia histórica,
histórica que estuda o passado do homem que aqui
viveu a partir dessa data, com a ajuda de documentos escritos e de relatos orais.

O que é a Pré-História?
A história brasileira só começou a ser escrita com a chegada dos portugueses, em 1500.
A História é o estudo do passado baseado em registros escritos ou em histórias contadas por
alguém, o que chamamos de história oral. No Brasil, os antigos habitantes, que eram os ín-
dios, não usavam a escrita, mas sua história foi passada de geração a geração por meio da
história oral.
oral Sabemos que há vestígios da presença humana no Brasil que datam de 30 mil
anos, aproximadamente. Mas, naqueles tempos, a escrita ainda não havia sido inventada. O
longo período de tempo que antecede a História, período em que não se tem registros escritos
ou orais, é chamado Pré-História
Pré-História. Mas se não há registros escritos, ou orais, dos tempos pré-
históricos, como podemos estudá-los?

As pistas do passado, no presente:


As principais evidências que os arqueólogos podem encontrar em um sítio arqueológi-
co, como pistas para desvendar o mistério da vida dos povos que nos antecederam, enterra-
das ou sobre a superfície do solo, são:
artefatos: qualquer objeto feito pelo homem, como instrumentos de trabalho, de caça
ou de pesca, de música ou ritual, brinquedos, vasilhas, peças de indumentária, etc.

OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E O PATRIMÔNIO RURAL 26


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estruturas: as construções de todos os tipos, para atender às suas necessidades e


modos de vida, tais como casas, abrigos, depósitos de alimentos e grãos, igrejas,
cemitérios, colégios, fortificações, etc.
ecofatos: ou as coisas da natureza usadas pelo homem de acordo com suas necessi-
dades, como por exemplo restos de alimentos, ossos e conchas, sementes, carvão,
fibras, pedras, etc.
O local onde essas pistas são encontradas é importante para que se possa compreender
ou deduzir como eram usadas – isto se chama o contexto dos artefatos, ecofatos, ou estrutu-
ras. Algumas coisas juntas, em um mesmo contexto, podem ser associadas pelo arqueólogo,
para descobrir, como um detetive, informações sobre o que aconteceu naquele lugar, naquele
momento da história.
Por isso não devemos mexer ou tirar as coisas do lugar, ao visitar um sítio arqueológico.
Para explorar um sítio histórico ou pré-histórico, em uma atividade de Educação Patrimonial,
recorra sempre à ajuda de um arqueólogo, por intermédio dos escritórios e coordenações
regionais do IPHAN em seu estado ou município, ou a uma universidade local.

Sugestões de atividades
A LOUÇA QUEBRADA
O objetivo desta atividade é iniciar o aluno na compreensão da evidência cultural e nos
diferentes modos de analisá-la, levando-o a perceber o processo de reconstituição do passa-
do, por meio dos fragmentos e vestígios observados no presente. A experiência pode ser
usada como preparação para o estudo de qualquer evidência, de objetos de museus a monu-
mentos em ruínas ou sítios históricos e arqueológicos.
Apresente aos alunos um objeto qualquer de cerâmica ou louça comum (xícara, prato,
bule, pote, caneca, etc.), previamente quebrado em pequenos pedaços, dentro de um
saco plástico transparente.
Peça aos alunos para identificar o que é este objeto. A resposta nem sempre será
óbvia. Faça perguntas que levem à observação do material empregado, vestígios de
decoração e a forma dos fragmentos.
Escolha um dos fragmentos que permita uma fácil identificação (a alça, por exemplo).
Faça perguntas que levem a uma interpretação deste fragmento de evidência. Nem
sempre você pode ter certeza absoluta de como era o objeto original. A borda de uma
caneca, ou de um pote, podem ser semelhantes.
Repita o exercício com os demais fragmentos. Os alunos podem desenhá-los para

OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E O PATRIMÔNIO RURAL 27


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tentar montar o quebra-cabeça, ou tentar reconstituir o objeto juntando os próprios


fragmentos (desde que não haja risco para os alunos).

