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RESUMO DIREITO CIVIL II

Obrigações
Prof. Luísa Chaloub

1) Introdução

a) Importância do direito das obrigações: Para Flávio Tartuce, as obrigações


constituem-se como a base do direito hoje, servindo como parâmetro para outras
áreas do direito. Já Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald enxergam as obrigações
como uma maneira de equilibrar as relações sociais em um momento de
“capitalismo exacerbado e consumo desenfreado”.
b) Conceito de obrigações:
b.1) Etimológico: ligação (em latim) – vem do vocábulo obrigare (“ob+ligatio”) – unir,
ligar, atar, impor um determinado compromisso. No direito romano, as obrigações
estavam ligadas a uma ideia de submissão do devedor ao credor; hoje em dia, entretanto,
o direito das obrigações tem como princípio base a cooperação, existindo uma
duplicidade de direitos e deveres na relação credor-devedor.
b.2) Jurídico: 1- amplo: relativo – relação jurídica entre credor (sujeito ativo) e devedor
(sujeito passivo) para um pagamento.
2- estrito: objetivo – o próprio objeto da relação jurídica.
OBS: Orlando Gomes: o direito das obrigações deveria ser chamado de “direito
dos créditos” (visto a partir do polo ativo).
b.3) Doutrinário:
• Carlos Roberto Gonçalves, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: consideram
obrigação como o vínculo jurídico entre o credor (sujeito ativo) e o devedor
(sujeito passivo) para o cumprimento de determinada prestação, que pode ser
positiva (dar e fazer) ou negativa (não fazer). Definição contida na doutrina de
Chaves e Rosenvald: “relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos
jurídicos entre duas partes (denominadas credor e devedor, respectivamente),
cujo objeto é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantindo o
cumprimento, sob pena de coerção judicial”. A essência das obrigações é,
portanto, a coercibilidade (obrigação civil), ou seja, o poder que o credor tem de
exigir ao devedor o cumprimento daquela obrigação.
c) Aplicação:
c.1) Extrapatrimonial
c.2) Patrimonial (aplicáveis às obrigações e aos direitos reais): “A execução é real,
incidindo sobre o patrimônio e não sobre a pessoa do devedor. A finalidade da execução
patrimonial consiste na obtenção do interesse visando inicialmente à prestação, ou de
maneira próxima a ela. Em contrapartida, a execução pessoal é meramente um resquício
histórico” (Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald).
Artigo 391 do Código Civil: “Pelo inadimplemento das obrigações respondem
todos os bens do devedor.” combinado com artigo 1, III da Constituição Federal
(dignidade da pessoa humana). O artigo 391 CC só pode ser lido a partir de uma análise
constitucional, uma vez que nem todos os bens do devedor podem ser utilizados para o
adimplemento de uma obrigação, tendo em vista a tutelado patrimônio mínimo,
consagrada pela Súmula 486 do STJ.
Artigo 833 do Novo Código de Processo Civil: determina quais os bens que se
caracterizam como impenhoráveis

Lei 8009/90: dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família + Súmula 364 do


STJ: “O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel
pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.”.

Súmula 419 do STJ: “Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.” +


Súmula vinculante 25 do STF: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que
seja a modalidade de depósito.”

d) Evolução histórica:

1- Romano: surge a partir da ideia de submissão, a dívida poderia ser paga com o
próprio corpo do devedor (servidão, por exemplo).
2- Talião: representa uma evolução em relação ao direito romano, trazendo a ideia
de proporcionalidade entre dívida e pagamento.
3- 428 a.C.: surge a possibilidade de utilização do patrimônio como pagamento da
obrigação, havendo a possiblidade de se eliminar a sanção pessoal.
4- Justiniano 534 a. C.: consolida-se a ideia de obrigação como prestação.
5- Código Napoleônico de 1804 – artigo 2093: sistematizou a cobrança da dívida de
forma mais próxima ao que temos nos dias atuais, já que o código era baseado na
autonomia, liberdade e comércio. Traz a ideia de proporcionalidade material,
surgindo uma maior impessoalidade da obrigação. As garantias em caso de
inadimplemento estariam no patrimônio do devedor.

e) Posição topográfica: o direito das obrigações é a base para todos os demais ramos
do direito.
f) Função social da obrigação: a função social é o adimplemento, ou seja, o
cumprimento da obrigação imposta. O processo (atos encadeados) pelo qual a
obrigação é submetida é direcionado totalmente para a sua função social. As fases
de uma obrigação são: nascimento (quando as partes se obrigam),
desenvolvimento e adimplemento (fim da obrigação).
g) Metodologia:

Fontes: contrato, declaração universal (estudadas em Contratos), ato ilícito (estudado


em Responsabilidade Civil) e lei (fonte mediata e imediata)

h) Relações patrimoniais:
h.1) Teoria Monista: acredita que não existe diferença entre obrigações e reais. Há uma
zona de confluência entre ambos os direitos.

h.2) Teoria Dualista: as relações patrimoniais são bipartidas (obrigações e reais).

• Diferenças entre obrigações e reais (respectivamente):

1- PESSOAL (relação entre 2 pessoas, mediato, ação plural) x REAL (relação entre
1 sujeito e a coisa, imediato, qualquer pessoa)
2- VIOLAÇÃO POSITIVA OU NEGATIVA (existem prestações positivas ou
negativas nas obrigações, o que geram violações também positivas ou negativas)
x VIOLAÇÃO POSITIVA (nos reais só há uma forma de violação do direito real,
que é a positiva).
3- EXEMPLIFICATIVO – numerus apertus (artigo 425 CC – pode-se existir
qualquer obrigação desde que consoante com essa lei) x TAXATIVO – numerus
clausus (o rol dos reais é taxativo, embora tenham autores que defendem que ele
é exemplificativo, tendo em vista a autonomia privada).
4- RELATIVO (inter partes – a relação só se estabelece entre credor e devedor) x
ABSOLUTO (erga omnes – deve ser respeitado por todos)
5- EXECUÇÃO PATRIMONIAL (se o devedor não tem patrimônio, não há como
ocorrer o pagamento) x SEQUELA (previsto no artigo 1228 do Código Civil, faz
referência ao princípio da aderência. O direito de sequela é o direito que o titular
da coisa tem de perseguir esta coisa aonde quer que ela esteja e nas mãos de
qualquer pessoa que a detenha injustamente).
6- PRIVILÉGIO (lei 11.101/05 – crédito a ser recebido se dá por meio de uma ordem
preferencial – é recebido se existe o patrimônio) x PREFERÊNCIA (registro: é
dono da coisa quem primeiro a registrou)
7- FORMA LIVRE (artigos 107 e 108 contém as exceções à regra da forma livre do
contrato) x REGISTRÁVEIS (publicamente, erga omnes)
8- TRANSITÓRIOS x PERPÉTUOS

OBS: ZONA DE CONFLUÊNCIA: algumas hipóteses nas quais estão presentes


elementos das obrigações e dos direitos reais.

1- Teoria Monista
2- Teoria Dualista: adotada pelo CC

2.1- As relações jurídicas que estão na zona são relações

jurídicas obrigacionais (tanto que todas se chamam obrigações); minoritárias

2.2- As relações jurídicas são reais, uma vez que envolvem coisas;

2.3- Tratam-se de institutos que são a exceção da regra. – majoritária.

• Elementos comuns: obrigação + coisa


a) Obrigação propter rem, ambulatorial, mista, real: são prestações impostas ao
titular de determinado direito real, pelo simples fato de assumir tal condição.
A pessoa assume uma prestação de dar, fazer ou não fazer, em razão da
aquisição de um direito real. Essas obrigações afetam o titular da coisa ao
tempo em que se constitui a obrigação. O proprietário devedor responde com
todo o seu patrimônio.

Na obrigação propter rem, a coisa e a obrigação andam juntas, porém não há limitação do
uso da coisa em caso de inadimplemento da prestação.

$$$

Ex: taxa condominial. IPTU, IPVA.

b) Obrigação de ônus reais, condição: são aquelas que limitam o uso e o gozo da
coisa. Nessa obrigação, a dívida não é de um proprietário A ou B, mas sim
encargo da própria coisa. Nos ônus reais, o adquirente posterior se
responsabilizará por débitos contraídos pelo titular anterior, assumindo
encargos que estiverem em atraso. O proprietário devedor só será atingido no
limite do valor do bem, não por seu patrimônio inteiro. O titular não pode
utilizar a coisa em questão enquanto a obrigação não for adimplida.
c) Eficácia real: relação obrigacional que produz efeito “erga omnes”, não
possuindo a característica de relatividade.

Ex: artigo 33 do CC

i) Direitos da personalidade:

1- Dignidade: maior dos direitos da personalidade; tem aplicação muito ampla,


podendo existir vários direitos que estão contidos nela (ex: liberdade).
2- Autonomia existencial
3- Conceito: conjunto de características e atributos inerentes à pessoa e
indispensáveis para seu pleno desenvolvimento.
4- Características:

4.1- extrapatrimoniais: tutelam a existência e a interioridade do ser humano, embora


possam ter consequências patrimoniais (ex: dano moral);

4.2- gerais;

4.3- imprescritíveis: o direito da personalidade não prescreve, ainda que a pessoa não
utilize o direito por um tempo considerável;
4.4- intransmissíveis;

4.5- indisponíveis – enunciado do CJF: quando o CC declara que os direitos são


indisponíveis, ele quer dizer que eles não são completamente indisponíveis, podendo a
pessoa dispor de um direito desde que não seja uma disposição total ou perpétua. Ex:
disposição da privacidade para participar de programas como o Big Brother.

5- Dano: os danos aos direitos da personalidade podem ser de 3 tipos: dano moral
(dano à dignidade); dano material e dano estético (modificação não-desejada e
permanente).

2) Noções gerais das obrigações

a) Estrutura ou elementos constitutivos – relação jurídica subjetiva e prestacional


que busca o adimplemento como fim.

ELEMENTO SUBJETIVO/PESSOAL ELEMENTO OBJETIVO/MATERIAL

Vínculo jurídico

ELEMENTO VIRTUAL OU IMATERIAL

Elemento subjetivo: os sujeitos que participam da obrigação (passivo e ativo);

Elemento objetivo: objeto da obrigação;

Elemento virtual: vínculo; terceiro elemento que conecta os sujeitos ao objeto.

a.1) Elemento subjetivo – tipos: ativo (credor) e passivo (devedor)

Características: qualquer pessoa pode ser sujeito de uma obrigação; artigo 1º do CC;
natural ou jurídica.

• Ente despersonalizado? Pode figurar como sujeito ativo de uma obrigação e até
mesmo ajuizar a respectiva ação de cobrança, mas só pode atuar dessa forma em
casos que envolvam sua atividade fim (entendimento do STJ).

OBS1: relação complexa (relação na qual ora uma pessoa atua como credor, ora como
devedor). Ex: relação de compra e venda. A maioria das relações obrigacionais do dia a
dia é complexa. Para determinar quem é o credor e quem é o devedor em questão, observar
o OBJETO.
OBS2: transmissibilidade da obrigação: as obrigações, no geral, podem ser
transferidas de uma para outra pessoa, com exceção das obrigações personalíssimas, as
quais tem que ser cumpridas por uma pessoa específica.

OBS3: determinável: as obrigações podem ter objetos e sujeitos determináveis, porém


eles devem ser determinados no momento do pagamento da prestação.

Ex: promessa de recompensa, propter rem, bilhete da loteria.

OBS4: dúplice: as obrigações tem que ter dois polos (sujeito ativo e sujeito
passivo) – quando não há, ocorre a CONFUSÃO. Artigo 381: “Extingue-se a obrigação,
desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e de devedor.”

OBS5: plural x unitário: os sujeitos podem ser plurais ou unitários (ex: 10 pessoas
no polo ativo, 1 pessoa no polo passivo)

Originário x superveniente: a condição da quantidade de sujeitos não precisa ser


definida desde o início da relação jurídica.

SUJEITO ≠ PESSOA (ex: pessoa jurídica – vários sócios em uma empresa, porém
apenas 1 sujeito na obrigação).

OBS6: figuras secundárias (representantes/assistentes, por exemplo, em caso de


pessoas não-plenamente capazes) – não entram na conta do número de sujeitos.

a.2) Elemento objetivo

A prestação pode ser positiva ou negativa.

+ - dar/fazer

- - não fazer

Artigo 104, II, CC – o objeto precisa ser lícito, possível, determinado ou determinável. A
forma de determinação do objeto no direito das obrigações é a CONCENTRAÇÃO.

OBS: caráter patrimonial? Ideia da despatrimonialização do direito civil: em vez


de se dizer que é a obrigação uma questão patrimonial, pode-se dizer que é uma questão
de interesse.

Interesse – lei 13.188/15 (lei do direito de resposta): direito que uma pessoa tem
de ir ao ar dar a sua resposta em caso de ofensas recebidas por um veículo de comunicação
– tem como base a ideia do interesse.

• Tipos:

1- Objeto direto: prestação, atividade (dar, fazer ou não fazer) – imediato


2- Objeto indireto: bem – mediato
a.3) Elemento imaterial: vínculo jurídico, une sujeito e objeto

• Quantidade de elementos: todas as correntes afirmam que o devedor tem o dever


legal de cumprir a obrigação e o credor o direito de exigir aquele cumprimento,
através da responsabilidade patrimonial (artigo 391, CC).

