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Benefícios da aplicação do método Kinesio Taping no tratamento de

lesões do ombro em nadadores recreativos do estilo crawl

Lucyana de Souza Sperry 1


Dayana Priscila Maia Mejia2
Email: lucyana_sperry@hotmail.com
Pós-Graduação em Traumato-Ortopedia – Faculdade Ávila

RESUMO
Esta pesquisa trata da prevenção fisioterapêutica em lesões de ombros de nadadores
recreativos. O interesse pelo desenvolvimento dessa temática derivou da constatação de que,
mesmo a natação sendo considerada uma atividade esportiva atraumática, ocorrem lesões
por esforços repetitivos, normalmente localizadas no ombro dos nadadores, e que afetam
principalmente o supra-espinhoso, componente do manguito rotador. As práticas preventivas
são mais indicadas do que o tratamento pós-traumático, uma vez que há a possibilidade de
detecção da afecção ainda em seu estágio inicial, principalmente pela manifestação
sintomática de eventos dolorosos. Nesse sentido, destaca-se a aplicação da fita Kinesio
Taping como coadjuvante da ação preventiva em afecções do manguito rotador em
nadadores recreativos, em função de a mesma ser indicada para a reabilitação
fisioterapêutica e tratamento de desordens funcionais, redução de edemas e para dar suporte
aos músculos. A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão bibliográfica sistemática, e
os resultados mostram que os estudos nessa área ainda são incipientes, carecendo de
pesquisas mais aprofundadas para a real verificação dos efeitos benéficos que podem ser
advindos da aplicação do método de Kinesio Taping em lesões de ombros de nadadores do
estilo crawl.
Palavras-chaves: Natação. Lesões de ombro. Métodos preventivos. Kinesio-Taping.

1. Introdução
A literatura científica é enfática quando considera que o ombro é sede freqüente de lesões nos
esportes que envolvem movimentos repetitivos. Em esportes que exigem excessividade desses
movimentos, como a natação, esse índice se manifesta mais exacerbadamente, apesar de
vários autores considerarem esta atividade esportiva como não traumática.
Os tipos de lesões no ombro mais comuns enfrentados por atletas ou praticantes não
competidores se referem a tendinites, geralmente ocasionadas pelo impacto do músculo supra-
espinhoso contra o acrômio, ocasionando, em função das sobrecargas e microtraumas, uma
falência progressiva dos ligamentos. Na natação, especificamente, as afecções do ombro são
conhecidas pela denominação de “ombro de nadador”, derivadas do termo original em inglês
“swimming shoulder”, e se caracterizam por serem lesões dolorosas que se apresentam com
mais incidência em nadadores de competição.
Em nadadores recreativos do estilo crawl, esta síndrome é classificada no meio científico
como ocasionada pela fase de tração, onde o grupo muscular do ombro, formado pelos
rotadores internos, adutores e extensores, é muito mais exigido do que o outro grupo, formado
pelos rotadores externos, abdutores e flexores, o que provoca um desequilíbrio entre a
musculatura que age na articulação do ombro.
Dentre os fatores que contribuem para a instalação da síndrome nos nadadores de competição,
destacam-se a força, a repetição, a postura e a ausência de repouso. Um nadador que percorre
1
Fisioterapeuta. Pós-Graduanda em Traumato-Ortopedia, pela Faculdade Ávila
2
Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Orientadora.

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5000 metros por dia de treinamento executa cerca de 2000 ciclos de braçadas. Em um nadador
recreativo, esse número não se traduz nessa magnitude, porém o nível de lesão também pode
ser agravado, principalmente pelo fato deste grupo populacional não possuir a técnica mais
apurada para execução do nado estilo crawl.
Normalmente, em nadadores recreativos, as lesões são influenciadas por erros repetidos da
técnica de braçada, com rotação interna do ombro exagerada no início da propulsão e na
recuperação. Nestes casos, o músculo mais afetado costuma ser o supra-espinhoso, que evita o
deslocamento da cabeça do úmero em direção ao acrômio.
A resposta inicial da lesão se dá pela inflamação denominada tendinite. Esta, ao estender-se
para a bolsa sub-acromial, evolui para uma bursite. Em se mantendo essa situação lesiva,
ocorrem rupturas no manguito rotador. As conseqüências se traduzem em dores durante e
após o treino, ou dor persistente, que afeta as atividades de vida diária, levando muitas vezes o
nadador recreativo a abandonar o esporte.
Existem várias alusões aos métodos de tratamento e programas de prevenção. Estes últimos
envolvem: dosagem no volume de treino, tempos maiores de recuperação, variação de estilos
e ritmos durante o treinamento, adoção de técnica específica, realização de exercícios de
flexibilidade, reforço muscular aumento do período de aquecimento e alongamento, entre
outros.
Dá-se importância magistral aos programas de prevenção, notadamente quando surgem as
primeiras manifestações dolorosas, já que os tratamentos são realizados na evolução da
doença. Como já discorrido, o nadador recreativo tem preferência pelo abandono do treino,
por achar que, afastando-se dos exercícios, a lesão pode regredir.
Isso pode repercutir negativamente nos programas de treinamentos recreativos, ocasionando
um esvaziamento do número desses nadadores, e desmistificando a ideia de que a natação é
um esporte não traumático. Por essa argumentação, denota-se o interesse que o estudo ora
realizado encerra, já que a natação é um esporte considerado mais adequado à grande maioria
da população, principalmente nos casos em que os atletas preferem esportes onde a
prevalência de traumas seja minimizada.
Necessário, portanto, que os programas de prevenção sejam uma tônica em todas as situações
que envolvam o desfavorecimento do treinamento em nadadores recreativos. Justifica-se este
estudo, portanto, pela constatação de que, contemporaneamente, a preocupação com a
qualidade de vida do indivíduo adulto, no intuito de aumentar a sua expectativa média de
vida, envolve a prática de esportes e exercícios. Em um indivíduo adulto, não acostumado a
esportes de impacto, a natação tem sido a atividade esportiva mais recomendada, pelos vários
motivos benéficos que são relatados na literatura.
Assim, pelo alto índice de recomendação da prática da natação a indivíduos adultos, se supõe
também necessário que as práticas de prevenção sejam costumeiramente aprimoradas,
favorecendo a estes indivíduos uma prática esportiva saudável, sem o comprometimento de
músculos que podem afetar sua performance.
Pela abrangência que o tema pressupõe, e em função da necessidade de delimitação da
pesquisa, escolheu-se como método de prevenção discutido nessa pesquisa a aplicação da fita
Kinesio Taping, apontando suas características, ações terapêuticas, vantagens e benefícios na
utilização por nadadores recreativos para prevenção da lesão de ombro.
Dessa maneira, escolheu-se como problemática norteadora da pesquisa a seguinte indagação:
em que medida o uso do método Kinesio Taping pode ser benéfico para a prevenção de lesões
do ombro em nadadores recreativos?
A resposta a esse questionamento perpassou pela construção do objetivo geral da pesquisa,
que consiste em apontar os benefícios que o uso do método Kinesio Taping como medida
fisioterapêutica preventiva pode trazer ao praticante de natação recreativa.

