Capa
Simone Vilas Boas
Editoração Eletrônica
Futura
Copidesque
Mabel Pedra
Revisão Gráfica
Cláudia Amorim
Projeto Gráfico
Elsevier Editora Ltda.
Conhecimento sem Fronteiras
Rua Sete de Setembro, 111 – 16o andar
20050-006 Rio de Janeiro RJ Brasil
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação,
impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de
Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão. Nem a editora nem o autor
assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta pub-
licação.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Sumário
Prefácio 9
1 A Economia da Informação 13
Notas 373
Bibliografia 375
Os Autores 381
Índice 383
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Prefácio
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abordados na maioria das aulas. Eles queriam saber como fixar preços
para diferentes grupos de clientes, como projetar linhas de produtos de
bens da informação e como gerir sua propriedade intelectual. Eles que-
riam saber como proteger-se do aprisionamento de clientes e como
tirar vantagem dela quando possível. Descobrimos grande interesse na
dinâmica dos mercados de software: por que uma única empresa tende
a dominar por algum tempo, só para ser desalojada por outra nova
empresa líder? E nos envolvemos cada vez mais na aplicação das leis
antitruste à economia da informação, um de nós seguindo para cum-
prir a tarefa de economista chefe da Divisão Antitruste do Departa-
mento de Justiça. Em suma, tivemos sorte: as pessoas realmente que-
riam conhecer e utilizar os resultados das pesquisas nos campos que
escolhemos.
Ao mesmo tempo, continuamos a ouvir que vivemos numa “Nova
Economia”. A implicação foi que também era necessária uma “Nova Ciên-
cia Econômica”, um novo conjunto de princípios para orientar a estra-
tégia empresarial e a política pública. Mas, espere, dissemos, você leu
sobre fixação diferencial de preços, empacotamento, sinalização, licen-
ciamento, aprisionamento ou economia de redes? Você estudou a his-
tória do sistema telefônico ou das lutas entre a IBM e o Departamento
de Justiça? Nossa asserção: não é necessária uma ciência econômica
totalmente nova. Só o que se precisa é ver o material realmente impor-
tante, o material ao qual você não teve acesso quando estudou econo-
mia. Então, escrevemos este livro.
Nosso objetivo é o de apresentar insights oriundos da pesquisa em
economia e de nossa própria experiência na aplicação da ciência eco-
nômica de um modo adequado para os administradores que precisem
tomar decisões estratégicas relativas à tecnologia da informação.
Acreditamos que as idéias, os conceitos, os modelos e o modo de pen-
sar que descrevemos aqui o ajudarão a tomar decisões mais acertadas.
Cremos, ainda, que nossa discussão lhe servirá bem por um bom
tempo. Embora a tecnologia avance sem descanso, os princípios econô-
micos sobre os quais nos baseamos são duráveis. Os exemplos podem
mudar, mas as idéias não ficarão ultrapassadas.
Não estamos querendo dizer, é claro, que temos todas as respostas.
Na maior parte das vezes as soluções empresariais reduzem-se a um
“depende”. Nossa meta é ajudá-lo a ter uma idéia de quê a solução
depende. E o melhor modo de entender essas relações de dependência
é dispor de uma estrutura que relacione causas e efeitos. Se você tiver
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Prefácio ½ 11
A Economia
1 da Informação
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14 ½ A Economia da Informação
que a Internet significa para você e sua empresa, pode aprender muito
com o advento do sistema telefônico há 100 anos.
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INFORMAÇÃO
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20 ½ A Economia da Informação
A Economia da Informação ½ 21
TECNOLOGIA
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A Economia da Informação ½ 31
POLÍTICAS
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A Economia da Informação ½ 33
Fixação
2 de Preços da
Informação
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36 ½ A Economia da Informação
38 ½ A Economia da Informação
CUSTOS E CONCORRÊNCIA
40 ½ A Economia da Informação
Essas prescrições clássicas são tão válidas quanto sempre foram, mas as
características únicas dos mercados de informação oferecem novas
oportunidades para implementá-las.
As políticas de fixação de preços são fundamentais para implemen-
tar-se com sucesso qualquer das duas estratégias. Para ser bem-sucedi-
do, você tem de tornar-se ou o líder de preço e de custo com base em
sua escala, ou criar uma fonte única de informação e cobrar por ela
com base no valor que ela oferece aos consumidores.
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42 ½ A Economia da Informação
Diferenciação
A lição do exemplo do catálogo de telefone em CD é claro: não deixe
que seu produto de informação se transforme em mercadoria. Faça
tudo que puder para assegurar-se de que não há concorrentes próxi-
mos ao diferenciar seu produto de outros que estejam disponíveis.
Abrimos este capítulo com uma descrição da guerra da Britannica
com a Encarta. A estratégia mais recente nessa competição envolve a
diferenciação do produto. Como indicamos anteriormente, o produto
da Britannica é de longe mais completo e respeitado que o da
Microsoft. Só na dimensão da quantidade, os 44 milhões de palavras
da Britannica ganham longe dos 14 milhões da Encarta.
A redução de preço da Britannica certamente teve efeito sobre as
vendas da Encarta: a participação da Microsoft nas vendas unitárias de
enciclopédias multimídia baixou de 44,8% em 1995 para 27,5% em
1996. A Microsoft, porém, está reagindo. Aumentou em 30% o núme-
ro de palavras na versão mais recente da Encarta e comprou os direitos
para usar o conteúdo da Collier’s, uma enciclopédia impressa altamen-
te respeitada.
Parece agora que o mercado pode ser dividido em dois ou três seg-
mentos: um mercado multimídia de sininhos e apitos, um mercado
educacional e um mercado de obras de referência respeitadas.
Contudo, esses segmentos de mercado ainda estão sendo disputados.
Seja qual for o participante do setor que conquiste esses segmentos de
mercado, os consumidores deverão ser os vencedores finais. Apesar da
intensa competição e do acentuado declínio dos preços, a receita do
setor aumentou 32% no ano passado para cerca de US$60 milhões.
Mesmo as mercadorias da informação podem ser diferenciadas
com sucesso se você explorar as características únicas da Internet. O
Bigbook é um dos muitos catálogos de negócios disponíveis na
Internet. Esses catálogos são em essência servidores nacionais do tipo
Páginas Amarelas, que permitem ao usuário buscar uma empresa por
nome ou categoria. Entretanto, o Bigbook tem um atrativo que o dife-
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Liderança de custo
Se for difícil diferenciar seu produto, você pode pelo menos tentar
vendê-lo em grande quantidade. Se você puder vender mais do que os
outros, seu custo médio será o mais baixo, o que lhe permitirá ganhar
dinheiro enquanto outros não conseguem. Mas, tenha cuidado – para
vender muito você precisará baixar seu preço (pelo menos para enfren-
tar qualquer desconto oferecido por outros), e para tanto ganhará
necessariamente menos em cada unidade vendida. Para vencer, você
terá de compensar essa perda com o volume. Também precisa evitar
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44 ½ A Economia da Informação
que outros ganhem a pista interna vendendo mais do que você. Esse
jogo pode ser perigoso: se duas empresas ou mais derem descontos
muito grandes contando com a economia de escala proporcionada pela
liderança do mercado, elas não podem ser bem-sucedidas. Quando a
Microsoft fixou o preço da Encarta em US$49,95, estava apostando
que poderia vender uma grande quantidade de CDs a esse preço e
empurrar os concorrentes para fora do mercado de massa. A habilida-
de de distribuição, o conhecimento de mercado e o controle de canal
são críticos nesse tipo de jogo de fixação de preços.
Nos ramos tradicionais, reduzir os custos médios de produção nor-
malmente significa focalizar em custos unitários de produção: usar a
administração da cadeia de abastecimento, a análise de fluxo de traba-
lho e outras ferramentas para cortar custos das partes, montagem e dis-
tribuição. Com os bens da informação, os custos unitários de produção
são desprezíveis, e a administração da cadeia de abastecimento e técni-
cas relacionadas normalmente não ajudam muito com os custos de pri-
meira cópia. A chave para reduzir o custo médio nos mercados de
informação é aumentar o volume das vendas.
Uma grande vantagem da informação é que você pode vender a
mesma coisa muitas e muitas vezes. Pense em como um seriado de TV é
comercializado. Ele é vendido uma vez para a estréia nos Estados
Unidos. Depois é vendido de novo para reapresentações durante o
verão. Se for um produto quente, será vendido para o exterior e, através
de agências distribuidoras, para cadeias de emissoras locais. O mesmo
artigo pode ser vendido dezenas de vezes. O seriado de TV mais assisti-
do no mundo é Baywatch, que está disponível em 110 países e tem mais
de um bilhão de telespectadores. Nos Estados Unidos, Baywatch nem é
transmitido em redes nacionais; ele é vendido somente por intermédio
de agências distribuidoras. Os seriados são de produção barata, têm
apelo universal e além de tudo são altamente reutilizáveis.
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48 ½ A Economia da Informação
50 ½ A Economia da Informação
Fonte: Michael Lesk. “Projections for making money on the Web.” In Deborah Hurley, Brian Kahin e Hal Varian, eds.
Internet Publishing and Beyond. (Cambridge, Mass.: MIT Press, 1998)
Registro e cobrança
O site do New York Times não cobra dos usuários pelo conteúdo, mas
exige que eles se registrem. Isso permite ao Times coletar informações
sobre dados demográficos e hábitos de leitura de 2,1 milhões de usuá-
rios, que podem ser usadas para fixar preços de anúncios. O Times per-
gunta sobre as informações clássicas utilizadas no setor de assinaturas
de publicações impressas, o ZAG:* CEP, idade, sexo.
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Observação
A outra forma primária de saber sobre seus clientes é observar seu
comportamento on-line. A maioria dos sites da Web permitem hoje
que os usuários consultem seus conteúdos. No entanto, os hospedeiros
da Web raramente salvam as perguntas dos usuários. Saber o que seus
usuários estão procurando – e se eles encontraram – é uma informação
extremamente valiosa; salve-a e analise-a.
Além de monitorar as consultas, você deve também monitorar o
“fluxo de clicagem” de seus clientes, a seqüência de ações que eles rea-
lizam quando visitam seu site. Os arquivos log da Web contêm muitas
informações úteis sobre o comportamento do usuário, mas são de difí-
cil análise por várias razões. Primeiro, há simplesmente grande quanti-
dade de dados – escolher entre eles toma tempo e esforço. Segundo, o
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54 ½ A Economia da Informação
56 ½ A Economia da Informação
60 60 60
Preço (em dólares)
50 50 50
40 40 40
30 30 30
20 20 20
10 10 10
1 2 3 1 2 3 1 2 3
Quantidade (milhões) Quantidade (milhões) Quantidade (milhões)
A B C
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60 ½ A Economia da Informação
62 ½ A Economia da Informação
Sensibilidade ao preço
Os descontos para estudantes e idosos são formas populares de fixação
de preços em grupo. Por que os vendedores oferecem tais descontos? A
resposta padrão é a sensibilidade ao preço. É um exercício comum em
qualquer curso de graduação em economia ou de marketing mostrar
que um vendedor que queira maximizar o lucro desejará cobrar um
preço menor para os consumidores mais sensíveis ao preço.
Essa estratégia de fixação de preço é comumente usada para bens
da informação vendidos em âmbito internacional. Um livro-texto ven-
dido a US$70,00 nos Estados Unidos é vendido a US$5,00 na Índia. É
verdade que ele é impresso em papel mais barato e não tem ilustrações
em cores, mas a informação é essencialmente a mesma. O preço é mais
baixo na Índia porque os clientes indianos simplesmente não podem
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Efeitos de rede
Falaremos muito sobre os efeitos de rede no Capítulo 7, de modo que
só mencionaremos aqui a idéia básica. Conforme dissemos no Capítulo 1,
os efeitos de rede surgem quando o valor que um usuário atribui a um
bem depende de quantas outras pessoas o estão usando.
Tais efeitos podem surgir por uma variedade de razões (que descre-
veremos mais tarde), mas a razão mais relevante aqui é o desejo de
padronização dentro de uma organização. É muito mais fácil realizar o
trabalho se os empregados podem compartilhar arquivos e experiências.
Os vendedores de software podem explorar esse desejo de
padronização e tornar a escolha de seu produto atraente para as
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Aprisionamento
Dissemos antes que descontos para estudantes são atraentes porque os
estudantes são muito sensíveis ao preço. No entanto, esse não é o
único motivo para o desconto para estudantes: outra razão pode ser
resumida pelo slogan “pegue-os enquanto são jovens”. Se você vende
um bem com grandes custos de troca (a serem discutidos no Capítulo 5),
então compensará oferecer grandes descontos para “viciar” os consu-
midores em seu produto. Embora os produtores de software não este-
jam nas portas das escolas impingindo seus produtos (ainda), a motiva-
ção é, em grande parte, a mesma. Se você pode pegar alguém para usar
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66 ½ A Economia da Informação
seu produto enquanto essa pessoa é estudante, você tem uma boa
oportunidade de formar um cliente leal pelo resto da vida.
O Wall Street Journal tem usado essa estratégia com muito eficácia.
Um dos principais trunfos do jornal é sua reputação como a principal
fonte de notícias sobre economia e negócios. Para manter essa reputa-
ção, ele criou um programa de Jornais em Educação, que oferece assi-
naturas baratas para estudantes dos cursos de economia e administra-
ção. O jornal oferece não só preços muito atraentes para os estudantes,
como também assinaturas gratuitas para os membros das faculdades
cujos estudantes façam as assinaturas. Isso tem dois efeitos. Incentiva os
membros da faculdade a exigirem dos estudantes de suas turmas, ou
pelo menos os estimularem a isso, que assinem o Wall Street Journal, e
encoraja os professores a fazerem referência aos artigos do jornal
durante as aulas. Ambos os efeitos têm ajudado a manter e aumentar a
reputação do jornal.
Os efeitos de rede discutidos anteriormente são uma fonte comum
de custos de troca. Se o seu produto tornar-se ubíquo numa organiza-
ção, de modo que seja muito caro mudar para algo novo, você desfru-
tará de muito poder na fixação de preços e de termos contratuais.
A Microsoft originalmente ofereceu o Microsoft Office utilizando
uma variedade de arranjos, inclusive o licenciamento por estação de
trabalho e por uso concorrente. Recentemente eles acabaram com a
política de licenciamento de uso concorrente, argumentando que seu
produto era usado por virtualmente todos nas organizações que o ado-
taram. Isso resultará na perda de muitos consumidores? Provavelmente
não, diz Mary Welch, diretora de pesquisas do Gartner Group.
Segundo ela: “Quando se considera o custo de desenvolver novas fer-
ramentas, redistribuir, retreinar e reescrever aplicações personalizadas
feitas com base nos produtos Microsoft, muitas empresas simplesmente
cavarão no fundo do bolso o dinheiro extra.”2 Teremos muito mais a
dizer sobre esse tipo de aprisionamento no Capítulo 5.
