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Direito à água e ao lugar em Medellín,

Colômbia. Universalização do saneamento


em assentamentos precários urbanos
Right to the water, right to the city. Universalization of sanitation
in precarious urban settlements of Medellin, Colombia

Renata de Faria Rocha Furigo [I]


Patrícia Rodrigues Samora [II]
Alberto Léon Gutiérrez Tamayo [III]

Resumo
Este artigo analisa um programa de universaliza- Abstract
ção do saneamento em assentamentos precários This article analyzes a sanitation universalization
urbanos adotado pela prefeitura de Medellín, program in precarious urban settlements,
Colômbia. Com base na Teoria da Ecologia Polí- implemented by the municipal government of
tica, discute sobre os aspectos que possibilitam Medellin, Colombia. Based on the theory of
ou restringem a expansão do saneamento para a Political Ecology, it discusses aspects that enable
população pobre e analisa a experiência de Bello or restrict the expansion of sanitation services to
Oriente, um assentamento não atendido pelo the poor population, and analyzes the experience
programa, no qual a população, contando com o of Bello Oriente, a settlement not served by the
apoio de uma ONG local, conseguiu melhorar as program, where the population, with the support
condições do abastecimento de água e mitigar os of a local NGO, has managed to improve water
riscos geotécnicos. O artigo mostra que a solução supply conditions and mitigate geotechnical risks.
desenvolvida pela comunidade está muito mais The article shows that the solution developed
próxima de um modelo de unidade socioambien- by the community is much closer to a concept of
tal do que a política urbana municipal, que propõe socioenvironmental unit than the municipal urban
um desenvolvimento baseado em urbanismo eco- policy, which proposes a development based on
lógico, mas está sujeito ao modelo neoliberal de ecological urbanism, but is subject to the neoliberal
mercantilização da cidade. model of commodification of the city.
Palavras-chave: Agenda 2030; gestão das águas Keywords: 2030 Agenda for Sustainable Development;
urbanas; Programa Unidos por el Agua; urbanismo urban water management; Unidos por el Agua
ecológico; urbanização de favelas. Program; ecological urbanism; slum upgrading.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 22, n. 48, pp. 479-498, maio/ago 2020 Artigo publicado em Open Acess
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2020-4807 Creative Commons Atribution
Renata de Faria Rocha Furigo, Patrícia Rodrigues Samora, Alberto Léon Gutiérrez Tamayo

Introdução pelo referido plano. É apresentado o caso do


assentamento Bello Oriente, situado na porção
O presente artigo tem por objetivo discutir as nordeste da cidade, localizado fora do períme-
limitações e as possibilidades da universaliza- tro urbano e do limite sanitário definido no
ção do saneamento em assentamentos pre- POT, e que não é atendido pelo programa da
cários urbanos a partir de um estudo de caso EPM. Porém, a comunidade reage à falta de
rea­lizado em Medellín, na Colômbia. A prefei- serviços básicos e a todas as demais limitações
tura de Medellín tem se comprometido com impostas pelas regras urbanísticas da cidade,
uma política pública de direito a água associa- para conquistar seu direito à moradia, à água e
da à Agenda 2030 para os “Objetivos do De- à permanência naquele território.
senvolvimento Sustentável”, ao mesmo tem- O tema é tratado com amparo da teoria
po que conduz políticas de desenvolvimento da ecologia política, proposta por Swyngedouw­
urbano conectadas a modelos de financei- (2004), que considera que os fluxos da água no
rização e mercantilização da cidade (Britto e meio urbano acontecem não só por um ciclo
Rezende, 2017; Vargas Lopez, 2018; Zuluaga, hídrico, fisicamente determinado, mas por in-
2014). Foi analisado o Programa Unidos por el fluências e correspondências culturais, simbó-
Agua, implementado pelas Empresas Públicas licas, sociais e políticas. Nesse espectro, a polí-
de Medellín (EPM), responsável pelos servi- tica de ordenamento territorial de Medellín, à
ços de saneamento da cidade, com o objetivo qual se subordinam as políticas de saneamen-
de universalizar o abastecimento de água e a to e habitação, define os sentidos dos investi-
coleta de esgotos. Tal análise pretendeu iden- mentos públicos e o destino das pessoas, mas
tificar os avanços obtidos com esse programa, enfrenta reações coletivas, que questionam o
e também suas limitações. Verificou-se que a planejamento tecnocrático que segrega o ter-
política de ordenamento territorial municipal ritório e forçam mudanças na forma de se pla-
é um fator limitante ao objetivo do programa, nejar a cidade.
mas a organização da comunidade indica que O elemento água é apenas um dos que
existem alternativas que podem contribuir dinamizam o conflito entre o território cons-
para o alcance da tão necessária universaliza- truído pela população pobre e o território tec-
ção do saneamento em assentamentos precá- nocrático, mas é suficiente para provocar a co-
rios urbanos. munidade a questionar a sua própria condição
O texto apresenta um histórico das ações urbana. O projeto comunitário Escuela territo-
adotadas pela prefeitura de Medellín, ao longo rial de barrios de ladera (Convivamos... 2019?)
do tempo, para ampliar o acesso aos serviços faz uma contraproposta de planejamento para
de abastecimento de água para a população aquela porção da cidade e para o projeto es-
pobre, até chegar ao Programa Unidos por el tratégico Cinturão Verde Metropolitano (Me-
Agua. Em seguida, apresenta o Plano de Orde- dellín, 2014a), previsto no POT, baseada em
namento Territorial (POT) atualmente em vigor outros princípios e metodologia de ocupação
e a estrutura dos serviços públicos de água e do solo, sugerindo que esse novo modo de
esgoto, visando à compreensão das relações produção e reprodução do espaço possa ser
da comunidade com as limitações impostas uma alternativa de pacificação da sociedade.

