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LFG – PENAL – Aula 15 – Prof.

Rogério Sanches – Intensivo I – 19/05/2009

3.4. Causa extintiva do inciso IV do art. 107: PRESCRIÇÃO

Conceito

Qual a diferença entre prescrição, decadência, perempção e preclusão?

 Decadência – Perda do direito de ação.


 Perempção – É a sanção processual ao querelante inerte.
 Prescrição – “A prescrição é a perda, em face do decurso do tempo, do direito
de o Estado punir ou executar punição já imposta. É, em resumo, a perda da
pretensão punitiva ou executória.”

Decadência é a perda da ação, prescrição é a perda da pretensão.

Crimes imprescritíveis

Todo crime, por mais grave que seja prescreve. Não há crime que não prescreva. Nossa
Constituição, contudo, prevê duas hipóteses de imprescritibilidade:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e


imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação


de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;

Existem dois delitos imprescritíveis no Brasil constitucionalmente previstos: ração e ação


de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Pode o legislador ordinário criar outros crimes imprescritíveis? As hipóteses de


imprescritibilidade estão nas garantias fundamentais do homem (art. 5º, XLII e XLIV). São
incisos excepcionais porque a regra é a prescrição, que é a sua garantia contra o poder punitivo
externo do Estado. Se eu aumentar o rol, estou ferindo garantias fundamentais do homem. Então,
esse rol é máximo. Não pode o legislador ordinário criar outras hipóteses de imprescritibilidade.

O argentino ao chamar o brasileiro de “macaquito” pratica racismo? Não. Ele pratica


injúria qualificada. Não dá para confundir injúria qualificada pelo preconceito (art. 140, § 3º, do
CP) com o delito racismo.

 Na injúria qualificada pelo preconceito, se atribui qualidade negativa à vítima.


 Já no racismo, o agente segrega a vítima do convívio social.
 Chamar de macaquito é injúria qualificada.
 Você não jogar num time porque você é negro, isso é racismo, imprescritível.
 Se for injúria qualificada, o crime é afiançável.
 Se for racismo é inafiançável.
 Se for injúria a ação é de iniciativa privada.
 Se for racismo a ação é pública incondicionada.

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Se você encarou o fato como racismo e é injúria qualificada, você está imaginando que
não prescreve, mas prescreve. Você está imaginando que é ação pública, mas é privada e
depende de prazo decadencial de seis meses.

Ocorre que todo mundo chama isso de racismo e a doutrina vem chamando de racismo
impróprio. A gravação está muito ruim. Não ouvi direito.

TORTURA prescreve?

A tortura não está no rol dos delitos imprescritíveis. A Constituição Federal de 1988 diz
que tortura prescreve. Porém, o Tratado de Roma (Crimes contra a Humanidade), que é o tratado
que cria o TPI (Tribunal Penal Internacional), ratificado pelo Brasil depois de 1988, diz que os
crimes do TPI não prescrevem. E entre os crimes do TPI eu tenho os crimes de tortura. Para a
constituição, tortura não prescreve, já para o Tratado de Roma, tortura não prescreve. O tratado
de Roma foi aprovado com quorum comum, portanto, tem status supralegal (teria status
constitucional se tivesse sido aprovado com o quorum qualificado de emenda). E agora? A
Constituição diz que tortura prescreve o tratado diz que não.

 1ª Corrente: “Os Tratados de Direitos Humanos têm status constitucional


SEMPRE, não importando o procedimento de ratificação. Conclusão: A tortura é
imprescritível.” Aqui não importa o quorum.

 2ª Corrente: “Os Tratados de Direitos Humanos não ratificados por quorum


especial têm status supralegal. Conclusão: A tortura é prescritível, prevalecendo a
Constituição, superior ao tratado.”

 3ª Corrente: “Apesar possuir status de norma supralegal, conflitando os


Tratados de Direitos Humanos com a Constituição, prevalece a norma que melhor
atende aos direitos humanos. Conclusão: A tortura é imprescritível. É o chamado
princípio pro homine”

STF: Já deu claras mostras de que quer adotar a segunda corrente.

STJ: No cível já está aplicando a terceira corrente. As decisões do STJ envolvendo


tortura no regime militar são nesse sentido. A terceira corrente é usada pelo STJ para negar a
prescrição às indenizações do regime militar: “Tortura não prescreve. Tem que reparar o
dano.”