1- Monista ou unitária (corrente ultrapassada):

Credor Devedor

Prestação (pagar/exigir)

Entende que para o devedor pagar a dívida e para o credor exigir o pagamento em
caso de inadimplemento, só é necessária uma prestação, na qual está presente o dever de
pagar e o direito de exigir – somente 1 elemento no vínculo jurídico.

2- Dualista ou binária (corrente adotada pelo Código Civil) – majoritária:

responsabilidade

Credor Devedor

débito

Schuld: débito: dever de cumprir a obrigação; adimplemento.

Haftung: responsabilidade patrimonial: direito de exigir o pagamento, mediante sujeição


do patrimônio do devedor em caso de descumprimento do débito.

Essa teoria entende que, embora geralmente ambos estejam presentes em uma
obrigação, pode haver débito sem responsabilidade e vice-versa.

• Débito sem responsabilidade: Obrigações naturais

MORAL NATURAL CIVIL

Consciência Consciência Lei

Regra moral Irrepetível Exigível

Liberalidade Inexigível Irrepetível


Obrigação moral: é baseada simplesmente na consciência do indivíduo, fazendo
com que a pessoa se sinta moralmente obrigada a cumprir. O pagamento se dá porque a
pessoa quer, a partir de um fundamento moral, não havendo a cobrança.

Obrigação natural: tem todas as características de uma obrigação civil, exceto a


responsabilidade. Usualmente, as ob naturais já foram ob civis e viraram naturais devido
ao tempo decorrido (prescrição) ou são aquelas que o ordenamento jurídico não prevê
como civis. Não se pode exigir que alguém pague uma obrigação natural, mas uma vez
paga, o dinheiro da prestação não pode ser devolvido.

Obrigação civil: baseada na lei, o credor tem a possibilidade de exigir o pagamento


da dívida, uma vez que existe a responsabilidade patrimonial.

Ex: dívidas prescritas e tipos de jogo:

• Proibido: aqueles que dependem somente da sorte da pessoa (ob natural) ex: jogo
do bicho
• Tolerado: aqueles que não dependem exclusivamente da sorte, mas também da
habilidade (ob natural) ex: poker, canastra
• Autorizado: aqueles que estimulam alguns aspectos da economia (ob civil) – ex:
loteria, corrida de cavalos.

• Responsabilidade sem débito

Ex: fiador – garantia de uma obrigação, responsável pela dívida caso o devedor não
pague – não possui débito.

Artigo 820, CC: “Pode-se estipular a fiança, ainda que sem consentimento do
devedor ou contra sua vontade”

RESUMINDO:

1- Inexigível: débito sem responsabilidade;


2- Garantia conferida por terceiro: responsabilidade sem débito.

b) Classificação das obrigações quanto ao objeto:

POSITIVAS – dar (coisa certa/coisa incerta) e fazer (fungível e infungível)

NEGATIVAS – não fazer

OBS: ob de dar – quadro já está pronto


Ob de fazer – quadro ainda não está pronto

b.1) Obrigação de dar divide-se em: dar, entregar e restituir.

3) Obrigação de dar coisa certa:

a) Conceito: obrigação de dar objeto individualizado em gênero, quantidade e


qualidade. Se a obrigação consiste em dar coisa certa, não poderá o credor ser
constrangido a receber outra (art. 313 do CC), por haver sido originariamente
pactuado que receberia bem especializado e determinado. (Cristiano Chaves e
Nelson Rosenvald). Assim, é lícito ao credor a recusa de prestação
substitutiva, ainda que o bem oferecido pelo devedor seja mais valioso do que
o acordado. O objeto da obrigação de dar coisa certa é sempre determinado.

Artigo 313 c/c 356 do Código Civil: Princípio da exatidão - “O credor não é
obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” +
Dação em pagamento – “O credor pode consentir em receber prestação diversa da que
lhe é devida” (nesse caso, a obrigação de dar coisa certa é extinta, ocorrendo a dação em
pagamento)

Artigo 233 do Código Civil: “A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios
dela, embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das
circunstâncias do caso”. A obrigação de dar coisa certa abrange seus acessórios – frutos,
produtos, rendimentos, partes componentes e integrantes da coisa e benfeitorias
incorporadas ao solo serão abrangidas pela ob de dar coisa certa. Entretanto, as partes
podem combinar o contrário no momento de criação do contrato, excluindo os acessórios
da obrigação. Esse artigo também não se aplica quando, pelas circunstâncias do caso, o
bem não deve ser incorporado ao bem principal – ex: pertenças: são bens móveis e não
se inserem na relação obrigacional pois não se incorporam à coisa principal (artigo 93,
CC).

b) Perda de bem

1- Gênero que possui duas espécies: perecimento (quando há a perda total do objeto)
e deterioração (perda parcial do objeto).
2- Duas formas de adimplemento: tradição (para os bens móveis) e registro (para os
bens imóveis). Enquanto isso não for feito, o bem ainda é do antigo dono
(devedor) – quando tratamos da perda do objeto, tratamos de momentos anteriores
à tradição ou ao registro, quando o objeto ainda é de posse do devedor – Res perito
domino.
3- Sem culpa: quando o bem se perde sem culpa do devedor, em casos de caso
fortuito ou força maior (art. 393 do CC). A obrigação se resolve para ambas as
partes. Busca-se retornar ao status quo ante (ex: devolução do dinheiro). O credor
fica com o prejuízo da coisa que se perdeu. O devedor só se responsabilizará pela
perda da coisa em caso de fortuito se isso estiver expressamente convencionado
por cláusula de garantia.
4- Com culpa: quando o objeto se perde por responsabilidade do devedor.
Elementos:

4.1- Perdas e danos + outros pedidos

Ex: caso do Show do Milhão – perda de uma chance: a pessoa perdeu a chance de
ganhar 1 milhão de reais pois a pergunta não tinha nenhuma resposta correta – ela não
recebe indenização de 1 milhão, mas sim da quarta parte de 1 milhão (uma vez que
tinham 4 opções de resposta para a pergunta), que corresponde à chance que ela tinha
de ganhar.

Danos emergenciais (prejuízo que efetivamente se teve com a perda do objeto) +


lucros cessantes (aquilo que razoavelmente se deixou de ganhar com a perda.)

4.2 – Equivalente

Divergência doutrinária:

• Carlos Roberto Gonçalves: o equivalente é o valor do objeto.


• Maria Helena Diniz: valorização/desvalorização: o valor a ser pago pelo devedor
é o valor que o objeto teria no momento da entrega, levando em conta possíveis
alterações no valor, sejam elas aumento ou diminuição do preço no mercado.
• José Fernando Simão:

a) Se o credor pagou, restitui-se o dinheiro – devolver o que foi pago – aplica


parcialmente a teoria da Maria Helena Diniz, somente no que tange à valorização
do valor do objeto. – a desvalorização seria desvantajosa para credor.
b) Se o credor não pagou, não se restitui o valor do bem: artigos 884 e 886 –
enriquecimento ilícito: se não houve o pagamento, não se deve devolver o
dinheiro, pois o devedor já vai pagar as perdas e danos.

OBS: Sempre que houver perda com culpa, o credor poderá reclamar as perdas e
danos.

c) Dar/entregar

1- Perecimento – artigo 234

Sem culpa: status quo ante (extingue a obrigação).

Com culpa: equivalente + P e D.

2- Deterioração:

Sem culpa: artigo 235 – status quo ante ou recebe + (o credor pode escolher ficar com
o bem, mas receber um abatimento devido à perda parcial de sua funcionalidade).
Com culpa: artigo 236: P e D + equivalente (caso o credor não aceite a coisa) ou
abatimento (caso o credor aceite a coisa no estado em que se encontra).

d) Restituir: quando a coisa pertence ao CREDOR e o devedor é mero possuidor.

1- Perecimento:

Sem culpa: artigo 238 – status quo ante (o credor fica no prejuízo da coisa perdida).

Com culpa: artigo 239 – equivalente + P e D.

2- Deterioração:

Sem culpa: o credor recebe a coisa no estado como está, mesmo com sua função
diminuída, sem direito de indenização.

Com culpa: equivalente + P e D.

OBS: artigo 236: o artigo 240 pode ser combinado com o artigo 236, e o credor
poderá escolher receber a coisa no estado em que está, em caso de deterioração com culpa
em ob de restituir.

e) Melhoramentos e acréscimos:

Dar/entregar

Artigo 237: em caso de melhoramentos feitos pelo devedor na coisa a ser entregue,
ele pode exigir um aumento de preço para o credor, tendo em vista a valorização do
objeto. Pode, entretanto, também haver uma desvalorização, podendo o bem diminuir de
preço. Os frutos percebidos que advém dos melhoramentos são do devedor, mas o credor
pode ser indenizado por eles. Os frutos ainda não colhidos serão de posse do credor.

OBS: as benfeitorias feitas devem ser necessárias ou úteis e realizadas de boa-fé do


devedor, pois ele não poderá ser premiado por comportamento de má-fé, como usar os
melhoramentos para constranger o credor a pagar valor mais elevado.

Restituir

Artigo 241: O credor não é obrigado a indenizar o devedor em caso de, no momento
da restituição do bem, haver melhoramentos acrescidos que não sejam advindos de
intervenção do devedor possuidor.

Artigo 242: Se os melhoramentos foram feitos pelo trabalho do devedor, as normas


aplicadas serão as relativas à realização de benfeitorias necessárias e úteis conforme a
boa-fé. – Combinação com os artigos 1.219 e 1.220.
No caso de benfeitorias, portanto, caso o possuidor aja de boa-fé, ele tem o direito de
receber indenização e de reter as benfeitorias, caso elas sejam necessárias ou úteis, e de
levantá-las, caso sejam voluptuárias e isso não causar dano à integridade do objeto. Já em
caso de má-fé, o possuidor só será indenizado pelas benfeitorias necessárias, além de não
poder invocar o direito de retenção.

Quanto aos frutos, o artigo 1.214 legisla sobre os casos em que há boa-fé: o possuidor
tem direito a todos os frutos percebidos. Já o artigo 1.216 versa sobre os casos de má-fé:
reconhece-se em favor do credor o direito à indenização por todos os frutos colhidos e
percebidos, além dos que, por má-fé, o devedor deixou de perceber.

f) Ob pecuniária: artigo 315 do CC: aquela obrigação que deve ser paga em dinheiro.

Princípio do nominalismo ≠ Teoria da imprevisão (artigo 317)

O artigo 315 dispõe que a obrigação deve ser paga na moeda de curso forçado e
pelo valor nela impresso, ou seja, aplica-se o princípio do nominalismo e a correção
monetária, através de um processo natural de valorização do valor da coisa (utiliza-se a
inflação como medida). Entretanto, no artigo 317, existe a disposição da teoria da
imprevisão, que declara que, quando ocorrem fatos excepcionais e imprevisíveis, em que
haja desproporção entre o valor da prestação devida e a do momento de sua execução, a
parte pode pedir que o juiz corrija o valor a ser pago.

4) Obrigação de dar coisa incerta ou genérica

a) Conceito- artigo 243 – o objeto da obrigação é determinável, e será indicada pelo


gênero e pela quantidade – a característica que falta à coisa incerta é a “qualidade”.

• Caráter transitório: a incerteza quanto ao objeto não pode perdurar para sempre,
havendo de ser determinada em algum momento da obrigação.
• Crítica: o termo “gênero” é mais amplo que espécie – a palavra “espécie” é
considerada mais adequada pela doutrina. Projeto de lei nº 276/07 que pretendia
mudar a redação do artigo 243 do CC. – a interpretação que se dá a esse artigo é
no sentido de “espécie”.

b) Escolha e concentração

Artigo 245: a escolha do objeto deve ser externalizada na relação jurídica – a mera
reserva mental não faz com que a obrigação passe a ser certa.

Artigo 244 – ideia do meio termo ou média c/c artigo 342 (caso de escolha do
credor).

O contrato pode definir quem vai escolher a qualidade do objeto. Caso não esteja
definido, a escolha é do DEVEDOR. É utilizado o critério do termo médio:

• Quando cabe ao devedor a escolha, ele deve entregar o objeto que se


encontra do meio termo para cima. Ex: o devedor possui a obrigação de
entregar uma das 3 sacas de feijão (a ruim, a média ou a boa). Ele só poderá
escolher entre a média ou a boa para entregar ao seu credor.
• Quando a escolha é do credor, o devedor poderá entregar o objeto do meio
termo para baixo, não sendo obrigado a entregar o melhor.
• Se, em uma obrigação, não houver o meio termo, o devedor poderá
escolher entra qualquer uma das duas opções (a melhor ou a pior), para
que não se desconfigure a obrigação de dar coisa incerta.

c) Gênero limitado/ilimitado

Artigo 246: a coisa nunca perece? – a crítica aponta para uma combinação com o
artigo 245 – a perda/deterioração da coisa pode ocorrer após a sua escolha, nos termos do
que está disposto nos artigos sobre obrigação de dar coisa certa.

