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O LIVRO DE JOSUÉ

Este livro registra a história dos israelitas sob a liderança de Josué (cujo nome significa “Yahweh é
a salvação”), filho de Num, sucessor de Moisés, descrevendo a conquista de Canaã e a distribuição
da terra entre as tribos. Em um certo sentido, Josué pode ser considerado uma continuação do
Pentateuco, pois dá prosseguimento à narração de Deuteronômio e apresenta o cumprimento da
promessa feita aos patriarcas e a Moisés. Os fatos narrados neste livro ocorreram entre 1235 e 1200
a.C.

O Comissionamento de Josué e a União do Povo

Em Josué 1:-9 encontramos a narrativa do chamado que Josué recebeu de Deus para completar a
obra iniciada por Moisés, conquistando a terra prometida. É um belo texto, em cuja mensagem
devem refletir todos os servos de Deus.

Uma das primeiras preocupações de Josué foi lembrar aos membros das tribos de Rúben, Gade e
Manassés, que já tinham se estabelecido próximo à Canaã, com autorização de Moisés, que eles
também deveriam lutar para garantir a terra para seus irmãos, conforme anteriormente acordado
(1:12-18). Como vemos no texto bíblico, o compromisso anteriormente firmado foi honrado sem
problemas.

Espias São Enviados a Jericó (Capítulo 2)

Josué enviou dois espiões à cidade de Jericó, primeira das cidades fortificadas de Canaã, que ficava
logo após o Rio Jordão. Lá chegando, eles foram abrigados por uma prostituta de nome Raabe, que
explicou-lhes que havia grande temor entre o povo de Jericó, o qual já conhecia a fama dos
israelitas, como povo abençoado e fortalecido por Deus. Ela escondeu-os no teto de sua casa,
embaixo de um monte de linho que secava ao sol, evitando com isso que fossem presos pelo Rei de
Jericó. Em troca da proteção recebida, os espiões prometeram a Raabe que poupariam sua vida e de
sua família quando a cidade fosse tomada.

Quando regressaram, os espiões concluíram que Deus tinha realmente entregue a cidade ao seu
povo, devido ao medo que os habitantes de Jericó estavam sentido (veja 2:24).

O Rio Jordão é Aberto (3:1:17)

Os israelitas ficaram acampados três dias na margem do Rio Jordão, do lado oposto à Jericó. Deus
mandou que Josué reunisse o povo e o fizesse marchar, tendo à frente a arca da aliança. Quando os
sacerdotes que a conduziam pisaram na água, esta se abriu, num milagre similar à abertura do Mar
Vermelho. Este fato foi de extrema importância na legitimação da autoridade de Josué diante do
povo.

Para marcar a história de tão importante milagre, Deus ordenou a Josué que fossem retiradas doze
pedras do local onde os sacerdotes ficaram parados com a arca e com elas se fizesse uma espécie de
monumento, com cada pedra representando uma das tribos de Israel.
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Rituais Retomados: Circuncisão e Páscoa (5:2-12)

No momento em que os israelitas começavam a conquista da terra, era importante que fosse
reafirmada a fé em Deus, o verdadeiro autor da história de libertação por eles vivenciada. Assim,
Josué comandou o rito da circuncisão e a celebração da Páscoa, duas importantes marcas da aliança
com o Pai.

O Anjo do Senhor Aparece a Josué (5:13-15)

Próximo a Jericó Josué viu à sua frente um homem com uma espada desembainhada, indagando-lhe
se era aliado ou inimigo. Este então identificou-se como o Anjo do Senhor, príncipe do exército dos
céus. Josué prostou-se, então diante dele e pediu-lhe instruções. O Anjo então lhe ordenou: “tira os
sapatos dos pés, porque o lugar em que estás é santo” (5:15).

Vale destacar nesta passagem o fato do Anjo ter se limitado a dar uma única instrução - tirar os
sapatos em sinal de reverência. O significado maior desta instrução única é que, quando Deus está
pelejando a nosso favor, à frente de nossos desafios, cabe-nos unicamente submeter-nos à Sua
disciplina, seguir seus mandamentos com reverência e temor.

A Queda de Jericó (6:1-27)

A conquista de Jericó é uma das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento, representando
um marco do poder de guerra concedido por Deus ao povo escolhido. Para que ficasse bem claro
que a conquista não era fruto da força do exército israelita e sim da intervenção sobrenatural de
Deus, a queda das muralhas que cercavam a cidade ocorreu em um ritual ordenado pelo Senhor.

Durante seis dias, o povo marchou em torno da cidade, tendo a frente a arca da aliança e sete
sacerdotes tocando trombetas. No sétimo dia, a cidade foi rodeada sete vezes e, a seguir, os
sacerdotes tocaram longamente suas trombetas. Todo o povo bradou em alta voz e as muralhas
ruíram de forma miraculosa.

Os israelitas tomaram para si a Jericó e destruíram completamente todos os vestígios dos antigos
moradores, de acordo com a instrução recebida de Deus, poupando apenas a Raabe e sua família,
em função do pacto anteriormente firmado.

A Desobediência de Acã e a Derrota dos Isaelitas (7:1-5)

Acã, um dos homens da tribo de Judá, desobedeceu à ordem de destruir tudo o que encontrasse em
Jericó, tomou para si alguns pertences. Com isso, a ira do Senhor se acendeu contra os israelitas,
fazendo com que eles fossem derrotados pelos habitantes de Ai, uma pequena cidade que, de tão
fraca militarmente, fez com que Josué designasse apenas parte do exército israelita para a batalha
que julgava fácil.

Este acontecimento nos traz duas importantes lições: i) devemos ter cuidado para que não
venhamos a nos contaminar com as coisas do mundo, o que enfraquecerá a nossa fé e entristecerá a
Deus; ii) se com Deus tudo podemos (até derrubar uma forte muralha apenas com um brado), sem
Ele somos presas fáceis das dificuldades, podendo sucumbir mesmo aos problemas que nos
parecem menores.
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Quanto a Acã, foi severamente punido, segundo o mandamento de Deus, sendo apedrejado e
queimado, juntamente com toda sua família e todos os seus pertences. O castigo lhe foi imposto
depois que Josué lançou sorte sobre as doze tribos, sendo indicada a de Judá; lançou novamente
sobre as famílias (subdvisões das tribos) e foi indicada a dos Zeraítas; sobre a casa, recaindo sobre a
de Zabdi e, finalmente, sobre cada homem desta casa, sendo revelado que fora Acã o pecador, fato
que o próprio confirmou, causando grande furor no povo.