Arranjos de compartilhamento
As licenças de sites são apenas um exemplo do que podemos chamar
de “arranjos de compartilhamento.” Jornais acadêmicos vendidos por
alto preço às bibliotecas e por baixo preço aos indivíduos são outro
exemplo. As bibliotecas estão dispostas a pagar um preço maior porque
o material é compartilhado por muitos usuários. As fitas de vídeo são
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68 ½ A Economia da Informação
A biblioteca eletrônica
Uma empresa da Internet que tem lutado com a questão vender/alugar
é a Infonautics, que oferece um produto chamado Biblioteca
Eletrônica. A Biblioteca Eletrônica oferece o texto integral de 150 jor-
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LIÇÕES
70 ½ A Economia da Informação
Criação
3 de Versões da
Informação
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72 ½ A Economia da Informação
que estão dispostos a pagar muito pelo livro mais recente de seu autor
preferido. Mas um preço elevado sem dúvida desencorajaria as com-
pras dos que são leitores menos entusiastas de Stephen King. De um
modo ideal, a editora gostaria de vender cada exemplar do livro a um
preço diferente – isto é, aderir ao tipo de fixação de preços personali-
zada que descrevemos no capítulo anterior.
O problema é que a editora não tem como saber quanto cada pes-
soa estará disposta a pagar pelo livro. Pedir educadamente aos clientes
que valorizam mais o livro mais recente de Stephen King que paguem
um preço extra porque eles gostam tanto do autor não funcionaria por
motivos óbvios. (Mesmo que a Viking ou seus distribuidores pudessem
acompanhar os passos dos leitores que corressem para comprar anteci-
padamente os livros de Stephen King, na tentativa de cobrar mais desse
grupo, isso só incentivaria esses consumidores a esconder sua identida-
de ou adquirir o livro por outros canais.) Assim, parece que o melhor
que a editora tem a fazer é diferenciar o preço por grupos: vender a
um preço para os membros do clube do livro, digamos, e a outro preço
para as livrarias de varejo.
Na verdade, a editora pode fazer muito melhor ao aplicar nosso
segundo princípio: projetar versões para enfatizar as diferenças entre
os clientes. Aqui, os clientes que atribuem valor elevado estão impa-
cientes para obter o livro, ao passo que os que atribuem menor valor
não se importam de esperar. A principal diferença aqui envolve a
paciência. Assim, o aspecto fundamental da criação de versões de
livros é demorar antes de oferecer versões mais baratas. É exatamente
isso o que as editoras fazem. Depois de vender exemplares de capa
dura para os grandes fãs, bibliotecas e clubes do livro, a editora de
Stephen King lança o livro em brochura – de modo que todos os
demais fãs possam comprá-lo. E, por fim, após alguns anos, o livro
pode ser vendido a um preço ainda menor àqueles que vasculham as
bancas de saldos. O exemplo do livro é, sem dúvida, familiar para
você. Mas nosso princípio essencial aplica-se de modo amplo à venda
de informação de todos os tipos.
Quando refletimos sobre o assunto, o lançamento de diferentes
versões ao longo do tempo é uma estratégia penetrante da venda de
informação. Os produtores de cinema primeiro lançam seus filmes nas
salas de estréia. Após alguns meses passam para os mercados hoteleiro
e de linhas aéreas. Alguns meses depois disso, vendem para o mercado
de vídeo doméstico. Todas aquelas pessoas jovens e impacientes vão
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74 ½ A Economia da Informação
Demora
A informação é como a ostra: em geral tem mais valor quando fresca.
Isso é especialmente verdadeiro no que tange à informação “estratégi-
ca”, como as informações sobre o mercado de ações e os movimentos
das taxas de juros, em que as pessoas que tenham a informação têm
uma vantagem estratégica sobre as que não a têm. Mas o princípio
aplica-se de maneira mais ampla, uma vez que todos nós gostamos de
nos considerar atualizados.
76 ½ A Economia da Informação
Conveniência
Uma estratégia de criação de versões que se relaciona de perto com a
demora é o controle da conveniência mediante a restrição do tempo
ou do lugar em que um serviço de informação é utilizado. Antes que
a Web se tornasse popular, o Dialog costumava oferecer o Dialog
after Dark, serviço de busca em banco de dados que só podia ser
usado depois das 17:00h. As locadoras de vídeo oferecem agora
períodos de aluguel de um dia para o outro, de dois dias e de cinco
dias. A Divx, que discutiremos com maiores detalhes no Capítulo 4,
oferece DVDs que só podem ser vistos num determinado período de
48 horas.
As empresas também podem restringir o acesso por localização, em
vez de tempo. Por exemplo, alguns provedores de bancos de dados on-
line ofereceram às bibliotecas licenças que permitem o uso ilimitado
por usuários dentro da biblioteca, mas que restringem a utilização por
usuários fora das dependências dela.
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Resolução de imagem
Você também pode utilizar a resolução da imagem para discriminar os
usuários. Por exemplo, a PhotoDisk tem uma biblioteca de imagens na
Web. Os usuários profissionais querem imagens de alta resolução que pos-
sam ser impressas em periódicos comerciais; os não profissionais querem
imagens de média e baixa resolução para publicar em boletins informati-
vos. A PhotoDisk vende imagens de diferentes tamanhos por diferentes
preços; quando este capítulo foi escrito, ela vendia imagens de 600K por
US$19,95 e imagens de 10MB por US$49,95. Seu catálogo on-line ofere-
ce imagens reduzidas denominadas “imagens de acompanhamento”, que
os compradores em potencial podem examinar. Uma vez que os usuários
tenham escolhido a imagem que querem com o auxílio de uma versão de
baixa resolução, eles podem então fazer o download de uma versão de mé-
dia ou alta resolução, dependendo de suas necessidades.
Velocidade de operação
Uma estratégia comum da venda de software é vender versões com
capacidades diferentes. A Wolfram Research vende o Mathematica, um
programa de computador que executa matemática simbólica, gráfica e
numérica. Em certa época, na versão para estudantes do Mathematica,
o co-processador de ponto flutuante foi desativado, o que tornou mais
morosos os cálculos matemáticos e gráficos. Para implementar essa
estratégia, a Wolfram teve de acrescentar ao pacote uma biblioteca de
ponto flutuante a um custo adicional para si mesma, muito embora o
pacote de software com biblioteca de ponto flutuante fosse vendido
por um preço bem mais elevado.
Essa mesma estratégia ocorre no hardware. A LaserPrinter Série E, da
IBM, era funcionalmente idêntica à LaserPrint padrão, mas imprimia
cinco páginas por minuto, em vez de dez. Um importante laboratório de
consumidores dedicado ao teste de equipamentos de informática desco-
briu que a diferença de velocidade se devia a um chip que introduzia esta-
dos de espera para diminuir a velocidade da impressora! Os administrado-
res da empresa perceberam que se o desempenho da Série E fosse bom
demais, ela dividiria as vendas de seu modelo Série F. Ao criar versões do
produto, eles conseguiram vender para o mercado de uso doméstico a um
preço atraente, sem canibalizar as vendas de seu modelo profissional.
A Intel seguiu em grande parte a mesma estratégia com seu chip
386SX, projetando o chip com um co-processador matemático integra-
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78 ½ A Economia da Informação
Flexibilidade de uso
Outra dimensão importante da informação que pode formar a base da
criação de versões é a capacidade de armazenar, duplicar ou imprimir a
informação. Antigamente, no tempo do software protegido contra
cópia, algumas empresas (como a Borland) vendiam duas versões de
seu software – uma versão de baixo preço que não poderia ser copiada
e uma versão de alto preço, sem proteção contra cópias. Hoje, a
Lexis/Nexis cobra de alguns usuários por imprimir ou fazer o down-
load da informação. Se os clientes diferirem de maneira significativa
em sua disposição de pagar para armazenar, copiar ou transferir infor-
mação para outra mídia, isso também pode formar a base de uma
lucrativa criação de versões.
Capacidade
A Tabela 3.1 resume a linha de produtos de reconhecimento de voz da
Kurzweil. Os produtos distinguem-se pela extensão total do vocabulá-
rio incluído e pela adição de vocabulário próprio de profissões específi-
cas. Observe as notáveis diferenças de preços: a versão superior para
cirurgiões é 100 vezes mais cara do que o software para iniciantes! A
Kurzweil reconheceu, de maneira correta, que diferentes segmentos de
mercado têm necessidades diferentes – e que a extremidade superior
pagará generosamente pela capacidade ampliada.
Características e funções
A criação de versões do Quicken, pela Intuit, discutida no início deste
capítulo, é um exemplo de como utilizar o conjunto de características
de um produto para segmentar um mercado. A versão Quicken Deluxe
oferece um sistema de busca de fundos mútuos, um sistema de cálculo
de hipotecas, um sistema de estimativas de necessidades de seguros e
outras características valorizadas pelos usuários mais sofisticados. A
versão básica do produto oferece apenas o software básico de talão de
cheques. A Intuit seguiu a mesma estratégia com o TurboFax, venden-
do tanto uma versão simplificada quanto uma de luxo.
Abrangência
Em alguns casos, a abrangência é uma dimensão essencial: alguns clientes
pagarão bem mais por uma informação completa. A abrangência da infor-
mação varia muito, dependendo do contexto. Veja como as pessoas usam
o Dialog. Os especialistas em assuntos públicos e os jornalistas gostam do
fato de que podem agora consultar jornais do país e do mundo.
Professores e estudantes universitários que estejam escrevendo artigos
aprofundados valorizarão muito a riqueza de dados históricos. Para fins
de comercialização, os administradores costumam valorizar a informação
decomposta por cliente ou que ofereça muitos detalhes sobre padrões his-
tóricos de compra. A diferença entre o DialogWeb e o DataStar reside em
parte nessas distinções, que constituem uma dimensão natural ao longo da
qual todo provedor de banco de dados pode basear diferentes versões.
Aborrecimento
O principal exemplo disso é o “nagware”, uma forma de shareware*
distribuída gratuitamente, mas que exibe uma tela no início e no final
da sessão incentivando o usuário a pagar uma taxa de registro. As emis-
soras públicas de televisão empregam essa estratégia em suas campa-
nhas de levantamento de fundos. Numa campanha recente, nossa esta-
ção local do PBS** anunciou que deixaria de interromper as apresenta-
* Compartilhamento de uso. Na Internet, arquivos que o usuário pode transferir da rede para seu
80 ½ A Economia da Informação
Suporte
A dimensão final que examinamos é o suporte técnico. A Netscape dis-
ponibilizou seu navegador por meio de download gratuito da Internet
ou em CD por um preço que incluía manual e suporte técnico.
Naturalmente, ao oferecer a versão em download de graça, a Netscape
contornou o problema do “bem da experiência” que discutimos no
Capítulo 1: qualquer um poderia experimentar o produto com pouco
ou nenhum risco para ver se gostava dele.
A McAfee Associates, que discutiremos com maiores detalhes no
Capítulo 4, oferece seu software de detecção de vírus numa versão gra-
tuita em shareware ou como parte de um serviço de assinatura que pro-
porciona aconselhamento profissional, aviso e suporte técnico.
A estratégia é um tanto perigosa por dois motivos. Primeiro, se os
clientes realmente precisarem de suporte técnico, poderão achar que o
produto é de baixa qualidade. Segundo, proporcionar suporte técnico
custa muito caro. O não-cumprimento de promessas de suporte pode
ter efeitos desastrosos em termos de relações públicas.
Na Tabela 3.2 relacionamos as diversas dimensões que discutimos,
juntamente com uma lista de usos para os quais essas dimensões têm
significado. Essa relação não pretende ser completa, e os exemplos só
82 ½ A Economia da Informação
contribui para suas receitas. O que importa é a diferença que você obtém
dos extremos superior e inferior de sua linha de produtos.
84 ½ A Economia da Informação
86 ½ A Economia da Informação
QUANTAS VERSÕES?
Analise o mercado
Reflita sobre se o seu mercado subdivide-se de maneira natural em
categorias diferentes de consumidores e sobre se o comportamento
deles é suficientemente diferente para que eles queiram (ou estejam dis-
postos a tolerar) diferentes classes de qualidade de produto.
As empresas de transporte aéreo perceberam cedo a existência de
basicamente duas classes de passageiros: os que viajavam por lazer e os
que viajavam a negócios. Os turistas normalmente planejavam com
antecedência e permaneciam no ponto de destino por vários dias, em
geral incluindo um fim de semana. Os que viajavam a negócios apre-
sentavam padrões de comportamento bem diferentes: suas viagens
eram curtas e durante a semana. Também tinham com freqüência de
mudar de rota sem avisar com muita antecedência. Essas diferenças
básicas permitiram às empresas aéreas segmentar seus mercados com o
oferecimento de duas classes de tarifas: compras antecipadas, com per-
manência de sábado para domingo e penalidades por alteração de tari-
fa e a classe executiva comum.
A distinção homem de negócios/turista é natural para as empresas
aéreas e é um bom lugar para começar a pensar sobre seu mercado. Há
usuários profissionais e amadores? Caso positivo, o que os distingue?
Devem faltar a seu produto de informação inferior os atributos básicos
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88 ½ A Economia da Informação
90 ½ A Economia da Informação
Cada uma dessas empresas indica que está querendo dar de graça
os serviços do RiskView para incentivar pessoas e empresas a utilizar
outros serviços que cobram: a Dow Jones quer que as pessoas com-
prem dados individualizados, enquanto a IBM e a Infinity querem que
as pessoas comprem delas serviços mais sofisticados. Essa é uma con-
corrência potencialmente formidável para a PAWWS. Por outro lado,
a PAWWS tem uma vantagem significativa por ser a primeira no mer-
cado e ter uma base de conhecimento de experiência em lidar com
seus clientes.
92 ½ A Economia da Informação
94 ½ A Economia da Informação
PACOTE
96 ½ A Economia da Informação
Pacotes de informação
A informação é agora comumente vendida em pacotes: as revistas são
pacotes de artigos e as assinaturas são pacotes de revistas. Isto faz senti-
do: há com freqüência variação considerável sobre quanto os usuários
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98 ½ A Economia da Informação
Pacotes personalizados
A tecnologia da informação permite algumas variações interessantes no
pacote. Atualmente, a música popular é vendida em CDs, que são tipi-
camente pacotes de canções individuais. Isso está de acordo com o fun-
damento lógico anteriormente descrito: as pessoas têm preferências
diferentes, e o pacote das canções reduz a dispersão da disposição para
pagar.
Já estão ficando disponíveis tecnologias que permitirão aos usuá-
rios criar os próprios CDs. A MusicMaker permite escolher de seu
banco de dados de 30.000 faixas diferentes e criar um CD personaliza-
do por menos de US$20. Esse é um grande exemplo de personalização
em massa da informação.