5) Obrigação de fazer

a) Conceito: é aquela na qual o devedor se obriga a praticar algum ato ou prestar um


serviço para o credor. Encaixa-se nessa obrigação qualquer ato que esteja em
consonância com o artigo 104, II, CC.
b) Espécies:

b.1) infungível/imaterial/personalíssima – só podem ser cumpridas pelo próprio


devedor.

b.2) fungível/material/pessoal – artigo 249 – podem ser feitas por qualquer pessoa,
desde que respeitada a vontade do credor: fica a seu critério se a ação poderá ser feita
por terceiros ou não.

• Cláusula de natureza expressa ou tácita: a previsão de a obrigação ser fungível


ou infungível pode ser expressa ou tácita, dependendo da natureza do ato que
será realizado.

c) Inadimplemento

Pacta sunt servanda: força contratual dos pactos – os pactos devem ser
cumpridos. O contrato configura-se como a lei entre as partes – o indivíduo tem que
cumprir aquilo que se obrigou a fazer, o que faz com que possa se buscar a execução
caso haja inadimplemento.

c.1) sem culpa – artigo 248, 1ª parte – aplica-se a obrigações fungíveis e infungíveis – se
a obrigação se torna impossível sem culpa do devedor – extingue-se a obrigação – status
quo ante.

c.2) com culpa – artigo 248, 2ª parte – perdas e danos.


Caso a obrigação seja fungível (artigo 249): o credor pode pedir que outra pessoa
faça a ação às custas do devedor.

Caso a obrigação seja infungível (artigo 247): indenização + execução específica:


o credor pode querer ver aquela conduta, especificamente, obrigada a ser executada –
exemplo: multa – pena patrimonial.

6) Obrigação de não fazer

a) Conceito: trata-se de um dever de abstenção – muito comum no âmbito do direito


empresarial – ex: sócio que saiu da empresa tem uma obrigação de não criar uma
empresa do mesmo ramo para fazer concorrência.

Exemplos: obrigação de não revelar um segredo, direito ao esquecimento


(obrigação de não veicular imagem).

b) Inadimplemento: se dá a partir do primeiro ato praticado pelo devedor.

b.1) com culpa (artigo 251) – o credor pode obrigar o devedor a desfazer a ação, além
do pagamento das perdas e danos.

b.2) sem culpa (artigo 250) – caso em que o devedor não tem meios para cumprir a
obrigação de não fazer – ex: ordem judicial ou força policial que obriga o devedor a
agir, não podendo ele descumprir – extingue-se a obrigação de não fazer.

Classificação das obrigações quanto à pluralidade de objetos:

1) Introdução: as obrigações podem ser simples ou compostas, a depender do número


de objetos.

a) Simples: somente 1 objeto.


b) Composta/complexa: 2 ou mais objetos. Divide-se em cumulativa (E), alternativa
(OU) e facultativa (construção doutrinária).

2) Obrigação cumulativa ou conjuntiva

a) Conceito: são aquelas marcadas pela adição – o inadimplemento só se dá quando


o devedor entrega todos os objetos da obrigação, tendo todas as prestações
cumpridas. O pagamento, em regra, deve ser feito simultaneamente, a não ser que
esteja expresso o contrário no contrato.
b) Pagamento – artigo 314 – nem devedor nem credor podem ser obrigados a
entregar ou receber a prestação em partes – o número de prestações (objetos) não
se relaciona com uma divisão do pagamento em parcelas.

3) Obrigação alternativa
a) Conceito: aquelas nas quais o contrato prevê pelo menos duas opções de objeto
para pagamento.

OBS: diferente de obrigação de dar coisa incerta: na incerta, não há a qualidade


do objeto. – na alternativa, há 2 ou mais objetos determinados, ou seja, que possuem
qualidade, que serão escolhidos.

b) Direito de escolha: em geral, a escolha cabe ao devedor, excetuando-se os casos


em que se estipula o contrário no contrato (artigo 252 c/c 817 – pode haver sorteiro
para definir). No caso das obrigações alternativas, não se aplica a teoria do meio-
termo: entende-se que todos os objetos contidos no contrato são de interesse do
credor, então qualquer um deles é vantajoso.
c) Concentração (escolha): trata-se da conversão da obrigação alternativa de uma
obrigação composta em uma obrigação simples, através da determinação do
objeto a ser prestado. A escolha só ocorre com a ciência da outra parte
(externalização). Caso o contrato não previr um prazo de escolha e o devedor
demorar para escolher, o credor poderá notificar o devedor. Nos casos que a
escolha cabe ao credor e este demorar para receber a prestação, o devedor poderá
ajuizar uma ação para que a prestação devida se cumpra. Se, ainda assim, o credor
não fizer a escolha, o direito será transferido ao devedor (artigo 342).
d) Impossibilidade de prestação:

d.1) sem culpa: artigo 253 – concentração automática – se uma das prestações se
perde, a escolha recai sobre a outra; se todas as prestações se tornarem impossíveis,
extingue-se a obrigação.

OBS: impossibilidade material x impossibilidade jurídica: a impossibilidade da


qual tratamos na obrigação alternativa deve ser material, e não jurídica, ou seja, os
objetos devem ser destruídos. Casos de impossibilidade jurídica seriam os de ilicitude
da prestação, por exemplo, nos quais não ocorreria a concentração automática e a
obrigação seria extinta – o objeto não cumpriria o que está disposto no artigo 104, II,
CC.

d.2) com culpa: artigos 254 e 255

• Quando a escolha cabe ao devedor: as duas prestações se perdendo, o devedor


fica obrigado a pagar o valor da que por último se perdeu + perdas e danos.
• Quando a escolha cabe ao credor: as duas prestações se perdendo, o credor
poderá exigir o valor de qualquer uma das duas + perdas e danos. Uma das
prestações se perdendo, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente
ou o valor da outra + perdas e danos.

4) Obrigação facultativa

a) Introdução: trata-se de uma obrigação que possui somente 1 objeto, mas que o
devedor pode ser exonerado pagando outro objeto diverso. A obrigação
facultativa se dá devido a uma necessidade fática, não havendo nenhum
dispositivo legal sobre o assunto. Foi criada para facilitar o adimplemento da
obrigação. A obrigação é simples em relação ao credor (são aplicados os
dispositivos que versam sobre obrigação simples; se o objeto se perde sem culpa
do devedor, o credor não pode exigir nada) e composta em relação ao devedor
(são aplicadas as normas sobre obrigação alternativa; o credor dá outra opção para
adimplemento).

Há uma classificação que distingue os objetos em: OBJETO PRINCIPAL (o da


obrigação) e OBJETO SECUNDÁRIO (o da faculdade).

Alguns definem a obrigação facultativa como uma obrigação simples com


faculdade de substituição.

OBS: não é necessário que haja uma cláusula expressa no contrato que disponha
a faculdade, sendo suficiente um acordo entre credor e devedor que exonere o último.

Classificação das obrigações quanto à multiplicidade de sujeitos:

1) Introdução: quanto ao número de sujeitos, a obrigação pode ser única (apenas uma
pessoa em cada polo) ou múltipla (mais de uma pessoa em um ou nos dois polos).
As obrigações múltiplas dividem-se em: divisíveis, indivisíveis e solidárias.
2) Obrigação divisível: faz-se mero cálculo aritmético – divide-se o valor da
obrigação pelo número de pessoas envolvidas (artigo 257). Exceções ao artigo:
obrigações indivisíveis (o devedor paga o objeto inteiro por uma impossibilidade
fática) e solidárias (o devedor paga o objeto inteiro porque deve).
3) Obrigação indivisível

a) Conceito: artigo 258 c/c 87 e 88 – quando o objeto não pode ser dividido por sua
natureza, por motivo de ordem econômica (a divisão diminuir o valor do objeto)
ou por razão determinante do negócio jurídico.
b) Espécies: natural (própria natureza do objeto – ex: cavalo), lei (previsão legal para
indivisibilidade) e vontade das partes (decisão estipulada no contrato).
c) Efeitos:

c.1) mais de um devedor (artigo 259): o credor pode obrigar qualquer um dos
devedores a pagar a dívida inteira – depois de pago, o devedor que pagou torna-se
credor dos outros devedores, cobrando a parte que lhes cabe da dívida.

c.2) mais de um credor (artigo 260 e 262): qualquer um dos credores poderá exigir a
dívida inteira. O devedor ou devedores podem se desobrigar de duas formas: 1-
pagando a todos os credores conjuntamente ou 2- pagando para um, mas dando uma
caução para que ele pague aos outros credores. Em caso de remissão por parte de um
dos credores, o outro credor continua podendo cobrar a dívida, abatendo o valor que
foi perdoado pelo outro (ex: cavalo de 200 reais – o credor que recebe deve pagar 100
reais ao devedor).
d) Perda da indivisibilidade: artigo 263: quando o objeto se perde, a obrigação perde
seu caráter indivisível, passando a valer o que está disposto no artigo 257. O devedor
culpado pela perda deve pagar sua quota parte do valor do objeto + perdas e danos;
os demais pagam somente suas quotas partes. Se todos tiveram culpa na perda,
responderão por partes iguais.

4) Obrigações solidárias:

a) Introdução: artigos 264, 265 e 266 do Código Civil.

CONCEITO: quando há mais de um credor e/ou mais de um devedor, cada um


obrigado à dívida inteira. (artigo 264)

PRINCÍPIOS: 1) princípio da não-presunção: solidariedade não se presume, deve


ser explicitamente contida na lei ou na vontade das partes (artigo 265) –
IMPORTANTE!!!!!

2) princípio de condições/princípio modal: as condições são pessoais, podendo


haver diferenças para cada um dos solidários (ex: um dos devedores pode ter uma
obrigação de pagamento a vista enquanto o outro poderá pagar a dívida a prazo.) –
artigo 266.

b) Características:

1- Pluralidade de sujeitos;
2- Multiplicidade de vínculos: existem múltiplas facetas na relação (ex: credor 1 com
devedor/credor 2 com devedor/credor 1 com credor 2);
3- Unidade da prestação: a dívida DEVE ser paga por inteiro.

c) Natureza jurídica: antigamente, a doutrina afirmava que a natureza jurídica da


solidariedade era a representação, já que, ao receber a prestação inteira, um dos
credores estaria assumindo o papel de “representante” do outro credor, tendo que
dar a metade da quantia para ele. Entretanto, essa definição vai contra a
característica da unidade, intrínseca à ideia da solidariedade, que afirma que todos
os credores podem exigir a prestação inteira, sendo um direito deles na relação, e
não uma representação. Atualmente, considera-se que a natureza jurídica da ob
solidária é a de assegurar o adimplemento da prestação, ou seja, a função social
da obrigação, pois, muitas vezes, pagar para um credor só, ou cobrar de somente
um devedor, facilita o pagamento.
d) Solidariedade x indivisibilidade: a semelhança entre os dois tipos de obrigação
diz respeito ao fato de que, em ambas, deve-se entregar o objeto por inteiro.
Porém, há uma diferença quanto ao motivo: na ob solidária, entrega-se o objeto
inteiro porque o devedor deve tudo, ele se obrigou, pelas características da
solidariedade, a entregar o objeto inteiro. Já no caso da ob indivisível, o devedor
paga tudo pois não é possível repartir o bem, por uma impossibilidade fática; o
objeto não funciona se for dividido.
e) Espécies:
1- Ativa: + de 1 credor;
2- Passiva: + de 1 devedor;
3- Mista: + de 1 credor e + de 1 devedor.

4.1) Solidariedade ativa

a) Conceito: cada um dos credores tem direito de exigir do devedor a integralidade


da dívida (artigo 267). A solidariedade ativa tem reduzida repercussão no mundo
jurídico, uma vez que corre o risco de os cocredores não receberem ressarcimento
daquele credor que obteve o pagamento integral da dívida. Ex: conta conjunta e
cofre em banco (1 pessoa tem direito à metade do que está contido lá, mas ela
pode sacar todo o dinheiro).
b) Dispositivos legais:

• Artigo 268: princípio da prevenção – se um credor demandou a dívida, o


devedor só pode pagar a ele; se nenhum credor demandar pagamento, o
devedor pode escolher a quem pagar.
• Artigo 270: refração de crédito – versa sobre o caso de morte de um dos
credores solidários; tem como objetivo não prejudicar o devedor. O artigo
afirma que cada herdeiro só poderá exigir a sua quota parte, não podendo
cobrar o devedor a dívida inteira, uma vez que seria prejudicial ao devedor
o aumento do número de credores. Os únicos casos em que é permitida a
cobrança da totalidade da dívida são: 1- quando houver somente 1
herdeiro; 2- quando os herdeiros se juntam para receber o pagamento
da dívida, agindo como se fossem um só credor; 3- em caso de
obrigação indivisível, por impossibilidade de cobrar a dívida
parcialmente. Nesses casos, não há prejuízo para o devedor.
• Artigo 271: mesmo em caso de perda do objeto, ainda existe a
solidariedade, cabendo a qualquer um dos credores a cobrança.
• Artigo 273: defesa (=exceção): 1- objetivas: dizem respeito à prestação.
Ex: objeto ilícito; 2- subjetivas: defesa pessoal – dizem respeito à
pessoa, só podem ser aplicadas em relação à pessoa prejudicada pela
defesa. Ex: um dos credores é menor de idade – o devedor não pode
alegar essa defesa para o não pagamento ao outro credor, ao qual essa
condição não se aplica.
• Artigo 274: remete ao 266. Os cocredores que não fizeram parte do
processo judicial, não serão prejudicados por ação ajuizada por um credor
contra o devedor comum, na qual ele tenha perdido, ou seja, tenha recebido
um julgamento contrário. Já no caso de julgamento favorável em uma ação
transitada ajuizada por um dos credores, contra o devedor comum, os
cocredores também serão beneficiados, podendo cobrar do devedor aquilo
que ficou determinado na decisão do processo. Exclui-se dessa última
afirmação os casos em que o devedor tenha direito de invocar uma defesa
ou exceção pessoal contra um dos credores. Nessa situação, caso um dos
credores (que não participou do processo judicial da ação que favoreceu
um credor) exija do devedor o cumprimento da obrigação estipulada na
decisão judicial, o devedor poderá invocar uma defesa pessoal.
OBS: compensação: quando 1 credor deve uma quantia ao devedor comum, este
pode ir a juízo reivindicar que a dívida seja paga subtraído o valor devido por esse credor.