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Para a consecução desse objetivo, adotou-se um percurso metodológico que caracteriza a


pesquisa como qualitativa, de finalidade descritiva. Como meios de pesquisa, escolheram-se
os métodos bibliográficos, através de revisão literária sistemática, com a utilização de artigos
e material recente publicado sobre o tema em questão, disponíveis ao domínio público, e
concentrados no período de 2010 a 2012.
2. O esporte natação
De acordo com Martins (2005), o esporte natação é a segunda modalidade desportiva mais
praticada no Brasil. Corresponde a uma atividade esportiva não traumática que, quando bem
conduzida, possui valores profiláticos e terapêuticos. No entanto, a literatura enfatiza que esse
esporte, seja em termos competitivos ou recreativos, pode levar a algumas lesões,
principalmente as localizadas na região do ombro, ocasionadas pelo esforço repetitivo dos
movimentos de braçadas.
Na opinião de Santos (2001), a natação amplia o condicionamento cardiorrespiratório, a
flexibilidade e força, e sua prática pode ser realizada ao longo de todo o período de formação
e pós-formação do indivíduo. Esse condicionamento cardiovascular é apontado como o ponto-
chave da prevenção de doenças coronarianas, hipertensão, obesidade e o diabetes insulino
não-dependente.
Sabe-se que a natação é um esporte que se utiliza muito de membros superiores, com
movimentos repetitivos acima da cabeça. Em conseqüência disso, existe uma incidência maior
de lesões nos ombros seguidas de joelhos e em menor parte coluna, tornozelo e pés (CUNHA,
2003).
De modo geral, essas lesões são ocasionadas durante o período de treinamento. No caso
específico do nado estilo crawl, considerado como objeto de estudo desta pesquisa, as lesões
são decorrentes da fase de tração, onde um grupo muscular do ombro, constituído por
rotadores internos, abdutores e extensores é muito mais exigido do que o grupo de músculos
constituído de rotadores externos, abdutores e flexores, o que ocasiona um desequilíbrio entre
a musculatura que age na articulação do ombro (COHEN et al., 1998).
Os autores acima consideram ainda que este desequilíbrio resulta em ações mecânicas
anormais da articulação do ombro, que podem conduzir a lesões na articulação, levando a
prejuízos no desempenho do nadador – mesmo o recreativo – a longo prazo.
Por ser realizada no meio líquido, a natação é uma modalidade desportiva que depende
essencialmente da habilidade técnica do nadador, como destacam Caputo et al. (2000). Assim,
fatores biomecânicos que interferem sobre as forças resistivas e/ou propulsivas influenciam
mais no desempenho do que a própria capacidade de produção e liberação de energia para o
deslocamento.
Para a avaliação da performance de atletas de natação, Maglhischo apud Marinho e Fernandes
(2003) recomenda quatro segmentos estatísticos: o comprimento médio de braçadas (CB), a
freqüência média de braçadas (FB), a velocidade média de nado (VN) e o índice médio de
nado (IN).
No estilo crawl – visto mais detalhadamente no próximo tópico – um ciclo de braçadas é
definido pela entrada de uma mão na água até a próxima entrada da mesma mão na água, e é
induzido pelas forças aplicadas pelo nadador no meio e pelas respostas de forças do meio
sobre o nadador (TOUSSAINT e BEEK apud SANDERS, 2000).
O comprimento de braçada fornece uma boa indicação da eficiência propulsiva e pode ser
utilizado para avaliar progressos individuais nas técnidas de nado. Por seu turno, o nadador
que percorre a maior distância por braçada – a denominada velocidade de nado – apresenta a
técnica mais efetiva, segundo Castro et al. Apud Marinho e Fernandes (2003).
Os mesmos autores consideram ainda que o indicador da melhor técnica seria a adequação
entre velocidade alcançada de nado e o comprimento de braçada utilizado para alcançar tal