Outro exemplo é o chamado “jornal personalizado”. Neste, o
usuário escolhe um conjunto de categorias e um agente de software
reúne para entrega os artigos que se enquadrem nessas categorias. Essa
tecnologia permite que o usuário crie o próprio pacote de artigos.
Também estão disponíveis livros-texto personalizados.
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Como devem ser fixados os preços de tais produtos? Para ter uma
pista, reveja o exemplo de Noah e Mark que usamos para apresentar a
idéia do pacote. Pense na disposição deles para pagar pelos pacotes de
software como a disposição para pagar por peças individuais de música
que podem ser colocadas em um CD personalizado. (Para ter uma
certa ordem de magnitude, pense nos números como centavos em vez
de dólares.) Se estimássemos cada peça de música em US$1,00, ganha-
ríamos US$4,00 de Noah e de Mark. Mas suponhamos que usássemos
uma fixação de preços não linear que dissesse que a primeira canção
escolhida custaria US$1,20 e cada canção adicional custaria US$1,00.
Nesse caso, tanto Noah quanto Mark escolheriam ambas as canções e
terminaríamos com US$4,40, da mesma maneira como se tivéssemos
empacotado os produtos nós mesmos. Esses exemplos mostram que os
descontos de quantidade podem representar o mesmo papel que o pa-
cote. De fato, os descontos de quantidade podem ser pensados como
uma forma generalizada de pacote, e são úteis pelas mesmas razões por
que o pacote é útil. A MusicMaker, o site de personalização de CDs já
mencionado, usa exatamente essa forma de descontos de quantidade: o
pedido mínimo é de cinco canções por US$9,95, com canções adicio-
nais que custam apenas US$1,00 cada.
Entre 80% e 90% dos adultos utilizam cupons uma vez ou outra,
mas só 2% de todos os cupons produzidos são resgatados. Isso sugere
que as pessoas usam os cupons de maneira muito seletiva: algumas os
usam para comprar alimentos, outras para adquirir software de com-
putador. É claro que os cupons não valeriam a pena como estratégia de
marketing se todos os usassem. Nesse caso, o vendedor bem poderia
baixar o preço e eliminar o custo de lidar com os cupons.
Os cupons só valem a pena se segmentarem o mercado. Um cupom
diz: “Sou um consumidor sensível ao preço. Você sabe que isso é ver-
dade porque passei por todas essas dificuldades para colecionar os
cupons.” Os economistas dizem que o cupom é um sinal crível de dis-
posição para pagar. É “crível” porque só as pessoas que têm uma baixa
disposição para pagar tendem a usar os cupons.
O mesmo ocorre com as liquidações. As pessoas que aparecem
quando você faz uma redução temporária de preços são as pessoas que
acham que vale a pena esperar pelas liquidações. Elas tendem a ser sen-
síveis ao preço. As pessoas que compram mesmo quando seu preço é
alto não são muito sensíveis ao preço, quase por definição. As liquida-
ções e outras formas de promoção constituem com freqüência modos
para segmentar o mercado em componentes sensíveis e não sensíveis
ao preço.
O que tem isso a ver com a fixação de preços da informação? Bem,
suponhamos que a tecnologia da informação faça baixarem os custos
de busca de modo que todos possam encontrar, “sem custos”, o preço
mais baixo. Isso significa que as liquidações não são mais um meio
muito bom de segmentar o mercado. Ou suponhamos que os agentes
de software possam vasculhar a rede sem custos em busca de cupons de
descontos de centavos. Nesse caso, os cupons não apresentariam
nenhuma função útil.
LIÇÕES
Gestão
4 de Direitos
103
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* Comerciais de longa duração que, além de explicar em detalhe as características e o modo de utiliza-
ção do produto, transmitem ainda depoimentos de usuários e outras informações pertinentes ao bem
ou serviço anunciado. (N.T.)
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artigos que vende. Com efeito, a organização coloca uma “imagem grá-
tis” da Playmate do Mês sem fazer muito espalhafato acerca de direitos
autorais. E por que deveria? A Playboy certamente lucra com a foto-
grafia ao cobrar mais que US$10.000,00 por mês por um anúncio em
seu site na Rede. Mas para cobrar dos anunciantes esse dinheiro, ela
tem de dar-lhes uma idéia de quantas pessoas verão os anúncios e, do
ponto de vista demográfico, quem são essas pessoas. A Playboy pode
contar o número de acessos a seu site na Rede, mas não pode ver quem
está copiando as imagens colocadas na Web. O MarcSpider proporcio-
na à Playboy um modo de seguir a imagem pela Rede para descobrir
“quem está fazendo o quê, onde e quando com nosso material,” para
usar as palavras de um porta-voz da revista.
Tal pesquisa de mercado pode ser muito valiosa. Lembra-se da
máxima básica de marketing: conhece teu cliente? Tecnologias como a
do MarcSpider ajudam você a fazer isso. Faz sentido para a Playboy
doar sua imagem da Playmate do Mês, contanto que as pessoas asso-
ciem-na à marca da Playboy. Logotipos, texto e hyperlinks embutidos
podem ser usados para dizer aos espectadores de onde a imagem vem.
E se os espectadores souberem de onde a imagem vem, eles sabem
aonde ir para adquirir mais. A Playboy, em troca, realiza receitas desses
espectadores nas visitas que eles fazem ao site da revista por meio de
anúncios, assinaturas e/ou pay-per-view.
* Surgidos no início da década de 1980, antes da popularização da Internet, os Bulletin Board Systems
são redes fechadas nas quais os usuários – que em geral compartilham os mesmos tipos de interesses –
acessam o servidor por meio de linha telefônica, mas com um programa de comunicação específico.
Os usuários podem, então, trocar mensagens e arquivos entre si, além de obter informações armazena-
das no servidor. (N.T.)
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Produtos complementares
A próxima estratégia que examinaremos é a venda de produtos com-
plementares. Isso é tão velho quanto a venda de navalhas e giletes, mas
adquire toda uma variedade de novas dimensões na Internet.
Uma idéia atraente é doar um índice ou sumário e vender o acesso
ao material principal. Isso explora a complementaridade óbvia que
existe entre sumário e conteúdo. A editora científica Elsevier coloca
agora o sumário de todas as suas publicações na rede e fornece ainda
um serviço de divulgação, Alerta de Conteúdo, que envia notificações
por e-mail dos conteúdos das novas edições. O Wall Street Journal e a
The Economist permitem a pesquisa gratuita e sem restrições das edi-
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ções passadas e cobra alguns dólares pelo download dos arquivos recu-
perados. Todos esses exemplos assumem a mesma forma: você oferece
gratuitamente o índice ou serviço de busca para aumentar a demanda
do conteúdo cobrado.
Às vezes é ao contrário: o conteúdo é grátis e a organização é que é
valiosa. A Farcast é uma das várias empresas que vendem serviços de
“conhecimento atualizado”. A Farcast descreve seu serviço, o Inquisit,
como um “serviço de inteligência empresarial”. Você pode usar “drói-
des” que pesquisam uma variedade de fontes de informação e depois
lhe relatam o que encontraram. Algumas das fontes de informação
(mas não todas) que os dróides pesquisam já estão disponíveis gratuita-
mente on-line. O valor que a Farcast agrega não está no fornecimento
do conteúdo em si, mas sim no fornecimento de um serviço que tanto
pesquisa quanto organiza o conteúdo. A Farcast vende esse serviço por
aproximadamente US$13,00 por mês e (claro!) oferece uma assinatura
gratuita de experiência de duas semanas.
Copiagem ilícita
Todas essas táticas são muito inteligentes, diria você, mas e quanto aos
produtos que você não fornece gratuitamente? E quanto aos materiais que
você quer vender? Se as pessoas puderem levar seu conteúdo sem com-
pensação, de onde virão as receitas? O “contrabando de bits” não pode
ser ignorado: não há dúvida de que ele pode representar uma drenagem
significativa dos lucros. Por sorte, há alguns fatores compensatórios.
Em primeiro lugar, a informação oportuna, ou da qual as pessoas
se cansam depressa, é menos suscetível de ser copiada de maneira ilíci-
ta. Placares esportivos, informação financeira e fofoca – todos os três
amplamente disponíveis na Internet – são mais valiosos quando recen-
tes. Quantas cópias ilícitas de escores de jogos realizados no mês passa-
do você já viu?
Cópias datadas desse tipo de material podem servir como ilustra-
ções da qualidade do material novo que você fornece. Porém, há o
perigo de fornecer um excesso de “conteúdo antigo”. Doar algumas
amostras do arquivo é uma boa idéia; mas conceder acesso ilimitado,
inclusive com capacidades de busca, já é outra coisa. É por isso que o
Wall Street Journal fornece gratuitamente umas duas semanas de seu
arquivo mas faz com que você pague pelo material mais antigo. Um
arquivo ou uma biblioteca desse tipo podem ter um valor imenso.
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O fato de que se possa fazer uma cópia digital perfeita não é muito
mais assustador do que o fato de que se possa fazer uma cópia analógi-
ca muito boa. Já que aprendemos a conviver com cópias analógicas de
documentos, música e vídeo – poderemos também aprender a conviver
com cópias digitais.
EXEMPLOS HISTÓRICOS
A ascensão da biblioteca
As próprias bibliotecas são um exemplo maravilhoso de uma inovação
que primeiro pareceu ameaçar o setor editorial, mas acabou por
ampliá-lo imensamente.
No século XVIII, só os ricos podiam comprar livros. Um único
livro custava o equivalente ao salário semanal de um trabalhador
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A ascensão do vídeo
A mesma dinâmica setorial ocorreu na década de 1980 no mercado de
vídeos pré-gravados. No início dessa década, os aparelhos de videocas-
sete custavam mais de US$1.000,00 e as fitas, mais de US$90,00. Os
vídeos eram um meio de comunicação para os ricos – exatamente
como os livros haviam sido na década de 1800.
As videolocadoras mudaram tudo isso. Assim como as bibliotecas
ambulantes de 300 anos antes, elas trouxeram essa nova forma de
entretenimento para as massas. As lojas possibilitaram que uma família
comum alugasse tanto o aparelho quanto a fita de vídeo. A receita adi-
cional recebida pelos fabricantes de aparelhos de videocassete permi-
tiu-lhes explorar economias de escala. Em meados da década de 1980,
a família de classe média comum já podia comprar seu aparelho de
videocassete e as videolocadoras vicejavam.
Hollywood não gostou do negócio de aluguel. Os estúdios tentavam
controlar as locadoras por meio de vários arranjos de licenciamento, mas
os donos dessas pequenas lojas familiares não queriam cooperar. No
final, é claro, apesar de suas objeções ao aluguel de vídeos, Hollywood
ganhou muito dinheiro com ele. A disponibilidade de conteúdo barato
significou que as pessoas assistiam a um número muito maior de filmes.
No final da década de 1980, os aparelhos de vídeo custavam menos de
US$200,00 e 85% das famílias americanas possuíam um. O aluguel de
fitas de vídeo tornara-se um negócio de estrondoso sucesso. (Ou devería-
mos dizer um negócio da Blockbuster?)*
* Aqui os autores fazem um trocadilho com a palavra blockbuster (que significa “bomba arrasa-quartei-
rão” ou “algo ou alguém notável por sua eficácia, êxito, tamanho ou violência”) e o nome da famosa
rede de locadoras. (N.T.)
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O crescimento do mercado
Os produtores de conteúdo digital estão hoje em grande parte na mesma
posição que os produtores de livros estavam em 1800 ou produtores de
filmes estavam em 1975. É fácil ver as ameaças inerentes às novas mídias;
o difícil é ver os aspectos promissores. O aspecto básico é como explorar
as economias de escala: mil consumidores que pagam US$1,00 por unida-
de para fazer o download de um software que custa centavos para produ-
zir e distribuir são muito mais lucrativos do que 100 clientes que pagam
US$10,00 por um software que custa US$5,00 para produzir e distribuir.
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Mas chega de passado; que tal o presente? Suponhamos que você seja
o dono de uma propriedade intelectual e tem o direito legal de comer-
cializá-la como quiser. Como você deveria pensar nos termos e nas
condições sob as quais tornará seu produto disponível?
A primeira coisa a fazer é reconhecer a relação fundamental que
existe entre o controle e o valor do cliente. Quanto mais liberais forem
os termos que você estabelecer para que os clientes possam ter acesso a
seu produto, mais ele terá valor para eles. Um produto que possa ser
compartilhado com amigos, emprestado, alugado, acessado repetida-
mente ou negociado no mercado de revenda tem obviamente mais
valor para o usuário potencial do que um que só possa ser acessado
uma vez, sob condições controladas e por apenas uma única pessoa.
O fato de que termos e condições liberais aumentam o valor do
produto tem dois efeitos. Primeiro, você pode cobrar um preço mais
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Aumento
de valor
Preço
Preço
Receita
Receita
Curva de Curva de
demanda demanda
Quantidade Quantidade
Diminuição
de vendas
A: Caso da linha básica B: Termos e condições
mais liberais
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ting, você deve poder escolher o preço que maximiza as receitas, repre-
sentadas pela área da caixa de receita como mostra o painel A, o caso
da linha básica.
Mas e quanto aos termos e condições sob os quais o produto é ofe-
recido? O oferecimento de termos e condições mais liberais aumenta o
valor do produto para os consumidores, o que desloca a curva de
demanda para cima. Porém, quanto mais liberais forem os termos e as
condições, mais haverá cópias e compartilhamento, e menos o produ-
tor venderá. Na Figura 4.1, a curva de demanda do painel B tem o
dobro da inclinação do painel A. Isso significa que todo consumidor
está disposto a pagar duas vezes mais pela propriedade intelectual ofe-
recida sob termos e condições mais liberais. Mas, devido às condições
mais liberais, o produtor vende menos; nesse diagrama, supusemos que
a queda nas vendas foi de 50%. Isso significa que a nova caixa de recei-
ta tem o dobro da altura e a metade da largura, o que deixa a receita
inalterada. Se os termos e condições mais liberais reduzissem as vendas
em mais de 50%, essa mudança reduziria a receita do produtor; se eles
reduzissem as vendas em menos de 50%, essa mudança aumentaria a
receita do produtor. O estabelecimento de termos mais liberais aumen-
ta os lucros se o aumento de valor para os consumidores, que podem
ser captados pelo produtor por intermédio de preços mais altos, for
maior do que a diminuição das vendas.
mais longo duas vezes mais valioso, mas só alugarem 40% dos vídeos
que de outra forma alugariam, a Blockbuster quereria escolher o perío-
do mais curto.
Custos de transação
Como vimos no Capítulo 2, uma influência importante sobre o valor do
consumidor são os custos de transação. São esses os custos que o consu-
midor ou o produtor pagam para realizar a transação. Por exemplo, para
alugar o vídeo mais recente você precisa ir à loja; se o vídeo for muito
popular, você pode ter de ir muitas vezes. Quando finalmente consegue
o vídeo, tem de levá-lo para casa , vê-lo e devolver no dia seguinte. O
custo da viagem e da demora pode ser significativo. Para muitos consu-
midores, é preferível comprar o vídeo por US$12,95 a alugá-lo por
US$3,00 porque eles evitam o incômodo de devolver o vídeo.