• Artigo 269: a obrigação é extinta após o pagamento, por parte do devedor,


a um dos credores solidários, ficando o devedor livre.
• Artigo 272: direito de regresso – o credor que recebeu o pagamento deve
dividir para os cocredores a quota parte que lhes cabe.

4.2) Solidariedade passiva

a) Conceito: é aquela na qual existem 2 ou mais devedores obrigados perante ao


credor pela integralidade da dívida. Assim como a solidariedade ativa, a relação
jurídica possui mais de uma faceta.
b) Direitos do credor (artigo 275): o credor pode cobrar de qualquer um dos
devedores, a totalidade ou a parcialidade da dívida. Em caso de pagamento parcial
por parte de um dos codevedores, não acaba a solidariedade, continuando os
demais devedores obrigados a pagar o resto na forma de uma ob solidária.
c) Morte do devedor (artigo 276=artigo 270): aplicam-se as mesmas regras
apresentadas para a solidariedade ativa, ou seja, cada herdeiro do devedor só
poderá ser cobrado, pelo credor, de sua quota parte da quantia. Excluem-se, assim,
os casos em que: 1- existe apenas 1 herdeiro; 2- os herdeiros se reúnem para
pagar a dívida ou 3- a obrigação tem como prestação um objeto indivisível,
nos quais é possível que os herdeiros sejam cobrados pela integralidade da dívida.
d) Devedor x credor:

• Artigo 277 c/c artigo 388: pagamento parcial e remissão: No caso de o credor
remitir o débito a um dos devedores, haverá a extinção da obrigação em
relação a ele, contudo a remanescerá em face dos demais codevedores. – o
credor abaterá do valor do débito a importância que remitiu, podendo cobrar
dos outros devedores apenas a integralidade da dívida que resta. (Cristiano
Chaves e Nelson Rosenvald). – o perdão é PESSOAL.

Ex 1: caso A seja credor de B, C e D por R$90,00, a remissão da dívida que


exonera o devedor B (ou seja, R$30,00) fará com que A só possa cobrar R$60,00 de C e
D.

Ex 2: em caso de perdão parcial da dívida de um dos devedores: caso A seja credor


de B e C por R$100,00 e perdoa R$20,00 da dívida de B (cuja quota parte era R$50,00),
poderá cobrar C pela integralidade da dívida, subtraído o valor remitido (R$80,00), porém
B deverá pagar a C a parte que lhe falta para quitar a dívida (R$30,00).

Com relação ao artigo 277, o artigo 388 reforça essa ideia, afirmando: “A
remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele
correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade de cobrar os
outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.”
• Artigos 283 e 284: rateio – o devedor que pagou a dívida em sua integralidade
tem o direito de exigir o pagamento, por parte dos codevedores, a suas quotas
partes. Em caso de existência de um devedor insolvente, ou seja, um devedor
que não possui condições materiais para quitar a sua dívida, a sua quota será
dividida igualmente entre os outros codevedores. Na situação em que exista
um devedor insolvente e um devedor que teve a solidariedade renunciada, este
retorna à obrigação solidária, contribuindo pela parte da obrigação que cabia
ao insolvente.

Enunciado 350 do CJF: “A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão,


em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive
no que tange ao rateio da quota do eventual codevedor insolvente, nos termos do
art. 284.”

Ex: em caso de A ser credor dos devedores solidários B, C e D por R$150,00, e


ter renunciado a solidariedade do devedor B (tendo como débito agora somente
R$50,00). C torna-se devedor insolvente, devendo-se ser dividida a sua quota
entre os demais codevedores. O devedor B passa a ser obrigado a dividir a parte
de C com o codevedor D, cada um sendo responsável por metade da quota de C.
Isso se dá devido ao que está contido no artigo 284 e, também, no artigo 278, que
afirma: “Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre
um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros
sem consentimento destes.”

• Artigo 282: renúncia da solidariedade: a renúncia consiste em conceder a um


ou mais devedores a saída da solidariedade, ou seja, a concessão, dada pelo
credor, de o devedor pagar somente a sua quota parte da dívida, não ficando
mais obrigado por sua integralidade. Essa renúncia pode ser absoluta (quando
todos os devedores são exonerados da solidariedade) ou relativa (quando um
devedor sai da solidariedade).

OBS: REMISSÃO ≠ RENÚNCIA: renúncia da solidariedade não é perdão da


dívida – a renúncia é a perda da qualidade de solidariedade – quando um devedor
é exonerado da solidariedade, ele não pode ser cobrado pela dívida inteira,
somente por sua quota parte, porém o valor da dívida não sofre alteração.

• Artigo 279: impossibilidade da prestação: Em caso de perda com culpa de


um dos devedores, todos os devedores são obrigados pelo equivalente,
podendo o credor cobrar a integralidade de qualquer um; porém, as perdas
e danos são pagas somente pelo devedor culpado.

OBS: crítica: uma parte da doutrina critica esse artigo, argumentando que é injusto
com o credor só poder cobrar as P e D de uma pessoa, sendo desvantajoso.

• Artigo 280: diferentemente do artigo anterior, no caso de juros de mora, o


credor pode cobrá-los de qualquer devedor, ainda que a ação tenha sido
contra somente um deles. O devedor culpado pela mora deve ressarcir os
demais devedores pelo valor acrescido. Essa disposição, portanto, é mais
vantajosa para o credor.
• Artigo 281: meios de defesa: os meios de defesa pessoal só podem ser
invocados pela pessoa especifica a qual eles se destinam; os meios de
defesa do objeto podem ser invocados por qualquer pessoa da relação
jurídica.
• Artigo 285: caso a dívida só interesse a um dos devedores solidários, ele
pagará a integralidade da dívida àquele que a pagou para o credor, não
havendo divisão das quotas partes.

Outras modalidades de obrigações:

1) Civil x Natural x Moral (revisão): as obs natural e moral são imperfeitas e a civil
é perfeita. A natural e a moral não possuem responsabilidade, não podendo,
portanto, serem exigíveis. A exigibilidade decorre da existência da
responsabilidade, apenas presente na civil.
2) Meio x Resultado x Garantia: as obrigações de meio são aquelas nas quais o
devedor se obriga a utilizar todos os meios disponíveis para obtenção do resultado,
mas este resultado não é indispensável para o inadimplemento (ex: obrigação de
um advogado). Já as obrigações de resultado são aquelas em que o devedor só está
exonerado com a obtenção do resultado (ex: contrato de empreitada). Em regra, a
responsabilidade do médico é de meio, porém existem exceções que são de
resultado (anestesia, patologia e cirurgia plástica estética.) Também é considerada
obrigação de resultado o diagnóstico dado por um médico (baseado no princípio
da “perda de uma chance” em caso de diagnóstico errado). Por fim, as de garantia
são as obrigações que visam eliminar um risco (ex; seguro).
3) Execução instantânea x diferida x continuada: As ob de execução instantânea são
aquelas que só tem 1 ato e ele pode ser cobrado desde já. As de execução diferida
são aquelas obrigações que tem 1 só ato, mas que a cobrança não pode ser feita de
imediato. Já as de execução continuada tem mais de 1 ato e dividem-se em: sem
solução (não tem um número determinado de prestações – ex: aluguel) e com
solução (tem um número definido de prestações).
4) Puras x condição x termo x encargo
5) Liquidas e ilíquidas: As liquidas são as obrigações totalmente definidas e as
ilíquidas são aquelas em que falta apenas o valor. Só são compensáveis as dívidas
líquidas.

OBS: são líquidas as obrigações cujo valor é obtido por mero cálculo aritmético.

6) Principais x acessórias: As obrigações principais são aquelas que tem existência


própria e as acessórias são as que dependem de outra obrigação para existir. Ex:
se o contrato de locação acaba, o de fiança também acaba.

Extinção das obrigações

• Pagamento
1) Função social processual (adimplemento)
2) Funções do pagamento:

a) Liberar, exonerar o devedor – não existe mais vínculo entre credor e devedor
b) Regra
c) Voluntário ou não: ato de entregar a prestação voluntariamente ou não – esse é o
instituto do “pagamento”.

Nomes: pagamento, adimplemento, cumprimento.

3) Princípios:

a) BFO: padrão médio de comportamento que gera os chamados “deveres


anexos”. Os deveres anexos, uma vez descumpridos, geram uma violação
positiva do contrato. Ex: dever anexo de informação.
b) Pontualidade: não diz respeito somente ao tempo combinado, mas também à
forma e ao local.

4) Formas:

a) Direto: devedor paga ao credor


b) Indireto: consignação – quando o credor não quer ou não pode receber.

5) Natureza jurídica

Fatos jurídicos: fatos que geram consequências para o Direito. Podem ser
naturais (nascimento, morte, tempestade) ou humanos (dependem da vontade dos
indivíduos). Os humanos são atos jurídicos, que podem ser lícitos (NJ, sentido estrito
ou ato fato) ou ilícitos (artigo 186, CC).

O ato ilícito não pode ser objeto do pagamento. Sendo assim, a natureza jurídica
do pagamento é a de um ato jurídico lícito (artigo 104, II, CC).

6) Requisitos de validade:

a) Existência da obrigação prévia


b) Intenção ≠ doação: intenção de pagar – poderia ser confundida com doação se
não houvesse a intenção.
c) Cumprimento
d) Pessoa que paga (solvens): em regra, o devedor
e) Pessoa que recebe (accipiens): em regra, o credor

7) Condições subjetivas do pagamento

a) Quem paga: artigos 304 a 307 do CC

• Interessado
304, caput: interesse jurídico: qualquer interessado pode consignar, ainda que o
credor não queira/possa receber. O interesse jurídico não é pessoal, e o tem
qualquer pessoa que pode ser cobrada (ex: fiador).

Principal interessado: devedor – quer se liberar daquela dívida.

• Não interessado

304, p. único: o terceiro não-interessado não tem interesse jurídico, mas tem
algum outro interesse (pessoal) em quitar a dívida – o credor pode se opor a esse
pagamento, por não querer criar um vínculo com esse terceiro.

305, 306: pessoal ou não? Não, subjetiva/objetiva.

Total ou parcial? Parcial

Quando o 3º não interessado paga a dívida apesar de o devedor não concordar,


não tem direito de reembolso do devedor. Se paga com sua anuência, tem direito
ao reembolso, mas não há a sub-rogação.

• Com transmissão de propriedade

307 – Capacidade específica. Exemplos: autorização do cônjuge para vender uma


casa (outorga uxória), artigo 1748, IV, CC (competência do tutor).

OBS: diferença entre reembolso e sub-rogação

O reembolso ocorre quando o pagamento é feito por 3º não interessado, que


somente recebe de volta o que pagou, sem ter direito a nenhuma garantia. A sub-rogação
é quando o 3º interessado se coloca na posição do credor, tendo todos os institutos ao
entrono, pois na sub-rogação todas as garantias da obrigação continuam. O 3º não
interessado não tem direito à sub-rogação.

b) A quem se paga

b.1) artigo 308

• Credor – data do pagamento. O credor que receberá o pagamento não


necessariamente é o credor originário, mas sim o credor no momento do
pagamento. Ex: o credor pode morrer e o pagamento deve ser feito para o herdeiro.
• Representante: legal (previsto em lei – ex: pais em relação aos filhos menores);
judicial (nomeado pelo juiz – ex: lei de falência, nomear o administrador da massa
falida) e convencional (ocorre por meio de mandato, tem como instrumento a
procuração).

OBS: mandato tácito – artigo 311: está autorizado a receber o pagamento a pessoa
que estiver com a quitação (recibo), independente da natureza jurídica dela.
• “Quem paga mal, paga 2x”: se o devedor paga erroneamente para pessoa que não
é credor, representante ou pessoa que está com a quitação, ele deve pagar
novamente. Exceção: artigo 308 “in fine” – ratificação do credor – se o credor não
ratificar o pagamento, mas o devedor conseguir provar que ele está com a
prestação, não precisa pagar de novo.

b.2) Credor putativo – aquela pessoa que parece ser o credor, mas não é

Requisitos: BF (artigo 309) + escusibilidade (doutrina: ideia de que qualquer pessoa


naquela situação se confundiria, sendo o erro escusável). Tendo esses dois requisitos, o
pagamento a credor putativo é válido

Artigo 309: teoria da aparência. Ex: herdeiro.

b.3) Incapaz – quando o pagamento é feito para incapaz e o devedor sabe que o credor
é menor de idade, ele é inválido. Quando o devedor não sabe, o pagamento é válido,
valendo-se da teoria da aparência.