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velocidade. A posição do corpo do nadador na água é essencial em relação às forças resistivas


e à propulsão final, determinantes da performance, o que pode refletir-se nos parâmetros
cinemáticos do nado.
De acordo com Cardelli et al. apud Castro et al. (2005), no nado crawl, a cabeça do nadador
deve estar alinhada com o eixo longitudinal enquanto executa os movimentos de nado, a fim
de minimizar possíveis influências do movimento de respiração no aumento das forças
resistivas.
3. O nado estilo crawl
Apesar do nado estilo crawl possuir várias técnicas para um melhor rendimento dos atletas,
Souto (2000) afirma que, em relação às técnicas, fica difícil definir qual a melhor posição
geral do corpo a adotar. Isso porque o nadador assume diferentes posições corporais durante
as diferentes fases do ciclo gestual.
Genericamente, pode-se afirmar que, em relação à técnica global, a postura corporal deve
manter-se o mais próximo possível da posição hidrodinâmica fundamental, a qual permite
minimizar a força de arrasto a que o nadador se sujeita, favorecendo de igual modo a
produção de força propulsiva pela ação dos segmentos motores (HAY apud MARINHO e
FERNANDES, 2003).
Desse modo, no estilo crawl o corpo deve estar alinhado o mais horizontal possível, com a
cabeça em posição natural no prolongamento do tronco. Soares (2000) alerta que, quanto
maior for o comprimento total do corpo, menor será o arrasto hidrodinâmico, por isso,
enfatiza que se deverá privilegiar as posições alongadas na água, o que permite reduzir o
arrasto e aumentar a propulsão.
Além das características antropométricas próprias de cada nadador, o seu nível de
flexibilidade também pode afetar a capacidade em adotar a posição mais hidrodinâmica que
lhe favoreça os movimentos. Como identificam Caputo et al. (2000), indivíduos hiperflexíveis
conseguem colocar o corpo numa posição mais alongada, minimizando os arrastos devido à
diminuição da turbulência gerada perto dos pontos de pressão (ombros, bacia, joelhos e
tornozelo).
O alinhamento horizontal, além de apresentar uma pequena superfície frontal de contato com
a água, reduzindo o arrasto hidrodinâmico, anda protege o nadador quanto ao esforço gerado,
minimizando inclusive a incidência de lesões causadas por este esforço.
Como explicita Alves (1997), no nado crawl, o olhar do nadador deve estar dirigido para o
fundo da piscina, para uma zona localizada ligeiramente à frente do mesmo. Isto significa que
é importante manter uma posição alta na água, porém sem elevar exageradamente a cabeça,
diminuindo, assim, a tensão dos músculos da região dorsal e da nuca.
Desportivamente, a técnica de partir, nadar e virar parece ser considera unânime na opinião
dos autores. No entanto, Alves (1998) alerta quanto aos erros técnicos em aspectos básicos
das técnicas de nado. Esses erros técnicos devem ser corrigidos e eliminados na fase de
treinos, de modo a propiciar uma rotação dos ombros e da cabeça antecipada antes da
respiração.
Como especifica Whitten apud Marinho e Fernandes (2003), se o nadador realizar
corretamente as técnicas de nado, vai despender mais tempo numa posição lateral do que
numa posição horizontal. Dessa maneira, o corpo do nadador deve acompanhar o movimento
rotacional, efetuando a rotação dos ombros e tronco como um todo, evitando a oscilação da
bacia e dos membros inferiores.
No estilo crawl, os braços se movimentam alternadamente e as pernas para cima e para baixo.
Durante todo o tempo, o nadador se mantém em decúbito ventral. Depois que adentra o meio
líquido, o nadador precisa seguir todos os passos para realizar o nado corretamente. Nesse
estilo, os braços respondem por 75% da propulsão (ou seja, o impulso para frente) e as pernas

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por 25% em média. Os braços são responsáveis pela velocidade e devem ser levados à frente
com os cotovelos dobrados e a ponta dos dedos na diagonal, isto é, o polegar virado para a
água. Os dedos ficam unidos, formando um tipo de pá de remo. Embaixo d’água, o braço faz
um movimento parecido com um ponto de interrogação “?” ou um “S”. Com isso, o nadador
consegue “empurrar” mais água e aumentar a sua propulsão verdadeira (MARINHO e
FERNANDES, 2003).
Segundo os autores acima, a técnica da braçada consiste em movimentos curtos de palmateio,
quando a mão palmateia ligeiramente para fora, a parir da linha do ombro e após entrar na
água. Depois ela muda de direção, para dentro até a linha central do corpo na metade da
braçada, girando ao passar pelos quadris enquanto a braçada termina.
A braçada se divide em duas fase: a) fase sub-aquática (entrada, apoio, tração ou empurrada, e
finalização); e b) fase aérea (recuperação). Dentre essas etapas, vários movimentos são
realizados em sequência, como mostra a Figura 1, adiante.

Figura 1. Ilustração do pocionamento das braçadas no nado crawl


Fonte: http://blog.sonatacao.com.br/nado-crawl/

Segundo Vilas-Boas e Soares (2003), a fase de entrada – mostrada na parte de cima da Figura
1 – deve ser à frente do corpo, em um ponto entre a cabeça e o ombro do nadador. O braço
deve estar levemente flexionado e a palma da mão inclinada para fora (ponta dos dedos e
depois antebraço e braço). Em seguida, extensão para frente (alongamento e apoio), sem
aplicação de força neste momento.
No agarre – ou varredura para baixo – a mão se desloca para baixo num trajeto curvilíneo, que
termina na posição de agarre. O braço é gradualmente flexionado no cotovelo durante a
varredura para baixo e o agarre é efetuado quando a combinação da varredura para baixo e a
flexão do cotovelo fazem com que ele eleve-se acima da mão (cotovelo alto). Há um pequeno
afastamento da mão e braço para fora da linha do ombro e estes devem estar voltados para trás
contra a água. A aplicação de força não deve se dar antes do agarre. Os padrões de braçada
mostram que há um movimento para fora durante a varredura para baixo. Este movimento não
é propulsivo e serve para impedir o afundamento do rosto do nadador quando respira durante
a recuperação do braço oposto.
Vilas-Boas e Soares (2003) explicam que o movimento de tração – ou varredura para cima –
começa a ser executado logo após o movimento de agarre, tendo continuidade até que a mão
do nadador aproxime-se de sua coxa. É um movimento semicircular da mão, desde um local
situado abaixo do corpo do nadador e para fora, para cima e para trás durante todo o
movimento. Embora haja extensão do cotovelo, o antebraço deve manter-se flexionado com a
parte inferior e a palma da mão voltada para trás com relação à água. Esta fase se encerra com
a aproximação da mão em relação à coxa. Neste ponto, o nadador deve diminuir a pressão na

