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ÁLGEBRA

VETORJALe
GEOMETRIA
LUIZ ADAUTO MEDEIROS«
NIRZI GONÇALVES
DE ANDRADE
AUGUSTO MAURÍCIO
WANDERLEY
Professores do Instituto de
Matemática da U F R J .

ALGEBRA
VE T O R I A L e
GEOMETRIA

EDITORA CAMPUS LTDA.


R i o - d e Janeiro 1 9 8 1
SUMÁRIO
PREFÁCIO, 9

(J^TULCCp

VETORES
1.1 Introdução, 11
Exercícios, 17
1.2 Conceitos Básicos, 18
Exercícios, 25
• 1.3 Dependência Linear, 25
Exercícios, 29
1.4 Base. e Dimensão, 30
Exercidos, 35
1.5 Produto Escalar, 36
Exercícios, 46

CAPÍTULO^)

APLICAÇÕES GEOMÉTRICAS
• 2.1 Produto Vetorial, 47
Exercícios, 53
« 2.2 Planos e Retas, 53
• 2.3 Retas no R 2 , 54
Exercícios, 58
. 2.4 Retas e Planos no R 3 , 5 8
» 2.4.1 Retas no R 3 , 58
4
2.4.2 Planos no R 3 , 6 2
' 2.4.3 Distância de um ponto a uma reta, 66
- 2.4.4 Distância de um ponto a um plano, 66
2.4.5 Área de um triângulo, 68
» 2.4.6 Distância entre duas retas reversas, 69
Exercícios, 70
CAPÍTULO©
CÓNICAS
3.1 Introdução, 73
3.2 Circunferência, 75
Exercícios, 80
3.3 Parábola, 81
3.4 Elipse, 87
3.5 Hipérbole, 91
Exercícios, 95
3.6 Forma Canónica das Cónicas, 98

CAPÍTULO®

EQUAÇÃO GERAL DAS CÓNICAS


4.1 Discussão da Equação Geral das Cónicas, 99
Exercícios, 116
4.2 Representação Paramétrica das Cónicas, 117
4.3 Assíntotas e Equações Paramétricas da Hipérbole Equilátera Referida às
Assíntotas, 122
Exercícios, 131

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
A) Retas no R 2 , 1 3 3
B) Retas e Planos no R 3 , 1 3 5
C) Cónicas, 136
D) Lugares Geométricos, 138
E) Complemento : Conjuntos Convexos, 140
Exercício, 141
F) Complemento: Ortonormalização de Vetores, 146
Exercícios, 151

NOTAS HISTÓRICAS, 153

ÍNDICE ANALÍTICO, 157


PREFÁCIO
Este livro foi organizado a partir de aulas lecionadas pelos autores, sobre o as-
sunto, nos últimos anos, na UFRJ.JtJ objetivo principal é retornar aos métodos de
Fermât e Descartes para o estudo da Geometria Euclidiana. Durante algum tempo,
os assuntos aqui tratados foram distribuídos nos vários programas de Cálculo Dife-
rencial Integral, bem como nos de Álgebra Linear. Constatou-se que para certos ti-
pos de cursos, como para a licenciatura ou para o bacharelado em matemática, ne-
cessário seria uma disciplina separada tratando com mais cuidado aqueles assuntos,
sem todavia cometer exageros tão freqüentes e prejudiciais no passado. Nossa idéia,
ao prepararmos o presente texto, foi auxiliar o entendimento dos conceitos de Ál-
gebra Linear e do Cálculo Diferencial e Integral evitando toda e qualquer argumen-
tação supérflua. Assim, tomamos como ponto de origem os números reais por onde
inicia a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral e que em Álgebra Linear apare-
cem como um exemplo significativo de espaço vetorial. Apresentada de maneira
intuitiva a idéia de número real, ou melhor, do corpo dos números reais, constrói-
se a coleção de pares de reais, de ternos e, finalmente, de n-uplas de reais. Na co-
leção de n-uplas são introduzidas certas relações binárias como a igualdade, a adi-
ção e multiplicação de uma n-upla por um número real. Daí, define-se de modo na-
tural a noção de vetor que é a antiga noção de segmento orientado. São estudados
os conceitos de dependência linear, base e dimensão para subconjuntos do R". As-
sim, de posse da noção de vetor mais as regras de composição denominadas produ-
to escalar e produto vetorial, faz-se o estudo das retas e planos e seus problemas. Há
uma coleção razoável de exercícios.
Parte do texto é dedicada ao estudo das propriedades básicas das cónicas.
Foi feita uma seleção de exercícios e colocada no final do livro, intitulada:
Exercícios Complementares, bem como dois complementos, sendo um sobre con-
juntos convexos e outro sobre o processo de ortonormalização de vetores. O resulta-
do mencionado sobre conjuntos convexos, deduzido de modo bem intuitivo, possui
aplicações em otimização e generalizações de relevante importância.
Deste modo, acredita-se ter atingido o objetivo fixado, que foi examinar no ca-
so concreto dos vetores do R" as noções de dependência linear, base ortonormal e
dimensão, servindo de introdução à Álgebra linear; fazer aplicações do produto esca-
lar e vetorial na resolução de problemas de Geometria; estudar as propriedades ele-
mentares das cónicas para auxílio às disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral.

9-
Ao Luiz Henrique Medeiros nosso muito obrigado pelo trabalho artístico dos
desenhos contidos no texto e ao Wilson Góes, pelo trabalho datilográííco que só ele
sabe fazer.
Aos colegas do(lM-UFRJy agradecemos o estímulo e permanente ajuda quando
pensava-se no presente livro.

Os Autores

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Capítulo 1

VETORES
1.1 Introdução
Nosso objetivo, nesta seção, é um estudo elementar sobre vetores. Veremos
os conceitos de vetor, base, dimensão e introduziremos a noção de produto escalar
com o qual faremos algumas aplicações. O produto vetorial será estudado posterior-
mente.
À guisa de motivação a este estudo elementar de vetores e, também, para fixar
a notação a ser usada, faremos um breve comentário sobre a evolução do conceito
de número.
Iniciaremos representando por N a coleção dos números inteiros naturais, isto é,
N = 10,1,2,...,/!,...}.
Em N está definida uma operação de adição de modo que, dados dois números
de N», m e n, fica determinado, univocamente, um terceiro número de N denomina-
do "a soma de m com n" e que será. representado por m + n. Esta operação em N
possui as boas propriedades de uma adição, ou seja, é.comutativa e associativa:
a) comutativa: m + n = n + m
b) associativa: m + ( « + r) = (m •+«) + r
para todo m,n e r de N. Além destas duas propriedades, existe em N o elemento O,
chamado elemento neutro da adição em N, tal que:
c)0 +n=n+0=n
para todo n em N.
Dados os números inteiros naturais men encontrar um número r tal que m seja
igual a n + r é a operação inversa da adição, denominada subtração, e representada
por m — n. Assim, o número r será obtido por
r — m — 'n.
Definida assim, dados men nem sempre existe r em N tal que m = n+ r. Por
exemplo, se m = 3, n = 5 não existe r em N tal que 3 = 5 + r. Observamos, então,
que a subtração só é definida em N, para m e n dados, somente se m for maior ou
igual a n.
Com o objetivo de eliminar esta deficiência em N, introduz-se a coleção dos nú-
meros inteiros, representada por Z, ou seja,

11
Z = j . . . , - « , . . .-2,-1,0,'+ l,+2„..+«,...(.
A operação de adição, anteriormente definida em N, é estendida à coleção Z e
observamos que a subtração está sempre definida em Z. Assim, se tomarmos, agora,
m = 3 e « = 5 em Z, existe r em Z tal que 3 = 5 + r sendo r - — 2.
Como sabemos, em Z está definida uma outra operação chamada multiplicação.
Esta operação consiste em, dados os números inteiros m e n , encontrar um outro
número inteiro denominado "produto" de m por n, representado por mn. A multi-
plicação em Z satisfaz as boas propriedades de uma multiplicação, ou seja, é comu-
tativa, associativa e possui elemento neutro:

a) comutativa :mn = nm
b) associativa: m{ns) = (mn)s
c) existe em Z o elemento l tal que lm = ml = m qualquer que seja me m Z
Temos, então, em Z, as duas operações: adição e multiplicação. Elas se relacio-
nam pela seguinte propriedade:
d) distributiva: m(n + s) = mn + ms.

Analisando a multiplicação em Z observa-se que ela apresenta uma dificuldade


quando necessitamos fazer a operação inversa. A operação inversa da multiplicação
consiste em, dados os inteiros men, encontrar um terceiro elemento s em Z tal que
m = ns. Evidentemente, nem sempre isto é possível. Por exemplo, se tomarmos
m = 5, n = 7 não encontramos em Z um s tal que 5 = Is. Para certos m e n em Z
existe s nestas condições. Assim, se m = 10 e n = 5 temos 10 = 5 s com s = 2. Toda
vez que, dados m, n em Z, existir s em Z, com a propriedade de que m = ns, dire-
mos que n divide m e a operação de encontrar s chama-se "divisão", sendo a inversa
da multiplicação. Do mesmo modo que ampliamos a coleção N, obtendo Z, surge a
necessidade de ampliar Z obtendo um outro conjunto que contenha Z e no qual a
dificuldade em relação à multiplicação deixe de existir. Este é o conjunto Q dos nú-
meros racionais. Este conjunto é constituído pelos números m/n chamados frações,
com m e n em Z sendo n sempre diferente de zero. Em Q estão definidas operações
de adição e multiplicação com as boas propriedades mencionadas anteriormente
e com a vantagem de a operação inversa da multiplicação, a divisão, ser sempre pos-
sível em Q. É importante observar, mais uma vez, que N está contido em Z, isto é,
N é uma parte de Z, e Z está contido em Q. Os elementos de N se identificam com
os elementos positivos de Ze os de Zcom os elementos m In de Q quando n = 1.
Do ponto de vista das operações elementares, adição e multiplicação, o conjun-
to Q satisfaz plenamente.
Considere, agora, um número racional q e um número natural m. Representa-
remos por qm o produto de q por q repetido m Vezes. Assim, se qm pertence a Q, a
operação inversa desta operação nem sempre está definida em Q, isto é, dados s em
Q e m em N nem sempre é possível encontrar q em Q tal que qm — s. De fato, su-
ponha m = 2, s = 2. O problema é, então, achar q em Q tal que q2 = 2, isto é, trata-
se de calcular a raiz quadrada de 2. Demonstra-se que \ / 2 não pertence a Q, ou seja,

12
não existe nenhum q em Q tal que q1 = 2. A procura de \ f l é originária de um pro-
blema prático de medida.
De fato, suponha que se deseje determinar o comprimento da diagonal de um
quadrado cujo lado seja igual a uma unidade de medida. Usando o Teorema de Pi-
tágoras, para encontrar a medida da diagonal precisaríamos conhecer o número x
cujo quadrado é igual a 2. Um outro problema bastante conhecido consiste em
achar o comprimento de uma circunferência de raio R. Sendo C o comprimento,
encontra-se que Cj2R é um número que não está em Q e que representamos pela le-
tra grega n. Conhecemos apenas os valores aproximados de TI, sendo números
racionais estes valores aproximados. Há uma infinidade de problemas conduzindo a
elementos não pertencentes a Q. Por esta razão, constrói-se, matematicamente, a
partir de Q, uma coleção na qual estas medidas possuem uma representação. Este
conjunto, com as operações de adição e multiplicação, é denominado "conjunto dos
números reais" que representaremos por R. Tem-se a seguinte cadeia de inclusões:
NCZCQCK.

Faremos, a seguir, a interpretação geométrica de R. Para isto, consideremos


uma reta x'x na qual escolhe-se, arbitrariamente, um ponto O, chamado origem, ao
qual faz-se corresponder o número real zero." Veja Fig. 1.

-2 1 0 +1 +2 + 3 jr

y o I 7
Fig. 1

Em seguida, escolhamos um ponto I, convencionando que o segmento OI terá


uma unidade de medida. Ao ponto / façamos corresponder o número real +1. Fica,
assim, estabelecido um sentido sobre a reta x'x de modo que os números reais posi-
tivos são representados pelos pontos da reta *-'x que estão à direita do ponto O en-
quanto que os números reais negativos são representados pelos pontos situados à
esquerda do ponto O. Deste modo, todos os números reais ficam representados sobre
a reta x'x, na qual foram escolhidos um ponto O representante do número real 0 e o
ponto I representante do número real + 1 . Reciprocamente, dado um ponto A sobre
a reta x'x, a medida do segmento OA, relativamente à unidade OI, será um número
real positivo ou negativo segundo A esteja, respectivamente, à direita ou à esquerda
do ponto O. Fica estabelecida, assim, uma correspondência biunívoca entre os pon-
tos da reta x'x e os números reais e esta correspondência chama-se sistema de coor-
denadas na reta. Dado o ponto A, na reta x'x, o número real correspondente ao
ponto A denomina-se a abscissa de^4. Observamos que a correspondência, que a ca-
da número real associa um ponto da reta x'x, é unívoca entendendo-se por unívoca
aquela que, a cada número real x, faz corresponder um único ponto X da reta x'x
tal que x é a medida de OX com a unidade Ol. Da mesma forma, a correspondência
que a cada ponto X associa um único número real x é unívoca. As correspondên-
cias unívocas serão denominadas, neste texto, simplesmente de funções. Deste mo-

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do, dada uma coleção X e outra Y, uma função de X em Y será uma correspondên-
cia unívoca de X em Y. Dizemos que a função está definida em X e toma valores
em Ye escolhemos uma letra para representá-la, por exemplo,/. Escreve-se
f\X-+Y
para significar que a função / está definida em X e toma valores em Y. O valor d e /
no elemento x de X será representado por f ( x ) que é um elemento de Y.
Não nos deteremos aqui para um estudo sobre funções. No entanto, com o ob-
jetivo de tornar clara a presente exposição, daremos alguns exemplos significativos
para motivar nossa etapa seguinte que é o estudo de pares e ternos de números reais.

Exemplo 1:
Considere a função / : R -»• R definida do seguinte modo: f ( x ) = x, se x for um
número real positivo ou nulo, e f{x) = — x, se x for um número real negativo. Esta
função é denominada valor absoluto e é representada por | |. Assim, o valor de | |
em x é |jc|, valor absoluto do número real x.

Exemplo 2:
Considere a função / : R -»• R definida por / ( x ) = +Vx. Esta função não está
definida para todos os números reais jc, mas, apenas, para aqueles para os quais faz
sentido calcular a raiz quadrada, isto é, os números reais positivos ou nulos.

Exemplo 3:
No movimento retilíneo uniforme, o espaço e percorrido por um móvel anima-
do de velocidade v constante, no fim de um tempo t, é dado por
e = vt.
Assim, conhecida a velocidade v para calcular e basta conhecer o tempo t.
Portanto, e será uma função do tempo t. Logo, representando t pelos reais po-
sitivos ou nulos, e será uma função definida nos reais positivos ou nulos e tomará
valores reais.
Neste último exemplo é útil, às vezes, como em Física, considerar os pares de
números formados pelo tempo t e pelo espaço e, percorrido por um móvel até o ins-
tante t, isto é, os pares (f, e) sendo e = vt. Aqui, os pares são formados de números
reais positivos sendo v positivo. No caso do Exemplo 1 se considerarmos os pares
(jc, |jc|), então x pode ser um número real qualquer. Examine, como exercício, o
Exemplo 2.
Evidentemente, os exemplos em que é necessário considerar coleções de dois
números reais, chamados pares, e de três números reais, denominados ternos, são
vários. Para exemplificar, suponhamos que se tenha uma população e desejamos
caracterizar grupos de indivíduos levando em conta a idade, peso e altura. Assim, a
cada indivíduo da população fica associado um terno de números formado pela ida-
de, peso e altura. Serão ternos (x,y,z) de números reais.

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A seguir, deter-nos-emos, um instante, no estudo de pares e ternos de números
reais assim como seu significado geométrico, do mesmo modo que fizemos no caso
de R. As operações sobre pares e ternos de números reais serão abordadas no pará-
grafo seguinte.
Consideremos os pares ordenados de números reais, representados por ( x , y ) ,
sendo x,y números reais. Por par ordenado queremos dizer que o par (x,y) é di-
ferente do par (y, x). Como exemplo de par ordenado tem-se (t,e), onde t repre-
senta o tempo e e é o espaço percorrido por um móvel animado de velocidade
constante v, como comentado após o Exemplo 3. Outro exemplo é o dos pares
(x, \x\), onde x é um número real qualquer. A interpretação geométrica é feita da
seguinte maneira: consideremos duas retas x'x ey'y que se interceptam num ponto
O. Veja Fig. 2.

y '

Q -b'
t —

b - ^
1
1 1
1 1
1 1
x' a' 0 a X

y'

Fig. 2

Admitamos sistemas de coordenadas em x'x e y ' y , ambos com origem no pon-


to O. As duas retas x'x, y'y determinam um plano que designaremos por n.
Suponhamos que o ângulo 0, indicado na Fig. 2, seja um ângulo reto. Dado o
par de número reais (a, b) fica determinado univocamente o ponto Q, do plano n,
que se obtém pela interseção das retas paralelas a x'x e y'y passando por b e a
respectivamente. Da mesma forma, dado um ponto Q', do plano n, fica associado,
de modo unívoco, o par de números reais (a',b'), onde a' é a interseção de x'x com

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a paialela a y'y, passando por Q\ e b' é a interseção de y'y com a paralela a x'x,
passando por Q'.
Segue-se que existe uma correspondência biunívoca entre os pares ( x , / ) de
números reais e os pontos do plano ir. A esta correspondência biunívoca chama-
mos sistema de coordenadas no plano n. A coleção de pares de números reais, a
que chamaremos plano, será representada por R 2 .
Concluiremos esta breve introdução examinando os ternos ordenados (x,y,z)
de números reais. Do mesmo modo que anteriormente ordenado quer dizer que
(x,y,z), (y,x,z), (z,x,y), etc. são ternos distintos. Para uma interpretação geomé-
trica consideremos a coleção de todos os temos de números reais. Para isto tomemos
as retas x'x, y'y, z'z se interceptando num ponto O, como na Fig. 3, e tais que sejam
retos os ângulos <p e 0 determinados pelas retas x'x e y'y, y'y e z'z, respectivamente,
supondo ainda que a reta z'z é perpendicular à reta x'x. Admitamos, ainda, com
origem em O, um sistema de coordenadas, em cada uma das retas x'x e y'y. Dado o
terno (a,b,c) tome paralelas a x'x e y'y passando por b e a respectivamente. Estas
paralelas se interceptam num ponto Q. Considere, agora, a reta que passa por Q e é
paralela a z'z e o plano paralelo ao plano determinado por x'x, y'y passando por c.
Esta reta e este plano se interceptam num ponto P que é o correspondente do terno
(a,b,c).
Reciprocamente, por uma construção análoga, dado um ponto do espaço, en-
contra-se, de modo unívoco, o terno de números reais a ele associado. Conclui-se,
assim, que existe uma correspondência biunívoca entre os pontos do espaço e os

iI 2

b
-P-
y

Fig. 3

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ternos ordenados de números reais. A coleção de todos os ternos de números reais
é representada por R 3 e, como está em correspondência com os pontos do espaço,
chamaremos R 3 de espaço R 3 .

Exercícios Resolvidos
1. Num sistema de coordenadas x'x localize os pontos que satisfazem as relações
a) |x| = 2
b) |x - 1| = 3

Solução:
a) Da definição de \x\ temos que |x| será igual a x se x for positivo ou nulo e será igual a
- x se x foi negativo. Logo
|x| = x = 2 x > 0
|x| = —x = 2 x < 0
donde x = 2 e x = —2 satisfazem a relação dada.

b) Da mesma forma que em a) tem-se:


|x — 11 — x — 1 = 3 x —1 >0
|x-ll = — (x-l) = 3 x-lco.
Logo:
x-1 = 3
x — 1= — 3
donde
x = 4
ou
x = —2.
2. a) Ache o ponto simétrico do ponto A (2,3) em relação ao eixo xx'.
b) Ache o ponto simétrico do ponto 5 ( 1 , 3 , 5 ) em relação ao plano xOy.

Solução:
a) O ponto simétrico de 4 ( 2 , 3 ) em relação ao eixo x'x é o ponto A' que possui a mesma
abscissa porém ordenada simétrica da do ponto A. Logo A'(2,-3).
-t=* b) O simétrico de B é o ponto 5 ' ( l , 2 , - 5 ) .

Exercícios
1. Caracterize geometricamente os conjuntos de pontos cujas coordenadas satisfazem as seguin-
tes relações:
a) |2 + x) = 2
b) 12 - x < 0

J7
2-x
c) —>O
x-1
d) xy> O
e) x-y =O
f) x-y>Ò
g) xyz> O
A 2. Dados quatro vértices de um cubo, A(-a,-a,-a), B(a,-a,-a), a, - a ) , D(a,a,a),
^ , determine os vértices restantes.
3. Esboce, geometricamente, os seguintes conjuntos:
a) x: 1 < | x - 3 | < 2|-
b) x-.x(x + l ) < o}-
c) f:|/-2| + |f-3| = l}
d) 1*1+ W =

1.2 Conceitos Básicos


Na introdução, feita na seção anterior, vimos as relações entre os números
reais R e os pontos de uma reta, dos pares de números reais e os pontos de um pla-
no bem como dos ternos de números reais e os pontos do espaço R 3 . No conjunto
dos números reais tínhamos as operações de adição e multiplicação e nenhuma re-
ferência foi feita quanto a operações no R 2 e R 3 . Nossa próxima etapa será definir
em R 2 e R 3 determinadas operações tendo em vista o estudo e solução de alguns
problemas de Geometria. Antes disso, observemos que seria natural considerarmos
coleções de quatro números reais, ou seja, o R 4 , coleções de cinco números reais,
isto é, o R 5 , e, de modo geral, coleções de n números reais que seriam o R". Note
que é possível fazer uma interpretação geométrica, como a mencionada na introdu-
ção, quando n = l , « = 2 e « = 3. Quando n > 4 esta interpretação geométrica não
é mais possível, embora faça sentido falar no objeto matemático R". Nas definições,
que veremos a seguir, tomaremos sempre, como motivação, o caso do R 2 , embora
algumas sejam dadas no R". Evidentemente, as definições dadas no R" serão válidas
em R 1 , R*, R 3 ...etc.
Um elemento do ÉP é uma coleção de n números reais (x 1, x2, x 3 ,..., xn ). Quan-
do n — 1 os elementos serão representados por (jc, em vez de ( x i . x í ) e quando
n = 3 os elementos do R 3 serão representados por (x,y,z) em lugar de (X1.X2.JC3).
Assim, a coleção (xi,x2,x 3 ) ..-,x n ) de n números será chamada simplesmente uma
M-upla de números reais. Portanto, R" é a coleção das n-uplas de números reais e,
como iremos trabalhar só com números reais de agora em diante, chamaremos
(xi,X2."->*B)'simplesmentè uma n-upla.
Considere, então, o R 2 com sua representação geométrica que é o plano. Dado
um par ( x , y ) tem-se um ponto P do plano. Logo, o ponto Pe o ponto O = (0, 0),
do R 2 , determinam um segmento OP. Desejamos definir, agora, uma adição no con-
junto dos pares (x,y). de modo que esta adição tenha semelhança com situações já
conhecidas. Tomemos, como motivação, o problema de composição de forças, na
Estática. Sejam, então, duas forças OP e OQ, como na Fig. 4, aplicadas no ponto

18
O do plano, estando OP e OQ no plano R 2 . Define-se uma regra de composição
de forças aplicadas num ponto O do seguinte modo: dadas as forças OPeOQ, a elas
fica associada uma única força OP + OQ, chamada resultante de OP com OQ, repre-
sentada pela diagonal do paralelogramo formado por OP e OQ, como mostra a
Fig. 4.

O
Fig. 4

Com esta definição de composição de forças substitui-se, em Estática, a ação das


forças OP e OQ em O pela da resultante OR = OP + OQ. Vejamos, agora, esta idéia
nos pares do R 2 . Para nos tornarmos mais objetivos suponhamos P = (3,1) e Q =
= (1,2) dois pontos do R 2 e OP, OQ os segmentos de origem O e extremidade P e
Q, respectivamente, como indica a Fig. 5. Imaginando OP e OQ como forças aplica-
das em O e repetindo o argumento usado em Estática, a resultante seria a diagonal
OR do.paralelogramo formado por OP, OQ.

R
3

2 -.

. 1-

O 2 3 4 x

Fig. 5

19
Note que R é o par (4,3), isto é, o par (3 + 1,1+2) que se obtém adicionando
as coordenadas de P = (3,1) com as de Q = (1,2). Deste resultado, é evidente qual
será uma boa definição de adição de pares de números reais. De fato, dados os pares
(^í.^i), Q = (x2,y2) a soma P+Q será, por definição, o par (x, +x 2 , yi+y2).
Outra operação comum na Estática é a substituição de uma força F por F multi-
plicada por um número real X, isto é, por XF. Vejamos como definir esta opera-
ção nos pares P = (x,y) de números reais. Quando X for um número natural, 3 por
exemplo, 3P será, evidentemente, P + P + P, ou seja, 3P = (3x,3y). Logo, é bas-
tante natural definir XP, X um número real e P um par (x, y), como sendo o par
(Xjc , A_y). Seria bastante cansativo repetir o argumento, que acabamos de usar, nos
casos R 3 , R 4 ... etc. Por este motivo, daremos as definições de adição de n-upla,
multiplicação de uma n-upla por um real X e as propriedades destas operações no
caso do R".
Igualdade de n-uplas: diz-se que a n-upla P — (xj.xj.jcs é igual à n-upla
Q = (yi,y2,.-.,yn)szxl = yu x2 =y2.... xn =y„.
Adição de n-uplas: dadas as n-uplas P = (xltx2,... ,xn), Q = (y\,y2,...,yn)
define-se a soma de P com Q como sendo a n-upla P + Q dada por :
P+Q = (Xi+yi, x2+y2,...,xn+yn).
Multiplicação de uma n-upla por um número real X: dados o número real X e a
n-uplaP = ( x i , x 2 , . . . , x n ) define-se o produto XPpor XP- (Xa:,, Xx2,•.., Xxn).
Propriedades da adição: são conseqüências das propriedades análogas da adição
de números reais.
a) comutatividade: P + Q = Q + P
b) associatividade: P + (Q+R) = (P+Q) + R
c) existe uma n-upla ( 0 , 0 , . . . , 0 ) chamada origem do R" e representada por
O tal que
0+P = P+0 = P
qualquer que seja a n-upla P.
d) para cada n-upla P= (xifx2,...,xn) existe uma n-upla -P = (-xx,—x2,...,
-xn) chamada simétrica de P tal que
P+(~P) = O.
Propriedades da multiplicação por um número real: támbém são conseqüên-
cias das propriedades análogas de multiplicação de números reais.
a) associatividade: se X, /u são números reais, então X'(jjlP) = n (XP) = (Xß)P
qualquer que seja a n-upla P
b) 1P = P, sendo 1 o número real 1
c) - 1 P = —P, sendo —P o simétrico de P
d) 0 .P — O, sendo 0 o número real zero e O a origem do R", ou seja, a n-upla
nula.
Existe uma outra propriedade que relaciona a adição de n-uplas com multipli-
cação de uma n-upla por um número real, que é a

20
distributividade: X(P+Q) = XP+XQ
e (X+ai)? = Xi> + ßP.
O leitor poderia se perguntar, neste ponto, para que estas propriedades. Res-
ponderíamos que elas são as regras com as quais podemos operar com as «-uplas,
como mostram os dois exemplos a seguir.

Exemplo 1:

SeP = ( l , 2 , 3 , 4 ) , Q = (2,4,6,8), R = , - 3 , - 3 , - 4 ) calcule:


2
a )P+Q+R
b) (V2 + 1/2)Q.

Solução:

a) P+Q+R = (1,2,3,4) + (2,4,6,8) + ( _ | , - 3 , - 3 , - 4 ) =

= [(1,2,3,4) + (2,4,6,8)] + ( _ | , - 3 , - 3 , - 4 ) =

=
(3,6,9,12) + (—^ > — 3 , - 3 , - 4 ) =

= (3 - | , 6 - 3 , 9 - 3 , 1 2 - 4 ) = , 3,6,8).

b) (V2 + \)Q = y/2Q + 1 Q = V2(2,4,6,8) + ~ (2,4,6,8) =

= (2V2,4V2, 6V2, 8%/2) + ( | , \ , I , | ) =

= (2V2, 4V2, 6V2, 8V2) + (1,2,3,4) =


= ( 2 v ^ + l , 4 V 2 + 2 , 6V2+3, 8V2+4).

Exemplo 2:
Determine X para que
a) XQ+P = 0
b )P=X(Q+R).

Solução:
a) \Q+P=0
X(2,4,6,8)+ (1,2,3,4) = (0,0,0,0)
(2X,4X,6X,8X) + (1,2,3,4) = (0,0,0,0)

21
(2X + l,4X + 2,6X + 3,8X + 4) = (0,0,0,0)
2X+1 = 0 , 4 X + 2 = 0, 6X + 3 = 0, 8X + 4 = 0.

Logo X = — ^ .

b) P = \(Q+Â). Q+R = (1/2,1,3,4).


Sendo Q+R = (1/2,1,3,4) segue-se que
(1,2,3,4) = X ( l / 2 , 1 , 3 , 4 ) = (X/2, X,3X,4X)

donde 1 = | , 2 = X, 3 = 3X, 4 = 4X.

As duas primeiras relações nos dizem ser X = 2 e as duas últimas dão X = 1. Assim,
não existe um valor de X tal que P = X (Q +R).
Em seguida, estabeleceremos o conceito de vetor, noção extremamente útil pa-
ra o que temos em mente estudar neste texto. Consideremos o R" com suas opera-
ções de adição e multiplicação por um número real. Aliás, daqui em diante, quando
nos referirmos ao R" estaremos pensando nas n-uplas com estas operações e chama-
remos os elementos do R" de pontos, ou n-uplas.
Dados os pontos P e Q do R", Q diferente da origem, o par P,Qé chamado um
vetor do R", localizado em P. Daí todo ponto Q do R" ser considerado como um
vetor localizado na origem O do R n . Desse modo, identificam-se os pontos do R"
com os vetores localizados na origem. Neste caso, diz-se o vetor Q, a n-upla Q ou o
vetor OQ, indistintamente. Representaremos o vetor localizado em P e extremida-
de em Q por PQ. Assim, a n-upla Q é a extremidade do vetor OQ.
Vamos estabelecer, agora, a relação entre as coordendas de P e Q. Sabemos, por
definição, que a diferença Q-P é uma n-upla tal que adicionada a P é igual â n-upla
Q, isto é:
Q=P + (Q-P)
donde resulta uma relação entre as coordenadas da origem P e extremidade Q do ve-
tor PQ. Diremos que dois vetores PQ e RS são equivalentes quando
Q-P — S-R.
Logo, todo vetor PQ localizado em P com extremidade Q é equivalente ao ve-
tor O (Q-P) localizado em O, origem do R", e com extremidade no ponto Q-P.
Faremos, a seguir, a interpretação geométrica destes conceitos, no R 2 , o mesmo po-
dendo ser feito, de forma análoga, no R 3 .
Consideremos, no R 2 , os pontos P = (x0,yo) e Q = (xhyi ). Vimos que
Q=P + (Q-P),
isto é,
(xi.yú = C w o ) + (*i-*o, y\-y<i)
donde segue-se que:
=*o +(*i-xo), yi =yo+b>i-yo)-

22
A Fig. 6 nos dá uma visão geométrica do vetor PQ localizado em P.

Fig. 6

Dados os pontos P e Q, ou seja, os vetores do R.2 localizados na origem OP e


OQ, interpretamos sua soma como a diagonal do paralelogramo formado pelos ve-
tores OP e OQ. Vejamos uma interpretação do vetor PQ determinado pelo par P e
Q, isto é, o vetor localizado em O e extremidade ( P - Q ) . Vimos que
Q = P + (Q-P)
logo, Q é a diagonal do paralelogramo formado pelos vetores OPe 0(Q-P) locali-
zados na origem como está representado na Fig. 7.