Artigo 310 – requisitos: BF e escusibilidade

b.4) Credor com crédito penhorado

Artigo 312: penhora do crédito (penhora de um valor que o credor tem direito de
receber, mas ainda não está com ele); impugnação do crédito (duas pessoas que dizem ser
os novos credores de uma obrigação, não se sabendo quem é o verdadeiro). A solução é
a mesma para ambos os casos: o devedor não pode pagar ao credor, deve fazer o depósito
judicial.

Ex: pensão de 1000 reais a ser pago pelo credor da obrigação 1. Ele não possui mais
dinheiro para pagar a pensão, mas tem um crédito de 500 reais com o devedor da
obrigação 1. Sendo assim, esse devedor deve pagar ao juiz, indo o crédito diretamente
para o pagamento da pensão.

8) Condições objetivas do pagamento (objeto do pagamento)

313: princípio da exatidão: o credor não é obrigado a receber prestação diferente da


que lhe é devida.

314: modo de pagamento: deve ser o modo combinado.

315: princípio do nominalismo: as dívidas em dinheiro devem ser pagas na mesma


quantia – PROBLEMA: inflação.

316: cláusula escala móvel: estabelecer mecanismos para corrigir o princípio do


nominalismo, como a correção monetária (equivalente ao que se pode comprar).
Antes do inadimplemento, a correção monetária deve estar explícita no contrato;
depois, ela é automática.
317: teoria da imprevisão: fato extraordinário que desequilibra a relação jurídica –
juiz poderá corrigir o valor, equalizando a dívida.

318: proibição do uso de ouro e moeda estrangeira para adimplemento, exceto em


casos de câmbio, contratos de importação e exportação e contrato com uma pessoa
estrangeira.

325: todas as despesas relacionadas com o pagamento e quitação correm por conta do
devedor, como maior interessado em sua liberação (taxas bancárias, transporte de
mercadorias). O credor só pagará por fatos imputáveis a pessoa do credor.

326: o adimplemento seguirá o padrão do local de celebração do negócio jurídico.

9) Prova do pagamento – quitação

319: o devedor que paga tem direito à obtenção da quitação regular (pagamento como
um direito do devedor de ver o reconhecimento do recebimento pelo devedor –
recibo).

320: deverão constar na quitação alguns elementos, como o valor, a identificação do


débito, a identificação do credor, o tempo do pagamento etc.

p. único do 320: ainda que a quitação não contenha todos os elementos necessários,
ela ainda poderá ser eficaz, induzindo presunção de pagamento, caso se possa inferir
que houve o pagamento.

• Presunção do pagamento: mesmo não havendo recibo (quitação), há como


comprovar que houve pagamento.

a) Título de crédito; artigos 324 e 321: documento que comprova que o portador
tem direito a receber o pagamento. Se o título volta para a mão do devedor,
isso significa que ele já pagou.
b) Sucessivas: artigo 322: prestações sucessivas – se há a quitação da última,
presume-se o pagamento das anteriores.
c) Capital principal e juros: artigo 323: na quitação do principal, presume-se a
quitação dos juros

10) Lugar do pagamento: onde o devedor deve cumprir e se libertar e onde o credor
deve exigir pagamento.

327: em regra, as dívidas são quesíveis – o devedor já foi suficientemente onerado


pelo dever de prestar.

Quesível x portável: as dívidas são quesíveis quando são pagas no domicílio do


devedor; são portáveis quando o pagamento ocorre no domicílio do credor.

328: exceção – pagamento de bem imóvel – se dará no local onde ele está
329: ao escrever “motivo muito grave”, legislador quis se referir a caso fortuito ou
força maior, sendo possível que o devedor cumpra a obrigação em local diverso do
determinado. Não houve culpa, então não há indenização.

330: uma dívida quesível pode virar portável e vice-versa – o pagamento


reiteradamente feito de certa forma, contrária ao estipulado em contrato, é protegido
por lei, sendo válido. Segue o princípio da boa-fé.

11) Tempo do pagamento

331: nas obrigações a prazo, o devedor deve pagar na data combinada, podendo ser
em qualquer momento do dia (24h). Porém, devem ser observadas as condições,
como, por exemplo, a questão da transferência bancária, que deve ser fita de modo a
cair na conta do credor no mesmo dia, e não no dia seguinte.

332: condição suspensiva – cumpre-se na data do implemento da condição.

333: vencimento antecipado: casos em que a obrigação tem que um prazo, mas há a
desconsideração desse prazo, para que se possa garantir o crédito do credor, quando
o patrimônio do devedor está fraco (falência do devedor, bens hipotecados forem
penhorados por outro credor, cessarem as garantias do débito).

113: prazo – o devedor pode pagar antes, se quiser, exceto nos casos em que o credor
não pode receber antes

Espécies de pagamento indireto

Pagamento em consignação:

1) Conceito: o pagamento é um dever e direito do devedor, uma vez que é através


dele que o devedor se exonera e se liberta da obrigação. Em casos em que o
pagamento direto se torna impossível ou extremamente difícil, o devedor pode
liberar-se da obrigação por meio do depósito da coisa devida.

Artigo 334: o depósito pode ser judicial (quando o pagamento em consignação


surgiu, só era possível fazer o depósito judicialmente) e, atualmente, também
extrajudicial, nos casos que a prestação for pecuniária, através do depósito do dinheiro
em estabelecimentos bancários (artigo 539, p. 1º do CPC).

É um instituto híbrido: no CC constam as hipóteses sobre quando o pagamento


em consignação é cabível e no CPC constam as formas como a consignação será feita.

2) Objeto

Dinheiro, coisa – a doutrina diz que tudo pode ser depositado em juízo. No caso
de bens móveis, o depósito será feito com a própria coisa; no caso de imóveis, será
feito pelo depósito simbólico das chaves.
OBS: esse instituto só se aplica às obrigações de dar

3) Fatos que autorizam a consignação em pagamento:

Artigo 335

a) Mora do credor (atraso do credor em receber o pagamento): incisos I e II. O inciso


II trata da dívida quesível (domicílio do devedor).
b) Circunstancias do credor: incisos III a V: impossibilidade fática.

4) Requisitos de validade

Artigos 336, 337 e 343. Existem requisitos objetivos e subjetivos para a afirmação
da consignação como modo de extinção da obrigação, sendo eles os mesmos que
seriam aplicados caso o pagamento tivesse sido de forma direta. O depósito pode ser
julgado procedente (e então as despesas do depósito correm à cargo do credor) ou
improcedente (despesas do depósito correm a cargo do devedor).

5) Levantamento (desistência do depósito)

Artigo 338: permite que o devedor requeira o levantamento, enquanto o credor


não se manifesta acerca da aceitação do depósito, mantendo-se todas as consequências
jurídicas da obrigação.

Artigo 339: o devedor não pode mais efetuar o levantamento a partir do momento
em que for julgado procedente o requerimento, mesmo se contar com a concordância
do credor, precisando de autorização dos outros devedores e fiadores.

Artigo 340: não precisa da autorização dos devedores, se o credor concorda, o


fiador está exonerado. Renasce a obrigação, mas apenas entre credor e devedor,
ficando todos os obrigados vinculados ao débito originário liberados, por não terem
anuído ao levantamento.

Pagamento com sub-rogação

1) Conceito: esse tipo de pagamento indireto não extingue a obrigação, mas sim
produz uma modificação de algum dos sujeitos da relação jurídica obrigacional.
A obrigação se extingue para o credor originário, mas outra pessoa entra em seu
lugar, subsistindo o vínculo obrigacional, agora entre o sub-rogado e o devedor.
É uma substituição que alterna subjetivamente a obrigação.
2) Espécies:

2.1) Legal: artigo 346 – dispensa a manifestação da vontade das partes.

Inciso I: hipótese em que o credor solve o débito do devedor comum. Ex: A e B


são credores de C das quantias de 100 reais e 50 reais, respectivamente. Se B salde o
débito de C com A, ele sub-roga-se no crédito de 100 reais, além do crédito originário.
Sendo assim, C deve pagar 150 reais a B.
Inciso II: hipótese de adquirente de imóvel hipotecado que paga ao credor
hipotecário. O adquirente, para se livrar do vínculo real sobre a coisa, paga ao credor
o valor da hipoteca, sub-rogando-se. Essa hipótese também abarca o terceiro não
interessado que não quer ser privado do direito sobre o imóvel.

Inciso III: hipótese de pagamento pelo terceiro interessado (aquele juridicamente


ligado ao credor e ao devedor) que paga a dívida comum.

2.2) Convencional: pagamento do débito por terceiro desinteressado mediante NJ


travado com o credor ou com o devedor. A princípio, ele só teria direito ao reembolso, e
não à sub-rogação. Existem, porém, duas situações excepcionais:

Artigo 347: I c/c 348 (sem anuência do devedor) – acordo entre credor e terceiro,
sendo a este expressamente transferidos os direitos que eram do credor.

II (sem anuência do credor) – acordo entre devedor e terceiro, por meio do qual o
terceiro empresta a quantia necessária ao adimplemento, com a condição de ficar sub-
rogado nos direitos do credor adimplido.

3) Efeitos (artigo 349):

a) Liberatório: o credor originário é liberado.


b) Translativo: os atos, direitos e garantias do credor originário passam a um
terceiro.

Artigo 350: o terceiro que paga a dívida alheia sub-roga-se somente na exta
quantia que solveu ao credor, não podendo cobrar a mais do devedor.

Artigo 351 (pagamento parcial): se o pagamento feito pelo terceiro desinteressado


for parcial, o credor originário tem preferência no recebimento do pagamento pelo
devedor, na hipótese de insuficiência do patrimônio do devedor comum. Esse artigo é
criticado pela doutrina, que acredita que é um desencorajamento injustificado da sub-
rogação.

OBS: em caso de mais de um sub-rogado, não vai existir preferência entre eles,
recebendo quantias iguais – só quem tem preferência é o credor originário.

Imputação ao pagamento:

1) Conceito: forma de determinação do pagamento quando o devedor possuir duas


ou mais obrigações com um mesmo credor, quando o devedor paga uma quantia
insuficiente para a liquidação de todas e deixa de especificar a qual dos créditos
se destina o valor pago. Determinação de qual dívida se está querendo quitar.
2) Requisitos para que se possa ocorrer a imputação: artigo 352

a) Débito plural (exceção no 354)


b) Identidade das partes: tem que ser o mesmo credor e devedor em todas as
obrigações.
c) Igual natureza das dívidas (todas as obrigações relativas a coisas fungíveis
entre si, além de serem líquidas e vencidas)
d) Possibilidade de o pagamento resgatar mais de uma: duas dívidas que posam
ser pagas com o valor dado pelo devedor.

3) Espécies

Artigo 352: devedor faz a escolha – determina sobre qual das prestações será
imputado o pagamento.

Artigo 353: credor faz a imputação, nos casos em que o devedor não fizer a
escolha. O devedor não tem direito de reclamar da imputação feita pelo credor.

Artigos 354 e 355: imputação legal – nos termos do artigo 355, se o devedor não
fizer a imputação e o credor também não se manifestar, o pagamento será feito às
dívidas líquidas e vencidas primeiramente. Se todas as dívidas forem líquidas e
vencidas ao mesmo tempo, a imputação será àquela que for mais onerosa. O artigo
354 fala da hipótese legal excepcional (uma única dívida entre credor e devedor) que
legisla sobre o pagamento de dívidas que tem capital e juros: a imputação será
primeiro nos juros vencidos e depois no capital.

Dação em pagamento

1) Conceito: a dação em pagamento é o acordo entre credor e devedor no qual o


credor aceita receber prestação diversa da originariamente combinada (artigo
356). O credor tem que consentir, já que ele não é obrigado a receber prestação
diversa da que lhe é devida (artigo 313).

No código de 1916, só era dação em pagamento se existisse uma prestação em


dinheiro que fosse substituída pelo pagamento de um objeto. Hoje, a dação em
pagamento é extremamente ampla, podendo mudar a prestação de qualquer forma que
se deseje (coisa por dinheiro, dinheiro por coisa, obrigação de dar por obrigação de
fazer etc) – interpretação mais ampla possível.

• A doutrina minoritária mais moderna traz a discussão sobre a dação em


pagamento na obrigação de não fazer – dizem que é perfeitamente possível.
• O valor da prestação da dação em pagamento não precisa ter o mesmo valor da
obrigação originária – tem que haver um equilíbrio na relação, para não haver
enriquecimento sem causa.

Ex: dívida de 10.000 reais em que há a dação em pagamento que vale 5.000 reais
– adimplemento da obrigação pode se dar pelo pagamento do carro + 5.000 reais, caso
o credor aceite. O mesmo se dá se a dívida for de 10.000 reais e o carro valer 15.000
reais: o credor pode concordar em dar 5.000 reais ao devedor.

2) Elementos:
a) Existência de uma dívida originaria que será substituída;
b) Consentimento do credor – não é obrigado a aceitar prestação diversa;
c) As prestações têm que ser de espécies diferentes – dinheiro com dinheiro, por
exemplo, não é dação em pagamento.

3) Disposições legais

Artigo 356: permite que a dação em pagamento exista.