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Trata-se, portanto, de um projeto de cidade com as políticas neoliberais de privatização e


participativo, que permite consolidar o direito com as desigualdades sociais. A ideologia da
à permanência no território, o direito à água e “eficiência do mercado”, promovida destaca-
o direito à cidade. damente nos Fóruns Mundiais da Água (Furi-
go e Samora, 2019), vangloria o conhecimento
técnico e científico, reduz a importância social
do saneamento, empurra governos e empre-
Saneamento: direito sas públicas a correrem atrás de lucros e trans-
humano e mercadoria forma cidadãos em clientes. Ao mesmo tem-
po, silencia as críticas, despreza os aspectos
A universalização do saneamento é um tema culturais e históricos ligados à água e ignora o
que faz parte, simultaneamente, do desenvol- fracasso dessas mesmas políticas no desenvol-
vimento urbano, da gestão de recursos hídri- vimento social e ambiental ao longo dos anos
cos e da gestão ambiental. O acesso a fontes (Castro, 2013).
de água limpa, a recuperação dos rios e cór- Para Swyngedouw (2004), a desigualda-
regos e o tratamento dos esgotos domésticos de de acesso ao saneamento tem a ver com
são temas próprios do saneamento, com in- um processo socionatural complexo, em es-
terfaces múltiplas – saúde, habitação, planeja- treita relação com a urbanização, que meta-
mento urbano, meio ambiente, etc., mas que boliza a natureza e produz condições sociais
têm sido abordados basicamente pelo aspecto físico-ambientais que dão novas formas ao
restrito do mercado de águas. Exemplo disso meio ambiente em que acontecem. As rela-
são as discussões capitaneadas pelo Conse- ções sociais de poder ocorrem num “reino de
lho Mundial da Água, amplificadas nos Fóruns forças”, em que os atores sociais se esforçam
Mundiais da Água e guiadas pela ideia de que para defender e criar seus próprios ambientes
a universalização só será possível numa pers- em contexto de conflitos e lutas. Sob o regime
pectiva em que o mercado tenha o papel cen- capitalista, as relações de mercado interferem
tral na mediação entre a demanda da socieda- sobremaneira e provocam outros processos
de e a oferta da natureza (Espinoza, 2016). socioecológicos, de dominação e subordina-
Nesse sentido, os governos de países ção, exploração e repressão, que retroalimen-
que ainda não universalizaram o saneamento, tam e transformam a cidade, estabelecendo
principalmente no Sul Global, têm organizado um certo equilíbrio, na medida em que afetam
suas políticas públicas na forma de prestação negativamente certos grupos sociais e positi-
de serviços com estruturas empresariais que, vamente outros.
ao longo do tempo, têm se mostrado ineficien- A água é um elemento desse ambiente
tes tanto na capacidade de expansão do aten- socionatural, bioquímico e fisicamente defi-
dimento, como na recuperação da qualidade nido, e não uma “coisa natural” distinta das
das águas superficiais e subterrâneas. Castro “coisas sociais”. Outro elemento é a moradia
(2013) sugere que essas deficiências não sejam precária: Oliveira (1972 apud Maricato, 2014)
de ordem técnica, muito menos estejam rela- afirma que a sua produção é fruto de uma de-
cionadas a escassez hídrica, mas tenham a ver sigualdade socioeconômica combinada com

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a chamada “cidade formal”. É produzida pela


O direito à água
classe trabalhadora, em um tipo de produ-
ção doméstica ou pré-capitalista, tendo sido
e ao saneamento em Medellín
fundamental para o processo de acumulação Medellín é a cidade sede do Departamento
de capital. A moradia precária associa-se ao de Antioquia, noroeste da Colômbia, e tam-
sanea­mento precário, formando, assim, o as- bém sede da Região Metropolitana do Va-
sentamento precário urbano, lócus do déficit le de Aburrá, localizada na região central da
de saneamento. Cordilheira dos Andes. A população da região
Enquanto os trabalhadores pobres pro- metropolitana é de 3.866.165 pessoas, sendo
duzem suas próprias moradias em lugares ina- 65% destas residindo em Medellín. A cidade é
dequados, carentes de infraestrutura, sujeitos cortada pelo rio Medellín de sul a norte, que
a inúmeras situações de risco, os fluxos de segue encaixado entre altas montanhas, fe-
água na cidade percorrem direções distintas, chando um cenário panorâmico de grande am-
seguindo o capital especulativo da terra e os plitude. Seu território de 380 km2 abriga uma
centros de poder. O Estado responsabiliza-se área urbana de 110 km2 na qual se concentram
pelas caras infraestruturas (estações de trata- 2.479.987 habitantes, distribuídos em 16 dis-
mento de água, reservatórios, adutoras, cole- tritos ou comunas, enquanto a área rural abri-
tores troncos, emissários de esgoto e estações ga 28.465 pessoas em 5 corregimientos (Figura
de tratamento de efluentes), que, por sua vez, 1) (Antioquia, 2017).
são direcionadas pelos interesses privados no Medellín foi uma das cidades pioneiras
sentido dos territórios mais valorizados da ci- na adoção do Programa Volume Mínimo Vi-
dade. Ao mesmo tempo, o trabalhador pobre tal de Água gratuito – PMVAP (Vargas Lopez,
necessita resolver sua própria condição de mo- 2018), num contexto social marcado pela luta
radia e de cidade e, só com muita luta coletiva, pelo direito à água em todo o país. Em 2007,
terá do Estado alguma infraestrutura, mínima por iniciativa popular, promoveu-se uma gran-
e deficiente. Não haverá tecnologia adequada de campanha para que a água fosse reconhe-
para atender a todos os que dela necessitam, cida como bem público, convocando-se, em
e dificilmente haverá planos de investimentos 2008, um referendo constitucional com o pro-
públicos de saneamento que a acompanhem e pósito de consagrar a água potável como direi-
a orientem. to fundamental e garantir um volume mínimo
Assim, o saneamento “informal” chega gratuito às pessoas. A campanha ainda defen-
depois da moradia, num processo inverso ao dia a proteção especial e uso prioritário dos
da cidade formal (Furigo, Ferrara, Samora e ecossistemas essenciais para o ciclo hídrico e
Moretti, 2018), marcando uma luta contínua a gestão pública e comunitária dos serviços de
pelo direito à água. Na cidade formal, o sanea- saneamento (Motta Vargas, 2011 apud ibid.).
mento obedece à lógica da obtenção de lucros, Apesar de não ter sido aprovado pelo Congres-
priorizando projetos de reestruturação e re- so colombiano, esse ato mobilizou municípios,
novação urbana e empreendimentos de gran- tais como Medellín e Bogotá, a adotarem polí-
de porte (Britto e Rezende, 2017), tratando a ticas específicas de acesso à água potável (Var-
água como mercadoria. gas Lopez, 2018).