Fig. 7

23
Já vimos que o vetor (Q-P) localizado em O, isto é, 0(Q-P), é equivalente
ao vetor PQ localizado em P. Podemos, assim, interpretar geometricamente o vetor
PQ, ou seu equivalente O (Q-P), como a diagonal de extremos P e Q, do paralelo-
gramo formado pelos vetores OP e OQ. Resumindo o que acabamos de ver geome-
tricamente, dados os vetores P e Q localizados na origem O a soma P+Q e a diferen-
ça Q-P são as diagonais do paralelogramo formado pelos vetores OP e OQ.
Diz-se que os vetores localizados PQ e RS são paralelos quando existe um nú-
mero real X 0 tal que
Q-P=~K(S-R).
Nestas condições, dizemos que PQ e RS possuem mesma direção e sentido se
X > 0 e mesma direção e sentidos opostos se X < 0. É bom notar, uma vez mais,
que dado o vetor localizado PQ podemos substituí-lo pela n-upla Q-P e trabalhar
com o vetor (Q-P) localizado na origem em vez de trabalhar com PQ. Chamare-
mos, de agora em diante, os números reais de escalares.

Exemplo 3:
Dados os pontosP — (x,4), ß = (5,6), R = (7,8) e S = (10,11) determine*
para que os vetores PQ e RS sejam paralelos.

Solução:
Pelo que acabamos de ver, devemos encontrar X tal que
(Q-P) = \(S-R)
Temos:
(Q-P) — (5,6) — (x,4) = (S —x, 2)
(S-R) = (10,11) - ( 7 , 8 ) = (3,3)
logo,
(5 —x,2) = X(3,3) = (3.X,3X)
e
5 - j c = 3X 2 = 3X
donde,
x 2

X=- e x = 3.

^Exemplo 4:
Dado o vetor PQ, P(4,2), ß ( l , l ) ache o vetor, equivalente ao vetor PQ, loca-
lizado na origem.
Solução:
PQ = Q-P = (1,1) - (4,2) = (1,1) + ( - 4 , - 2 )
= (1-4,1-2) = (-3,-1).
24
Logo, o vetor equivalente procurado é dado por OR, onde £ ( - 3 , - 1 ) , isto é,
o vetor localizado na origem com extremidade em R.

Os vetores OR e PQ são paralelos? Veja Exemplo 1.

Exercícios
1. Dado o vetor PQ, com ^(3,1,2), Q(S,4,3), ache o vetor equivalente de PQ que esteja locali-
zado na origem. Represente geometricamente.
2. Considere o vetor OA, localizado na origem, sendo A (2,4). Determine o vetor BC, equiva-
lente a OA sendo 5(3,1). Represente geometricamente.

1.3 Dependência Linear


De agora em diante indicaremos os vetores por letras minúsculas u, v, z, w etc.
Assim, o vetor PQ com extremidade em Q e localizado em P ou o seu equivalente
0(Q-P) localizado na origem será indicado por u. Assim
u = PQ = 0(Q-P) = Q—P.
2
Consideremos, no R , os vetores u — (2,3) e u = (6,9). Nota-se, imediatamente,
que v = 3u, ou seja, 1 v - 3 m = 0. Suponha, agora, z = (1,0) e w = (1,1). Não pode-
mos, neste caso, expressar um vetor como múltiplo escalar do outro. De fato, se
fosse z = Xw ou w — Xz chegaríamos a (1,1) = (X ,0), o que é impossível, ou a
(1,0) = (X,X), isto é, X = 0, o que é impossível também uma vez que (1,0) é dife-
rente de (0,0). Assim, não existe X tal que z = Xw, isto é, tem-se sempre 1 z — Xw 0.
Dois vetores u e v são linearmente dependentes quando um for múltiplo esca-
lar do outro, isto é, v = au ou lv—au = 0. Se u,u não forem linearmente depen-

25
dentes serão chamados linearmente independentes. No exemplo acima, u e v são li-
nearmente dependentes enquanto z e w são linearmente independentes. Esta noção
estende-se a uma família finita de vetores do R n . Vejamos o seguinte exemplo:

Exemplo 1:
Vamos estudar, quanto à dependência linear, os vetores
« = (2,1,0) e.v = (3,2,1).
Para isso, consideremos os escalares X e p tais que \u + pv = 0. Isto implica em:
(2X+3p, X+2m,» = (0,0,0)
donde se obtém:
2X+3/i = 0 : \+2p = 0 : p = 0,
ou seja, X = p = 0 mostrando que os vetores são linearmente independentes.

Observação:
Se os números reais X e p são não nulos e Xu + pv = 0, então um vetor é múl-
p p
tiplo escalar do outro. De fato se X # O, então tem-se u v = 0, ou seja, u = (—r-)t>
p X X
ou u = au onde a = —r-.
X

Exemplo 2:
Os vetores u = (2,1,3) e w = (6,3,9) são linearmente independentes?
É fácil constatar que v = 3u mostrando que são linearmente dependentes.
Para falarmos em dependência linear precisamos trabalhar com expressões da
forma Xu + pv. Tais expressões são denominadas combinações lineares dos ve-
tores u e v. Vejamos como definir esta noção de modo geral. Consideremos m veto-
res u1,u2,...,um do R". Chama-se combinação linear destes vetores a uma expres-
são da forma
XjM,+X2M2+...+Xm_, «m_!+Xm«OT

onde Xi, X2,..., X^, são escalares.


A noção de dependência linear dada para dois vetores pode ser estendida a uma
família finita de k vetores do R", por meio da seguinte

Definição 1:
Uma família finita de k vetores do R " , ult u2 uk_í,uk, é linearmente
dependente quando qualquer um dos vetores da família puder ser expresso como
combinação linear dos demais.
Por exemplo, pbdemos supor que u t seja expresso como combinação linear dos
restantes. Tem-se:
«! = X2«2 + X3u3 + ... + XjMj^.

26
Quando não for possível esta representação para vetor algum dá família então
ela se diz linearmente independente. A definição de dependência linear pode ser da-
da sob a seguinte forma equivalente:

Proposição 1:
Uma família finita de vetores ulyu2 uk é linearmente dependente se e so-
mente "se existir uma combinação linear
aiUi + a2u2 + ... + ct/çU/c — 0
com os coeficientes a,- não todos nulos.

Demonstração:
Suponhamos que os vetores sejam linearmente dependentes. Então, um dos ve-
tores, que chamaremos , pode ser expresso como combinação linear dos demais,
isto é,
u 1 = \2u2 + X3U3 + ... + Xkuk,

ou seja,
ut - \2u2 - X3m3 - ... - \kuk = 0
que é a combinação linear acima com a{ = 1,0/ = —)y j = 2,3,...,* não todos nu-
los.
Reciprocamente, suponhamos que haja uma combinação linear
atU! +a2u2 + ...+akuk =0
Vi
com pelo menos um coeficiente não nulo, por exemplo, ctj 0.. Então,
,<*2 «3, ,ak -
Ml1 + U2 + + ... + Mjfc = 0,
öl ai <*1 *
isto é,
Ui - \ 2 u 2 + X3M3 + ... + Ajt"*>

a/
onde fizemos X. = a
} = 2ß,...,k, o que mostra ser a faqulia linearmente de-
i
pendente.
Da Proposição 1 deduz-se que uma família de vetores u 1, u2,..., uk é linearmen-
te independente se; e somente se, a única combinação linear nula entre os vetores
for aquela em que os coeficientes são todos nulos.
Suponha que a família possua apenas um vetor u. Ela será dependente se, e so-
mente se, au = 0 com a # 0, o que implica u = 0, ou seja, u é o vetor nulo. Assim,
a família que possui um único vetor, não nulo, é linearmente independente. Outro
resultado, que devemos ter presente, é que se um dos vetores da família for o vetor
nulo então a família é linearmente dependente. De fato, chamemos de Ui o vetor
nulo. Tem-se:

27
1 0 + 0 H 2 + 0 u 3 + ... + 0 1 ^ = 0
que é uma combinação linear nula em que os coeficientes não são todos nulos. Da
Proposição 1 segue-se que a coleção é linearmente dependente. Veremos, a seguir,
a%uns exemplos de família de vetores dependentes e independentes, com o objetivo
de tornar clara a noção de dependência linear. É importante entender bem este con-
ceito, pois ele é extremamente útil para a compreensão de outras noções sobre o R".

Exemplo 1:
Considere no R 2 os vetores u = (1,2), v = (2,1) e w = (1,1). Para verificar se
são, ou não, linearmente dependentes, faz-se uma combinação linear, au + ßv +
yw, a qual supõe-se ser igual ao vetor nulo. Se daí deconer que os coeficientes a,
0, y são todos nulos, os vetores serão linearmente independentes e, se algum dos
coeficientes a, ß e y for não nulo, os vetores serão linearmente dependentes. Supo-
nhamos, então, que
a u + 0u + y w = 0,
ou seja,
( a , 2 a ) + ( 2 0 , 0 ) + (7,7) = (0,0).
Adicionando os três pares dp primeiro membro e igualando ao par (0,0) obtém-se:
a + 20 + 7 = 0, 2a+0 + 7=0.
Resolvendo o sistema obtém-se
a + 20 = —7; 2 a + 0 = —7,
donde 9

Atribuindo-se a 7 um valor qualquer resulta que, para 7 # 0, obtêm-se a e 0 não


nulos, mostrando que os vetores u,vew são linearmente dependentes.

Observação:
O leitor ficaria na dúvida quanto a atribuirmos a 7 o valor nulo. Se tomássemos
7 = 0 obteríamos a = 0 = 0. Isto conduziria o leitor a pensar serem os vetores li-
nearmente independentes. Retornando à definição linear observamos que a coleção
é linearmente independente quando qualquer combinação linear, igual ao vetor nu-
lo, possuir todos os coeficientes nulos. Dito de outro modo, para que haja indepen-
dência linear não pode existir-nenhuma combinação linear nula com algum coeficiente
diferente de zero. Este não é o caso do exemplo em questão. Tem-se a = 0 = 7 = 0,
o que sempre existe, pois o segundo membro de au + ßv + yw = 0 é o vetor nulo,
mas há várias outras combinações nulas quando a , 0 , 7 não nulas.
Antes de considerarmos outro exemplo exploraremos um pouco mais o ante-
rior. Sabendo-se que os vetores u, v, w são linearmente dependentes, um deles será
uma combinação dos outros dois, conforme a Definição 1. Portanto, supondo que

28
w seja combinação linear d e u e s , determinemos os coeficientes da combinação.
Devemos encontrar escalares a e ß tais que
w = au + ßv,
Substituindo-se u,v,we efetuando os cálculos, obtém-se:
(a+20, 2a+ß) = (1,1).

Logo,
a + 2/3 = 1 ; 2a + / 3 = l .
Resolvendo o sistema segue-se que :
1 1
W = l U +j. j v .

Exemplo 2:
Os vetores do R 3 , u = (1,2,3), v = (4,5,3) e w = (6,1,0) são linearmente in-
dependentes?
Seja uma combinação linear qualquer igual ao vetor nulo
au + ßv + yw = 0.
Daí resulta:
(a+4/3+6% 2a+5ß+y, 3a+3ß) = (0,0,0)
e da igualdade entre vetores deduzimos que
a + 4 0 + 6 7 = 0; 2a+5/3+7 = 0; 3 a + 3 0 = O.
Da última equação obtém-se a — —ß que substituído nas duas primeiras resulta
o sistema:
30 + 67 = 0 30 + 7 = 0.
Resolvendo este sistema encontramos 0 = 7 = 0. Logo, a = ß = 7 = 0, isto é,
não existe combinação linear nula dos três vetores u,vew sem que os coeficientes
não sejam nulos. Assim os três vetores são linearmente independentes.

Exercícios
1. Estude do ponto de vista da dependência linear as seguintes famílias de vetores:
a) u = (3,1); v = (2,3); w = (-4,-6)
b) w = (2,3); v = (4,6); w = (-8,-12)
c) u = (3,0); » = (0,7)
d) u = (1,2,3,4), « = (5,6,7,8); w = (9,7,2,0)
e) u = (1,2,0); v = (0,3,4); w = (1,1,1)
f) « = (1,0,0); v = (0,2,0); u>= (0,0,3).
2. Dados <4 (1,3,2), 5(5,8,1) expresse u =AB como combinação linear dos vetores el = (1,0,0),
e, = (0,1,0) e e , = (0,0,1).

29
3. Os Vetores u = ( 2 , - 1 , 3 ) e v = ( - 6 , 3 , - 9 ) são colineares? Esaeva u como combinação linear
de
»• aA li- t,. u,
4. Determine« e b para que os vetores u = (2,3,6) e u = (a,6,2) sejam paralelos. ^Z^&i £
\J • S
5. Sejam os vetores w = u + v e z = u-v onde u ev são linearmente independentes^S" ' -V.
a) w e z são linearmente independentes?
b) w = 3u + So, z = u-2v são linearmente independentes?
6. É possível escrever o vetor » = (10,15) como combinação linear de u = (2,3) e w = (4,6)?
lj r
Por quê? Interprete geometricamente. - - _ , .. J , ;
7. É possível escrever o vetor (0 0) = 0 como combinação linear de u = (1,2) e » = ( - 1 , 1 ) ?
8. a) Três vetores no plano são linearmente dependentes ou não? >i (-1,3) -
b) E quatro vetores no R3. /\ : ^

1.4 Base e Dimensão


Tome n o R 2 o vetor u = OP = (1,1), como mostra a Fig. 8, e considere a cole-
ção de todos os múltiplos escalares de u, isto é, considere o conjunto if, dado por:
£i=|aií|a6R[.
Examinemos esta coleção de vetores do R 2 .

y'

/ q

1
' • — y f " !
/ 1 1
/ « 1 t
/ I 1

y
i X

Flg. 8

É fácil concluir que esta coleção é representada, geometricamente, pela reta do


R 2 determinada pelos pontos O = (0,0) e P = (1,1). Adicionando dois vetores da
c o l e ç ã o E x , a u e ß u , por exemplo, obtemos
(a+ß)u
que continua pertencendo à coleção . Multiplicando um vetor de E1 por um es-
calar obtemos, ainda, um vetor de E i , pois, Á(au) = (Xaju.
Verificamos, assim, que a coleção E t , com relação à adição de vetorese multi-
plicação de vetor por escalar, goza das mesmas propriedades que o R 2 . Como
Ei C R 2 , diz-se que E} é um subespaço do R 2 .

30
No R 3 , tomemos dois vetores fixos u e v e consideremos a coleção de todas as
combinações lineares de u e v, isto é, consideremos
E2 = | a u + j 3 v : a,ße r}.
Esta coleção com as operações de adição de vetores e multiplicação de vetor
por um escalar goza das mesmas propriedades que o R 3 . Sendo E2 C R 3 , diz-se, que
E2 é um subespaço do R 3 . Argumentando de modo análogo podemos considerar
ura vetor em R 2 , dois em R 2 , três em R 3 , dois em R 3 e de um modo geral m veto-
res no R", m < n, e obter coleções que são subespaços. Formaliza-se esta idéia geo-
métrica simples através da seguia te

Definição 2:
Um subconjunto E do R" denomina-se tun subespaço do R" quando o subcon-
junto E, relativamente às operações de adição e multiplicação por escalar, satisfizer
as mesmas propriedades do R".

Exemplo 1:
No R 2 , fixe um vetor qualquêr u e considere o subconjuntoEi = jXw, X £ R | .
Ei é um subespaço do R 2 .

Exemplo 2:
Fixe, no R 3 , os vetores u e ». Considere o subconjunto E2 = \uu +ßv : a, ß G R}.
Conclui-se que E2 é um subespaço do R 3 .

Exemplo 3:
De modo geral, seia uma coleção ui,u2,u3 um, m < n , de m vetores do R".
O subconjunto Em = | a i « i + a 2 « 2 + ... + a m i / m : t t 1 , i « 2 , . . . , a m £ R } é um subes-
paço do R".

Exemplo 4:
Consideremos, no plano, os vetores u = (1,1) e v = (—1,1) que são linearmente
independentes. O subconjunto E2 = jau+ßv : a , / ? £ Ri é um subespaço do R 2 .
Provaremos, agora, que E2 = R 2 . É suficiente, então, mostrar que todo vetor do R 2
pertence a E2. De fato, consideremos um vetor qualquer w do R 2 , por exemplo
w = {a,b), e determinemos a , ß € R tais que a u + ßv = w, isto é, tais que

a—ß=a a+ß=b
cuja solução é dada por
1

31
Assim, dado um vetor qualquer w = (a,b) do R 2 podemos representá-lo, de mo-
do único, como:

ou

w = ~(a+b)u +^(b~a)v,

ou seja, podemos representá lo, de modo único, através de uma combinação linear
dos vetores u e v do R 2 . Logo, E2 = R 2 .

Exemplo 5:
Seja, agora, o caso do R 3 . Tomando-se três vetores u . u e w d o R 3 , linearmente
independentes, com o mesmo argumento do exemplo anterior, prova-se que o subes-
paço
E3 = ^au+ßv+yw: a,ß,y G R}
coincide com o R 3 . Podemos tomar, por exemplo, u - (l,0,0)„t> = (1,1,0) e w =
(1,1,1). oc - a . - < o - i -<•

Exemplo 6: Yx —
De um modo geral, considerando-se n vetores ul,u2,...,un do R", linearmente
independentes, prova-se que o subespaço
E =
n {ai"J +û2«2 + ...+«„«„ : a i , G R j .
é igual ao R". Por exemplo, no R n , considere os vetores ui = (1,0,0,... ,0); u2 =
(1,1,0,...,0); «3 =(1,1,1,0 0); u n =(1,1,...,1) e verifique os cálculos com
esta coleção.
Dos exemplos que acabamos de estudar compreendem-se, facilmente, as defi-
nições que seguem.

Definição 3:
Diz-se que um subespaço E do R" é gerado por m vetores ui,u2,...,um, m
quando cada vetor do E é representado, de modo único, como uma combinação
linear dos vetores ul,u2,...,um. Os vetores ul,u2,...,um são chamados geradores
de E.
Os exemplos anteriores são exemplos de subespaçosf gerados. Quando e núme-
ro de vetores geradores de E £ R" for menor do que n diz-se que E é um subespaço
próprio^e R". Da definição de gerador de um subespaço E deduz-se que os gera-
dores de E são conjuntos linearmente independentes. De fato, 0 G E e tem-se
0 = 0 » , + 0u 2 + ... + 0 u m que é a.única representação de 0 pelos geradores. Se-
gue-se daí que se o^uj + ot2u2 + ... + OLmum = 0, então
a ! = a 2 = ... = aOT = 0 .

32
Consideremos um subespaço E! Ele pode possuir diferentes coleções de gerado-
res. Cada coleção de geradores de E denomina-se uma base de E. Mais precisamente
temos a seguinte

Definição 4:
Uma base de E £ R" é o menor número de vetores linearmente independentes
do R" que gera o subespaço E.
O número de vetores de uma base de E chama-se dimensão de E.

Exemplo 1:
Considere, no R 2 , um vetor fixo u. 0 subespaço Ex = j Xm : à ê r | possui o
vetor u como gerador. Assim, a base de E possui um único vetor, logo a dimensão
de E é igual a um.

Exemplo 2:
Suponhamos, no R 2 , três vetores quaisquer u = (x,y)] u' = (x',y')-,u" = (x",y").
Prova-se que três vetores no R 2 são sempre linearmente dependentes. De fato, seja
a combinação linear
au + ßu' + y u" = 0.
Concluiremos que os números a, ß e y não são simultaneamente nulos, pois a
equação anterior equivale ao sistema homogêneo
a* + ßx' + yx" = 0
ay + ßy' + yy" = 0
nas incógnitas, a, ß e 7. Há duas situações a serem analisadas. A primeira, quando
um dos determinantes de segunda ordem obtidos da matriz

é não nulo. Por exemplo, suponhamos que o determinante

I x
y
x'
y'
seja diferente de zero. Assim, passando yx" e yy" para o segundo membro, resolve-
se o sistema, pela regra ^ Cramer, obtendo-se a e ß em função de 7. Logo, existem
números a,ße y não todos nulos tais que
au + ßu' + y u" = 0
mostrando ser u, u' e u" linearmente dependentes. A segunda situação é muefo em
que todos ós determinantes de segunda ordem são nulos. Os vetores não saa as veto-
res nulos, logo, um dos números x, y, x', y\x", y" é diferente de zero. Suponha,
para fixar idéias, que seja x 0. Na equação
a x + ß x ' + yx" = 0

33
encontra-se a em função de ß e y mostrando que a, ß, y não são simultaneamente
nulos e provando que os três vetores u, u\ u" do R.3 são sempre linearmente depen-
dentes. Concluímos daí que a dimensão do R 2 será estritamente menor do que três.
Já vimos que o R 2 possui subespaços de dimensão um. Deste modo, a dimensão do
R 2 será igual a um ou igual a dois. Prova-se que é igual a dois. É suficiente exibir
uma base com dois elementos. De fato, sejam os vetores n = ( l , l ) e i ; = (—2,1) que
são linearmente independentes, pois se
a u + ßv = 0

segue-se que
a - 2 / 5 = 0; a +0= 0
donde a = ß = 0. Seja, então, w = (x,y) um vetor qualquer do R 2 . Vamos mostrar
que se tem w = Xu + ßv.
De

(xj>)=X(1,1) + M(-2,1)
obtém-se
X — 2p.=x; X+ p =y
e encontra-se

para os coeficientes da combinação linear que representa w através de u e v, logo

w = (x,.y) = ! (x + 2y)u+j>(y-x)v.

Observação:
Repetindo o argumento anterior para R 3 conclui-se que quatro vetores do R 3
são sempre linearmente dependentes e que há no R 3 subespaços próprios de dimen-
são um e dois. Prova-se que a dimensão do R 3 é três. O mesmo raciocínio vale para
o R" e leva-nos a concluir haver no R" subespaços de dimensão um, dois,... etc., até
n — 1 sendo a dimensão do R n igual a n.

Proposição 2:
Seja | « i , u 2 , m 3 , . . . , « „ | uma base do R". Então, dado um vetor v do R",exis-
tem números reais XI( \ 2 , . . . . . Xn tais que v é representado, de modo único, por
V ~ X\U\ + XjMí + ... + Xnun.

Demonstração:
Pelo que acabamos de ver a família de n + 1 vetores do R"
V,UI,U2,...,UN

34
é linearmente dependente, logo existe uma combinação linear nula destes vetores
sem que os coeficientes da combinação sejam todos nulos. Podemos supor que o
coeficiente de d, na combinação linear, seja não nulo. Assim,
a„t; + û i U j + a2u2 + ... + &nun = 0 «q^O

a
<*i «2 n
v + — w 1 Ha m2 + ... + — u„ = 0
<*o o ot0 "
ou
a a
l 2
U1 U22 — . . . U„.
a0 ' a0 a0 »

aI an
Fazendo X, = — ,..., X„ = resulta Hque
a0 " a0

v = \1ul + X2u2 + ... + X„M„.

Suponhamos, agora, que v possa ser representado de outra forma por


V = ßlUi +ß2u2 +... +ßnun.

Das duas representações para v obtém-se


0 = (X1-ß1)ui + (X2 —02)u2 + ... + (\j — ßn)u„.

Os vetores u i , u 2 , . . . , u n , sendo vetores de uma base do R", são linearmente in-


dependentes e daí decorre que se tem necessariamente que
( A i - ß i ) = 0, ( X 2 - ß 2 ) = 0 , . . . , ( X w - ß „ ) = 0,
ou seja,
A, = 0 i ; X2 = 02 ;...;A„

que nos diz ser única a representação para v.

Exercícios
1. Verifique se os seguintes conjuntos são espaços vetoriais.
a) £ = u e R I ; u = (ï,0)} 0-C. A Cii
3
b) £ = u e R : u = (a,b,a+b), í , 4 e * | JW,.«, fkc ) 'X"
c) E = u e R 3 : u = (í+s.r-s, 2 t ) , t,s e r |
d) h' = u ë R3 : u = (t+sj~s, 2f+l), r,s 6 , (_
2
e) £ = 0}f;CR . JL Av..í : -
2. Mostre que o vetor 0 = (0,0) pode ser escrito, de duas maneiras distintas, como inação
linear de u = (l,2) e u = ( - 2 , - 4 ) . Poderia ser escrito, de várias maneiras distintas, como
combinação linear dos vetores dados? ç- ^
3. a) Uma base pode conter o vetor nulo? Por quê? >•
b) Uma base pode conter dois vetores iguais? Por quê?
- YY^Q V- O 0 iH.tyx iv»&>> .
ôc,'í<. --X - M U í CUT- . • • / • 35
4. Mostre que os vetores u, = ( 1 , 0 , - 1 ) , u 2 = (1,2,1) e u 3 = ( 0 , - 3 , 2 ) formam uma base do
r3. ! ^ • v- ' ;
5. Seja E c R 3 , fi = | u = (t—s, t+s,t), f,s G R j
a) E é um subespaço vetorial? s y, .
b) Se a resposta em a) for afirmativa, determine a dimensão de E. . \ ., ,

1.5 Produto Escalar


Iniciaremos, à guisa de motivação, examinando um exemplo que se encontra,
freqüentemente, em Física. As considerações que faremos serão puramente de na-
tureza heurística. Quando uma força F atua em um ponto P deslocando-o de uma
distância cómo na Fig. 9,

Fig. 9

o trabalho realizado pela força F para deslocar o ponto (objeto pontual) de P até
F , supondo que a direção e sentido da força coincidem com direção e sentido do
deslocamento, é definido como sendo o produto F£, isto é, representando por T O
trabalho realizado, tem-se
T =F%.

Suponhamos que se tenha uma situação um pouco diferente em que a força F


não atua na direção do deslocamento. Suponha a situação como na Fig. 10, em

Fig. 10

36
que a força F atua na direção da reta por P e Q. O trabalho r, agora, é dado pôr
r = F£ cos 0,
sendo 0 o ângulo entre as direções das retas pelos pontos P, P' e por P, Q.
Tomemos este exemplo como motivação para a definição de produto escalar.
Iniciaremos com o R 2 e R 3 obtendo depois a formulação geral para o R". De fato,
a força é um vetor F localizado em P e o deslocamento de P a P' é o vetor u = PF
ou u = P ' - P, localizado em P segundo nossa notação. Assim, Feu são dois vetores
do plano R 2 localizados em P e desejamos dar sentido a uma operação entre pares
de vetores do R 2 tal que a cada par F, u fique associado um número real que me-
de o trabalho realizado pela força F. Note que, na expressão Fi cos 0, £ mede o
comprimento do segmento determinado pelos pontos P e F e F mede o compri-
mento da flecha que representa o vetor F localizado em P. Para medir o comprimen-
to de um segmento faz-se geometricamente com uma régua graduada. Deseja-se, po-
rém, dar uma definição de comprimento de um segmento, no plano R 2 , em função
das coordenadas dos seus extremos.
Consideremos dois pontos P = ( x 0 , e Q - (x1,yí ) como na Fig. 11.

Fig. l i

Tem-se o triânguloPRQ, retângulo e m R . Sendo \PR\=xl-xü, \RQ\ =yt -y0,


resulta do Teorema de Pitágoras que a distância entre os pontos P e Q , representada
por d(P,Q) é dada por
d(P,Q) = + -x0)2 +(yl-yüf.
O número real positivo d(P,Q) também denomina-se módulo do vetor ^ = u e
representa-se por í«8. No caso do vetor v — OQ localizado na origem O = (0,0) do
R 2 , a distância do ponto Q à origem será:
d(Q.O) = -O) 2 + (Vi -O) 2 = Vx 2 +y],

37
isto é, o módulo do vetor v será

. IHI = + V * Î + y \ .
Estamos, agora, com a nomenclatura apropriada para definir uma nova opera-
ção entre pares de vetores do R 2 , de modo a obter a definição de trabalho como um
caso particular. Esta nova operação será denominada produto escalar de dois veto-
res. Dados dois vetores « e u d o R 2 , entende-se por ângulo entre os vetores o ângulo
6 como marcado na Fig. 12.

Fig. 12

Assim, dados os vetores u, v do R 2 , denomina-se produto escalar de u com v,


representando-o por (u|t>), ao número real definido como o produto do módulo de
u pelo módulo de v vezes o co-seno do ângulo que u faz com v. Simbolicamente,
escreve-se

(u|t>) = llu|| II dl COS0.

Exemplo:
Considere os vetores u = (0,4) e u = (3,3). Notando que o ponto Q = (3,3) está
sobre a bissetriz do ângulo que o eixo X faz com o eixo Y, vem que 0 = 45° ou
7r V2 r~
d = - radianos. Sendo cos 0 = — , | H | = 3 v 2 , ||u|| = 4 obtém-se

/- V2
(u|y) = 4 x 3V2 x - y = 12.

Voltando ao exemplo do trabalho realizado por uma força F, localizada em P,


deslocando P até P' o trabalho será: T — (F|w—ü), w - OP', 1 t ^ O P , u ^ w—v.
A força Fé o vetor F localizado em P. Logo, se o ângulo de u = PP' com F for
d, obtém-se
T = IIFII Hull cos O.

38
Procuremos, agora, uma expressão do produto escalar, no R 2 , em função das
coordenadas dos vetores dados. Sejam os vetores u = (xi.yt) e v = (x2,yi) do R 2 ,

Fig. 13

De acordo com a Fig. 13 o ângulo \j/ que u faz com v é dado por = 6. Co-
mo o produto escalar é dado por
( u | v ) = | | u | | IIv|| cos,//,
temos que calcular cos \p. De uma conhecida identidade trigonométrica temos:
cos ^ = cos(ífi—d) = cos y cos 0 + sen sen 0.
Da Fig. 13 obtém-se
Xj-O Xj x2— O x2
cos 0 = ; cos w = = ——
d ( f , O) lui d(Q,0) Ivl
yI O y, y2 O y2
sen 0 = = — : sen <p = = — •
d{P,0) Hu» d(Q,0) Ivl

Lôga,
Xi x2 y J y2 x^i+yxyi
cos
^ n,-n ' u..m
Hull « IMI -Hull ' n.,n
it.,m INI Hull INI '
donde
(xtx2+yiy2)
(u\v)= Hull IMI cos * = Hull Hvll — | | M | | | | t ) | | ,

ou seja,
(u|v) = xix2 +yiy2.

39
Notando que, da expressão de cos ip dada por
xi x 2 +yxy 2
COS
*= IMI 1 . 1 '
obtém-se que
Xix2 + yxy2 = ||u|| MI cos
concluímos que as expressões para o produto escalar, no R 2 , dadas por
=
llull M cos \l>
(u\v) = XiX2 +yty2
são equivalentes. Adotaremos a representação em função das coordenadas dos ve-
tores u e v como motivação para sua generalização ao R" por ser de mais fácil ma-
nejo nas demonstrações das propriedades. Posteriormente, reencontra-se a defini-
ção do produto escalar em função do co-seno.

Definição 5:
Dados dois vetfires, do R", u = {xux2,x3,...,xn), v = (yuy2,y3,...,yn) de-
nomina-se» produto e s c a l a d e u com v, representando-o por (u | D), ao número real

(ultO^Xj.y, +x2y2 + x3y3 +...+x„y„.

Propriedades:
As propriedades são conseqüências simples das de adição e multiplicação de nú-
meros reais.
1) (á|.o + w) = (u|i>) + (u|w)
(u + v I w) = (u I w)+ (d |w)
Esta propriedade nos diz que o produto escalar é aditivo em relação aos primei-
ro e segundo fatores.
2) (Xu|p) = (u|Xi>) = X(u|i;) para todo número real X.
Esta nos diz que o produto escalar é homogêneo em relação aos seus fatores.