O arqueólogo do futuro
Os alunos podem imaginar que são arqueólogos do ano 3000. A sala de aula ou o jardim
da escola podem ser sítios arqueológicos, que serão explorados pelos alunos para descobrir
as pistas sobre a vida no início do século XXI. Cada grupo de alunos deve recolher, em um
saco plástico, alguns artefatos ou coisas que foram para o lixo, na sala ou no pátio da escola.
Cada aluno, em cada grupo, descreve em uma ficha um objeto encontrado. Quando todos os
objetos estiverem descritos, o grupo pode discutir a função de cada um, discutindo as várias
hipóteses de uso, como se não soubessem como era a vida em nossa época.
Cada grupo apresentará aos demais suas hipóteses sobre o material encontrado; no
final da atividade, é possível fazer um painel, em classe, sobre as informações obtidas, a partir
da análise do material recolhido, discutindo ainda tudo o que não está representado por esse
material – o que está faltando, ou o que fica pouco claro, a partir dessas evidências. Este
exercício, que pode ser bem divertido e lúdico, estimulando a criatividade dos alunos, também
os fará perceber as limitações da Arqueologia, na descoberta dos mundos passados.

O PATRIMÔNIO RURAL: uma herança a descobrir


A idéia de que o Patrimônio cultural, os monumentos e sítios históricos só são encontra-
dos nas cidades, ou em sua periferia, é bastante comum, e, entretanto, equivocada. Nas áreas
rurais, nas pequenas vilas e cidades que ali se desenvolveram, como núcleos da ocupação
humana na região, há todo um Patrimônio Cultural, vivo e dinâmico em suas tradições, que na
maioria das vezes não é reconhecido como tal pela maioria da população e pelos que vêm de
fora. Pelo fato de não existirem museus ou grandes monumentos nessas localidades, ou por
não terem sido marcadas e celebradas por episódios da história nacional, é comum se pensar
que é preciso sair daquele lugar para buscar o conhecimento e a experiência do Patrimônio
Histórico, Artístico e Cultural de que tratamos aqui.
No primeiro programa desta série, destacamos a importância do Patrimônio Vivo das
cultural e dos elementos que constituem o “patrimônio
comunidades, da dinâmica do processo cultural, patrimônio
imaterial” de uma cultura. A Educação Patrimonial busca a capacitação dos indivíduos para a
imaterial
leitura e a compreensão desses processos culturais, mais do que dos produtos deles resul-
tantes, e que constituem a evidência cultural que procuramos estudar.
É na área rural, e nos pequenos núcleos do interior do país, onde estes processos, esta
dinâmica e suas manifestações podem ser encontrados e analisados com mais facilidade,

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porque na maioria dos casos estão em pleno uso, em frente de nossos olhos, e prontos para
serem conhecidos e experimentados. O isolamento dos grandes centros, ao mesmo tempo em
que contribui para um processo de estagnação e de êxodo dos mais jovens, é ao mesmo tempo
um fator de proteção das tradições
tradições, dos saberes e dos fazeres da cultura local.
A proposta da Educação Patrimonial, levando-nos à exploração e conhecimento dos obje-
tos e manifestações da cultura de um modo diferenciado, em busca de seus múltiplos signifi-
conteúdos, vem sendo um poderoso instrumento de trabalho para professores e
cados e conteúdos
agentes de cultura e educação no meio rural, como recurso para a recuperação da auto-
estima das comunidades, do resgate da memória coletiva,
coletiva e da percepção e reconhecimento
dos valores locais
locais.
Um exemplo bem sucedido da utilização da Educação Patrimonial em uma vasta região,
predominantemente rural, no sul do país, é a experiência do Programa Regional de Educação
Patrimonial da 4a. Colônia de Imigração Italiana no Rio Grande do Sul
Sul. Este projeto, desen-
volvido pela Secretaria de Cultura e Turismo do Município de Silveira Martins, RS, a partir de
1993, abrangeu toda a rede educacional dos municípios circunvizinhos, tais como D.Francisca,
Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande e São João do Polêsine. Durante três
anos, o projeto (PREP) desenvolveu e aplicou uma metodologia específica para o trabalho da
Educação Patrimonial a partir da cultura e da história locais, marcadas pelos elementos carac-
terísticos do fenômeno da imigração italiana e alemã no sul do país, a partir do século XIX. O
projeto envolveu alunos e professores do 1o grau, num processo interdisciplinar e interescolar,
incluindo também a comunidade e as famílias dos estudantes, cujos resultados se fazem sentir
até hoje, no desenvolvimento da região.
No desenvolvimento do PREP – Projeto Regional de Educação Patrimonial, escolheram-
se núcleos temáticos a serem trabalhados a partir desta metodologia:
A casa, espaços e mobiliário;
Documentos familiares;
Instrumentos de trabalho e técnicas de uso;
Cultivos e alimentação;
A flora e a fauna nativas.
Cada um desses temas foi objeto de estudo e exploração durante todo um semestre
letivo, em todas as áreas/disciplinas do currículo, por meio de atividades e experiências con-
cretas de observação
observação, coleta
coleta, pesquisa e exploração
exploração, partindo sempre do enfoque da reali-
dade quotidiana dos alunos. Os aspectos do trabalho, do plantio e da colheita e de outras
atividades comuns na região foram observados no campo, onde os pais dos alunos foram os
“monitores” da atividade, explicando os métodos e instrumentos de seu fazer
fazer. A valorização