Uma nova tecnologia conhecida como Expresso de Vídeo Digital,
ou Divx,* oferece dividendos de pay-per-view. Você compra um filme
em disco por US$5,00 e quando acaba de ver, pode simplesmente jogar
o disco fora. Ao venderem os discos de Divx por US$5,00, os produto-
res supõem que os consumidores estão dispostos a pagar pelo menos
US$2,00 para evitar o desconforto de devolver um vídeo alugado por
US$3,00. Ambos os lados da transação encontram-se potencialmente
em melhor situação: os produtores obtêm os US$2,00 adicionais e os
usuários evitam uma viagem tarde da noite à locadora.
Outro bom exemplo da importância de custos de transação são as
licenças de local para software. Os preços das licenças de local são fre-
qüentemente fixados como um múltiplo baixo do preço unitário de
compra do software. A Tabela 4.1 descreve a licença de local por assen-
to de três pacotes de escritório diferentes.
É interessante vender esses produtos por licença de local porque os
custos de transação reduzem-se tanto para o comprador quanto para o
vendedor. É muito mais barato carregar um programa de um servidor
de arquivo do que criar, armazenar e distribuir uma cópia para cada
comprador na organização. Isso é especialmente verdadeiro se os cus-
tos de suporte ao usuário estiverem sob a responsabilidade da organiza-
ção, e não do produtor.
LIÇÕES
Reconhecendo
5 o Aprisionamento
125
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EXEMPLOS DE APRISIONAMENTO
Bell Atlantic
Na segunda metade da década de 1980, a Bell Atlantic investiu US$3
bilhões nos comutadores digitais 5ESS da AT&T para desenvolver sua
rede de telefonia. Trata-se de dispositivos grandes e complexos que
custam milhões de dólares cada – em essência, computadores de gran-
de porte especializados e ligados a equipamentos de transmissão, entre
outros. Na verdade, a Bell Atlantic escolheu a AT&T em vez da
Northern Telecom ou da Siemens para introduzir seu sistema telefôni-
co na era digital. Não há dúvida de que os comutadores da AT&T
eram impressionantes na época, mas terá a Bell Atlantic olhado para a
frente, para meados da década de 1990, e adotado medidas para prote-
ger-se do aprisionamento decorrente?
O problema? Os comutadores 5ESS empregam um sistema opera-
cional proprietário controlado pela AT&T. Por isso, toda vez que a Bell
Atlantic queria acrescentar uma nova capacidade, ou conectar esses
comutadores a um novo equipamento periférico de hardware, tinha de
depender da AT&T para o fornecimento dos aprimoramentos necessá-
rios para o sistema adicional e desenvolvimento das interfaces. Como
era extremamente caro para a Bell Atlantic substituir o equipamento da
AT&T, a Bell Atlantic estava retida pelos comutadores da AT&T.
Isso colocou a AT&T no comando. A AT&T estava na poderosa
posição de dispor de controle monopolístico sobre uma ampla série de
aperfeiçoamentos e avanços para seus comutadores. Por exemplo,
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Computer Associates
Outro bom exemplo de aprisionamento é ilustrado pela situação difícil
das empresas que têm vastos arquivos de dados em computadores de
grande porte da IBM utilizando software altamente especializado.
Essas empresas estão fortemente retidas nesses computadores e seus sis-
temas operacionais, o que torna bastante lucrativo o negócio do forne-
cimento do software necessário, especialmente no caso de software
fornecido exclusivamente por um pequeno número de fornecedores.
Um dos principais beneficiários desse tipo particular de aprisiona-
mento com relação aos computadores de grande porte da IBM é a
Computer Associates. A Computer Associates é a principal fornecedora
de inúmeros softwares de gerenciamento de sistemas que funcionam
com os sistemas operacionais MVS (Multiple Virtual Storage) e
VSE/ESA (Virtual Storage Extended/Enterprise Systems Architecture)
da IBM. Os produtos da Computer Associates incluem software de
gerenciamento de fitas, gerenciamento de discos, gerenciamento de
tarefas e de segurança para o ambiente operacional VSE e software de
gerenciamento de fitas e de gerenciamento de tarefas do ambiente ope-
racional MVS.
A Computer Associates teve uma receita de US$3,5 bilhões em seu
ano fiscal terminado em março de 1996, o que a tornou a terceira maior
empresa de software independente, atrás da Microsoft e da Oracle. A
Computer Associates desfrutou de uma receita por empregado de
US$432 mil contra US$422 mil da Microsoft e US$180 mil da Oracle.
O aprisionamento ocorre nesse mercado em dois níveis diferentes:
o nível de sistema e o de fornecedor. Os clientes certamente odeiam
trocar de computadores ou sistemas operacionais; eles estão presos a
um sistema IBM. Mas eles também são cautelosos em trocar de forne-
cedor de seu software de gerenciamento de sistemas; eles estão presos
a seus fornecedores de software. Como esse software é de importância
crítica, os riscos de usar um novo fornecedor, especialmente um que
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res, cada um dos quais tenha custos de troca de US$100,00, são tão
valiosos, coletivamente, quanto um único cliente cujos custos de troca
sejam de US$100 milhões. O importante é que você tem de comparar
quaisquer custos de troca em relação com as receitas em uma base por
cliente e calcular esses custos por toda sua base instalada para avaliar
essa base. Esses princípios aplicam-se igualmente a clientes que sejam
pessoas físicas ou jurídicas.
custos de troca. Pior ainda para os clientes é o fato de que esses custos
estão potencialmente sujeitos à manipulação estratégica pelo fornece-
dor. Por exemplo, possíveis competidores no serviço de telefonia local
estão constatando em ações judiciais que os consumidores tendem a
perder o serviço telefônico por algum tempo quando trocam o serviço
das empresas telefônicas portadoras locais titulares pelo deles. Não é
preciso dizer que essa interrupção constitui uma grande barreira para a
troca de empresas de telefonia locais, sobretudo para clientes com ati-
vidades comerciais, e razão de repetidas reclamações às autoridades.
A mensuração dos custos de troca dos clientes constitui grande
parte da avaliação da base instalada de consumidores. Como regra prá-
tica, os lucros que um fornecedor pode esperar ganhar de um cliente
são iguais aos custos totais de troca, como acabamos de definir, mais o
valor de outras vantagens competitivas de que o fornecedor desfrute
em virtude de ter um produto superior ou custos mais baixos do que os
rivais. As percepções do cliente são supremas: um preço superior
baseado na reputação ou propaganda superiores vale tanto quanto um
preço superior idêntico baseado em qualidade realmente superior.
Como princípio geral, se os seus rivais tiverem custo e qualidade seme-
lhantes aos seus, de modo que seu mercado seja altamente competitivo,
os lucros que você puder ter com um cliente – em uma base que se
estenda para o futuro e com valor atual – serão exatamente iguais aos
custos totais de troca. A vida fica mais complicada se você não puder
medir com facilidade esses custos de troca, especialmente se os clientes
tiverem custos de troca muito diferentes, mas se o mesmo princípio
ainda se aplicar.
• Segundo, você pode usar esses métodos para avaliar uma empre-
sa alvo cuja base instalada de clientes constitua um ativo impor-
tante. Em vez de imaginar os fluxos de receitas e custos associa-
dos aos clientes da empresa alvo, você pode conseguir cortar
caminho e calcular os custos de troca desses clientes.
CLASSIFICAÇÃO DO APRISIONAMENTO
Treinamento em marca Aprender sobre um novo sistema, tanto custo direto quanto
específica perda de produtividade; tende a aumentar com o tempo
Compromissos contratuais
Nossa primeira categoria de aprisionamento é a mais explícita: um
compromisso contratual para comprar de um fornecedor específico. O
bom senso manda que você não se comprometa com um único forne-
cedor, a menos que o preço seja especificado. Apesar disso, muitos
contratos dão liberdade ao fornecedor para fazer ajustes anuais de pre-
ços, dentro de certos limites, ou mesmo de cobrar os chamados preços
“razoáveis”. Cuidado com essas proteções vagas quando for comprar.
Mesmo com a proteção de preço por cláusulas rígidas, inevitavelmente
há espaço para que o fornecedor controle variáveis fora do preço, tais
como a qualidade do serviço fornecido. Aconselha-se muito aos com-
pradores que examinem com antecedência os aspectos “não contratá-
veis” dos produtos e serviços. Com efeito, os compromissos de preços
que os vendedores solicitam aos clientes podem ser realmente prejudi-
ciais se apenas induzirem o fornecedor a explorar o aprisionamento
mediante a redução da qualidade e outras dimensões de serviço que
não o preço.
Compras duráveis
Quando vimos a Bell Atlantic e a Computer Associates, examinamos
de início exemplos de aprisionamento que envolviam a compra de
equipamentos caros e duráveis (respectivamente, comutadores de tele-
fonia e computadores de grande porte e sistemas operacionais) em um
determinado tempo e, em seguida, compras de produtos complementa-
res (equipamento de transmissão ou equipamento de mensagem por
voz e sistemas de gerenciamento de software, respectivamente). Esse é
um dos padrões de aprisionamento mais comuns e importantes: depois
de efetuada a compra inicial, o cliente pode comprar produtos adicio-
nais que funcionam com os equipamentos duráveis. Como resultado,
muitos fornecedores de equipamentos duráveis – sejam equipamentos
médicos vendidos pela Siemens a hospitais, grandes copiadoras vendi-
das pela Xerox a grandes empresas ou Zip drives vendidos pela Iomega
a empresas e indivíduos – extraem o grosso de seus lucros, se não de
sua receita, das atividades de pós-venda.
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rança de vôo. Essa é uma das razões pelas quais a American, a Delta e a
Continental concordaram recentemente em comprar todos os seus
novos aviões da Boeing nos próximos vinte anos. De fato, a demanda
de uniformização da frota acelerou o desaparecimento da McDonnell-
Douglas: sem ter uma família completa de aviões, e sem ter clientes
leais com uma frota exclusivamente de Douglas, a empresa jogou a toa-
lha em 1996, concluindo que não poderia mais sobreviver na indústria
da aeronáutica comercial, e concordou em ser adquirida pela Boeing.
Fornecedores especializados
Outro padrão importante surge quando os compradores adquirem
equipamentos especializados gradualmente ao longo do tempo. Como
comprador, lembre-se de que suas escolhas hoje irão ditar suas neces-
sidades amanhã. Ao escolher um único fornecedor desse equipamen-
to, você se tornará dependente dessa fonte no futuro. Suas compras
iniciais do equipamento são complementares a compras posteriores
por causa das vantagens de lidar com uma única marca para todas as
compras.
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Pior ainda do ponto de vista do cliente, poderá não mais haver for-
necedores alternativos comparáveis depois que se fecha negócio com
um único fornecedor. Lembre-se, com equipamento especializado, os
custos de troca dependem da capacidade dos novos fornecedores de
oferecer equipamento comparável quando necessário no futuro. Se o
equipamento durável ou software forem muito especializados, será
relativamente difícil encontrar fornecedores alternativos no futuro, o
que dará ao fornecedor titular a vantagem de substancial aprisiona-
mento durante a próxima rodada de compras.
Um número cada vez maior de empresas na economia de informa-
ção está enfrentando aprisionamento a fornecedores especializados.
Esse padrão, porém, não é exclusivo dos setores da informação. De
fato, um amplo segmento da economia tem lidado com esse problema
pelo menos há décadas: o setor de defesa. O Departamento de Defesa
tem sido vez ou outra criticado por suas práticas de aquisição, mas
acreditamos que o setor de informação pode aprender hoje muito com
os métodos do Pentágono de lidar com fornecedores especializados,
particularmente na década de 1990, quando a base de contratação para
defesa foi drasticamente reduzida.
Com muita freqüência o Pentágono descobre que os perdedores
na concorrência para produzir um sistema complexo de armamentos
não podem sustentar as capacidades especializadas necessárias sem
negócios contínuos. Além do mais, o vencedor certamente ganha com
sua experiência e passa a conhecer melhor as necessidades do cliente
como parte do cumprimento do contrato. Esse problema assola todos
os compradores da moderna tecnologia: agora que a NASA escolheu
o projeto “Venturestar” da Lockheed Martin para a próxima geração
de seu ônibus espacial, não será fácil para ela voltar-se no futuro para
outros fornecedores caso o desempenho da Lockheed se revele defi-
ciente. Em menor extensão, as relações entre as agências de publicida-
de, as empresas de contabilidade e os escritórios de advocacia e seus
grandes clientes também revelam aprisionamento a fornecedores espe-
cializados.
O resultado é que grandes compradores com necessidades especiali-
zadas normalmente descobrem que suas opções estão limitadas após a
escolha inicial de um fornecedor para servi-los. O Pentágono freqüente-
mente lida com isso estruturando cuidadosamente a concorrência para a
consecução de um único e grande contrato a longo prazo. Por exemplo,
em 1996 o Pentágono reduziu de três para dois o número de possíveis
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Custos de busca
Programas de lealdade
Nossa próxima categoria de aprisionamento pode ser chamada de
“aprisionamento artificial” porque é inteiramente uma elaboração
de estratégias empresariais. Referimo-nos aos programas cada vez
populares nos quais os clientes são premiados por suas compras
repetidas. Esses programas de lealdade envolvem incentivos explíci-
tos para que os clientes comprem muito, ou exclusivamente, de um
único fornecedor.
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*Tortilha de farinha de trigo enrolada ou dobrada em volta de um recheio (como carne, feijão ou
queijo) e em geral assada. (N.T.)
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O CICLO DO APRISIONAMENTO
Seleção da marca
Aprisionamento
Experimentação
Entrincheiramento
SHAP5.qxd 2/4/2010 12:10 PM Page 159
LIÇÕES
Administrando o
6 Aprisionamento
162
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acordo melhor. Indicar empresas como a sua que estão se dando bem
sem investir em moderna tecnologia fortalecerá sua posição. Em mer-
cados relativamente maduros nos quais a maioria dos compradores já
tem fornecedores titulares, o adiamento da decisão pode ser um valio-
so fator de negociação.
Outra tática para extrair condições favoráveis no início é conven-
cer seu fornecedor de que você é o tipo de cliente que mais merece um
pacote inicial bem atraente. Talvez você possa levá-lo a crer que fará
substanciais compras no futuro. A Honeywell dará um desconto em
seu sistema de automação industrial para estabelecer uma cabeça de
ponte em uma instalação de um cliente com diversas instalações.