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água, girando a palma da mão para dentro para diminuir a resistência até entrar na fase de
recuperação.
Por sua vez, a fase de recuperação inicia-se antes que a mão do nadador deixe a água.
Primeiro o cotovelo deixa a água. Portanto, a recuperação se inicia pelo cotovelo, com os
braços flexionados. Esta fase tem como objetivo colocar o braço em posição para outra
braçada. Os braços devem ser levados à frente sem quebrar o alinhamento lateral do corpo e,
nesta fase, se proporciona um breve período de esforço reduzido dos músculos dos braços,
ombro e tronco. O braço deve estar relaxado e o cotovelo elevado durante toda a recuperação.
Quanto à coordenação dos braços, Vilas-Boas (1991) esclarece que a entrada de um braço na
água coincide como início da fase de força do braço contrário, ou seja, quando o braço está
completamente na água o outro está no meio do seu trajeto.
Em relação a esse tipo de atividade, Cunha (2003) observa que um nadador que executa uma
média de 8 a 10 ciclos de braçadas por 25 jardas, totaliza mais de um milhão de rotações do
ombro por semana, tendo, portanto, um maior risco de lesões por uso excessivo do ombro.
Blasier apud Martins (2005) estudaram biomecanicamente o papel do manguito rotador e
identificaram que, se a tensão em qualquer um dos componentes do manguito for omitida ou
reduzida, haverá grande redução na estabilidade da articulação anterior comparada com a
tensão que foi aplicada a todos os componentes. Isso porque os músculos supra e infra-
espinhoso, redondo menor e subescapular contribuem significativamente para a abdução do
ombro.
4. Prevenção
De um modo geral, por prevenção entende-se o conjunto de medidas organizadas
sistematicamente visando antecipar-se a algum evento previamente identificado (ALMEIDA,
2005).
Para o autor acima, na área da saúde, a prevenção é classificada em quatro itens primordiais:
a) Prevenção primária: é o conjunto de ações que visa evitar o adoecimento na população,
removendo os fatores causais, ou seja, visam á diminuição da incidência da doença. Tem por
objetivo a promoção de saúde e proteção específica. São exemplos: a vacinação, o tratamento
de água para consumo humano, de medidas de desinfecção e desinfestação, ou de ações para
prevenir a infecção por intermédio de educação para a saúde;
b) Prevenção secundária: é o conjunto de ações que visam identificar e corrigir o mais
precocemente possível qualquer desvio da normalidade, de forma a colocar o indivíduo de
imediato na situação saudável, ou seja, tem como objetivo a diminuição da prevalência da
doença. Visa ao diagnóstico, ao tratamento e à limitação do dano. Um exemplo é o
rastreamento de determinadas afecções, principalmente no aspecto relacionado a suas causas.
Portanto, a prevenção secundária consiste em um diagnóstico precoce e tratamento imediato;
c) Prevenção terciária: é o conjunto de ações que visa reduzir a incapacidade, de forma a
permitir uma rápida e melhor reintegração do indivíduo na sociedade, aproveitando as
capacidades remanescentes. Poderia ser encarada como reabilitação do indivíduo. Como
exemplo, podem-se citar ações de formação em nível educativo que objetiva anular atitudes
fóbicas em relação a um indivíduo afetado pelo adoecimento;
d) Prevenção quaternária: é o conjunto de ações que visam evitar a iatrogenia associada às
intervenções médicas, como a sobremedicalização ou os excessos preventivos, estes últimos
derivados da busca pela longevidade.
5. A prevenção em natação
Na questão da prevenção, Wilk et al. (1996) consideram que o fortalecimento seletivo dos
músculos do ombro pode compensar a fraqueza residual do supra-espinhoso.
A natação, por utilizar muito os membros superiores, predispõe o supra-espinhoso à
compressão e ao aparecimento de dores, mesmo em indivíduos jovens. Como explicita Cunha

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(2003), o impacto subacromial primário, determinante para o atrito e degeneração do