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dos ofícios rurais e do conhecimento tradicional passado de geração a gera-


ção foi um resultado altamente positivo das atividades, levando os alunos a
reconhecerem e a terem orgulho de sua história pessoal e coletiva, de seus
pais e avós. Por intermédio do manuseio, do registro em diferentes meios,
dos jogos, das entrevistas com familiares e integrantes da comunidade, alu-
nos e professores tiveram a possibilidade de entender e reconstituir as tra-
mas sociais, tecnológicas, econômicas e culturais que compõem o tecido de
sua trajetória e identidade históricas. Ao mesmo tempo, as crianças fizeram
um verdadeiro inventário dos objetos significativos para sua história e iden-
tidade, através da pesquisa e da coleta de campo, elaborando fichas para
cada objeto encontrado ou emprestado pelos amigos e familiares.
Ao final de cada etapa temática,
temática organizou-se em cada escola uma ex-
posição dos objetos coletados e dos trabalhos realizados (desenhos,
maquetes, fotografias, mapas e relatos, dramatização, etc.). Ao final do perí-
odo letivo organizaram-se exposições coletivas, apresentando o trabalho de-
senvolvido em todas as escolas municipais participantes do Projeto Regional
de Educação Patrimonial.
Os resultados dessa experiência foram tão ricos que possibilitaram a
elaboração de uma tese de Mestrado em Educação, apresentada à Universi-
dade Federal de Santa Maria, RS, pela autora, e uma das coordenadoras do
programa, a professora Maria Angélica Villagran.
A leitura do poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado “A
CHAVE” pode servir de inspiração, e de metáfora, para o trabalho da Edu-
cação Patrimonial. A partir de um simples objeto comum, como uma chave
(e logo imaginamos uma chave antiga, talvez já enferrujada), o poeta nos
abre a porta da imaginação e da evocação de todo um universo do passado,
onde transitam paisagens, personagens, sons, animais, e toda a força da
criação humana, cristalizada no gesto do serralheiro... “o serralheiro não
sabia / o ato de criação como é potente/ e na coisa criada se prolonga,
ressoante...”
Ouvir a voz das coisas (“Ora, direis, ouvir estrelas...” diz um outro poeta
brasileiro), perceber o ato de criação que se prolonga nelas, e chega até nós,
escutar as histórias que nos contam... Esta é a “alfabetização cultural” que
alfabetização cultural
se propõe com o trabalho e a metodologia da Educação Patrimonial.
Ouçamos assim a voz da “chave”, que nos é transmitida pela palavra do
poeta:

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A CHAVE
Carlos Drummond de Andrade (O Corpo, 1984)
E de repente
o resumo de tudo é uma chave.

A chave de uma porta que não abre


para o interior desabitado
no solo que inexiste,
mas a chave existe.

Aperto-a duramente
para ela sentir que estou sentindo
sua força de chave.
O ferro emerge de fazenda submersa.
Que valem escrituras de transferência de domínio
se tenho nas mãos a chave-fazenda
com todos os seus bois e os seus cavalos
e suas éguas e aguadas e abantesmas?
Se tenho nas mãos barbudos proprietários oitocentistas
de que ninguém fala mais, e se falasse
era para dizer: os Antigos?
(Sorrio pensando: somos os Modernos
provisórios, a-históricos...)