Observação:
Uma função numérica, de duas variáveis, definida no R", isto é, w = f ( u , v )
com u . e v pertencentes ao R" e w pertencente a R, diz-se bilinear quando ela for
aditiva em u e em v e homogênea nas duas variáveis. Conclui-se das Propriedades
1 e 2 do produto escalar que ele é uma função bilinear definida no R n .
• 3) («!») = (i;|a),
isto é, o produto escalar é uma função simétrica.
4) (v|v) > 0 e (t>|i>) = 0 se, e somente se, v = 0.
Esta propriedade nos diz que o produto escalar é uma função não negativa,

40
quando calculada nos pares de vetores, constituídos do mesmo vetor. Mais precisa-
mente, (n|v) é um número red positivo ou zero, ocorrendo o valor zero apenas
quando o vetor v for o vetor nuk> do R".

Exemplo:
Calcule o produto escalar dos vetores u, v nos casos seguintes:
a) « = (1,2,3), v = (3,2,1)
Tem-se: (u|i>)= 1 - 3 + 2 - 2 + 3-1 = 10
b) « = (3,4,0,6), v = (0,0,5,0)
(u|u) = 3 - 0 + 4 - 0 + 0 - 5 + 6 - 0) = 0

c) « =(1,2,3,...,/J), =

Resulta que:

(u|i>) = 1-1 + 2 - | + 3 - | + . . . + n - ^ = 1 + 1 + ... + l = n .

A seguir, definiremos comprimento ou norma de um vetor do R n , bem comó


ângulo entre dois vetores, reencontrando a expressão do produto escalar em função
do co-seno. Daí obteremos, de modo natural, os conceitos de perpendicularismos
ou ortogonalidade de dois vetores.

Definição 6:
Denomina-se norma de um vetor u = (xi,x2,...,xn) do R" ao número real
positivo ou nulo, indicado por ||«|| e definido por
Hu|| = (*; +x\ +x23+...+x2n)m.
£ evidente, da definição, que l|u|| = 0 somente no caso de ser u — 0, isto é,
u = (0,0,0,.. ., 0). Observamos, tàmbém, que a norma de u pode ser escrita como

||K|| = + V ( ü | ü )

Exemplo:
Calcule a norma de u nos seguintes casos:
a) « = (1,2,3).
Tem-se [|u|| = ( l 2 + 22 + 3 2 ) 1 / 2 = + V Ï 4 .
b ) « = (l,2,3 »)
||«|| = (1 + 2 + 3 2 + . . . + « 2 ) I / 2 = [ 76 « ( n + l)(2w + l)] 1 / 2 .
2 2

Frapmsição 3:
Dados dois vetores u e v do R", vale a seguinte desigualdade
l(«l»)l<B«H llfll-
Demonstração:
Iniciaremos observando que dados dois números reais a e b tem-se (a-b)2 > 0,
Desenvolvendo o quadrado dessa diferença segue-se que:
2 ab<a2 + b2.
Consideremos os vetores do R", não nulos, U — (£J, (J2, • • •, %„ ) e T> = (T?J ,T)2 , • • • )
e os números reais

= IS/I _ Ifyj

Da desigualdade elementar, acima deduzida, conclui-se que

!M Jüd J L JíL
2IIm|| ' INI <
ll«ll a +
INI 2 '
Adicionando membro a membro de í = 1,2,... até i = n e observando que no
segundo membro obtém-se o número dois porque tem-se:

i L + J L + + i L = m ! = 1
II"» 2 ll«ll2 '" Hull2 NI1
e
111,112
A . + jiL + I ^ -1
2 2 2
M IMI "' |MI IMP
Logo, resulta que :
Itillr»,! , 1 ^ 1 t

IMIIMI llullllvll "' Hull


após dividir ambos os membros por dois.
Da última desigualdade obtém-se:
l?il|î7il + l b l l n 2 l + ... + l l „ l | T î „ l < M l l l d l
ou
IÉ1ÎÎ1 + h V 2 + .. • + {„»?„ K I M I I M I
de onde se conclui que:
|(u|v)|<||u||||t;||
provando a proposição.

Observação:
Supusemos uev não nulos para o argumento usado na proposição. No entanto,
s e u e u são nulos, vale o sinal de igualdade, continuando a valer a proposição. Outro
caso que vale a pena considerar é quando uev são linearmente depeifdentes. Neste
caso, também vale o sinal de igualdade como é fácil perceber. A desigualdade da

42
Proposição 3 denomina-se desigualdade de Cauchy-Schwartz. Dela resulta, no caso
de vetores u e v não nulos, que :

Hull II vil
ou
(ü|iO
- K — - < +1.
Hull INI
Do fato de o número (u\v)/||u|| || v|| estar no segmento [— 1, + 1 ] conclui-se que
existe um ângulo 0 tal que
(«|v)
cos 0 =
Hull Hell
donde
( « | v ) = | | « | | llvll cos 0.
Reencontra-se, assim, a expressão do produto escalar que havíamos definido
noR2.
Uma desigualdade de uso freqüente em Geometria, denominada desigualdade
de Minkowski, é estabelecida pela proposição seguinte:

Proposição 4:
Dados dois vetores do R", u e v, tem-se :
H I I + B I K M + IMI.

Demonstração:
Da definição de norma e propriedades do produto escalar resulta:
||u+v|| 2 = ( u + v | u + v ) = (u|0) + 2(u|v) + Olv).
Usando a dificuldade de Cauchy-Schwartz no segundo termo do segundo mem-
bro, obtém-se:
||u + v||2 < Hull2 + 2||u|| llvll + Ibll 2 = (Hull + llvll) 2 ,
isto é,
I I « + v | | < ||"H + llvll
provando a proposição.
A noção de perpendicularismo de vetores é de uso freqüente em Geometria
como veremos nas aplicações. Por essa razão, passaremos a analisá-la agora. Come-
çaremos com a definição seguinte:

Definição 7t
Diz-se que dois vetores, não nulos, são perpendiculares ou ortogonais quando

43
seu produto escalar for nulo. Um vetor u diz-se unitário quando sua norma for igual
a um. r\
1 U 1 a l U M
K_uV o ' ^ -
Exemplo 1:
Considere os vetores« = (1,3,4,0); v = (-4,0,1,3). Tem-se:
(« |D) = 1 • (—4) + 1 x 4 = 0. 7T

Como (u |v) = ||«|| ||j;|| • cos 0 => cos 0 = 0 => 6 = — . Logo « e u são perpendiculares.

Exemplo 2:
Os vetores ex = (1,0); e2 = (0,1) do R 2 são unitários e perpendiculares. De
modo análogo, os vetores ex =(1,0,0), e 2 =(0,1,0) e e3 =(0,0,1) do R 3 são
dois a dois perpendiculares e unitários. De um modo geral, os vetores e f = (0,0,...,
1,0,.,., 0) do R", que possuem 1 na z'-ésima coordenada e 0 nas restantes, são dois a
dois perpendiculares e unitários, isto é, são ortogonais e normais ou, como se costu-
ma dizer, são ortonormais.
Retornemos ao estudo das bases no R". Considerando um vetor « = (i- 1; £ 2 )
do R 2 pode-se escrever « sob a forma
« = fr(1.0) + fe(0,l)
ou, usando a notação do Exercício 2, obtém-se :
" = Siei+£2e2.
Os vetores ex, e 2 são linearmente independentes no R 2 e todo vetor « do R 2 es-
creve-se como combinação linear de e t e e 2 . Logo ex, e 2 são uma base d o R 2 . Sendo
elt e2 vetores ortogonais e normais dizemos que eles formam uma base ortonormal
do R 2 . Argumento análogo nos conduz à mesma conclusão no R 3 . Seja u um vetor
do R 3 , « = (£,,£;,,£ 3 ). Tem-se:
« ^ ki 0 , 0 , 0 ) + & (0,1,0) + S3 (0,0,1),
ou seja,

Os vetores et, e2, e3 no R 3 são linearmente independentes e geram o R 3 . Eles


são, portanto, uma base do R 3 . Sendo et, e2, e3 normais e ortogonais dois a dois,
a base \ e i , e 2 , e 3 [ denomina-se uma base ortonormal do R 3 .
Generalizando para o R", conclui-se, por um argumento inteiramente análo-
go, que os vetores í?! = (1,0,0,... ,0), e 2 = (0,1,0 0) e „ _ , = (0,0,.. .1,0),
en = (0,0,...,0,1) formam uma base ortonormal do R".
Observe que, dado um vetor não nulo « do R", é sempre possível transformar
« em um vetor unitário paralelo a u. Para isto é suficiente dividir « por sua norma,
M N

isto é, considerar o vetor v = . Denomina-se uma direção por um ponto do R ,


um vetor unitário localizado neste ponto. Por exemplo, considere o ponto (1,2,3)

44
do R 3 . Uma direção por (1,2,3) é um vetor unitário qualquer v localizado em
(1,2,3). O vetor v — (a-l)ei +(b—2)e2 + (c—3)e 3 é um vetor localizado em
(1,2,3) e o vetor unitário t>/IMI é uma direção por (1,2,3). Dado um vetor u do R",
o vetor u/||u|| denomina-se direção de u. Vejamos, para concluir esta seção, a no-
ção de projeção de um vetor numa direção, noção esta de grande utilidade nas apli-
cações dos vetores à Geometria e à Física.
Usando sempre o processo de motivar as definições com o estudo do caso intui- .
tivo do R 2 , consideremos o vetor u localizado em P e uma reta r também do plano
R 2 , como mostra a Fig. 14.

P' Q' w r

Fig. 14

Pela origem P e extremidade Q do vetor u tracemos as retas perpendiculares à


reta r, s e s'. Os pontos P', Q' sobre r. denominam-se projeções dos pontos Pt Q
sobre r. O segmento P'Q' chama-se projeção do vetor u sobre r. Vejamos como re-
lacionar a projeção P'Q' com o vetor u. Considere sobre a reta r uma direção w,
isto é, um vetor unitário como mostra a Fig. 14. Assim, se a for o ângulo entre os
vetores w e «, do triângulo retângulo com vértices P, Q e R, obtém-se:

Diz-se que P'Q' é a projeção do vetor u sobre a reta r ou sobre a direção w.


Por outro lado, temos:
( u | w ) = IMI1MI cos fl=P'ß'
porque ||w|| = 1. Representando P'Q' por proj^ u conclui-se que

I P10!«, « = /
Esta noçãó^põde^ser géniralizada ao R 3 , R 4 e, de modo geral, ao R", sendo na-
tural a definição seguinte :

Definição:
Seja v um vetor qualquer do R" e w uma direção no R". Denomina-se proje-
ção de v na direção w ao produto escalar de v por w. ]_£> UL ' ' ^ - a "

45
É evidente que podemos pensar na projeção sobre w como uma função que ao
vetor v do R" associa o vetor (w[w)h' do R". Não adotaremos, no momento, este
ponto de vista. Projeção de um vetor v sobre w será simplesmente (u | w).
Considere um vetor v do R" e seja jel,e2,...,e„ | a base ortonormal já con-
vencionada anteriormente. Assim,
v = xtei + x2e2 + ...+xnen.
Sendo e, uma direção, faz sentido falar em projeção de v sobre e,-. Sendo
(e^ej) - 0 se / =£j e (e^ej) = 1 se / = / , pois esta base é ortonormal, resulta que
(v\eí) = xi.

Conclui-se que a projeção de v na direção et é o número real denominado


componente de u na direção e os números xltx2 xn são chamados compo-
nentes de v na base ,en J do R".

Exercícios
? Xy Que condição devem satisfazer os vetores u e v para que u + v e u - v sejam ortogonais?
"" Verifique que o ângulo entre u + v e u - v independe do ângulo entre u e v.
2. Dados os vetores u = 3e, - 6 e 2 -e3, t ) = e , + 4et - 5e3 e z = 3e, - 4e 2 + 12e 3 ,
calcule projz (u + v).
Prove que os pontos <4(2,2), fl(-l,6), C ( - 5 , 3 ) e £ > ( - 2 , - 1 ) são vértices de um quadrado.
4. Ache o ponto P no eixo Ox tal que sua distância ao ponto Q ( 2 , - 3 ) seja igual a 5. (.0)
, 5. Dados os dois pontos Aí(2,2) e N(5,-2) ache o pontoP, no eixo Ox, tal que o ângulo MPN
/y seja reto. fjCK:..%+. k^-.dLv. - •''/b>0 j
<C-6. Calcule a área do triângulo formado pelos pontos M, N e P do exercício anterior, (^.yv
7. Dados os vetores unitários u, v e w satisfazendo a condição u + v + w = 0, calcule u • v -t-
+ U.W+ w. u onde u. u = (u |i>).
(u|u)
8. Prove que o vetor w = u u é ortogonal ao vetor u. interprete geometricamente no
nun3
caso do R 2 .

^79. Um ponto é eqiiidistante dos pontos 4(3,5) e B(-2,4). A sua distância ao eixo dos y é o
A dobro da distância ao eixo dos x. Ache suas coordenadas. ^
14 7
Resposta:
F P(—, — )
11 11
10. A base de-um triângulo isosceles é um segmento de reta cujas extremidades são os pontos
A (0,0) e 0(8,6). Calcular as coordenadas do vértice C sabendo que a altura relativa ao lado
AB vale 5 unidades de comprimento.
Resposta: c(7,l), <?'(l,-7)
(IH Um quadrado tem lado igual a 12 unidades de comprimento. Calcule a área do triângulo que
^ se obtém ligando um dos vértices aos meios dos outros lados e os meios destes lados entre si.
1
Resposta: 54 unidades de área
C?
Capítulo 2

APLICACÕES
GEOMÉTRICAS
2.1 Produto Vetorial

Uma primeira aplicação que se faz das noções desenvolvidas anteriormente


é o estudo analítico de retas e planos da Geometria Euclidiana, de dimensões dois
e três, isto é, das retas do R 2 e das retas e planos do R 3 . Para facilitar a notação,
os pontos do R 2 serão representados por (x,_y) e os do R 3 por (x,y,z). Os vetores
do R 2 serão indicados por xe\ +ye2, sendo e, = (1,0), e2 =(0,1), e os do R 3
por xet +ye2 + ze3, sendo ex =(1,0,0), e2 = (0,1,0), e3 = (0,0,1). Algumas vezes
usaremos as primeiras letras minúsculas do alfabeto ae, + be2 + ce3 e ae 1+ be2.
As letras gregas a, ß, S,y,...,X,ß etc. representarão, salvo menção explícita em con-
trário, números reais.
í Para facilitar algumas aplicações que pretendemos fazer, introduziremos, ago-
ra, uma outra operação com vetores. Já definimos o produto escalar de dois vetores
do R n e aprendemos que o produto escalar é uma operação que a cada par de veto-
res associa um número real. A operação que vamos introduzir, agora, é uma regra
de composição, chamada produto vetorial, que a cada par de vetores do R 3 associa
um outro vetor do R 3 , isto é, dados os vetores u, v do R 3 queremos associar com
este par de vetores um terceiro vetor que indicaremos por w. Simbolicamente:
(u,v)-+w.
Além disso, a direção do vetor w deve ser perpendicular às direções de w e v.
Como determinar o vetor w? Para isto vamos supor que os vetores uev dados sejam
u = (xi,yi,Zi), v = (x2,y2,z2) e o vetor w, produto vetorial de u por v, a ser de-
terminado seja w = (x3,y3,z3), onde as componentes são na base \elte2,e3 | .
Assim,
u=xle1 +y1e1 + z2e3

v =x2ei +y2e2 + z2e3

w = x3ex +y3e2 +z3e3.


Se w é perpendicular a a e a t i , segue-se que
(w|«) = 0; (w|u) = 0

47
donde
*i*J3 +yiyi +2x23 = 0
*2*3+J'2.>'3 + 2 2 2 3 = 0.

Nossa intenção é expressar x3, y3, z3, as componentes de w, em função das


componentes de u e v dados. O sistema, no entanto, não pode ser resolvido explici-
tamente pois há três incógnitas e apenas duas equações. Todavia, podemos expressar
x3 e y3 em função de z 3 . Para isto procedamos do seguinte modo: multiplicando a
primeira equação por x2 e a segunda p o r x i , obtém-se :
xix2x3 + x2yty3 + x2z1z3 =0

jc,x2x3 +X!y2y3 +Xlz2z3 = 0.


Subtraindo a primeira da segunda, tem-se:
xiy2y3 -x2yty3 = x2z^,-x1z2z3
donde
(xiy2 ~x2yi)y3 =(x2zi -Xiz2)z3,
que pode ser colocada na forma
z
y3 3
(x2zx -xtz2) (xiy2 -x2y,)
Pa mesma maneira, multiplicando a primeira por y 2 e a segunda p o r ^ , e sub-
traindo a segunda da primeira, obtém-se que:
X 5 Z-3
1- = i (**)
iy\22-zxy2) (x^-xrft)
Das igualdades ( * ) e (**), admitindo-se que os denominadores não são nulos,
tem-se:

(yiZ2-21^2) (X2z1-x1z2) (Xiy2-x2y,)


Podemos supor, em virtude destas igualdades, que os três quocientes são iguais
a um número real X 0. Logo
z
*3 y3 3
=X
(yi22-2^2) (x2zi-xlz2) (X!y2-x2yi)
donde:
x3 = X(yiZ2 -z^yi)
y3 = HxiZl-xlz2)
Z3 = Mxiy2-x2y^
onde estamos supondo que pelo menos um dos segundos membros seja diferente de

48
zero*. Assim, ficam determinadas, na base jet,e2,e3 J , as componentes do vetor
procurado w, dependendo estas componentes do parâmetro X. Com o objetivo de
fixar o valor de A e simplificar a expressão de w, consideremos o vetor w' cujas com-
ponentes são as seguintes:

*3 = O1Z2 - Ziy2)
y'i = (x2z1 -xix2)
Zj =(xiy2 -X2y !>,
isto é, teríamos:
w -x3ex +y3e2 + x3e3

w' = x3ex +y'3e2 + z' 3 e 3


e a relação entre w e w' seria dada por:
W = XjCJÍ! + \y'3e2 + Xz 3 e 3 =
= X(*3e1+/3e2 +z'3e3) =
= Xw'.
Sendo w = Xw', concluímos que w e w' são paralelos, logo w' = w tambémé
X
perpendicular aos vetores u e v qualquer que seja o valor de X # 0. No entanto, se
X > 0, w e w' possuem o mesmo sentido e, se X < 0, w e w' terão sentidos contrá-
rios. Portanto, escolher o número real X positivo ou negativo equivale a fixar o sen-
tido de w. Para maior simplicidade, faremos X = + 1 , decorrendo daí que w = w'.
O sentido de w será determinado, geometricamente, de acordo com uma regra prá-
tica, chamada regra do saca-rolhas, que explicaremos a seguir. O vetor w, produto
vetorial de u por u, nesta ordem, será representado pela notação w = u A v. Pode-

Fig. 15 Fig. 16

* Se isto não acontecer então u = av, « e i , ( a # 0 ) e, neste caso, w será o vetor nulo.

49
mos supor u e v localizados no mesmo ponto 0 e a direção de w será a direção da
reta s perpendicular aos vetores u e v , ou seja, perpendicular ao plano definido pelas
direções de u e v. Seja 0, 0 < 0 < n, o ângulo entre as direções de u e de v. Imagi-
nemos que, estando v fixo, o vetor u tenha, em torno do ponto O, um movimento
de rotação tal que o ângulo 6 decresça. Se a ponta de um saca-rolhas, com o mesmo
movimento de u, estiver em O, então esta ponta avançará de modo a se aproximar
do ponto que é a extremidade de w. As Figs. 15 e 16 esclarecem bem a convenção
feita.

Estamos em condições, agora, de dar a seguinte definição:

Definição:
Dados os vetores uev do R 3 , u = (x1,yl,z1), v = (x2,y2,z2), denomina-
se produto vetorial de u por v, nesta ordem, ao vetor w do R 3 , representado por
H> = u A v e dado por w = (x,y,z) onde

x = (y,z2 -z,y2); y = (x2Z! -Xlz2); z = (xjy2 -y!X2).

Uma regra prática para calcular as componentes de u A v é a seguinte: escre-


vemos as componentes de u e v em linhas, a linha de v embaixo da de u. Temos,
assim, duas linhas e três colunas:
xi y1 Zi

X2 y2 Z2
Repetimos, à direita, as duas primeiras colunas obtendo:
xi y1 zi X! yt
x2 y2 ?2 x2 y2
Eliminamos a primeira coluna da esquerda:
y1 Zi Xi yx
y 2 z2 x 2 y 2

A componente x, ou primeira componente, de u A v é obtida da seguinte forma:


"x = produto da primeira componente da linha de cima pela segunda componente
da linha de baixo menos o produto da primeira componente da linha de baixo
pela segunda da linha de cima"
como está indicado abaixo:
y1 zi y1
* =y\Z2 -ziy2
yi z2 X2 y2

Analogamente, calculam-se a segunda e terceira componentes, obtendo:

50
yi zi Xi yi
y = zix2 ~z2xi
y2 Z2 x2 y2

yi Zi Xi y,

^2 z2
X^2 z = Xiy2

O produto vetorial de u por v possui as seguintes propriedades, fáceis de serem


verificadas:
1. u A v = — (v A u)
2. (M + W)AB = UA» + w a i j
3. u Au = v Av = 0
4. (u Au|«) = (« A v\v) = 0 ^
A Propriedade 1 nos diz ser o produto vetorial uma operação não comutativa
e a 4 nos diz ser w = u A v um vetor simultaneamente ortogonal a u e a u .

Exemplo:
Dados os vetores u - (2,1,3) e v = (5,-1,2) achar um vetor unitário ortogonal
a «eu.
Pelo que acabamos de ver, o vetor procurado é dado pelo unitário de w onde
w = « Av. i; t
Temos:
u: 1 3 2 1
v : —1 2 5-1.

donde
jc = 1 -2 —(—1) ••3 = 2 + 3 = 5
>» = 3- 5 - 2 - 2 = 15 —4 = 11
z = 2 • (—!)•— 5 • 1 = —2 — 5 = —7
e
w = «At> = 5ei + 1 1 e2 — 7e 3
||w||2 = 5 2 + I I 2 + 7 2 = 25 + 121 + 49 = 195
||w|| = +VÏ95.
O vetor unitário procurado é, então, dado por
^= 5_ e i 11 c __]_e3
1 2
Ml VÏ95 Vl95 VÏ95

51
Vimos, ao estudar o produto escalar, que podíamos representá-lo de duas ma-
neiras, em função das componentes dos vetores dados ou em função do co-seno
do ângulo entre eles. Também existem, para o produto vetorial, duas representações
equivalentes: uma em função das componentes dos vetores dados, que já obtive-
mos, e outra em função do seno do ângulo entre eles.
Suponha os vetores u = e v - (x2,y2,z2) e w = u Av. Vimos que
w é dado por
w = (yiz2-z1y2)el +(zix2 -z2xt)e2 + (xty2 -x2yi)e3.
Calculemos a norma de w. Tem-se:
INI 2 = 0 i z 2 - z , y 2 ) 2 + ( z l X 2 - z 2 x , ) 2 +(x,>> 2 =
2 2 , 2 2 , 2 2 . 2 2 . 2 2 , 2 2
= xly2 + xiz2 + yxx2 + ylz2 + zxx2 + zxy2 -
-2xxx2y,y2 - lxxx2zyz2 - 2y1y2z,z2.
2 2 2 2 2 2

Somando e subtraindo os termos xx x2, y1y2, zx z2 e reordenando temos:

||W||2 = (x\x\ + *2j2 + x\z\ + y]xl + y\y\ + y\z\ +

+ z\x\ + z\y\ + z\z\) - x\x\ - y\y\ - 2xxx2yxy2 -

- z\z\ - 2xix2ziz2 - 2yiy2z1z2.

0 segundo membro pode ser escrito na forma I


+ z
(*í \)(.xl + y \ +z2> - ( x i x i + y i y i + z i z 2 ) 2
como pode ser verificado efetuando o produto e o quadrado indicados. Logo,

IIHI2 =(x] + y2x +z\)(x\ +y22 + z22)-(xxx2 +y i y t +Z1Z2)2.


As expressões que aparecem entre parênteses podem ser facilmente identifica-
das como sendo quadrados das normas de u e v e produto escalar de u por v, pois

M2 =*î +y\+z] \\vtf =x\+y\+z\


(u|i;) = jc1ac2 + yxy2 + zxz2.
Assim,
||w|| 2 = llwll2 ||v|| 2 — (ujt)) 2 .

Substituindo (u | v)2 por ||u|| 2 IMI2 cos2 6 segue-se que


llwll2 = M 2
IMI2 - Hull2 llvll2 cos 2 0
= llu||2 l|fll 2 (l - c o s 2 0 )
= ||u|| 2 IMI2 sen 2 0,
ou seja,
IMI = Hull ||i>ll sen 0 O<0<tr.

52
Com esta expressão para a norma de w podemos dar a seguinte definição alter-
nativa para o produto vetorial:

Definição:
Dados ií, e do R 3 , o produto vetorial de u por v, nesta ordem, é um vetor w do
3
R , representado por w = u Av que possui as seguintes propriedades:
a) INI = INI IMI sen 0, 0 < 9 < n, 0 o ângulo entre as direções de u e v.
b) A direção de w é a da perpendicular às direções de u e v.
c) O sentido de w é dado pela regra prática do saca-rolhas.

Exemplo:
Calcular o produto vetorial dos vetores ex = (1,0,0) e e2 = (0,1,0).
Seja w = e i A e2. Já vimos que os vetores ex e e 2 são ortonormais, isto é, são
ortogonais e unitários. Assim, \\ex || = ||e21| = 1 e o ângulo entre eles é <p = n/2. Daí
segue que: IMI = tl^i ti lk 2 || sen ^ = 1 • 1 • 1 = 1.
A direção de w é a da perpendicular às direções de e.x e e2 que coincide com a
do eixo dos z. Sendo w = et A e2 um vetor unitário e com direção do eixo dos z
podemos identificá-lo com o vetor e3 ou com — e3. Usando a regra prática do saca-
rolhas para determinar seu sentido concluímos que coincide com o sentido de e3.
Podemos, portanto, identificar w =? ex A e2 com e3. De maneira análoga, teríamos:
e2Ae3=e^, e3Ae1=e^> e2Ae1=-e3 etc.
Munidos das noções de produto escalar e vetorial podemos tratar e resolver,
de maneira simples e direta, os chamados problemas clássicos da Geometria Analí-
tica, problemas métricos e de posição.

Exercícios
1. Dados os pontos A (1,2,3), 5(2,0,1), C(0,l,4) ache um vetor unitário perpendicular ao pla-
no determinado pelos t^ês pontos.
2. Que condições devem satisfazer os vetores us v para que os vetores w = u¥ v e z = u - v
sejam colineares. M ^ - i y — c 7
3. Mostre que se u + v + w = 0 então • _
u x w = w x ti = ti x u onde u x w = u A w. r

7 Calcule a área do paralelogramo determinado pelos pontos 4(1,1,1), 5(5,1,1), C(7,3,l) e

Z
22 Planos e Retas
A seguir faremos a descrição de retas no R 2 , planos e retas no R 3 , e resolvere-
mos alguns problemas chamados problemas clássicos da Geometria Analítica. Fare-
mos uso de conceitos até agora introduzidos, tais como vetores linearmente depen-
dentes, produto escalar, projeção de um vetor numa direção dada e produto veto-
rial de dois vetores do R 3 . Veremos que o tratamento destes problemas se simpli-

53
fica consideravelmente com o uso destes conceitos. Recordamos que identificamos
os pontos do R" com vetores localizados na origem e, do mesmo modo, identifica-
mos o vetor u = PQ, localizado em P e extremidade Q, com o vetor 0(Q -P) loca-
lizado na origem, isto é, u = OQ - OP. Os vetores u e v são paralelos, ou seja,
possuem a mesma direção se existe um número real X 0 tal que v = X«, o que
equivale, também, a dizer que u e v são linearmente dependentes uma vez que
It; —Xu = 0. Recordamos ainda que, dado o vetor v, a direção de v é dada pelo
vetor v/ IId II que representaremos por v. É evidente que ïùl = 1. Após relembrar es-
tes fatos passemos ao estudo de retas e planos iniciando com a descrição de retas no
plano.

2.3 Retas no R 2
Suponhamos que, dado um ponto P0 de R 2 e uma direção v, seja pedido achar
a equação da reta r que passa por P0 e tenha direção v. Para resolver o problema se-
ja P um ponto qualquer de r. O vetor u — u0 deve ter a direção v, pois queremos
que r tenha direção v. Veja a Fig. 17. .->
(X -ÁJ^ : ?PC

Fig. 17

Decorre daí que para cada u = OP da reta eítiste um número real X tal que
u — u 0 = Xv
ou
u - u0 + Xv
chamada a equação vetorial da reta.

54
Se
v = (a',b') = a'el + b'e2
" = (x,y) = xe1 + ye 2

obteremos, a partir da equação vetorial, que:


xex + ye2 =xQel +y0e2 + X(a'e, + b'e2)

ou
(x - xQ - Xa')e! + (y -y0 - \b')e2 = 0.
Como ex, e2 são linearmente independentes em R 2 , decorre que:
x —x0 + Ka'

! y -yo + Aô' XeR

que sãoas equações paramétricas, sendo X o parâmetro. Se a' 0, b' 0 as equa-


ções acima podem ser escritas na forma:
x-x0 y-y o
a' b'

denominadas equações simétricas. gn


Das equações simétricas obtém-se :
b'(x -x0) = a'(y -y0)

ou
b'x - a'y + (a'y o - b'x0 ) = 0.
Fazendo b' = a, —a' — b,c = a'y0 — b'x0 resulta que
ax + by + c = 0

denominada equaçãageraLdajela-^-
Supondo b 0 podemos escrever:
a c
= x
y -b ~b

e pondo m = e k = —^ segue-se que

i^y = mx + k
conhecida como equagcuMuzida^a_reta.
Os parâmetros m e k que aparecem na equação reduzida da reta possuem um
significado geométrico simples. De fato, vamos supor que a reta r passa pelos pontos
P e Q com P = (x',y') e ß = (x",y") como na Fig. 18 e seja o ponto R = (x",y').
Logo, (w - u) = (x" - x', 0), (v - w) = (0,y" - y).

55
Como a reta r passa pelos pontos PeQ,aà duas relações seguintes são satisfeitas:
y' = mx' + k
y" = mx"+k
donde
y" -y' = m(x"-x'),
ou seja,

que é igual à tangente do â n g u l o j ^ u e a reta faz com o semi-eixo positivo x, isto é,


f ^ ^ t a n g n t e ^ d a i n g ^ o a entre a d i r e t o r da reta e o vetor de base e\. O parâ-
metro m é denominado coeficiente angular da reta r e é uma medida da inclinação
da reta em relação ao eixo dos x.
Se fizermos x = 0 na equação reduzida da reta obteremos = k. Logo, o pon-
to z = (0,fc) é o ponto de interseção de r com o eixo dos y e |/c| é a distância des-
te ponto à origem.
Suponha, agora, uma reta r que passa pelo ponto P — (x',y% tem direção v e
está representada pela sua equação geral:
ax + by + c = 0.
Se Q = (x",y") é um ponto qualquer da reta r, é claro que PQ = Aß com
PQ = Q-P = (x" — x')eI +(y"-y')et. Como P e Q são pontos de r, temos
também:
ax' + by' + c = 0
ax" + by" + c = 0

56
e subtraindo, membro a membro, a primeira da segunda equação vem:
a{x"-x,) + b(y"-y')=0.
A expressão acima pode ser identificada com o produto escalar do vetor
PQ = (x"-x')ei + (y"—y')e2 com o vetor n=aex + be2, Fazendo esta iden-
tificação obtemos:
(n \PQ) = a{x" - x') + b(y"-y') = 0
qualquer que seja o ponto Q = (x",y") da reta. Concluímos daí que se a reta es-
tiver representada pela sua equação geral
ax + by + c = 0,
os números a, b são as componentes de um vetor « perpendicular à direção de r, isto
é, perpendicular ao vetor Xv para todo X real.