Uma terceira abordagem é convencer os fornecedores de que você
é capaz de influenciar as decisões de compras de outros clientes. Essa é
uma tática maravilhosa quando se consegue executá-la: você obterá
efetivamente uma gratificação de referência por esses clientes na forma
de um desconto prévio. Você estará na melhor posição para obter tra-
tamento favorável como um “cliente influente” se puder convencer
que (1) gerará um grande número de vendas de unidades adicionais
para outros clientes , (2) essas vendas serão feitas com uma alta mar-
gem bruta, algo especialmente provável com os bens e serviços da
informação e (3) esses efeitos serão duradouros por causa do aprisiona-
mento. Recebemos regularmente de numerosas publicações sobre
negócios propostas de assinaturas grátis em troca da obtenção de assi-
naturas de nossos alunos. Essas publicações reconhecem bem que as
assinaturas dos atuais estudantes de administração gerarão os leitores
da área de negócios de amanhã.
você terá um forte incentivo para convencer seu fornecedor titular de que
seus custos de troca são baixos, negociando assim o melhor acordo para si
mesmo. Uma forma de fazer isso é trocar mesmo! A troca de fornecedo-
res pode ser cara no curto prazo mas pode compensar no longo prazo se
você for então reconhecido como um cliente com baixos custos de troca.
Essa tática faz mais sentido se você, como comprador, tiver informação
superior com respeito a seus custos de troca. Por exemplo, em alguns
casos, os custos internos de interrupção representam uma parcela signifi-
cativa dos custos de troca; você deve saber bem mais sobre esses custos do
que qualquer fornecedor. Você pode sinalizar de maneira convincente que
seus custos de interrupção são baixos ao trocar de fornecedor. Você pode
enviar essa advertência para seu fornecedor atual mudando parcialmente
– em certas partes de sua empresa ou em certas áreas geográficas – como
forma de ganhar força nas negociações sobre as outras partes de sua
empresa. Esta última tática só será atraente se os custos de administrar
uma “loja de miscelânea” não forem proibitivos.
Como comprador você deve estar sempre atento ao perigo da esca-
lada furtiva do aprisionamento. Mesmo que o aprisionamento seja
modesto na fase de experimentação do ciclo, ele poderá crescer à
medida que se comprem mais equipamentos, que se estoquem mais
dados em determinados formatos e que seus clientes por sua vez se
acostumem com certos tipos de produtos ou características de produ-
tos para os quais você dependa de um determinado fornecedor. À
medida que faz esses investimentos adicionais, você deve aplicar os
mesmos princípios que destacamos na fase de seleção da marca: extrair
condições favoráveis de seu fornecedor cada vez que você ficar mais
aprisionado em conseqüência de outra rodada de compras de hardwa-
re ou software, de treinamento para marca específica e assim por dian-
te. Isso pode exigir coordenação dentro de sua organização: se uma
parte de sua empresa realmente cria custos de troca para a empresa
como um todo, podem-se negociar em compensação descontos apro-
priados para as outras. Essa é uma das principais razões para se centra-
lizarem muitas das decisões sobre sistemas de informação.
Na economia da informação, os compradores podem avançar bas-
tante no sentido de sua própria proteção se insistirem, em suas relações
com o fornecedor, em manter os direitos à informação. É muito mais
difícil mudar de médico se você não conseguir a transferência dos
arquivos de seu histórico de saúde para o novo médico. Da mesma
forma, a manutenção de registros sobre um determinado equipamento
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pode ser muito útil para um novo fornecedor de serviço, e dados sobre
suas medidas podem ajudar muito quando você procurar um novo
cíber-alfaiate. Registros sobre os padrões de suas chamadas telefônicas
podem ser de grande valia na identificação da melhor concessionária e
do melhor plano de serviço quando você for escolher uma nova com-
panhia de serviços de telecomunicações. A resposta é tanto manter
registros sobre você mesmo quanto deter o direito de transferir regis-
tros seus mantidos por seu atual fornecedor para um novo, caso você
resolva mudar de fornecedor ou pense em fazê-lo.
A LUTA POR NOVOS CLIENTES. Alguns sábios lhe diriam que os princípios
tradicionais da economia e em especial o modelo da “competição per-
feita” dos livros-texto não têm mais valor na economia de informação.
Neste ponto você já sabe que discordamos disso. A lógica do aprisiona-
mento fornece um bom exemplo. Sob a clássica competição perfeita,
muitas pequenas empresas competem em preço. Essa intensa rivalidade
conduz o preço para o custo e os lucros adicionais para zero.
O que acontece quando a competição perfeita encontra o aprisio-
namento? Como podemos conciliar a concorrência vigorosa, que eli-
mina os lucros adicionais, com o aprisionamento, que faz de uma base
instalada um ativo valioso? Pense no caso extremo (e desagradável) em
que você enfrenta uma concorrência violenta de rivais igualmente
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capazes de atrair clientes. Tanto você quanto seus rivais sabem que
cada cliente será aprisionado por qualquer fornecedor que ele escolher.
O resultado é que essa concorrência realmente retira os lucros adicio-
nais do mercado, mas apenas em uma base de ciclo de vida. A conclu-
são inevitável: as empresas perderão dinheiro (investimento) para
atrair o cliente e (só) recuperarão esses investimentos de vendas lucrati-
vas para clientes aprisionados.
Quando do aprisionamento, a concorrência intensa forçá-lo-á a
oferecer condições iniciais muito convidativas para os clientes, de
modo que em uma base completa, de ciclo de vida, você não ganhará
mais do que uma taxa de retorno normal sobre seus investimentos.
Uma vez que você tenha uma base instalada, parecerá que você está
tendo margens operacionais relativamente grandes, mas isso é apenas o
retorno normal sobre seu investimento inicial para atrair e formar a
base instalada. Os economistas chamam as margens auferidas com as
vendas para a base instalada de quase-lucros: eles se parecem com
lucros reais (adicionais) em um determinado ponto do tempo, mas são
apenas uma taxa normal de retorno de investimentos anteriores.
Como você pode ganhar mais do que uma taxa “normal” de retor-
no em um mercado com aprisionamento? De um modo geral, a chave
para obter desempenho financeiro superior em mercados com “aprisio-
namento” é a mesma que em outros mercados: pela diferenciação do
produto, pela oferta de algo visivelmente superior ao que seus rivais
podem oferecer ou pela liderança de custo, pela obtenção de uma efi-
ciência superior. Idealmente, você buscaria tanto a diferenciação quan-
to as vantagens de custo.
tante parecida com a usada pela Adobe quando introduziu sua lingua-
gem de descrição de página Post Script (ver Capítulo 8): a intenção era
convencer os clientes em potencial de que o produto é aberto o sufi-
ciente para que eles não fiquem presos à Netscape (ou à Microsoft!) no
futuro. Por outro lado, tanto a Microsoft quanto seus clientes sabem
que estes já estão presos aos aplicativos da Microsoft para computado-
res de mesa. A Microsoft quer agora convencer os clientes a estende-
rem seu aprisionamento para dentro da Internet mediante a integração
dos aplicativos da Web com os aplicativos de computador de mesa e de
redes locais. Os usuários enfrentam uma escolha clara: ir com a
Netscape, de padrões abertos e aprisionamento relativamente baixo, ou
ir com a Microsoft, que oferece um sistema altamente integrado e cus-
tos de troca altos no futuro.
Além disso, os aspectos “abertos” e “fechados” de um sistema de
informação com freqüência coexistem. Um fornecedor de software
pode ter uma interface não proprietária e aberta, de funcionalidade
limitada, e uma interface proprietária com um desempenho muito
melhor. Por exemplo, a Cadence Design Systems, uma fornecedora
líder de software de automação de projeto eletrônico, tem numerosas
interfaces-padrão do setor que outras empresas de software podem
usar para movimentar projetos e/ou dados entre seu carro-chefe, o pro-
duto Virtuoso, e outros programas. No entanto, a Cadence tem tam-
bém uma interface superior e proprietária de uso interno. Outro exem-
plo de um padrão “aberto” de funcionalidade limitada é o Rich Text
Format (RTF), da Microsoft, para arquivos de processamento de texto.
Esse formato apresenta uma facilidade de conversão bem maior, mas é
de alcance bastante limitado e parte da formatação anexada ao docu-
mento original inevitavelmente se perde no processo de conversão.
uma vez que qualquer tentativa de fazer isso mais tarde no ciclo de
aprisionamento induzirá esse cliente a mudar de novo. Com efeito,
alguns clientes repetidamente mudam de concessionária de telefone
interurbano para explorar as ofertas iniciais feitas pela AT&T, pela
MCI e pela Sprint para atrair novos clientes.
Os compradores com necessidades crescentes, e portanto com cres-
centes custos de troca, são especialmente atraentes. Se você tiver sorte,
um pequeno incentivo hoje gerará saudáveis margens brutas sobre um
volume significativo de necessidades “pós-venda”, inclusive demanda
por vários produtos complementares.
Se você vende para uma parte de uma grande empresa, terá uma
chance melhor de fazer mais vendas dentro do restante da empresa? Irá
esse comprador estimular outras vendas, seja mediante informações de
boca ou referências, seja pela mudança de empregados da empresa
para outras empresas? Ficarão os outros compradores impressionados
com o fato de você estar vendendo para esse comprador, talvez por ser
ele sofisticado ou conhecido como um bom avaliador de produtos
como os seus? São perguntas desse tipo que você deve fazer a si mesmo
ao tentar decidir o quanto investir na modificação das decisões de um
comprador potencialmente influente.
Ao convencer a Industrial Light & Magic a usar seus computadores
gráficos para criar os dinossauros do filme O Parque dos Dinossauros, a
Silicon Graphics esperava exibir suas estações de trabalho e incremen-
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tas bastante atraentes aos hospitais pelo uso de seus produtos porque
sabem que as novas mamães têm uma forte tendência a usar as mesmas
marcas em casa após deixarem o hospital. Da mesma forma, os fabri-
cantes de automóveis têm obtido historicamente condições bastante
atraentes dos fornecedores de velas de ignição porque muitos consumi-
dores manifestaram uma tendência de substituir as velas de seu carro
pela marca usada pelo fabricante original do equipamento.
VENDER ACESSO À SUA BASE INSTALADA. A base instalada não é coisa para
desperdiçar. Mesmo que você não tenha produtos complementares
próprios para vender a seus clientes atuais, você pode vender para
outros o acesso a esses clientes.
A America Online está fazendo um grande trabalho nesse sentido.
Além de desenvolver seu próprio conteúdo, ela está vendendo acesso à
sua base instalada para comerciantes e outros desenvolvedores de con-
teúdo. Em agosto de 1997, a AOL já mantinha relacionamentos com
mais de 70 comerciantes on-line. O aluguel de um “olho” na homepa-
ge da AOL começa em US$125 mil ao ano, com comissões entre 5% e
60%. Como mencionamos no Capítulo 2, a informação de cobrança
que a AOL obtém de seus clientes proporciona automaticamente valio-
sos dados de código postal, dos quais ela pode deduzir informações
demográficas sobre o consumidor, dados esses de grande valor para o
mercado on-line.
A Microsoft está fazendo acordos a torto e a direito com desenvol-
vedores de conteúdo, em alguns casos encorajando-os a instalar sites
com características especiais acessíveis apenas por meio do software
Internet Explorer. O da Star Trek é um exemplo: diversas característi-
cas convenientes só podem ser utilizadas pelos que têm o navegador do
Internet Explorer, embora da última vez que o examinamos houvesse
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altos. Essa é, naturalmente, a razão pela qual você trabalhou tão dura-
mente para atrair esses clientes. No entanto, se você não conseguir
encontrar um meio de oferecer um desconto seletivo a clientes novos
no mercado, sua fixação de preços colocará você em desvantagem para
atrair esses clientes e, portanto, sustentar sua parcela de mercado. A
discriminação de preços na forma da seleção de descontos para novos
clientes (auxiliada pelo rastreamento dos clientes e de suas compras) é
a solução para esse problema.
LIÇÕES
As Redes e o
7 Feedback
Positivo
204
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O FEEDBACK POSITIVO
A noção de feedback positivo é essencial para que se compreendam os
aspectos econômicos da tecnologia da informação. O feedback positivo
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100
Participação no Mercado (por cento)
Vencedor
Campo de batalha
50
Perdedor
0
Tempo
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Saturação
Número de usuários
Decolagem
Lançamento
Tempo
Círculo
virtuoso
midores e pela sorte quanto pelo valor básico do produto. Uma cutuca-
da na direção certa, no tempo certo, pode fazer toda a diferença. Uma
estratégia de marketing projetada para influenciar as expectativas dos
consumidores é essencial nos mercados de rede. A aura de inevitabili-
dade é uma arma poderosa quando as economias de escala do lado da
demanda são fortes.
EXTERIORIDADES DE REDE
Dissemos antes que as grandes redes são mais atraentes para os usuários
do que as pequenas. O termo que os economistas usam para descrever
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A lei de Metcalfe é mais uma regra prática do que uma lei, mas ela
com efeito surge de modo relativamente natural. Se houver n pessoas
em uma rede e o valor da rede para cada uma dessas pessoas for pro-
porcional ao número de outros usuários, então o valor total da rede
(para todos os usuários) é proporcional a n x (n - 1) = n2 - n. Se o
valor da rede para um único usuário for US$1,00 para cada outro
usuário na rede, então uma rede de tamanho 10 tem um valor total de
aproximadamente US$100,00. Em contrapartida, uma rede de tama-
nho 100 tem um tamanho total de cerca de US$10.000,00. Um
aumento de dez vezes no tamanho da rede conduz a um aumento de
centenas de vezes do valor dela.
O que é necessário para que uma nova tecnologia tenha êxito no mer-
cado? Como pode uma nova tecnologia entrar em um círculo virtuoso
em vez de em um círculo vicioso? A Philips e a Sony certamente conse-
guiram quando lançaram os compact disks no início da década de
1980. Quinze anos depois, os toca-discos e os LPs estão realmente
escassos; nossas crianças dificilmente sabem o que são eles.
Como você pode fazer com que as exterioridades de rede funcio-
nem a seu favor para que você lance um novo produto ou tecnologia?
Como você poderá superar os custos de troca coletivos e formar uma
nova rede de usuários? Que não haja dúvida: formar sua base de usuá-
rios para uma nova tecnologia em face de uma rede já estabelecida
pode ser desencorajador. Só na área de eletrônica de consumo, para
não mencionar setores mais misteriosos, há muitos fracassos. Com efei-
to, a Sony a e Philips enfrentaram muitas dificuldades para reproduzir
a proeza do CD. Elas se juntaram para introduzir em 1987 a fita digital
de áudio (DAT), que oferecia a qualidade de som do CD juntamente
com a possibilidade de gravar música. Mas a DAT não prosperou, em
parte por causa de atrasos havidos em conseqüência de preocupações
com a proteção de cópias.