Os Antigos passeiam nos meus dedos.


Eles são os meus dedos substitutos
Ou os verdadeiros?
Posso sentir o cheiro do suor dos guarda-mores,
o perfume- Paris das fazendeiras no domingo de missa.
Posso, não. Devo.
Sou devedor do meu passado,
cobrado pela chave.
Que sentido tem a água represada
no espaço onde as estacas do curral
concentram o aboio do crepúsculo?

Onde a casa vige?


Quem dissolve o existido, eternamente
existindo na chave?

O menor grão de café


derrama nesta chave o cafezal.

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A porta principal, esta é que abre


sem fechadura e gesto.
Abre para o imenso.
Vai-me empurrando e revelando
o que não sei de mim e está nos Outros.
O serralheiro não sabia
o ato de criação como é potente
e na coisa criada se prolonga,
ressoante.
Escuto a voz da chave, canavial,
uva espremida, berne de bezerro,
esperança de chuva, flor de milho,
o grilo, o sapo, a madrugada, a carta,
a mudez desatada na linguagem
que só a terra fala ao fino ouvido.
E aperto, aperto-a, e de apertá-la, ela se entranha em mim. Corre nas veias.
É dentro em nós que as coisas são,
ferro em brasa – o ferro de uma chave.

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A MULTIPLICAÇÃO
DO MÉTODO
OFICINAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
MARIA DE
LOURDES
PARREIRAS
HORTA
AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A metodologia da Educação Patrimonial pode ser um
instrumento valioso para o trabalho pedagógico dentro e
fora da escola. Para alcançar a multiplicação das idéias
e conceitos propostos neste campo da Educação
baseada no Patrimônio Cultural é importante que se faça
um treinamento com os agentes que irão desenvolver
este trabalho nas escolas, nas associações de bairros,
ou em qualquer espaço ou grupo social que se pretenda
sensibilizar.

Este treinamento pode ser feito através de Oficinas de Educação


Patrimonial, que levarão os participantes a experimentar diretamente a
Patrimonial
metodologia de trabalho proposta, podendo assim avaliar a sua eficiência e
potencialidade.
No primeiro momento do treinamento, os participantes são apresenta-
dos ao embasamento teórico, e aos conceitos básicos de cultura, bens cultu-
rais, patrimônio material e imaterial,
imaterial assim como aos princípios que funda-
mentam a metodologia da Educação Patrimonial. Em seguida, propõe-se um
exercício de observação, no qual se evidencia o potencial de significações
contido em qualquer objeto, como fonte de informações sobre o momento
histórico e a sociedade que o criou e utilizou.
Num segundo momento, os participantes, a partir do método do “aprender
aprender
fazendo”, são levados a desempenhar o papel de alunos, utilizando num trabalho
fazendo
de campo os bens culturais locais, previamente selecionados: edifícios e espaços
públicos, privados, ou religiosos, casas antigas e modernas, museus e coleções,
manifestações artísticas, cultos religiosos, saberes e festas populares, produ-
ções artesanais, etc., aplicando a metodologia específica de trabalho.

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Após vivenciar a experiência concreta da observação


observação, análise e registro
registro, os participan-
tes são então convidados a retornar à sua função de professores e a elaborar os planejamen-
tos pedagógicos interdisciplinares. É nesta etapa da Oficina em que eles integram os bens
culturais estudados como instrumentos de ensino/aprendizagem, utilizando os resultados das
diferentes etapas da metodologia aplicados aos conteúdos programáticos nas diferentes dis-
ciplinas.

No terceiro momento da Oficina, propõe-se novamente aos participantes voltar ao papel


de alunos. A partir do material observado, analisado e pesquisado sobre o objeto de estudo,
devem então elaborar uma atividade ou produto final (exposição, vídeo, história em quadri-
nhos, dramatização, relatos, etc.), utilizando a vivência e o conhecimento adquiridos. Nesta
etapa, pede-se aos participantes o exercício da criatividade. Esta atividade final envolve os
professores emocionalmente, permitindo-lhes a experiência marcante de todo o processo de
aprendizagem que mais tarde desenvolverão com seus alunos.