manguito, é uma das causas de lesões. O impacto ocorre contra a porção antero-inferior do
acrômio, ligamento coraco-acromial e articulação acromioclavicular, sendo que o processo
coracóide também pode colaborar com o impacto.
Um nadador do estilo crawl, por exemplo, pode abduzir cada ombro 7.200 vezes durante uma
sessão de treinos, levando o supra-espinhoso a sofrer um micro-traumatismo, resultando em
inflamação que leva a um edema e, assim, maior colisão e consequentemente a outro micro
traumatismo (ROSCH, 1999).
Além disso, Glasser (2003) observa que os erros repetidos da técnica da braçada favorecem
uma rotação interna exagerada do ombro no início da fase propulsiva e durante a fase de
recuperação, levando a uma ação micro-traumática. Assim, torna-se importante disponibilizar
informações que auxiliem pesquisas sobre a importância do equilíbrio muscular, visando
evitar, principalmente, as lesões dos ombros de nadadores do estilo crawl.
Portanto, denota-se que as principais causas de lesões de ombros em nadadores estão
relacionadas a: a) erros repetidos da técnica de braçada (rotação interna do ombro exagerada n
início da propulsão e na recuperação); b) programas inadequados de exercícios de reforço
muscular (desequilíbrios entre os vários grupos musculares); c) hipersolicitação das estruturas
anatômicas (elevadas cargas de treino); e d) utilização excessiva de acessórios nas mãos
(“swimming paddles”) (MARTINS, 2005).
6. Métodos preventivos em nadadores recreativos
Segundo alertam Ghorayeb e Barros (1999), a estabilização é o segredo para manter a
integridade do ombro e prevenir as lesões. Os músculos estabilizadores dos ombros devem ser
treinados progressivamente para suportar o crescente estresse imposto pelo treinamento árduo.
Na opinião de Cunha (2003), são os músculos do manguito rotador – entre eles o supra-
espinhoso – que permitem aos principais músculos motores do ombro (deltóide, peitoral
maior, bíceps braquial, grande dorsal, tríceps braquial e redondo maior) durante o nado, que
atuem sem riscos de deslocamentos na articulação.
Outro cuidado a ser tomado é manter a altura da faixa elástica adequada à estatura do nadador,
não permitindo uma puxada para cima ou para baixo. Rodeo apud Cunha (2003) afirma que
nadadores bem preparados com exercícios de força realizados de forma correta podem evitar
problemas nos ombros. Propõe uma sequência de fortalecimento dos ombros com os
seguintes exercícios: rosca bíceps com halter; rosca inversa; levantamento lateral e frontal e
remada frontal.
Além disso, técnicas de reabilitação são utilizadas em nadadores com lesões, tais como
exercícios escapulares de estabilização para impedir a recidiva. Profissionais ligados à
natação têm colocado novas estratégias de prevenção e técnicas de treinamentos baseadas em
estudos biomecânicos e patomecânicos do nado crawl. Através da prevenção e reabilitação
para o ombro do nadador, os profissionais da saúde podem impedir a progressão da lesão
inicial ou até mesmo uma ruptura do manguito rotador e dos outros músculos que compõem o
seu conjunto.
Johnson et al. apud Martins (2005) também defendem o treinamento fora d’água como sendo
fundamental. Não só o desenvolvimento muscular como um todo, mas dando ênfase ao treino
dos rotadores externos, objetivando minimizar o natural desequilíbrio entre os rotadores
externos e internos, devido ao treino exclusivamente aquático.
Estudos revelaram que exercícios feitos com faixa elástica para o fortalecimento dos rotadores
externos são mais efetivos depois da prática da natação, pois antes de nadar podem levar o
supra-espinhoso à fadiga e possivelmente aumentar os riscos de lesões.
Muitos nadadores executam as braçadas com a rotação interna extrema ou moderada e não
tem dor ou lesão aparente, mas em outros nadadores essa rotação extrema e constante

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eventualmente causará o impacto, a irrigação, a dor crônica e a lesão. Alguns estudos


recomendam a técnica de rotação interna moderada uniforme quando a prática da natação
tender a aumentar o impacto do ombro (YANAI e HAY apud MARTINS, 2005).
Martins (2005) aponta um programa de prevenção às lesões do supra-espinhoso, que consiste
na utilização de técnica correta do nado crawl: a) respiração bilateral e evitar a entrada da
mão em excessiva rotação interna; b) deixar “cair” a cabeça, antes da entrada das mãos na
água pode evitar a dor; c) desencorajar a utilização de “paddles”; d) dosar o volume de treino
(respeitar o desenvolvimento músculo-esquelético do nadador; e) respeitar os tempos de
recuperação; f) mixar intervalos, variar estilos e ritmo durante o treinamento; g) realizar
preparação física fora da água (reforço muscular); h) diminuir o desequilíbrio natural entre
rotadores externos e internos provocado pelo treino aquático (excesso de rotação interna).
Ainda em relação às técnicas, o autor acima esclarece que não se deve copiar um estilo padrão
ou de um determinado nadador. “Cada atleta tem um biótipo, com características individuais
de nado; cada atleta deve desenvolver o seu estilo, dentro de suas características” (MARTINS,
2005, p. 2).
Desse modo, infere-se que o nadador deve descobrir a melhor técnica de braçada e de nado
para cada distância e prova; realizar exercícios de flexibilidade; reduzir a distância de nado;
evitar nados que exacerbam a dor; modificar a técnica de nado; manter a eficiência
biomecânica e diminuir os microtraumas.
7. As técnicas de nado que visam à prevenção
Segundo os especialistas, vários fatores são essenciais no domínio da técnica do nado. Como
já discutido anteriormente, um bom trabalho, fora d’água, de alongamento e flexibilidade, um
bom condicionamento físico, uma adaptação e percepção do corpo no ambiente são alguns
deles. O uso de equipamentos também traz resultados positivos.
Para Busso (2004), a evolução das técnicas de crawl alterou principalmente a posição da
cabeça – mais abaixada do que antes -, a posição da mão na entrada da água (o movimento
anterior era feito com o dedão entrando primeiro na água. Hoje a mão entra paralela à linha da
água) e o braço debaixo da água, que passa muito menos flexionado.
Atualmente, os técnicos avaliam a melhor posição da cabeça como aquela em que o nadador
vê o fundo da piscina e a frente. O ideal é que ele encontre uma posição na qual movendo
apenas o olho ele consiga ver estes dois ângulos. Antes, os atletas nadavam com a testa na
linha da água, mas os estudiosos observaram que uma cabeça mais baixa eleva o corpo para o
nível da água, diminuindo a área de resistência.
Segundo Bittar (2007), apesar de alguns nadadores terem tido sucesso com diferentes
recuperações de braçada, o processo de aprendizado do nado crawl recomenda a utilização da
braçada tradicional, em que o cotovelo fica sempre mais alto do que a mão.
Nessa técnica, a mão fica com os dedos juntos, mas sem tensioná-los demais. Este modelo
permite ao nadador maior economia de energia. Na hora de entrar com a mão na água, a
palma deve estar a 45º da superfície, o movimento deve ser alongado, e o nadador não deve
precipitar o início do novo ciclo. Para treinar a técnica do cotovelo alto, pode ser usada uma
prancha, onde o praticante realiza o movimento normal com uma das mãos, enquanto apóia a
outra na prancha. Durante o período de recuperação, ele toca com as pontas dos dedos
sutilmente na superfície.
Outra técnica utilizada consiste na “remada”. Esta se caracteriza pelo movimento dos braços
debaixo d’água em duas fases: puxada e empurrão. Na primeira, o nadador mantém o braço
ligeiramente flexionado, a mão firme, mas não tensionada, e traz o braço até a altura do
umbigo. Alinhando a entrada do braço e a puxada na água com a linha dos ombros, chega
então o movimento do empurrão, no qual o nadador coloca muita velocidade no movimento,
que termina na coxa.