A Destruição de Ai (8:1-29)

Como vimos, em função do pecado do povo, os israelitas foram derrotados pelo exército de Ai,
uma pequena cidade que, não fosse a mão de Deus ter pesado sobre eles, teriam vencido com
grande facilidade. Punido o responsável pela ira do Senhor, Josué venceu a nova batalha, armando
uma emboscada contra o Rei de Ai e seu exército: parte dos israelitas vieram pela frente, atraindo
sua atenção, enquanto a outra parte atacava a cidade por trás, queimando-a e destruindo-a por
inteiro, conforme era ordenado por Deus em relação às terras conquistadas.

Aliança de Diversos Reis Contra Israel e o Pacto com os Gibeonitas (9:1-27)

Tendo sabido das vitórias obtidas pelos israelitas contra Jericó e Ai, diversos povos vizinhos
(heteus, amorreus, cananeus, heveus e jebuzeus) firmaram uma aliança para lutarem contra Josué e
seu exército.

Os moradores de Gibeão julgaram ser melhor unir-se aos israelitas do que lutar contra eles. Assim,
disfarçaram-se com roupas velhas, como se estivessem vagando há muito tempo pelo deserto e se
apresentaram aos israelitas como forasteiros vindos de terras distantes. Mentiram deste modo
porque souberam que os israelitas iriam destruir todos os povos que habitavam a terra de Canaã.
Josué firmou o pacto, mas três dias depois descobriu a mentira. Não pôde, no entanto, matá-los,
porque tinha feito juramento de que lhes pouparia a vida (naquela época, um juramento não era
quebrado, ainda que a pessoa fosse vítima de um golpe). Assim, os gibeonitas ficaram habitando no
meio de Israel, sendo usados como servos para trabalhos como rachar lenha e tirar água de poços.

A Derrota dos Cinco Reis Amorreus - O Sol e a Lua Param (10:1-15)

Os reis de Jerusalém, Hebrom, Jarmute, Laquis e de Eglom, sabendo da aliança que os gibeonitas
firmaram com os israelitas, resolveram se juntar e invadir Gibeão. Os gibeonitas pediram socorro a
Josué, que os acudiu de imediato.

Durante a batalha contra os amorreus, aconteceu um dos milagres mais impressionantes narrados na
Bíblia: Josué orou e Deus fez com que o sol e a lua parassem. Isso ocorreu porque os israelitas
marcharam de madrugada e queriam chegar ao acampamento inimigo antes da alvorada, pegando-
os de surpresa. Os amorreus foram totalmente derrotados pelo exército de Israel, contra quem
ninguém podia, uma vez que possuía a unção do Senhor.
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Outras Conquistas de Josué

Os capítulos 11 e 12 narram as outras batalhas que os israelitas precisaram enfrentar para


conquistarem a terra prometida. Em nenhuma delas encontraram dificuldades, visto que o Senhor
estava com eles, entregando em suas mãos os seus adversários.

Terra: Um Dom Bendito de Deus

A partir do capítulo 13 até o 21, é narrada a partilha da terra entre as tribos de Israel. Josué manteve
sempre a preocupação de promover uma partilha justa, de modo a que cada família ficasse com
uma porção de terra suficiente para suas necessidades e ninguém ficasse com terras além do
necessário.

Os israelitas tinham consciência de que a terra é um dom de Deus, não devendo ser dominada de
maneira egoísta. Diversos outros trechos da Bíblia confirmam essa convicção (veja, por exemplo,
Levítico 25:23).

Hoje nossa sociedade enfrenta uma série de problemas devido à má distribuição de terras. Os
lavradores sem acesso à terra migram para a cidade, onde não conseguem empregos adequados e
têm que morar em condições subumanas. A miséria, o desemprego, a favelização das cidades, a
violência e o alto preço dos alimentos são algumas das conseqüências de uma distribuição de terras
injustas. A reforma agrária não é apenas um clamor de líderes de movimentos de sem terra ou de
políticos. É o cumprimento da vontade do Senhor, que não quer ver latifundiários com fazendas
improdutivas tão grandes que só conseguem percorrer de avião, enquanto a maioria do povo não
tem terra para plantar. É por isso que a nossa igreja tem apoiado a luta pela redivisão das terras no
Brasil.

O Discurso de Despedida de Josué (capítulos 23 e 24)

Sendo Josué já idoso quando a conquista e a distribuição da terra terminaram, ele sentiu que sua
missão estava cumprida e que o Senhor não tardaria em tomá-lo para si. Assim, reuniu o povo e
fez-lhes um discurso de despedida, destacando a importância de que permanecessem fiéis a Deus, o
qual tinha renovado de tal modo suas forças que “Um só homem dentre vós persegue a mil, pois o
Senhor vosso Deus é quem peleja por vós” (23:10). Alertou, mais uma vez, que eles não deveriam
misturar-se com os povos conquistados, tomando para si mulheres estrangeiras, pois isso os levaria
a proceder de modo infiel a Deus, sendo então castigados. Em resposta a esse discurso, o povo
jurou fidelidade a Deus, sendo erguido por Josué um monumento de pedra para marcar a renovação
da aliança.

Josué morreu aos cento e dez anos de idade e foi sepultado em Efraim, local que tinha sido
reservado à sua família durante a divisão das terras.
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O LIVRO DE JUÍZES

Este livro narra a história do povo de Israel entre os anos 1200 e 1020 a.C. Como vimos em Josué,
por ocasião da conquista israelita, Canaã era um complexo de cidades-estado habitadas por diversos
grupos étnicos. Esta foi uma época de declínio das grandes potências de então, a começar pelo
Egito. Com isso, os israelitas não encontraram muita resistência na ocupação das terras cananéias.

Um dos povos mais fortes da vizinhança era o filisteu, que habitava o litoral meridional da
palestina. Era um povo mais adiantado que os israelitas, dominando técnicas agrícolas mais
avançadas e já tinha ingressado na chamada “Idade do Ferro”. Os filisteus são citados várias vezes
no livro de Juizes como adversários dos israelitas.

Os juizes foram líderes que governaram o povo de Israel após Josué e antes da instituição da
monarquia, quando Saul foi coroado rei. Diferentemente dos reis, os juizes não detinham um forte
poder pessoal, limitando-se mais a aplicar a lei do Senhor. Conforme veremos posteriormente, essa
situação era mais agradável aos olhos de Deus, uma vez que os reis tendem, como de fato
aconteceu, a adotar um governo muito personalista, acabando por contrariar a vontade do Pai.