A partir da avaliação dos trabalhos apresentados, será possível perceber o grau de apro-
priação e envolvimento dos participantes em relação aos bens culturais analisados. Uma ava-
liação escrita solicitada aos professores permite ajustes e aperfeiçoamento nos mecanismos
de desenvolvimento das Oficinas de Educação Patrimonial.

O ENFOQUE INTERDISCIPLINAR: sugestões de abordagem


O trabalho com o Patrimônio cultural e histórico é mais facilmente compreendido no âmbito
das áreas/disciplinas que mais comumente abordam o tema, como a História ou os Estudos
Sociais. Trabalhar este patrimônio, por meio de outras áreas/disciplinas, nem sempre é imedia-
tamente percebido, pelos professores das demais disciplinas do currículo escolar.

Os currículos escolares são comumente sobrecarregados, com disciplinas que compe-


tem entre si por limitação do tempo em sala de aula e pelas normas oficiais estabelecidas. Os
patrimoniais, os monumentos
objetos patrimoniais monumentos, sítios e centros históricos
históricos, ou o patrimônio imaterial
e natural
natural, são um recurso educacional importante, pois permitem a ultrapassagem dos limites
de cada área/disciplina, e o aprendizado de habilidades e temas que serão importantes para
a vida dos alunos. Desta forma, podem ser usados como “detonadores
detonadores”,, ou motivadores,
detonadores
para qualquer área do currículo ou para reunir áreas aparentemente distantes no processo
de ensino/aprendizagem.

Alguns tópicos são ideais para a abordagem de temas do currículo básico, que atraves-
sam várias áreas/disciplinas: a educação ambiental
ambiental, a cidadania (pessoal, comunitária, naci-
onal, incluindo os aspectos políticos e legais), as questões econômicas e do desenvolvimento
tecnológico/industrial/social.

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Algumas sugestões podem dar uma pequena idéia das infinitas possibilidades de um
trabalho integrado e interdisciplinar, e do que pode ser feito no âmbito de cada disciplina:
Linguagem: as sugestões para a dramatização/ representação de papéis/ solução de
problemas podem servir como ponto de partida para o trabalho de criação verbal, falada ou
escrita. O material coletado pelo aluno, no papel de jornalista ou produtor de rádio/TV/video,
pode ser usado de diversas maneiras: para elaborar um artigo de jornal, uma novela ou
documentário de televisão, uma peça de teatro, uma história infantil, ilustrada ou em quadri-
nhos, uma exposição, etc. Ou pode ser usado simplesmente como base para discussão em
sala de aula. Todas essas criações demandam o uso imaginativo e competente da linguagem.
A poesia e a metáfora podem ser usadas como expressão dos sentimentos e percepções
provocados pela observação dos objetos ou monumentos. A pesquisa das linguagens e termos
de épocas passadas, comparados com os da atualidade, as diferentes expressões e formas de
linguagem, ritmo e pronúncia, características das diferentes regiões e de diversas origens
étnicas, pode contribuir para a compreensão dos processos culturais e históricos em nosso
país, com seus diferentes elementos e aportes.
Representar papéis e vivenciar experiências de outros contextos culturais no tempo e no
espaço requer a compreensão da linguagem e expressões de grupos diferenciados, contribu-
indo para o envolvimento dos alunos com os fenômenos e grupos característicos da pluralidade
cultural brasileira. A leitura de obras da literatura da época, ou da região, pode enriquecer o
processo de conhecimento e discussão do tema abordado.
Matemática: o desenho de edifícios, a confecção de mapas e plantas, o exame detalha-
do de um objeto podem servir para a prática de habilidades e conceitos matemáticos
matemáticos, tais
como: pesar e medir, calcular alturas, comprimentos, ângulos, áreas e volumes. A utilização
de instrumentos de medição (réguas, fitas métricas, fios de prumo, etc.) é mais uma habilida-
de desenvolvida por meio destas atividades. É possível utilizar-se medidas e métodos históri-
cos para os cálculos, por exemplo: pés, léguas, palmos, polegadas, etc.
Os edifícios podem ser excelentes para o estudo das formas e planos geométricos
geométricos. A
criação de padrões decorativos pode ser desenvolvida a partir de ladrilhos, azulejos, tijolos,
rendas de janelas, vitrais e telhas. As fachadas dos edifícios podem ilustrar uma variedade de
formas
formas, linhas e curvas
curvas, e problemas de ritmo e simetria
simetria. Os andaimes fornecem material
para a geometria
geometria, e os espaços interiores e o mobiliário podem oferecer idéias para exercí-
cios de reorganização e planejamento dos espaços, para atender a funções ou circunstânci-
as diferentes.
Os aspectos financeiros e estatísticos dos objetos, edifícios ou conjuntos históricos
também oferecem oportunidades para exercícios matemáticos: custos de fabricação, dos
materiais, da mão-de-obra, do tempo de construção, etc.