Artigo 357: aplicar as normas do contrato de compra e venda – importância: aplicação


do princípio da garantia.

Artigo 359: o princípio da garantia se aplica a diversos momentos – o momento mais


importante é a evicção. Evicção é quando alguém perde a coisa em virtude de decisão
judicial que reconhece direito prévio a outrem. O credor de boa-fé não será prejudicado.
Fica reestabelecido a obrigação de pagar o valor da coisa.

• Artigo 838, III: quando ocorre a evicção em caso de dação de pagamento, o


fiador não fica mais obrigado.

Artigo 358: titulo de crédito é transmitido pelo endosso – o endossatário, além de


ser responsável pela existência da obrigação, é também responsável pelo pagamento.

A preocupação do legislador com a dação em pagamento é o da ocorrência de


fraude.

SUCEDÂNEOS AO PAGAMENTO

Novação

1) Conceito: é o acordo de vontades eu extingue a obrigação originária e cria uma


nova obrigação. Tem duplo caráter: extintivo e geracional. Apesar de se falar em
extinção, não ocorre a satisfação imediata do crédito da obrigação.

Atualmente, a novação não tem aplicabilidade prática quase nenhuma no nosso


ordenamento, pois pode ser substituída por outros institutos. Ela é herança do direito
romano, no qual as obrigações eram perenes e não podiam ser mudadas, então a solução
era extinguir a antiga obrigação e criar uma nova.

2) Requisitos:

a) Tem que existir uma obrigação anterior – artigo 367 – obrigações nulas e
extintas: não tem existência no ordenamento jurídicos, então não há novação.
As obrigações anuláveis podem ser convalidadas, e uma das formas de
convalidação é a novação.
b) Tem que haver a constituição de uma obrigação nova – a doutrina diz que essa
nova obrigação tem que ter diferenças substanciais coma ob anterior –
alteração no objeto, nos sujeitos ou nos dois. Modificação de acessórios não
importa em novação.
c) Tem que haver a intenção de novar (uma das características que distingue a
novação da dação em pagamento) – artigo 361.

3) Espécies:

a) Novação objetiva: diz respeito à alteração no objeto (art. 360, I). A


importância é conseguir distinguir da dação em pagamento. Pode ser
substituída pela dação em pagamento.

Critérios para diferenciar:

1- Intenção de novar: a novação não pode ser presumida – ver se as partes


declararam sua intenção de fazer novação;
2- Na dação em pagamento, a satisfação da obrigação é imediata, o que não
acontece na novação objetiva. A ob é extinta e criada uma nova ob, que será
satisfeita depois.
3- Na novação, o objeto pode ter 3 modificações diferentes: de um objeto para
outro, modificação na natureza da ob (dar/fazer) e causa da prestação (ex:
mudança de aluguel para parcelamento da compra do imóvel- a prestação em
si é a mesma, a diferença é a causa do pagamento). – Esse último tipo não
pode ocorrer na dação em pagamento.

b) Novação subjetiva: diz respeito à alteração dos sujeitos (credor ou devedor).


Pode ser substituída pela transmissão das obrigações

1- Passiva: modificação do devedor (art. 360, II) – sai um devedor para a


entrada de outro, que pode ocorrer de duas formas: com a concordância do
devedor originária (delegação) e sem a concordância do devedor
(expromissão – artigo 362).

A doutrina diz que a delegação pode ser perfeita, quando o credor


aceita novo devedor e não reserva direitos em relação ao devedor
originário, ou pode ser imperfeita, quando o credor reserva direitos ao
devedor originário (ele não sai, só aparece mais um). Quando há delegação
imperfeita, na verdade, isso não importa em novação, porque o devedor
originário não saiu.

2- Ativa: modificação do credor (artigo 360, III) – sai um credor e entra outro.
Ex: A deve pra B e B deve pra C – nova relação jurídica em que A vai
dever para C. Isso é muito utilizado para evitar transações desnecessárias.

c) Novação mista: quando há modificação de sujeitos e objetos – junção das duas


novações. Para que ela seja mista, basta mudar o objeto e um dos sujeitos.
4) Efeitos

Efeitos da novação subjetiva passiva:

a) Artigo 363: quando sai um devedor e entra outro, se o outro não paga, o credor
não pode se voltar ao antigo devedor. Ele só pode se voltar ao antigo devedor se
ele agiu de má-fé.
b) Artigo 365: consequência da não-presunção da solidariedade. A nova ob que foi
criada não será solidária, a menos que se seja combinado – os codevedores ficam
desobrigados.

Efeitos gerais da novação:

a) Artigo 364: princípio gravitacional – se extinguiu a ob principal, extinguiu


também os acessórios. Se o credor quiser as garantias (hipoteca, penhor), ele pode
ressalvar, mas não pode manter se os bens pertenciam ao devedor que não está
mais na relação jurídica.
b) Artigo 366: o fiador que era obrigado à antiga obrigação, quando ela é extinta,
fica liberado, não sendo obrigado à novação.

Compensação

1) Conceito: forma de extinção quando as partes são reciprocamente credoras e


devedoras – ex: A deve 100 reais a B e B deve 50 reais a A.

O objetivo da compensação é evitar circulação inútil.

2) Espécies:

Artigo 368: a compensação pode ser total (mesma quantia devida por ambas as
partes) ou parcial (quantias diferentes – última parte do artigo). Pode ser também
legal, convencional ou judicial.

2.1) Legal: requisitos para a ocorrência

• Reciprocidade de créditos: duas pessoas sendo credoras e devedoras


reciprocamente.

Artigo 368: regra – a compensação só ocorre entre credor e devedor

Artigo 376: estipulação em favor de terceiro – confirma a regra geral do artigo


368

Artigo 371 – exceção – o fiador é o único terceiro que pode compensar

• Liquidez das dívidas: ambas as dívidas tem que ser certas e determinadas.
• Exigibilidade da prestação: ambas as prestações tem que ser exigíveis.

Vencidas – artigo 372 c/c 113: os prazos estipulados em favor do devedor – ele
pode abrir mão – não pode haver compensação.

• Fungibilidade: as obs tem que ser fungíveis entre si. Tem que ser
homogêneas (ex: duas obs de entregar dinheiro).

Artigo 370 c/c 244: os objetos tem que ter a mesma qualidade. Em obs que
precisam de concentração, é nesse momento que se escolha a qualidade do
objeto.

2.2) Convencional: decorre da autonomia privada; as partes que são credoras e


devedoras entre si podem escolher compensar, mesmo que a lei não preveja isso.
Sendo assim, nada impede que as partes compensem dívidas ilíquidas, inexigíveis
e infungíveis. Ex: termo.

Limitações: artigo 104 – equilíbrio contratual e enriquecimento ilícito: esses


critérios andam juntos. Uma compensação de objetos de valores muito diferentes causaria
um desequilíbrio contratual, levando ao enriquecimento ilícito de uma das partes.

2.3) Judicial

Ex: reconvenção – quando o réu nega o direito de pedido do autor e ainda afirma
que o autor lhe deve – dois pedidos – o juiz pode compensar se julgar procedente os dois
pedidos.

3) Dívidas não compensáveis

a) Convencional: artigo 375 – quando as partes excluírem a possibilidade de


compensação – pode ser uma decisão unilateral ou bilateral.
b) Legal:

1- Causa: artigo 373 – algumas causas diferentes entre as dívidas que impedem
a compensação

I) Atos ilícitos: ex: casos de objetos furtados – existe o direito de sequela sempre.

OBS: Pontes de Miranda – interpretação ampliativa: o artigo foi reducionista,


e deveria constar que qualquer ato ilícito impediria a compensação, não
somente falar em “esbulho, furto ou roubo”

II) Confiança mútua: contratos que trabalham com a confiança mútua.

Comodato ≠ mútuo: comodato diz respeito à entrega de uma coisa para alguém
para depois pegar de volta, baseando-se na confiança, em que uma parte deve
dar algo a outra, devendo restituir o bem (empréstimo de coisa infungível) A
compensação, portanto, desnaturaliza esses contratos. O mútuo se trata de um
empréstimo de coisa fungível, podendo haver compensação.

Depósito (exceção artigo 638)

Alimentos: verbas alimentícias têm caráter de sobrevivência, não podendo ser


compensados, pois isso seria contra a D.P.H.

III) Coisa não suscetível de penhora: ex: salário, único imóvel da pessoa – não se
pode compensar dívidas de objetos impenhoráveis, pois são indisponíveis.

2- Qualidade das partes

Artigo 374: dívidas fiscais – revogado por força da CF, uma vez que matéria
tributária deve estar prevista em lei complementar.

Artigo 380: ligado ao artigo 368 e 376 (compensação só entre credor e


devedor) – crédito penhorado

A deve B, B deve C. A dívida de A com B vence no dia 10, enquanto que


a dívida de B com C vence dia 5.

C penhora A+B

A vira devedor de C (não pode alegar)

Quando C vai cobrar a dívida de B, ele percebe que B não tem como pagar
(insolvente). Porém, descobre que a dívida de A com B existe, e que ele tem um
crédito a receber. C faz a penhora do crédito, fazendo com que A seja obrigado a
fazer a consignação da dívida. A passa a dever para C, não mais para B, não
podendo alegar compensação de uma dívida que tinha para receber de B.

4) Disposições finais

Artigo 378: nas dívidas que devem ser cumpridas em locais diferentes, deve haver
a dedução dos valores dos custos (como o frete) na compensação.

Artigo 379: caso de várias dívidas – observar a imputação ao pagamento.

Confusão

1) Conceito: forma de extinção que ocorre quando se confundem o credor e o


devedor na mesma pessoa, perdendo o caráter dúplice da obrigação (artigo 381).
2) Espécies

Artigo 382: a confusão pode ser total ou parcial


Artigo 383: solidariedade – a solidariedade persiste em relação aos outros
coobrigados.

3) Efeitos:

Principal e acessórios: quando há confusão, aplica-se a teoria gravitacional, então


se a ob principal se extingue, a ob acessória também se extingue.

4) Cessação: artigo 384 – a confusão acaba quando se reestabelece o caráter dúplice


da ob, voltando com todos os seus efeitos.

Remissão

1) Conceito: artigo 385 – perdão da dívida – o credor, sem precisar justificar, pode
decidir liberar o devedor (total ou parcialmente), é uma liberalidade do credor.
Para que a remissão tenha efeito, é necessário que o devedor aceite.
2) Espécies:

Total/parcial

Expressa/tácita: não precisa ser escrita, mas tem que ser declarada pelo credor/quando
o credor não diz expressamente a remissão, mas os seus atos indicam que houve
perdão.

Presumida: advém da lei – o CC prevê condutas do credor que indicam que houve
remissão. Possui 2 hipóteses: entrega do título (perdão da dívida) ou entrega do objeto
do penhor (remissão da garantia – não há extinção da dívida).

Inadimplemento: “teoria das crises das obrigações

1) Noções introdutórias

REGRA das obrigações: “Pacta sunt servanda” = contratos devem ser cumpridos;
princípio da obrigatoriedade dos contratos. Se alguém se obriga a algo por contrato/lei,
ela deve cumprir.

• Exceção: não cumprimento e não extinção – o inadimplemento ocorre


quando não há o cumprimento da obrigação e não ocorre nenhuma forma
de extinção da obrigação (pagamento direto, pagamento indireto e
sucedâneos ao pagamento) – exemplo: na confusão, não ocorre o
pagamento, mas a obrigação é extinta.

2) Classificação

a) Quanto à culpa (existência ou não de culpa do devedor no inadimplemento)


1- Culposo: culpa + dolo (quando o CC fala em “culpa”, ele quer abarcar culpa
e dolo) – 1 exceção

= inadimplemento culposo

2- Não imputável: caso fortuito ou força maior – inadimplemento sem culpa é


chamado de inadimplemento fortuito – retorna ao status quo ante.

Artigo 393 = inadimplemento sem culpa

b) Quanto à utilidade (importante)

1- Absoluto: quando a ob é descumprida e não há interesse do credor que ela


seja cumprida depois. O critério para aferir se o inadimplemento é absoluto
ou relativo é o critério do interesse, tendo que ser um critério objetivo. O
inadimplemento absoluto pode ser total, quando a prestação tem mais de
um objeto e o credor não tem o interesse em nenhum deles, e parcial,
quando o inadimplemento de alguns dos objetos é útil e de outros não.
2- Relativo: artigo 394 – quando a ob é descumprida, mas há interesse do
credor que ela seja cumprida (sinônimo de mora).

Critério objetivo: artigo 395, p único. Ex: a jurisprudência considera que não pode
ser absoluto o inadimplemento que seria útil ao credor, mas que ele resolve abrir mão. O
critério é o do interesse, se for inútil.

E162 do CJF: “A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por


parte do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a
manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor .”

c) BFO: padrão médio de comportamento que gera uma série de deveres anexos
(informação, cooperação) – descumpridos esses deveres, pode haver
inadimplemento.

Violação positiva do contrato: descumprimento dos deveres anexos que advém da


BFO.

E 24 do CJF: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo


Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa.”