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Figura 1 – Comunas e corregimientos de Medellín – 2019

Fonte: reproduzido de Wikimedia, 2019.

O Programa Mínimo Vital de Água Potá- suas metas. Porém, o autor identificou mais
vel foi implementado, entre 2008 e 2011, com de 30 mil domicílios não conectados aos ser-
o nome Litros de Amor, pretendendo atingir 45 viços e que, portanto, não podiam acessar ao
mil famílias em condição de pobreza extrema, programa. Esses domicílios abrigavam famílias
garantindo 2.500 litros mensais de água per imigrantes e aquelas moradoras em áreas de
capita, para satisfazer as necessidades básicas risco consideradas “não mitigáveis”. Além des-
de higiene e alimentação (Zuluaga, 2014). se grupo, havia também pessoas que tinham
Segundo Zuluaga (ibid.), esse programa, seus serviços cortados ou suspensos por fal-
que em 2012 atendeu a 24.694 domicílios per- ta de pagamento. Em 2006, os “desconecta-
tencentes a famílias de baixa renda, baseou-se dos” somavam 60 mil pessoas (Medellín cómo
nos registros da própria EPM, para estabelecer vamos,­2007).

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Para combater o problema da inadim- grupos de interesse, em função das possíveis


plência, a EPM adotou o sistema pré-pago de soluções que podem ser adotadas:
compra de água. Embora essa medida tenha • Grupo 1: solução de abastecimento comu-
permitido às famílias de mais baixa renda aces- nitário, com o fornecimento de água potável e
sarem um mínimo de serviços domiciliares, coleta de esgotos de maneira temporária, com
Zuluaga (2014) considera-a um atentado con- sistemas de gestão não convencionais, em as-
tra a dignidade humana, pois limita o consumo sentamentos informais ou de desenvolvimento
de água aquém das necessidades básicas de incompleto. Neste grupo, planejou-se incluir
higiene e de alimentação. No contexto desse 11.500 famílias, moradoras da periferia de Me-
programa, o autor estimou em mais de 27 mil dellín e de níveis de renda extremamente bai-
moradias ainda em dívida com os serviços de xos, pelo período de 3 anos.
saneamento, e outras 14 mil famílias permane- • Grupo 2: neste grupo, já existia o
cendo fora do sistema. reconhe­cimento das edificações pela Prefei-
Além disso, o PMVAP passou a ser um tura com vistas à regularização fundiária, o
direito da população pobre e em situação de que permitia a conexão destas às redes de
deslocamento forçado, por meio do Acordo água e esgoto. A meta era incluir 21.800 famí-
n. 6 de 2011 (Medellín, 2011) aprovado pelo lias aos serviços.
Conselho Municipal de Medellín. 1 Os argu- • Grupo 3: formado por domicílios localiza-
mentos para instituição desse acordo envol- dos em assentamentos que já eram objeto de
viam, além da Constituição Política do País, melhoramento integral por parte da Prefeitu-
a Resolução A/RES/64/292/2010 da ONU e ra, tendo como meta conectar formalmente
decisões judiciais da Corte Constitucional co- 6.900 domicílios nas Comunas 1 (Popular), 8
lombiana, que passaram a coibir os cortes de (Villa Hermosa) e 13 (San Javier).
fornecimento de água a pessoas pobres por Para que o Grupo 1 fosse atendido pe-
falta de pagamento pelos serviços. Algumas lo Programa, foi necessária a publicação do
sentenças estabeleciam o direito fundamental decreto nacional n. 1272 (Colômbia, 2017),
à água como condição de saúde e de dignidade permitindo e regulamentando a prestação de
humana (Sentenças T-410/2003, T-270/2007, serviços públicos domiciliares de saneamento
T-381/2009, T-418/2010, T-717/2010 apud nas denominadas zonas de difícil acesso, áreas
Medellín, 2014b). de difícil gestão e em situações territoriais em
Entre 2016 e 2019, o governo municipal que não fosse possível alcançar padrões de efi-
de Medellín implementou o Programa Unidos ciência, cobertura e qualidade de serviços do-
por El Agua, a ser coordenado pela EPM, com a miciliares. Essa mudança foi fundamental para
meta de atender, durante esse período, 40.200 o avanço da cobertura dos serviços de sanea­
famílias com os serviços de água potável e de mento, já que a lei n. 142 (Colômbia, 1994),
coleta de esgotos, na área tanto urbana como que regulamenta os serviços públicos domici-
rural. Incluiu, também, ações de desenvolvi- liares de saneamento, e a lei n. 388 (Colômbia,
mento comunitário e mitigação de riscos geoló- 1997), que regulamenta o uso do solo urbano,
gicos. Segundo Medellín cómo vamos (2018b), não permitiam a extensão dos serviços nesses
o programa classifica a população-alvo­­em três casos específicos.