ESPÉCIES de prescrição

A prescrição pode ser:

 Prescrição da pretensão punitiva


 Prescrição da pretensão executória

A prescrição da pretensão punitiva ocorre antes do trânsito em julgado da condenação. Já


a executória ocorre depois do trânsito em julgado da condenação.

A prescrição da pretensão punitiva faz desaparecer todos os efeitos da condenação.

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A prescrição da pretensão executória faz desaparecer somente o efeito executório da


condenação, ou seja, cumprimento da pena. Só isso desaparece. Os demais efeitos, civis e penais,
permanecem. Todos os efeitos permanecem, salvo o executório.

A prescrição da pretensão punitiva não gera reincidência, não pode ser executada no
cível. Já a prescrição da pretensão executória, gera reincidência e pode ser executada no cível,
sim.

Espécies de PRESCRIÇÃO DA PRESENSÃO PUNITIVA

a) Prescrição da Pretensão Punitiva PROPRIAMENTE DITA (109, CP)


b) Prescrição da Pretensão Punitiva SUPERVENIENTE (110, § 1º, CP)
c) Prescrição da Pretensão Punitiva RETROATIVA (110, § 2º, CP)
d) Prescrição da Pretensão Punitiva VIRTUAL, ANTECIPADA, EM
PERSPECTIVA ou POR PROGNOSE (Jurisprudência – STF não
reconhece essa espécie de prescrição)

Não importa qual das quatro, nenhuma vai fazer sobrar nenhum efeito. A Executória está
prevista no art. 110, caput, do Código Penal. Nós vamos estudar as quatro espécies de pretensão
punitiva e eu termino estudando a executória.

Antes de partir apara as quatro espécies, eu pergunto: Por que existe prescrição? Qual o
fundamento da prescrição? Tudo se resume no seguinte:

“O fundamento da prescrição pode ser assim resumido: o tempo faz desaparecer o


interesse social de punir.”

a) Prescrição da Pretensão Punitiva PROPRIAMENTE DITA

Previsão legal: art. 109, CP:

Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a


sentença final, salvo o disposto nos §§ 1º e 2º do Art. 110 deste
Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime, verificando-se:
I - em 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12;
II - em 16 anos, se o máximo da pena é superior a 8 anos e
não excede a 12;
III - em 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4
(quatro) anos e não excede a 8;
IV - em 8 anos, se o máximo da pena é superior a 2 anos e
não excede a 4 ;
V - em 4 anos, se o máximo da pena é igual a 1ano ou,
sendo superior, não excede a 2;
VI - em 2 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano.

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Quanto mais grave é o crime, mais tempo há para punir. Quanto menos grave é o crime,
menos tempo há para punir.

“Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do delinquente, deve dizer quando essa
punição já não mais o interessa. Eis a finalidade do art. 109, do CP.”

O Estado norteia esse prazo com base na gravidade do crime. Quanto maior a pena
máxima em abstrato, maior tempo eu tenho para te punir.

“Sendo incerta a quantidade ou o tipo da pena que será fixada pelo juiz na sentença, o
prazo prescricional é resultado da combinação da pena máxima abstratamente prevista no tipo
e as causas do art. 109 .”

Se o crime praticado foi um homicídio, o Estado trabalha o seu direito punitivo com base
em 20 anos. Se eu pegar o homicídio e jogar no art. 109, você vê isso.

Causas de aumento e causas de diminuição entram no cálculo?

Vocês já perceberam que a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita trabalha


com a pena máxima em abstrato. Eu pergunto: Para saber a pena máxima prevista para o crime,
eu vou considerar eventuais causas de aumento ou eventuais causas de diminuição?

Sim. Para chegar na pena máxima em abstrato, eu vou considerar o aumento e a


diminuição. Exemplo: A tentativa reduz a pena de 1 a 2/3. Eu vou considerar a tentativa para
encontrar a pena máxima em abstrato? Sim. Se eu tenho que trabalha com pena máxima em
abstrato, vocês acham que tem que reduzir do máximo ou reduzir do mínimo? Eu tenho que
trabalhar com a teoria da pior das hipóteses, que é do mínimo. Para encontrar a pena máxima do
crime eu tenho que pegar a pena máxima e reduzir o mínimo possível. Se é teoria e é teoria da
pior das hipóteses, eu vou considerar a causa de aumento e a causa de diminuição, na pior das
hipóteses.

