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UNICAMP
I. Introdução
Ao que importa para esse estudo, a coordenação motora nos alimenta com
princípios supracitados. Esses elementos foram essenciais para o entendimento da
organização musculoesquelética, do desencadeamento do movimento e o percurso
realizado, assim como a relevância de alguns movimentos para a construção de base
anterior ao mover-se no espaço. Trarei adiante esse recorte junto aos aspectos
psicomotores na correlação entre os métodos, as observações realizadas com o bebê e as
reflexões sobre o aprendizado da técnica em dança.
O corpo humano é constituído por sistemas, cada um deles possui sua específica
função, qualidade expressiva e consciência. Toda e qualquer mudança que venha a
acontecer, seja à nível celular ou por repadronização de movimento, é medida e
registrada através dos nervos cerebrais. Quando o sistema nervoso registra as novas
sensações do movimento, ele disponibiliza uma nova forma de ação, um novo
significado de expressão através da experiência criada por aquela atividade (VELLOSO,
2006).
A percepção, o movimento e a organização das funções do corpo são
coordenados pela sofisticação do sistema nervoso e que este registra todas as
novas sensações e direciona as respostas baseadas na ‘memória’ e na
percepção das experiências passadas, o que leva a uma conexão particular
com o aparato sensório-motor e à possibilidade de podermos rever nosso
mapa sensório a cada vivencia corporal (VELLOSO, 2006, p. 4).
Considerado como o sistema de comunicação e transformação do corpo humano, o
sistema nervoso é um dos principais envolvidos no processo de padronizar e
repadronizar os movimentos. Largamente estudado pelo BMC®, esse sistema assim
como nosso esqueleto, músculos, fáscia, ligamentos, órgãos, glândulas endócrinas,
gordura, fluidos, pele e respiração são integrados psicofisicamente aos nossos sentidos e
percepção. Partindo de uma jornada experiencial através do corpo humano, o Body-
Mind Centering® atua no desenvolvimento de uma consciência que permite acessarmos
esses sistemas corpóreos. Essa abordagem de educação do movimento desenvolvida
pela norte-americana Bonnie Bainbridge Cohen acredita que “nosso corpo se move
como nossa mente se move” (COHEN, 2006, pg. 11) e que as qualidades de qualquer
movimento são as manifestações de como a mente é expressa através do corpo que está
em movimento. Respeitando a importância de cada sistema, sem hierarquizá-los, Cohen
defende que “cada sistema corporal expressa uma qualidade diferente de movimento e
estimula uma mudança identificável na sensação, na percepção, e no estado de
consciência” (HARTLEY, 2000, p. 33 apud VELLOSO, 2006, p.1).
Em entrevista, Adriana Almeida Pees² relata o método segundo sua trajetória na
dança que conta com diferentes códigos corporais, muitas companhias profissionais de
renome e a experiência em alguns métodos de educação somática, entretanto, para ela
nenhum ressoou tão profundamente em seu corpo quanto o Body-Mind Centering®. Ela
me conta que através do BMC® ela pôde experienciar a anatomia e a fisiologia dos
diferentes sistemas corporais. No método você entra em contato com a sua própria
maneira e reorganiza os movimentos percebendo a distinção que cada um desses
sistemas possui em seu estado mental e na sua qualidade de mover. No processo de
repadronização você passa a dar mais atenção ao apoio que a anatomia e a fisiologia
oferecem para o mover, não é só a forma e a técnica, para além disso, é observar de
maneira um pouco mais cuidadosa o que o corpo precisa. Não se trata só de
repadronizar movimentos, a mudança é global, do meu ser e das formas de ser, estar e
atuar no mundo. Não só produzindo e organizando movimento, acima disso refinando
sua escuta sobre como o corpo quer se expressar. A repadronização é um processo
contínuo de aprofundar as descobertas da maneira de ser e se mover segundo os
diversos sistemas.
Dentro desse processo, vem à tona diversos padrões que você fica repetindo
sempre e outros que não fazem parte do seu vocabulário ou que você nunca se moveu
daquela forma. Repadronizar é essa potencialidade de se modificar e abrir portas para
novas escolhas de movimento, movimentos mais eficientes, mais integrados com a
história do seu corpo, com a sua escuta interna, com a expressividade para que o próprio
____
² Adriana Almeida Pees é Body-Mind Centering® Practitioner e Infant Developmental Movement
Educator da School for Body-Mind Centering em Amherst, Massachusetts e Berkeley, California, é
ISMETA-Registered Movement Therapist e Movement Educator na International Somatic Movement
Education & Therapy Association, e terapeuta Crânio-Sacral. Atualmente é professora assistente na
School for Body-mind Centering (Europa) e está participando da formação como certified teacher for
Body-Mind Centering®. Adriana cedeu no dia 23 de junho de 2013 uma entrevista (com duração de 60
minutos) para essa iniciação científica, nossa conversa aconteceu via skype, pois Adriana atualmente
reside na Alemanha. Para este relatório resumimos a entrevista transcrevendo os pontos mais relevantes
para o presente estudo.
corpo possa se reorganizar melhor no espaço. A repadronização acontece em diversas
situações e em vários sistemas corporais. E isto é de acordo com cada indivíduo, o que é
reorganizar de acordo com sua história, o seu momento, o meio ambiente, tudo isso.