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Segundo a EPM, o Programa Unidos por


O plano de ordenamento
el Agua estava muito próximo de atingir sua
meta, tendo avançado 82% do total previsto,
territorial, saneamento
atendendo 32.811 famílias. Além disso, trata- e habitação em Medellín
-se de um programa que supera as exigências
técnicas para operação de redes de água e O Plano de Ordenamento Territorial Municipal –
esgoto, concebendo e aceitando formas al- POT fornece diretrizes gerais e específicas para
ternativas de conexão, segundo as peculiari- o desenvolvimento urbano e rural das cidades
dades físicas dos assentamentos. Do início do colombianas. É o equivalente ao Plano Diretor
programa até julho de 2019, no Grupo 1, que Municipal brasileiro e tem vigência legal de 12
contempla assentamentos mais precários,­ anos. No POT de Medellín, vigente de 2015 a
foram conectados 8.467 domicílios. No Gru- 2027, os princípios de desenvolvimento ur-
po 2, foram atendidos 19.526 domicílios­ bano baseiam-se no paradigma do urbanis-
e, no Grupo 3, em áreas de melhoramento mo ecológico, visando à adaptação da cidade
urbano­ integral, o Programa atendeu 4.818 às mudanças climáticas, à gestão de riscos, à
domicílios.2­ equidade territorial, à construção coletiva do
É inegável a importância desse movi- território e à melhoria das capacidades institu-
mento político e institucional para o alcance cionais (Medellín, 2014a).
das metas da Agenda 2030, bem como para Como modelo de ocupação do territó-
dar legitimidade à resolução A/RES/64/292 de rio, o POT propõe a ordenação em torno de
2010 da ONU, porém, Vargas Lopez (2018) des- uma Estrutura Ecológica Principal (EEP) para
taca que as iniciativas populares para imple- diminuir o desequilíbrio ambiental e propiciar
mentação de mecanismos para realização do a integração ecológica e a inserção de um sis-
direito à água, tais como o referendo propos- tema de conexão viária em escala urbana e re-
to em 2007, foram fundamentais na constru- gional. Nesse modelo, os espaços rurais exer-
ção desse cenário. O reconhecimento judicial cem o papel de proteção dos bens naturais e
sobre a quantidade mínima essencial de água de produção de serviços ambientais; as bordas
também foi muito importante para o avanço que limitam os espaços urbano e rural servem
das políticas, interessando a governos e con- como barreira ao crescimento urbano, tendo
selhos municipais a atuarem na consolidação a finalidade de proteger os valores naturais e
desse direito. paisagísticos, mas também permitindo certo
Além disso, mesmo com uma política pú- nível de ocupação. Vinculadas à EEP, as áreas
blica consistente, a universalização do sanea­ suscetíveis a processos de erosão e movimen-
mento em Medellín é dificultada por aspectos tos de massa são classificadas em função do
institucionais e econômicos que necessitam risco que oferecem à ocupação. Em situações
ser estudados. Os aspectos institucionais refe- classificadas de alto risco, a depender da vul-
rem-se às limitações associadas às leis de uso nerabilidade da população, são classificadas
e ocupação do solo, ao direito à moradia e aos como “zonas de risco não mitigável”, devendo
projetos políticos de desenvolvimento da cida- ser desocupadas e recuperadas para fins am-
de, como se verá mais adiante. bientais (ibid.).

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O POT também define três macropro- Metropolitano”,­ que pretende requalificar e


jetos estratégicos: O “Projeto Rio”, que esta- consolidar os bairros localizados em altas co-
belece renovação urbana e aproveitamen- tas topográficas (laderas), mas limitando sua
to máximo na zona de planície ao longo do expansão, a partir da criação de um sistema de
rio Medellín; o “Projeto de Transversalidade ecoparques que limitam a zona urbana e pro-
Oriente – Ocidente”, que busca a integração tegem as áreas­de valor paisagístico e ambien-
regional da cidade; e o “Projeto Cinturão Verde­ tal (Figura 2) (ibid.).

Figura 2 – Modelo de ocupação proposto pelo POT de Medellín, com vigência até 2027

Legenda:
Projeto Rio: em azul.
Projeto de Transversalidades Oriente-Ocidente: em marrom.
Projeto de Cinturão Verde Metropolitano: em verde escuro.
Em destaque vermelho, estão as Comunas 1, 3 e 8.
Fonte: adaptado de Medellín (2014a).

