Você está na página 1de 4

Princípio da Igualdade

O princípio da igualdade possuí uma origem na filosofia clássica ou mais precisamente, no conceito
criado por Aristoteles sobre a justiça distributiva. Através deste conceito, outros autores muito
importantes na história da filosofia como por exemplo Thomas Hobbes, retomou a este conceito
concebendo a ideia de que todos os indivíduos deveriam ser tratados como iguais, independente do seu
estado ( natureza ou sociedade ). O Princípio da Igualdade é um pilar fundamental do Estado de Direito
ao consagrar a igualdade entre os cidadãos. Este princípio vem do Estado Liberal, com revoluções como a
francesa e a independência das 13 colónias americanas, que constituíram os Estados Unidos da América;
encontra-se previsto no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa (insere-se na Parte dos
Direitos e Deveres Fundamentais) e no artigo 6º do Código do Procedimento Administrativo.
A importância deste princípio é tão grande que assume um nível de estruturação do constitucionalismo
moderno, levando nos a concretização da ideia de que a lei é igual para todos. Através disso, a República
Portuguesa também reconheceu esse princípio, dando uma enorme importância ao consagrar no artigo
13º/1 da Constituição Portuguesa de que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais
perante a lei. Além do mais, este principio consagra-se também no artigo 266º/2 da CRP e no artigo 6º do
CPA onde os dois artigos completam de maneira geral que a Administração Pública, em sua totalidade,
deve atuar de acordo com o princípio da igualdade no que diz respeito aos particulares não tendo o poder
de dar preferência a alguém, ou seja, a mesma não pode dar benefícios e nem mesmo prejudicar ou privar
direitos em razão da cor, sexo, ascendência, raça, língua, território de origem, religião, convites politicas
ou ideológicos, situação económica, condição social ou orientação sexual. Através dessa perspectiva, a
doutrina pode concluir que este principio segue dois pontos: faz com que a discriminação seja proibida e
faz com que diferenciação seja tratada na medida que exista a diferença. Além dos artigos já referidos, a
CRP reafirma a ideia de igualdade diversas vezes, como por exemplo, no artigo 9º quando declara que
compete ao Estado, como sua tarefa fundamental, “promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo
e a igualdade real entre os portugueses” (alínea d) e “promover a igualdade entre homens e mulheres”
(alínea h).
A Constituição garante a igualdade de diferentes maneiras e com diferentes graus de intensidade:
princípio geral da igualdade, igualdade perante a lei ou na aplicação da lei, entre outros. Por outro lado,
proíbe e impõe discriminações positivas ou negativas, consoante as circunstâncias concretas – não exige
nem se satisfaz com uma igualdade meramente formal. Os tratamentos desiguais terão de assentar em
razões suficientemente justificativas, mas nem todas as circunstâncias diferentes são justificativas de
tratamentos desiguais.
Sobre o Estado recai a responsabilidade de criar, manter e promover a igualdade material entre os
cidadãos. Apenas em casos específicos e através de fundamentação em razões ponderosas se pode
restringir a liberdade ou impor um tratamento desigual. O princípio da igualdade estabelece ainda limites
à liberdade de conformação do legislador e da Administração, sendo que não podem ocorrer
discriminações injustificadas e intencionais para além daquilo que é previsto na lei.
Falando ainda para se concluir este principio, Aristoteles ainda nos deixa claro que um tratamento
desigual para aquelas situações que sejam diferentes, são totalmente aceites. É por conta disso que a lei
vem nos dizer que sim, todos devem ser tratados de maneira igual mas no entanto, quando surgirem
questões relacionadas a proteção de pessoas de classes mais pobres, juventude, terceira idade, podemos
argumentar que surge então uma proteção para a minoria, recebendo por isso, um tratamento diferente.