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Ciências: os edifícios e monumentos podem ser usados para o estudo dos fenômenos e
das leis da Física
Física, por exemplo, a força da gravidade
gravidade: galpões e salões antigos, com estrutura
aparente, podem ajudar a compreensão dos problemas de construção e de distribuição dos
pesos do telhado e paredes. Tijolos de brinquedo podem ser usados em sala de aula para
reconstruir problemas estruturais e testar a resistência de diferentes tipos de materiais. O
mesmo pode ser feito com maquetes de estruturas e arcos.

Durante o trabalho de campo, os alunos podem usar lentes para examinar os diferentes
materiais e suas texturas e qualidades. A deterioração dos materiais em objetos e edifícios
históricos é um bom pretexto para se produzir hipóteses e pesquisas sobre como e porque
alguns materiais se deterioram diferentemente de outros. As questões sobre o clima e a
umidade são importantes nesta questão. Pode-se fazer experiências com madeiras, metais,
ferro, plástico, papel, vidro, etc., submetendo-os a diferentes agentes de deterioração e a um
processo de observação: jogando na água, enterrando, deixando ao ar livre, sacudindo, sub-
metendo a impacto, manipulando o objeto ou material estudado. Pode-se assim discutir as
diferentes maneiras de preservação desses materiais.

Tecnologia: sistemas de drenagem de água e de canalização de esgotos podem ser


objeto de estudos tecnológicos e de discussão sobre mudanças do passado para o presente e
projeções para o futuro. Objetos como relógios, máquinas de costura ou de escrever, carrua-
gens e automóveis são poderosos motivadores e iniciadores de discussões sobre as tecnologias
e a revolução industrial. Moinhos, máquinas a vapor, locomotivas, serras e outras máquinas
podem ser a base de estudo para a questão da tecnologia e sua conseqüência na vida humana.
O estudo das tecnologias de informação, a começar pela sinalização de roteiros e circuitos, a
criação de mapas e guias de orientação das visitas, os painéis informativos em um sítio histó-
rico, são tópicos que desenvolvem habilidades e enfocam conteúdos, como os sistemas de
informatização de dados e serviços e a revolução provocada pelos computadores. As tecnologias
de comunicação, desde o telefone, o telégrafo, o rádio, a televisão, a internet, podem ser
analisadas em comparação com épocas em que não se dispunha desses recursos, ou em que
os sinos das igrejas anunciavam à população nascimentos, batizados, funerais ou ataque de
inimigos. Os sinos ainda têm um papel marcante na vida das pequenas cidades do interior, e
seus códigos são bem conhecidos da população.

Arte: as diferentes maneiras de representar um objeto, um edifício ou meio ambiente


histórico ou natural podem dar margem ao domínio de técnicas e habilidades de expressão
nos mais diversos meios: desde a fotografia, a ampliação ou distorção dos ângulos, o uso de
lente, ou filtro, o simples desenho a lápis ou com pigmentos, as técnicas de gravura e impres-
são, as colagens, as fragmentações dos detalhes e texturas, a modelagem, a moldagem e a
maquete, o fabrico de papel artesanal, são exemplos de criações plásticas. O vídeo é um

