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Conceito
Crimes imprescritíveis
Todo crime, por mais grave que seja prescreve. Não há crime que não prescreva. Nossa
Constituição, contudo, prevê duas hipóteses de imprescritibilidade:
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LFG – PENAL – Aula 15 – Prof. Rogério Sanches – Intensivo I – 19/05/2009
Se você encarou o fato como racismo e é injúria qualificada, você está imaginando que
não prescreve, mas prescreve. Você está imaginando que é ação pública, mas é privada e
depende de prazo decadencial de seis meses.
Ocorre que todo mundo chama isso de racismo e a doutrina vem chamando de racismo
impróprio. A gravação está muito ruim. Não ouvi direito.
TORTURA prescreve?
A tortura não está no rol dos delitos imprescritíveis. A Constituição Federal de 1988 diz
que tortura prescreve. Porém, o Tratado de Roma (Crimes contra a Humanidade), que é o tratado
que cria o TPI (Tribunal Penal Internacional), ratificado pelo Brasil depois de 1988, diz que os
crimes do TPI não prescrevem. E entre os crimes do TPI eu tenho os crimes de tortura. Para a
constituição, tortura não prescreve, já para o Tratado de Roma, tortura não prescreve. O tratado
de Roma foi aprovado com quorum comum, portanto, tem status supralegal (teria status
constitucional se tivesse sido aprovado com o quorum qualificado de emenda). E agora? A
Constituição diz que tortura prescreve o tratado diz que não.
ESPÉCIES de prescrição
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A prescrição da pretensão punitiva não gera reincidência, não pode ser executada no
cível. Já a prescrição da pretensão executória, gera reincidência e pode ser executada no cível,
sim.
Não importa qual das quatro, nenhuma vai fazer sobrar nenhum efeito. A Executória está
prevista no art. 110, caput, do Código Penal. Nós vamos estudar as quatro espécies de pretensão
punitiva e eu termino estudando a executória.
Antes de partir apara as quatro espécies, eu pergunto: Por que existe prescrição? Qual o
fundamento da prescrição? Tudo se resume no seguinte:
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Quanto mais grave é o crime, mais tempo há para punir. Quanto menos grave é o crime,
menos tempo há para punir.
“Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do delinquente, deve dizer quando essa
punição já não mais o interessa. Eis a finalidade do art. 109, do CP.”
O Estado norteia esse prazo com base na gravidade do crime. Quanto maior a pena
máxima em abstrato, maior tempo eu tenho para te punir.
“Sendo incerta a quantidade ou o tipo da pena que será fixada pelo juiz na sentença, o
prazo prescricional é resultado da combinação da pena máxima abstratamente prevista no tipo
e as causas do art. 109 .”
Se o crime praticado foi um homicídio, o Estado trabalha o seu direito punitivo com base
em 20 anos. Se eu pegar o homicídio e jogar no art. 109, você vê isso.
Exemplo: Máxima prevista para o crime: 12 anos. Mas ele foi tentado. Eu tenho que
considerar a tentativa foi de 1 a 2/3. Eu tenho que encontrar a pena máxima reduzida do mínimo
da tentativa, que é 1/3. Aí eu chego à pena máxima desse crime tentado para combinar na escala
do art. 109.
Vamos supor que você tem que considerar a causa de aumento. Será o maior ou menor
aumento? O maior aumento pois estamos trabalhando com a teoria da pior das hipóteses.
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Para saber qual é a pena máxima, considera-se agravante ou a atenuante de pena? A lei
diz qual é o patamar da agravante? A lei diz qual é o patamar da atenuante? Não. Isso fica a
critério do juiz. Então, a resposta é não. Não considera agravante e nem atenuante de pena.
Exceção: Tem atenuante de pena que vai ser considerada para redução do cálculo
prescricional: Art. 115, do CP. O art. 115 vai reduzir o prazo prescricional pela senilidade ou
menoridade da vítima.
Eis uma atenuante que é considerada pelo juiz na fixação do prazo prescricional.
Quando o juiz declara a prescrição, você não foi nem absolvido e nem condenado. O juiz
não analisou o mérito.
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O art. 111 traz uma regra e três hipóteses especiais. A regra está no inciso I: inicia-se a
prescrição no dia em que o crime se consumou. Esta é a regra. Aqui há que se lembrar que o
prazo é penal, incluindo o dia do início e exclui-se o do fim.
Inciso I – Regra.
Inciso II – No caso de tentativa, a prescrição começa a correr do último ato executório,
claro.