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Para perceber a importância do movimento submerso, um exercício comum é realizar os


movimentos com a mão fechada. A ausência de apoio aumentará a percepção do nadador
quando ele retornar ao modo normal.
Ênfase deve ser dada também na rotação do tronco. Segundo Bittar (2007), o rolamento é um
dos pontos mais destacados na técnica de nado crawl, pois permite que o nadador bloqueie
menos a água no momento do nado. O ideal é a rotação longitudinal em torno de toda a
coluna, movendo, ao mesmo tempo, o quadril e o ombro. Isso diminui a resistência frontal
com a água.
Outro exercício que ajuda a visualizar este movimento é a pernada lateral. Com um braço
esticado e o outro colado à coxa, o nadador experimenta o que deve ser reproduzido durante o
movimento completo, inclusive a não interrupção da pernada durante o rolamento.
Em um desempenho ideal, a pernada tem dois momentos, um descendente, com o joelho
semiflexionado, fazendo força para baixo (como se fosse um chute), e um movimento
ascendente, em que a perna retorna à posição inicial. Este movimento não deve ser muito
amplo, mantendo-se na extensão do corpo. Primeiro para não perder o ângulo de força,
segundo para não dificultar a hidrodinâmica do movimento. Uma característica que pode
melhorar o rendimento é posiciona os pés para dentro, aumentando a área de contato com a
água.
Vilas-Boas (1991) refere que, inicialmente, acreditava-se que o empuxo no nado livre era
gerado de acordo com o princípio de Bernoulli: quando objetos do tipo “lâmina” movem-se
através de um fluido em alta velocidade e a pequenos ângulos relativo ao fluxo, forças de
empuxo são geradas e as forças de arrasto são comparativamente menores.
A força de empuxo decorre da diferença de pressão, na medida em que o fluido percorre
maior distância, a maior velocidade, ao longo do lado curvo da lâmina do que no lado menos
curvo. Logo, a mão do nadador poderia agir como a lâmina de metal porque o dorso da mão é
mais curvo que a palma. Para gerar empuxo, pelo princípio de Bernoulli, a mão deveria
efetuar um movimento de “remada”, de forma que o ângulo entre o plano da mão e a linha de
movimento da mão fosse pequeno. Isto gera forças que são mais de empuxo do que de arrasto.
Revoluções nas práticas de treinamento seguiram o trabalho de Counsilman, como enfatiza o
autor acima. Os nadadores passaram a fazer movimentos de “varredura” com as mãos. O
empuxo como a principal fonte de propulsão no nado livre tornou-se quase universalmente
aceito. Alguns textos sobre natação descreviam as mãos como “lâminas” ou como
“propulsores”.
Para Sprigings e Koehler apud Sanders (2000), o princípio de Bernoulli é apenas uma
explicação da cinética da força de empuxo. Esta também pode ser gerada puxando a água para
trás usando ângulos de inclinação intermediários. Além disso, tanto arrasto quanto empuxo
contribuem para a força resultante produzida pela mão. Outros autores descrevem a mão em
diferentes instantes ao longo da fase de puxada da braçada e indicam a relativa magnitude dos
vetores de empuxo ou arrasto. Idealmente, a combinação de arrasto ou empuxo é tal que a
força resultante é na direção desejada do percurso. É comum as descrições indicarem o
empuxo como a fonte predominante de propulsão. Logo, a percepção de que a maior parte da
força de propulsão no nado livre é devido ao empuxo, ao invés do arrasto, tem persistido.
Conforma Marinho e Fernandes (2003), para que as forças estejam na direção correta quando
uma trajetória curta é utilizada, então o empuxo deve ter uma importante contribuição. Assim,
para obter as vantagens de uma trajetória mais longa da mão, o nadador aprende a usar
movimentos de “remada” para produzir forças de empuxo mais que de arrasto. Além disso,
movimentos de “remada” permitem que os grandes grupos musculares sejam utilizados mais
efetivamente do que quando a mão é puxada diretamente para trás.
Adicionalmente, existem algumas fortes razões para aceitar a ideia de que a boa técnica de
nado livre é caracterizada pelo uso da força de empuxo em preferência ao arrasto. A primeira