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instrumento cada vez mais ao alcance de muitas escolas, que permite diferentes recursos de
comunicação e expressão. O uso da palavra e do som permitindo a criação de cenas, músicas,
representações corporais, mímica e dança, bem como a utilização e criação de instrumentos
musicais, são outras formas de expressão criativa e de desenvolvimento das capacidades do
aluno.
Geografia: o estudo de um centro histórico, de um parque botânico ou do meio ambiente
natural pode ser o ponto de partida para a abordagem dos temas desta disciplina. A elabora-
ção de mapas e plantas de edificações, a comparação com mapas antigos, a análise dos
registros populacionais de uma determinada localidade são outros recursos a explorar, ten-
do como base a evidência histórico/cultural. A procedência dos materiais, as técnicas cons-
trutivas, a decoração podem dar informações interessantes para o conhecimento da Geogra-
fia Física e Humana. Ao identificar os recursos e características que dão o caráter especial de
uma localidade ou região, os alunos podem discutir as alternativas para sua preservação.
História: os objetos patrimoniais e os edifícios e centros históricos, os sítios arqueológi-
cos e paisagísticos podem refletir a maior parte da História do Brasil e do mundo. Os objetos
e monumentos do passado são a evidência concreta da continuidade e da mudança dos
processos culturais.
culturais A comparação da própria casa com as casas do passado pode dar aos
alunos a compreensão de como os estilos e modos de vida das sociedades mudam ao longo do
tempo. Em um automóvel moderno podemos encontrar ainda os traços das antigas carrua-
gens puxadas a cavalo. Os detalhes de diferenciação dos objetos do passado e do presente
podem ser traçados num gráfico, ou linha de tempo
tempo, que pode ser comparada a uma árvore
genealógica
genealógica, situando os personagens familiares em diferentes épocas.

O material de apoio: as “Folhas Didáticas”


Vários tipos de materiais podem ser elaborados como apoio ao conhecimento e explora-
ção dos bens culturais, entre eles a “folha
folha didática
didática”, que tem como objetivo orientar os alu-
descoberta. A “folha didática” é um roteiro de exploração
nos nesse processo de descoberta exploração, com cha-
radas e questões a serem resolvidas através da observação.
Este material é um instrumento instigador da percepção
percepção, da análise
análise, da comparação e
da dedução
dedução, que permite ao aluno uma melhor compreensão do que está sendo observado.
Na sua elaboração, deverá ser levado em conta:
a definição dos objetivos do que se pretende explorar;
a linguagem adequada ao nível da faixa etária que se pretende trabalhar;
as indagações objetivas de fácil compreensão;

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a diagramação clara e agradável, com espaço suficiente para o preenchimento.


As folhas poderão ser confeccionadas tanto para dar suporte a um trabalho em um mo-
numento, um sítio ou um centro histórico, como para acompanhar os alunos numa visita a um
museu ou auxiliar e orientar numa expedição a um Parque Nacional. Os professores, junta-
mente com os técnicos do Patrimônio ou da instituição visitada, poderão produzir as “folhas
folhas
didáticas” ou qualquer outro tipo de material (jogos, quebra-cabeças, palavras cruzadas,
didáticas
etc.), com recursos simples e de pouco custo e com desenhos ou fotografias que poderão ser
copiadas reprograficamente. Estes materiais podem servir de apoio às atividades durante a
visita e ao aprofundamento dos conhecimentos, após a mesma, em sala de aula.
Perguntas e atividades que podem ser utilizadas nas “folhas
folhas didáticas
didáticas” são, por exemplo:
Localize um objeto, ou detalhe de um conjunto, e complete o desenho na folha (neste
caso, o desenho do objeto, ou detalhe, é parcialmente representado na folha, para
complementação).
Para que serve este objeto? Quem o utilizou?
Relacionar o objeto ou elemento característico com um aspecto específico da cultura e
da vida local.
Comparar dois objetos encontrados no mesmo local, detectando diferenças e seme-
lhanças (neste caso, os dois objetos devem constar da folha, em desenho ou foto);
Perguntas e atividades a serem feitas em casa, ou na escola (perguntar informações
aos pais e avós, aos professores, pesquisar na biblioteca do bairro ou da escola).
Elaborar a árvore genealógica de sua família, colocando datas e fatos históricos con-
temporâneos a esses antepassados.

Avaliando experiências
Em qualquer atividade de Educação Patrimonial, a avaliação da experiência pode trazer
subsídios que possibilitem aos educadores enriquecer a aplicação da metodologia utilizada,
verificando o nível de envolvimento e compreensão dos alunos com o tema explorado.
Um método possível para se fazer esta avaliação é o uso de questionários, aplicados aos
professores e alunos, a partir da experiência vivenciada. Os questionários preenchidos após a
visita ou atividade permitem avaliar:
Aspectos relativos ao professor: familiaridade com o local visitado, intenção, motiva-
ção da visita, nível de preparação em sala de aula, conhecimento prévio do tema,
expectativa em relação à visita e aos resultados alcançados.