O livro tem, além da narrativa histórica, uma forte conotação teológica. Nele, Yahweh tem
realçadas suas características fundamentais, que o diferenciam dos deuses dos povos cananeus. Ele
é apresentado em Juizes como um Deus pessoal, transcendente, livre, moral, com plena consciência
de propósito e com uma atividade intensa e definitiva para a natureza e a história. Duas
características fundamentais atribuídas a Deus em Juizes são a santidade e o ciúme. Essas
qualidades foram fundamentais como orientadoras do povo, que deveria buscar a santidade e jamais
servir a outros deuses. O ciúme seria a força motivadora de Deus para assegurar o que é dele para si
e para o povo que escolhera, não permitindo a intromissão de outros deuses e outros povos. A partir
dessas características básicas, são atribuídos os seguintes papéis a Deus:

· Yahweh como o Senhor da história - Deus, de sua morada celeste, traçou o destino da terra e
despachou os seus mensageiros para transmitirem a sua palavra aos servos terrestres (ex.:
2:1-4). Sua soberania é absoluta, cabendo a Ele decidir e conduzir as guerras contra as
outras nações, dando a vitória ao povo escolhido, caso esse estivesse fiel e merecedor. O
exército israelita tinha um pequena importância nas lutas, pois era Deus quem
verdadeiramente lutava.

· Yahweh e os deuses das nações - os deuses pagãos são apresentados neste livro como repulsivos
e ridículos, não possuindo poderes e devendo ser ferozmente combatidos pelos israelitas. As
vitórias de Israel sobre outros povos eram, também, a vitória de Jeová sobre outros deuses.
Assim foi, por exemplo, com Sansão, que mesmo tendo caído da graça e estando cego,
recebeu de Deus poder para derrubar o templo de Dagom, deus dos filisteus, o qual não
pôde evitar nem mesmo a ruína de seu próprio templo e salvar seus cultuadores. Outro
exemplo é encontrado na passagem em que Abimeleque manda por fogo no templo de El-
Berite, deus de Siquém, templo este que era uma fortaleza subterrânea mas que não resistiu
(9:45-49).

· Yahweh e a infidelidade do povo - os israelitas por várias ocasiões abandonaram os deuses de


seus pais (2:13; 10:6) e se prostituíram com outros deuses (2:17), transgredindo o pacto
firmado com Deus (2:20). Provocara a ira do Senhor (2:14), recusando-se a ouvir seus
juízes (2:17), desviando-se do caminho santo (2:19) e transgredindo a aliança da qual eram
herdeiros (2:20). A resposta do Senhor veio com o enfraquecimento do povo, a retirada de
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poder de seus líderes. Sansão cego e encarcerado é o símbolo maior do castigo de Deus
sobre os displicentes e infiéis.

Juízes Menores e Juízes Maiores

Havia dois diferentes tipos de juízes em Israel: os Menores, que eram chefes das tribos e os
Maiores, que surgiam em momentos de grande dificuldade, representando líderes carismáticos
que uniam e lideravam as tribos nas lutas contra os inimigos.

São os seguintes os juízes maiores citados neste livro:


· Otoniel (capítulo 3:5-11) - Era sobrinho de Calebe e libertou os israelitas do domínio de Cusã-
Risataim, rei da Mesopotâmia, em cujas mãos Deus tinha entregue o povo devido à sua
rebeldia em se casar com mulheres estrangeiras e prestar culto aos seus deuses. Julgou a
Israel com sabedoria, pois, conforme destaca 3:10 “Veio sobre ele o Espírito do Senhor”. A
terra ficou em paz durante os quarenta anos de seu governo.

· Eúde (cap. 3:12-30) - Após a morte de Otoniel, os israelitas voltaram a pecar, caindo por isso
debaixo da servidão de Eglom, rei dos moabitas, por dezoito anos. Tendo o povo clamado a
Deus, Ele levantou a Eúde, da tribo de Benjamin como libertador. Este era homem valente,
que matou ao rei Eglom (leia os versículos acima indicados) e depois comandou os israelitas
na batalha vitoriosa contra os edomitas.

· Débora e Baraque (cap. 4) - Após a vitória comandada por Eúde a terra ficou em paz por 80
anos. Logo, porém, os israelitas voltaram a pecar, caindo por isso sob o domínio de Jabim,
rei de Canaã, o qual durante vinte anos oprimiu duramente os israelitas. Ouvindo o clamor
de seu povo, Deus novamente se compadeceu e levantou a Baraque como libertador, usando
a profetisa Débora como portadora das instruções sobre como proceder e dando vitória ao
povo sobre seus inimigos. Débora compôs um cântico de louvor a Deus que está
reproduzido no capítulo 5 de Juízes.

· Gideão (cap. 6 a 9) - Este é um dos mais conhecidos personagens do livro de Juízes. Seu
chamamento se deu nas mesmas circunstâncias dos juízes anteriores: o povo pecou, Deus
entregou-o nas mãos de inimigos (os midianitas desta vez) e depois, quando houve clamor e
arrependimento, se compadeceu e levantou um líder para libertá-los. Gideão recebeu o
comissionamento diretamente do Anjo do Senhor (6:11-12), a quem pediu um sinal e foi
atendido (6:17-22). Um dos seus primeiros feitos foi por abaixo o altar e o poste-ídolo
dedicados a Baal, um dos deuses pagãos adorados pelos vizinhos de Israel e que, muitas
vezes, ganhou espaço em meio à idolatria.

Outra passagem bastante conhecida de Gideão foi a prova que ele fez com Deus para saber
se realmente Ele o estava comissionando (leia 6:36-40). Ainda mais famosa é a passagem
em que ele saiu com um numeroso exército mas foi instruído por Deus a ficar apenas com
300 homens, os mais prudentes. O método de seleção utilizado foi bastante diferente (leia
7:1-7).

Merece ainda destaque a humildade demonstrada por Gideão quando o povo quis fazê-lo
uma espécie de rei. Ele recusou a honraria, dizendo que a Deus pertencia o domínio (leia
8:22-23). Porém, a mesma humildade não teve um de seus filhos (eram setenta no total,
pois Gideão teve muitas mulheres). Abimeleque, filho de uma de suas concubinas arrogou-
se do direito de reinar sobre o povo, matando para isso todos seus irmãos, com exceção de
Jotão, que conseguiu fugir e denunciou o erro de seu irmão (9:7-21). Abimeleque alcançou
eu intento, mas logo a mão de Deus pesou sobre ele e ele foi morto (leia 9:50-57).
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· Jefté - cap. 10:6 a 12:6 - Mais uma vez os israelitas foram infiéis a Deus, servindo aos baalins e
às astarotes, que representavam, respectivamente, a idolatria ao deus da fertilidade - Baal e à
deusa tida como sua esposa/irmã - Astarte. Novamente eles se arrependeram e foram pedir
perdão ao Senhor. Deus mandou que o povo fosse pedir auxílio aos deuses estranhos que
vinham servindo. Tendo, porém, havido quebrantamento e sido retirados os altares de
adoração pagã, o Pai teve compaixão.