Distância de um pontoa uma re^


Sejam dados a reta r, representada pela equação geral, /
ax + by+c « 0, v - ^ <- ^ %
e P0, um ponto não pertencente à reta.

Determinar a distância d do ponto P 0 à reta dada. Pelo que vimos acima a dire-

ção da normal a ré dada por ri = — o n d e n = ae, + be7. Considere P um ponto


llKil
qualquer de r e chame 0 o ângulo entre a direção de ( w - u ) e ri. A distância d pro-
curada é expressa por:
d = ||(w-u)|| |cos0| = |ll(w-u)||cos0|,
ou seja,
</=|((w-«)|ií)l.
Geometricamente, a situação seria a da Fig. 19. ^ - _^

Fig. 19

57
Exercícios
/ l j Ache a equação da reta que passa pelo ponto / > ( 4 , - l ) e forma um ângulo a = 135° com o
sentido positivo do eixo dos x.
Resposta: x + y - 3 = 0
2. Qual é a equação da reta perpendicular à reta 2x - 3y + 7 = 0 e que passa pelo ponto mé-
dio do segmento, da reta dada, compreendido entre os eixos coordenados.
Resposta: 36x + 24 v + 35 = 0
3. /O ponto P(5,4) é o ponto de interseção de duas retas rl e . A reta rl é paralela e r1 é per-
pendicular à retar cuja equação é 2x + 3y - 6 = 0. Ache as equações de rl e r%. r

Aposta: % + = *

] 4 j Encontre
tre as equações
i das retas que passam pelo ponto ^(5,10) e distam 10 unid. da origem.
iy -AO = 0
Resposta:^ .o = o

5. Ache as equ
equações das bissetrizes dos ângulos formados pelas retas 4x - 3y - 1 = 0 e
" 3x-4y ++ 22 = 0. p
ilx - ly + 1 = 0
Resposta: \ » »
(x + y - 3 = 0
6. a.) Ache a equação da reta que passa pelo ponto de interseção das retas x-Ç-3y + 2 = 0,
Sx +.6y - 4 = 0 eé paralela à reta 4x+ y + 7 = 0.
b) Resolva sem achar o ponto de interseção.
Resposta: 12* + 3^f + 2 = 0 ^ -v^
7. Ache a equação da reta que determina segmentos iguais sobre os eixos coordenados corn
as condições de que o segmento da reta compreendido entre os eixos tenha comprimento
igual a se P(x,y) é um ponto do segmento então xy > 0.
(x + y - 5 = 0
Resposta: <
(jc+.F + 5 = 0
8. Para que valor de m as retas lx - 2y - S = 0, x + 7 > > - 8 = 0 e mx + my - 8 = 0 se in-
terceptam no mesmo ponto?
Resposta:m = 4
9. Calcule a distância entre as retas 2x - 3y + 4 = 0 e 4x - 6y + 9 = 0.

Resposta: a—
26
10. Dadas as retas Xx + + 1 = 0 e 2x + (X - l),y + 5 = 0 determine X para que:
a) as retas sejam paralelas;
b) sejam perpendiculares;
ir
c) tormem um angulo de — rd.

2.4 Retas e Planos no R3


2.4.1 Retas no R3
Suponhamos dados no R 3 um ponto P0 e uma direção v. Nosso objetivo é
descrever os pontos da reta r que possui a direção v e passa pelo ponto P0.

58,
Seja, agora, P um ponto qualquer da reta, P distinto de P0, de acordo com

Se a reta r deve ter a direção v, então os vetores £ e (w - u 0 ) , localizado em


P0 e de extremidade P, são paralelos, isto é, existe, para cada u nestas condições,
um número real X. tal que
(u-u0) = Xv
ou, equivalentemente:
u = u0 +Xv j
com u, u0 localizados na origem. A expressão obtida chama-se equação vetorial
da reta r que passa por u 0 e tem a direção v.
Obteremos, agora, para a reta r, uma equação equivalente à anterior, porém, em
função das componentes de u0,u e v. Para isto, sejam:
= (x0,y0,z0) = x0el +y0e2 +z0e 3

u =(x,y,z) = xe1 +ye2 +ze3


v =(a,b,c) = aey + be2 + ce3
De u = u0 + Xv vem,
xex +ye2 + ze3 = x0et + + Xaex + Xbe2 + Xce3
xex +ye2 + ze3 —x0ex —y0e2 -zQe3 - Xaex -Xbe2 - Xce3 = 0

59
donde
(x -x0 - Xa)ei + ( > - ^ 0 - Xò)e2 + (z - z 0 - Xc)e3 = 0.

Como e j . e 2 . e 3 são linearmente independentes no R 3 , a combinarão linear nu-


la acima só é possível se os coeficientes forem todos nulos. Assim, concluímos que
X— xQ — Xa = 0; y - j > 0 — X ô = Q; z — z 0 — Xc = 0
ou ainda
x = x0 + Xa
(*) y = y 0 + *b xeR
z = z0 + Xc
Quando X percorre todos os valores em R obtemos todos os pontos u = (x,y,z)
da reta r e notamos que quando X = 0 o ponto correspondente é o ponto u = «0 —
=
(*o » y o, z o)- Se X > 0 os pontos obtidos estão à direita de u0 e se X < 0 estarão à
esquerda de u0.
As três equações (* ) acima são chamadas equações paramétricas da reta r, sen-
do esta denominação devida ao fato de que x, y, z são funções do número real X
chamado parâmetro.
Podemos eliminar, nas equações paramétricas, o parâmetro X. Supondo a,b,
e c não nulos temos
* - * o _ vX,
__ y -y0
— _ vX, z—- z 0 _ .

donde decorre que


*o y—yo z—z^)

que são chamaàãs equações simétricas da reta r. É importante saber identificar os


parâmetros que determinam a direção de r tanto nas equações simétricas como nas
paramétricas.

Exemplo:
Dados o ponto u0 = (1,3,5) e o vetor v = (1,3,2) achar as equações vetorial,
paramétricas e simétricas da reta r que contém u0 e possui a direção de v.
A direção de v é calculada facilmente e é dada por :
v le! + 3e 2 + 2e3 1 3 2
1 2
II "II Vl + 9 + 4 VH* ' Vi** VÍ4Í3

donde obtém-se:
1 , 3 2
a = -J= ; b = —==\ c=-p=-
V14 V14 V14

60
Como u ~ u0 + \v segue-se que :
X 3X 2X
xei +ye2 + z e 3 = l e , + 3e 2 + 5e 3 +—— e, + — : e 2 + —=z e3
V14 V14 V14
que é a equação vetorial da reta procurada, com os vetores expressos segundo a ba-
se | e 1 , e 2 , e 3 | . A equação vetorial poderiá ser representada, evidentemente, por
X 3X 2X
(x,y,z) = (1,3,5) + ( — . -—).
V Î T y/Ï4 y/Ï4

Escrevendo todos os termos da equação vetorial no primeiro membro resulta


que:
X 3X 2X
(x-l — )e, + C - 3 —)e2+(z-5 —)e3 = 0
V14 V14 V14
donde

x = l +—kx
V14

V14
2
z = 5+ — X
v 14
que são as equações paramétricas.
Destas obtêm-se diretamente as equações simétricas
x - l y —3 _ z—5
1/VÏ4 3/VÏ4 2/VÏ4
Se dividirmos todos os termos por V T Í , as três igualdades acima continuam
verdadeiras e tem-se:
x-l _ y -3 _ z- 5
1 3 2

o que nos mostra que poderíamos ter trabalhado diretamente com t>, não sendo
necessário achar sua direção.
Para passarmos das equações simétricas para as paramétricas é suficiente notar
que os três termos, na equação simétrica, são iguais a uma constante se o ponto
u = (x,y,z) pertence a r. Façamos essa constante igual a X. Logo,

x - l y —3 z-5 x e R
1 3 .
donde tem-se:

61
ou
JC= 1 + X
,V = 3 + 3X XGR
z = 5 + 2X
que sao equações paramétricas equivalentes às obtidas anteriormente.
A situação geométrica do problema é a indicada na Fig. 21.

Fig. 21

2.4.2 Planos no R 3
Passemos, agora, à representação de um plano no R 3 . Suponhamos dados três
pontos P0,Pe Q não situados sobre a mesma reta e seja n o plano determinado
por estes três pontos. A situação é a representada na Fig. 22.

62
Fig. 22

Os vetores w = P0P, v = P0Q, ambos localizados em P0, são linearmente


independentes, pois os três pontos P0,Pe Q não estão alinhados. Logo, dado outro
ponto R qualquer do plano ir, segue-se que o vetor (u — u0) = P0R pode ser repre-
sentado como A A A
- 'j-f .
( u - u o ) = as+0f a , ß e R,
onde s e t são as direções de w e d respectivamente. Sendo R um ponto qualquer do
plano n, concluímos que se ir é o plano determinado pelos p o n t o s P o , P e Q então
qualquer outro ponto de n satisfaz a relação acima. Identificando os vetores com
seus correspondentes na origem temos:
(u-u0) = ats + ßt
ou
u=u0+as+ßt a,0€R.

Esta equação do plano n chama-se equação vetorial de ir. Em geral, nas aplica-
ções, trabalhamos com uma outra equação denominada equação geral do plano que
obteremos a seguir. Podemos achar, facilmente, a direção da normal, ou seja, a dire-
ção do vetor ortogonal ao plano n. De fato, basta tomar n — (w A v) = (w 0 - u0) A
A (v 0 - «o)- Sabemos que n é ortogonal a (u>0 - u 0 ) e a ( % - u0), logo será orto-
gonal a todo vetor (u - u0), sendo u um ponto qualquer de ir, o que equivale a

dizer que n é ortogonal a TI. Seja n = e calculemos o produto escalar de n com


INI
(u - Uo). Como (u - u0) = as + ßt obtemos:

63
( ( « - U O ) I « ) = (<*i|A) + ( ß t \ n ) = A ( S | " ) +

Mas ri é ortogonal a s e a í , donde (s\A) = 0 e (t\n) = 0. Assim,

((a-«o)|n) = 0

ou
(u\ri) = («oi«)-

O segundo membro da relação acima é uma constante, pois ri pode ser calcula-
do e u0 é dado. Façamos(w 0 l") = — d, u=xei+ye2+ze3, ri-aei + be2 +ce3.
Segue-se que
(u I») = ax + by + cz = («oi«)
donde

que é denominada equação geral do plano. Observemos que os coeficientes de x, y


e z na equação geral do plano são as componentes do vetor normal ri.

Exemplo:
Achar a equação do plano n determinado pelos pontos P0 = ( 1,0,0), ßo = (0,l,0)
e * o = (0,0,1).
Vamos calcular, inicialmente, o unitário normal ri. Temos:
"o = (Qo-Po) = ( - 1 , 1 , 0 ) = - l e i + le2 + 0e3

v0 =(R0- Po) = (-1,0,1) =~lel + 0e2 + le3

en = (u- uo) A(v - u0). Usando a regra prática vista anteriormente tem-se:
1, 0, -1, 1

0, 1, -1, 0

donde
n = lei + le2 + le3.

Logo,
1
'n=lL =-L e i +_le 2 +_Le,
IMI Vi y/3 V§

ou seja
1
a=b=c= —
V3
Assim, a equação procurada será:

64
Para determinar d usamos o fato de que PQ é um ponto do plano e, portanto,
suas coordenadas devem satisfazer a equação encontrada. Resulta que
1 1 1
— • 1+ — • 0 + • 0 + úf = 0
V3 vT Vã
ou

Finalmente, tem-se a equação procurada:


J_x + J_ ( 1 1
Vi Vi Vi VT
Multiplicando todos os termos por V3 obtém-se uma equação equivalente mais
simples:
x+y+z- 1 = 0.
Notamos que poderíamos ter feito os cálculos com n em vez de n. Notamos,
também, que no cálculo de d poderíamos ter usado Q0 ou R0, pois ambos perten-
cem ao plano. A situação geométrica do problema é a indicada na Fig. 23. Sugeri-
mos ao aluno interpretar, geometricamente, se isto for possível, a constante d da
equação geral do plano.

Fig. 23

A seguir resolveremos alguns dos chamados problemas clássicos da Geometria.


Deixaremos outros para serem resolvidos como exercícios.

65
2.4.3 Distância de um ponto a uma reta
Sejam dados uma reta r e um ponto i\> tal que P0 não seja ponto da reta.
Pede-se encontrar a distância de P 0 à reta r. Lembramos, mais uma vez, que estamos
identificando os pontos do R 3 com os vetores localizados na origem. Dada a reta r
conhecemos sua direção. Seja v esta direção e w um ponto qualquer de r. Obser-
vando a Fig. 24 vemos que d, a distância procurada, é o cateto de um triângulo
retângulo do qual a norma do vetor QP0 é o comprimento da hipotenusa.

Fig. 24

Usando relações métricas conhecidas entre elementos de triângulo retângulo


temos:
d = |||(u — w) H sen 0|
onde 0 é o ângulo entre as direções de u — w e v . Como ||í|| = 1 podemos escrever:
d = IIK" — w)|| ||ß|j sen 0|.
Mas a expressão acima é, precisamente, o módulo do produto vetorial do vetor
(u — w) por v ou do vetor QP0 por v. Logo, a expressão da distância d é dada por
d= | | ( m - W ) Atf||.

2.4.4 Distância de um ponto a um plano


Sejam, agora, um plano ir e um ponto P0 fora do plano. Pede-se a distância
de P0 a 7T.
O plano w sendo dado, conhecemos a direção ri do vetor perpendicular a TS.
Suponha Q um ponto qualquer do plano it. Fica, assim, determinado um vetor

66
QP0 = u — w tal que a distância h procurada é o valor absoluto da projeção orto-
gonal de u — w na direção h, de acordo com a Fig. 25, isto é,
h = lil(w—w)tl cos SP|
ou
A = |(u-w)|Ä)|
que dá a resposta do problema.

Fig. 25

Suponhamos que o plano ir seja representado pela equação


ax + by + cz + d = 0
e o ponto P0 seja P0 = (xo,yo>zo)- O ponto Q, do plano, pode ser obtido fazendo,
por exemplo, x = 0 e >> = 0 na equação do plano. Obtém-se que 0 + 0 + cz+d=0,

ou seja, 2 = . Temos, então, w = (0,0,— Logo

Como

n = aet + be2 + ce 3
segue-se que

n = ae 1 + be + ce
Va 2 + 2 b2+c2 3•
67
Dax

ou
+ by o + cz0 + d
((M-uOI») =
\V + b2 + c2
donde
axo + by o + cz0 + d
h =
V a 2 + b2 + c 2
que é a expressão conhecida para a distância do ponto u0(x0,y0,z0) ao plano
Tf : ax + by + cz + d — 0.

2.4.5 Área de um triângulo


Imaginemos três pontos distintos P, Q ER não pertencentes à mesma reta. Estes
pontos determinam um triângulo contido, evidentemente, no plano definido pelos
pontos. Queremos calcular sua área.
Consideremos como base do triângulo o lado que contém o vetor PQ = w—u
e chamemos h a altura relativa a este lado. Veja Fig. 26.

Fig. 26

Como a medida da área A procurada é expressa por — (base) (altura), temos


1
-<4 = 2 II (w—w) ||A.

Porém, h pode ser calculado como, por exemplo,


h = | | l ( v - u ) Hsen^l.

68
Logo,

/l = - | l l l O v - « ) | | ||(t> u)|| s e M ,

ou seja,

Desta expressão concluímos que a norma do produto vetorial de dois vetores


dados é, numericamente, igual á área do paralelogramo cujos lados são os vetores
dados.

Z.4.6 Distância entre duas retas reversas


Suponhamos dadas duas-retas m e n , não paralelas e não concorrentes, repre-
sentadas pelas equações:
m : u = u0 + \Ê
n : v = v0 + Xí
e imaginemos que a situação seja a da Fig. 27. Queremos determinar a distância en-
tre m e n.
A distância procurada deve ser medida sobre o segmento da perpendicular a
ambas as retas men. A direção da perpendicular é dada por n = t A s. De acordo
com a Fig. 27 o vetor QOPQ está localizado em Q0, ponto de h, e possui extremida-
de PQ, ponto de m.
Logo, a distância procurada obtém-se calculando a projeção de (u0 — v0) na di-
reção n, ou seja, chamando d a distância procurada:
d = l((«o - t'o)l«)l = l((Ko - v0)U* A s)|.
Fazendo u0 — v0 = w0 obtém-se que a distância entre as duas retas reversas
mené dada pelo valor absoluto do produto escalar de w 0 por i A s que, por razões
óbvias, é denominado produto misto. , >y
Exercícios -
' x-l J

1 j/ Escreva as equações vetorial e paramétricas da reta —-— = y — - z . V. " " j

x = 1 + 2\ í u = u„ + Xv

Í y = A- \u = (x,y,z), «„ = (1,0,0)
z = - X vetorial e paramétricas
2. Escreva as equações ( v = dos
(2,1,-1)
eixos coordenados.
x—1 v —2 z —3 x +S y +6 z-27
3. As equações = - — = e = — 5 - = —^7-24
representam a mesma reta?
3 4 -12 -6 -8
Justifique.
x -1 y z + 1
. 4. Dados a reta =— e o ponto Af(l, 1,1), encontrar o ponto N simétrico de M
2 3 1
em relação à reta dada.
9 4 22
Resposta: N(—, —, )
7 7 7
x y z
Determine o valor de ß para que as retas r:— = —- = — e s:x = 3X — l,y = — 5,z = X
sejam concorrentes e ache o ponto de interseção.
Resposta: ß = 1 M( 2,-3,1)
6 . Ache a projeção ortogonal do ponto P(2,-1,3) sobre a reta* = 3/, y = St-7, z = 2/ + 2.
y+2 z_8

7« Calcule a distânciad do pontoP( 1 , - 1 reta-r^— = —-— = —— •


Resposta: d = 7
8. Ache a equação do piano que passa pelo ponto A (5,4,3) e determina, sobre os eixos coorde-
nados, segmentos de mesmo comprimento. , .• . -
Resposta:x + y + z - 12 = 0
9. Encontre a equação de um plano cujos pontos são equidistantes dos pontos A( 1,-4,2) e
5(7,1,-5). ~<
Resposta: 6x + Sy - 7z - 6 = 0
10. O ponto P(2,-1,-1 ) é o pé da perpendicular baixada da origem sobre um plano. Ache a
equação deste plano. .>'<__. >. - . - ,
s r
Resposta: 2x - y - z - 6 = 0 ,
11. Ache os pontos de interseção do plano 2x - 3y - 4« — 24 = 0 com os eixos coordenados.
12. Ache a projeção ortogonal do ponto P(S,2,-1) sobre o plano 2x - y + 3z + 23 = 0.
Resposta: P' ( l ^ k - 7 )
Encontre a equação do plano
a) que contém o eixo Ox e o ponto Aí(4,-1,2);

70
x+1 y-2 z
b) que contem a reta—— = — e e perpendicular ao piano 3JC + V - Z + 2 = 0 .
3 - 1 4
Resposta: a) 2>> + z = 0 b) JC - 5.y - 2z + 11 = 0

.. w • x+7 y-5 z-9 Í2x + 2 v - z - 10 = 0


14. Mostre que as retas r: e s: < são parale-
3 - 1 4 l*-.y-z-22 =0
las e calcule a distância d entre elas.
15. Determine sobre o plano 2x - 3y + 3z - 17 = 0 um ponto P tal que a soma das distâncias
deste ponto aos pontos A (3,-4,7) e £ ( - 5 , 1 4 , 1 7 ) tenha um valor mínimo.
Resposta:J > (-2,-2,5)

x-2 y+1 z—5


16» Quais os valores ae a e c para que a reta = = —— seja perpendicular ao plano
a 4 — 3
3JC - 2y + cz + 1 = 0.
3
Resposta: a = —6, c=—

(2x + y- 2z-3 = 0
17. Ache os pontos em que a reta < ^ ^ i—o WTERCE
PTA °s planos coordenados.

4 1
Resposta: ,4(2,-1,0), Ä ( - , 0 , - - ) , C ( 0 , 2 , - l )

/T&fcsi
Escreva as equações dos planos paralelos ao plano 2x — 2y - z - 3 = 0 e distando dele de
"- 5 unidades de comprimento. $ ^ '. ^ j
Resposta: 2x - 2y - z - 18 = 0 "" HT^""
2 x - 2 y - z + 12 = 0 ü-f : U 7 ' " '« '
(19. ^Encontre as equações das retas segundo as quais o plano 5x - 7y + 2z - 3 — 0 intercepta
—'"os planos coordenados.
rdenados.
5x - 7y - 3 = 0 (Sx + 2z - 3 = 0 (7y-2z + 3~0
Resposta:
(z = 0 (y = 0 (x = 0
20. Se a distância de um plano à origem é 6 e suas interseções com os eixos coordenados são os
1 1 1 1
pontos <4 (a,0,0), B(0J>,0), C(0,0,c), mostre que vale a relaçao— =— + — + —
62 a2 b2 c1

71
Capítulo 3

CÓNICAS
3.1 Introdução
No Capítulo 2 estudamos as retas e os planos. Tanto as retas como os planos
foram descritos por equações do 1° grau. O plano, uma superfície do espaço, foi re-
presentado pela equação ax + by+cz+d = 0 do 1? grau em x, y e z, e a reta, cur-
va do plano, descrita pela equação mx + ny +q — 0 do 1? grau em x e y. Nosso
objetivo, neste capítulo, é fazer um estudo elementar e sucinto da circunferência,
elipse, parábola e hipérbole que são curvas do plano, chamadas cónicas, descritas
por equações do 2? grau em suas variáveis. Posteriormente, faremos de modo aná-
logo um estudo das superfícies de 2? grau chamadas quádricas.
A denominação genérica de cónicas, para estas curvas do plano, vem do fato de
que elas podem ser visualizadas ou obtidas através de interseções de um cone circu-
lar reto com um plano. De fato, consideremos um cone circular reto de duas folhas,
com ângulo de abertura igual a a como mostra a Fig. 28 a seguir.
Se interceptarmos esta superfície com um plano, perpendicular ao eixo de sime-

73
se como curva interseção a circunferência, o que está mostrado na Fig. 29a. Se o
ângulo entre o plano e o eixo BB' for maior que a obtém-se a elipse, como na
Fig. 29b. Sendo a inclinação do plano em relação a BB' igual a a, a curva interseção
obtida é a parábola, de acordo com a Fig. 29c. No caso em que o plano é paralelo
ao eixo BB', ou possui uma inclinação de um ângulo ß, com ß<a, então a curva
obtida é a hipérbole, mostrada na Fig. 29d.

74
Para o estudo de cada uma destas curvas partiremos de suas definições e, em
cada caso, a definição será dada, fixados certos parâmetros, de modo a caracterizar
uma propriedade ou uma condição para que um conjunto de pontos do plano per-
tença à curva. A própria definição dará, então, informações suficientes para obter a
equação que descreve a curva e mesmo construí-la de maneira simples.
Por motivos de conveniência didática iniciaremos nosso estudo com a circun-
ferência.

3.2 Circunferência
Dados um ponto fixo C, do plano, e um número real positivo r, também fixo,
a circunferência de centro no ponto C e raio igual a r é a curva constituída de todos
os pontos M do plano que estão a uma distância r do ponto C dado. Para obter sua
equação em coordenadas cartesianas vamos supor o ponto C(x 0 ,/o)) n 0 plano, re-
ferido ao sistema de eixos XOY. Se M(x,y) é um ponto qualquer da circunferência
deveremos ter:
ÃÍC=r,
ou seja, V ( x - x 0 ) 2 + (y-yo)2 = r.

Fig. 30

Elevando ao quadrado ambos os membros desta igualdade obtém-se a equaçao


da circunferência, com centro em C(x0,7o) e raio igual a r, na forma
(x-x0)2 + (y-yo? =r2. (1)

75
Desenvolvendo os quadrados, obtém-se que
x2+y2 - 2x0x - 2y0y + (x\+ y\ - r2) = 0
e fazendo ~2x0 = D, ~2y0 = E e (x20 + y20 ~r2)=F a equação (1) pode ser
éscrita na forma
x2+y2+Dx+Ey+F=Q (2)
que é uma equação do 2? grau em x e y sendo idênticos os coeficientes dos termos
de 2? grau.
Poderíamos, agora, perguntar se toda equação da forma (2) representa uma
circunferência do plano. Para resolver esta questão suponha a equação
x2 +y2 +Dx + Êy+F =Q (3)
e veremos se é possível colocá-la na forma (1) que sabemos representar uma cir-
cunferência de raio r com centro no ponto C(x0,y0).
Somando e subtraindo expressões convenientes ao primeiro membro de (3)
a fim de obter quadrados de soma segue-se que
n2 c-2 r»2 p2
*2 +Dx +y2+Êy 7.-™ 0
4 4 4 4
donde
, .Aa D2+E2-4F
+
+ +0' 2> 4
Esta equação será da forma (1) se fizermos
D Ê 2 D2 +Ë2 — 4F
x0=-~, yo = ~2 e = -

Como r > 0, concluímos que a equação (3) representará uma circunferência se


for satisfeita a condição
D2 + E 2 - 4 F > 0 .
Observamos que se D2 + E2 — 4 F = 0 então os únicos pontos que satisfazem a
D Ë
equação (3) são os pontos x0 = —j" e y o — —J
Concluindo, temos.o seguinte resultado: a equação geral do 2? grau, com coe-
ficientes dos termos de 2? grau idênticos,
x2 +y2 +Dx+Ey+F= 0
representará uma circunferência, se
D2 +E2 —4F>0.
Neste caso, a circunferência terá como centro o ponto C de coordenadas x 0 = —
yo= —
~2 e ral
° dado por
2
r =+IV0 + £* - 4 F .

76
Exemplo:
Quais das equações abaixo representam circunferências?
a) x2 +y2 Q x 4y (- 7 = 0
b)x2 +y2 -2x + 4y + 7 = 0

Solução:
a) £> = - 2 E =4 F--1
D2 +E2-4F=4 + 16-4(-7) = 48>0.
Logo, a equação representa uma circunferência de centro no ponto C(x0,y0) e
raio r onde
D -2 E 4 .
=
2 2~= ' ° =
~ 2 = ~ 2 = ~ 2 6

r = | V 4 8 = 2>/3.

b) £> = —2 ZT = 4 F=1
2 2
D +£" — 4 F = 4 + 16 — 28 = 20 — 28 < 0
e a equação não representa uma circunferência.

Interseção de reta com circunferência


Suponha dadas uma circunferência Ó e uma reta r e que desejamos saber a po-
sição da reta em relação à circunferência. Geometricamente, sabemos que podem
ocorrer três situações: 1) existem dois pontos P e g comuns de r e à. Neste caso,
r é uma reta secante a 6 ; 2) existe apenas um ponto T comum a r e a é , sendo r
uma reta tangente e To ponto de tangencia; 3) não existe ponto comum a r e a 6 .
Seja, então, é dada por x2 +y2 +Dx +Fy + F= 0 e r descrita pela equação
reduzida y = mx + n. O problema de determinar os pontos comuns a r e a 6 , se
existirem, é equivalente ao de resolver o sistema de duas equações a duas incógnitas
constituído pelas equações de r e á.
ix2 +y2 +Dx+Ey+F= 0
)y = mx+n.
Substituindo o valor de y, da equação da reta, na primeira equação chega-se,
após cálculos simples, a uma equação do 2? grau em x, dada por
ax2 + bx + c = 0
onde os coeficientes a, b e c dependem, evidentemente, das constantes D, E, F, m
en. A solução desta equação é expressa na forma
x = A = b > - 4 a c

2a
e segundo o valor de A temos os três casos acima mencionados:

77
1. A > 0. Há dois valores reais possíveis de isto é, há dois ponto:- jinuns a
r e C e a reta é secante.
2. A = 0. Neste caso a raiz é dupla, ou seja, existe apenas um valor real de x
satisfazendo ao sistema. A reta é tangente à circunferência.
3. A < 0. Não existem raízes reais, logo não há nenhum valor de x que satis-
faça ao sistema. Assim, a reta não possui pontos comuns com a circunferência.
Vejamos alguns exemplos para ilustrar o que acabamos de discutir.

Exemplo 1:
Determine os pontos de interseção da circunferência fe: x2 +y2 — 4y—46~ 0
com a reta r : y = 3x — 8.

Solução:
Pelo que acabamos de ver, temos que resolver o sistema:

Substituindo a segunda equação na primeira obtém-se:


x2 + ( 3 x - 8 ) 2 - 4 ( 3 * - 8 ) - 4 6 = 0
x2 + 9 * 2 + 6 4 - 4 8 * - 12*+ 3 2 - 4 6 = 0
ou
x2 - 6x + 5 = 0.
Esta equação possui duas raízes reais distintas JCi = 1 e x2 = 5 que são as
abscissas dos pontos de interseção P e Q. As ordenadas destes pontos são calcula-
das facilmente substituindo os valores de x encontrados na equação da reta. Encon-
tramos que:
yx = 3 * ! - 8 = 3 1 - 8 = - 5
y2 = 3x 2 - 8 = 3-5 - 8 = 7
e os pontos são P( 1,-5), 0(5,7).

Exemplo 2:
Ache os pontos de interseção da circunferência é : x2 +y2 — 8x — 2y + 9 = 0
com as retas:
a) y = 1 — x
b) y — x + 2.
Solução:
Procedendo como no caso anterior, temos que resolver os sistemas:
íx2 +y2 - 8x-2y + 9= 0

y V

78
'"HV + y2 - &x - 2y + 9 = O
b)
(y=x +2
donde oC obtêm as equações
a) x2 - 4x+4 = 0
b) 2a:2 + 4x + 3 = 0.
No caso a) A = 0 e a raiz encontrada é igual a JC0 = 2. Há apenas um ponto co-
mum T(2,-1) que é o ponto de tangência. No caso b) A < 0 e não existe ponto de
interseção.
Dados um ponto P e uma circunferência de centro C e raio r, se a distância do
ponto P a C for menor que o raio r dizemos que o ponto P é interior à circunfe-
rência. Se esta distância for igual ou maior que r então o ponto P pertence à circun-
ferência ou é exterior a ela respectivamente. Se P não é ponto inferior então tem
sentido o problema de determinar a reta que passa por P e é tangente à circunfe-
rência.
Sejam,então,a circunferênciax 2 +y2 + Dx + Ey + F = O e o p o n t o P ( x 0 , y 0 )
exterior à circunferência. Consideremos a família de retas que passam por P. A
equação de qualquer reta desta família pode ser escrita na forma
y = m(x-xQ)+y0.
Como o ponto P é, por hipótese, exterior à circunferência, existem, apenas,
duas retas tangentes à circunferência. Resta, entãq, determinar as inclinações destas
duas retas, isto é, os valores de m para que cada uma das retas tenha apenas um pon-
to de interseção com a circunferência dada. Pela discussão anterior isto ocorre quan-
do a equação do 2? grau, obtida do sistema formado pela equação da circunferência
e da reta, possui raízes reais e iguais. ^

Exemplo 3:
Dados os pontos P(1 , - 2 ) e a circunferência x2 + y2 — 4x — 2y = 0, ache a re-
ta que passe por P e é tangente à circunferência dada.
Solução:
Vejamos, inicialmente, se P não é ponto interior. Completando quadrados
podemos reescrever a equação da circunferência como
( x - 2 ) 2 + (y — l) 2 - 4-1=0,
ou seja, : »
(x - 2) + (y - 1)J - 5,
2

donde C(2,l) c r = V5.