Exemplo: Máxima prevista para o crime: 12 anos. Mas ele foi tentado. Eu tenho que
considerar a tentativa foi de 1 a 2/3. Eu tenho que encontrar a pena máxima reduzida do mínimo
da tentativa, que é 1/3. Aí eu chego à pena máxima desse crime tentado para combinar na escala
do art. 109.

Vamos supor que você tem que considerar a causa de aumento. Será o maior ou menor
aumento? O maior aumento pois estamos trabalhando com a teoria da pior das hipóteses.

Exceção: Concurso Formal e Continuidade delitiva

Causas de aumento no concurso delitivo, na continuidade delitiva não são consideradas.


Cada crime prescreve isoladamente:

Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da


punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente.

No concurso formal e no crime continuado cada delito prescreve isoladamente. Cuidado!


Eu considero causa de aumento e causa de diminuição? Sim. Exceção: Concurso Formal e
Continuidade Delitiva.

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Considera-se a agravante e atenuante de pena para o cálculo da pena máxima?

Para saber qual é a pena máxima, considera-se agravante ou a atenuante de pena? A lei
diz qual é o patamar da agravante? A lei diz qual é o patamar da atenuante? Não. Isso fica a
critério do juiz. Então, a resposta é não. Não considera agravante e nem atenuante de pena.

Exceção: Tem atenuante de pena que vai ser considerada para redução do cálculo
prescricional: Art. 115, do CP. O art. 115 vai reduzir o prazo prescricional pela senilidade ou
menoridade da vítima.

Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição


quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e
um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.

Eis uma atenuante que é considerada pelo juiz na fixação do prazo prescricional.

EFEITOS da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita:

 Desaparece para o Estado o seu direito de punir, inviabilizando qualquer análise


de mérito.

Quando o juiz declara a prescrição, você não foi nem absolvido e nem condenado. O juiz
não analisou o mérito.

 A pretensão condenatória provisória é rescindida, não se operando qualquer


efeito penal ou civil.

 O acusado não será responsabilizado pelas custas processuais.

 Restituição da fiança, se houver prestado.

INÍCIO da prescrição da pretensão punitiva abstrata propriamente dita:

O termo inicial está no art. 111, do Código Penal:

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a


sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade
criminosa;
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência;
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de
assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou
conhecido.

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O art. 111 traz uma regra e três hipóteses especiais. A regra está no inciso I: inicia-se a
prescrição no dia em que o crime se consumou. Esta é a regra. Aqui há que se lembrar que o
prazo é penal, incluindo o dia do início e exclui-se o do fim.

Inciso I – Regra.
Inciso II – No caso de tentativa, a prescrição começa a correr do último ato executório,
claro.
Inciso III – Prevê hipótese excepcional. Crime permanente: enquanto não cessar a
permanência, não corre a prescrição.
Inciso IV – Crimes como o de falsificação de assentamento do registro civil só tem
iniciada a prescrição quando são conhecidos.

O que se pergunta sobre isso é o seguinte: E no crime habitual? No dia 20/07/04 eu


inauguro uma casa de prostituição e fecho em 20/07/2008. Desde quando começa a correr? O
STF respondeu isso: a prescrição só começa a correr a partir da cessação da habitualidade.
Deu o mesmo tratamento que ao crime permanente.

Nos arts. 111 e 117 estão as balizas prescricionais. O art. 117 trata das hipóteses da
prescrição que podem ser interrompidas e quando eu falo isso, significa que o relógio vai ser
zerado. O cronômetro vai ser zerado. Eu vou ter considerado um ato já decorrido.

Art. 117 - O curso da prescrição (daquela prescrição


iniciada lá no 111) interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios
recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.

Zera o cronômetro quando em todas essas hipóteses. Os incisos V e VI tratam da


prescrição da pretensão executória.

 Art. 111 c/c 117 = balizas prescricionais.

É preciso saber diferenciar as balizas em dois ritos diferentes: do rito do júri e do rito que
não seja do júri. Presta atenção!

BALIZAS PARA O PROCEDIMENTO FORA DO JÚRI:

Início – Data do fato, art. 104, CP. Iniciada, a prescrição corre até o recebimento da
inicial (art. 117, I, do CP). Recebida a inicial, interrompe. Zera o cronômetro. Desconsidera-se o
tempo passado. Se o Estado tinha 8 anos para receber a inicial, do recebimento da inicial esse
prazo é zerado. Do despacho do juiz que recebe a inicial, todo o prazo é zerado.