O povo, vendo-se atacado pelos amonitas, o povo pediu a Gileade que trouxesse de volta a
Jefté para ser o seu libertador. Merece destaque na história deste juiz o fato de ele ser filho
de uma prostituta (conforme 11:1) e por isso foi expulso de sua casa pelos irmãos que eram
filhos de seu pai, Gileade, com sua esposa. Ocorre que depois de ter sido expulso ele foi
habitar em outra terra, distante cerca de 24 Km, e formou uma turba de bandidos (conforme
11:3; I Sam. 22:2 e II Sam. 10:6-8), a qual constituia uma força militar significativa.

Jefté exigiu, para chefiar o exército israelita, que ficasse como cabeça sobre todos os
habitantes de Gileade. Este foi um preço alto, uma verdadeira humilhação para os israelitas:
ser chefiado por um bastardo e chefe de bandidos, mas não havia outra alternativa.

Este foi, portanto, um juiz bastante diferente os anteriores, não tendo recebido um
comissionamento especial de Deus, sendo antes fruto de circunstâncias e escolha direta e
pragmática do próprio povo.

A primeira medida de Jefté como líder foi tentar um acordo com os amonitas (11:12-28),
não obtendo êxito, porém. Então Deus ungiu a Jefté (11:29) com Seu Espírito e este fez o
seguinte voto: se o Senhor desse a vitória em suas mãos, quando ele voltasse para casa
ofereceria em holocausto a primeira pessoa que viesse ao seu encontro. Jefté obteve grande
vitória, enfraquecendo totalmente aos amonitas e, com isso, abrindo espaço para a expansão
das tribos de Gade e Manassés para as terras ao leste.

Quando Jefté retornou, sua filha, a quem ele muito amava, foi a primeira pessoa a vir ao
seu encontro. Ele ficou tomado de grande tristeza mas cumpriu o voto desesperado que
fizera a Deus (11:34-40). Como vimos anteriormente, o voto era considerado sagrado em
Israel e, por maior que fosse a dor, deveria ser cumprido.

A filha de Jefté solicitou, e foi atendida, que ficasse dois meses lamentando sua virgindade
antes de morrer. Na cultura israelita, uma mulher que morresse solteira e sem filhos era
digna de pena, pois a esterilidade era considerada um opóbrio, um juízo de Deus sobre a
pessoa. Tão forte foi a comoção do povo com a triste sina de Jefté que a partir daí
anualmente as moças de Israel faziam um ritual de lamentação durante quatro dias para
relembrar esta tragédia (11:40).

Jefté envolveu-se em uma briga com a tribo de Efraim, a qual tinha sido chamada a lutar
contra os amonitas mas tinha se recusado, ficando, em conseqüência, alijada da repartição
dos despojos e marginalizada. Jefté pelejou contra os efraimitas e derrotou-lhes. É
interessante a passagem narrada em 12:5-7, que mostra que havia uma diferença linguística
entre as tribos de Israel, já a essa época grandes e distintas uma das outras. Foi graças a essa
diferença que o exército de Jefté pôde desmascarar alguns efraimitas que tentavam fugir
disfarçados (leia em sua Bíblia a passagem indicada)
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· Sansão - caps. 13 a 16 - A história de Sansão é a mais conhecida do livro de Juízes. O começo


da história não difere em nada da dos demais juízes: o povo pecou, foi castigado, se
arrependeu e pediu a Deus um libertador. Ao contrário do que ocorreu com Jefté, porém,
Sansão foi escolhido por Deus, sendo anunciado pelo Anjo do Senhor à sua mãe, que era
estéril. Ela deveria cumprir um voto durante a gravidez de não tomar bebidas alcóolicas
nem comer coisas impuras. Ordenou ainda que sobre a cabeça do menino não se passasse
navalha, pois ele seria nazireu, que representava uma pessoa especialmente consagrada a
Deus (conforme Núm. 6:2 e Lev. 11:24-27).

Sansão, logo que ficou moço se apaixonou por uma moça dos filisteus e pediu que seus pais
contratassem o casamento. Mesmo com eles resistindo a essa idéia, por ser ela estrangeira,
Sansão insistiu e acabou vencendo. No caminho para Timnate, cidade onde a moça morava,
Sansão fez seu primeiro prodígio, matando a unha um leão (15:5-9).Posteriormente, porém,
a passagem do leão acabou por trazer problemas a ele.

Quando voltava da viagem, Sansão descobriu uma colmeia dentro da carcaça do leão e
tirou mel dela, dando-o a seus pais. Durante a festa de seu casamento, ele propôs uma
charada a um grupo de filisteus e acabou por perder a aposta devido à traição de sua esposa
ao segredo a ela confiado (leia 14:10-18). Para pagar a aposta que perdera (30 roupas de
linho) Sansão teve que matar trinta homens par roubar-lhes as vestes. Após, de tão irado
que ficou com sua esposa, desfez o casamento (14:19-20).

Os filisteus já tinham problemas com os israelitas, tendo domínio sobre eles. O incidente de
Sansão agravou a rivalidade e acabou, paradoxalmente, por dar início aos esforços de
libertação. Ocorre que logo depois de ter abandonado sua esposa ele se arrependeu e tentou
reavê-la. Não tendo obtido sucesso, queimou os campos de trigo dos filisteus causando
grande revolta. (15:1-8). Os filisteus se reuniram e foram a Israel exigir que Sansão fosse
entregue como prisioneiro, com o que o próprio Sansão consentiu (15:9-13). Logo que
chegou a Lei, como cativo, Sansão recebeu forças do espírito do Senhor, livrou-se das
cordas que o prendiam e matou a mil homens, usando como arma uma simples queixada da
burro que encontrara. Essa vitória iniciou uma séria de batalhas entre os dois povos.

Sansão apaixonou-se por Dalila, uma mulher habitante do vale de Soreque, que era uma
região fronteiriça aos filisteus. Esta era uma mulher ardilosa e calculista e, sendo amiga de
líderes dos filisteus, acabou por arrancar de seu marido a confissão sobre o segredo de sua
força, revelando-o aos seus inimigos (16:4-22). O casamento com uma mulher estrangeira
mais uma vez mostrou-se desastroso, validando o costume israelita de evitar este tipo de
enlace.

Tendo dominado a Sansão após este ter perdido a unção do Senhor, os filisteus armaram
uma grande festa para comemorar, num ritual cívico-religioso no templo de Dagom, seu
principal deus. Em meio às comemorações, Sansão, humilhado e derrotado, clamou ao
Senhor que lhe concedesse, pela última vez, a força de antes. Tendo recebido o que pedira,
derrubou o templo puxando suas pilastras de sustentação, matando cerca de três mil pessoas
que ali estavam.