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Aspectos relativos ao aluno: motivação, dificuldades, adequação da atividade ao tempo


disponível, nível de apreensão do tema.
Aspectos relativos à escola e à integração pedagógica: exploração do tema por
várias disciplinas, envolvimento de diferentes professores, elaboração de trabalhos
interdisciplinares, resultado e produtos apresentados, envolvimento de alunos, pro-
fessores, coordenadores e pais, envolvimento com a comunidade, organização e re-
cursos disponibilizados para a atividade.

Bibliografia
Bens Móveis e Imóveis Inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) – Ministério da Cultura. 4a. edição revista e atualizada, Rio de
Janeiro, IPHAN, 1994.

Ciências & Letras, Revista da Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras, FAPA,
n.27, jan./jun./2000. Diversos artigos sobre o tema.

“Educação Patrimonial: Utilização dos Bens Culturais como Recursos Educacionais”. Evelina
Grunberg. In: Museologia Social. Porto Alegre, Secretaria Municipal de Cultura, 2000.

“Educação Patrimonial”. Maria de Lourdes Parreiras Horta.In: MUSAE Textos, Disk 1, Rio de
Janeiro, 1997 (edição em disquete).

Educação Patrimonial, a experiência da Quarta Colônia. José Itaqui e Maria Angélica Villagrán.
Santa Maria: Pallotti, 1998.

“Fundamentos da educação patrimonial”. Maria de Lourdes Parreiras Horta. In: Ciências & Le-
tras, Porto Alegre, FAPA, n.27, jan./jun.2000.

Guia Básico de Educação Patrimonial. Maria de Lourdes Parreiras Horta, Evelina Grunberg e
Adriane Queiroz Monteiro. Brasília, Museu Imperial/IPHAN/MinC, 1999.

Guia de Museus Brasileiros. Comissão de Patrimônio Cultural – Pró-Reitoria de Cultura e Exten-


são Universitária – Universidade de São Paulo. São Paulo, USP, 1997.

O Presente do Passado – O que é Arqueologia? Edna June Morley. Florianópolis, 1992.

Museu Educação: se faz caminho ao andar. Vera Maria Abreu de Alencar. Tese de mestrado
apresentada ao Departamento de Educação da PUC. Rio de Janeiro, 1986 (não publicada)

Lições das Coisas (ou canteiro de obras) através de uma metodologia baseada na Educação
Patrimonial. Magaly de Oliveira Cabral Santos. Tese de mestrado apresentada ao Depar-
tamento de Educação da PUC, Rio de Janeiro, 1997 (não publicada).

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Série “Education on Site”. Ed. Mike Corbishley, English Heritage, Reino Unido.
- “Learning from Objects – a Teacher´s Guide to Learning from Objects”. Gail Durbin e outros,
1990.
- “A Teacher´s Guide to Using Listed Buildings”. Crispin Keith, 1991.
- “A Teacher´s Guide to Maths and the Historic Environment”. Tim Copeland, 1991.
- “A Teacher´s Guide to Geography and the Historic Environment”. Tim Copeland, 1993.
- “A Teacher´s Guide to Using Castles”. Tim Copeland, 1994.

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Presidente da República
Luís Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Cristovam Buarque

Secretário de Educação a Distância


João Carlos Teatini

MEC
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
TV ESCOLA – SALTO PARA O FUTURO

Diretora do Departamento de Política de Educação a Distância


Carmen Moreira de Castro Neves

Cordenadora Geral de Planejamento e Desenvolvimento de Educação


a Distância
Tânia Maria Magalhães Castro

Diretor de Produção e Divulgação de Programas Educativos


Jean Claude Frajmund

Supervisora Pedagógica
Rosa Helena Mendonça

Coordenadoras de Utilização e Avaliação


Mônica Mufarrej e Leila Atta Abrahão

Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins

Diagramação e Editoração
Norma Massa

Consultoria Pedagógica da série


Maria de Lourdes Parreiras Horta
(Museu Imperial / IPHAN / Ministério da Cultura)

Email: salto@tvebrasil.com.br
Home page: www.tvebrasil.com.br/salto
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