Recebida a inicial, a nova interrupção se dará com a publicação da sentença condenatória.


Esse é o art. 117, IV, do Código Penal. Publicada a sentença condenatória, zera novamente o
cronômetro. Começa a correr novo lapso que só vai se esgotar com o trânsito em julgado
definitivo.

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No rito que não é do júri:

 1ª Baliza – Data do Fato ao recebimento da inicial (recebeu a inicial antes do


prazo prescricional, zera tudo e começa o prazo da 2ª baliza).
 2ª Baliza – Data do recebimento da inicial até a publicação da sentença
condenatória (publicou a sentença, zera tudo novamente!).
OBS.: Se o juiz absolveu, a prescrição continua a ocorrer desde o recebimento da
denúncia. Se o tribunal reforma e condena, o acórdão condenatório vai
interromper. O acórdão só interrompe se for um acórdão que reforma a
absolvição. Se ele só confirma a absolvição, não interrompe nada. Acórdão
meramente confirmatório não interrompe nada.
 3ª Baliza – Data da publicação da sentença condenatória até o trânsito em
julgado.

BALIZAS PARA O PROCEDIMENTO DO JÚRI:

 1ª Baliza – Data do Fato ao recebimento da inicial (recebeu a inicial antes do


prazo prescricional, zera tudo e começa o prazo da 2ª baliza).
 2ª Baliza – Data do recebimento da denúncia até a pronúncia (art. 117, II). Se o
réu for pronunciado, zera tudo.
 3ª Baliza – Novo prazo da data da publicação da pronúncia até o acórdão
confirmatório da pronúncia. O lapso é interrompido novamente pelo acórdão que
confirma a pronúncia. (art. 117, III).
 4ª Baliza – Novo prazo que vai da confirmação da pronúncia até a condenação
pelos jurados, até a publicação da sentença condenatória pelos jurados. Você já sai
do júri contando a condenação. Depois que foi condenado pelos jurados zerou.
 5ª Baliza – Condenou? Até o trânsito em julgado, surge uma nova baliza. Quantas
balizas tínhamos no outro procedimento? 3. No rito do júri temos 5.

(Fim da 1ª parte da aula)

Nós estamos analisando as balizas prescricionais. Você tem que distinguir o rito. Se o rito
não é o júri, se o crime prescreve em oito anos e entre a data do fato e o recebimento da denúncia
o tempo transcorrido foi menor que 8 anos, zera tudo e conta-se mais 8 anos para poder publicar
a sentença condenatória que é o próximo marco prescricional. Publicada a sentença condenatória
dentro dos 8 anos, conta-se mais 8 anos para julgar definitivamente o fato. O que interrompe a
prescrição é a publicação da sentença condenatória. Acórdão confirmatório não interrompe. E se
o acórdão reduz a pena? Ele está, de qualquer forma, confirmando a condenação, não interrompe
a prescrição. Para interromper a prescrição, ele tem que ser o primeiro a condenar.

No rito do júri, a confirmação da pronúncia interrompe. Se lá a confirmação da


condenação pelo tribunal não interrompia, aqui interrompe.

Agora eu pergunto o seguinte: Vamos supor que o MP denunciou um homicídio doloso.


O juiz pronunciou no homicídio doloso, mas os jurados condenaram no homicídio culposo. O
MP não recorre. Se ele tivesse sido denunciado corretamente por homicídio culposo, quantas

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balizas seriam? Apenas três porque ele não iria para o júri. Surgiram duas causas interruptivas
entre o recebimento e a condenação. Se houvesse o procedimento certo, não haveria essas duas
causas interruptivas. Pergunto: Se os jurados condenaram por homicídio culposo, pode o juiz
fazer o cálculo retroativo, desconsiderando essas duas causas interruptivas, já que se ele tivesse
sido denunciado corretamente, esse seria o rito? A resposta está na Súmula 191, do STJ:

STJ Súmula nº 191 - DJ 01.08.1997 - Pronúncia -


Prescrição - Desclassificação do Crime: A pronúncia é causa
interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
desclassificar o crime.

A pronúncia, leia-se confirmação da pronúncia também, são causas interruptivas da


prescrição, ainda que o tribunal do júri venha desclassificar o crime.