D = d(P,C) = V i 2 + 3 2 = V T Õ . L o g o , D > r e P é exterior.
Se y = mx + n e passa por P( 1 , - 2 ) , então, - 2 = m + n, donde jp = — m — 2 e
y = m(x- l)-2. I - ™ Dc-V -v, —
^ - - ifv-i — J2,
^ ; nr*Cx- 0 - 3 . 79
Assim, devemos resolver o sistema:
\x2 + y2 -4x-2y =Q
}y = m{x - 1 ) - 2
com a condição adicional de que as raízes sejam reais e iguais. Substituindo a segun-
da equação na primeira e efetuando os cálculos obtém-se :
*2 +.[!«(*—1)-2Ja —4x — 2[m(x — 1) — 2] = 0
ou
a x 2 + ßx + 7 = 0
onde a= 1 + m 2 , ß = -2(m2 + 3m + 2) e y = m2 4- 6m + 8. A condição de
que as raízes sejam iguais implica que
ß2 - 4o7 = 0
o que equivale a
(m 2 + 3m + 2)2 = (1 + m2) (m2 + 6m + 8 ) .
que após simplificações reduz a
2m2 + 3 m - 2 = 0.
Esta equação possui duas raízes reais m x = 1/2 e m 2 = — 2 que sao os coefi-
cientes angulares das retas procuradas.
A solução do problema proposto é dada pelas duas retas:
2y-x + 5 ^ 0 e y + 2x = 0.
Outra maneira de resolver este problema seria usar a condição de que a distân-
cia D do centro da circunferência à reta tangente procurada deverá ser igual ao raio
da circunferência. No caso do exemplo acima, trata-se de determinar m sabendo-se
que a distância do ponto C(2,l) à reta j- = m(x — 1) — 2 é igual a r = \ ß . Fazendo
os cálculos encontraremos para m os mesmos valores encontrados anteriormente.

Exercícios
1. Ache a equação da circunferência que passa pelos pontos A (1,2), 5 ( 0 , - 1 ) , C(-3,0).
Resposta:(x + l ) 1 + {y - l ) a = 5
2. Ache a equação da çircunferência que passa pelos pontos^(5,0), Q( 1,4) se seu centro se si-
tua sobre a retaüc + y - 3 - 0 .
Resposta: (x — 2) 2 + (y - l ) 2 = 10
/ . Uma corda da circunferência x1 + y1 = 49 tem como ponto médio o ponto Aí (1,2). Ache a
equação da reta que contém a corda.
Resposta: x + 2y — S — 0
4. Encontre a equação da circunferência que seja simétrica da circunferência a x2 + y2 — 2x —
— 4y + 4 = 0 em relação à reta x — y — 3 = 0 ^UW'--.- - • < -".-"<•
Resposta: ( x - 5 ) 2 + (y + 2)* = 1 viv t
^ ^ ;-
5. Ache as equações das retas tangentes à circunferência (x — 3)2 + (y + 2) 2 = 25 nos pontos
de interseção desta circunferência com a reta x —y + 2 = 0.
Resposta: 3x - 4y + 8 = 0 4x - 3y +1 = 0

80
K 6. Encontre as equações das retas que passam pelo ponto P(6,4) e são tangentes à circunferên-
cia x2 + y2 - 4x - ly — 20 = 0.
Resposta: 3y + 4x — 36 = 0
. Escreva as equações das circunferências tangentes às retas 7 j c - y - 5 = 0 , * + y + 1 3 = 0
/ sabendo que Aí (1,2) é ponto de tangência com uma das retas.
Resposta: (x + 6)* + (y - 3)2 = 5 0 e (x - 29)2 + (y + 2)2 = 800
8. Determine os valores de k para os quais a reta y = kx
a) intercepta a circunferência x2 + y2 - 10* + 16 = 0;
b) intercepta esta circunferência num único ponto;'
c) não intercepta esta circunferência.
3 3 3
Resposta: a) <- b)k = ±- c) |A:| > -
4 4 4
9. Um segmento de comprimento c desloca-se tendo suas extremidades apoiadas nos eixos coor-
denados. Encontre a curva descrita pelo ponto médio deste segmento.
Resposta: Circunferência
10. Ache a equação do lugar geométrico dos pontos tais que a soma dos quadrados das distân-
cias aos pontos A (2,0), £(0,2) é igual ao quadrado da distância entre A e B.
Resposta: x2 + y2 — 2x — 2y = 0

3.3 Parábola
Como dissemos na introdução deste capítulo, faremos o estudo das cónicas
caracterizando cada uma delas como uma curva do plano em que seus pontos satis-
fazem determinadas condições. Dadas estas condições obteremos, de modo sim-
ples, uma relação entre as coordenadas x e y de cada ponto da curva. Esta rela-
ção é a equação que representa a curva.
Vamos supor, então, dados, no plano xOy, um ponto F e uma reta r tal que
F não seja ponto de r. Seja a curva do plano em que cada um de seus pontos M
possui a propriedade de que as distâncias de M a F e de M a r são iguais. Esta
curva denomina-se parábola. O ponto F chama-se foco e a reta ré a diretriz.
Na Fig. 31 estão indicados três pontos Mj, M 2 e M3 de uma parábola.

81
Para obter a equação da parábola vamos considerar, inicialmente, uma situação
particular. Tomaremos o eixo dos x passando pelo foco F e perpendicular à reta
diretriz dada e o eixo y coincidindo com a mediatriz do segmento FF' onde F' é a
projeção ortogonal de F sobre a diretriz. Com esta escolha, sendo a a abscissa de F,
a equação da diretriz será * = —a. Se M(x,y) é um ponto genérico da parábola,
pelo que foi dito acima, devemos ter
MF = d(M,r)
onde d(M,r) é a distância de M a r.

>y

F'

r
\ X

F«. 32

Da Fig. 32 segue-se que:


MF = V(x — a) 2 + y2, d[M,r) = \x + a|
donde
fjc + a| = V ( J C — a) 2
+y2.
Elevando ao quadrado e simplificando obteremos
(x + a) 2 = (x - a ) 2 +y2
x2 + a2 + 2ax = x2 + a2 — 2ax + y2
y2 = 4 ax.
Fazendo 4 a = 2p resulta

/ = 2px (4)
que é a equação da parábola. O número real p chama-se parâmetro.
Observamos que, nas condições em que foi obtida, a equação acima representa
uma curva simétrica em relação ao eixo dos x. De fato, é suficiente notar que se o

82
ponto M(x,y) pertence à parábola, o ponto M(x, -y), simétrico de M em relação ao
eixo dos x, também pertencerá. Dito de Outra forma, a equação não se modifica
se substituirmos y por —y.
Da equação obtida decorre também que 2px > 0, ou seja, o produto do parâ-
metro p pela abscissa x de M será sempre positivo e nulo só no caso de x = 0. Há,
portanto, dois casos a considerar.
\.p > 0. Como px> 0 devemos ter x>0, isto é, a parábola está contida no
semiplano x>0 conforme indicado na Fig. 33.

Fig. 33

2. p < 0. Do mesmo modo, sendo px> 0, segue-se que x < 0, isto é, a pará-
bola está, agora, contida no semiplano x < 0. A Fig. 34 esclarece a situação.
O ponto de interseção da parábola com o eixo de simetria chama-se vértice
da parábola. Nos casos 1 e 2 acima, o eixo de simetria é o eixo dos x e o vértice V
coincide com a origem.
Poderíamos resumir os dois casos que acabamos de considerar dizendo que a
equação y1 — 2px representa uma parábola simétrica em relação ao eixo JC, vérti-
ce V coincidindo com a origem, com concavidade voltada para a direita (x > 0)
se p > 0 e voltada para a esquerda (x < 0) se p < 0.

83
F*. 34

Suponha, agora, que o foco F seja tomado no eixo dos .y, isto é F terá abscissa

- . FiOfit)

y- a

Fig. 15

84
Qual será a equação da parábola neste caso?
De modo análogo ao anterior mostra-se que a equação obtida, neste caso, será
*2 = 2py
em que o eixo de simetria é, agora, o eixo dos Do mesmo modo teríamos dois ca-
sos a considerar:
1 .p > 0. A parábola estará contida no semiplanoy > 0 e terá concavidade vol-
tada para cima (y > 0). Veja Fig. 36.

F«. 36

2. p < 0. A parábola estará na região y < 0 e possui concavidade voltada para


baixo. Veja Fig. 37.

Exemplo: .. c'
Estude as parábolas
a) y = —Ax2
b) * = 6y 2
Solução:
a) 2p = — ^ donde p = 2a = — < 0. Como a substituição de x por —x não
modifica a equação concluímos que o eixo y é o eixo de simetria. O f o c o F é o pon-
to do eixo_y de ordenada a = p/2 = —
16

A diretriz terá por equação .y = —a =-rr m Resumindo estas informações temos:

85
Ffc. 37

^ l. parábola simétrica em relaçao ao eixo y e contida no semiplano y < 0, pois

2. f o c o : F ( 0 d i r e t r i z : y = -a =~

38

86
b) x = 6 y 2 • 2p = 1/6 logo 2p = 4 a = 1/6 > 0. A parábola tem, como eixo de
simetria, o eixo dos x e terá concavidade voltada para a direita (x > 0). O foco é o
3
ponto F de abscissa a = p / 2 = 3/2 e a diretriz será x = — a = — — •

Para se ter uma idéia da situação geométrica das parábolas destes dois exem-
plos elas foram apresentadas na Fig. 38 e na Fig. 39.

Fig. 39

3.4 Elipse
Sejam dados, no plano, dois pontos Fx e F 2 . A elipse pode ser definida como
sendo a curva plana em que cada um de seus pontos M possui a propriedade de que
a soma das distâncias de M a Fi e de M a F2 é uma constante dada. Os pontos Ft e
F2 são chamados focos da elipse.
Consideremos o caso particular em que os focos Fx e F2 são pontos do eixo
dos x e simétricos em relação à origem de um sistema de coordenadas xOy. Tome-
mos, então, como focos os pontos Fx (a,Q), F2(—a,0) sendo a > 0. Se M(x,y) é um
ponto qualquer da elipse deveremos ter a seguinte relação:
MFx +MF2 =2 a
onde a constante foi tomada igual a 2a por conveniência. Expressando esta relação
em termos das coordenadas dos pontos dados tem-se:
V(x-a) 2 +y2 + V(JC + a)2 +y2 = 2a
•u
V(x — a) 2 +y2 = (2a — V(x + a) 2
+ y2 ).
Elevando ao quadrado ambos os membros da igualdade acima e simplificando
obtemos

87
M{x,y)

X
F, (A,0)

Fig. 40
2
cx - a ) 2 + y = 4 a 2 +(x+ a)2 + y2 - 4 a V ( x + a ) 2 +y2
(ax + a 2 ) = aV(x + a) 2 + y 2 .
Elevando novamente ao quadrado segue-se que:
(a2-a2)*2 +a2y2 = a 4 - a 2 a 2
(a 2 —a2)x2 + a2y2 =a2(a2-a2).
Lembrando que num triângulo qualquer a soma dos comprimentos de dois de
seus lados é maior que o comprimento do terceiro lado e observando a Fig. 40 con-
cluímos que
MFI +MF2 > FIF2
donde 2a > 2a, ou seja, a > a. Isto, por sua vez, implica que a 2 a 2 > 0 . Podemos,
então, dividir a relação (* ) por a 2 (a 2 — a 2 ) # 0. Resulta que

= l.
a2 -a2)
Pondo b2 = a2—a0 tem-se

= 1 (5)
a2 b2
que é à equaçaôUãelipse referida aos eixos cartesianos.
Veremos, a seguir, algumas propriedades de (S) e aproveitaremos para introdu-
zir a nomenclatura e notação dos elementos que definem a elipse.
1. A elipse é uma curva plana simétrica em relação ao eixo dos x. De fato, a
equação (5) não se modifica ao substituirmos y por —y, isto é, se M(x,y) é o pon-
to da elipse então M'(x, — o simétrico de M em relação ao eixo x, também será.
2. O eixo y também é eixo de simetria da elipse (5). Como no caso 1 é sufi-
ciente verificar que os pontos M(x,y) e M"(—x,y} pertencem à elipse.
3. De 1 e 2 decorre que a elipse (5) é simétrica em relação à origem.

88
4. Se M(x,y) é um ponto genérico da elipse então as coordenadas x e y de M
satisfazem as desigualdades:
—a<AT<a, — b^y^b.
x2 y2 y2
A equação (5) pode ser reescrita na forma—* = 1 r e como-^ > 0 segue-se
2 , " & b2
y x
que 1 —-5 < 1. Logo,—5 < 1 ®u x2 < a2. Sendo a > 0 tem-se !x| < a donde
b • a
—a < x < a.
Do mesmo modo, concluímos que —b ^ y < b escrevendo a equação na forma
2
y x2
—r = 1 r e usando o mesmo raciocínio anterior.
b a
Notamos que quando x = ta y = 0 e se y = ±b x= 0. Os pontos Vx (a,0),
K2(—a,0), V3(0J)) e K 4 (0,—b), pontos de interseção com os eixos coordenados,
são chamados vértices da elipse. Os segmentos de reta determinados por Vx, V2 e
V3, Vu, são, respectivamente, o eixo maior e o eixo menor da elipse e seus compri-
mentos iguais a 2a e 2b. As constantes a e b introduzidas medem, portanto, o
comprimento do semi-eixo maior e o comprimento do semi-eixo menor. A distân-
cia entre os focos Fx e F 2 , igual a 2à, denomina-se distância focal.
De 1, 2, 3 e 4 resulta que elipse (S) é uma curva plana, fechada, simétrica em
relação aos eixos coordenados e à origem, e contida no retângulo R cujos lados
são os segmentos de reta definidos por:
x = —a\ y = —b\
> — > —a < jc < a .
x = +af y = +b)
Abaixo, na Fig. 41 estão indicados os principais elementos da elipse (S).

89
Se tivéssemos escolhido os focos Ft e F2 no eixo dos y, e não no eixo dos
x, Fi(0,a) e F2(0,—a), teríamos obtido a equação

onde as constantes a e b têm o mesmo significado que antes. A única diferença


é que, agora, a elipse possui eixo maior sobre o eixo dos j', como mostra a Fig. 42.

Fig. 42

Exemplo:
Dada a elipse 9x2 + 16y2 = 144 determine seus elementos e represente-a
graficamente.

Solução:
9 16
A equação acima pode ser escrita como T T T * 2 + 777y2 =
* donde após
1 l^^T ITT
x2 y
simplificação obtemos — + — -- 1.

Fazendo y = 0 e depois x -• 0 segue-se que x = ±4 e y = ±3. Os vértices são,


portanto, os pontos Vx(4,0), K 2 (-4,0), F 3 (0,3) e K 4 (0,-3). Os comprimentos
dos eixos são Vx V2 = 8 = 2a e V3 V4 = 6 = 2 b.

90
Logo, a elipse t e m o ^ i x o m ^ i p r sobre o eixo dos x. A distância focal 2a é,
agora, conhecida p o i s = 16
~ 9 = 7 - Assim, 2a = 2\/7. Os focos se-
rão Fi(V7,0), F2(—V/,0).

3.5 Hipérbole
Suponha dados, novamente, dois pontos do plano, Fx e F2, e seja a um nú-
mero real positivo. O conjunto de todos os pontos M, do plano, tais que o valor
absoluto da diferença entre as distâncias de M a Fx e a F2 seja constante e igual a
2a, é a curva, denominada hipérbole, que passaremos a estudar. Consideraremos
o caso particular em que o eixo dos x contém os pontos dados e F2, chamados
focos da hipérbole, e o eixo dos y coincidindo com a mediatriz do segmento FXF2.
Veja a Fig. 44.

91
Sendo M(x,y) um ponto qualquer da hipérbole, a a abscissa de Fx, decorre que
\MFl~MF2\ = 2a.

Como MFX = V(x — a)2 + y2, MF2 = V(x + a)2 +y2 segue-se que

|V(x - a)2 +y2 - V(x + a)2 +y21 = 2a


ou
V(x — a) 2 +y2 -V(x+a)2 +y2 =±2a.
Para obter uma relação mais simples entre x ey eliminaremos os radicais.
Tem-se:
(V(x - a) 2 + y2)2 = (V(x + a) 2 +>>2 + 2a) 2 .
Elevando ao quadrado e simplificando obtemos:
ax + a2 = ±aV(x + a)2 +y2.
Elevando ao quadrado de novo a expressão resultante pode, após simplifica-
ções, ser escrita na forma
(a2-a2)x2-a2y2=a2(a2-a2). (7)
Ora, da Fig. 44 tem-se Fx F2 — 2ct e, como num triângulo qualquer o compri-
mento de um lado é sempre maior que a diferença entre os comprimentos dos ou-
tros dois, resulta que

FlF2> \MF1-MF2\ = 2a,


ou seja, 2a > 2a e a >a o que implica ser a2 ~ a 2 > 0. Logo, podemos dividir os
dois membros de (7) por a 2 (a 2 — a 2 ) 0. Assim fazendo, tem-se :
v2 v2
1.
a2 a 2 —a 2
Definindo b por t>2 = a2 — a2 segue-se que
x2 y2
(8)
• - y . ^ g L - J - '
que é a equação canónica da hipérbole ou a equação da hipérbole referida aos eixos
.coordenados. Vejamos, a seguir, quais são as principais propriedades e elementos da
hipérbole.
a) Como ocorreu no estudo da elipse as variáveis x e y, na equação (8), apare-
cem elevadas ao quadrado. Logo, ela não se modifica se substituirmos x por —x ou
y por —y, o que traduz o fato de ser a curva simétrica em relação ao eixo dos x,
ao eixo dos y e em relação à origem.
b) Procuremos os pontos em que a hipérbole intercepta os eixos coordenados.
Estes pontos são os vértices. Os pontos M, interseção da hipérbole com o eixo dos
x, são da forma M(x,0). Fazendo y = 0 na equação (8) tem-se:

92
donde x = ±a.
Os pontos de interseção da hipérbole com o eixo dos y são obtidos fazendo
x — 0 na equação obtida. Resulta que

Como não existe nenhum número real tal que seu quadrado seja negativo con-
cluímos que a hipérbole (8) não intercepta o eixo dos_y. A hipérbole possui, portan-
to, apenas dois vértices que são os pontos ^(a.O), K 2 ( a,0). O seguimento Vx V2
chama-se eixo real da hipérbole e seu comprimento é igual a 2a, a constante dada.
Em contraposição a constante b é chamada de comprimento do eixo imaginário da
hipérbole.
c) A seguir vejamos se há alguma restrição quanto aos valores que podem ser
dados a x e a y .
Reescrevedo a equação na forma

e observando que ^ > 0 concluímos que

ou x2>a2.
a
Como a > 0, tem-se \x\>a o que equivale a x y

Isto—a>x>a.
quer dizer que um ponto da hipérbole descrita por — - = 1 não pode

pertencer à região R compreendida entre as retas x = +a e x = —a. Veja a Fig. 45.

Fig. 45

93
Sendo y2 = — ( x 2 — a2) e x2 — a2 > 0 segue-se que y2 > 0, logo y pode ser

um número real qualquer. Na Fig. 46, abaixo, temos a representação da hipérbole


V2
- = 1 onde estão indicados seus principais elementos.

yA

Fig. 46

Fica como exercício mostrar que se tomarmos Fi e F2 no eixo dos y e repe-


tindo o que foi feito obteremos a equação

que representa a hipérbole da Fig. 47. Observe que, agora, tem-se - a > y > a .

Quando a = b, a hipérbole chama-se hipérbole eqüilátera e sua equação é dada,


evidentemente, por
x2—y2—a2 eixo real no eixo dos x
ou
y2 - x2 = a2 eixo real no eixo dos y.

94
Fig. 47
na
A relação e tanto hipérbole como na elipse, chama-se excentri-
cidade. Na ehpse é a razão entre a distância focal e o c o r n p p m p n t n Hn c i v n ^ a i n r
na hipérbole é o quociente entre a distância focal 2a e o comprimento do eixo real.
Como na elipse tem-se a<a decorre que a excentricidade da elipse é um número
real menor que 1. A excentricidade da hipérbole é um número real maior que 1
pois, neste caso, a > a.
Na elipse a excentricidade e mede o menor ou maior achatamento da curva em
relação ao eixo maior. Na hipérbole ela dá uma medida da abertura da curva em re-
lação ao eixo real.

Exercícios
A) Parábola:
1. Encontre a equação da parábola que possui foco F ( 0 , - 3 ) , passa pela origem, e cujo eixo
coincidecom o eixo dos y. .' '
Resposta: x1 + 12^ = 0 / T J ^ J
2. Escreva a equação da parábola se seu foco é F{—7,0) e equação da diretriz íx — 1 = 0 .
Resposta: y2 = - 2&x
3. Ache a equação da parábola simétrica em relação ao eixo dos x e com vértice na origem

de comprimento do vértice, é igual a 16. 4 .


das coordenadas se o comprimento da corda, perpendicular ao eixo Ox e distante 6 unidades

, 32 -
Resposta :y = — x

O) Encontre sobre a parábola .y* = &x um ponto tal que sua distância à diretriz seja igual a 4.
Resposta:Aí,(2,4); M 2 ( 2 , - 4 )

95
^ Determine a equação de uma parábola se a corda, perpendicular ao eixo de simetria que di-
ä vide em duas partes iguais o segmento compreendido entre o vértice e o foco, tem compri-
mento igual a 1.
Resposta:_yJ = 2x
6. Qual é a condição para que a reta y = kx+b seja tangente à parábola y2 = 2px.
Resposta: p = 2kb
p . Qual é a curva com a propriedade de que cada um de seus pontos está à mesma distância do
ponto F(0,1 /4) e da reta y — — — • Ache sua equação.
4
Resposta: parábola: / = x2
A equação de uma família de parábolas é y — 4x2 + c. Discuta o que acontece quando o pa-
râmetro c varia. ^ ^
9. Mostre, 4nali.ticamente^)que qualquer reta paralela ao eixo de simetria de uma parábola
a intercepta em um único ponto.
10 Determine a equação da reta, com coeficiente angular igual a —1, tangente à parábola
y2 - 8* = 0.
Resposta: x + / + 2 = 0

B) Elipse:
< Dada a elipse 9x2 + 25y2 = 225 ache:
a) os semi-eixos, b) os focos, c) a excentricidade.
Resposta: a) 5,3 b) (4,0), ( - 4 , 0 ) c) 4/5
, Vê" VÎ5
2. Jíncontre a equaçao canónica da elipse que passa pelos pontos Aí(5/2,—— ) e N( 2,——).
x
Resposta:— + y2 = 1
5 x2 y2
3. Dado o ponto M(2, - - ) na elipse — + — = 1 escreva as equações das retas que contêm os
3 9 5
raios vetores determinados por M.
Resposta: 5x + I2y + 10 = 0 x - 2 = 0
4. O ponto Af(3,-1) é um dos extremos do eixo menor de uma elipse cujos focos estão sobre a
-J2
^reta >> + 6 = 0. Escreva a equação da elipse se sua excentricidade e igual a——
Resposta:* 1 + 2 y 2 - (tx + 2 4 / + 31 = 0
ßf^Kixa quadrilátero possui como vértices os dois extremos do eixo menor e os focos da elipse
* 2 \ + 5 y 2 = 20. Calcule sua área.
'Resposta: 16 -
x2 yl
ß. Dada a elipse — + — = 1 constrói-se a perpendicular ao eixo maior e passando pelo foco.
/ a2 b
Ache o comprimento do segmento, da perpendicular, compreendido entre o foco e o ponto
de interseção com a elipse.
b2
Resposta:—
a
7. Encontre a equação da êlipse referida aos eixos sabendo que sua excentricidade é e = 3/5 e
passa pelo pontoM(\,\),
Resposta: 16x J + 2 5 / J = 41
8. Uma elipse passa pelo ponto A ( 4 , - 1 ) e toca a linha * + 4y - 10 = 0. Ache a equação desta
elipse sabendo que seus eixos coincidem com os eixos coordenados.

96
x2 y2 , x2 4 y2
Resposta: — + — = 1; + = 1
^ 20 5 80 5
9. O ponto M (3,-1) é um dos extremos do eixo menor de uma elipse cujos focos estão sobre a
•v/2"
reta y + 6 + x = 0. Escreva a equação da elipse se sua excentricidade é igual a
Sugestão: veja o Exercício 4. 2
10. As extremidades de um segmento AB de comprimento constante a se deslocam apoiadas nos
lados de um ângulo reto. Encontre a equação da curva descrita pelo ponto M que divide
o segmento dado na relação 1:2.
Resposta: Elipse. Se os eixos coordenados coincidirem com os lados do ângulo reto e o pon-
to A estiver no eixo dos * a elipse será: 9x2 + 36y 2 = 4a 2

C) Hipérbole:
1. Dada a hipérbole 16 x2 - 9y2 = 144 encontre:
a) seus semi-eixos, b) seus focos, c) a excentricidade.
5
Resposta: a) 3,4 b) Ft (~5ft);F2(5,0) c) e = -

2. Seja uma hipérbole de excentricidade y/2. Ache a equação mais simples desta hipérbole sa-
bendo-se que ela passa pelo ponto M(yJT,\fZ).
Resposta: x2 —y2 = 1
3. Escreva a equação da hipérbole que tem como focos os pontos F(2,0), F ' ( - 2 , 0 ) se sua ex-
centricidade é 3/2.
x2 y2 4
Resposta:—-— = -

x2 y2
4. Os focos de uma hipérbole coincidem com os da elipse — H—— = 1. Ache a equação da hi-
pérbole se sua excentricidade éíe = 2.
x2 y2
Resposta: =1
4 9
x2 y2
5. Ache a condição para que a reta y = kx +m toque a hiperbole — - — = 1.

Resposta: a 2 * 1 = b2+m2
6. Obtenha as equações das tangentes à hipérbole 4x 2 - 11 y2 = l que sejam paralelas à reta
20x - 33.C = 13.
Í20x - 33y -1=0
Resposta: \ 2 Q x _ 3 3 y + , = Q

7. Ache a equação do lugar geométrico dos pontos equidistantes da circunferência x2 +y2 +4x =
= 0 e do ponto Aí(2,0).
y2
Resposta : ramo direito da hipérbole x2 —— = 1.

(8.]^ôão-se dois pontos A ( - 1 , 0 ) e 5(2,0). Seja M um ponto que se desloca de modo que o ân-
gulo B do triângulo AMB seja sempre duas vezes maior que o ângulo Á do mesmo triângulo.
Encontre a equação da curva descrita pelo ponto M.

Resposta:* 2
y2— = 1

9. Se k é diferente de zero mostre que a equação 3x 2 - = k representa uma família de


hipérboles cada uma delas com excentricidade igual a \JT.

97
10. Mostie que o produto das distâncias dos focos a qualquer tangente à hipérbole— r = 1
2
a b
é iguala — b .

3.6 Forma Canónica das Cónicas


Nos parágrafos anteriores obtivemos e estudamos as seguintes equações:
a) y2 = 2px ou x2 = 2 p y parábola
2 2
x y
b ) ~ + — =1 elipse

x2 y 2
y 2
x2
c ) 2 2 = l 2 = l hipérbole
T ~ T ' ~ 7 ~ T
Estas equações são chamadas equações canónicas e dizemos que as equações
da parábola, elipse e hipérbole foram reduzidas à forma canónica. Por serem sim-
ples, dada qualquer uma das equações acima, podemos identificar, imediatamente,
qual a curva que ela representa. No parágrafo seguinte veremos que uma cónica po-
de ser representada por uma equação do segundo grau e m x e>> envolvendo termos
do primeiro grau e termos constantes. A identificação da cónica, neste caso, é feita
reduzindo sua equação à forma canónica. Esta redução é conseguida através de mu-
danças dos eixos coordenados e que é feita escolhendo-se um novo sistema de eixos
XO'Y, conveniente, em relação ao qual a curva estará representada por equações
na forma canónica. Veremos, também, que podemos classificar as cónicas em fun-
ção dos coeficientes da equação geral do segundo grau que as representa.
Inicialmente, estudaremos o caso em que é suficiente uma translação de eixos
para reduzir a equação à sua forma canónica e, em seguida, mostraremos que o pro-
blema geral é resolvido através de uma rotação e de uma translação de eixos.

98
Capítulo 4

EQUAÇÃO GERAL
DAS CÓNICAS
4.1 Discussão da Equação Geral das Cónicas
As equações da parábola, elipse e hipérbole obtidas nos parágrafos anteriores
têm uma expressão bastante simples. Todas podem ser escritas na forma
eJ. í / 2 i
Ax + By2 + C = 0, Ax2 + By = 0, Ay2 +Bx = 0 , (1)
h. i hmí- ' rv-
que são equações do segundo grau em x e y. O fato de as equações acima represen-
tarem uma eüpse, parábola ou hipérbole vai depender unicamente dos valores e si-
nal (positivo ou negativo) dos coeficientes A, B e C. Esta representação simples,
obtida para as cónicas, foi devido à hipótese de que cada uma delas estava numa
posição privilegiada em relação ao sistema de coordenadas. Nos cálculos anteriores
sempre supusemos os focos sobre um dos eixos e portanto os eixos de simetria da
cónica sempre coincidiam com os eixos coordenados.
Suponha, agora, a situação em que a cónica possui os focos sobre uma reta
paralela a um dos eixos coordenados. Por exemplo, imagine a parábola que tem
como foco o ponto F(3,2) e como diretriz a reta x = 1. Usando a definição e fa-
zendo os mesmos cálculos feitos em (3.2) obténvse a equação
y2 -4y-4x + 12 = 0.
Comparando com a equação y2 = 2px ou y2 — 2px = 0 vemos que aquela contém,
a mais, os termos —4y e +12. Se fizéssemos o mesmo para a elipse, ou hipérbole,
obteríamos equações da forma mais geral
Ax2 + Cy2 + 2Dx + 2Ey + F = 0 (2)
do segundo grau em x e y. No entanto, a equação mais geral possível do segundo
grau emje e >> não é a (2) mas aquela que possui o termo 2 B x y , isto é, a equação
Ax2 + 2Bxy + Cy2 + 2Dx + 2Ey + F = 0. (3)
A equação (3) pode representar uma cónica em que os eixos de simetria são
retas inclinadas em relação aos eixos coordenados.
Nosso objetivo nesta seção é estudar as condições em que (2) representa
uma cónica e qual a cónica representada. 0 estudo da equação (2) será feito redu-
zindo-a à forma (1).

99
Suponhamos, então, a equação
Ax2 + Cy2 + 2Dx + 2Ey + F=0 (2)
onde os coeficientes A, C, 2D, 2E e F são números reais e A e C não simultanea-
mente nulos. Lembremos que uma equação da forma (2) representa um conjunto
de pontos do plano podendo este conjunto ser vazio, finito e infinito. Estudaremos
as várias situações possíveis.
1. Um dos coeficientes A ou C é nulo.
Vamos supor C = 0 e A =£ 0. O caso A = 0 e C=£0 é tratado de forma aná-
loga. A equação (2) se escreve, então, como:
Ax2 + 2Dx + 2Ey + F = 0. (3)
Sendo A =£ 0 podemos fatorá-lo nos dois primeiros termos obtendo
, 2D
A (x2 + x) + 2Ey + F = 0. (4)
A
2 D D
Ora, x H x são os dois primeiros termos da expansão de (x -I—) , pois
A A
D _ ; 2D D2
(x-i+—)2 = x2 + —*
(x +—2
A A A
donde
, 2 D D D2
X + — x = (x+—)2 -•
A A A2
Substituindo esta expressão em (4) segue-se que
D , D2
A f (x H ) ] + 2Ey + F=0,
2A A2
ou seja,
D D2
A(x+—)2 + 2Ey + F = 0. (5)
A A
Observamos que a equação (5) embora tenha uma forma diferente de (3) é equi-
valente a ela.
1? caso: E = 0.
Se E = 0 ficamos com
D , D2-AF
A (x H—) =
A A
D
Façamos X = x H—. Assim, a equação, se transforma em
A
2
, D -AF
AX2=— (6)

100
Se fizermos Y=y podemos pensar na equação (6) como representando uma curva
num sistema de coordenadas XO'Y. A discussão então é simples:
a) Se D2 - AF > 0 tem-se
\/D2-AF
X = ±
A
isto é, representam as retas

\/D2-AF V d 2 —AF
X= e X =
A A
No sistema xOy as equações destas retas seriam
D Vi)2 —AF D
x =X =± — •
A A A
2
b) Se D - AF = 0 teremos
AX2 = 0
logo X = 0 que é o eixo Y do sistema XO'Y. No sistema xOy será a reta
D D D
x=X—=0 =
A A A
D_
X
~ A
2
c) Se D - AF < 0 resulta que
, D2-AF
X2= — <0
A2
o que é impossível pois o quadrado de X seria um número negativo. Neste caso,
a equação (3) representa um conjunto vazio de pontos do plano.