Conforme anteriormente destacamos, essa passagem retrata a vontade de Deus de afirmar


sua soberania e não permitir que um deus estranho - Dagom - parecesse vitorioso. A derrota
de Sansão foi vista pelos filisteus como a derrota do próprio Deus de Israel e, portanto, fez-
se necessária uma demonstração de força de Yahweh.
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Os Juízes Menores:

· Sangar - 3:31 - Governou logo após Eúde e teve como principal feito ter ganho uma luta contra
seiscentos filisteus. A Bíblia não trás maiores informações sobre ele a não ser esse feito

· Tola e Jair - 10:1-5 - Tola foi líder das tribos de Issacar, à qual pertencia, de Manassés e de
Efraim, com quem fez aliança. Já Jair julgou o território do leste do Jordão da casa de
Gileade. Sobre o governo de Tola não há qualquer referência bíblica que indique os
sucessos ou fracassos obtidos. Sobre Jair, as informações contidas nos versículos acima dão
a entender que ele tinha uma excelente posição social e econômica, sendo pai de trinta filhos
(tendo, portanto, várias esposas), os quais “cavalgavam sobre trinta jumentos e tinham
trinta cidades”. Sobre a qualidade de seu governo não há, tampouco, qualquer referência.

· Ibsã, Elom e Abdom - 12:8-15 - Da mesma forma que os anteriores, a Bíblia não trás
referências sobre como foi o governo desses juízes menores.

A Migração e a Idolatria da Tribo de Dã (17:1 a 18:31)

A situação política de Israel em relação aos povos vizinhos não era boa, com a terra em que
habitava vivendo grandes conflitos. As bravatas de Sansão acabaram por agravar mais ainda a
tensão e após sua morte houve uma série de guerras com os filisteus, que atingiram, em especial, a
tribo de Dã, que ocupava terras vizinhas. Assim, os danitas tiveram que largar sua terra, buscando
instalar-se no território da cidade de Laís, que foi considerada bastante frágil militarmente por
cinco espiões enviados para sondar sua provável capacidade de resistência.

No caminho para Laís, os danitas passaram pela casa de um homem chamado Mica, o qual tinha
feito para si um ídolo e criado um santuário onde, juntamente com sua família, prestava culto ao
mesmo. Encontraram, também, um membro da tribo de Levi, que tinha sido atraído por Mica para
ser sacerdote neste templo, recebendo em troca um bom salário e a possibilidade de exercer o
sacerdócio.

Tendo consultado este levita, os danitas obtiveram um parecer favorável ao seu intento de guerra, o
que foi confirmado pela vitória obtida. O acerto da previsão deste sacerdote fez com que ele fosse
convidado para oficiar os cultos em um novo templo erguido na nova terra, onde seria prestado
culto ao ídolo de Mica, tomado a força do mesmo pelos soldados danitas.

Essa história revela que Israel estava enfrentando graves problemas. Conforme se vê não havia mais
uma unidade entre as tribos, o que fez com que os danitas fossem facilmente molestados por povos
estrangeiros e tivessem que buscar sozinhos um novo lugar para viver. Além disso, a identidade
religiosa também foi perdida, havendo grande influência das religiões pagãs dos outros povos, o
que levou a diversos acontecimentos relacionados à idolatria, como o retratado nesta passagem.

Os líderes israelitas dividiam-se em duas correntes: a teocrática, que defendia o poder centrado em
Deus, com a continuidade do governo dos juízes e o monárquico, que defendiam a instalação de
uma monarquia. Os problemas enfrentados acabaram por fortalecer a posição dos monárquicos,
conforme é destacado em 17:6: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada qual fazia o que
parecia bem aos seus olhos”.

O Incidente em Gibeá e a Guerra Contra os Benjamitas (19:1 a 21:25)


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Esta história, assim como a anterior, é considerada pelos estudiosos da Bíblia um apêndice ao livro
de Juízes, inserido posteriormente à elaboração dos demais textos com o objetivo principal de
destacar a falta que fazia a figura de um rei. Em 19:1 encontramos novamente uma clara menção à
posição monarquista do autor do texto: “Aconteceu também naqueles dias quando não havia rei em
Israel...”.

O incidente em questão teve como início o adultério da concubina de um Levita, com sua
conseqüente expulsão de casa. Seu marido, posteriormente, arrependeu-se e foi buscá-la de volta na
casa de seu pai. No caminho de volta, enquanto pernoitavam na cidade de Gibeá, da tribo de
Benjamin, na casa de um ancião que lhes ofereceu acolhida, foram importunados por uma gangue
de homens arruaceiros que queriam forçar o Levita a ter relações sexuais com eles. Para livrar-se de
tão grande humilhação, este pegou sua concubina e entregou-a ao grupo. Pela manhã, encontrou-a
violentada e morta. Tão revoltado ele ficou que, ao chegar em casa, tomou um pequeno machado e
retalhou o corpo de sua concubina em doze pedaços, enviando um a cada tribo de Israel.

Grande foi a revolta do povo com o acontecido que os Israelitas de todas as demais tribos reuniram-
se numa assembléia para julgar o crime que os benjamitas tinham cometido. Decidiram, então,
procurar os líderes da tribo de Benjamin e pedir-lhes que lhes entregassem os homens que tinham
abusado da concubina do levita. Estes, porém, recusaram-se a atender o pedido e saíram de suas
cidades para guerrear contra as demais tribos. Depois de vários dias de uma luta sangrenta, com
muitos mortos, as demais tribos venceram a batalha, ficando os benjamitas bastante enfraquecidos.

Ocorreu ainda que, durante o confronto, os israelitas juraram que não mais deixariam suas filhas se
casarem com os benjamitas. Depois de verem a grande derrota que impuseram a essa tribo
acabaram ficando penalizados e disseram: “Hoje é cortada de Israel uma tribo. Como havemos de
conseguir mulheres para os que restam deles, desde que juramos pelo Senhor que nenhuma de
nossas filhas lhes daríamos por mulher?” (21:6-7). Assim, planejaram seqüestrar as donzelas da
terra de Siló durante uma festa cerimonial que aquele povo promovia. Assim procederam e, com
isso, solucionaram o problema dos cerca de 200 benjamitas sobreviventes.
11
O LIVRO DE RUTE

Este livro narra a história de Rute, uma moça moabita que, com sua sogra Noemi, foi a Belém, de
onde a família de Noemi tinha anteriormente emigrado para Moabe. Os fatos então ocorridos
ficaram famosos pela nobreza do gesto de Rute, que mantém-se fiel e zelosa com sua sogra e pela
forma bela e poética da narrativa. Como pano de fundo desta história há uma mensagem claríssima:
o cuidado e a fidelidade de Deus para com os seus.