3) Inadimplemento contratual (artigo 389 – perdas e danos, juros, atualização


monetária e honorários de advogado) x extracontratual (artigo 927 –
responsabilidade civil – forma de indenização)

Teoria dualista da responsabilidade: tratamento distinto para a indenização que advém


do contrato e quando não advém

4) Efeitos:
Artigo 389: perdas e danos, juros e correção (exceção doutrinária) e honorários
(exceção no CPC) – em caso de inadimplemento absoluto. Esses efeitos são exceção
ao princípio da adstrição, funcionando só como reequilíbrio contratual.

OBS: princípio da inércia – jurisdição tem que ser provocada para se manifestar

Princípio da adstrição – juiz tem que ficar limitado aos pedidos do autor.

5) Culpa: a culpa, dentro da responsabilidade contratual, é presumida. O credor não


precisa provar que o devedor teve culpa, pois o ônus da prova é do devedor, tendo
que provar diferente.

Artigo 393, p. único:

Fortuito interno (fato conectado com a atividade – cabe indenização) x fortuito


externo (fato desconectado com as atividades prestadas pelo devedor – não há
necessidade de indenização). O STF afirma que a culpa do devedor só é eximida em
caso de fortuito externo.

E 442 do CJF: “O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como
excludentes de responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo
à atividade desenvolvida.”

OBS: caso fortuito – fatos humanos. Força maior – fatos da natureza.

6) Momento do inadimplemento:

Artigo 331 e seguintes: vencimento do prazo estipulado em contrato. c/c artigo


390 (ob de não fazer): o inadimplemento se dá a partir do primeiro ato praticado pelo
devedor que se obrigou a se abster.

7) Responsabilidade patrimonial

Artigo 391 c/c 1º, III, CR: deve ser lido à luz da Constituição – nem todos os bens
do devedor podem responder pelo inadimplemento, devendo-se observar a D.P.H.
(mínimo existencial, bens impenhoráveis).

8) Contratos benéficos x onerosos (artigo 392):

Contratos onerosos: em que ambas as partes têm ônus e bônus – a mera culpa gera o
dever de indenizar. Ex: compra e venda.

Contratos benéficos: em que só uma das partes tem bônus e a outra só tem ônus – a
lei entende que já há uma parte muito prejudicada, fazendo com que a pessoa que tem
o ônus só tenha o dever de indenizar quando ela age com dolo. A pessoa que tem o
bônus age conforme a regra dos contratos onerosos. Ex: doação.
Mora (inadimplemento relativo):

1) Conceito: cumprimento imperfeito da obrigação, tanto devedor quanto credor


podem incidir em mora. O cumprimento imperfeito diz respeito ao tempo, lugar e
modo, sendo uma infração ao princípio da pontualidade.

Artigo 394: indica quando credor ou devedor vão estar em mora.

2) Diferença e semelhanças entre mora e inadimplemento absoluto:

a) Diferença: consiste na utilidade daquela prestação para o credor (artigo 395,


p. único). No inadimplemento absoluto, não há mais interesse, utilidade do
credor em ver aquela ob sendo cumprida, e no inadimplemento relativo ainda
há o interesse. O critério deve ser feito de modo objetivo, não podendo ficar a
cargo do credor (ex: credor escolher não querer mais a ob, embora ela seja
útil, não é absoluto).
b) Semelhanças: 1- responsabilidade patrimonial (artigo 389 e 395) –
consequência patrimonial de ambas é a mesma; geralmente o que muda é o
valor, não a natureza jurídica da prestação (o do absoluto normalmente é
maior); 2- necessidade de existência de culpa (artigo 393 e 396) – só há
inadimplemento absoluto ou relativo se o devedor for imputável, ou seja, se
for culpado. Em caso fortuito ou força maior não há responsabilização.

3) Espécies

a) Mora do devedor: também é chamada mora solvente. A mora do devedor


(impontualidade no cumprimento da obrigação) pode ocorrer de duas formas:
ex re ou ex persona. Ela é ex res quando decorre da própria coisa, da própria
obrigação. Não é necessário que o credor tome nenhuma providencia para que
que o devedor se constitua em mora. Já a mora ex persona ocorre com a
notificação do devedor, feita pelo credor. É necessário que o credor notifique
o devedor.

• Mora ex re (casos em que ocorre):

1- Quando a ob tem um termo (prazo) – artigo 397.Uma vez escoado


aquele prazo, o devedor já está em mora (tempo do pagamento – o
pagamento deve ser feito até a última hora do dia final do prazo). O
credor não precisa falar que o devedor está em mora;
2- Quando decorre de um ato ilícito (artigo 398). Quando o devedor
pratica um ato ilícito, isso já constitui em mora;
3- Quando o devedor diz por escrito que não vai cumprir a obrigação: se
já há um bilhete do devedor dizendo que não vai pagar, não há
necessidade de o credor notifica-lo (posição doutrinária decorrente de
um pensamento lógico).

• Mora ex persona (artigo 397, p. único): se não tem termo, ato ilícito e o
devedor não se manifestou, o credor tem que notificar esse devedor. A
notificação pode ser judicial ou extrajudicial. A notificação judicial se dá
por meio da citação. Em relação à notificação extrajudicial, a doutrina tem
uma interpretação ampla: pode ser feita de qualquer forma, desde que seja
por escrito.
• Teoria da expedição e teoria da recepção: servem para saber se o devedor
vai estar em mora, no caso da mora ex persona, quando a carta é expedida
ou quando o devedor recebe a notificação? Hoje em dia, isso perdeu
importância, porque normalmente a notificação se dá por email, mas
quando se dá por carta a diferença de data entre expedição e recepção faz
diferença. O nosso ordenamento aplica a teoria da expedição. Em regra, o
devedor vai estar em mora quando o credor envia a carta – o ônus da prova
de que o devedor demorou a receber a carta é do devedor, para provar que
ele não deve pagar os juros do tempo que demorou para receber.

1- Requisitos para que o devedor esteja em mora:

a) Inexecução da obrigação;
b) Possibilidade de execução futura;
c) Culpa.

2- Efeitos:

a) Responsabilidade patrimonial: previsto no artigo 395 (perdas e danos, juros,


correção monetária e honorários);
b) Perpetuação da obrigação: o devedor continua obrigado a cumprir aquela
obrigação – artigo 399 – como ele deve cumprir. O artigo diz que a
responsabilidade do devedor em mora deixa de ser somente em relação àquilo
que ele deu causa; responde também por caso fortuito ou força maior, se já
estiver em mora. Só existe um caso em que não vai responder: se o devedor
provar que mesmo que ele tivesse cumprido a obrigação, o dano teria ocorrido.

b) Mora do credor: é através do pagamento que o devedor se exonera. Se o credor


se recusa a receber o pagamento, ele também pode estar em mora. Ele pode se
reusar a receber em relação ao tempo, lugar e modo.

1- Requisitos:

a) A dívida tem que estar vencida;


b) O devedor tem que ter tentado cumprir a obrigação;
c) Tem que ter uma recusa injustificada do recebimento.

2- Efeitos (artigo 400):

a) Preço mais favorável: o credor, estando em mora, deve pagar o preço mais
favorável ao devedor – punição ao credor que está em mora. Ex: se o preço do
objeto se valorizar ao longo do tempo de mora, ele deve pagar o preço
valorizado; se o preço do objeto se desvalorizar, o credor deve pagar o preço
antigo, mais alto.
b) Dever de indenizar pela conservação das coisas: o credor deve cobrir os gastos
que o devedor teve no tempo em que houve mora do credor.
c) Se a coisa se perde ou deteriora com culpa do devedor, ele não responde. Ele
só responde em caso de dolo (intenção de prejudicar o credor).

OBS 1: se ambos estiverem em mora simultaneamente, nenhum dos dois pode


alegar; as moras se compensam – compensação total.

OBS 2: mora sucessiva – cada um vai responder pelo prejuízo que deu causa.

4) Purgação da mora: é o conserto, a correção da mora. Devedor ou credor estavam


em mora e vão consertar. Purgação da mora do devedor (artigo 401, inciso I –
cumprir a obrigação e aplicar os artigos 395 e 399); purgação da mora do credor
(artigo 401, inciso II – aceitar o cumprimento da obrigação e aplicar artigo 400).

Perdas e danos

1) Introdução:

a) Histórico:

1- Dano material: quando surgiu o ordenamento, o dano material era o único


que existia. Com o passar do tempo, percebeu-se que era insuficiente, pois
só tutelava o patrimônio, surgindo o dano moral.
2- Dano material + moral: no início, o dano moral não tinha autossuficiência,
não era independente, só podendo ser aplicado junto com o dano material.
3- Dano moral: a CF/88 tutela ambos os danos separadamente (já era um
pedido antigo da doutrina). O dano moral seria uma violação à D.P.H.

Antes, o dando à imagem era encaixado ou em dano moral ou em dano material


(a depender se a pessoa tivesse lucro com a aparência ou não). Os autores passaram a
defender que a CF/88 trazia 3 tipos de dano.

4- Dano estético: teoria tripartida (material, moral e estético). O conceito de


dano estético é o de mudança permanente e indesejada no corpo de
alguém.

Antigamente, usava-se o termo reparação do dado, mas hoje em dia o mais correto
a ser usado é o termo “indenização”, uma vez que reparação traz a ideia de que seria
possível retornar ao status quo ante, o que nem sempre é possível.

b) Espécies:

OBS: perda de uma chance: forma de aplicação moral e material – perda da


oportunidade que a pessoa tinha de realizar um tratamento, por exemplo, mas que foi
negada por um diagnóstico errado da doença.
2) Conceito:

Dano – lesão a qualquer bem jurídico.

Dano material: lesão ao patrimônio.

Patrimônio: conjunto de relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro.

3) Dano emergente e lucro cessante: dano emergente é o que se perdeu e lucro


cessante é o que se razoavelmente deixou de lucrar – artigo 402 – as perdas e
danos abrangem o dano emergente + o lucro cessante. A doutrina diz que esse
artigo está mal localizado e devia estar na parte de responsabilidade civil, pois o
dano material pode ser contratual ou extracontratual.

OBS: nomenclatura

CC 2002 – P e D: chama o dano material (dano emergente + lucro cessante) de


perdas e danos, que, etimologicamente, querem dizer a mesma coisa (perda=dano).

CC Fr. – danos e interesses: adota o termo ideal, pois danos equivale aos danos
emergentes e interesses se refere ao lucro cessante.

Artigo 403: teoria dos danos diretos e imediatos – só é responsabilizado aquele


que pratica ação que dá causa a dano direto e imediato. Não pode haver
responsabilização por ações culposas/dolosas que não têm relação direta. A relação
de causalidade deve ser direta e não remota.

• Teoria subjetiva:

Conduta (culposa ou dolosa) – tem que haver culpa lato sensu na conduta + nexo
causal (artigo 403 – tem que haver rel. de causalidade direta e imediata) + dano

OBS: teoria objetiva – não necessita de dolo/culpa. Se dá somente pela conduta +


nexo causal + dano (ex: dano ambiental – incêndio em propriedade – não há análise
de culpa ou dolo). – CDC admite que existe a responsabilidade objetiva.

Teoria objetiva indireta – ocorre em alguns casos específicos, havendo uma cadeia
de responsabilização; no mesmo caso concreto, duas espécies diferentes de
responsabilidade.

OBS 2: nexo causal – serve para ligar o dano ao sujeito e para medir a extensão
do dano.

1- Elemento indispensável para responsabilização


2- Efeitos: quem responde; extensão do dano.
4) Dinheiro: artigo 404 e 405 – quando as dívidas são unicamente em dinheiro, as P
e D deverão ser pagas a partir de índices de correção monetária, juros e honorários.
Pode haver indenização a mais, caso o prejuízo seja maior que os juros.

Juros

1) Conceito: rendimento do capital; tem natureza jurídica de frutos civis (bens


acessórios) – possuem 3 classificações diferentes que são origem a 3 espécies.
2) Espécies:

Compensatórios: quando se utiliza o capital de outra pessoa de forma consentida,


ex: empréstimo – os juros são forma de compensação do dinheiro.

Remuneratórios ou juros-frutos: pagar a instituição financeira, como forma de


remunerar pelo período de contratação.

Moratórios: incidem quando o devedor está em mora (violação do princípio da


pontualidade).

Convencionais: combinados entre as partes.

Legais: previstos em lei.

Simples: são sempre calculados em cima do capital inicial (ex: dívida de 100 reais
e juros de 10% ao mês – os juros sempre vão incidir sobre o valor inicial da
dívida).

Compostos (juros sobre juros, anatocismo e capitalização dos juros): são


calculados em cima do valor anterior (ex: dívida inicial de 100 reais e juros de
10% ao mês – o juro do primeiro mês incide sobre os 100 reais, mas o do segundo
mês incide sobre o valor anterior, 110 reais).

3) Juros moratórios

a) Artigo 406: diz que os juros serão estipulados pela taxa que estiver em vigor.
Problema: qual valor de taxa será utilizado como juros de mora? O CC/2002
não trouxe um valor legal, diferente do CC/16. Existe uma divergência
doutrinária quanto a qual seria a taxa:

• Lei da usura: lei especial (específica de juros) – a taxa seria de no máximo


12% ao ano.
• CTN: lei complementar – a taxa seria de 12% ao ano.
• Selic: governo federal – taxa que envolve juros + correção monetária

OBS: a doutrina critica o uso da taxa Selic, por considerar que é prejudicial ao
devedor, por incluir juros + correção. Essa taxa gera uma difícil visualização para o
devedor. Ainda assim, o STF reafirmou esse posicionamento em 2017.
OBS 2: não se pode cobrar taxa Selic e correção monetária juntamente.

b) Artigo 407: vão contar os juros ainda que não seja alegado (exceção ao
princípio da adstrição).
c) Termo inicial: a partir de quando começarão a ser contados os juros

Mora ex re: artigo 397 – o credor não precisa fazer nada para o devedor estar
em mora; vai haver mora desde o inadimplemento, começando a contar os
juros.