2? caso: £#0.
D , D2
A equaçao A (x i—)\ + 2Ey + F = 0 pode ser escrita, quando Ei= 0,
A A
como
D , F D2
A(X +—)2 + 2E(Y + ) = 0.
A 2E 2AE
Pondo
D
X = X+—
. A
F D
Y =y +
2E 2AE

101
teremos:
AX2 + 2 £ Y = 0
ou

Y =
A ,
X2
2E
que representa, no sistema de coordenadas XO'Y, uma parábola com eixo de sime-
tria coincidindo com o eixo do Y e possuindo concavidade voltada para o sentido
negativo do eixo dos Y. Ora, então, a equação (3) com A # 0, C = 0, E ¥= 0 re-
presenta uma parábola no sistema xOy. As equações (7) representam um novo sis-
tema de coordenadas XO'Y em relação ao antigo xOy. 0 que fizemos foi obter uma
representação mais simples de uma curva através de uma escolha conveniente de um
sistema XO'Y. As relações (7) são um caso particular da transformação definida
por
jX=x+a
\Y = y + b
onde a e b são números reais. Esta transformação é uma mudança de coordenadas
por translação. A translação será de |a| unidades no eixo d o s * e de unidades no
eixo dos y. Os sinais de a e b indicam se a translação é no sentido positivo ou nega-
tivo. Os exemplos que serão abordados tornarão clara esta questão.

Exemplo 1:
Que curva representa a equação
4x2 - 6 x - y + 11 = 0 .

Solução:
Temos .4 = 4, C = 0, 2D = - 6 , 2E=-\,F= 11. Como C = 0, A * 0 e E* 0
a equação dada representa uma parábola, pela discussão que acabamos de fazer.
Vamos determinar foco e vértice desta parábola, encontrando, primeiramente,
um sistema de eixos XO' Y onde ela é representada na forma canónica. Temos:

0 = 4x2-6x-y + ll = 4(x2 ~ j x ) - y + 11 =
4

= 4 ( * » - f , + 11 =

a, í 3 , 9. 4-9

2
= 4 (*-|) -><+f

2
4(*-f) -J>+f =0

102
ou

Fazendo

35
y~y~

vem
4X2-Y=0 OU Y=4X2.
Ora, a equação Y = 4X2 representa uma parábola com eixo de simetria coinci-
dindo com o eixo dos Y. Como 2p — 4 = 4 a segue-se que a = 1 e o foco é o ponto
^'(0,1) em relação ao sistema XO'Y. Como p > 0 resulta que a parábola possui con-
cavidade voltada para os valores positivos de Kcomo na Fig. 48.

Fig. 48

Mas qual será a posição desta parábola em relação ao sistema antigo xOyl Para
responder esta pergunta basta voltarmos à transformação feita
3
X=x
4
35
Y =y
4
A parábola tem vértice na origem de XO'Y, isto é, F'£0,0), (A=0 e K=0). Lo-
go, o vértice V da parábola, no sistema xOy, será o ponto de coordenadas X = 0 =

103
3 35 3 35 3 35
= je — — e K = O = 7 ——, ou seja, x = — e y =—. O vértice é o ponto K(— » —).
3
O foco no sistema xOy será o ponto F de coordenadas X = 0 = x — — e y = 1 =
35 3 39 3 39
= y —— pois F'(0,1). Logo, x — — e y = — donde F(— > — P o d e m o s afirmar,
então, que a equação 4x2 — 6x — y + 11 = 0 representa uma parábola com foco no
3 39 3 35
ponto F ( - ' — ) e vértice V(— > ——). O eixo de simetria e a diretriz são as retas
3 35 31
x = — e Y = —a = y —— = — 1, isto é, y = — respectivamente. Como exercício,
represente a parábola no sistema xOy.
2. A =£0 e C ^ O .

. Procedendo da mesma maneira que anteriormente, teremos:


0 = Ax2 + Cy1 + 2 Dx + 2 Ey+F =
„ 2 D , 2E
= A(X2+ x) + C ( 7 2 + — y ) + F =
A C
2D D2 D2 2E E>
= A(x2 + — x + ~ 2 -
A A"
A A' C C" C"
+SE
F>
2D
2D D D
22
D22 2E 12
EE22
+ x 4 r 2 ) ~ — +C(y
2 +F=
A A' A C' C1' Cc
D2 , E2 , D2 E2
= A (x +-) + C(y +p + F - - - —
A C A C
fazendo
D
X = x+—
A
E
Y = y+—
C

segue-se que:
D2 E2
AX2 4 CY2 + ( F )=0
A C
D2 E2
onde (F ) é uma constante. Chamando esta constante de AT vem:
A C
ÂX2+CY2+K = 0. (8)
2 2
D E
a)K = F = 0.
A C

104
Se A e C possuem o mesmo sinal, ou seja, se são ambos positivos ou negativos,
então, de
AX2 + CR2 = 0 ou ( - A ) X 2 + (~C)Y2 =0
E2 D2
concluímos que X = Y = 0. Assim, seA¥=Q,C¥=0eF r = 0 a equação
A C
AX2 + CY2 + 2Dx + 2Ey + F = 0 representa o ponto de coordenadas
D D E E
x =0 = e v= 0
A A C C
Se A e C não possuem o mesmo sinal, podemos supor, por hipótese, que seja
A<QqC>0.
Multiplicando a equação (8), comK = 0, por ( - 1 ) , tem-se:
(-A)X2 - (C)Y2 = 0.
Sendo C> 0 e A < 0 decorre q u e C = | C | e - 4 = \A\. Daí:
\A\X2 -\C\Y2 =0
donde
(VÜI X + yfiQY) (y/m X-sfiC\ Y) = 0

o que implica ser


\y/\Ã\X + yJ\C\ y=0
|VüTU-Víqr=o
que são duas retas passando pela origem O' de XO'Y. Concluímos que, se K = 0
e A e C possuírem sinais contrários, a equação
Ax2 + Cy2 +2Dx + 2Ey + F=Q
representa duas retas cujas equações, em xOy, são
, . y/\Ã\ V\C\
y/\Ã\x+yf\C\ y+ D+ E= 0
A C
.— — VRi vTcT
^— D £=o
A C
D2 E2
b )K = F
A C
Reescrevemos a equação como
AX2 + CY2 = -K
e dividimos por —K (K¥= 0) obtendo
A 2, BY2
X + =1
-K -K

105
ou ainda:
X2 Y2
+- = I- (9)
-K -K
A C
A discussão será feita através dos sinais de A, Ce K.
-K -K
b.l) e
são negativos. Esta condição equivale a dizer que A, CeK pos-
A C
suem o mesmo sinal.

Façamos a = e b = ,a> 0 e b> 0.


Ml ICI

m m - * - *
Logo a = v e b=V . Como estamos supondo — < 0, < 0, ou seja,
\A\ |C| A C
K m K
— = = a2 e — = M = hb2 , a equaçao
• - rfica, entao:
A \A\ C |C|
x* Y1
° U
~ a2 ~~ b2
A C
isto é,
X2 Y2

o que é impossível, pois a soma de dois números positivos é um número positivo.


A equação (2) representa um conjunto vazio de pontos.
-K -K
b.2) e
sao positivos. Isto equivale a que A e C tenham o mesmo sinal
A C
e K sinal contrário ao de A e C.
-K -K -K 2 -K |*| .
Como > 0 , -— > 0 temos = ——a e = — = q . Assim:
A C A Ml C |C|
X2 Y2 X2 Y2
1= +
* K ~ a2 +
b2
C C
Ora, a equação
X2 Y2 _
1
a2 +
b2

106
representa uma elipse com eixos de simetria coincidindo com os eixos dos X e dos
Y do sistema XO'Y, logo a equação (2), nestas condições, descreve uma elipse com
eixos de simetria paralelos aos eixos dos x e dos y.
-K -K
b.3) — e — são de sisais contrários.
A C
-K -K
Seja > 0 e < 0. Logo, tem-se:
A C
-K \K\ • K \K\
— =a —= =o e a equação
H V
se escreve como:
A \A\ C |C|
X2 Y2 _ X2 Y2
~K~ ~b2'
à C
Mas, a equação
X2 Y2

representa uma hipérbole com eixos de simetria coincidindo com os eixos coordena-
dos do sistema XO'Y.
-K -K
Se fosse — < 0 e > 0 resultaria a equaçao
A B
Y2 X2
a2 1

que também representa uma hipérbole, com os eixos coordenados como eixos de si-
metria.
c)A = C>0 e K < 0. Neste caso a equação tem a forma
„ -K
X2 + Y2 =-r— = k com k> 0
A
e representa uma circunferência com centro na origem de XO'Ye.o raio é r
Consideremos, a seguir, alguns exemplos ilustrando os vários casos analisados.

Exemplo 2:
a) Classifique a curva apresentada pela equação.
b) Determine seus elementos principais.
25x 2 + 16^ 2 - 50x + 128^ - 1 1 9 = 0

Solução:
D2 E2 ( - 25)2 (64) 2
a M = 25>0, C= 16>0, K = F — - - — = -119 —<0.
A L 25 16

107
Logo - K > 0 , > 0 e > 0 . Logo, pela discussão feita, a equação descre-
A C
ve uma elipse.
b) 0 = 25x2 - 50JC + 16y2 + 128y - 119 =
= 2 5 ( x - 2 x + l - l ) + 160> 2 +8>>+16-16)- 119 =
2

= 25(x—l) 2 - 25 + 16(_y+4)2 - 16 • 1 6 - 119 =


= 25(x—l) 2 + 1 6 0 +4) 2 - 400.
Fazendo

I Y = ^+4
tem-se:
25JC2 + 1 6 r 2 = 400
ou ainda:

Il II-
16 25 ~
que é uma elipse com eixos de simetria coincidindo com os eixos coordenados do
sistema XO'Y. O eixo maior está sobre o eixo dos Y e é dado por a 2 = 25. O eixo
menor é dado por b2 = 16. A distância focalé2|a|. C o m o | a | 2 = a 2 — b2 = 25 - 16 =
= 9 resulta que A* = 9 ou a = ± 3. Os focos da elipse, no sistema XO'Y, são, por-
tanto, os pontos F[ (0,3) e Fj(0,—3). Abaixo representamos a elipse nos sistemas
XO'YEXOY.

108
Quais são as coordenadas dos focos Fi e F2 no sistema xOyl
Havíamos determinado que em XO'Y os focos são F\(0,3) e F j ( 0 , - 3 ) . Logo
X=0e Y=± 3. Como = 1 e Y = y+4 decorre quex = X+l ey= Y-4. As-
sim sendo as coordenadas de Fx e F2 serão
x = 0 + 1 = 1 e y = ±3-4, ,y = - l e y = ~l.
D a í . F j í l - l ) e F2( 1,-7).
Concluindo, a equação
25x 2 + I6y2 — 50x + 128^ — 119 = 0
representa uma elipse com focos sobre a reta x = l s e n d o * ( 1 , - 1 ) e ' F 2 ( l , - 7 ) .
O semi-eixo menor está sobre a reta y = - 4 . Os vértices são os pontos: (1,1),
-9), K3(5,-4)e K4(-3,-4).

Exemplo 3:
Estude a equação x2 — y2 + 2x — 3 = 0.

Solução:
D2 E2
Temos A = l C=-1 D= 1 E= 0 F=-3 , 4 ^ 0 C * 0 e K = F =
j A C
= -3 0 = —4 < 0.
1
K -4 K (-4)
Assim, = = 4> 0 e = —4 < 0, e vimos Hque Hquando
A l C (-1)
K K
e possuem sinais contrários então a curva é uma hipérbole. Determinemos
A C
esta hipérbole e seus elementos principais.
0 =x2 —y2 + 2x — 3 = x 2 + 2x —y2 — 3 =
= x 2 + 2X + 1 - 1 -y2 — 3 ~{x+l)2 —y2 — 4
donde ( x + l ) 2 -y2 =4e
2 2
(x+l) y = i

4 4
Pondo

1 Y—y
a equação se transforma em

4 2 ~

que representa, em XO'Y, uma hipérbole eqiiilátera uma vez que a = b = 2. Os vérti-

109
ces são os pontos F; (2,0) e V'2(-2,0). Os focos são os pontos da abscissa a dada
por a 2 = a2+b2 = 4 + 4 = 8 donde a = ±2\Í2 . Assim, FJ(2\/2,0) F'2(-2\ß,Q).
A origem O' do sistema XO' Y é, em xOy, o ponto O' de abscissa x = 0 -1 = -1
e de ordenada igual a y = 0, isto é, 0'(-l,O). Na Fig. 50, a representação da hipér-
bole em relação a XO'Y e xOy.

Fig. SO

Exemplo 4:
Estude a equação
4x 2 - 2 5 / 2 + 48* - l OOj' + 44 = 0.

Solução:
A= 4 C=~25 D = 24 £ " = - 5 0 F= 44.
D2 E2 24 2 (-50)2
^>0 C<0 e K =F =44 + = 0.
A C A 25
Como K = 0 e A, C têm sinais contrários, a equação dada representa um par
de retas no plano. Para obter as equações destas retas procedemos como antes:
0 = 4x2 — 25y2 + 48x - 100>- + 44 =
= 4(x2 + 12x)- 25(y2 + 4 y ) + 44 =

110
= 4(x 2 + 1 2 x + 3 6 - 3 6 ) - 25(y2 + 4 ^ + 4 - 4 ) + 44 =
= 4(x+6) 2 - 144 — 25CK + 2)2 + 1 0 0 + 4 4 =
= 4(x+6) 2 — 25(j> + 2)2
4(x+6) 2 — 250»+ 2)2 = 0
[2(x+6)] 2 ~ [5(-y + 2)}2 = 0
[2(*+6)+5(y + 2)]l2(jr+6)-5(y + 2)] = 0
donde
2(x+6) + 5{Y+2) = 0
2(x+6)-50'+2) = 0
ou seja:
2x + 5y + 22 = 0
2x-5y+ 2 = 0.
A discussão feita e os exemplos estudados mostram que a equação (2)
Ax2 + Cy2 + 2Dx + 2Ey + F=Q (2)
pode representar, dependendo das relações entre os coeficientes A, C, D, E e F,
uma parábola, uma elipse, uma hipérbole, uma circunferência, um par de retas,
um ponto ou um conjunto vazio de pontos. Quando a equação (2) se reduz a um
par de reta_s, um ponto ou um conjunto vazio dizemos que ela representa uma có-
nica imprópria ou degenerada. Nos demais casos diz-se uma cónica própria.
Supondo-se que a equação (2) represente uma cónica própria, para deter-
minar seus elementos principais, focos e vértices, por exemplo, é conveniente
reduzi-la à forma canónica. Nos exemplos apresentados isto foi feito às custas
de uma translação, isto é, da escolha de um novo sistema de eixos XO'Y em que os
eixos das abscissas e ordenadas do novo sistema são paralelos aos eixos das abscis-
sas e ordenadas, respectivamente, do antigo sistema xOy. A translação conveniente
foi determinada reescrevendo a equação (2) numa forma equivalente adequada on-
de aparece, explicitamente, a transformação a ser feita. Observamos, também, que
reduzir a equação (2) à sua forma canónica implica em eliminar, de alguma forma,
um ou os dois termos do primeiro grau e r a x e ^ o u u r a dos termos do primeiro grau
e o termo constante. Poderíamos, pois, partir da translação geral

x = X+a
y = Y+b

e determinar os parâmetros aeb para que fossem eliminados os termos convenien-


tes para a equação se reduzir à forma canónica.
Para ilustrar este procedimento vamos tomar dois exemplos.
a ) x 2 - y 2 + 2 * - 3 = 0.
Consideremos^ translação

111
(x = X+a
\y = Y+b
ilustrada na Fig. 51 no caso de ser a > 0, b > 0.

«>0
è>0

O-

Fig. 51

Feita a translação, a equação acima, no sistema XO'Y será


(X+a)2 - (Y+b)2 + 2(X+a) - 3 = 0
2 2
X +a + 2aX - Y2 - b2 -abY + 2X + 2a - 3 = 0
2 2
X -Y + (2a + 2)X + (~2b)Y + (a2 —b2-2a-3) = 0.
Logo, a equação não terá termos do primeiro grau em X e F se fizermos
j 2a + 2 = 0
/ -2b = 0,
isto é, se fizermos a = - l e b = 0. A translação conveniente é, portanto,
\x=X-l/
} y=y
A equação resultante será
X2—Y2 =4
que representa uma hipérbole equilátera como já havíamos visto nò Exemplo 3.
b ) x 2 ~4x-y + 9 = 0.
Seja, novamente, a translação
ix = X+a
)y = Y+b

112
e a equaçao transformada que será:
CX+a) 2 - 4 ( X + a ) - ( Y+b) + 9 = 0
AT2 + a 2 + 2 a J r - 4 X - 4 « - Y-b + 9= 0
2 2
Z +(2a-4)X- Y + (a -b +9) = 0.
Fazendo
( 2a —4 = 0
ja 2 —£+9 = 0
segue-se que a = 2 e b = 13. Corn estes valores a equaçao se transforma em
Y = X2
que é uma parábola com eixo de simetria coincidindo com o eixo dos Y e conca-
vidade voltada para o sentido positivo do mesmo eixo.
Feitas estas observações passemos ao estudo da equação mais geral do segundo
grau que descreve uma cónica. Esta é a equação (3) que contém, a mais, o termo
2 Bxy.
Ax2 + 2 Bxy + Cy2 + 2 Dx + 2Ey + F = 0. (3)
Esta equação se reduz à equação (2) já estudada no caso de ser B = 0. Então,
seria o caso de procurar uma transformação, no plano, de modo a transformar a
equação (3) na equação (2), isto é, de modo a eliminar o termo que contém o
produto xy. Eata transformação é uma rotação do sistema xOy de um ângulo <p con-
veniénte. Apresentaremos, formalmente, a rotação, deixando seu estudo, enquanto
transfoniiaçãoJineâr, para mais tarde quando será vista comjnais detalhes.
Uma rotação, de um ângulo <p qualquer, é dada por

x = X cos ip - Y sen ip
y = X sen y + Y cos ip
!
relações que podem ser obtidas facilmente da figura abaixo.

resulta:
Fig. 52

113
Feita a rotação a equação (3) se transforma em:
A (X cos *p + Y sen ip)2 + 2B(X cos y~Y sen (X sen tp + Y cos y) +
2
+ C(X sen ifi + Y cos v) + 2 D(X cos <p-Y sen <p) +
+ 2£"(Jfsen y + Y cos *p) + F = 0.
Efetuando as operações e colecionando os termos que contêm X2, Y2, XY, X e Y a
equação pode ser escrita como:
A 'X2 + 2B'XY + C'Y2 + 2D'X + 2E'Y+F' =0 (j i )
onde o termo 2B', que é aquele que nos interessa no momento, é expresso por
2B' = —2A sen <p cos + 2 B ( c o s V - s e n V ) + 2C sen ip cos ip.

Lembrando que
sen 2ip = 2 sen <p cos >p
e
cos 2ip = cos2i^j — sen2 i^i

temos:
2B'= ~(A ~C)sen2p + 2B cos 2«p. (12)
Para que a equação transformada não contenha o termo XY é suficiente que
2B' = 0, ou seja, que
2B cos 2p = (A —C) sen 2<p

donde
r 2B

1 25
u3 = —arctg( )sei4#C. (13)
2 \i4 —C

Se ocorrer que A = C então de (12) segue-se qu .


2B' = 2B cos
e se Ä' = 0 tem-se cos 2<p = 0. Logo, o ângulo é determinado como sendo
1 1 n n
>p = - are cos(0) = =—-> (14)
2 2 2 4
o que representa uma rotação de45° no sentido positivo. Escolhendo ip para que se-
ja B' = 0 a equação (11) se transforma na (2)
yl'X 2 + C F 2 + 2D'X + 2E'Y + F ' = 0
e recaímos no caso já estudado.

114
Exemplo 1:
Encontre a rotação que elimina o termo cruzado xy da equação abaixo e escre-
va a equação transformada
3x2 - 10xy + 3 y 2 - 12x + 20.J> + 16 = 0

Solução:
A = 3 2 0 = - 1 0 C = 3.
^^ 7T
Como A = C = 3 tem-se ^ = — . A rotação será, então:

\Í2 \Í2
x= X Y
2 2
y/2 vT
>> = X + Y
2 2

Substituindo x e ^ na equação, efetuando os cálculos e simplificando encontrare-


mos:
X2 -4Y2 - 2yj2X-%\Í2Y - 8 = 0.

Exemplo 2:
Elimine o termo em xy da equação
I28x 2 - 408xy + 241y2 = 0
escrevendo a equação transformada.

Solução:
A = 128 2B = —408 C=247
2B -408 24
A-C= 128 - 2 4 7 = - 1 1 9 e
,4-C -119 7
Logo
2Ä 24
tg2(/>:
i4-C 7
Os valores de cos ^ e sen ^ podem ser obtidos, facilmente, a partir das identida-
des trigonométricas
1
1 + tg2 2tp = sec2 2i/j = —
cos 2ip
2
I cos ^? + senV = 1
cos2(£ — sen2i^ = cos 2<p

115
Da primeira decorre que
1
cos 2<p — —
+ V l + tg2 2yp
e das duas últimas podemos obter
cos <p = (1+COS 2ip)

senip = (l-cos2ip).

Com os valores de cos <p e sen tp construímos a rotação que elimina ó termo em
xy da equação dada. Fazendo os cálculos encontraremos
7 4 3
cos 2ip — — » cos <p = — , sen $ = —
25 5 5

a equação transformada será


iX2 -16Y2 =0.

Exercícios
1. Em cada um dos casos, a seguir, identifique a curva analisando os coeficientes. Reduza a
equação à sua forma canónica, confirme a identificação feita e represente geometricamente
a curva.
A)
1. y = 9x2 -6x + 2
Resposta: parábola
4x+5
2. y=
2x-l
Resposta : hipérbole
3. 4x 2 + 9y* - 8x - 36y + 4 = 0
Resposta: elipse
4. 36x 2 + 36y% - 36x - 24>> - 23 = 0
Resposta: circunferência
5. 16x 2 + 25y 1 - 32x + 50^ - 359 = 0
Resposta: elipse
1 1 2
6. ~ x 2 - - y 2 - x + - y - l = 0
4 9 3
Resposta : hipérbole
7. x* +4y2 ~4x~8y+ 8= 0
Resposta: um ponto
8. x 2 - 6x + 8 = 0
Resposta : duas retas
9. x 1 + 2x + 5 = 0
Resposta: vazio
10. 2x 2 - 4x + 2y - 3 = 0
Resposta : parábola

116
B)
1. 9x2 + 24xy + 16y2 -25=0
Resposta : duas retas
^2/ xy + 2x - 4 / - 8 = 0
Resposta: duas retas
3. 5JC1 + 4xy + 8 y 2 + 8* + 14/ + 5 = 0
Resposta: elipse
/J. 6 x y + 8 y 1 -I2x-26y + 11=0
Resposta : hipérbole
5. x1 - 2xy + y2 - IOJC - 6y + 25 = 0
Resposta : parábola
25x2 + 1 0 x y + y 1 -1=0
Resposta : duas retas paralelas
7. x2 + 2xy + y2 + 2x + 2y - 1 = 0
Resposta: duas retas idênticas
ID 14X2 + 24xy + 21 y2 - 4x + 18/ - 139 = 0
^ Resposta: elipse
9. 4xy + 3y 2 + 16* + 12/ - 36 = 0
Reposta:hipérbole
l o j 9x2 - 24xy + 16/* - 20* + 110/ - 50 = 0
Resposta: parábola

4.2 Representação Paramétrica das Cónicas


Até agora representamos as cónicas pelas suas equações cartesianas da forma
F(x, y) = 0 onde F indica uma relação funcional entre as variáveis x e y. São des-
te tipo, por exemplo, as equações seguintes:
a) x2+y2 -1 = 0
x2 y2
b ) - + - - i =o

c) Sx2 + 4y2 -3x+y+ 5=0


Se nestas equações, que representam curvas do plano, pudermos dar as coorde-
nadas x e y, de pontos da curva, em função de uma única variável X, então dizemos
que a curva está representada na forma paramétrica. A variável X, que toma valores
reais, recebe, neste caso, o nome de parâmetro. Lembramos que no estudo da reta,
no espaço, fizemos sua descrição na forma paramétrica. A seguir, obteremos as
equações paramétricas da parábola, circunferência, elipse e hipérbole.

a) Equações paramétricas da parábola


Vimos que a equação cartesiana da parábola, referida aos eixos, tem a forma
y = 2px2 ou x = 2 py2.
Suponha, para fixar idéias, que seja y = 2px2, p > 0. Trata-se de uma parábola
simétrica em relação ao eixo dos y e com abertura voltada para o sentido positivo
do eixo y. Logo, tem-se y>0ex pode assumir qualquer valor.

117
Tomemos, como parâmetro, o número real X, < X< e façamos x = X.
Daí, obtém-se que y = 2p\2. As equações paramétricas da parábola seriam, neste
caso, dadas por:
x =X
—°°< X <

y = 2p\2

Exemplo:
Obtenha as equações paramétricas da parábola x = 4 y 2 .
Como a y pode ser dado qualquer valor façamos y = X com X € (—o0,00). En-
tão, x será dado por x = 4X 2 . Logo, as equações pedidas serão:

x = 4X2

y = x
b) Equações paramétricas da circunferência
Consideremos a circunferência x2 +y2 =r2 e P(x,y) um ponto da mesma
circunferência como indicado na Fig. 53. Sendo tp o ângulo que o raio vetor OP,
de norma r, faz com o sentido positivo do eixo x, têm-se as seguintes relações:
í x = proj e OP

\y = VTOÍeOP

donde:
\x=r cos 1p

118
Quando $ varia de 0 a 2n radianos tanto x como y assumem valores no interva-
lo [—/",+/•]. Podemos, portanto, tomar <p como parâmetro e as equações paramétri-
cas da circunferência de raio r e centro na origem serão:
x = r cos tp
0<<p<2n
y = r sen y
Poderíamos ter chegado às mesmas equações observando a relação entre a equa-
ção da circunferência x2 +y2 = r 2 e a identidade trigonométrica cos2 <p + sen2 ^ = 1.
De fato, podemos escrever a equação na forma

( - ? + ( yr ) 2 = 1-
r
x y
Como — e — sao tais que a soma de seus quadrados é sempre igual a 1 podemos fa-
x y
zer— igual ao,co-seno e — igual ao seno de um ângulo ip. Daí se tem:
* y
— = cos ifi e — = sen ip
r r
donde
x = r cos ip
y = r sen
!
Exemplo:

Obtenha as equações paramétricas da circunferência x2 +y2 - 2x - 2y — 4 = 0.

Solução:
Escrevendo a equação da circunferência quando reduzida aos eixos encontra-
remos:
(x—2)2 + 0 - 1 ) 2 =0
donde
x—2 „ y-1 ,

Assim, podemos fazer:


x-2 y-1
= cos ip e = sen tf.
3 3
As equações paramétricas procuradas são:

I x = 2 + 3 cos ip

7 = 1 + 3 sen ip
< 2jt
119
c) Equações paramétricas da elipse
x2 y2
Seja a elipse —- -I—- = 1, de semi-eixo maior igual a a e semi-eixo menor igual
a b
a b, e consideremos a circunferência de centro na origem e raio igual aò semi-eixo

Tome P um ponto qualquer da elipse, de coordenadas x e y. Fazendo passar por


P uma reta paralela ao eixo dos y ela intercepta a circunferência no ponto M que
determina com a origem O o raio vetor OM de normal igual a a, raio da circun-
ferência. Tem-se então que
* = projCi OM
ou
x — a cos tp
Como x é abscissa de um ponto da elipse a ordenada y, do mesmo ponto, é cal-
culada substituindo o valor de x na equação da elipse.
Segue-se que
(a cos <p)2 y2
+ 1
; T 2=
Ü b
donde
y2
* ~ cos 2 yj - s e n V

e
y = b sen ip.

120
Quando <p varia no intervalo 0 < ip < 2TI, X assume valores em [ -a, +a] e y em
[—b, +Z>], o ponto P descrevendo toda a elipse.
Tomando y como parâmetro as equações paramétricas da elipse têm a forma
x = a cos <p
0 < y < 2tt
y = b sen >p

Também, da mesma maneira que fizemos no caso da circunferência, podemos


x y
fazer, diretamente da equação da elipse, — = cos e — = sen ip uma vez que a so-
ma dos quadrados destes números é igual a 1. Obtêm-se, assim, de forma direta,
as equações paramétricas da elipse.
Exemplo:
Escreva as equações paramétricas da elipse
4x2 + 9y2 - 8x - 36y + 4 = 0.

Solução:
Reduzindo a equação dada aos eixos coordenados resulta que
(x-l)2 0-2)2
' , * J

ou seja,

( Í Z V - K ^ , .

Portanto;
x-l y-2
— = cos ip e = sen <p
3 2

ou
x = 1 + 3 cos ip
0<V><27T
y = 2 + 2 sen ip

d) Equações paramétricas da hipérbole


A equação da hipérbole referida aos eixos cartesianos é

•= 1

121
onde a é o semi-eixo real. Esta equaçao pode ser escrita como:

a b
x y
o que nos diz ser — e — dois números reais tais que a diferença entre seus quadrados
é sempre igual a 1.
Da identidade trigonométrica
cos21p + sen2 \p = 1
podemos obter, dividindo ambos os membros por cos2<p, a relação
2
1 + sen (£ 1
~ ~ ~

cos Ip cos >p


sen <p 1
desde que cos </> 0. Comoi = tg <p e = sec <p vem:
' C O S IP C O S IP

sec2ip — tg2ip = 1.
Podemos fazer, portanto, na equação da hipérbole,
y
* *

— = sec u? e -r — tg ip
a
com a condição de que cos ip ¥= 0.
O ramo direito da hipérbole ( x > a ) é descrito quando tp percorre o intervalo
(- ^ » e o ramo esquerdo (x < -a) quando ip percorre o intervalo > —•). As
equações paramétricas da hipérbole são, então, dadas por:
x = a sec yj 11 n n 371
\ní \
y^btgip
A hipérbole possui outra representação paramétrica em que as equações estão
relacionadas com as chamadas funções hiperbólicas e nas quais o parâmetro possui
um significado geométrico preciso. No próximo parágrafo discutiremos as assínto-
tas da hipérbole e obteremos outra representação paramétrica.