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Segundo Ruales (2015), os bairros locali- cidade­atraente, a violência ainda faz parte do
zados na parte alta da zona nordeste da cidade cotidiano. No entanto, a solidariedade entre
(Comunas 1, 3 e 8) e sujeitos às influências do os que já vivem nos bairros populares (as al-
macroprojeto Cinturão Verde Metropolitano, tas ladeiras) e os que chegam continua a ser
são áreas de extrema precariedade habitacio- cultivada, fortalecendo laços comunitários e
nal e urbana, e foram formadas por processos expandindo essas comunidades.3
de deslocamentos forçados da população ru- O POT prevê atender às necessidades
ral e urbana na época de forte conflito social habitacionais do município num horizonte de
e armado ocorrido no país ao longo do século longo prazo, consonante a Agenda 2030, pre-
XX. Como esse autor expressa, esses bairros vendo-se a construção de 185.463 unidades
foram construídos pelo esforço e pela solida- habitacionais. Já o Plano de Desenvolvimento
riedade das pessoas que se abrigaram ali, e Municipal 2016-20194 (Medellín, 2016) prevê
assim foram surgindo as moradias, as vias de atuar nos déficits quantitativos com a provisão
circulação, as redes de água artesanais, etc. de novas moradias e subsídios para famílias
Apesar de já terem recebido muitas interven- em situações de risco ou de deslocamento for-
ções urbanas, esses territórios ainda mantêm çado. Incluem-se, nessa modalidade, os pro-
situações de pobreza extrema e de desigual- gramas de requalificação urbana, como o Pro-
dade marcantes. Segundo Veeduría... (2018), grama de Melhoramento Integral de Bairros,­
em 2017, as Comunas 1, 3 e 8 apresentaram os de requalificação de edificações, por meio de
maiores percentuais de pessoas em situação acompanhamento técnico para melhorias­ ha-
de extrema pobreza, com 7,3%, 5,8% e 4,9% bitacionais e o Programa Unidos por el Agua.
da população, respectivamente. Somam-se, a Os níveis de investimentos em políticas
este fato, os deslocamentos forçados que ain- habitacionais nos últimos dois anos foram
da marcam a realidade da Colômbia e da cida- marcados pela prioridade no Programa Melho-
de de Medellín, levando a fluxos migratórios ramento Integral de Bairros e em subsídios ha-
rurais-urbanos e interurbanos significativos, e bitacionais. Além disso, quando se comparam
que causam a expansão constante desses ter- os investimentos habitacionais realizados ao
ritórios. Ainda segundo Veeduría... (2018), em longo do tempo, eles situam-se, em média, em
2017, Medellín foi receptora de 7.816 pessoas 2,6% dos investimentos urbanos totais, tendo
em situação de deslocamento forçado. Outras sido maior em 2009, com 3,2%, e, em 2013,
3.517 pessoas deslocaram-se internamente no com 4,9% do total (Medellín cómo vamos,
município, por problemas relacionados a vio- 2019, p. 145).
lência em seus lugares de origem. A velocidade de produção de moradias
Segundo Miguel Tamayo, tecnólogo em não consegue inverter a tendência de cresci-
Gestão Comunitária e membro da Corporación­ mento do déficit habitacional. Em 2015, en-
Convivamos, Medellín atrai muita gente de quanto o POT previa atender 10.477 famílias,
fora da cidade, sugestionada pelo próprio o déficit constatado foi de 24.199 unidades,
marketing­ urbano promovido pelas institui- elevando-se rapidamente para 32.733 unida-
ções, públicas e privadas, que querem atrair des em 2017, sendo 88% desse total relaciona-
negócios para a cidade. Apesar de ser uma do às necessidades dos estratos de renda mais

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baixos (Medellín cómo vamos, 2018a). Assim, definida.­ A parte baixa do assentamento é
por mais que os assentamentos precários se- reconhecida pela Prefeitura, e lá se desenvol-
jam atendidos por projetos de melhorias habi- vem ações do Programa Unidos por el Agua.
tacionais e urbanas, a produção de novas mo- A porção superior abriga uma ocupação
radias para atender às estratégias relacionadas esparsa,­ muito próxima do sopé da encosta,
aos macroprojetos carece de alto investimento e que já sofreu danos por deslizamento de
público, mas não é representada no planeja- terra. O acidente, segundo informado pelas
mento orçamentário municipal. lideranças locais, ocorreu devido a infiltra-
Com relação aos sistemas de abasteci- ção de água de abastecimento, que acontece
mento de água e esgotamento sanitário, o POT de forma irregular­ e que foi construída pelos
impõe restrições à ocupação nas zonas de alto próprios moradores.
risco não mitigável e nas faixas de proteção de Esse assentamento, assim como outros
cursos d’água e nascentes (Medellín, 2014a). próximos, que também não são reconheci-
O POT define o limite urbano segundo o que é dos pela Prefeitura, capta água oriunda de
chamado de limite sanitário, que é a cota 2.100 uma estação de acumulação de água, cha-
acima do nível do mar, sobre a qual não é per- mada Tanque­ el Toldo, construída pela EPM.
mitida a ocupação, muito menos a prestação Esse tanque recebe águas da represa Piedras
de serviços públicos de água e esgoto. Assim, Blancas e alimenta a Estação de Tratamento
por mais que as legislações municipal e nacio- La Montana, que se situa a menos de 500 me-
nal tenham flexibilizado as regras de prestação tros de Bello Oriente (Figura 3). O excesso das
de serviços de saneamento para abranger um águas que chegam ao tanque El Toldo é extra-
número maior de pessoas, o limite sanitário vasado por uma escada hidráulica que lança as
exclui todos os assentamentos precários que águas em uma caixa de amortecimento para
estejam acima dessa cota e que não estejam ser “devolvida” à natureza, à meia encosta. É
na parte urbana ou de expansão urbana (ibid.). dessa caixa que os moradores coletam água e
a conduzem, por meio de adutoras comunitá-
rias, às suas casas (Figura 4).
Bello Oriente: Apesar da prática de captação de água
do El Toldo ser antiga (Zapata Hoyos, 2009),
onde o direito não chega depois do acidente ocorrido na encosta, a
e a Agenda 2030 não conta Corporación­Convivamos, organização não go-
vernamental criada por moradores da Comuna
Bello Oriente é um assentamento precário lo- 1, convidou os moradores da parte irregular
calizado na Comuna 3, situado em parte abai- de Bello Oriente a se organizarem e melhora-
xo do limite sanitário da cidade e, em parte, rem as instalações da adutora, oferecendo as-
acima deste. De acordo com o POT, está sob sistência técnica e social para isso. A adutora
influên­c ia do Macroprojeto Cinturão Verde original foi substituída por uma tubulação em
Metropolitano, e a população que está aci- PEAD­com diâmetro de 75mm (mesmo diâme-
ma do limite sanitário deverá ser reassentada tro e material comumente utilizados pelas con-
em alguma outra região da cidade, ainda não cessionárias de saneamento para distribuição­

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Figura 3 – Localização de Bello Oriente com relação à Estação de Tratamento


de Água La Montana, da EPM

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

Figura 4 – Extravasor da EPM e captação de água pelos moradores, à meia encosta

Fonte: acervo da pesquisa.