Então, repadronizar não é algo que se estabelece e já modificou é um processo contínuo
de estar se escutando, modificando. É um processo dolorido, nem sempre é só gostoso,
são partes emocionais e físicas que vem à tona, mas é muito peculiar e poderosa essa
possibilidade de estar no mundo aberto às novas maneiras de atuar.
Sobre a Educação do Desenvolvimento do Movimento Infantil, Adriana conta
que foi um grande marco para ela o curso, não só pela intensidade do processo, mas
também pela análise profunda de como se dão essas etapas evolutivas do
desenvolvimento motor e o quanto isso influencia todo nosso espectro de qualidades de
movimento. O trabalho com os bebês propicia uma compreensão integral do processo
de padronização do movimento, isso possibilita entender mais profundamente o outro e
gera uma instrumentalização para trabalhar com o corpo do outro, ajudar seja o
bailarino, o ator, ou o indivíduo interessado nessa experiencia. É um processo onde eu
entendo mais o meu corpo, o corpo do outro e o como mover (Adriana Almeida Pees,
em entrevista, 23/06/2013).
Uma das grandes contribuições de Cohen para o estudo do corpo são os Padrões
Neurológicos Básicos, seus componentes são: os reflexos, as reações e as respostas de
equilíbrio, considerados como o “alfabeto” do movimento humano (COHEN, 1993).
Em busca de um indivíduo mais expressivo, ela debruçou sua pesquisa sobre o
desenvolvimento do movimento, paralelizando o desenvolvimento infantil humano à
progressão evolucionária das espécies animais, daí partem os Padrões Neurológicos
Básicos provenientes do movimento dos pré-vertebrados e dos vertebrados. São
dezesseis padrões neurológicos que se desenvolvem à medida que o ser humano
progride do movimento fetal à capacidade de se arrastar, engatinhar e, posteriormente,
andar. Esse desenvolvimento individual da criança (ontogênese) é paralelizado ao
desenvolvimento grupal do reino animal (filogênese) e cada padrão está relacionado
com um estágio (COHEN, 1993, p.5).
Dos pré-vertebrados quatro padrões:
Bonnie explica que o primeiro ano de vida da criança é o mais importante, pois
nessa fase é estabelecida a relação entre o processo perceptivo (como vemos o mundo) e
o processo motor (como nos movemos e agimos no mundo), dessa forma, o processo de
progressão do movimento e da percepção irá depender de como se deu o
desenvolvimento desses padrões nessa fase (COHEN, 1993). Por considerar que o
desenvolvimento não é uma sequencia linear “e sim uma sobreposição de ondas que
sucedem uma a outra se integrando no próximo padrão e complexificando os estágios
posteriores” (Velloso, 2006, p.3) Cohen esclarece:
no que tange
(centramento)
Conclusão
Com o estudo da Coordenação Motora pude, além de abrir novas portas de conhecimento,
aprofundar meu aprendizado na estrutura física do nosso aparelho locomotor e sua íntima
relação com o tempo, o espaço e o equilíbrio de forças externas e internas, isso foi essencial
para o bom entendimento da Ideokinesis, que foi o segundo método somático investigado nessa
pesquisa.
Essa complexa e constante dinâmica de reorganização do eixo corporal, tão importante ao ser
humano em geral, mas especialmente ao “[...] artista que conta com o próprio corpo para
desenvolver seu trabalho de interpretação e criação” (PEES, 2010, p. XI),
Procuraremos entender seus caminhos para respaldar a criança nesse percurso de aprendizagem
do movimento, assim como assistir adolescentes e adultos na repadronização de posturas e
ações inapropriadas, as quais divergem da eficiente motricidade natural do corpo humano.
Assim, esse estudo ao se propor a compreender o início da construção do movimento, oferece
possibilidades de atuação tanto na criança, realçando a qualidade do processo, quanto no
adolescente e adulto re-construindo suas concepções de corpo e movimento.
² Frase vastamente utilizada pela docente Dra. Julia Ziviani Vitiello, especialista em Ideokinesis, durante
suas aulas de técnica em dança no Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes da Unicamp.
1. Referências Bibliográficas
BERTAZZO, Ivaldo. Cidadão Corpo - Identidade e autonomia do movimento. 3ª ed. São Paulo:
Summus, 1998.
COHEN, Bonnie Bainbridge. Sensing, Feeling, and Action. The experiential anatomy of Body-
Mind Centering. Northampton: Contact Editions, 1993.
KNASTER, Mirka. Descubra a Sabedoria do seu Corpo. 9 Ed. São Paulo, SP: Editora Cultrix,
2003. Disponível em http://books.google.com.br/books?
id=9JOd7OqzPWkC&pg=PA275&lpg=PA275&dq=padr
%C3%A3o+de+desenvolvimento+body-mind+centering&source=bl&ots=RuFIPnO-
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MATT, Pamela. A Kinesthetic Legacy. The life and works of Barbara Clark. Arizona: CMT
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SWEIGARD, Lulu E. Human Movement Potential – Its Ideokinesis Facilitation. New York:
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TODD, Mabel E. The Thinking Body - A study of the balancing forces of dinamic man.
Princeton: Princeton Book Company Publishers, 1937