Qual é a pena do furto simples? 1 a 4 anos. Quanto tempo o Estado tem da data do fato
até o recebimento da inicial? Qual é prazo da prescrição da pretensão punitiva estatal? Você pega
quatro anos e vai colocar na escala do art. 109. O crime que tem pena máxima prevista de 4 anos,
tem o Estado 8 anos para punir. Do recebimento da inicial até a publicação da sentença
condenatória, o estado volta a ter mais 8 anos (prescrição da pretensão punitiva em abstrato).
Publicou a sentença condenatória, o estado tem mais 8 anos para julgar definitivamente. A
prescrição da pretensão punitiva em abstrato continua sendo de 8 anos. Ridículo. Isso nem cai.
Eu estou preparando vocês para o que cai.

Prescrição é matéria de ordem pública. Pode ser reconhecida a qualquer tempo (art. 61,
do CPP):

Art. 61 - Em qualquer fase do processo, o juiz, se


reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.

Ato infracional prescreve? Atos infracionais são aqueles crimes e contravenções penais
praticados por menores infratores, ficando sujeitos às medidas do ECA. O que é prescrição? É a
perda do direito de punir ou executar punição. Você pune ato infracional?

1ª Corrente – “Sabendo que prescrição é perda do direito de punir ou executar punição


já imposta; sabendo que o ato infracional não é punido, mas sim corrigido (medida sócio-
educativa), não há que se falar em prescrição.”

2ª Corrente – “Considerando que os crimes prescrevem, por analogia, os atos


infracionais também prescrevem, havendo sim uma carga punitiva nas medidas impostas ao
menor infrator.”

Qual das duas prevalece? A segunda corrente está sumulada no STJ:

STJ Súmula nº 338 - DJ 16.05.2007 - Prescrição Penal -


Medidas Sócio-Educativas - A prescrição penal é aplicável nas
medidas sócio-educativas.

b) Prescrição da Pretensão Punitiva SUPERVENIENTE ou


INTERCORRENTE

Previsão legal: art. 110, § 1º - É esta espécie e a próxima que cai.

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§ 1º - A prescrição, depois da sentença condenatória com


trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu
recurso, regula-se pela pena aplicada.

Vou explicar o espírito. Antes da sentença irrecorrível não dá para saber qual é a pena.
Antes da sentença irrecorrível eu trabalho com a pena em abstrato. A pena, se for imposta abaixo
do máximo não tem como chegar no máximo diante de um recurso da defesa porque não há
reformatio in pejus.

“Antes da sentença irrecorrível, não se sabe qual a quantidade ou tipo de pena a ser
fixada pelo juiz, razão pela qual o lapso prescricional regula-se pela pena máxima em abstrato.
Contudo, fixada a pena, ainda que provisoriamente, transitando em julgado para a acusação
(ou sendo o seu recurso improvido), não mais se justifica considerar a pena máxima em
abstrato, já que, mesmo diante do recurso da defesa, é proibida a reformatio in pejus. Surge,
então, um novo norte para a prescrição: pena recorrível aplicada na sentença.”

A pena do juiz virou a pena máxima e é essa pena que será jogada no art. 109.

Características dessa espécie de prescrição:

 1ª Característica: Pressupõe sentença ou acórdão penal condenatório.


 2ª Característica: Os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109, do Código
Penal.
 3ª Característica: Pressupõe trânsito em julgado para a acusação com relação à pena
aplicada – É a característica mais importante a ser analisada.
 4ª Característica: Conta-se a prescrição da data da publicação da condenação até o
trânsito em julgado final.
 5ª Característica: Tem os mesmos efeitos da pretensão da prescrição punitiva em
abstrato (vide pág. 182).

Exemplo: Furto simples: 1 a 4 anos. Da data do fato, o Estado tem 8 anos para receber a
inicial, segundo a escala do art. 109. Recebida a inicial, zera o cronômetro. Ate a próxima causa
interruptiva, que é a publicação da sentença, o Estado está sujeito à pretensão punitiva em
abstrato. Continuamos falando dela. O Estado condena o furtador a uma pena de um ano. Olha a
pegadinha: aqui você vai ter que considerar o seguinte detalhe: se o MP recorre e tem o seu
recurso provido, você está falando da prescrição da pretensão punitiva em abstrato e o Estado
tem 8 anos. Você não pode falar em prescrição da pretensão superveniente porque você ainda
está falando da prescrição da pretensa punitiva em abstrato e o Estado tem 8 anos para julgar
esse recurso.