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de água), para evitar rupturas em sua exten- não podem ter filtros domésticos, pois vivem­
são. Os moradores organizaram-se entre si sob ameaça de corte das instalações pela EPM.
para realizar inspeções periódicas em todo o Alguns moradores optam por comprar­ água
trecho de tubulação, e as conexões para os ra- engarrafada ou de vizinhos da parte regular do
mais das moradias foram refeitos, instalando- núcleo, que recebem água tratada da EPM, en-
-se registros individuais para permitir a manu- tretanto, essas soluções são muito­caras para a
tenção, quando necessário (Figura 5). Todas população que vive em Bello Oriente.
essas soluções visavam a evitar vazamentos e Quanto ao esgotamento sanitário, os
desperdício de água, com foco na mitigação moradores são orientados para que não haja
dos riscos geotécnicos aos quais a comunidade lançamento direto no solo, então eles lançam
estava sujeita. seus efluentes nos talvegues naturais (quebra-
Apesar de todos esses cuidados, a água das), ou até mesmo na rede da EPM, quando
captada desse extravasor não é potável. Os mo- conseguem adaptar seus ramais até a parte re-
radores são orientados a ferver a água, já que gular do núcleo.

Figura 5 – Colar de tomada e distribuição de água para as moradias


“irregulares” de Bello Oriente a partir da adutora comunitária

Fonte: acervo da pesquisa.

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Direito à água e ao lugar em Medellín, Colômbia

Vale destacar que a EPM é uma empresa Bello Oriente, pode-se afirmar que, na medida
prestadora de serviços domiciliares e, além da em que as pessoas foram orientadas a lidar
água potável e da coleta de esgotos, fornece com os próprios riscos depois do acidente geo-
também energia elétrica e gás combustível técnico ocorrido, elas passaram a administrar a
para toda a cidade. Apesar de não haver abas- adutora de água e compreender a importância
tecimento de água e coleta de esgotos nessa da condução adequada dos esgotos sanitários.
porção irregular de Bello Oriente, existe o for- Por terem sido levados a analisar seus próprios
necimento de energia elétrica e iluminação pú- problemas, passaram também a questionar as
blica. Os limites entre as duas porções do terri- limitações impostas pela Prefeitura, já que se
tório são quase imperceptíveis, bastando uma sentem e se mostram capazes de lidar com o
rua para que as pessoas saibam qual o lado meio ambiente em que vivem.
está sendo beneficiado pelo Programa Unidos O tanque El Toldo extravasa parte das
por el Agua, e qual não será atendido. águas que chega de Piedras Blancas, permitin-
Destacam-se, portanto, as contradições do a essa população ter acesso a abundante
da política urbana de Medellín, que limitam a quantidade do líquido. Essa disponibilidade
ação estatal e o direito humano à água. Em pri- permitiria às pessoas viverem com segurança
meiro lugar, é difícil compreender a inviabili- hídrica, aprendendo a manejar seus consu-
dade técnica do serviço de saneamento acima mos para garantir o suprimento perene. Po-
do limite sanitário, quando o limite físico entre rém, quando se sentem impedidas de adotar
as áreas servida e não servida é tão tênue. Em técnicas artesanais de tratamento de água ou
segundo lugar, a proximidade da estação de são levadas a crer que estão “roubando” água
tratamento de água incomoda qualquer obser- da EPM, ficam limitadas ao consumo de água
vador, já que esse serviço, que garante a con- não potável, agredindo desnecessariamente
dição básica de saúde a qualquer ser huma- a própria saúde. Mais ainda, essa água não é
no, está tão próximo, mas restringe o acesso da EPM, pois está sendo descartada, devolvida
àquela população. Em terceiro lugar, no mapa para a natureza, sendo, portanto, um recurso à
de riscos e vulnerabilidade do POT (Medellín, disposição de quem dela necessite.
2014a) a porção irregular de Bello Oriente O projeto de desenvolvimento urba-
não configura zona de risco não mitigável. Fi- no proposto no POT, que pretende limitar a
nalmente, o POT admite que a universalização expansão urbana por meio da implantação
dos serviços domiciliares é conflituosa com as de uma região de ecoparques, não conside-
normas urbanísticas, quando se considera que rou que existem pessoas vivendo ali, e que
as regras de prestação de serviços de energia assim acontece por falta de opções viáveis
elétrica são menos restritivas que as de sanea­ de moradia.­ São famílias pobres, vítimas da
mento, “confundindo o direito ao acesso uni- violência e da segregação urbana. O POT não
versal com os princípios de ocupação segura permite que elas fiquem ali, porque planeja
do território” (ibid., p. 393). segregar as atividades urbanas das necessida-
Considerando a experiência da ges- des ecológicas, sem que se saiba o que será
tão comunitária de risco promovida pela feito com esses moradores. De acordo com
Corporación­Convivamos com os moradores de Ruales (2015), é preciso ampliar a participação