A Philips tentou por conta própria em 1992 com o cassete compac-
to digital (DCC). Esses cassetes tinham a vantagem de que os aparelhos
de DCC (ao contrário das máquinas DAT) podiam tocar os cassetes
convencionais, o que tornava a nova tecnologia compatível com tecno-
logias anteriores. Mas a qualidade de som da DCC não oferecia grandes
aperfeiçoamentos em relação aos CDs convencionais. Sem um motivo
irresistível para trocar, os consumidores recusaram-se a adotar a nova
tecnologia. Nessa época, a Sony também tinha a própria oferta, o mini-
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Evolução Projeto
aperfeiçoado
Compatibilidade
ou adaptadores
Revolução
Desempenho
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Obstáculos técnicos
Os obstáculos técnicos que você enfrentará têm a ver com a necessida-
de de desenvolver uma tecnologia que seja ao mesmo tempo compatí-
vel e, ainda assim, superior aos produtos existentes. Só dessa maneira é
que você conseguirá manter baixos os custos de troca dos clientes, ao
oferecer-lhes compatibilidade com as tecnologias anteriores e um
maior desempenho. Veremos em nosso exemplo da televisão de alta
definição como essa estratégia pode dar errado: para evitar a margina-
lização dos televisores existentes no início da década de 1990, os euro-
peus promoveram um padrão de transmissão de sinais de alta definição
que os televisores convencionais podiam decifrar. Mas eles pagaram
um alto preço: o sinal não era tão nítido quanto o da verdadeira
HDTV e a tecnologia fracassou apesar da forte pressão governamental
sobre o setor de satélites para adotá-la.
Os obstáculos técnicos a uma espinhosa relação entre compatibili-
dade e desempenho não atingem apenas as empresas iniciantes que
tentam suplantar os líderes de mercado. Também esses líderes de mer-
cado enfrentam esses obstáculos. A Microsoft segurou o desempenho
do Windows 95 para que seus usuários pudessem rodar velhos aplicati-
vos em DOS. A Microsoft deixou claro que o Windows 95 é um siste-
ma operacional de transição e que seu objetivo final é passar todo
mundo para o Windows NT.
Um modo de lidar com a alternância compatibilidade/desempenho é
oferecer a compatibilidade de mão única. Quando a Microsoft ofereceu
o Office 97 como ampliação do Office 95, ela projetou os formatos de
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Obstáculos legais
O segundo tipo de obstáculo que você encontrará quando formar um
caminho de migração será de ordem legal e contratual: você tem de ter
ou conseguir o direito legal de vender produtos com a base instalada
de produtos existente. Às vezes isso não constitui problema: não há
barreiras legais à fabricação de televisores capazes de receber os sinais
atuais de televisão. Mas há vezes em que esse tipo de barreira pode ser
intransponível. Os titulares com direitos de propriedade intelectual
sobre antigas gerações de tecnologia podem ter a capacidade de blo-
quear de maneira unilateral um caminho de migração. A utilização
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Ótima
Sua Recompensa
Aberta
Controle
Só aqueles em posições mais fortes podem esperar exercer um controle
forte sobre tecnologias da informação recém-introduzidas. Em geral
são líderes de mercado: a AT&T foi o melhor exemplo de seu tempo;
a Microsoft, a Intel, a TCI e o Visa são exemplos de hoje. Em casos
raros, a força vem da pura superioridade tecnológica: em uma época
ou em outra, a Apple, a Nintendo, a Sony, a Philips e a Qualcomm,
todas ocuparam essa posição privilegiada.
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Controle Abertura
O JOGO DE DESEMPENHO
Controle da migração
No controle da migração, oferece-se aos consumidores uma tecnologia
nova e aprimorada, compatível com a tecnologia que eles utilizam,
porém proprietária. O Windows 98 e o chip Pentium II da Intel são
exemplos dessa estratégia. As ampliações e atualizações dos softwares,
como o release anual do TurboTax, da Intuit, também tendem a enqua-
drar-se nessa categoria. Essas ampliações são oferecidas por um único
fornecedor, podem ler arquivos de dados e programas criados para
versões anteriores e dependem de muitas das mesmas habilidades que
os usuários desenvolveram para versões anteriores.
Se você tiver um domínio seguro de seu mercado, poderá introdu-
zir a nova tecnologia como uma versão superior da velha tecnologia,
vendendo-a primeiro àqueles que atribuem maior valor ao aperfeiçoa-
mento. Assim o controle da migração constitui com freqüência uma
forma dinâmica da estratégia de criação de versões descrita no
Capítulo 3. O controle da migração tem a vantagem adicional de difi-
cultar para um iniciante ultrapassá-lo com um jogo de desempenho.
Migração aberta
A migração aberta é muito amigável para os consumidores: o novo
produto é vendido por muitos fornecedores e requer poucos custos de
troca. Várias gerações de modems e aparelhos de fax seguiram o mode-
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Descontinuidade
A descontinuidade refere-se à situação em que o novo produto ou tec-
nologia é incompatível com a tecnologia existente mas é vendido por
muitos fornecedores. A introdução do sistema de áudio de CD e do
disquete de 3½” constitui exemplo de descontinuidade. Assim como a
migração aberta, a descontinuidade favorece os fornecedores que são
fabricantes eficientes (no caso do hardware) ou que estão mais bem
situados para fornecer serviços com valor agregado ou aperfeiçoamen-
tos de software (no caso do software).
Bitolas ferroviárias
Um exemplo mais instrutivo de guerras de padrões envolve a história
das bitolas ferroviárias nos Estados Unidos no século XIX.
Quando as ferrovias começaram a ser construídas no início do sécu-
lo XIX, empregaram-se linhas férreas de diversas larguras (bitolas).
Essas escolhas iniciais um tanto arbitrárias acabaram por ter impactos
grandes e duradouros. Uma das primeiras ferrovias no sul, por exemplo,
a Carolina do Sul, escolheu uma bitola de 5 pés. Com o tempo, outras
ferrovias sulistas seguiram o exemplo. Já no norte, era comum a bitola
“padrão” de 4’8½”, popularizada na Inglaterra na área de mineração.
Evidentemente essa era mais ou menos a largura da marca das rodas de
uma carroça dos tempos da Roma antiga, sendo a largura mais eficiente
de um veículo carregado que poderia ser puxado por uma cavalo de
carne e osso (não de ferro). A persistência da bitola de 4’8½”, que agora
é padrão nos Estados Unidos, constitui um bom lembrete de que a inér-
cia é uma força poderosa e durável quando há padrões envolvidos, e de
que acontecimentos históricos aparentemente insignificantes podem
levar a um aprisionamento tecnológico duradouro.
Por volta de 1860 utilizavam-se na América seis bitolas diferentes.
Um pouco mais da metade da extensão total da malha ferroviária utili-
zava o padrão de 4’8½”. A segunda bitola mais popular era a de 5 pés
concentrada no sul. Conforme se viu depois, ter bitolas diferentes foi
vantajoso para o sul, uma vez que o norte não podia usar com facilida-
de as ferrovias para deslocar suas tropas para lutar no território sulista
na Guerra Civil. Observando esse exemplo, os finlandeses tomaram
cuidado para assegurar que suas ferrovias utilizassem bitolas diferentes
das usadas pelas ferrovias russas! O resto da Europa adotou uma bitola
Televisão em cores
Nosso próximo exemplo histórico é bem mais recente: a adoção da
televisão em cores nos Estados Unidos. A televisão talvez seja o maior
dos movimentos vitoriosos. Cerca de 99% dos lares americanos têm
pelo menos um televisor, o que torna esses aparelhos mais onipresentes
do que os telefones e os vasos sanitários com descarga.
A tecnologia da televisão em cores usada nos Estados Unidos é
conhecida como Comitê Nacional dos Sistemas de Televisão (NTSC).*
(Os críticos insistem que NTSC na verdade quer dizer “Nunca a
Mesma Cor Duas Vezes.”).** Esse sistema foi adotado formalmente
pela Comissão Federal de Comunicações em 1953. A história da ado-
ção desse sistema constitui um exemplo de fixação formal de padrões
viciosa que dá o que pensar.
Começamos nossa história com o início da transmissão de TV
comercial em preto e branco nos Estados Unidos em 1º de julho de
1941. Naquela época, a RCA, proprietária da NBC e maior produtora
de televisores em preto e branco, era uma força poderosa no mundo
do rádio e da televisão. Mas o futuro da televisão seria claramente
colorido, conforme fora demonstrado na América pela primeira vez
pelos Bell Labs em 1929.
Por toda a década de 1940, a CBS, rede líder de televisão, esforça-
va-se para que se adotasse o sistema mecânico de televisão em cores
que ela estava desenvolvendo. Nesse período, a RCA empenhava-se em
vender televisores em preto e branco, aperfeiçoando sua tecnologia e,
sob a legendária liderança de David Sarnoff, trabalhando no próprio
sistema de televisão em cores. Quando o sistema da CBS assumiu a
liderança em desempenho, a RCA exortou a FCC a esperar por um sis-
tema eletrônico. Um dos principais problemas do sistema da CBS era
que ele não era compatível com a tecnologia anterior: os televisores
sua tecnologia e ficou satisfeita com o tempo para ampliar a base ins-
talada de televisores em preto e branco incompatíveis com o sistema
de cores da CBS.
Na época em que a proibição foi modificada, em junho de 1952, o
sistema da RCA estava pronto para a estréia. Formara-se no NTSC um
consenso em apoio ao sistema da RCA. Isso ficou conhecido como siste-
ma NTSC, apesar do fato de que a RCA possuía a maior parte das cente-
nas de patentes que o controlavam. Essa troca de etiquetas foi um dispo-
sitivo que salvou as aparências para a FCC, que poderia ser vista como a
seguir um consórcio do setor, em vez de seguir a RCA. Em março de
1953, Frank Stanton, presidente da CBS, levantou a bandeira branca ao
observar que com 23 milhões de televisores em preto e branco instalados
nos lares americanos a compatibilidade era realmente importante. Em
dezembro de 1953, a FCC reverteu oficialmente a decisão de 1950.
Mais uma vez, porém, a vitória política não conduziu com tanta
facilidade ao êxito no mercado. Em 1954, Sarnoff previu que a RCA
venderia 75 mil televisores. Na verdade, só foram comprados 5 mil
aparelhos, talvez porque apenas poucos clientes estavam dispostos a
pagar US$1 mil pelo televisor de 12½ polegadas em vez de US$300
pelo aparelho de 21 polegadas em preto e branco. Visto em perspecti-
va, isso não parece tão surpreendente, sobretudo em vista de que os
televisores coloridos não ofereceriam muito valor agregado enquanto
as emissoras de televisão não investissem na capacidade de transmitir
em cores e os programas coloridos não se tornassem disseminados.
Tudo isso leva tempo. O problema do ovo e da galinha teria de ser
solucionado antes que o pavão da CBS pudesse prevalecer.
Conforme ocorreu, as afiliadas da NBC e da CBS investiram em
equipamentos de transmissão em cores com bastante rapidez: 106 das
158 estações das 40 cidades principais conseguiam transmitir progra-
mas coloridos em 1957. Mas isso não tinha muita importância para os
telespectadores, uma vez que as redes eram bem mais lentas em ofere-
cer programação colorida. Em 1965, a NBC oferecia 4 mil horas de
cores, mas a CBS só mostrava 800 horas e a ABC, apenas 600. O resul-
tado: em 1963, apenas cerca de 3% dos lares com televisores tinham
aparelhos coloridos, que continuavam de três a cinco vezes mais caros
que os receptores em preto e branco.
Embora brilhantes para conseguir firmar sua tecnologia como
padrão, Sarnoff e a RCA não foram capazes de pôr em funcionamento
todos os componentes necessários do sistema para obter rentabilidade
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obter a aprovação de seu sistema pela FCC em 1950, mas essa foi uma
vitória de Pirro, uma vez que faltava à CBS a capacidade industrial, ou
um aliado conveniente, para começar a bombear televisores em volu-
mes comerciais. Naquela época, assim como agora, os vencedores têm
de assumir riscos maiores ao preparar a capacidade industrial e até o
hardware antes de fixar um padrão formal. De fato, como discutire-
mos mais adiante, inundar o mercado com equipamentos construídos
segundo suas especificações pode ser uma forma de fazer com que o
processo de fixação de padrões oscile a seu favor. Mas essa não é uma
estratégia para os tímidos.
Quarto, o exemplo da televisão em cores mostra os perigos de sen-
tar-se e presumir que pode manter o domínio do mercado só porque
você controla a geração atual da tecnologia ou tem uma grande base
instalada. Sarnoff, visionário que era, foi naturalmente tentado a orde-
nhar a vaca de dinheiro das operações em preto e branco da RCA em
vez de correr para introduzir a televisão em cores. A adoção pela FCC
da tecnologia de cores da CBS em 1950 constituiu um toque de alerta.
Sarnoff foi então capaz de arrancar a vitória da mandíbula da derrota
apenas por assumir riscos e redobrar seus esforços. No final das contas,
a CBS desempenhou um papel vital em espicaçar a RCA para que esta
prosseguisse com o desenvolvimento do sistema de cores.
LIÇÕES
Cooperação e
8 Compatibilidade
263
SHAP8.QXD 2/4/2010 12:15 PM Page 264
Redução da incerteza
Os padrões reduzem os riscos enfrentados pelos consumidores com
relação à tecnologia. Isso, também, acelera a aceitação de uma nova
tecnologia. Um padrão com muitos defensores pode favorecer bastante
a credibilidade da tecnologia, que se torna então auto-realizável. Já
com produtos incompatíveis, a confusão e o medo do consumidor de
ficar marginalizado podem retardar a adoção. A confusão dos consu-
midores ajudou a matar o rádio AM estéreo uma década atrás. Mais
recentemente, o crescimento do mercado de modems de 56k sofreu
um atraso até que os fabricantes de modems chegassem a um acordo e
adotassem um padrão.
Ressaltamos a importância das expectativas como estímulo ao feed-
back positivo nos mercados de rede: a confiança gera sucesso, ao passo
que a dúvida chama o fracasso. Um dos riscos na guerra de padrões é
que a luta para conquistar uma fatia de mercado mina a confiança do
consumidor de que qualquer das tecnologias em confronto acabe pre-
valecendo, o que resulta em uma guerra sem vencedor. Como cada
competidor se esforça para convencer as pessoas de que será o ganha-
dor, os consumidores podem comodamente ficar de lado, especialmen-
te se uma tecnologia mais antiga e útil já estiver disponível e padroniza-
da. O mesmo pode facilmente ocorrer com uma nova tecnologia única
que não tenha o apoio de um número suficiente de participantes do
mercado para se tornar um padrão.
Consumidores
Os consumidores geralmente acolhem bem os padrões, com os quais
evitam o risco de apostar em um vencedor e sair perdendo. Podem des-
frutar das maiores exterioridades de rede em uma única rede ou em
redes com ligação imperceptível. Podem misturar e combinar compo-
nentes que se adaptem aos seus gostos. E é muito menos provável que
sejam aprisionados por um único fornecedor, a não ser que um forte
líder de mercado detenha o controle da tecnologia ou assuma esse con-
trole no futuro por meio de extensões proprietárias ou direitos de pro-
priedade intelectual.