4.3 Assíntotas e Equações Paramétricas da Hipérbole Equilátera Referida às


Assíntotas

Diremos que a reta y = ßxe uma reta assíntota à hipérbole

a2 b2

se a distância da reta à hipérbole diminuir à medida que o valor absoluto de x cres-


cer. Vamos mostrar que as retas y = ^ x e y = —^ x são assíntotas à hipérbole
122
Na Fig. 55 a seguir, seja P um ponto da hipérbole, de abscissa x , e ß a interse-
ção da reta, paralela ao eixo y, passando por P com a reta y = - x . A distância D

Fig. 55

da reta à hipérbole será o comprimento do segmento QR. Do triângulo retângulo


PQR observamos que o segmento PQ é maior que o segmento QR, pois são hipo-
tenusa e cateto do referido triângulo. Seja 5 o comprimento da hipotenusa para
cada ponto P, isto é, teremos ô = S(x), D = D(x) e S(x) > D(x) para todo x>a.
Como D(x) > 0, se mostrarmos que ô(x) ^ 0 quando x -*• concluímos que
D(x) 0 quando x -»• <», isto é,
lim D(x) = 0

pois
0 <D(x) <S(x).
É suficiente, pois, mostrarmos que lim 8(x) = 0.
x-»«

123
O ponto P, sendo um ponto da hipérbole e possuindo abscissa x, terá ordena-
da y igual a y = ^ V x 2 - a 2 . O ponto Q terá abscissa x e ordenada y=^x. A dis-
tância 6 é então o valor absoluto da diferença entre as ordenadas deQeP. Logo

Mas:
b b r~i 2
- x — Vx2-a2
a a

h (x - Vx 2 -a2 ) (x W x 2 -a2 ) h x2-x2+a2


x+Vx2-a2 a
xWÏ2"!^

-=ab
a 2 2
x+Vx —a xWx2-a2
donde
1
ò{x) = ab • -
x+Vx2-a2
e
1
lim 8 (x) = ab lim = aZ>0 = 0.
xWx2-a2
Conclui-se, portanto, que
OClim £>(x)<iim 6(x) = 0
x->» x-*<*>

ou
lim D(x) = 0,

b x 2 y 2
isto é, a distância da reta y = — x à hipérbole— — — = 1 diminui, aproximando-
se do valor zero, quando o ponto P se move de modo a que sua abscissa se afaste
indefinidamente da origem. Esta propriedade caracteriza a reta como assíntota da
hipérbole dada. Resulta, como conseqüência imediata, que as assíntotas da hipér-
bole eqiiilátera x2 —y2 = a2 são as retas y = x e y = - x , pois, neste caso, a = b
por definição. Observe que as retas y = x ey = —x são ortogonais.
Qual será a equação da hipérbole eqüilátera x2—y2 = 2 quando referida às as-
síntotas? De acordo com a Fig. 56 isto equivale a procurar a equação da hipérbole
dada em relação ao sistema XO'Y em que 0 = 0' e os eixos dos X e dos Y coinci-
dem com as retas y = x e y = — x respectivamente.

124
O sistema XO'Y foi obtido do sistema xOy através de uma rotação, no sentido
negativo, de um ângulo v? = ^ rad.
Logo a relação entre as coordenadas, de pontos da hipérbole, nos dois sistemas
de coordenadas será:

* = ATcos(-|)-Fsen(-|)

j = jrsen(-J)+ycos'(-J)

donde
y/T y/i

y/2 y/í
x + :
\y — T T >
que substituídos na equação
x2-y2 =2
resulta:

125
VI . VI,

I (*2 + R2 + 2ZY) - 1 (*2 + Y2 - IXY) = 2

X 2 + Y2 + 2XY-X2 - r2 +2ZF = 4
4*r = 4
XY= 1.
Portanto, a equação da hipérbole eqüilátera x 2 —y2 = 2 no novo sistema de co-
ordenadas XO'Y é
XY= 1
e está representada na Fig. 57.

Fig. 57

Antes de obter as equações paramétricas da hipérbole veremos duas proprieda-


des bem interessantes no caso da hipérbole eqüilátera referida às assíntotas:

126
a) É fácil de ver, da Fig. 57, que o ponto V, de abscissa e ordenada iguais a 1,
é o vértice da hipérbole. Além de F, considere os pontos B e C de abscissas bec
respectivamente. Estes pontos e a origem determinam os triângulos A O Fl, A OBb e
AOCc. As áreas destes triângulos são iguais. De fato, as bases dos triângulos são
iguais às abscissas de cada ponto e suas alturas são iguais aos inversos de suas abscis-
sas. Logo, tem-se:

AÖF1; ,4=1-1-1=1; A OBb- =±

e
AOCc; A = ± c j = ±-

Se tomássemos um ponto P de abscissa X, o triângulo AOPX teria área A =

b) Suponha, agora, apenas o vértice F e o ponto B que determinam o retân-


gulo hiperbólico VBb 1 indicado na Fig. 58.

Fig. 58

Seja a > 1, a área da região limitada pelo gráfico da hipérbole, pelo ei-
xo dos X e pelas retas X= 1 e X — a. A área do retângulo hiperbólico VBb 1 será
então ip(b) e indicaremos por
V(b) = A(VBbl).
Ora, ^(b)^A(VBb\)=A(0 VBb) -A (O VI ). Mas, mostramos que A(OV 1 ) =
= A(OBb). Logo,
ip(b) = A(0VBb) - A (OBb)

127
que é igual à área da região, determinada pelos pontos O, V e B, chamada setor
hiperbólico. Temos, então
<p(b')=A(VBbï) = A{OVB).
c) Sejam dados três pontos de abscissas iguais a Xi, x2 ex3 e suponha que seja
verificada a relação:

Xi x2

Nestas condições, se 1 <xt <x2 <x3, ou 1 > * i >x2 >x3 > 0 , tem-se que:

Se, por exemplo, tomarmos x , = b, x2 = c e x 3 = be, com 1 <b <c resulta


que

No final deste parágrafo mostraremos a veracidade desta afirmação.


Em vista desta propriedade, põe-se, por definição:

onde firç é a função logaritmo tomado na base e. Como a função inversa da função
logaritmo é a função exponencial, decorre que

onde lembramos que y mede a área do setor hiperbólico determinado pela origem,
o vértice F e o ponto P, da hipérbole, de abscissa igual a X.
Sendo XY = 1 segue-se que

X ef

O número real <p(X) possui valores no intervalo [0, sendo <^(1) = 0 e


<p(e) = 1. Tomando <p= y(X) como parâmetro, as equações paramétricas da hipér-
bole equilátera XY = 1 serão
X = e*

Voltando ao antigo sistema de coordenadas xOy teríamos


VI
x=-f(X+Y)

Vl
y=-j(rX+Y)

donde concluímos que as equações paramétricas da hipérbole equilátera x 2 — y2 = 2


serão dadas por :

128
Façamos, agora, a demonstração de que
fibc) = <fi(b) + *>(<?),
ou seja, mostraremos que
<p(bc) - v>(c) = <p(b)
supondo que 1 < b < c .
Examinando a Fig. 59 observamos que da definição de isto é equivalente a
mostrar queA(V,B,b,l) = A (Ç BC, bc, c).

Fig. 59

Estas áreas podem ser aproximadas por somas de áreas de retângulos construí-
dos de forma adequada. Consideremos, inicialmente, a área y(b) = A(V,B,b, 1). Di-
vidamos o segmento compreendido entre as abscissas b e 1, em « partes iguais.
6-1
Cada segmento da subdivisão terá comprimento igual a = hn e os pontos da
n
subdivisão terão as abscissas
1,1 + hn, 1 + 2hn, 1 + 3 hn,..., 1 +jhn, 1 + 0 + l)ft B , • • •, 1 +nh„ = b,

129
isto é, serão pontos da forma Xj = 1 + jhn com / variando de 0 a n. Usando cada
um destes segmentos como base construímos um retângulo com altura igual à or-
denada do ponto da hipérbole que tem como abscissa o extremo da direita deste
segmento. Considerando um segmento genérico, determinado pelos pontos ,
Xj, a área Aj, do retângulo correspondente, seria igual a
1
A j = base x altura = ( X j — =
x
i
1 1 hn
= hn x— = h„ =
xj 1 +jhn \+jhn

K
Ai
' 1+Íhn
Veja Fig. 60.

Fig. 60

Somando as áreas de todos estes retângulos teríamos um valor aproximado


da área da região V,B, b, 1, isto é, de #(b), e o erro cometido diminui à medida que
n, o número de subdivisões do segmento 1, b, aumenta. A soma das áreas Aj será:

n n hn
Ai +A1 +A3 +... +A„ =Sn = 2 A,= E
/ =1 / = ! 1 +jh„

Admitiremos que, quando n crescer, a diferença entre o valor real da área \p(b)
e o valor aproximado se aproximará de zero, isto é, que
¥?(£) = lim Sn.
n-><*>
Façamos, agora, a subdivisão do intervalo [c,bc] também em n subintervalos
bc-c (b-1)
iguais. O comprimento de cada subintervalo será Hn = , donde Hn=c =
n n
= chn. Os pontos da subdivisão serão:
c,c+ch„ ,c+2chn....c+jchn,...,c+nchn = bc.

130
As áreas Aj dos retângulos, construídos da mesma forma que no caso anterior,
serão
1 K
Aj = base x altura = chn =
c+)chn l+jhn

donde
_ _ _ n _ n hn
Al+A2+...+An=S„= 2 Aj= 2
/=1 j =i l+jh„

Concluímos que, do fato de ser Aj — 4j para cada }, decorre a igualdade Sn =


= Sn. Ora, se os valores aproximados das áreas Sn e Sn sao iguais, qualquer que se-
ja n, então, isto é também verdadeiro no limite quando n cresce indefinidamente.
Segue-se daí que
Sn =
Sn para todo n =» lim Sn = lim Sn

donde resulta ser:


A(V,B,b, 1) =A(C, BC, bc, c)
ou
<p(b) = f(bc) - y(c)
o que é o mesmo que
<p(bc) = v(b) + ip(c).

Exercícios
A) Em cada um dos exercícios abaixo uma curva está representada na forma paramétrica. De-
termine a equação cartesiana (retangular) e identifique a curva,
íx = 2 + 3tge
1.
y = 1 + 4sec 8
Resposta: hipérbole
X = (v0 cos a)t
2.
_
1 ,
y = (v„ sen a)t ~ gt

Resposta: parábola
lx = 2t2
3.
\y = 3lt1
Resposta: hipérbole

I
x = 2t + 2
4.

y = 2t1 +41
Resposta: parábola
131
x = 2(1 +COS 0)
5.
! y — 2 sen d
Resposta: circunferência
21
l + fJ

y=
1 - f 2^
a
l + fJ
Resposta: circunferência
— p0 cotg2 a
7.
y = 2p0 cotg a
Resposta: parábola

í JC =a(ea + e~a)
8.
ly=aiea-e-a)
Resposta: hipérbole

B) Determine o campo de variação do parâmetro e dê-lhe, se possível, um significado (geomé-


trico, físico, etc.) nos Exercícios n°.s 2 , 4 , 5 , 6, 7 e 8.

132
EXERCÍCIOS
COMPLEMENTARES
Este grupo de exercícios é apresentado com duplo objetivo: primeiro, apresen-
tar, ao estudante interessado, alguns resultados e conceitos que não foram vistos
no texto e, em segundo lugar, para proporcionar mais uma possibilidade de se testar
a compreensão do texto e o domínio no uso dos resultados nele apresentados. Os
exercícios não estão dispostos, necessariamente, em ordem de dificuldade, e alguns
foram questões de vestibulares passados.

A) Retas no R2
1. Um quadrado tem um de seus vértices na origem e outro vértice, oposto ao pri-
meiro, no ponto A(—6,-2). Determine:
a) a diagonal do quadrado;
b) as coordenadas dos outros dois vetores.
(Escola Politécnica da Universidade Católica — Cone. Hábil. 1948.)
2. Num quadrado, dois vértices são as interseções dos eixos coordenados com a re-
ta 3x + 4y — 8 = 0. Ache as coordenadas dos quatro vértices e as equações
dos outros três lados sabendo-se que a origem das coordenadas está situada no
interior do quadrado.
(Escola Nacional de Engenharia — Cone. Hábil. 1940.)
3. Os lados de tun triângulo sao dados por suas equações y — 3x—1, y — x ~K3,
y = — 2x. Calcule as coordenadas dos vértices e os ângulos do triângulo.
(Escola de Engenharia de Juiz de Fora — Cone. Hábil. 1948.)
4. Até qual ponto o segmento de extremos A (1,-1) e £(4,5) deve ser prolongado,
no sentido de A para B, para que o seu comprimento seja triplicado?
(Faculdade de Arquitetura de Porto Alegre — Cone. Hábil. 1948.)
5. Determine a equação da reta que passa pelo ponto M(—2,7) e que faz um ângu-
lo de 45° com a reta determinada pelos pontos.4(5,-1) e £ ( - 8 , 4 ) .
(Faculdade Nacional de Engenharia — Cone. Hábil. 1948.)
6. Prove que o quadriláterocujosvérticessãoospontos,4(l,2),2?(3,—2),C(-l,—3)
e D(—3,1) é um paralelogramo e determine sua área.
(Escola de Engenharia Mackenzie — Cone. Hábil. 1947.)

133
7. Dados os vértices ,4(0,10), 0(5,5) e C ( - 5 , - 1 0 ) do triângulo ABC, determine
as equações de suas alturas e verifique se elas concorrem num mesmo ponto.
Determine este ponto.
(Faculdade Nacional de Filosofia - Cone. Hábil)
8. Demonstre, analiticamente, que a soma das distâncias de um ponto interior, de
um triângulo eqüilátero, aos três lados é constante.
(Escola Nacional de Engenharia — Cone. Hábil. 1944 — 2? época.)
9. Do ponto A (6,0) são traçadas perpendiculares aos lados 5x - > > - 4 = 0, 7 = 1
e x — y — 4 = 0 de um triângulo. Mostre que os pés destas perpendiculares são
colineares.
10. Uma linha reta se desloca de maneira que a soma dos inversos das coordenadas
de suas interseções com os eixos coordenados é sempre igual a uma constante
k # 0. Mostre que a reta sempre passa pelo ponto fixo F(-~->
11. Dadas as retas axx + bxy + cx = 0 , a2x + b2y + c2 = 0 suponha que elas se in-
terceptam no pontoP(x 0 ,7 0 ). Mostre queai* + bxy + Ci + \(a2x+b2y+c2) =
= 0 representa a família de todas as retas que passam pelo ponto P de interse-
ção das retas dadas, com exceção da reta a2x + b2y + c2 = 0. X G R.
12. Uma reta passa pela interseção das retas 3x + 2y + 8 = 0 e 2x — 9y - 5 = 0.
Determine sua equação se ela é paralela à reta 6x — 2y + 11 = 0 .
Resposta: 3x - y + 5 = 0
13. Uma reta passa pela interseção das retas 2x + 3y + \ = Qe3x — 5^ + 1 1 = 0
e também pela interseção das retas x — 3y + 1 = 0 e 4x + 7 - 1 1 = 0 . De-
termine a equação da reta sem achar os pontos de interseção. Comprove seu re-
sultado calculando pelos pontos de interseção.
14. a) Se A (x j ,yx ) é um ponto situado "acima" da reta
ax + by + c = 0, 0, mostre que:
ax\ +byx +c> 0 se b> 0
eaXi + b y x + c < 0 se b < 0.
b) Se A ( x i , y i ) estiver "abaixo" da reta dada então as desigualdades em a) se
invertem.
Sugestão : F(x, y) = ax + by + c.
15. Desenhe, no plano R 2 , o gráfico da coleção dos p o n t o s P ( x , y ) tais que:
a) Ix+7|<1,
b) |*| + \y\ < 2,
c) mix I | x | , |_y| I < 1 ,
á) x~>a — b\y\, a > 0 , b>0.
16. Faça o gráfico das soluções dos seguintes sistemas de inequações:

a)

134
2X + 3 Y < 6

-x +y<2
! x+3y>~3
17. Considere o quadrilátero cujos vértices são os pontos A (4,0), B(0,2), C(-1,0)
e D(-3,0). Descreva os pontos interiores ao quadrilátero como conjunto de so-
luções de um sistema de inequações.

B) Retas e Planos no R3
18 a) Se P\(Xi,yi,Zi), P2(x2,y2,z2) são os extremos de um segmento retilíneo
PiP2 mostre que as coordenadas x, y, z do ponto P que divide o segmento
PXP _ xx+rx2 yt+ry2 zx+rz2
na razaor = sao:x = , v= , z — sendo —1.
PP2 1+r 1+r 1+r
Sugestão: Primeiro, mostre que o resultado é verdadeiro no R 2 comi>i(*!,.>>,),
P^x2,y2).
b) Quais são as coordenadas do ponto médio M do segmento P\P2 ?
19. Os extremos de um segmento retilíneo são Pi(-2,1,4) e P a (3,2,-1). Determine
PiP
as coordenadas do ponto P que divide este segmento na razao = 3.
PP2
1 1 1
Resposta:^-'---)
20. Um plano passa pelo ponto (3,1,-1) e é perpendicular ao plano 2x — 2y+z +
+ 4 = 0, sendo 5 ( 0 , 0 , - 3 ) sua interseção com o eixo dos z. Ache sua equação.
Resposta: 5x +y - 8z - 24 = 0
21. Determine a equação do plano que passa pelo ponto >1(3,-1,4) e também pela
reta interseção dos planos x + 2y — z = 4 e 2 x — 3_y+z = 6.
Resposta: 3x — y — 10 = 0
22. A distância de um plano à origem é igual a 3. Se o plano contém a reta interse-
ção dos planos x +y + z — 1 1 = 0 e x — 4y + 5z — 10 = 0 determine sua
equação.
Resposta: 2x - 3y + 6z - 21 = 0
at+3 y-5 z+ 7
23. Mostre que a reta = = se encontra no plano x - 2 y - 3 z - 8 =
4 - 1 2
= 0.
\lx-y~z +i =0
24. Mostre que a reta < se encontra no plano 5x — 17y +
(3x + 5y - 2z - 3 = 0
+ 4z + 25 = 0 usando as equações paramétricas da reta.
x+2 y z—4
25. Encontre o ângulo entre a reta = —= e o plano 2x + 3y - z + 11 =
3 - 1 2
= 0.
Resposta: 4° 6'

135
x-l y-4 z—5
x—2 7 - 8 z-11
26. Mostre que as retas = =
> —— = = se interceptam e
v
2 1 2 - 1 3 4
encontre a equação do plano determinado por elas.
Resposta: 2x + IO7 - 7z - 7 = 0
C) Cónicas
27. Calcule a distância do centro da circunferência x2 + y2 — 6 * + IO7 — 15 = 0
às bissetrizes dos ângulos formados pelas retas 7—3 = V3~(x+4) e 7—3 =
= -L(X+4).
V3
(Escola de Engenharia de Pernambuco — Cone. Hábil. 1949.)
28. Os pontos de interseção da reta lx + 7 + 5 = 0 com a circunferência x2 +
+ 7 2 — 6x + 27 — 15 = 0 constituem, com outro ponto da circunferência,
os vértices de um triângulo retângulo. Dê as coordenadas deste ponto.
(Escola Nacional de Engenharia — Cone. Hábil. 1945.)
29. Dada a circunferência* 2 +y2 - 6x2 - IO7 + 30 = 0 e a reta lx + 57 - 91 =
= 0 determine a menor distância da reta à circunferência e as coordenadas do
ponto que está mais próximo da circunferência.
(Escola Nacional de Engenharia — Cone. Hábil. 1942 — 2? época.)
30. Uma circunferência tem diâmetro cujo suporte passa pelo ponto P{—2,-3).
A equação da tangente em um dos extremos deste diâmetro é 3x + 4y — 57 =
= 0 e a tangente no outro extremo corta o eixo dos x no ponto de abscissa
7
x = — . Ache a equação da circunferência.

(Faculdade Nacional de Filosofia — Cone. Hábil. 1946.)


31. Determine a equação da circunferência cujo centro está sobre a reta 6x + ly —
— 16 = 0 e que é tangente a cada uma das retas 8 * + 157 + 7 = 0 e 3* —
- 4 7 - 1 8 = 0.
Resposta: (jc-5) 2 + ( 7 + 2 ) 2 = 1 ou ( x - 3 ) 2 + ( 7 + | ) 2 =

32. Suponha dadas duas circunferências distintas Ê j e â 2


x2 +72 +Dlx+E1y+Fl =0
à2: x2 + 7 2 + D2x+E2y+F2 =0
Verifique os seguintes fatos:
a) a equação x2+y2+D1x+E1y+F1 +X(x2+y2+D2x+E2y+F2) = 0, sen-
do X e R, X # — 1, representa uma família de circunferências com centros
sobre a reta determinada pelos centros C, e C2 de fe j e £ 2 . Em particular,
se C1 e è j se interceptam nos pontos P\ e P2 então toda circunferência da
família, com exceção da <5 2 > passará por estes pontos.
b) Se fe 1 e 2 forem tangentes então as circunferências da família, com exce-
ção da í?2, são tangentes no mesmo ponto de tangência de Òi e É 2 -

136
c) Se fi, e f i 2 não possuem pontos comuns então para cada valor de X (X # - 1 )
a equação representa uma circunferência e estas circunferências não pos-
suem pontos comuns entre si nem com 6 1 ou <5 2 .
d) Mostre que o sistema
jx2 + y2 + Dlx+Ely + F1 =0
2 2
jx +y + D2x+E2y + F2 =0
é equivalente ao sistema
x2 +y2 +Dlx+Ely+Fl=Q
(Di Di)x + (El -E2)y + (Fi -F2) =0
onde a última equação foi obtida fazendo-se X = — 1 na equação da família
de circunferências do item a) deste exercício.
Esta equação do primeiro grau representa uma linha reta denominada eixo
radical.
e) Mostre que se £ i e fi2 se interceptam nos pontos Px e P2 então o eixo radi-
cal passa por estes jíontos.
f ) Mostre que o eixo radical é perpendicular à reta que une os centros de 6 1 e 6 2 .
g) Mostre que o eixo radical não existe se C j e t j forem concêntricas.
33. Determine a equação da circunferência que passa pelas interseções das circun-
ferências x 2 +y3 - 6x + 4 = 0 e x2 - 2 = 0 e é tangente à reta x +
+ 3y - 14 = 0.
Resposta: x2 +y2 - 8x + 6 = 0 ou 9x 2 + 9 y 2 + 88x - 106 = 0
34. Determine o comprimento da corda e a equação da secante comum às circun-
ferências dadas porx 2 +y2 - 8^ + 6 = 0 e x2 +y2 - 14x - 6y + 38 = 0.
Resposta: lx — y — 16 = 0; 2 \ / 2
35. Dada a circunferência 3x2 + 3y2 + 12x + 4y - 35 = 0 e o ponto P(3,4) cal-
cule o comprimento do segmento da tangente à circunferência, passando por
P, segmento este determinado por P e o ponto de tangência.
2
Resposta: — N/69
Sugestão: Mostre que se (x-h)2 +(y-k)2 =r2 é a circunferência dada e
^(•^í.^i) e ponto externo, então o comprimento do segmento pro-
curado será dado por c = V ( x j - ^ ) 2 +(y\-k)2 - r2.
36. Prove que a equação da tangente à circunferência x2 +y2 = r2 no ponto de
c o n t a t o P ( x i , y i ) é d a d a p o r x j x + yty = r2.
Sugestão: x 2 + y ] = r 2 .
37. Demonstre que uma reta que passa pelo centro de uma circunferência e ê per-
pendicular a uma corda divide ao meio esta corda.
38. Demonstre que qualquer reta paralela ao eixo de uma parábola intercepta a pa-
rábola em apenas um ponto.

137
39. Determine a equaçao da família de parábolas que tem foco comum F(3A) e ei-
xo de simetria comum paralelo ao eixo y.
40. Os focos de uma elipse são os pontos F2(—4,-6) e ^ ( - 4 , - 2 ) e o comprimen-
to de cada lac tus rectum é 6. Determine a equação da elipse e sua excentricida-
de.
(x +4) 2 0+4)2 1
Resposta: 1 =1; e = —
12 16 2
Observação : Em uma cónica denomina-se lactus rectum ao segmento da corda
que passa pelo focp e é perpendicular ao eixo de simetria.
41. A equação de uma família de elipses é kx2 + 4 y 2 + 6x - 87 - 5 = 0. Encon-

tre as elipses da família que tem excentricidade igual a ^ •


Resposta: 3x 2 + 4y2 + 6x - &y - 5 = 0; 16x 2 + 1 2 / + 18x - 24>> - 15 =
= 0
42. O ponto médio de uma corda da elipse x 2 + 4 y2 - 6 x - 8 . y - 3 = 0 é o ponto
Aí(5,2). Ache a equação da corda.
Resposta: x + 2y — 9 = 0
43. Desde o ponto P(2,l) são traçadas retas tangentes à elipse 2x2 + y2 + 2x -
— 3y - 2 = 0. Determine as coordenadas dos pontos de tangência.
13 29
Resposta: r , ( l , l ) ; T2(~ — >—)

44. Determine os pontos de interseção da reta 2x - 9y + 12 = 0 com as assíntotas


da hipérbole 4x2 — 9 y 2 = 11.
Resposta: A(3,2); B(~ 1).

45. Demonstre que se as assíntotas de uma hipérbole são perpendiculares então a


hipérbole é equilátera.

D) Lugares Geométricos
46. Determine a equação do lugar geométrico de um ponto que se move de maneira
tal que o quadrado de sua distância ao ponto A (4,1) é sempre igual a sua dis-
tância ao eixo y.
Resposta:* 2 +y2 - 9x - 2y + 17 = 0
47. Determine a equação do lugar geométrico de um ponto que se move de manei-
ra que a soma dos quadrados de suas distâncias aos pontos ^ ( 3 , 5 ) e B(—4,2) é
sempre igual a 30.
Resposta: x 2 + y2 + x - ly + 12 = 0
48. Uma circunferência de raio igual a 4 tem o centro no ponto C(l,—1). Determi-
ne a equação do lugar geométrico dos pontos médios de todos os seus raios.
Resposta: x 2 + y2 - 2x + 2y - 2 = 0

138
49. Dois dos vértices de um triângulo são os pontos ,4(-1,3), 5(5,1). Determine
a equação do lugar geométrico do terceiro vértice C se este se move de maneira
que a declividade do lado AC é sempre o dobro da declividade do lado BC.
Resposta: xy + x + ly — 17 = 0
50. Dois dos vértices de um triângulo são os pontos A(1,0) e 5(5,0). Determine
a equação do lugar geométrico do terceiro vértice C se este se move de forma
que a diferença entre os comprimentos dos lados AC e BC é sempre igual à me-
tade do comprimento do lado AB.
Resposta: 3x2 -y2 - 18* + 24 = 0
51. Determine e identifique a equação do lugar geométrico dos pontos médios das
ordenadas dos pontos sobre a circunferência x 2 + y 2 = 9.
Resposta:* 2 + 4y2 = 9
52. Determine e identifique a equação do lugar geométrico de um ponto que divi-
de as ordenadas dos pontos sobre a circunferência* 2 + y 2 = 16 na razão 1:4.
53. Determine e identifique a equação do lugar geométrico do centro de uma cir-
cunferência que é sempre tangente às circunferências x 2 + y2 — 4y — 12 = 0
ex2+y2 = l.
Resposta: lOOx2 + 8 4 / - 1 6 8 ^ - 4 4 1 = 0 ou 36* 2 + 20y 2 - 40y - 25 = 0
54. O ponto P é um ponto que se move de maneira que sua distância do ponto
A (a, O) é k vezes sua distância ao ponto B(—a,0). Mostre que o lugar geomé-
trico do ponto P ê a circunferência (chamada circunferência de Apolonius)
(1 + Jk2)
x + y — 2 \ax + a = 0 onde X = —. O que acontece quando k = 1?
(1-Ãr 2 )
55. a) São dados, no plano, um ponto F e uma reta d que não contém F. Obtenha
a equação do lugar dos pontos do plano cujas distâncias ao ponto F e à reta d
estão em uma razão constante e.
b) Faça uma discussão segundo os possíveis valores de e.
56. Dada a elipse b2x2 +a2 =a2b2 prove que o lugar geométrico dos pontos mé-
dios das cordas, desta elipse, paralelas à reta y = mx é também uma reta. Ob-
tenha sua equação. Este lugar geométrico é chamado diâmetro da elipse conju-
gado à direção de inclinação m.
57. Dados os pontos.4(1,0), 5(0,1) e C(2,4) resolva as seguintes questões:
a) determine as equações dos lados do triângulo T formado pelos três pontos
dados;
b) determine e identifique a equação do lugar geométrico dos pontos do plano
cujas projeções sobre os lados de T formam um triângulo de área constante
e igual a k2.
58. Determine e identifique a equação do lugar geométrico do ponto P se ele se
move de maneira que sua distância ao plano 2*— y + 2z — 6 = 0 é igual a
duas vezes sua distância do plano * + 2y — 2z + 3 = 0.

139
59. Considere no R 3 a região R definida pelas d e s i g u a l d a d e s x > 0 , y > 1, z>Q.
Determine e identifique o lugar geométrico dos pontos P de R que possuem a
propriedade de estarem a igual distância dos planos x = 0,y = 0ez = 0.
60. a) Descreva a região (faça um gráfico) determinada pelas desigualdades:
'x>0
y> 0
z> 0

b) Calcule o volume da região determinada em a).

E) Complemento: Conjuntos Convexos


Um subconjunto K do R" diz-se convexo quando, dados dois vetores uev
pertencentes a K, o segmento linear do R" com extremos em « e v está contido em
K. Esta idéia geométrica pode ser formalizada como se segue: o segmento de reta
com extremos u e v é a coleção de pontos do R" da forma au + ( l - a ) v com
0 < a < 1. Deste modo, diz-se que um subconjunto K do R" é convexo quando,
dados dois vetores quaisquer u evdeK, resulta que o segmento de reta au + (1—a)v
também está contido em K. Mostre, usando este fato, que são convexos os seguintes
conjuntos*:
a) K = \tG R; a<t<b\
b) K é segmento de reta do R 2 com extremos e r a « = ( u 1 , u ! ) e u = (ui )•
Repita para o caso do R 3 ou R " .
c) K é o conjunto dos vetores u do R 3 tais que l u - a U < 1, sendo a um vetor
fixo.
d) K é o conjunto dos pontos P(x,y) do R 2 tais que ax2 + ßy2 < 1, a, ß nú-
meros reais fixos.
e) xy < 1, x, y positivos.

40
Seja o convexo K da parte e), ou seja, K = j (x,y) G R 2 : xy> 1, x > 0 ,
y > 0 1 como mostra a Fig. 61.
Considere o vetor / não pertencente ao convexo K. Demonstra-se que existe
um único vetor u pertencente a K tal que
U u - / l l < lv-fí para todo v em K.
O vetor u, nesta condições, denomina-se projeção do vetor/sobre o convexo K.

Exercício
Mostre que se K é uma reta do R 2 , ou um plano do R 3 , a projeção ortogonal
de um ponto sobre a reta, ou de um ponto sobre o plano, são situações particulares
da que acabamos de ver.
Vejamos que uma condição necessária e suficiente para que um vetor u de K se-
ja projeção de / sobre K é que
(u\v-u)>(f\v-u)
para todo v em K. (Veja a Fig. 61.)
De fato, seja u a projeção de / sobre K. Sendo uev vetores de K, que é conve-
xo, segue-se que os vetores w = àv + (1— a)u, 0 < a < 1 pertencem a K. Por um
cálculo simples encontra-se:
Hw-/II 2 = lla(ü-M) + ( « - / ) H2 =
= a2Bc-ul2 +2a(y-u\u-f)+ IIM-/II2.