Agora, se o MP não recorre, ou o recurso é improvido, é caso de prescrição da pretensão


superveniente e aí o prazo é de 4 anos. Por que? Porque eu vou trabalhar com a pena de 1 ano na
escala do art. 109.

Vamos supor que o juiz aplica o sursis. O MP recorre do sursis. Esse recurso do MP, só
com relação ao sursis, evita a prescrição da pretensão superveniente? Esse recurso, mantém a
prescrição em abstrato ou já posso falar em superveniente?

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“A doutrina moderna, acompanhada da jurisprudência, ensina que eventual recurso da


acusação só evita a prescrição intercorrente se, buscando o aumento da pena, for provido e a
reprimenda aumentada.”

Se o MP recorre de outra coisa que não o aumento de pena, eu já posso falar em


prescrição superveniente ou intercorrente.

Detalhe: Vamos supor que a publicação da sentença ocorre no dia 20/06/2000 e o trânsito
em julgado para o MP, dia 15/09/2000. Vocês já perceberam isso: a prescrição superveniente não
começa do trânsito em julgado do MP que é pressuposto. Ela começa da publicação da sentença.
O MP não recorre, não vai correr do dia em que transita em julgado para o MP. Vai correr da
publicação. O trânsito em julgado para o MP é só um pressuposto. Você tem que retroagir ao
termo inicial que é a publicação.

O juiz de primeiro grau pode reconhecer essa prescrição?

 1ª Corrente: “Já havendo sentença, encontra-se esgotada a atividade


jurisdicional de primeiro grau, não podendo o juiz reconhecer essa espécie de
prescrição. Capez.”

 2ª Corrente: “A prescrição é matéria de ordem pública. Pode ser reconhecida


pelo juiz a qualquer tempo. Luiz Flávio Gomes e a maioria da jurisprudência.”

c) Prescrição da Pretensão Punitiva RETROATIVA

Previsão legal: art. 110, § 2º:

§ 2º - A prescrição, de que trata o parágrafo anterior


(prescrição superveniente), pode ter por termo inicial data anterior
à do recebimento da denúncia ou da queixa.

O que vocês viram comigo? Que da data do fato até a publicação da condenação e desta
até o trânsito definitivo, eu tenho a prescrição em abstrato. Detalhe: se essa condenação transitou
em julgado para a acusação, o que eu tenho da publicação da condenação até o trânsito
definitivo? Eu tenho a prescrição da pretensão punitiva superveniente. O § 2º diz o seguinte: Se
transitou em julgado para a acusação, esse termo também pode ser contado para trás. É a
prescrição da pretensão retroativa. Uma conta da sentença para frente, a outra da sentença para
trás.

“As características da prescrição retroativa são idênticas às da superveniente (pág.


186), com a peculiaridade de contar-se o prazo prescricional retroativamente (da condenação
até o recebimento da inicial e do recebimento da inicial até a data do fato).”

A única diferença é que você vai trocar a setinha.

Furto simples: Pena de 1 a 4 anos. Quanto tempo o Estado tem da data do fato até o
recebimento da inicial? 8 anos. Vamos supor que o Estado recebeu a inicial depois de 7 anos.
Não ocorreu a prescrição. Quanto tempo o Estado tem do recebimento da inicial até a publicação
da condenação? Mais oito anos. Vamos supor que o Estado condenou em 1 ano. Da pena de um
ano, o MP não recorre. Se não recorre, nasceu o pressuposto que eu precisava para não falar mais

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em prescrição em abstrato. Agora estou falando ou da prescrição superveniente ou da retroativa.


A pena de 1 ano, na escala do art. 109, dá 4 anos. A prescrição retroativa conta da condenação
para trás. Pergunto: entre a condenação e o recebimento da inicial passaram-se 4 anos? Não. Não
posso falar em prescrição retroativa. E do recebimento da inicial à data do fato, ocorreu a
prescrição? Sim. Neste caso, posso falar em prescrição retroativa. Estou falando em retroativa
antes mesmo de falar na superveniente.

Vamos imaginar que não ocorresse a prescrição retroativa, aí já ia saber que o Estado
tinha para julgar o recurso da defesa o tempo de 4 anos. Se eu não tenho prescrição retroativa,
fica a esperança para a defesa dos tribunais não julgarem o seu recurso em 4 anos.

d)Prescrição da Pretensão Punitiva VIRTUAL ou ANTECIPADA ou EM


PERSPECTIVA

Previsão legal: Não tem.