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popular no processo de ordenamento territo- só ocorre depois que ele acontece, revelando
rial, dando às pessoas o direito de planejar o uma posição passiva no desenvolvimento da
território, reconhecendo os espaços de solida- cidade (ibid.).
riedade e vizinhança como adequados à habi- Essas organizações propõem transfor-
tação, respeitando o direito dessas pessoas a mar as pessoas de potenciais vítimas de de-
buscarem melhores condições de vida. sastres em agentes mitigadores, conhecedores
dos próprios riscos, sem negar a sua problemá-
tica. Fazem da gestão de risco a base de tra-
balho, tendo por princípio que “o território é
Água, território e a luta uma construção em diferentes escalas, uma
pela permanência em Medellín ação política” (ibid.).
O projeto chama-se Escuela Territorial
As pessoas em Bello Oriente não podem ficar de Barrios de Ladera e define que o desen-
onde estão. Esta é a regra do Plano de Ordena- volvimento territorial dos bairros ocorre em
mento Territorial de Medellín. Não é pelo fato três escalas: 1) no âmbito familiar, que tem na
de estarem em zonas de risco não mitigável, moradia a força dinamizadora para construção
muito menos pelo fato de não haver tecno- dos bairros e deve ocorrer com base nos prin-
logia suficiente para prestação de serviços de cípios de segurança, cooperação, solidarieda-
água e saneamento. Apesar do plano habita- de, progressividade e produtividade; 2) no âm-
cional de Medellín prever o reassentamento bito do entorno, ou seja, nos bairros, onde a
dessas famílias em outro lugar da cidade, a da- comunidade se encontra e interage com as re-
ta ainda é incerta, e não se sabe onde a Prefei- gras de ordenamento territorial e onde ocorre
tura planeja reassentá-los. a participação popular. Nessa escala estão os
As organizações comunitárias serviços domiciliares, a mobilidade e o trans-
Corporación­Con-Vivamos, Montano-A e Mesa porte, os espaços públicos e os equipamentos;
de Vivienda y Servicios Publicos Domiciliarios e 3) no âmbito socioeconômico, que deve ser
de La Comuna 8 propõem um projeto alter- pensado nas escalas da cidade, da região e do
nativo a esse Cinturão Verde Metropolitano. País, definindo-se um modelo econômico e de
Seus princípios norteadores são a identidade desenvolvimento social que tenha por objetivo
popular, o direito à cidade, a defesa do territó- a superação da pobreza e da iniquidade, indo
rio e a gestão comunitária de riscos (Conviva- além da mera contratação de “mão de obra
mos..., 2019?). local”­nos projetos de melhoramentos urbanos
Segundo esse projeto, o conceito de ris- e habitacionais (ibid.).
co que tem sido utilizado pela prefeitura de A Escuela Territorial de Barrios de Ladera
Medellín serve como justificativa para não se pretende garantir à população desses assenta-
fazer o que é preciso, restringindo o direito mentos precários urbanos o direito à perma-
das pessoas a um território seguro, ao mesmo nência, com respeito ao que foi autoconstruí-
tempo que não direciona adequadamente o do, dando a oportunidade de as pessoas terem
crescimento urbano. Segundo essas organi- um novo começo diante da violência sofrida. A
zações, a atenção estatal ao desastre natural superação das condições de risco, da pobreza

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Direito à água e ao lugar em Medellín, Colômbia

e da segregação urbana deve acontecer sem a primeira exclui pessoas, deixando de cumprir
gerar novas vítimas, tecendo o que se chama seus próprios objetivos, que são as propostas
de “território popular” com identidade comu- da Agenda 2030, a segunda ignora a inviabili-
nitária, para a formação de uma nova paisa- dade da política habitacional em curto prazo,
gem, associada com os elementos naturais e além de não considerar os motivos que leva-
os elementos estratégicos de desenvolvimento ram a população a essa situação de vulnerabi-
municipal (ibid.). lidade. O POT impõe regras de ocupação que
Esse projeto, portanto, propõe um pa- não condizem com a realidade territorial, su-
radigma socioambiental diferente da orga- bestima a capacidade popular e a história indi-
nização territorial convencional, em que se vidual das pessoas. Como resposta, as pessoas
limitam os espaços de morar, de trabalhar e subvertem as regras injustas da política urbana
de proteger o meio natural de forma segrega- e promovem frentes de expansão constante,
da, como se fosse possível retomar a natureza lutando pelo direito à cidade.
para que ela parecesse intocada. É sobre isso
que Swyngedouw­ (2004) discorre: a metabo-
lização da natureza já ocorreu e continuará Considerações finais
ocorrendo,­num processo contínuo de produ-
ção de espaços. Este artigo teve por objetivo discutir os de-
Observando a experiência de Bello safios e as possibilidades da universalização
Oriente, em que os moradores demonstram a do saneamento em assentamentos precários
capacidade efetiva de pensarem seu território urbanos, com base na análise do Programa
e sua segurança, verifica-se uma possibilidade Unidos por el Agua, implementado pela pre-
efetiva de autonomia e construção da paz que feitura de Medellín, na Colômbia. Com esse
eles tanto almejam. A falta de argumentação programa, a Prefeitura pretendia ampliar o
para justificar que não se abasteça de água o acesso da população dos assentamentos pre-
assentamento coloca em xeque a própria fina- cários urbanos aos serviços de água e esgoto,
lidade do POT, pois outros territórios, pouco a visando a atingir as metas propostas no âm-
pouco, são inseridos na zona urbana. Exemplo bito da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
disso é o assentamento Maria Cano Carambo- Sustentável. Foi possível verificar que as ações
la, muito próximo de Bello Oriente e incluído propostas pela prefeitura de Medellín estão
no POT como área de expansão, que enche de limitadas principalmente pela política tarifária
esperança tanto os moradores de Bello Orien- dos serviços­ de água e esgoto e pela política
te, quanto os loteadores ilegais que continuam de uso e ocupação do solo urbano.
vendendo terras tanto nos assentamentos pre- O Plano de Ordenamento Territorial li-
cários como nas partes nobres das montanhas mita o direito à terra e à moradia à população
de Medellín. pobre, uma vez que propõe um modelo de
Assim, pode-se dizer que, apesar de uma urbanismo ecológico que não leva em conta
política de universalização do saneamento tão as dinâmicas sociais e urbanas preexistentes
contundente, seus resultados são reféns da que marcam o território das chamadas altas
política de ordenamento territorial. Enquanto laderas. Isso porque o projeto de Cinturão