Inciso III – Prevê hipótese excepcional. Crime permanente: enquanto não cessar a
permanência, não corre a prescrição.
Inciso IV – Crimes como o de falsificação de assentamento do registro civil só tem
iniciada a prescrição quando são conhecidos.
Nos arts. 111 e 117 estão as balizas prescricionais. O art. 117 trata das hipóteses da
prescrição que podem ser interrompidas e quando eu falo isso, significa que o relógio vai ser
zerado. O cronômetro vai ser zerado. Eu vou ter considerado um ato já decorrido.
É preciso saber diferenciar as balizas em dois ritos diferentes: do rito do júri e do rito que
não seja do júri. Presta atenção!
Início – Data do fato, art. 104, CP. Iniciada, a prescrição corre até o recebimento da
inicial (art. 117, I, do CP). Recebida a inicial, interrompe. Zera o cronômetro. Desconsidera-se o
tempo passado. Se o Estado tinha 8 anos para receber a inicial, do recebimento da inicial esse
prazo é zerado. Do despacho do juiz que recebe a inicial, todo o prazo é zerado.
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Nós estamos analisando as balizas prescricionais. Você tem que distinguir o rito. Se o rito
não é o júri, se o crime prescreve em oito anos e entre a data do fato e o recebimento da denúncia
o tempo transcorrido foi menor que 8 anos, zera tudo e conta-se mais 8 anos para poder publicar
a sentença condenatória que é o próximo marco prescricional. Publicada a sentença condenatória
dentro dos 8 anos, conta-se mais 8 anos para julgar definitivamente o fato. O que interrompe a
prescrição é a publicação da sentença condenatória. Acórdão confirmatório não interrompe. E se
o acórdão reduz a pena? Ele está, de qualquer forma, confirmando a condenação, não interrompe
a prescrição. Para interromper a prescrição, ele tem que ser o primeiro a condenar.
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balizas seriam? Apenas três porque ele não iria para o júri. Surgiram duas causas interruptivas
entre o recebimento e a condenação. Se houvesse o procedimento certo, não haveria essas duas
causas interruptivas. Pergunto: Se os jurados condenaram por homicídio culposo, pode o juiz
fazer o cálculo retroativo, desconsiderando essas duas causas interruptivas, já que se ele tivesse
sido denunciado corretamente, esse seria o rito? A resposta está na Súmula 191, do STJ:
Qual é a pena do furto simples? 1 a 4 anos. Quanto tempo o Estado tem da data do fato
até o recebimento da inicial? Qual é prazo da prescrição da pretensão punitiva estatal? Você pega
quatro anos e vai colocar na escala do art. 109. O crime que tem pena máxima prevista de 4 anos,
tem o Estado 8 anos para punir. Do recebimento da inicial até a publicação da sentença
condenatória, o estado volta a ter mais 8 anos (prescrição da pretensão punitiva em abstrato).
Publicou a sentença condenatória, o estado tem mais 8 anos para julgar definitivamente. A
prescrição da pretensão punitiva em abstrato continua sendo de 8 anos. Ridículo. Isso nem cai.
Eu estou preparando vocês para o que cai.
Prescrição é matéria de ordem pública. Pode ser reconhecida a qualquer tempo (art. 61,
do CPP):
Ato infracional prescreve? Atos infracionais são aqueles crimes e contravenções penais
praticados por menores infratores, ficando sujeitos às medidas do ECA. O que é prescrição? É a
perda do direito de punir ou executar punição. Você pune ato infracional?
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Vou explicar o espírito. Antes da sentença irrecorrível não dá para saber qual é a pena.
Antes da sentença irrecorrível eu trabalho com a pena em abstrato. A pena, se for imposta abaixo
do máximo não tem como chegar no máximo diante de um recurso da defesa porque não há
reformatio in pejus.
“Antes da sentença irrecorrível, não se sabe qual a quantidade ou tipo de pena a ser
fixada pelo juiz, razão pela qual o lapso prescricional regula-se pela pena máxima em abstrato.
Contudo, fixada a pena, ainda que provisoriamente, transitando em julgado para a acusação
(ou sendo o seu recurso improvido), não mais se justifica considerar a pena máxima em
abstrato, já que, mesmo diante do recurso da defesa, é proibida a reformatio in pejus. Surge,
então, um novo norte para a prescrição: pena recorrível aplicada na sentença.”
A pena do juiz virou a pena máxima e é essa pena que será jogada no art. 109.