Mas a padronização sem dúvida tem seus lados negativos para os
consumidores. O principal é a perda de variedade: o padrão pode não
servir bem às necessidades de alguns clientes ou pode simplesmente
revelar-se uma tecnologia inferior, como a QWERTY. A padronização
pode também privar os consumidores dos benefícios de uma fixação
agressiva de preços de penetração em uma guerra de padrões. Essa
perda será provavelmente significativa para usuários maiores e influen-
tes que possam desempenhar um papel decisivo na disputa, como os
grandes provedores da Internet na guerra dos navegadores entre a
Microsoft e a Netscape. Para os consumidores como um todo, porém,
a fixação de preços de penetração é geralmente o pagamento inicial de
um futuro aprisionamento, de modo que esse fator deve ter importân-
cia secundária.
Padrões que “não funcionam muito bem” são a perdição do consu-
midor. Era comum não se ter muita certeza de quais placas de vídeo
funcionariam com quais placas de som; o fabricante do seu micro adi-
cionava valor ao produto garantindo que todos os componentes do sis-
tema que você encomendou funcionassem juntos. Hoje, praticamente
todo hardware de PC funciona junto, por causa dos esforços da Intel e
da Microsoft para estabelecer padrões para o setor. Isso foi ótimo para
as duas empresas, mas em parte mercantilizou o ramo de produção de
micros em regime de OEM, no qual a concorrência baseia-se cada vez
mais na produção e distribuição a baixo custo.
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Complementadores
A exemplo dos consumidores, os fornecedores de complementos aco-
lhem bem os padrões caso seus produtos combinem com eles. A AOL
vende acesso à Internet, um complemento dos modems, e é beneficiada
pelo uso de modems padronizados de alta velocidade pelo fato de que
a própria empresa não precisa manter bancos de modems separados
com diferentes formatos. Daí que a demanda de serviços on-line é esti-
mulada quando as vendas de modems crescem devido à padronização.
Na verdade, os complementadores influentes podem afetar a escolha
de um padrão, assim como clientes importantes também podem. Por
exemplo, fornecedores de conteúdo, como os estúdios, tiveram
influência no desenvolvimento de cada geração de aparelhos eletrôni-
cos de consumo.
Os mercados de diversão em vídeo e áudio ilustram bem quem são
os fornecedores de complementos. Os estúdios de gravação e as lojas
de disco são fornecedores de complementos no negócio dos CDs musi-
cais e portanto beneficiários do padrão CD. Os fabricantes de toca-dis-
cos, por outro lado, ofereciam um produto que era concorrente direto
dos reprodutores de CD. O CD foi uma grave ameaça para essas
empresas, que tiveram de aprender a fazer os novos aparelhos de CD,
negócio totalmente diferente da fabricação dos antigos fonógrafos para
discos de vinil, ou então sair do mercado.
No caso do novo padrão DVD, os fornecedores de conteúdo como
os estúdios de cinema e o produtores de software oferecem comple-
mentos aos novos discos e devem beneficiar-se com o padrão emergen-
te. Agora são os fabricantes de aparelhos de videocassete que correm
perigo, pois os reprodutores de DVDs ameaçam torná-los obsoletos. O
impacto do DVD para um distribuidor como a rede Blockbuster ainda
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Titulares
Os padrões de produto para novas tecnologias podem representar uma
séria ameaça para os titulares. Afinal, se os padrões alimentam o ciclo de
feedback positivo e ajudam a lançar uma nova tecnologia, podem facil-
mente canibalizar as vendas de uma tecnologia anterior. A RCA, princi-
pal fabricante de aparelhos de TV preto-e-branco na década de 1940,
não quis ver sua liderança ameaçada com o surgimento de um padrão de
TV em cores. A Atari também não ficou muito feliz quando a Nintendo
conseguiu fazer com que o feedback positivo funcionasse a favor do
Sistema de Entretenimento Nintendo em meados da década de 1980.
As empresas titulares têm três opções. Primeiro, podem tentar negar
compatibilidade retroativa aos que pretendem entrar no mercado com
nova tecnologia, na esperança de bloquear inteiramente a entrada, assim
esticando a vida da sua tecnologia. Foi o que a AT&T tentou fazer nas
décadas de 1960 e 1970 em face da demanda para permitir a interliga-
ção de equipamentos diversos, como aparelhos de telefone e PBXs aos
seus sistemas. Novas regulamentações forçaram a empresa a abrir sua
rede à conexão, primeiro, com equipamentos e, depois, com outras
empresas de telecomunicações, principalmente a MCI.
Segundo, podem apressar-se a lançar sua nova geração de equipa-
mentos próprios, talvez com a vantagem exclusiva de compatibilidade
com tecnologias anteriores para ganhar uma guerra de padrões. Foi o
que fez a Atari (sem êxito) para enfrentar a entrada da Nintendo no
mercado de videogames dos Estados Unidos em meados da década de
1980. Seu aparelho de segunda geração, o Atari 7800, podia rodar
jogos escritos para o sistema dominante de primeira geração, o Atari
2600. Infelizmente para a empresa, esses velhos jogos tiveram pouco
apelo para a nova geração de meninos fascinados com os jogos mais
avançados que rodavam no sistema Nintendo.
Finalmente, uma empresa titular pode aderir a uma nova tecnolo-
gia, na esperança de beneficiar-se de sua marca estabelecida, da amplia-
SHAP8.QXD 2/4/2010 12:15 PM Page 273
Inovadores
As empresas que desenvolvem coletivamente novas tecnologias tendem a
aceitar os padrões, porque eles costumam expandir o tamanho global do
mercado e podem mesmo ser vitais, antes de mais nada, para o próprio
surgimento do mercado. Toda vez que um grupo de empresas inovado-
ras se beneficia coletivamente de um padrão, sempre encontra algum
jeito de fazer um acordo em defesa desse padrão. É exatamente por isso
que vemos surgir a cada ano literalmente centenas de novos padrões.
Um bom exemplo são os cartões inteligentes, de plástico, contendo
um pequeno chip de computador que pode armazenar 500 vezes mais
dados que um cartão magnético. Os bancos querem ver esses cartões
inteligentes decolarem porque a nova tecnologia lhes permitirá ofere-
cer uma variedade bem maior de serviços de valor agregado aos clien-
tes. Pode-se carregar dinheiro digital em um cartão inteligente, aumen-
tando assim o valor dos serviços bancários on-line. Esses cartões permi-
tirão aos bancos captar um volume maior de transações em dinheiro,
especialmente pequenas transações para as quais os cartões de crédito
são muito caros. Por tudo isso, a Visa e a MasterCard estão tentando
criar um padrão de cartão inteligente para que os cartões fornecidos
por diferentes empresas funcionem nas mesmas leitoras.
Quando um grupo de empresas inovadoras se beneficia coletiva-
mente com o estabelecimento de um padrão mas cada uma sofre um
impacto diferente, têm lugar complicadas negociações. Os padrões cos-
tumam ter efeitos bem diversos sobre fornecedores diferentes depen-
dendo dos ativos básicos de cada um. As empresas com uma ampla
base instalada têm mais a perder, enquanto as que controlam tecnolo-
gia bem superior têm mais a ganhar. O tamanho também é importante:
como já dissemos, em especial os pequenos participantes do jogo
podem acolher bem os padrões, que costumam nivelar o campo de dis-
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Busque apoio mútuo. O termo apoio mútuo significa, entre outras coi-
sas, a negociação de votos entre parlamentares para a aprovação de
matérias do interesse deles. Sempre foi uma prática em política.
O processo de padronização é uma mistura selvagem de política e
economia, incluindo pagamentos e acordos paralelos explícitos.
Esses acordos costumam incluir a incorporação de pedaços de tecno-
logia de diferentes participantes do mercado, como aconteceu nos
casos da HDTV nos Estados Unidos e dos modems na UIT. Podem
também ocorrer acordos paralelos entre os que detêm direitos de
propriedade intelectual (o chamado “clube IPR”)* tais como patentes
FORMAÇÃO DE ALIANÇAS
Reunir aliados
Busque aliados amplamente. Eles podem incluir seus clientes e fornece-
dores, mas também concorrentes e fabricantes de produtos comple-
mentares. Tente imaginar como o padrão que você propõe afetará a
vida de cada aliado em potencial, seguindo o mesmo quadro desenvol-
vido antes neste capítulo para prever como os padrões podem alterar a
concorrência.
O que é preciso para atrair cada aliado? Qual o momento oportu-
no para apresentar uma proposta? Formar uma coalizão é um processo
bem político. É essencial compreender as preocupações e opções dos
aliados em potencial para propor um acordo que os atraia.
Devem-se propor acordos especiais a clientes essenciais ou influen-
tes. Por exemplo, quando a Microsoft lançou o Internet Explorer, fez
um acordo com a Dow Jones para dar aos usuários do Explorer livre
acesso ao Wall Street Journal, um produto complementar. Como men-
cionamos no Capítulo 3, muitas câmaras digitais são vendidas em
pacote com uma versão simplificada do Photoshop, da Adobe. A câma-
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uma forma de construir um pacto para tornar felizes os dois lados. (Em
geral tais acordos não enfrentam problemas com leis antitruste; exami-
naremos os limites legais da padronização no Capítulo 10.)
Há muitas razões para se pensar que uma trégua normalmente pro-
duzirá mais lucros. Basicamente, se o valor total criado pela tecnologia
aumentar com a padronização, fornecedores e consumidores deverão
poder dividir esse valor. Se o bolo for maior, todos deverão obter um
pedaço maior, inclusive os consumidores. Mas o problema é dividir o
bolo maior. É aí que entram as táticas de padronização relacionadas há
pouco: escolha de uma tecnologia híbrida, licenciamento para outros
usuários e licenciamento mútuo, cláusulas de cliente mais favorecido,
compromissos de abertura e assim por diante.
Como em qualquer negociação de paz, os dois lados precisam defi-
nir como vão proceder no caso de uma guerra. Com base nos ativos
das duas empresas ou coalizões, as negociações podem assumir uma
das três formas básicas: (1) uma inevitável guerra de padrões, (2) um
jogo tímido em que cada lado tenta afirmar sua tecnologia contra o
outro mas prefere ceder a lutar ou (3) um jogo desigual entre um time
forte que prefere lutar e um time fraco que prefere negociar uma tré-
gua. Essas três possibilidades são mostradas na Tabela 8.1.
Primeiro, pode ser que os dois lados prefiram lutar a se unir. Isto é,
preferem competir para impor seu padrão a chegar a um padrão
comum. Isso ocorre quando os consumidores valorizam muito a varie-
dade e também as exterioridades de rede, quando a concorrência de
preços para vender um padrão de produto desgastaria as margens de
lucro e quando cada lado confia que vencerá a guerra. Não se deve
subestimar a força da síndrome do “não foi inventado aqui”. Se os dois
participantes-chave preferem competir a acertar um padrão comum, a
guerra é inevitável. Ambos os times devem começar a reunir aliados
para a luta e colocar suas tropas em posição. Veja no Capítulo 9 as táti-
cas que se podem usar para travar – e vencer – uma guerra de padrões.
empresas. Quando ficou claro que isso não vingaria, elas desistiram e
concordaram com um padrão realmente aberto.
Alianças em ação
A XEROX E A ETHERNET. O caso do padrão Ethernet mostra como se
pode usar um conjunto de padrões formais para estabelecer credibilida-
de. Bob Metcalfe criou a Ethernet na PARC, da Xerox, em fins da
década de 1970: era uma forma de enviar grande quantidade de dados
em alta velocidade às impressoras a laser que a Xerox estava desenvol-
vendo. A empresa patenteou a Ethernet, e Metcalfe deixou a PARC
para fundar a 3Com, empresa voltada para produtos de rede.
Seu primeiro cliente foi a Digital, que lhe pediu para desenvolver
um novo padrão de rede de alta velocidade que não infringisse os
direitos de patente da Xerox e que a Digital pudesse usar para interli-
gar seus terminais. Metcalfe sugeriu que a Digital falasse primeiro com
a Xerox – por que reinventar a roda se a Xerox podia licenciá-la em
condições atraentes?
A Xerox percebeu, com bastante acerto, que teria de oferecer um
padrão aberto de uso em rede para conseguir que os fabricantes de
computadores adotassem a interface Ethernet para suas impressoras. Se
esse mesmo padrão pudesse ser utilizado para conectar computadores,
melhor ainda. A Digital, a Xerox e a 3Com reconheceram o valor de
ter um padrão aberto, e Metcalfe dirigiu-se ao Escritório Nacional de
Padrões para providenciar o processo de registro. Quando estava lá,
encontrou um representante da Intel que buscava novas tecnologias
para embutir em circuitos integrados.
A Digital, a Intel e a Xerox reconheceram em seguida seu interesse
comum e formaram o grupo DIX, batizado com as primeiras letras de
seus nomes. (Metcalfe disse que se pronunciava DI3X, mas o 3 é
mudo.) A coalizão convenceu a IEEE – organização multissetorial alta-
mente respeitada e neutra – a adotar o Ethernet com um padrão aber-
to, sujeito às usuais condições de licenciamento “justas e razoáveis”, e a
Xerox concordou em licenciar o Ethernet para todos os tomadores a
um taxa fixa nominal de US$1 mil. A aceitação por parte da IEEE aju-
dou muito a criar expectativas generalizadas de que o Ethernet iria sur-
gir como o padrão aceito pelo setor.
Poucos anos depois, a IBM transformou seu Token Ring em um
padrão aberto em condições semelhantes, mas por essa época o
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Ethernet tinha uma base instalada tão ampla que a IBM não conseguiu
alcançá-lo. O Ethernet tornou-se o padrão LAN* porque o grupo DIX
reconheceu o valor da abertura desde o início.
LIÇÕES
Travando
9 uma Guerra
de Padrões
299
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O rádio AM estéreo
Algumas guerras não têm vencedores. O rádio AM estéreo é um bom
exemplo. Nunca ouviu falar do AM estéreo? É exatamente o que que-
Tecnologia rival
Sua Tecnologia Compatível Incompatível
Modems de 56k
Uma guerra de padrões com o envolvimento de dois conjuntos distin-
tos de compradores ocorreu recentemente no mercado de modems de
56k. A guerra foi travada entre a U.S. Robotics (agora pertencente à
3Com) e uma equipe liderada pela Rockwell e pela Lucent. Foi uma
guerra em torno de evoluções rivais, uma vez que ambas as versões do
modem comunicam-se bem com os modems mais antigos, mais lentos
e padronizados.