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é relacionada à natureza curva da trajetória da mão. Se a trajetória da mão é mais curva, então
as forças devem ser geradas por empuxo. Da mesma forma, outra vantagem da trajetória
curva é que a mão percorre uma distância maior ou a uma maior velocidade. Desse modo,
permitindo que as forças sejam aplicadas por mais tempo e/ou sejam maiores em cada
braçada.
Boa parte do movimento de remada pode ser produzido pelos músculos oblíquos abdominais
e incorporado ao rolamento natural que acompanha a respiração e a saída da mão. Essa
técnica pode ser mecanicamente e fisiologicamente eficiente. Talvez o argumento mais
convincente seja que menos energia é transferida para a água e “perdida” quando a impulsão é
gerada pelo empuxo do que pelo arrasto (TOUSSAINT e BEEK apud SANDERS, 2000).
Rushall et al. apud Sanders (2000) argumentam a favor do arrasto como a força propulsora
dominante no nado livre. Estes autores afirmam que os argumentos a favor do empuxo como
força dominante eram mal fundamentados, e que muito da força propulsora total vem do
antebraço. Por causa de sua forma roliça, quase toda a força gerada pelo antebraço deve ser
creditada ao arrasto. Além disso, o antebraço tem uma trajetória substancialmente mais reta
que a mão. Assim, a técnica do nado livre pode ser direcionada a gerar propulsão a partir do
antebraço usando arrasto, em vez de deliberadamente usar uma ação de “remada” para
otimizar as forças de empuxo pela mão.
Infelizmente, apesar de pesquisas tais como a de Berger et al. apud Sanders (2000) terem
quantificado os coeficientes de arrasto e empuxo do antebraço e do antebraço e mão
combinados, nenhuma pesquisa quantificou efetivamente a contribuição relativa do antebraço
e da mão na natação real. Um dos maiores problemas metodológicos a ser ultrapassado é que
o antebraço move-se a velocidades muito diferentes ao longo de seu comprimento durante a
braçada. Isto porque a mão move-se a uma velocidade maior que o antebraço. Se este é ocaso,
então o foco nas forças produzidas pela mão permanece válido e a questão se o arrasto ou o
empuxo são mais importantes permanece aberta a considerações.
Estudos recentes, protagonizados por Cappaert apud Marinho e Fernandes (2003),
quantificaram o movimento completo do corpo, indicando que a trajetória da mão de
nadadores bem sucedidos não é tão curva quanto se acreditava inicialmente. Assim, nadadores
estão tendendo a usar uma puxada reta em vez de maximizar a distância e a velocidade da
puxada usando uma trajetória curva. Se a trajetória não é muito curva, então a maior
contribuição para a força na direção desejada deve ser do arrasto, independentemente se a
mão faz um ângulo em relação ao fluxo.
Através de uma combinação de experimento e simulação, Liu et al. apud Sanders (2000)
mostraram que a trajetória curva da mão de um nadador é devido à rotação do corpo. De fato,
em simulações onde o braço move-se diretamente para trás em relação ao nadador, a trajetória
da mão é mais curva que na natação real. Isso significa que os nadadores, na realidade,
“endireitam” a curva de alguma forma, portanto, a trajetória curva não é deliberada.
Ao invés dos nadadores efetuarem um movimento adutor do braço para produzir a
“varredura” para dentro e, em seguida, um movimento adutor para produzir a “varredura”
para fora, eles estão, na realidade, reduzindo a curva ao efetuar ao efetuar a abdução na fase
inicial da puxada e a adução na fase final da braçada. O fato que nadadores tentam
“endireitar” a trajetória em vez de usar ações de remada é uma forte evidência indireta que os
nadadores utilizam mais em forças de arrasto que de empuxo.
Pelo exposto, denota-se que muitas técnicas aplicadas ao nado crawl seguem a teoria como
sendo realidade, antes que a evidência científica suficiente esteja disponível. Pode ser ainda
muito cedo para concluir que a propulsão no nado livre é dominada pelo arrasto, mas a crença
comumente aceita de que é dominada pelo empuxo pode ser mal fundamentada e incorreta, o
que, por conseguinte, pode agravar os casos de lesões dos músculos do ombro em nadadores.

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8. O método Kinesio Taping


O método Kinesio Taping foi inventado em 1996 por Kenzo Kase. Tal método consiste na
aplicação direta de bandagem elástica Kinesio Tape sobre a musculatura que se deseja
estimular. Seus princípios visam corrigir a função motora de músculos fracos, além de
aumentar a circulação sanguínea e linfática e aumento da propriocepção por meio de
estimulação dos mecanoreceptores cutâneos (RIBEIRO et al., 2009).
Ainda na explicação desses autores, trata-se de uma técnica oriental que faz uso de fitas
adesivas, e que auxilia no tratamento de lesões traumáticas de nervos e músculos. Tal método
não utiliza nenhuma substância química nas bandagens que, apesar de serem consideradas
terapêuticas, ainda não se tem muita evidência científica conclusiva sobre sua eficácia. As
bandagens são compostas por algodão e sua principal característica é a elasticidade, sendo
atualmente muito utilizadas por atletas de diversas modalidades desportivas.
Por sua vez, Vinagre (2010) considera a bandagem como um esparadrapo terapêutico e
elástico, feito com tecido 100% de algodão e ativado pelo calor. É à prova d´água, não contém
látex e permite que a pele respire sem obstrução. Possibilita ainda o movimento normal do
corpo e dura três dias na pele após aplicado. O método visa aliviar a dor e reduzir edemas,
pelo fato de melhorar a circulação linfática, além de gerar maior estabilidade articular e
favorecer a contração muscular.
A fita não contém nenhum medicamento, e funciona tanto na prevenção quanto no tratamento
de lesões para quem se exercita com frequência. Na forma como é colocada, o profissional
direciona a tensão da fita, jogando a força na região da musculatura necessária, sendo
apontado como um ótimo método para dar estabilidade na articulação e orientar o trabalho da
fibra muscular (VINAGRE, 2010).
9. Metodologia
Foi aplicado o método de revisão literária sistemática, a partir da seleção de achados que
comprovam os benefícios da aplicação do método Kinesio Taping. A seleção dos estudos
nessa área foi feita a partir da busca em acervos indexados de publicações científicas,
disponíveis ao domínio público, e localizados nas bibliotecas eletrônicas Scielo, Medline,
Lilacs, BVS-Bireme, com a utilização dos seguintes descritores: natação; lesão de ombros;
lesão de ombros em nadadores; prevenção de lesão de ombros; tratamento de lesão de
ombros; kinesio taping; kinesio taping em lesão de ombros.
10. Resultados e discussão
Pereira (2008) estudou os efeitos da aplicação do método de Kinesio Taping no aumento da
propriocepção de jogadoras de handebol, com o intuito de analisar a eficácia do método na
sensação de movimento de inversão de tornozelo antes e depois do exercício no pé dominante.
Para tanto, traçaram o perfil epidemiológico das jogadoras de handebol; observaram a
percepção de movimento destas jogadoras na realização da inversão de tornozelo; analisaram
a capacidade de distinção de diferentes graus de inversão de tornozelo com Kinesio Taping
antes e depois da realização da prática desportiva; compararam a sensação de movimento sem
e com o uso do Kinesio Taping antes do exercício e com e sem Kinesio Taping após o
exercício; e verificaram se o uso do Kinesio Taping após o desporto apresentou-se efetivo
como medida preventiva de entorses de tornozelo por inversão. Concluíram que as atletas
possuíam inicialmente uma boa sensação de inversão de tornozelo. A sensação de movimento,
como forma de avaliar a propriocepção não se apresentou maior com a aplicação do Kinesio
Taping, nem se alterou após 20 minutos de treino. Entretanto atletas mais jovens apresentaram
menor sensação de movimento na inversão de tornozelo.
Dias et al. (2009) observaram os efeitos da técnica de Kinesio Taping em atletas de futsal na
distribuição da pressão plantar em apoio unipodal. Aplicaram o estudo em 10 atletas de futsal