Mora ex persona: artigo 405 – é necessário que o credor faça a interpelação


do devedor – vai haver mora a partir da citação (teoria da expedição).

4) Capitalização dos juros: possível de ser aplicado no Brasil, em qualquer contrato,


mas a frequência dos juros deve ser anual.

Exceção: instituições financeiras (bancos, corretoras de seguro) podem capitalizar


juros em período inferior a 1 ano, desde que seja de forma expressa no contrato.

Súmulas 596, 539 e 541 do STJ.

5) Correção e índices negativos: segundo entendimento do STJ, no caso de correção


monetária com índices negativos, eles serão levados em consideração até o limite
de zero – a conta final não pode dar um número negativo – caso isso ocorra, deve-
se desconsiderar o valor negativo.
6) Casos excepcionais:

a) Ação revisional: o devedor fica em mora mesmo com o pedido de revisão


contratual – durante o período de revisão do contrato, os juros continuam
correndo. Só em caso de consignação em pagamento é que ocorre a suspensão
da mora.
b) Cobrança indevida: quando a pessoa é cobrada por um valor que não é devido,
não ocorre mora, e ela vai consignar somente o que é devido.
c) MST: caso de um fazendeiro que não cumpriu a obrigação de entregar sacas
de um produto alegando que não entregou pois o MST invadiu sua propriedade
(caso fortuito). Nesse caso, o STJ analisou e descobriu que o MST só havia
ocupado 15% da propriedade, o que não configura como impossibilidade de
pagamento. O entendimento é o de que casos excepcionais não são sinônimos
de casos fortuitos – ainda que haja uma dificuldade para o devedor em pegar,
deve-se analisar de houve realmente o impedimento para o adimplemento.
d) Teoria do adimplemento substancial (importante): STJ considera que existem
casos em que o pagamento é tão próximo do ideal que seria injusto tirar o bem
do devedor (geralmente, o valor usado é o de acima de 95%). O pagamento da
maior parte da dívida demonstra que o devedor age de boa-fé, mas que há
alguma impossibilidade de pagamento total. O STJ não declara que 95% é
igual a 100%, mas o credor perde o direito de tirar o bem do devedor nesses
casos, ainda que possa cobrar o que falta.
Cláusula penal = pena convencional = multa contratual

1) Conceito: obrigação acessória que estipula pena ou multa para tentar evitar
inadimplemento.

Artigos 408 e 409: a cláusula penal pode incidir sobre o inadimplemento absoluto ou
relativo e pode ser prevista desde a assinatura do contrato ou depois.

2) Natureza jurídica: pacto acessório (princípio gravitacional)


3) Função: dupla

a) Coerção: impelir o devedor a pagar (efeito psicológico)


b) Prefixação das P e D (artigo 416, caput): muito vantajoso para o credor – ele
não precisa comprovar o prejuízo – uma vez o devedor estando inadimplente,
ele incide em cláusula penal. Não há a cumulação da cláusula penal com as
perdas e danos, já que ela se propõe a pré-fixar o valor das perdas e danos em
caso de inadimplemento absoluto ou relativo.

4) Espécies:

a) Moratória: quando é feita com o objetivo de coibir a mora – artigo 411 – o


credor poderá exigir tanto o pagamento da multa estipulada na cláusula,
quanto o cumprimento da obrigação principal.

Artigo 416, § único: o STJ entende que a possibilidade de se acumular P e D


+ cláusula penal só pode ocorrer em casos de multa moratória, afirmando que a
multa compensatória serve para substituir o valor da prestação e o prejuízo, não
podendo o credor pedir as P e D.

b) Compensatória: quando tem o objetivo de evitar o inadimplemento absoluto


(artigo 410) – alternativa – o credor não pode exigir adimplemento e multa,
tendo que escolher um dos dois. Geralmente, o valor da cláusula penal
compensatória é mais elevado.

5) Valor:

a) Artigo 412: o valor da cláusula penal não pode exceder o valor da obrigação
principal.
b) Artigo 413 (pode ser alegado de ofício pelo juiz): o juiz pode diminuir o valor
da cláusula caso a obrigação tiver sido cumprida em parte ou se o valor for
muito excessivo. + E 356 da CJF: “Nas hipóteses previstas no art. 413 do
Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula penal de ofício.”

Princípio da proporcionalidade: é uma norma de ordem pública – é isso que o


artigo 413 faz.

6) Pluralidade de devedores:
a) Indivisível: artigo 414 – todos os devedores incorrerão na pena (o valor da
multa recai sobre todo o objeto), mas somente o devedor culpado pode ser
cobrado pelo valor inteiro, os outros somente pelas suas quotas partes.
b) Divisível: artigo 415 – se incorre em pena o devedor que deu causa ao
inadimplemento; o valor da multa só incide na quota parte de quem é culpado.

Arras ou sinal:

1) Conceito: quantia ou coisa entregue como confirmação da obrigação ou direito de


arrependimento
2) Natureza jurídica: pacto acessório real – quer dizer que só ocorrem quando existe
a efetiva entrega da coisa.
3) Espécies:

a) Confirmatória: se não se fala nada sobre a espécie das arras, elas são
consideradas confirmatórias.

Artigo 418: se o inadimplemento for de quem deu as arras – ela perde, pois
quem recebeu tem o direito de ficar com elas. Se o inadimplemento for de quem
recebeu as arras – deve devolver as arras mais o equivalente (dobro do valor inicial
das arras).

Artigo 419: mesma natureza jurídica da cláusula penal – não precisa provar o
prejuízo para restituir, nem para receber equivalente, mas precisa provar P e D.

b) Penitenciais: artigo 420 – quando se estipula o direito de arrependimento (tem


que estar expressamente previsto). Quem deu as arras, as perde e quem
recebeu as arras, as devolve + o equivalente. Nesse caso, não pode haver
indenização suplementar.

Cláusula x Arras:

MOMENTO:

Cláusula – paga depois do inadimplemento;

Arras – paga antes do inadimplemento.

ESPÉCIES:

Cláusula: moratória (só há indenização suplementar nessa) e compensatória

Arras: confirmatória (só há indenização suplementar nessa) e penitenciais


Transmissão das obrigações:

1) Evolução:

D. Romano: não tinha

CC/16: cessão só do crédito

CC/2002: cessão do crédito e do débito. Apesar de não haver previsão legal sobre a
cessão da posição contratual, isso não impede que ela ocorra.

2) Conceito: possibilidade de modificação dos sujeitos de uma relação obrigacional.


3) Espécies:

a) Cessão do crédito: ocorre quando o credor transfere crédito a terceiros;


b) Cessão do débito: assunção de dívidas – devedor transfere débito a terceiro;
c) Cessão do contrato: ceder os direitos e deveres da obrigação.

4) Figuras:

a) Cedente: pessoa que ocupava a relação no começo, mas sai.


b) Cessionário: pessoa que entra no lugar do cedente.
c) Cedido: pessoa que já estava na relação e permanece.

Cessão do crédito

1) Conceito: NJ bilateral no qual credor transfere crédito a terceiro, sem anuência do


devedor. Ex: desconto bancário – forma de cessão de crédito onerosa.
2) Características do objeto:

Artigo 286: credor pode ceder qualquer crédito, exceto: oposição à natureza do
objeto, à lei ou à vontade das partes (para que tenha eficácia perante 3º tem que estar
expressa no contrato).

Artigo 287: acessórios – em regra, vão junto – princípio gravitacional.

3) Espécies:

Oneroso x gratuito

Legal (lei) x judicial (juiz) x convencional (partes)

Pro soluto (existência) – o cedente tem responsabilidade apenas pela existência da


obrigação, garantindo ao cessionário que o crédito existe x pro solvendo
(pagamento) – o cedente tem responsabilidade pelo pagamento da obrigação,
garantindo ao cessionário que o crédito existe e, em caso do cedido não pagar, o
cedente irá adimplir.
4) Forma: tem que ser feita por escritura pública, ou partícula com alguns requisitos

Artigo 288: só é válido para terceiros se feito por escritura pública, ou particular
+ § 1º do artigo 654 (requisitos da procuração) – lugar, data, qualificação das partes,
objeto.

Artigo 289: crédito hipotecário (crédito garantido em um imóvel) – faculdade do


credor (pelo princípio da publicidade, deveria ser um dever – não há consenso na
doutrina) – o cessionário pode averbar esse crédito no registro de imóveis, para que
as pessoas vejam que, ao adquirir a casa, também podem adquirir o crédito.

5) Notificação

Artigo 290: notificação do devedor – para a cessão do crédito ter eficácia para o
devedor, ele deve ser notificado – judicial ou extrajudicial; cedente ou cessionário;
expressa (quando há o envio de notificação judicial ou extrajudicial) ou presumida
(quando o cedido manifesta o conhecimento da cessão).

Artigo 292: o devedor fica desobrigado 1- quando não é notificado e paga para o
credor originário (cedente), 2- quando foi notificado de várias cessões diferentes e
paga a quem tiver com o título do crédito e 3- quando foi notificado várias vezes mas
a obrigação consta numa escritura pública, valendo o pagamento feito à primeira
notificação da cessão.

Artigo 293: conservar – mesmo sem notificação do devedor, o cessionário pode


realizar atos conservatórios do direito cedido.

Artigo 294: defesas (=exceções): as defesas pessoais contra o credor originário


têm que ser alegadas no momento da notificação; as pessoas contra o cessionário
podem ser alegadas a qualquer tempo. As defesas gerais podem ser alegadas em
qualquer momento.

6) Responsabilidade

Regra: pro soluto (artigo 295) – o cedente é responsável por garantir que a obrigação
existe – vale para cessões onerosas e para cessões gratuitas em que age de má-fé.

Exceção: pro solvendo (artigo 296 c/c 297): indenizatória – indeniza por aquilo que
recebeu – e não satisfativa – não devolve o que prometeu que seria pago.

Cessão do débito ou assunção de dívida

1) Conceito: NJ pelo qual se transferem os débitos de uma obrigação a um terceiro.


2) Espécies:

a) Expromisão: transferência do débito entre credor e terceiro


b) Delegação: transferência do débito entre devedor e terceiro (artigo 299, caput)
– tem que haver a expressa concordância do credor – o credor pode não querer
que a transferência seja feita a terceiro, por acreditar que o devedor originário
tem mais condição de pagar.

Artigo 299, § único: o silêncio do credor quanto à transferência importa


em recusa c/c artigo 303: em caso de imóvel hipotecado, o adquirente do
imóvel pode querer pagar o crédito garantido pela hipoteca; caso o credor não
anua em 30 dias, o silencio importará em assentimento. Sendo assim, em
regra, se o credor não aceita expressamente, entende-se que houve recusa,
sendo os casos de hipoteca de imóvel uma exceção, na qual a assunção da
dívida é automática. O código só se referiu aos casos de delegação, mas é
também válida a expromissão.

A delegação pode ser liberatória – quando entra em novo devedor e sai o


devedor originário – ou cumulativa – quando entra um novo devedor e o
originário permanece (a lei não impõe que vai ser uma ob solidária).

OBS: artigo 299 – delegação liberatória

3) Efeitos:

Artigo 300: garantias – em regra, as garantias pessoais se perdem quando há assunção.

Artigo 301: anulação – se a substituição do devedor for anulada, em regra, as garantias


que estavam extintas não retornam, exceto se o garantidor estiver de má-fé.

Artigo 302: exceções – o novo devedor não pode utilizar as exceções pessoais que o
devedor originário tinha contra o credor.

Cessão do contrato ou da posição contratual

1) Conceito: NJ no qual uma das partes do contrato bilateral (quando uma pessoa sai,
ela deixa créditos e débitos, que serão assumidos pelo terceiro) transmite a terceiro
a sua posição, com consentimento da outra parte. Há um único contrato.

• Sublocação: quando alguém aluga um imóvel e, por um período, faz um


contrato de sublocação com um terceiro, há dois contratos, portanto, não
há cessão.

2) Natureza jurídica;

a) Teoria atomicista: a cessão da posição contratual era, na verdade, uma cessão de


débito e uma cessão de crédito – institutos diferentes que podem ser feitos
separadamente.
b) Teoria da complexidade negocial – a cessão da posição contratual é composta por
cessão de crédito e de débito com uma ligação entre eles, que devem ser aplicados
juntos.
c) Teoria unitária (aplicada atualmente): instituto autônomo – é a ocorrência desse
instituto chamado de “cessão da posição contratual”.

3) Efeitos:

a) Cedente e cedido: com ou sem liberação (se não houver liberação, isso não
importa em solidariedade)
b) Cedente e cessionário: artigo 295 e seguintes
c) Cessionário e cedido: apenas restam as defesas objetivas – as exceções
pessoais que havia em relação ao cedente não podem ser alegadas.

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