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Verde Metropolitano propõe um pacto de de gestão.­ A expansão­ dos serviços para um


não expandir mais a cidade, a partir de uma determinado grupo de assentamentos só foi
linha imaginária, sem que haja consenso com possível com o decreto 1272/2017, que flexi-
aqueles que se encontram nesse território e bilizou os parâmetros de qualidade e eficiên-
que, por sua vez, não têm alternativa habita- cia dos serviços­ domiciliares de saneamento.
cional que garanta a oportunidade de morar Portanto, conclui-se que as questões técnicas
com segurança­ e usufruir dos direitos urba- não são fatores limitantes para a universaliza-
nos com plenitude. ção do saneamento.
Considerando a Teoria da Ecologia Po- O estudo conduzido sobre o assenta-
lítica, proposta por Swyngedouw (ibid.), que mento Bello Oriente mostrou que a população,
explica que a natureza é constantemente me- mesmo consumindo água não potável, o que é
tabolizada pela urbanização, produzindo novas uma grave limitação ao direito humano, mos-
condições socionaturais e, portanto, novas na- trou-se capaz de administrar o abastecimento
turezas, é necessário que se reflita se é possí- e mitigar os riscos geotécnicos a que estavam
vel um determinado espaço já urbanizado ser sujeitos, na medida em que foram orientados
transformado num outro espaço que terá por e passaram a perceber a possibilidade de con-
função conter a própria urbanização. vivência pacífica com suas próprias limitações,
A política tarifária dos serviços de sanea­ sejam elas territoriais ou socioeconômicas.
mento limita a universalização, na medida A experiência da Escuela Territorial de
em que, ao longo dos anos, mostrou-se inefi- Barrios de Ladera demonstra que o plane-
caz, mesmo com o Programa Mínimo Vital de jamento urbano pode democratizar o aces-
Água gratuito, que garante à população pobre so à terra e à cidade e, ainda assim, garantir
o volume de 2.500 litros per capita mensais a conservação ambiental, desde que outras
para as necessidades básicas de higiene e ali- formas de ocupação do solo sejam aceitas. O
mentação. Parte significativa da população paradigma da segregação de usos e funções
dos assentamentos precários não conseguiu dos territórios deve ser substituído por ou-
acessar o direito por não fazer parte do cadas- tro que permita que as pessoas possam con-
tro da EPM. Buscando superar essa limitação, viver com a natureza, pois são partes de um
a empresa implementou o sistema pré-pago mesmo processo socionatural. Mas, para que
de compra de água, que, por sua vez, também esse paradigma se desenvolva, é preciso fle-
não foi capaz de ampliar o acesso das pessoas xibilizar os espaços de discussão e de plane-
pobres, mantendo as restrições ao consumo jamento, assim como superar os tradicionais
mínimo vital de água. regulamentos­de uso e ocupação do solo, que
Do ponto de vista tecnológico, tanto separam as funções urbanas das funções am-
de soluções físicas como operacionais do bientais do território.
saneamen­t o, com o Programa Unidos por A concepção das comunidades pobres
el Agua, a EPM demonstrou que é possível sobre os espaços de uso e fruição na cidade
habilitar os assentamentos precários para sugere ter mais adesão ao conceito de unida-
a prestação de serviços de água e esgoto, de socioambiental proposto por Swyngedouw­
desde que se aceitem modelos alternativos (ibid.), do que os modelos técnicos­

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Direito à água e ao lugar em Medellín, Colômbia

convencionais­ da EPM e da prefeitura de Me- pelo poder e pelo capital, uma vez que o pla-
dellín. Até que tais modelos se flexibilizem, a nejamento urbano tem estado a serviço des-
água continuará seguindo fluxos determinados tes, e não como motor principal.

[I] https://orcid.org/0000-0001-7640-0148
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Urbanismo. Campinas, SP/Brasil.
renatafurigo@gmail.com

[II] https://orcid.org/0000-0002-2105-8557
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Urbanismo. Campinas, SP/Brasil.
patricia.samora@puc-campinas.edu.br

[III] https://orcid.org/0000-0003-0617-9905
Universidad de Antioquia, Grupo de Pesquisa Medio Ambiente y Sociedad. Medelín, Colombia.
albertolgutierrezt@gmail.com

Notas
(1) O Conselho Municipal é o equivalente à Câmara de Vereadores no Brasil.

(2) As informações citadas foram prestadas pelo Eng. Edgardo Martinez Echeverri, diretor de
Relações de Mercado da EPM, em julho de 2019, numa entrevista concedida aos pesquisadores.

(3) Entrevista concedida, aos pesquisadores, em encontro ocorrido no dia 23 de julho de 2019, na
sede da Corporación Convivamos, em Medellín, para discussão sobre o Programa Unidos por el
Agua.

(4) Equivalente ao Plano Plurianual dos municípios brasileiros.

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Texto recebido em 30/out/2019


Texto aprovado em 10/dez/2019

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