Como, por hipótese, u é a projeção dt f sobre o convexo K, segue-se, da defini-


ção de projeção, que
2
lw-fl >Htu-fP.
Logo,
a 2 Uy—MII2 +2ot(v-u\u-f)>0
para todo número real a com 0 < a < 1.
Obtém-se desta desigualdade que
(v-u\u-f)> 0 para todo i>E.K.
Sendo o produto escalar simétrico, obtém-se:
(u\v-u)>(f\v-u)
para todo D Ê K .
Reciprocamente, suponhamos que exista um vetor u em K tal que
(u\v-u)>(f\v-u).
Para qualquer v G K tem-se:
B„_/|p = « ( d - U ) - » - ^ - / ) « 2 =
= b - u « 2 + 2(v-u\u-f) + flu-/»2.
Da hipótese feita conclui-se que ( u - f \ v - u ) > 0 logo,

141
Ill) -/II2 >h-u II2 + ««-/II 2 > UM - / I 2
donde
lv~ß> llw-/ll
para todo u em K, provando que M é de fato a projeção de / sobre K.
A seguir, interpretaremos, geometricamente, a inequação (u\v u)> ( / | u - u)
que caracteriza a projeção de/sobre o convexo* da Fig. 61.
De fato, olhando a Fig. 61 conclui-se que o ângulo 6, formado pelos vetores
f-u e u - u, sendo v um vetor qualquer de K, é um ângulo obtuso, logo cosâ é ne-
gativo. O co-seno do ângulo entre estes vetores sendo igual a
(f-ulv-u)
Hf-ull Wv- uW

ele será negativo quando


( f - w I y — «) < 0
que é a inequação que caracteriza a projeção.
Faremos, agora, uma análise do exemplo relativo à projeção sobre o convexo
K, da Fig. 61.
Inicialmente, observe a diferença entre os convexos dos exemplos d) e e).
O convexo do exemplo d) não contém os pontos da curva ax 2 + ßy2 = 1 enquan-
to o do exemplo e) contém os pontos da curva xy = 1. Por esta razão o convexo
K = I (x,y) 6 R 2 : xy < 1, x > 0, y > 0 } denomina-se um convexo fechado. A
hipótese de ser fechado entra de modo decisivo na demonstração da existência
do vetor u dando a projeção de / sobre K, demonstração que não fizemos por en-
volver argumentos de Análise Matemática que, embora extremamente elementares,
preferimos omitir. De modo intuitivo, o leitor pode visualizar que no caso do con-
vexo de d), ou de e) sem a curva xy = 1, não existe um vetor u em K dando a pro-
jeção. Outro fato que não demonstramos é que o vetor u, projeção de / sobre K,
é único. Isto pode ser demonstrado, sem dificuldade, supondo-se que existam dois
vetores satisfazendo a condição e chegando-se a uma contradição se não forem
iguais.
Prosseguindo analisando o exemplo, conclui-se que a hipótese decisiva sobre
K é que ele seja um convexo fechado. Note, também, que em lugar algum da de-
monstração entrou o fato de K ser um convexo do R 2 , isto é, em lugar algum en-
trou o fato de ser dimensão dois. Assim, uma primeira generalização do exemplo
seria considerar um convexo fechado * do R". Então, admitindo-se a existência
da projeção u de/demonstra-se, de modo inteiramente idêntico, que
(u\v-u)>(f\v~u)
para todo v G K. Faça como exercício. Mostre também a unicidade.
Este exemplo ingênuo possui generalização de grande utilidade nas aplicações
da Matemática, conhecida sob a denominação de métodos variacionais, motivado
pelo cálculo das variações clássico, com aplicações à programação matemática.

142
Veremos, a seguir, dois exemplos concretos que ilustram o que acabamos de
estudar.

Exemplo 1:
Suponha que o convexo K seja a reta
x+y-5 = 0 I . Dado o ponto /(5,4), não pertencente a K, pelo que vimos, existe
u EK tal que u é a projeção de/sobre K. Ou ainda, existe u € K tal que
II/-uII 2 < II/-nil 2
qualquer que seja vGK,e o vetor u é caracterizado pela desigualdade
(u\v-u)>(f\v-u), V&K.
Ora, destas considerações e da Fig. 62 abaixo vemos que II/- u il é a distância
do ponto / à reta dada, isto é, ao conjunto convexo K. De todos os pontos v da reta
o ponto v — u, projeção de/sobre K, é aquele que está menos afastado de/.

Pig. 62

Para verificarmos se as desigualdades são satisfeitas temos:


f-u = (5,4)-(3,2) = (2,2) e f-v = (5,4)-(x,5-x) = (5-x.x-l).
Segue-se que II/- m H2 = 8 e 11/- v II2 = ( 5 - x ) 2 + ( x - 1 ) 2 . Logo, tem-se:
if-vi2 - Wf-uW2 = ( 5 - x ) 2 + ( x - 1 ) 2 - 8 = 2(x -3)2 >0

143
valendo a igualdade quando x = 3, isto é, t; é o ponto (3,2) = u. Decorre desta de-
sigualdade que
Wf-vf>\\f-uP
ou
U/-wll< ll/-i>H para todo y G K.
Como v-u = (x—3,3 — x), obtém-se que
(f\v~u) = 5(x—3) + 4(3—x) = 5x—15 + 12—4x = x—3
e
(U|D-U) = 3(x—3) + 2(3—x) = 3x—9+6—2x = x—3
donde
(w |u —u) = (f\v — u)
valendo portanto apenas a igualdade.

Exemplo 2:
Seguindo exatamente as mesmas idéias do Exemplo 1, suponha K o plano de
equação x + . y + z — 1 = 0 que é um convexo do R 3 (verifique esta afirmação). Da-
do o ponto /(1,2,4) segue-se que existe u G K tal que
I I / - M II < 1 1 / - « ; II

e
(u\v-u)>(f\v-u)
para todo v&K.
Deixamos para o estudante verificar como exercício que o vetor u &K que sa-
tisfaz estas condições é o vetor u = OP' = (—1,0,2).
Sendo v<EK, v qualquer, D é da forma v = OQ = (x,y, 1-x-y). Mostre que
se tem:
lf-vl2 - l|f-uil 2 = ( x + l) 2 + / +(z-2)2
donde
II/- v II2 - II/-u B2 > 0, para todo vGK,
valendo a igualdade se v = u.
Neste caso também se obtém que
(iu\v-u) = (f\v-u)
para todo v&K.
A interpretação geométrica é análoga à do Exemplo 1. O vetor u é aquele,
dentre todos os vetores de K, que possui distância mínima do ponto/.
Exemplo 3:
Considere, agora, o convexo K do R 2 definido pelo conjunto de desigualdades
a seguir:

144
2y-x-3>Q
y + 2x - 9 > O
2y + 3x - 3 1 < 0
y-x-3<0
e que está representado na Fig. 63.

O convexo K é, então, o conjunto dos pontos interiores ao polígono ABCD,


mais os pontos dos lados AB, BC, CD e DÁ do polígono. K é, portanto, um conve-
xo fechado.
Suponha dada a função / definida no R 2 com valores em R, dada p o r / : R 2 R
tal que (x,y) f(x,y) — 2x + 3 y . Seja X o valor de / no ponto (x,y). Então
f(x,y) = 2x + 3y = X.
Queremos determinar o menor valor possível e o maior valor possível de X
quando o ponto u = (x,y) &K, isto é, queremos calcular os valores máximo e mí-
nimo, se houver, de / = /(.x, y) = 2x + 3 y no convexo K.
Ora, para cada valor fixo de X tem-se que 2x + 3y = X representa uma reta,
ou ainda, a equação 2x + 3y = X, X e R, descreve uma família de retas no R 2 .
Além do mais, sabemos que o vetor n = (2,3) é um vetor perpendicular a cada reta
da família. A função / dada acima pode ser representada da seguinte forma, como é
fácil verificar:
f(x,y) = \ = 2x + 3y = (n\u)
onde os vetores u en são dados por n = (2,3) eu = (x,y).
O problema é então achar quais os vetores uGK que dão os valores máximo e
mínimo (quando houver) de X = f(x,y).

145
Não é difícil o estudante verificar que X cresce quando u varia na mesma dire-
ção e sentido d e n e decresce quando u varia na mesma direção e sentido contrário
ao de n. Dito de outro modo, o vetor fixo n = (2,3) dá o sentido de crescimento da
função real f{x,y) = (n\u) = X.
Na Fig. 63 estão indicados o vetor n e duas retas, r j e r2, da família, obtidas
fazendo X = 0 e X = 6.
Da mesma figura é fácil perceber, também, que existe um valor de X tal que a
reta correspondente contém o ponto A vértice inferior do convexo K e existe outro
valor de X para o qual a reta correspondente contém o ponto C vértice superior de
K, sendo estes valores de X o valor mínimo e o valor máximo respectivamente de
2x + 3 v = (n |u) = X.
Assim,
m í n / = /(,4) = /(3,3) = 2 • 3 + 3 • 3 = 15
K
e
m á x / = / ( Q = / ( 5,8) = 2- 5 + 8- 3 = 34
K
Demonstra-se que a função f(x,y) = ax + by, que pode ser posta na forma
f(x,y) = (n\u), sendo n = (a,b) e u = (x,y), atinge sempre um valor extremo
(valor máximo, mínimo, ou ambos) num convexo fechado KC R 2 , e o valor ex-
tremo é atingido num dos vértices ou um dos lados do convexo K, se K for limita-
do por retas. A demonstração pode ser encontrada em qualquer texto elementar de
programação linear.

Exercícios
Relacionados com o exemplo que acabamos de estudar sugerimos os dois exercícios a
seguir:
1. Mostre que f(x,y) = 2x + y atinge o valor máximo numa infinidade de pontos de K sendo
K o convexo do exemplo anterior. Verifique também que / atinge seu valor máximo num
único ponto que é o vértice B de K.
2. Considere K = -j (x, e R J : 2y-x-3>Q e y + 2x-9 > 0 | . Constate .que f(x,y) =
= 2x + 3y atinge o valor mínimo em K mas não atinge o valor máximo. Explique o porquê
deste resultado.

F) Complemento: Ortonormalização de Vetores


No Capítulo 1 vimos que o cálculo algébrico com vetores fica bastante simpli-
ficado quando trabalhamos com bases ortonormais, isto é, bases em que os vetores
têm norma igual a l e são ortogonais dois a dois. Para relembrar este fato, suponha-
mos uma base ortonormal, do R", constituída por \ w i , w 2 ,---,w„ | e um vetor
u qualquer do R". A representação de u, nesta base, é
u =<xiwl + a-2 w2 + ... + anwn

146
onde a j , a 2 . . . a„ são as componentes de u na base dada. Para calcular a j , por exem-
plo, que é a componente de u na direção Wj, é suficiente projetar u na direção Wi.
Da definição de projeção segue-se que
("Ivf!) = ( a , w , + a 2 w 2 + . . . + a „ w „ | w i )

= a i ( w 1 | w 1 ) + a 2 ( w 2 | w 2 ) + ... + a«(w„tw 1 ).
Como a base é ortonormal tem-se:
O l | W ! ) = 1, ( w 2 | w 1 ) = ( w 3 | w i ) = ... = (WflIWj) = 0

donde
a j = (u í w 1 ).
Do mesmo modo teríamos
a
2 = ( " l w 2 ) , a 3 = (u|w 3 ),...,a„ = (M|W„).
Poderíamos, usando este resultado, representar u na forma
u = («Iwi)«^! + («|w>2)w2 + ... + (u\wn)w„.

Esta representação só é possível se a base usada for ortonormal. Observe que, se


a base não for ortogonal, o problema de determinar as componentes de u se traduz,
matematicamente, na discussão de um sistema algébrico, não homogêneo, de n
equações a n incógnitas que é, em termos de cálculo algébrico, bem mais complica-
do. Fizemos estas considerações para mostrar ao estudante o interesse em se poder
obter bases ortonormais num espaço vetorial euclidiano R".
Nos textos de Álgebra Linear, toma-se, como ponto de partida, uma axiomá-
tica que caracteriza a estrutura algébrica denominada espaço vetorial. A seguir defi-
ne-se 0 que se entende por base de um espaço vetorial. espaço com produto escalar
e introduzem-se os conceitos de base ortonormal e dimensão.
A Álgebra Linear limitar-se-ia ao estudo das funções lineares entre espaços ve-
toriais de dimensão finita. Retornando ao conceito de base ortonormal necessária
seria a demonstração da existência de tais bases. A atitude adotada njste texto não
é a de partir de uma coleção de axiomas, mas sim admitir os números reais e daí
seguir, por um processo ingênuo, porém construtivo, chegar ao R n que é um exem-
plo significativo de espaço vetorial de dimensão n.
Resta-nos descrever como obter uma base ortonormal no R", o que vem feito
a seguir, através do método conhecido como método de Gram-Schmidt.

Processo de ortogonalização de Gram-Schmidt


Dado o conjunto de vetores S = j ui,u2,-..,u„ j- C R", linearmente indepen-
dente, considere o problema de obter um conjunto = | w i ,w 2 ,...,w # , j- C R"
que seja ortonormal, isto é, tal que (w;|u'y) = Ose i¥=j e (h^I wy) = 1 se i—j.
Observamos que o problema fica resolvido se construirmos o conjunto Sv =
= I vl,v2,..-,v„ C R" sendo os vetores v1,v2,v3,...,vn ortogonais dois a dois.

147
V, v2
Para obter o conjunto ortonormal Si é suficiente fazer Wi = , w2 = ... v„ =
III,! Bl>2 II

Com o objetivo de tornar bem claro o método e possibilitar uma visualização


geométrica simples vamos analisar um caso concreto do R 2 .
Suponha S = | =(1,1), u2 = ( - 2 , 1 ) } . Para obter Sv = | u i , d j } , com u , l v2,
procedamos da seguinte maneira:
a) escolhemos, como primeiro vetor v t , o vetor dado. Tem-se, então: u, =
= «,=(1,1).
b) Tomamos v2 na forma v2 = u2 + otvi onde a será determinado de modo a
se t e r ( v 3 | v i ) = 0.
A Fig. 64, a seguir, esclarece geometricamente a situação.

Fig. 64

Calculando o valor de a encontramos:

0 = (i>j|t>i) = («2+ai>il«i) = ("2lt»i) + a(i>il«>i)

(«2 k r )
a = —-
0Vi \v2)
Logo,
("2l»l)
«2 = " 2 - - — ; —
(«í k i )
ou

»2 = ( - 2 , 1 ) - (1,1) = ( - 2 , 1 ) - i r y - \ )

3 3

148
Assim, Sv = = (1,1), v2 = (— ^ • ^ é um conjunto de vetores ortogo-
nais. Para obter S, basta tomar
Vi v2
Wi = e w2 = ;
loj Wv21
Obtém-se:

( V2 V2. , V2 V2.)

Suponha, agora, três vetores linearmente independentes do R", 5 = j « i , « 2 . « 3 | .


=
A partir de S queremos construir { vi,v2,v3 | com v t i v 2 , 1 v 3 e v2 1 u 3 .
O procedimento é exatamente análogo ao anterior.
a) Escolhemos como vetor vx o primeiro vetor de S que é u , .
b) Como v2 tomemos o vetor u2 4- ai*! com a condição (u2 |t>t) = 0 que per-
mite determinar a.
Tem-se:
v2 = u2+avi ( f j | u i ) = 0.
Logo,
0 = (f 2 |i>i ) = (u 2 |i>!) + a(t>, |i>„),
ou seja,
(«2 k l )
a =
("1 Ivi)
O vetor v2 será, então, da forma
(W2|fl)
»2 = " 2 - - — ; —
(«íbi)
c) Toma-se para v3 o vetor v3 = u3 + ßvt + yv2 impondo-se as condições de
que(u 3 (i) 1 ) = (y 3 |ü 2 ) = 0.
Segue-se que
0 = (v31 vi ) = ( « 3 |i» 1 ) + ß(v i |v 1) + 7(i>2 |u i )

0 = (w 3 |u 2 )= ( w 3 | f 2 ) + ß(üi|D 2 ) + 7 ( f 2 | f 2 )
Como (vi lv2) = 0 obtém-se:
(«3l»l) + /î(«'ll»l) = 0

("3IU2) + 7 ( ^ 1 ^ ) = 0

donde
("3 M ("3|f2)
(T>,|DJ)' ( ^ 1 ^ 2 )

149
O vetor t>3 será expresso, então, como:
("ski) ("sk2)
»3 = «3 Vi V2 •
kiki) k>2k2)
Considerando, agora, o caso geral, suponha5C R* S= j ui,u2,u3,• [ li-
nearmente independente. Os vetores ortogonais dois a dois são obtidos
a seguir:
a) Vi = u ,
b) v2 = u2 + Xii>i •.• (f21 t^i) = 0

(u2k») k2ki)
Xj = ' v2 = u2 Ui
(fil«i) (fil"i)
c) v3 = u3 + X j f j + X2u2 •.• (u 3 lui) = 0; (u3k2) = 0

("jki) . («ski)
X! = X2 = v2
kiki) (»2k2)

("3ki) ("skï)
u 3 = w3 Vi v2
(«i k i ) k2k2)
d) suponha calculado o vetor vk_l,k<n. O vetor seguinte vk será da forma
v u
k~ k + X2u2 + ...
com as condições:
( i ^ k i ) = 0, (.fcloj) = 0 , . . . , ( ^ k ^ - i ) = 0.
Os coeficientes X, serão dados por:
("*ki) (Wfekí) _ ("fckfc-i)
Xj = —> X2 = '•••' X. ——- ; •
Oiki) (u2k2) * •

e
(u*k,) ("*ki) Kkjt-i)

* ki ki) kjk2) ("/t-i'^-i)

Podemos resumir estes resultados da seguinte forma: dado o conjunto de veto-


res S = I u1,u2,...,u„j', linearmente independente no R w , os vetores vi,v2,...,vn
ortogonais dois a dois, construídos a partir de S, são dados por:

vk =uk +XJÜ1 + X2i>2 + . . . +\_ivk_l

0 u *k,)
X. = —
k = 2,3,...,«
("i I ví) i= 1,2,,..,(k-1)

150
O conjunto ortonormal é obtido fazendo

di v2 n
w, = , w2 = - — - . . . w„ = -
bjl •li»3l

Exercícios
1. Dado o conjunto de vetores S = j u , } c R 2 , linearmente independente, os vetores vt e
i>, dados por

("2 If.)
u, = u, - -
(«, I",)
são linearmente independentes no R 2 ?
2. Se Sl = I w , , w wn } é um conjunto ortogonal de vetores, eles são linearmente inde-
pendentes?
3. Explique por que não se pode usar o método de Gram-Schmidt se o conjunto S = j u t ,u 2
-..,«„ I for linearmente dependente.
4. Ortonormalize os seguintes conjuntos de vetores:
a) = (2,0), «,=(1,-1)}
b) = (1,1,1), «,=(1,-1,1), «3 =(-1,1,0)}
c) = (1,2,3,4), u 3 = (0,-1,0,1), «3 = (2,5,1,0)}

151
NOTAS
HISTÓRICAS
Aproximadamente por volta de 400 A:C., tentava:se resolver o problema da
duplicação do volume do cubo fazendo interseções do cilindro, ou do cone, com
um plano. O estudo deste problema levou um estudante da escola platônica e dis-
cípulo de Eudóxius, chamado Manaichmus, ao estudo sistemático da secção, produ-
zida em um cone, por um plano perpendicular à geratriz, considerando a curva ob-
tida como um lugar geométrico no espaço. Se o ângulo do vértice do cone fosse agu-
do a curva obtida era uma elipse, se o ângulo fosse reto obtinha-se uma parábola
e, se obtuso, uma hipérbole. No estudo da hipérbole, Manaichmus conseguiu, in-
clusive, obter as assíntotas.
Por volta de 200 A.C., Apolonius, que ensinou inicialmente em Alexandria,
colocou a teoria das cónicas numa forma tão rigorosa e completa que somente foi
superada em época relativamente recente. Apolonius não considera, como Manai-
chmus, cada cónica como procedente de um cone com determinado ângulo no vér-
tice. Ele as obtém fazendo variar a inclinação do plano, com o qual se faz a inter-
seção, em relação à geratriz do cone. As propriedades fundamentais que foram usa-
das para caracterizar a parábola, elipse e hipérbole, e que já eram conhecidas desde
Arquimedes, seriam traduzidas, usando notação atual, pelas equações
y2 = 2px, y2 = 2 p x - Xx2 e y2 = 2px + Xx2
respectivamente. Daí se originaram as denominações agora usadas:
parábola y2 = 2px (áreas iguais)
elipse y2 = 2px—Xx2 ("deficiência" de área) y2 < 2px
hipérbole y2 = 2 p x + X x 2 ("excesso" de área) y2 > 2px
A compensação de áreas que aparece acima se deve ao fato de que estes estudos
estavam também relacionados com o problema da duplicação do quadrado, relacio-
nado, por sua vez, com a descoberta dos números racionais. De fato, dado um cubo
de aresta a, se considerarmos as parábolas de equações x2 =ay e y2 = 2ax, elas
interceptam-se em um ponto de abscissa x = aX/2 e, portanto, o cubo com aresta
OA = x = a \/2 tem volume V = x3 = 2a 3 , duplo, do volume do cubo dado. Esta
solução para o Problema de Delos, da "duplicação do cubo", foi dada por Manai-
chmus, em torno do ano 300 A.C. Manaichmus foi professor de Alexandre, o Gran-
de. Existe também uma solução para o problema da trisecção de um ângulo, devida

153
a Renée Descartes e fazendo uso de régua, compasso e uma parábola fixa. Não exis-
te solução para qualquer um dos dois problemas acima, usando-se apenas régua e
compasso.
Para termos idéia do progresso alcançado por Apolonius basta dizer que ele já
considerava os dois ramos da hipérbole como partes de uma mesma curva, o que
permitiu melhorar notavelmente os teoremas já existentes. Da leitura do texto, é fá-
cil constatar que a idéia fundamental que permitiu o estudo elementar, e extrema-
mente simples, de retas, planos e curvas no plano é a de poder representar um ponto
através de suas coordenadas, o que supõe, implicitamente, a existência de um siste-
ma de coordenadas. No nosso caso, o sistema usado foi o retangular, constituído de
um ponto O, chamado origem, e uma reta passando por O, o eixo real. Ou ainda
um conjunto de dois ou três eixos, perpendiculares entre si, passando por O. A idéia
de representar pontos por coordenadas é bastante antiga. Arquimedes já utilizava,
para definir as cónicas, um sistema constituído de um eixo, em que os pontos da
cónica eram determinados pelas suas distâncias ao eixo e pelos segmentos determi-
nados, sobre o eixo, pelo vértice e o pé da perpendicular ao eixo passando por ca-
da ponto da cónica. As atuais equações surgiram, como já foi mencionado, de pro-
blemas antigos de comparação de áreas e só faltava expressá-las através de letras, al-
gebricamente, o que Apolonius já havia expressado em palavras. O passo seguinte
seria o de poder usar, como eixo, uma reta qualquer do plano e de se escolher, co-
mo origem, um ponto qualquer do eixo. Este passo foi dado quase ao mesmo tem-
po, e independente um do outro, por dois franceses: Pierre Fermât e Renée Descar-
tes. Em 1637 já era conhecido, entre os matemáticos de Paris, o trabalho de Fermât
denominado Ad Locos Pianos et Solidas Isagoge. Neste trabalho, só publicado em
1679, já se encontravam, escritas em notação algébrica, as equações da reta e das
cónicas. A Geometria, de Renée Descartes, era um apêndice de seu Discours de la
Méthode (1637), considerado um marco no início da Filosofia Moderna. Na Geo-
metria, Descartes partia de um lugar geométrico bastante complicado, tomado de
Pappus e, com seu método, mosuava que os resultados podiam ser demonstrados por
meio da Álgebra. Embora Fermât usasse também, em seus trabalhos, a notação al-

154
gébrica, supõe-se que eles não influíram tanto no desenvolvimento posterior da Ma-
temática em parte pela época da publicação, quarenta anos após o Discurso, mas
também pelo fato de que foram redigidos em forma muito obscura, o que era cos-
tume fazer, propositadamente, naquela época. No livro terceiro da Geometria, Des-
cartes já usava as letras a, b,c, ... para representar quantidades conhecidas e x, y, z,
... para as incógnitas. Esta tendência no sentido de usar, intensivamente, a notação
algébrica permitiu a Descartes obter progresso num detalhe de importância; enquan-
to Fermât, seguindo os métodos empregados em toda a Idade Antiga e posterior-
mente pelos árabes, exigia uma homogeneidade rigorosa nas equações, Descartes
suprimiu esta necessidade introduzindo uma unidade de comprimento, o que permi-
a ?
tiu representar, por meio de segmentos, expressões como ab, —, a , etc., tornando
b
possível o emprego de coeficientes numéricos numa equação em x e y. É interessan-
te observar que nem Descartes nem Fermât usavam coordenadas retangulares e as
primeiras propriedades que foram expressas em notação algébrica, propriedades das
cónicas, o foram supondo eixos não perpendiculares entre si. O uso de eixos orto-
gonais foi introduzido por van Schooten, professor de Matemática na Universidade
de Leiden e discípulo de Descartes, numa segunda edição ampliada da tradução
da Geometria em 1659. Schooten apresenta, ali, inclusive as fórmulas de mudança
de sistemas de coordenadas retangulares. Nesta mesma edição ampliada da Geo-
metria aparece um outro trabalho, do estadista holandês John de Witt, denominado
Elemento Curvarum Linearum, onde ele parte da geração cinemática de curvas
de segunda ordem e demonstra que se podem obter, assim, as cónicas. Demonstra,
também, que toda cónica possui dois eixos retangulares, permitindo com isto li-
bertar o estudo das cónicas da consideração do cone no espaço.
A introdução das coordenadas no estudo analítico da Geometria teve como
conseqüência imediata o reinício de estudos sobre resolução gráfica de equações,
o que já tinha sido objeto de estudos por parte dos gregos. A extensão de siste-
mas de coordenadas ao espaço não foi tão imediata como se poderia supor. Uma
terceira coordenada aparece, pela primeira vez, na obra Nouveaux Elements des
Sections Coniques, de Felipe de La Hire (1679), onde uma superfície de segun-
do grau é representada por uma equação em x, y e v. Em 1715, John Bernoulli,
em correspondência a Leibnitz, menciona as coordenadas no espaço. No entan-
to, seu uso sistemático aparece num livro sobre coordenadas retangulares, de
Clairaut, no ano de 1731, em Paris. A equação do plano, apenas mencionada por
Clairaut, foi utilizada pela primeira vez por Monge (1771) na resolução de alguns
problemas sobre pontos e retas no espaço.
A Geometria Analítica, fundada por Descartes e Fermât, progrediu muito
lentamente. Um dos obstáculos a este progresso era o uso exclusivo do eixo dosx
e o emprego único de coordenadas positivas. Além disso, a idéia de que a equação
de uma curva poderia dar informações sobre suas propriedades, idéia simples e tri-
vial para nós, hoje, estava longe de ser pressentida naquela época, e os estudos limi-
tavam-se a determinar a posição dos pontos e a expressar alguns lugares geométri-
cos por meio de equações. Um dos primeiros trabalhos, fazendo uso sistemático de

155
coordenadas, foi o Enumeratio Linearum Tertii Ordinis, de Isaac Newton, publica-
do em 1704. Nele, Newton estuda e classifica as curvas de terceiro grau. A equação
x y
da reta na forma—I- — = 1, chamada equação segmentaria da reta, aparece pela pri-
ai b
meira vez numa obra de Crelle, em Berlim (1821). Uma expressão análoga para o
plano foi empregada, em 1818, por G. Lamé em Examen des Différentes Methodes
Empoyés pour Résoudre les Problèmes de Geometrie. Cauchy, em 1826, e Möbius,
em 1827, obtiveram a correspondência entre os pontos de uma reta e os valores de
um parâmetro X. O estudo metódico da circunferência foi iniciado por Lacroix
(1798) e a expressão ax + ßy = r2 para a tangente à circunferência no ponto ( a , ß )
aparece pela primeira vez num livro de exercícios de Louis Puissant (1801). As equa-
ções reduzidas ou canónicas das cónicas, tal como nós as estudamos, apareceram na
obra citada de G. Lamé em 1818.

156
INDICE ANALÍTICO
Abscissa, 13 Dependente, 25, 26, 27
Adição Descartes, René, 154
de números reais, 11, 13 Desigualdade
de vetores, 20, 22 de Schwartz, 4 1 , 4 3
Ângulo de Minkowski, 43
entre vetores, 38, 43 do triângulo, 43
entre retas, 56, (Ex 10) 58 Diâmetro conjugado, (Ex 56) 139
Área de triângulo, 68 Dimensão, 33
Assíntotas (da hipérbole), 122, 124 Direção de uma reta (veja também
vetor unitário), 44, 54
Base, 30, 33 Diretriz (da parábola), 81
ortonormal, 44 Distância
Bilinear, 40 entre dois pontos, 37
Biunívoca, 13 de um ponto a uma reta, 57, 66
de um ponto a um plano, 66
Circunferência entre duas retas reversas, 69
definição, 75
equação reduzida e geral, 75, 76 Eixo radical, 137
Coeficiente angular, 56 Elipse, 87, 88
Combinação, 26 Equação
Componentes de um vetor, 46 da circunferência, 75, 76
Comprimento de vetor, norma, 41 da elipse, 88
Comutativa (operação), 11 da hipérbole, 92
Cónica da parábola, 82
equações canónicas, 98 do plano, 62, 63, 64
equação geral, 99 da reta, 54,55,57, 59, 60
própria, 111 Equações paramétricas
Convexo, 140, 143 da circunferência, 118
Correspondência, 13 da elipse, 120
Co-seno (veja produto escalar) da hipérbole, 121, 122, 128,129
da parábola, 117
Declividade (veja coeficiente angular) da reta, 55, 60

157
Excentricidade, 95 Número
natural, 11
Família inteiro, 11, 12
de circunferências, (Ex 32) 136 racional, 12
de elipses, (Ex 41) 138 real, 13
de hipérboles, (Ex 9) 97
de parábolas, (Ex 8) 96 Ordenado
de retas, (Ex 10) 58, (Ex 11) 134 par, 16
Fermât, Pierre, 154 terno, 16
Função n-upla, 18
biunívo :a, 13, 14 Origem de um sistema de
exponencial, 128 coordenadas, 13
logaritmo, 128, 129, 130 Ortogonal
base, 44
Hipérbole vetores, 43, 147
assíntotas, 122, 124
eqüilátera, 94 Parábola, 81
Parâmetro, 82
Independente (linearmente), 27 Perpendicular, 43
Interseção Plano, 62
de circunferências, (Ex 32) 136 Produto
de planos, (Ex 17) 71, (Ex 19) 71 escalar, 38,40, 43
de reta e plano, (Ex 17) 71 vetorial, 47, 49, 53
de reta e circunferência, 77 Projeção de um vetor, 45,46,141,142
de reta e elipse, (Ex 8) 96
de reta e parábola, (Ex 6) 96, Reta
(Ex 38) 137 no plano, 53, 54
de reta e hipérbole, (Ex 5) 97 no espaço, 58
família de retas, (Ex 10) 58
l i m é , 156 Rotação de eixos, 113
Lactus rectum, 138
Sistema de coordenadas cartesianas,
Linearmente
13, 15
dependente, 25, 26, 27
Soma de pares ordenados, 20
independente, 27
Soma de vetores, 22
Lugares geométricos, 138
Subespaço vetorial, 30, 31
Subespaço vetorial gerado, 32
Módulo, 14, 37
Multiplicação Tangente
de reais, 12 à circunferência, 78, 79, 80
de real por vetor, 20 à elipse, (Ex 8) 96
à hipérbole, (Ex 5) 97
Norma, 41 comprimento de segmento
Normal a um plano, 63 da tangente, (Ex 35) 137

158
Translação, 102, 111 Valor absoluto, 14
Triângulo Vetor
á r e a 68 normal a um plano, 63, 64
unitário, 44
Unívoca, 13

159

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