Vou dar um exemplo: Furto simples (pena de 1 a 4 anos). Do fato à inicial é prescrição da
pretensão punitiva. Vamos supor que eu estou diante de um furtador primário, bons
antecedentes, não há agravantes. O MP demora 5 anos para oferecer a denúncia. Já dá para
imaginar, em perspectiva, a pena que será aplicada para ele? A pena de 1 ano, fatalmente, vai ser
a pena máxima e o MP possivelmente não vai recorrer. E aí eu vou aplicar prescrição retroativa
e, ao fazer isso, o que vou observar? Que já ocorreu a prescrição retroativa entre o recebimento
da inicial e a data do fato. Estou antevendo uma prescrição retroativa. Falta interesse de agir.
Para quê movimentar o Estado se eu tenho a prescrição retroativa?

“O juiz, analisando as circunstâncias objetivas e subjetivas que rodeiam o fato, pode


antecipar o reconhecimento da prescrição retroativa, caso de falta de interesse de agir do autor.
Assim, se o magistrado no momento do recebimento da inicial ou da sentença, percebe que a
futura pena a ser aplicada ao agente acarretará certamente a prescrição retroativa, reconhece
a extinção da punibilidade em perspectiva ou de forma antecipada.”

O STF não admite essa espécie de prescrição!

No STJ isso não é problema. O problema está no STF.

A PRESCRIÇÃO DA PRESENSÃO EXECUTÓRIA

Previsão legal: Art. 110, caput.

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a


sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se
nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um
terço, se o condenado é reincidente.

Depois que transitou em julgado definitivamente, a pena imutável é a que vai gerar a
prescrição da pretensão executória. É essa que você vai jogar no art. 109. Agora, se você for
reconhecido como reincidente, o prazo da prescrição executória vai ser aumentado de 1/3.

Vamos supor que a pena definitiva seja de 6 anos. Se você for considerado reincidente,
você vai jogar a pena de 6 anos, colocar na escala do art. 109 e chego na prescrição de 12 anos.

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LFG – PENAL – Aula 15 – Prof. Rogério Sanches – Intensivo I – 19/05/2009

Como você foi considerado reincidente, vou aumentar esses 12 anos de 1/3. Aumenta o lapso
prescricional para 16 anos.

Detalhe importante: A reincidência só aumenta de um terço a prescrição executória. Não


dá para aumentar de 1/3 a prescrição punitiva. Não é possível estender esse aumento para a
prescrição punitiva.

Concurso de crimes: No caso de concurso de crimes, cada um prescreve isoladamente


(art. 119, do CP). Você foi condenado a 4 estelionatos, cada um deles prescreve isoladamente.

“Reconhecida a prescrição da pretensão executória, cinde-se a pena aplicada, sem,


contudo, rescindir a sentença condenatória que produz efeitos penais e extrapenais.”

Quando essa prescrição se inicia? Do trânsito em julgado? Do trânsito em julgado para o


MP? Da publicação da condenação?

A prescrição da pretensão executória, apesar de eu só poder falar nela no trânsito em


julgado definitivo, ela vai começar a contar do trânsito em julgado para a acusação. Eu só falo de
prescrição da pretensão executória quando eu tenho o trânsito em julgado definitivo, mas o seu
termo inicial se dá com o trânsito em julgado da sentença. Isso está no art. 112:

Art. 112 - No caso do Art. 110 deste Código, a prescrição


começa a correr:
I - do dia em que transita em julgado a sentença
condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional;
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando
o tempo da interrupção deva computar-se na pena.

A prescrição da pretensão pode ser interrompida? Sim. São duas as causas: Inciso V e VI
do art. 117.

BALIZAS PARA A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA:

 1ª Baliza – Data do trânsito em julgado para a acusação até o início ou


continuação da pena e pela reincidência. Transitou em julgado para a acusação.
Ele cumpre a pena e, no meio do cumprimento, ele foge.
 2ª Baliza – Data da fuga até a captura.- Novo prazo inteirinho para tentar te
capturar.
Pergunta: Ele tinha 3 anos de pena para cumprir. Cumpriu dois anos e fugiu. O lapso
prescricional que começa a contar da fuga é com relação a pena total ou com relação à pena que
falta para cumprir? Se você considerar a pena imposta, o Estado tem doze anos para recapturar.
Se você considerar a pena que resta cumprir, o Estado tem oito anos. E aí, o que prevalece?

Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de


revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo
tempo que resta da pena.

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