Não se sabe quem foi o autor deste livro. Embora uma tradição judaica antiga atribua sua autoria ao
profeta Samuel, essa posição é contestada, por falta de evidências, por quase todos os estudiosos da
Bíblia. Também não se sabe quando foi escrito, sendo provável que tenha sido transmitido
oralmente por longos anos até ser registrado. Isso explicaria o fato da narrativa ser extremamente
sucinta, expondo com extrema clareza os fatos essenciais mas sem ater-se a nenhum detalhe. Os
acontecimentos narrados ocorreram na época dos juízes, conforme vemos no seu primeiro versículo
“Nos dias em que os juízes governavam...”

Em Belém, Rute colhia as espigas que sobravam de um campo cultivado para sustentar a si e a sua
sogra, o que lhe era permitido como um direito dado aos pobres e estrangeiros (conforme Lev.
19:9-10). Durante este trabalho ela se encontrou com Boaz. Este comprou o antigo campo
cultivável de Noemi e casou-se com Rute, depois que o parente mais próximo se esquivou deste
dever da lei israelita.

O casamento de Boaz e Rute é abençoado com um filho chamado Obede, que viria a ser o avô de
davi, fazendo com que Rute seja mencionada, posteriormente, na genealogia de Jesus. Esse fato
serviu, posteriormente, para quebrar um pouco a resistência dos israelitas aos casamentos com
pessoas estrangeiras. É certo que Deus ordenou diversas vezes que não ocorressem casamentos com
estrangeiros para que não houvesse o chamado sincretismo religioso (mistura de diferentes credos).
Com o tempo, porém, essa posição ficou muito mais como fruto do orgulho, da soberba dos
israelitas, que se julgavam uma raça superior. No quinto século antes de Cristo houve uma grande
polêmica em torno desta restrição, defendida por Esdras e Neemias (conforme Esd. 9:1-10:44), e a
história de Rute serviu como argumento para os que defendiam a flexibilização da proibição em
questão.

No País de Moabe (1:1-18)

Em meio a uma grande fome, encontramos a narrativa de uma família que teve que emigrar de
Belém, indo parar na terra de Moabe, que ficava numa planície ao leste do mar morto. O chefe da
família, Elimeleque teve dois filhos com sua esposa Noemi mas logo faleceu, deixando-a viúva.
Seus filhos casaram-se com moças moabitas - Orfa e Rute, mas depois de dez anos também
morreram, deixando Noemi e suas noras desamparadas, uma vez que naquela época as mulheres
dependiam dos homens para terem honra e sustento.

Vendo-se desamparada, Noemi decidiu voltar para junto de seus familiares, em Judá. Despediu,
então, suas noras, mandando que elas retornassem a casa de seus pais para tentarem se casar
novamente. Ambas ficaram muito comovidas em terem que se separar de Noemi e desejaram
continuar junto a ela. Esta, porém, insistiu para que ficassem, o que acabou sendo feito por Orfa.
Rute, no entanto, recusou-se a deixá-la, dizendo-lhe belas palavras que tem sido lembradas muitas
vezes em estudos e pregações sobre fidelidade: “Aonde quer que tu fores eu irei e onde quer que
pousares ali pousarei eu; o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus. Onde quer que
morreres, morrerei eu e ali serei sepultada” (1:16-17).
A Volta a Belém de Judá
12

Chegando de volta a sua terra, Noemi foi motivo de compaixão por aqueles que a conheciam,
devido à desgraça que se abatera sobre sua família, com o falecimento do marido e dos dois filhos.

Para se sustentar, Rute foi apanhar o que sobrava durante a colheita em um dos campos, o qual
pertencia a Boaz, que era parente de Elimeleque, de quem Noemi ficara viúva. Boaz ficou
comovido com a situação de Noemi e com a fidelidade que Rute devotara a ela. Deu-lhe, então, um
tratamento especial, muito diferente daquele normalmente reservado aos pobres e estrangeiros que
apanhavam apenas as migalhas que sobravam das colheitas. Além de alimentá-la e tratar-lhe com
especial atenção, ordenou a seus servos que deixassem para ela uma boa quantidade de alimentos.

Vendo Rute retornar à sua casa com uma grande quantidade de alimentos e sabendo ter sido um
parente de seu falecido marido que a favorecera, Noemi ficou extremamente feliz e esperançosa de
que sua sorte poderia mudar. Ela que, quando chegou de volta a Judá estava amargurada ao ponto
de dizer: “Chamai-me Mara, pois o Senhor Todo Poderoso me encheu de amargura” (1:20), via
agora a chance de reconquistar uma situação financeira e social mais confortável. Noemi tratou de
incentivar Rute a se produzir e lançar-se à sedução de Boaz, que além de rico era um parente
próximo e deveria, conforme ela imaginava, ter se sentido atraído por ela.

O Casamento com Boaz

No dia seguinte, Rute adotou o ousado plano de Noemi. Ao final da colheita, Boaz dormiu junto
aos grãos que colhera, o que era comum para proteger-se de saqueadores. Estando um pouco alto
pela bebida da festa normalmente celebrada à noite, ao final do trabalho no campo, não percebeu
quando Rute deitou-se aos seus pés. Ao acordar, ficou feliz com o gesto da moça e demonstrou
interesse por desposá-la, atendendo ao seu chamado para que fosse seu “remidor”, que
representava, na tradição israelita, um parente próximo de um homem que viesse a falecer que
deveria casar-se com sua viúva para não deixá-la desamparada.

Sendo homem muito correto, obediente às leis e costumes de seu povo, Boaz não quis
comprometer-se imediatamente com Rute. Como havia parente ainda mais próximo de Elimeleque
do que ele, o qual teria em primeiro lugar o direito de remir Rute, foi a procura do mesmo. Tendo
encontrado-o, juntou dez anciãos da cidade, que constituíam uma espécie de tribunal e expôs a
questão a ele: Noemi estava de volta e era preciso que alguém comprasse de volta os campos que
anteriormente pertenceram a ela para que fosse remida. Quem o fizesse, deveria desposar a Rute,
sua nora, também viúva.

Temendo ampliar demais sus família e com isso prejudicar a herança de seus filhos, o remidor abriu
mão de seu direito. Boaz, então, diante do tribunal dos anciãos, comprou o terreno em questão e
assumiu os votos de esposo de Rute.

Este gesto trouxe grande alegria a esses anciãos, os quais conheceram a Alimeleque e estavam
penalizados com a situação de penúria com que sua família regressara de Moabe. Houve grande
alegria na cidade, com as mulheres indo felicitar a Noemi pelas graças que Deus estava agora
derramando sobre sua família.

O livro termina com o anúncio do nascimento de um filho a Rute, outro motivo de grande alegria, e
a apresentação das gerações posteriores: Obede, o filho de Rute e Boaz, teve como filho Jessé, o pai
de Davi.
OS LIVROS DE I E II SAMUEL
13
O primeiro livro de Samuel registra a passagem do período dos juízes para o dos reis. Esta mudança
na vida nacional gira, principalmente, em torno de três nomes: Samuel, Saul e Davi. Segundo
Samuel conta a história de Davi, que primeiro foi rei da tribo de Judá e depois de todo o Israel.

