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A malandragem como modo de vida (fonte wikipedia)

O cinismo é um estado de espírito muito associado ao malandro. Bufão tocando alaúde,


de Frans Hals.

A malandragem configura-se quando o sujeito abdica e mesmo escarnece de suas


funções e obrigações sociais, tais como obediência às autoridades, respeito à
propriedade alheia, altruísmo etc., preferindo viver o dia a dia da forma mais hedonista
possível. O malandro não toma esta atitude por ímpeto revolucionário, convicção
ideológica ou qualquer conclusão intelectual. Ainda que sua atitude possa ser
desencadeada por ressentimento social, o propósito do malandro não é o de mudar o
status quo, e uma discussão dessa ordem simplesmente não faria diferença para ele. A
verdade é que a diligência do trabalho quotidiano não possui aplicação prática em sua
vida, e a realização de pequenos delitos furtivos e independentes dão-lhe vívida
impressão de sucesso, causando-lhe sensação de satisfação e mesmo superioridade.

Devido a essas características, o malandro muitas vezes é rotulado como "preguiçoso",


"vagabundo", "escória", "inútil". No entanto, sendo uma atitude típica de indivíduos
desfavorecidos, a malandragem muitas vezes é vista com simpatia. Ao malandro cabe
muitas vezes o papel de herói, ainda que se aproxime mais de um anti-herói. O
malandro é idealmente representado como o sujeito que, privado de instituições que o
representem, precisa utilizar da própria inteligência e artimanha para lidar com os mais
fortes. Além do quê, o malandro ideal carrega em si o carisma que lhe rende simpatia,
mesmo diante daqueles que teriam motivos para não aprovar sua atitude. Nesse sentido,
a malandragem possui alguma concomitância com o jeitinho.

A malandragem é profundamente arraigada no imaginário popular. Em seu livro "O


Grande Massacre de Gatos", Robert Darnton expõe como, durante a Alta Idade Média, a
malandragem fora imortalizada pelas classes populares como um modo de justiça
individual. Em uma época de pouca comida e abismos sociais, os personagens que hoje
compõem as histórias da "Mamãe Gansa" usavam de artimanhas e espertezas para
enganar as pessoas mais abastadas e favorecidas, obtendo assim fortunas ou ao menos
garantindo a própria sobrevivência. Essas artimanhas e espertezas eram denominados
"cartesianismos", uma referência a René Descartes, cujas ideias eram vistas com alguma
desconfiança pelas classes populares.
Esses cartesianismos envolviam manipulação de pessoas, pequenas fraudes e até mesmo
o uso de artimanhas mágicas. Ora, esta é precisamente a atitude típica da malandragem:
buscar formas mais "acessíveis" de usufruir de confortos e vantagens, a maior parte
relacionada com o simples desfrute dos prazeres sensoriais da existência (ter, beber,
jogar, namorar etc.). Para isso, o malandro utilizará a lábia e a destreza, bem como
outras características que o habilitem a manipular pessoas; o malandro eventualmente
contará também com a sorte, principalmente porque este indivíduo não acredita na ideia
de se realizar grandes esforços no sentido de obter algo para si (daí sua tendência aos
jogos de azar, ainda que sempre busque manipular o resultado destes). É preciso
ressaltar que a sutileza e a individualidade são as principais características da
malandragem. Nesse sentido, um corsário, um assaltante, um líder de gangue ou um
saqueador comum não podem ser vistos como malandros.

Homens trajando os zoot suits, vestimenta identificada com os malandros

O estereótipo da malandragem foi capaz de influenciar não apenas a cultura brasileira,


como também a de outros países, em diferentes épocas. Durante a primeira metade do
século XX, os Estados Unidos viram imortalizada a figura do típico malandro do Bronx:
negro, pobre, conhecedor das "manhas" das ruas; fala gírias e possui um sotaque
"cantado", parecido com o de um cantor de rap. Usa os chamados zoot suits, ternos
quadriculados coloridos, acompanhados de um chapéu de abas largas.[3] Os zoot suits
influenciaram o tipo de roupa usada pelos sambistas cariocas[4] e na vestimenta do Zé
Carioca de Walt Disney[3]. É bem-humorado, bonachão e muitas vezes de bom coração.
Nas concepções mais românticas, é uma pessoa de "boa paz", negando-se a realizar
crimes "pesados", preferindo "pequenos" delitos como fraudes e furtos.

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