Exemplo: Furto simples: 1 a 4 anos. Da data do fato, o Estado tem 8 anos para receber a
inicial, segundo a escala do art. 109. Recebida a inicial, zera o cronômetro. Ate a próxima causa
interruptiva, que é a publicação da sentença, o Estado está sujeito à pretensão punitiva em
abstrato. Continuamos falando dela. O Estado condena o furtador a uma pena de um ano. Olha a
pegadinha: aqui você vai ter que considerar o seguinte detalhe: se o MP recorre e tem o seu
recurso provido, você está falando da prescrição da pretensão punitiva em abstrato e o Estado
tem 8 anos. Você não pode falar em prescrição da pretensão superveniente porque você ainda
está falando da prescrição da pretensa punitiva em abstrato e o Estado tem 8 anos para julgar
esse recurso.
Vamos supor que o juiz aplica o sursis. O MP recorre do sursis. Esse recurso do MP, só
com relação ao sursis, evita a prescrição da pretensão superveniente? Esse recurso, mantém a
prescrição em abstrato ou já posso falar em superveniente?
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Detalhe: Vamos supor que a publicação da sentença ocorre no dia 20/06/2000 e o trânsito
em julgado para o MP, dia 15/09/2000. Vocês já perceberam isso: a prescrição superveniente não
começa do trânsito em julgado do MP que é pressuposto. Ela começa da publicação da sentença.
O MP não recorre, não vai correr do dia em que transita em julgado para o MP. Vai correr da
publicação. O trânsito em julgado para o MP é só um pressuposto. Você tem que retroagir ao
termo inicial que é a publicação.
O que vocês viram comigo? Que da data do fato até a publicação da condenação e desta
até o trânsito definitivo, eu tenho a prescrição em abstrato. Detalhe: se essa condenação transitou
em julgado para a acusação, o que eu tenho da publicação da condenação até o trânsito
definitivo? Eu tenho a prescrição da pretensão punitiva superveniente. O § 2º diz o seguinte: Se
transitou em julgado para a acusação, esse termo também pode ser contado para trás. É a
prescrição da pretensão retroativa. Uma conta da sentença para frente, a outra da sentença para
trás.
Furto simples: Pena de 1 a 4 anos. Quanto tempo o Estado tem da data do fato até o
recebimento da inicial? 8 anos. Vamos supor que o Estado recebeu a inicial depois de 7 anos.
Não ocorreu a prescrição. Quanto tempo o Estado tem do recebimento da inicial até a publicação
da condenação? Mais oito anos. Vamos supor que o Estado condenou em 1 ano. Da pena de um
ano, o MP não recorre. Se não recorre, nasceu o pressuposto que eu precisava para não falar mais
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Vamos imaginar que não ocorresse a prescrição retroativa, aí já ia saber que o Estado
tinha para julgar o recurso da defesa o tempo de 4 anos. Se eu não tenho prescrição retroativa,
fica a esperança para a defesa dos tribunais não julgarem o seu recurso em 4 anos.
Vou dar um exemplo: Furto simples (pena de 1 a 4 anos). Do fato à inicial é prescrição da
pretensão punitiva. Vamos supor que eu estou diante de um furtador primário, bons
antecedentes, não há agravantes. O MP demora 5 anos para oferecer a denúncia. Já dá para
imaginar, em perspectiva, a pena que será aplicada para ele? A pena de 1 ano, fatalmente, vai ser
a pena máxima e o MP possivelmente não vai recorrer. E aí eu vou aplicar prescrição retroativa
e, ao fazer isso, o que vou observar? Que já ocorreu a prescrição retroativa entre o recebimento
da inicial e a data do fato. Estou antevendo uma prescrição retroativa. Falta interesse de agir.
Para quê movimentar o Estado se eu tenho a prescrição retroativa?
Depois que transitou em julgado definitivamente, a pena imutável é a que vai gerar a
prescrição da pretensão executória. É essa que você vai jogar no art. 109. Agora, se você for
reconhecido como reincidente, o prazo da prescrição executória vai ser aumentado de 1/3.
Vamos supor que a pena definitiva seja de 6 anos. Se você for considerado reincidente,
você vai jogar a pena de 6 anos, colocar na escala do art. 109 e chego na prescrição de 12 anos.
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Como você foi considerado reincidente, vou aumentar esses 12 anos de 1/3. Aumenta o lapso
prescricional para 16 anos.
A prescrição da pretensão pode ser interrompida? Sim. São duas as causas: Inciso V e VI
do art. 117.
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