Samuel foi filho de uma mulher até então estéril, Ana, nascido após esta apresentar súplicas a Deus,
recebendo Dele a graça desejada. Como prova de gratidão, Ana dedicou o filho a Deus, entregando-
o, logo que o desmamou, aos cuidados do sacerdote Eli, que o criou, preparando-o para ser seu
auxiliar.

Ocorreu posteriormente que os filhos de Eli, Hofni e Finéias, sendo pecadores, foram
desqualificados para o sacerdócio, sendo impedidos de assumir a condição de herdeiros de seu pai.
Um dia veio um homem de Deus à presença de Eli e lançou sobre ele acusações contra os seus
filhos e disse-lhe que o Senhor, devido ao grande pecado dos mesmos, não mais permitiria que a
casa de Eli continuasse no trabalho de sacerdócio (2:27-36). Enquanto os filhos de Eli pecavam,
Samuel crescia “em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens”
(2:26).

Numa noite, Samuel estava deitado no templo, junto à Arca da aliança (isso porque ele,
provavelmente, estava incumbido de zelar pelas lâmpadas que deveriam arder a noite inteira no
lugar sagrado, o que indicava que ele já estava gozando de grande prestígio), quando o Senhor o
chamou. Ele, achando que era Eli que o chamava foi até este e respondeu “eis-me aqui”, mas ele
disse: “não te chamei, torna a deitar-te”. Novamente Deus chamou a Samuel e este outra vez
pensou que era Eli, pois “não conhecia ao Senhor e a palavra do Senhor ainda não lhe tinha sido
revelado” (3:7). Somente quando o Senhor chamou pela terceira vez, Eli entendeu o que estava
ocorrendo e ordenou que Samuel fosse deitar-se e, da próxima vez que fosse chamado respondesse:
“Fala Senhor, por que o teu servo ouve” (3:9).

Quando Deus falou e Samuel respondeu corretamente, o Senhor o avisou que estava julgando a
casa de Eli porque este fora frouxo na repreensão a seus filhos que viviam em pecado. No dia
seguinte, Samuel estava temeroso de relatar o ocorrido a Eli, mas este o instigou a falar e ele
acabou contando o que Deus lhe revelara. A partir daí ficou mais do que claro que Deus escolhera a
Samuel para ser seu profeta: “E todo Israel, desde Dã até Berseba conheceu que Samuel estava
confirmado como profeta do Senhor” (3:20). Deus passou a manifestar-se constantemente a Samuel
em Siló e a sua palavra era divulgada por todo Israel, de quem passou a ser juiz.

O Roubo da Arca do Senhor (4:1 a 7:10)

Os israelitas estavam em guerra contra os filisteus e resolveram levar a Arca do Senhor até a frente
da batalha para ver se com isso ganhavam mais poder. Quando a arca chegou ao arraial, houve
grande regozijo entre os israelitas e grande temor por parte dos filisteus. Estes, então, lançaram-se
com fúria redobrada sobre os israelitas, temendo que se aquela batalha fosse perdida, acabassem
por ser escravizados. Com isso, morreram trinta mil homens dentre os israelitas, que tiveram que
bater em retirada e os filisteus, ainda por cima, tomaram a arca. Quando Eli ficou sabendo da
derrota sofrida, sendo mortos inclusive seus dois filhos e do roubo da arca não resistiu e morreu,
pois já estava com 98 anos e com a saúde bastante debilitada.

Ao invés de fortalecê-los, como esperavam, a arca causou grandes transtornos aos filisteus. Logo
que chegou, a arca foi colocada ao lado da imagem de Dagom, o deus que eles cultuavam. No dia
seguinte, encontraram a estátua caída com o rosto pra baixo diante da arca, como se estivesse
adorando-a prostrada. No dia seguinte, a estátua novamente havia caído e tinha, agora, as mãos
cortadas. Com esse gesto Deus deixou claro que a derrota dos israelitas estava ligada aos pecados
14
dos mesmos, não podendo ser interpretada como uma fraqueza de sua parte. Dagom estava
subjulgado a Yahweh!

A mão de Deus também pesou grandemente contra o povo da cidade de Asdode, onde tinha sido
colocada a arca, fazendo nascer-lhes grande quantidade de tumores. Tendo sido reunidos os líderes
do povo, decidiram levar a arca para a cidade de Gate, onde também passaram a ocorrer asolações.
Com isso, os filisteus resolveram devolver a arca aos israelitas, convencidos de que a mesma não
seria benção para eles, sendo antes uma maldição. Os israelitas, quando souberam do ocorrido,
ainda se deram ao direito de negociar a devolução da arca, exigindo que fosse paga uma vultuosa
quantia em jóias de ouro como indenização, para que Deus fizesse cessar as pragas que estavam se
abatendo sobre os filisteus, condição esta que foi aceita.

A arca foi deixada pelos filisteus em Bete-Semes. O povo daquela cidade, após promover uma
grande festa, rompeu uma regra básica dada por Deus, abrindo a arca para olhar dentro da mesma.
Receberam, então, um severo castigo, sendo feridos mais de cinquenta mil homens. A arca foi,
então, transportada para a cidade de Quiriate-Jearim, onde ficaria até ser trazida para Jerusalém no
reinado de Davi.

Samuel Liberta o Povo (7:3-17)

Os acontecimentos do roubo e da restituição da arca não apenas mostraram o poder de Deus como
também alertaram os israelitas sobre as conseqüências da indisciplina. A mensagem claramente
dada pelos acontecimentos era de que Deus faria seu povo prevalecer contra todos os inimigos,
desde que o mesmo fosse fiel e temente a seus mandamentos, parando de descumprir a lei como
fizeram os homens de Bete-Semes.

Samuel foi comissionado por Deus para exortar o povo a se arrepender de seus pecados e lançar
fora os ídolos pagãos que vinham sendo cultuados, de modo que Ele lhes desse a vitória sobre os
inimigos. Tendo o povo se sensibilizado com esse chamado ao arrependimento, houve uma grande
vitória dos israelitas logo que os filisteus vieram guerrear novamente. Para marcar a vitória, Samuel
colocou uma pedra como monumento e chamou o local escolhido para cravá-lo Ebenezer, que
significa “até aqui nos ajudou o Senhor” (7:12)

O Declínio da Influência de Samuel (8:1-22)

Depois que Samuel envelheceu, nomeou seus filhos, Joel e Abias, como juízes sobre Israel.
Ocorreu com ele o mesmo que se passou com Eli: seus filhos mostraram-se indignos de ocuparem o
cargo de seus sucessores, pois entregaram-se à corrupção, recebendo propinas para dar pareceres
favoráveis. Com isso, cresceu o clamor dos que queriam a nomeação de um rei, o que inicialmente
foi negado por Samuel, que destacou os problemas que seriam trazidos pela concentração de poder
nas mãos de um rei (8:10-18). Embora essa não fosse a vontade de Deus, o Senhor autorizou a
nomeação do Rei devido à insistência do povo.