O fato de que haja modems de 56k é um tanto surpreendente,
mesmo para engenheiros experientes de modems. Durante anos, a
sabedoria aceita era a de que os modems simplesmente não poderiam
operar em velocidades superiores a cerca de 28,8 kbs em linhas telefô-
nicas regulares; a velocidade de 28,8 kbs situava-se próxima ao limite
teórico e o padrão UIT correspondente, o V.34, era em grande parte
considerado como o “derradeiro” padrão de modem. A Rede Digital
de Serviços Integrados (RDSI) era vista como o único meio de acelerar
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as coisas, mas a RDSI tem demorado a chegar e tem sido difícil de ven-
der para adoção doméstica.
Bem, os limites teóricos não são mais os mesmos. Os primeiros
padrões de modems haviam sido projetados para um fluxo aproxima-
damente simétrico de entrada e saída de informação. No entanto, para
fazer o download da Internet o fluxo é muito assimétrico: os usuários
recebem informação e os provedores as remetem. O emprego dessa
idéia para reprojetar os modems levou à categoria de 56k (embora o
desempenho seja muito sensível às condições da linha telefônica e as
velocidades maiores apliquem-se apenas ao download).
Todos sabiam que havia uma demanda reprimida de modems mais
rápidos, com os consumidores impacientes com o ritmo lerdo do
download da informação da Internet em 28,8k. Assim, a tecnologia de
56k representava uma grande oportunidade de mercado, tornada
ainda mais atraente por causa da compatibilidade com a tecnologia
anterior dos modems de 28,8k (e mais lentos) disponibilizada para
todos dentro das especificações da UIT.
A U.S. Robotics, líder de um dos campos, controlava cerca de 25%
do mercado de modems, desfrutava de forte reconhecimento de marca
e possuía patentes essenciais para a tecnologia de 56k. A Rockwell lide-
rava a equipe rival. A vantagem da Rockwell era que ela fabricava os
conjuntos de chips que constituíam o coração eletrônico dos modems.
Mas nenhum dos participantes poderia movimentar-se com facilidade
sem o outro e, de qualquer modo, uma recomendação formal da UIT é
amplamente considerada como fundamental para a legitimidade de
qualquer padrão de modem.
A U.S. Robotics tentou utilizar o mecanismo da preferência de
compra com seus produtos “x2”. A empresa firmou contrato com a
maioria dos provedores, entre eles a America Online, a Prodigy, a MCI
e a CompuServe. Ao fazer isso, atacou a parte mais concentrada do
lado da demanda, que é um meio excelente de executar uma estratégia
de preferência de compra em uma guerra de padrões, desde que com-
pradores essenciais como a America Online não fiquem com todos os
lucros da nova tecnologia. Essa estratégia harmoniza-se com os ativos
principais da U.S. Robotics como fabricante líder de modems com for-
tes laços com os provedores. A U.S. Robotics também estava pronta
para assumir a liderança na formação de uma base instalada, exploran-
do o que parecia em 1997 uma genuína vantagem de oportunidade de
mercado.
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Seja qual for a estratégia genérica que você esteja seguindo em uma
guerra de padrões, há duas táticas básicas de mercado que você precisa-
rá empregar: a preferência de compra e a gestão de expectativas.
Preferência de compra
A lógica da preferência de compra é direta: estabeleça uma liderança
inicial, de modo que o feedback positivo funcione a seu favor e contra
seu rival. O mesmo princípio aplica-se a mercados caracterizados pelo
aprender fazendo: a primeira empresa a obter uma experiência signifi-
cativa terá custos mais baixos e poderá avançar ainda mais. De qual-
quer forma, o truque é explorar o feedback positivo. Com o aprender
fazendo, obtém-se o feedback positivo por meio dos custos mais bai-
xos. Com a exterioridade de redes, o feedback positivo vem do lado da
demanda; o líder oferece um produto ou serviço de maior valor.
Um modo de obter a preferência de compra é simplesmente ser o
primeiro do mercado. O desenvolvimento de produtos e as habilidades
de projetar podem ser críticos para conquistar a vantagem de ser o pri-
meiro a agir. Mas, atenção: o lançamento prematuro pode acarretar
compromissos de qualidade e maior risco de erros, ambos capazes de
selar a ruína de seu produto. Lembre-se dos exemplos da CBS, com a
televisão em cores, e do Japão, com a HDTV. Ganha a corrida quem
for mais rápido, mas essa velocidade deve ser conseguida com P&D,
não com a comercialização de um sistema inferior.
Além de lançar seu produto cedo, você tem de ser agressivo com
antecedência para formar uma base instalada de clientes. Encontre os
“pioneiros” (ou seja, os fanáticos por quinquilharias) que estejam mais
ávidos por experimentar a nova tecnologia e inscreva-os com rapidez.
A fixação de preços abaixo do custo – isto é, fixação de preços de
penetração – constitui uma tática comum empregada para formar uma
base instalada. O oferecimento de descontos para clientes grandes, visí-
veis ou influentes é virtualmente inevitável em uma guerra de padrões.
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Gestão de expectativas
As expectativas constituem um fator fundamental nas decisões dos
consumidores sobre comprar ou não uma nova tecnologia, então asse-
gure-se de dar o melhor de si para gerir essas expectativas. Do mesmo
modo que os titulares tentarão inviabilizar novas tecnologias emergen-
tes, também esses participantes que chegam lutarão para firmar sua
credibilidade.
O vaporware é tática clássica destinada a influenciar expectativas:
anunciar a chegada de um produto para congelar as vendas de seus
rivais. Na ação antitruste impetrada pelo Departamento de Justiça dos
Estados Unidos contra a Microsoft, o juiz Sporkin citou o vaporware
como uma razão que ele encontrou para julgar insuficiente o decreto
judicial de consentimento proposto. Em uma época anterior, a IBM foi
acusada de usar a mesma tática. É claro que não é fácil traçar a linha
divisória entre fazer “pré-anúncios predatórios de produtos” e apenas
atrasar-se para trazer um produto para o mercado, sobretudo no mer-
cado de software, tão inclinado à demora. Veja o que aconteceu com a
Lotus no setor de planilhas eletrônicas, e com a Ashton-Tate, no de
software de bancos de dados. Depois que ambas as empresas ultrapas-
saram repetidas vezes as datas previstas dos lançamentos, os gozadores
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Manter a guarda
A tecnologia marcha para a frente. Você tem de andar à busca da nova
geração de tecnologia, que pode vir de direções inesperadas. A
Microsoft, com todo seu poder de previsão e toda sua sensatez, teve de
lidar correndo com o fenômeno da Internet, na tentativa de eliminar
qualquer ameaça à sua atividade principal.
Isso pode ser arriscado. A Apple tem oscilado para trás e para a
frente ao longo dos anos em suas relações com os desenvolvedores.
Primeiro ela queria apenas fabricar computadores e deixar que outros
desenvolvessem as aplicações. Depois ela criou uma subsidiária, a
Corbis, para desenvolver aplicações. Quando isso azedou as relações
com os outros desenvolvedores, ela se desfez da Corbis. E foi assim –
uma dança para lá e para cá.
A Microsoft enfrentou o mesmo problema, mas com uma estraté-
gia um tanto diferente. Se um desenvolvedor de aplicações fosse bem-
sucedido, a Microsoft simplesmente o compraria! Ou tentaria fazê-lo –
a pretendida compra da Intuit pela Microsoft foi impedida pelo
Departamento de Justiça. Hoje, muitos novos planos empresariais no
setor de software têm a mesma estrutura: “Faça o produto, conquiste
um mercado emergente, seja comprado pela Microsoft.”
Nosso ponto de vista é que você deve tentar manter um mercado
competitivo de produtos complementares e evitar a tentação de intro-
meter-se. Só ingresse nesses mercados se (1) a integração de seu produ-
to principal com produtos adjacentes agrega valor aos consumidores
ou (2) você puder injetar um quantidade significativa de concorrência
adicional para manter os preços baixos. Se você for verdadeiramente
bem-sucedido, como a Intel, precisará estimular a inovação nos produ-
tos complementares para ajudar no crescimento.
Uma forma de crescer mesmo depois de ter uma grande base insta-
lada é começar a dar descontos para atrair os clientes remanescentes
que demonstraram (pela espera) uma disposição para pagar por seu
produto relativamente baixa. Conforme vimos nos Capítulos 2 e 3,
essa é uma boa intuição, mas cuidado. Primeiro porque dar descontos
para produtos estabelecidos vai contra a estratégia de fixação de preços
de penetração para vencer uma guerra de padrões. Segundo porque, se
você oferecer descontos regulares nos produtos uma vez que eles este-
jam estabelecidos, os consumidores podem aprender a esperar pelos
descontos. A questão básica: é possível expandir o mercado sem estra-
gar suas margens com os clientes tradicionais?
Há muito tempo que os economistas reconhecem essa situação como o
problema do “monopólio dos bens duráveis”. Ronald Coase, que recente-
mente ganhou o Prêmio Nobel de economia, escreveu, 25 anos atrás,
sobre a tentação de uma empresa que vende um bem durável de oferecer
preços cada vez mais baixos para expandir o mercado, uma vez que muitos
consumidores já tenham comprado esse bem durável. Ele conjeturou que
os consumidores acabariam por prever essas reduções de preços e adiar a
compra até que os preços baixassem. Desde então, os economistas têm
estudado uma variedade de estratégias destinadas a impedir a erosão nos
lucros daí resultante. O problema levantado por Coase é especialmente
sério para os produtos muito duráveis, como a informação e o software.
Proteger a posição
Uma variedade de táticas de defesa pode ajudá-lo a manter sua posição.
É aqui, porém, que os limites da legislação antitruste se fazem sentir de
maneira mais aguda, uma vez que é ilegal “manter um monopólio” por
meios anticompetitivos. Discutiremos esses limites no Capítulo 10.
Uma tática é oferecer em uma base constante termos atraentes para
complementadores importantes. Por exemplo, a Nintendo trabalhou
com agressividade para atrair desenvolvedores de jogos de sucesso e utili-
zou sua popularidade para conquistar uma forte distribuição. Essa tática,
no entanto, pode cruzar a fronteira da legalidade se você insistir em que
seus fornecedores ou distribuidores lidem apenas com você, excluindo
seus rivais. Por exemplo, a FTD, a rede de lojas de flores, sob pressão do
Departamento de Justiça, teve de cancelar seu programa que dava des-
contos aos floristas que só usassem a FTD. Como a FTD tinha a parte do
leão do ramo de redes de entrega de flores, esse dispositivo de quase
exclusividade foi considerado como destinado a proteger a posição de
quase monopólio da FTD. A Ticketmaster foi submetida a uma extensa
investigação por adotar dispositivos de exclusividade em seus contratos
com estádios e salas de concertos, entre outros. O Departamento de
Justiça também atacou os contratos da Microsoft com os produtores de
OEM por terem efeito semelhante ao de licenças de exclusividade.
Um meio menos controvertido de proteger sua posição consiste
em tomar providências para evitar ser barrado por outros com o
argumento de que seu produto infringe suas patentes e direitos auto-
rais. É óbvio que não há nenhum modo livre de riscos de fazer isso.
Mas faz muito sentido solicitar aos que buscam acesso à sua rede que
concordem em não derrubar toda a rede com uma ação de infração
de direitos. A Microsoft tomou providências nesse sentido quando
lançou o Windows 95, incluindo um dispositivo no licenciamento
dos produtores de OEM que impedia os licenciados da Microsoft de
tentar utilizar certas patentes de software para impedir a Microsoft
de distribuir o Windows 95. A Intel solicita com regularidade às
empresas em busca de licenciamento de suas especificações abertas
que concordem em oferecer a outros participantes licenças sem a
cobrança de royalties de quaisquer patentes capazes de bloquear a
tecnologia especificada. Essa estratégia de “abertura dos dois lados”
impede problemas posteriores de bloqueio e ajuda a lançar com segu-
rança novas especificações.
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*Situadas frente a frente em margens opostas do rio Minnesota, Minneapolis e St. Paul formam a área
metropolitana conhecida como das Cidades Gêmeas. (N.T.)
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Permanecer na frente
Como poderá você assegurar uma vantagem competitiva para si
mesmo sem ter um controle direto da tecnologia, por meio de patentes
ou direitos autorais, por exemplo? Mesmo sem ter controle direto da
base instalada nem a propriedade de patentes, você poderá ser capaz
de fazer com que outros fatores trabalhem para você enquanto acumu-
la apoio externo suficiente para fixar os padrões que quer.
Se tiver uma boa equipe de desenvolvimento, você pode criar um
movimento vitorioso com o uso de uma abordagem de abertura ou
cedendo o atual controle da tecnologia – por meio de licenças com
royalties baixos ou nominais, por exemplo –, ao mesmo tempo em que
mantém controle rígido sobre os aperfeiçoamentos e as extensões. Se
você souber melhor do que os outros como a tecnologia deverá desen-
volver-se, você poderá usar essa vantagem de informação para preser-
var importantes direitos futuros sem perder o apoio de seus aliados. A
IBM escolheu abrir o PC, mas perdeu o controle porque não viu quais
seriam os ativos essenciais no futuro. Além dos agora já óbvios (o pro-
jeto dos sistema operacional e a fabricação do fundamental micropro-
cessador), vejamos o exemplo dos padrões de interface entre o PC e o
monitor. Ao longo da década de 1980, a IBM fixou os quatro primei-
ros padrões: o adaptador gráfico monocromático (MGA), o adaptador
gráfico colorido (CGA), o adaptador gráfico aperfeiçoado (EGA) e o
adaptador gráfico de vídeo (VGA),* este último em 1987. Mas na
época do VGA, a IBM estava perdendo controle, e o padrão começou
a rachar-se com o Super VGA por volta de 1988. Logo, com a chegada
* Respectivamente, monochrome graphics adapter, color graphics adapter, enhanced graphics adapter e
video graphics adapter. (N.T.)
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AÇÕES DE RETAGUARDA
Que acontecerá se você ficar para trás? Poderá recuperar o terreno per-
dido?
Isso dependerá do que você entende por “recuperar”. Em geral não
é possível arrancar a liderança de outra tecnologia tão boa e mais esta-
belecida, a menos que seu rival escorregue feio. Entretanto, se as exte-
rioridades de rede não forem esmagadoras, você poderá ser capaz de
proteger um nicho de mercado. E você sempre poderá posicionar-se
para concorrer à liderança na próxima geração de tecnologia.
A Atari, a Nintendo, a Sega e a Sony são bons exemplos. A Atari
dominava nos sistemas de 8 bits, a Nintendo nos de 16 bits. A Sega fez
incursões ao ser a primeira a comercializar sistemas de 32 bits e a Sony
está concorrendo de igual para igual com a Nintendo nos sistemas de
64 bits. A perda de um round não significa que você deva desistir,
sobretudo se a compatibilidade com a tecnologia anterior não for fun-
damental.
A questão é: como você deve gerir seus clientes se saiu-se mal em
uma rodada da competiç