Princípio da Legalidade
Começa-se por falar que a Administração Pública tem de prosseguir o interesse público de modo que ao
mesmo tempo obedece a lei já interposta pois é só seguindo a lei que aquele interesse que se deseja
prosseguir será satisfeito. É através disso que este principio acaba por ser um dos mais importantes no
âmbito da Administração. Consagrado no artigo 266º/2 da CRP e no artigo 3º/1 do CPA onde ambos os
artigos falam de maneira geral que a Administração fica subordinada a lei, seguindo aos limites impostos
para que os fins sejam cumpridos.
Através disso, tudo nos leva a lei, o princípio não funciona se a lei não o mandar fazer e por conta disso
que pode-se dizer que existe uma certa segurança jurídica pois o principio fica submetido ao que está na
base da lei e por isso nenhum interesse ou direito dos particulares pode ser lesado salvo se estiver já
previsto.
É a partir disso que no surge as três exceções a vertente do principio da legalidade: a teoria dos atos
políticos, a teoria do estado de necessidade e o poder discricionário da administração. Dando a
importância relativamente ao caso, vemos que nos transparece o poder discricionário da administração, ou
seja, esta figura está longe de ser uma exceção ao principio; é na verdade um modo especial de legalidade
administrativa.
Assim, falando no âmbito da discricionariedade administrativa, ou seja, quando a regulamentação legal da
atividade administrativa não é completa; a Administração Pública está vinculada a encontrar uma solução
que melhor se enquadre na prossecução do interesse público. Nesse sentido, tendo em consideração a
aproximação da época estival e da necessidade de vigilância das florestas, o Secretário de Estado da
Administração Interna e o Secretário de Estado do Ambiente – ambos órgãos que fazem parte da
Administração Direta do Estado, artigo 183° CRP – exerceram a sua competência ao abrigo da
discricionariedade criativa, ao criar um concurso extraordinário para a carreira de guarda-florestal.
É importante ressaltar que a discricionariedade administrativa está diretamente relacionada ao princípio
da legalidade, pois esta somente é possível quando a lei atribui à Administração a faculdade de escolha do
modo como proceder. Assim, como o concurso foi criado com base no Aviso n° 3055/2019, é relevante
destacarmos o número 2 deste; o qual faz referência a autorização do concurso nos termos da subalínea
iii), da alínea a) do n° 2 da Resolução do Conselho de Ministros n° 11-A/2018, de 25 de janeiro.

Princípio da imparcialidade

O princípio da imparcialidade surgiu com o Direito Processual, sendo praticado pelos Tribunais ao longo
do tempo. O princípio da proporcionalidade é igualmente importante por se traduzir, juntamente com os
restantes princípios constitucional e legalmente estabelecidos sobre a actuação administrativa, num
elemento vinculado no quadro de poderes predominantemente discricionários, pelo que a sua violação
torna possível a impugnação do correspetivo acto a administrativo, com fundamento em violação da lei.
Esse principio configura que a Administração Pública deve ser dotada de total imparcialidade, quer seja
na resolução de um caso, quer seja na emissão de normas gerais e abstratas, assumindo uma postura “fora
e acima das partes", de modo a assegurar uma máxima segurança jurídica. Assim, a administração deve
tomar suas decisões levando em consideração o interesse público, não deixando que interesses alheios
interfiram, como por exemplo interesses pessoais ou políticos que gerariam uma distorção do próprio
princípio contido no artigo 9º do CPA. Desta forma, a existência de um princípio que adstrinja a
Administração a actuar de forma imparcial habilita a jurisdição administrativa a exercer um controlo (de
legalidade) sobre o acto praticado que, sem este princípio, seria apenas controlável pela própria
Administração no quadro do controlo de mérito, podendo tal acarretar graves prejuízos para os
particulares.
O principio da imparcialidade possui duas vertentes: a negativa e a positiva.
A vertente negativa consagra que aqueles que detêm de cargos em órgãos da Administração Pública ficam
totalmente impedidos de interferir em procedimentos que digam respeito ao seu próprio interesse ou que
levem em questão relações familiares ou mesmo econômicas, ou seja, isso significa que que os agentes
dotados do poder de tomar a decisão não podem estar relacionais com casos que envolvam interesses
pessoais, familiares e de interesses relacionados com todos aqueles que os relacionam proximamente,
numa perspetiva mais emocional, como determinam os artigos 69º a 76º do CPA.  
Vertente Positiva: 
A imparcialidade relaciona-se com a obrigatoriedade da Administração Pública ponderar todos os
interesses, sejam eles de carácter público ou privado, que sejam importantes para uma tomada de decisão,
e sendo assim respeitando o principio da persecução do interesse público, proteção dos cidadãos e
proteção dos direitos. Todas as decisões da Administração Pública podem ser anuladas em sentença,
sempre que nos atos praticados pela AP não tiverem sido ponderados todos os interesses relevantes para a
questão, sendo que estamos perante um caso de vicio na decisão. Diogo Freitas do Amaral entende que a
relação entre imparcialidade e justiça não se resume a uma mera ideia de busca pela solução mais justa
para o caso concreto (principio da justiça), mas sim que a preocupação do legislador nesta matéria se
prendeu com o não existirem dúvidas de que a decisão da Administração não seguiu os critérios da
imparcialidade. Este princípio constitui assim um limite ao exercício do podes discricionário que visa
proteger os cidadãos da Administração, e também proteger a Administração dos funcionários que a
integram.