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do gênero masculino, com idade média de 26,3 anos, peso médio de 75,7 kg e altura média de
177,8 cm. As bandagens foram aplicadas nos pés de apoio dos atletas, por meio da
estabilização de tornozelo sem tensão, registrando, estatisticamente, resultados significativos,
permitindo-se à conclusão de que o uso da Kinesio Taping fornece uma propriocepção mais
adequada, em função do contato da bandagem com a pele.
Santos et al. (2010) procuraram verificar a influência do uso da técnica Kinesio Taping no
tratamento da subluxação de ombro em pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC), e
possíveis melhorias na simetria postural e diminuição das compensações. Realizaram o estudo
a partir do acompanhamento de 3 pacientes com subluxação inferior de ombro, os quais, após
a avaliação inicial e a definição do plano de tratamento, receberam a aplicação da Kinesio
Taping no músculo deltóide, sendo feita uma nova avaliação após dois meses de tratamento.
Como resultados, verificaram uma diminuição da subluxação de ombro, bem como apontaram
uma melhora da simetria postural, aumento do movimento de flexão do ombro, aumento no
movimento de extensão e abdução e de adução horizontal, concluindo que a Kinesio Taping,
utilizada como recurso terapêutico, contribui para uma diminuição da subluxação inferior de
ombro, além de promover a melhora na simetria postural e diminuição de compensações.
Matos (2011) revisou a literatura, e apresentou um resumo das principais aplicações do
Kinesio Taping no desporto. Considerou que os efeitos fisiológicos desse artefato se resumem
em: efeito analgésico, efeito de expansão, efeito de drenagem e efeito articular. Sugeriram que
os resultados benéficos desse método dependem em grande parte dos conhecimentos técnicos
e experiência que cada aplicador apresenta, salientando, inclusive, que a Kinesio Taping tem a
capacidade de favorecer o processo de regeneração do organismo e das lesões dos atletas, pela
ativação do sistema circulatório, linfático e nervoso, permitindo um regresso mais rápido às
atividades de exercícios.
11. Considerações finais
Verifica-se uma enorme carência sobre os efeitos da aplicação do método Kinesio Taping,
principalmente em lesões de ombros de nadadores, já que os poucos estudos existentes são
direcionados, em sua maioria, para lesões que acometem praticantes de modalidades de alto
impacto, como handebol e voleibol, ou outros tipos de lesões em outras partes do corpo.
Sendo assim, percebe-se que a maioria dos achados tendem a uma quase unanimidade no que
diz respeito à eficácia da aplicação do método Kinesio Taping, considerando-se que, nesses
casos, tal eficácia pode ser comprovada, mediante o uso intensivo que atletas vem dando ao
uso desse método. Não obstante, são raros os estudos que efetivamente mostram uma
evolução positiva em relação a este tipo de tratamento.
O que se tem como certo, na literatura, é a opinião de que a aplicação do método Kinesio
Taping promove melhora imediata no tratamento da dor, sendo que esta é relatada de forma
subjetiva pelos pacientes, fator que interfere na mensuração da dor, particularmente no que
diz respeito à avaliação e registro de sua intensidade, de maneira análoga à percepção dos
sinais vitais.
Esses registros são considerados como importantes, já que os principais indicativos de lesões
nos ombros de nadadores se referem justamente à sintomatologia dolorosa, a qual deve ser
acompanhada de forma regular e continuamente pelos profissionais de Fisioterapia, no
interesse de otimização da terapêutica e da busca por melhores resultados para a qualidade de
vida dos pacientes.
Nesse sentido, a aplicação do método Kinesio Taping prescinde do uso da análise objetiva, e
métodos como a Escala Visual Analógica podem favorecer o rumo do tratamento. Além disso,
as restrições de mobilidade se apresentam como outro forte componente para associações com
determinadas patologias e seu esquema de tratamento.

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Seja qual for a circunstância, no entanto, concorda-se que as técnicas que visam à recuperação
de ombros lesionados são mais evidenciadas nos achados literários do que a utilização de
outras técnicas menos convencionais para o caso, como a hidroterapia ou a cinesioterapia, por
exemplo, quando aplicadas isoladamente. Esta técnica vem sendo apresentada como
significativa no que tange à melhora do paciente, em relação às terapias de exercícios ativos.
Portanto, é de se concordar que, pelo menos no que diz respeito aos achados literários, a
Kinesio Taping, quando associada a outros procedimentos – como o uso de outras técnicas de
natação, por exemplo - é indicada para o tratamento de lesões de ombros de nadadores,
propiciando um significativo alívio da dor que se manifesta com a biomecânica alterada, além
de promover uma melhora da função articular e aumento da amplitude de movimento na
região afetada.
Para efeito de comprovações mais eficazes, no entanto, sugere-se a realização de estudos e
ensaios clínicos, com o devido acompanhamento contínuo sobre a evolução da diminuição da
dor pontual, a partir da aplicação de métodos específicos ou em associação com outras
modalidades terapêuticas.

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