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A VERDADE SOBRE EMPREGADA & PATRÃO!!!

Andava eu na 8ª Classe do Ensino Secundário Geral, corria o ano de 2004, e vivia na Cidade de
Maputo junto com as minhas duas lindas irmãs e a minha amada mãe. Não tardou e logo
chegaram as férias. Como era de costume, viajei p'ra Inhambane, no distrito de Inharrime, visitar
o meu querido pai Miguel, naquèla que eu classificava de «A VIAGEM DO ANO». Eram
enormes as espectativas de umas férias altamente emotivas ao lado do meu pai e de uma menina
que eu a tinha conquistado um ano antes e com a qual namoravamos às escondidas. Durante a
última semana em Maputo, quando eu preparava a minha pasta p'ra viajar, chega uma moça de
Manjacaze a pedir emprego em casa, pois as pessoas sabiam que a minha mãe é uma pessoa que
sempre teve compaixão dos outros e sempre acolheu pessoas desfavorecidas em sua casa. A
moça, a tal de Zaituna, aparentemente mais velha que eu e madura em termos físicos, recebe
"guia de marcha" p'ra ir trabalhar em Inhambane como empregada doméstica na casa do meu pai.
Enviaram a Zaituna comigo e chegados à Inharrime eu disse: «PAI, ESTA É A PARTIR DE
HOJE A TUA EMPREGADA, CHAMA-SE ZAITUNA E É DE MANJACAZE, DIZ QUE
SABE FAZER TUDO». Ela trabalhou, trabalhou e trabalhou, até ao dia em que foi assediada
pelo meu pai, em circunstâncias muito estranhas. Depois de um tempinho, começamos a ver que
ela já não era aquela empregada tímida que sempre que fosse mandada dizia "sim patrão", afinal
era porque já dormia com o meu pai sem que nós filhos soubessemos. Num dia de sol de
Dezembro, o meu pai viaja do distrito para a cidade afim de fazer compras e eu digo "Zaituna,
deixei roupa na bacia e ela tem que ser lavada ainda hoje". Qual não foi o meu expanto ao ver
que ela nem sequer vira-se p'ra mim p'ra dizer "sim menino Luka Miguel". Em vez disso ela
continua a andar sem virar p'ra trás p'ra me obedecer. Achando que talvez ela não ouviu bem,
repeti em voz mais alta e desta vez em Changana, dizendo: "HE ZAITUNA! U FANELE KU
BASSISSA A SWIYAMBALO SWA MINA NINGASWIPETA KA BAKIDI". A isto ela
responde: "WENA AUSWIKOTI KU LHANPSWA A MPALHA YA WENA?", o que quer
dizer: "você não consegue lavar a sua própria roupa?". Como desde criança todos me conhecem
como ríspido e sem papas na língua, exigi de imediato uma explicação para aquèla tamanha falta
de respeito, sendo uma empregada. Ela argumentou que não podia lavar a minha roupa porque
tinha que preparar comida p'ra o marido que tinha ido à cidade fazer compras. Marido? Se você
não sabe que Miguel é meu marido o problema é teu e eu não tenho que te explicar nada. Se o
teu pai não te disse nada não é meu problema - disse ela. Daí começou uma discussão muito
acesa que levou mais de uma hora e se não chegamos a lutar, foi mesmo por muito pouco.
Quando o meu pai voltou a mulherzinha correu primeiro a queixar que eu a insultei e a humilhei.
Pode até ser verdade, mas foi, na minha opinião, por um motivo que eu tinha o direito de saber e
ninguém conseguiu me explicar. Por sua vez, em vez de explicar-me a verdadeira versão, o meu
pai simplesmente começa a repreender-me aos berros e a envergonhar-me só p'ra agradar a
empregadinha que levantava a saia p'ra ele à noite enquanto todos dormiamos. Nos dias
subsequentes as coisas foram difíceis p'ra nós os filhos porque aquela moça encheu-se de orgulho
e sempre que quisessemos algo agora já tinhamos que pedir a ela. Não tardou muito e logo ela já
estava grávida e assumiu poder absoluto. Ela passou a esconder o leite, o café, os ovos, a batata,
a sardinha e o queijo p'ra comer com o marido e nós comiamos manteiga, djam e temperavamos
a água quente com o chá "five roses". Passou a ser normal que se fizessem duas panelas em casa,
uma com arroz e outra com xima, ou então uma com frango ou carne e outra com peixe seco,
couve ou "matsau", sendo que os pratos mais finos eram p'ra ela e o marido. Na família, eu era o
elemento mais agastado e visivelmente inconformado com aquèla situação toda, pois custava-me
aceitar que uma moça que chegou esfarrapada p'ra trabalhar como empregada e que ainda por
cima fui eu quem a trouxe, já era a minha madrasta. MAS QUE GOLPE DURO!!! O QUE É
ISTO? ONDE É QUE ESTAMOS MEU DEUS?! Foi com muita amargura que engoli aquèla
realidade. Travei uma guerra muito acesa com ela e frequentemente eram convocadas reuniões
familiares de emergência. As consequências daquele teatro barato foram inevitáveis, imediatas e
drásticas: A minha mãe lamentou profundamente e separou-se do meu pai. A família ficou
dividida e a batata quente sobrou p'ra nós os filhos. Arrepia-me o corpo só de pensar no
sofrimento que passamos. Fiquei dois anos sem estudar, pois fui viver com o meu pai no distrito
e lá não havia a 11ª classe. Uma das minhas irmãs teve que ir ao lar muito cedo porque houve
uma discussão entre o meu pai e a minha mãe, sobre quem iria ficar com ela e cada um
empurrava-a p'ra o outro e assim a minha irmã entendeu que devia desvincular-se dos dois para
não ser um peso p'ra ninguém. As empregadas tem sempre tendência de ceder ao assédio sexual
dos patrões por entenderem que passarão a trabalhar menos e terão um tratamento especial,
chegando mesmo a golpear a patroa. A EMPREGADA VÊ UMA OPORTUNIDADE ÚNICA
DE SUBIR ATÉ AO NÍVEL DO PATRÃO E FAZER ESTE DESCER ATÉ AO NÍVEL DELA.
É P'RA ELA UMA IMPORTANTE VITÓRIA A QUAL NÃO PODE SER COMPARADA A
NADA! Não é p'ra menos que quando aparece uma empregada bonita e que gosta de estar
sempre limpa e bem vestida, corre o risco de ser despedida em tempo recorde porque a patroa
tem medo que ela possa se envolver com o marido, razão pela qual a patroa nunca se dirige de
modo respeitoso à empregada, é sempre aos berros, tratando-a como se fosse uma coisa
qualquer. Muitas patroas entendem que uma empregada tem que ser uma pessoa suja, pálida,
desfavorecida, que se expressa mal e que só merece coisas de segunda categoria, ou seja, ela só
pode comer uma comida do dia anterior que ninguém vai comer mais. Veja também os artigos
«A VERDADE SOBRE A EMPREGADA» e «A VERDADE SOBRE A MADRASTA»
publicados aqui no facebook, na página "A VERDADE SOBRE", da autoria de Luka Miguel.
Próximo artigo: «A VERDADE SOBRE O POBRE»!!!

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