Princípio da proporcionalidade

Se trata de um princípio fundamental do Estado de Direito (como se pode depreender do art. 2.º da
Constituição da República Portuguesa), uma vez que num Estado de Direito Democrático as medidas do
poder público não devem exceder o estritamente necessário para a realização do interesse público. Além
do mais, se trata de um princípio com dignidade constitucional.
O princípio da proporcionalidade surge em vários preceitos constitucionais. No art. 266.º, n.º 2 a lei
fundamental faz a Administração Pública ter como dever o respeito por este princípio. Surge ainda no art.
7.º do Código de Procedimento Administrativo como um princípio geral da atividade administrativa.
O Prof. Freitas do Amaral oferece uma definição de princípio da proporcionalidade: “A
proporcionalidade é o princípio segundo o qual a limitação de bens ou interesses privados por atos dos
poderes públicos deve ser adequada e necessária aos fins concretos que tais atos prosseguem, bem como
tolerável quando confrontada com aqueles fins.”
Desta definição e do art. 7.º do CPA podemos retirar três pressupostos essenciais do princípio:
- Adequação;
- Necessidade;
- Equilíbrio.
A adequação significa que as medidas tomadas devem ser ajustadas ao fim que se pretende atingir. A
dimensão da necessidade pressupõe que a medida seja aquela que lese em menor medida os direitos e
interesses dos particulares. Deste modo, do ponto de vista do princípio da proporcionalidade a medida
administrativa necessária é a que corresponder à menos lesiva. Por fim, o equilíbrio (proporcionalidade
stricto sensu) - este pressuposto exige que os benefícios que se espera alcançar com uma medida
administrativa adequada e necessária ultrapassem, à luz de certos parâmetros materiais, os custos que ela
por certo acarretará (art. 7.º, n.º 2, CPA). Assim, se uma medida não preencher, portanto, estes requisitos
acima expostos, se não for adequada, necessária e equilibrada, trata-se de uma media ilegal por não
respeitar o princípio da proporcionalidade. 
Fica, deste modo, claro que o princípio da proporcionalidade é uma das pedras basilares no que toca aos
princípios da atividade administrativa, a par daqueles que se encontram, quer de forma explícita, quer de
forma implícita, na CRP ou no CPA e que funcionam como limites e reguladores da Administração
Pública.
 
Princípio da boa administração
Este princípio é novo, ou seja, não estava consagrado na ordem jurídica portuguesa, e, portanto, é uma
boa decisão do legislador de 2015 em lembrar-se do princípio da boa administração.
O princípio da boa administração é um princípio europeu, que está na Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia. E na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia este princípio tem um
conteúdo mais amplo do que aquele que o legislador português lhe deu - o artigo 41º da Carta dos
Direitos Fundamentais da União Europeia (que sabemos que vincula Portugal através do Tratado de
Lisboa de 2009), consagra este princípio. Segundo o Professor Vasco Pereira da Silva, a visão mais ampla
do artigo 41º da CDFUE seria imprescindível enquanto concretizadora do conceito de due process of law,
levando a uma realidade aberta seguindo de uma cláusula de garantia de direitos procedimentais, que visa
assegurar um amplo direito à defesa e consagrar o princípio do contraditório - esta ideia de boa
administração corresponde ao princípio do due process of law que é entendido no quadro do Direito
global e no quadro do Direito europeu como uma cláusula geral para que o procedimento administrativo
seja equitativo e para que as decisões administrativas também estejam submetidas a regras procedimentais
claras e regras que conduzam a uma decisão equitativa.
Desta forma, não se encontram aqui previstos os valores da confiança, transparência e precaução que têm
vindo a ganhar uma importância significativa no âmbito do direito comunitário. Assim, o Professor Vasco
Pereira da Silva entende que o legislador português podia ter ido um pouco mais longe na consagração
deste princípio pois o artigo 5º do CPA que é o que consagra este princípio, fá-lo de uma forma restritiva,
limitando o âmbito do mesmo a um triplo critério definindo que a Administração Pública se deve pautar
pela eficiência, economicidade e celeridade pois este artigo 5º, nº1 do CPA não parece vir acrescentar
muito àquilo que já nos ditava o artigo 10º do anterior CPA referente ao princípio da eficiência. Desta
forma, a administração deve ser eficiente, deve ser económica, não deve gastar mais do que aquilo que
devia e deve ser rápida, deve ser célere, portanto é algo que integra uma boa administração, mas por outro
lado é pouco para a boa administração.
Não obstante, é de saudar o esforço do legislador na medida em que procura um melhor funcionamento
da Administração Pública, consagrando princípios que são benéficos aos administrados, apesar de o ter
feito numa vertente limitada, restringindo o princípio ao triplo critério supramencionado. O princípio da
boa administração é, então, uma exigência da democracia moderna, pelo que muda o paradigma da
Administração, exigindo mais da mesma no sentido de se tornar o pináculo da organização pública.

Você também pode gostar