Como vimos no livro dos Juízes, os israelitas estavam passando por sérios problemas e não tinham
uma unidade como nação. No período dos juízes, cada tribo se tornou excessivamente preocupada
com seus próprios interesses, fazendo vista grossa para as necessidades da nação. Além disso, havia
o perigo de invasão pelos filisteus e o desejo de copiar o modelo monárquico já adotado por
diversos vizinhos como Moabe, Amon e Edom. Com um rei forte Israel passou a formar uma
unidade política.
O Reinado de Saul
15
Saul foi o primeiro rei de Israel. Seu encontro com Samuel, que o ungiu, ocorreu em função da
perda de um rebanho de jumenta pertencente ao seu pai que tinha se extraviado e que o levou a
procura-lo para indagar onde deveria ir, na tentativa de resgatar os animais. Samuel tinha sido
avisado por Deus, na véspera, que lhe enviaria um homem da tribo de Benjamin, o qual seria o
escolhido para ocupar o trono.

Vale destacar que a designação de Saul passou por uma forte experiência espiritual com Deus, que
viria a transformar completamente sua vida, um verdadeiro batismo com o Espírito Santo, como
diríamos na linguagem de hoje. Samuel avisou-o que ele deveria se juntar a um grupo de profetas
que encontraria no caminho de Betel e que o Espírito do Senhor se apoderaria então dele, de modo
que também profetizaria no meio deles. Deus cumpriu essa palavra, conforme vemos em 10:9-11.
Depois, Saul foi publicamente aclamado rei por Samuel. É interessante que, mesmo sabendo
previamente que ele tinha sido o escolhido por Deus, Samuel fez questão de lançar sortes por tribo,
por família e por pessoa, diante de todo o povo, para que Deus confirmasse que sua escolha era
verdadeiramente por ele inspirada, o que aconteceu.

A Bíblia apresenta Saul como um homem muito belo e alto mas com uma personalidade fraca.
Embora já tivesse passado por uma forte experiência com Deus, escondeu-se entre a bagagem na
hora em que Samuel estava lançando sortes, para tentar fugir da designação para o reinado. Sua
falta de carisma fez com que houvesse uma resistência de parte do povo, como vemos em 10:27.
Deus, porém, supriu a falta de firmeza daquele que escolhera. Assim, logo no primeiro desafio que
enfrentou como o escolhido para o trono, a batalha contra os amonitas, o Espírito apossou-se dele,
dando-lhe a intrepidez necessária para comandar a guerra (11:5-11). A expressiva vitória obtida fez
com que o povo de boa vontade desse posse a Saul.

Tendo adquirido mais confiança, Saul não tardou em exceder seu papel como rei. Dois anos depois
de sua posse, seu filho Jônatas feriu a uma guarnição do exército dos filisteus, gerando um clima de
grande tensão, com o exército filisteu se preparando para guerrear contra Israel. Saul então tomou
uma iniciativa condenável: Promoveu um sacrifício a Deus sendo ele mesmo o dirigente da
cerimônia, o que não poderia ser feito, sendo o privilégio de conduzir tais rituais exclusivo dos
sacerdotes. Quando soube do ocorrido, Samuel repreendeu severamente a Saul e disse-lhe que sua
descendência não mais reinaria perpetuamente.

Apesar de suas deficiências, Saul obteve muitas e significativas vitórias militares, como vemos em
14:4748. Numa das guerras empreendidas, porém, ele pecou gravemente contra o Senhor, deixando
de obedecer o mandamento que Deus lhe deu através de Samuel. Ao derrotar os amalequitas,
guardou para si alguns bens e animais destes, ao invés de destruí-los totalmente como lhe fora
ordenado. Samuel repreendeu-o duramente por isso e entregou-lhe uma mensagem que serve
perfeitamente para nossa reflexão a respeito da disciplina (leia 15:22-23).

Samuel rompeu relações com Saul, não mais o procurando. Além de Deus ter retirado sua unção de
Saul (leia15:35), a falta de apoio do profeta enfraqueceu bastante o reinado de Saul aos olhos de
todo o povo. Com isso, o Senhor fez com que Samuel iniciasse o processo para a escolha de um
novo rei, sendo escolhido Davi.
16
O Início da Queda de Saul e da Ascensão de Davi

Ao contrário de Saul, forte e alto, Davi era um adolescente sem grandes atributos físicos quando foi
escolhido por Deus para herdar o trono de Israel (leia 16:1-13). Tinha, porém, muita coragem e
determinação. Saul, no entanto, não foi afastado de imediato do trono. Porém, não tinha mais paz
para reinar, pois “o Espírito do Senhor reirou-se de Saul e o artomentava um espírito maligno da
parte do Senhor” (16:14). Aconselhado por seus servos, Saul mandou que escolhessem alguém que
soubesse tocar harpa bem para acalmar o seu espírito e o escolhido foi justamente Davi (leia 16:23).

O reconhecimento público do valor de Davi e sua capacidade para ser rei veio na conhecida
passagem em que ele lutou contra Golias, um gigante filisteu que estava afrontando o povo de
Israel, sem que ninguém tivesse coragem para enfrentá-lo (17:1-54). Este texto mostra como a
unção do Senhor é suficiente para enfrentar qualquer problema e mostra, também, como Deus
espera que nós façamos a nossa parte, sendo destemidos e dedicados à sua obra. Não sabendo que
aquele seria o seu sucessor no trono, Saul valorizou bastante o feito de Davi e permitiu que seu
filho Jônatas construísse uma sólida amizade com ele (18:1-5).

Logo, porém, Saul percebeu que Davi representava uma ameaça ao seu poder. Isso ocorreu b
momento em que viu as mulheres israelitas dançando e cantando: “Saul feriu os seus milhares,
porém Davi os seus dez milhares” (18:7). A partir daí, com medo de perder o trono, Saul passou a
tentar matar Davi, mas Deus sempre o livrava (leia 18:12-16). Em uma das tentativas, Saul usou de
um artifício para fazer com que Davi morresse sem ter que matá-lo diretamente: exigiu que ele
trouxesse 100 prepúcios dos filisteus para dar-lhe sua filha Mical em casamento. Com isso, pensou
que ele seria morto na batalha, o que porém não ocorreu, pois Deus o abençoava grandemente. O
próprio Jônatas, filho de Saul, que era muito amigo de Davi, ajudava a livrá-lo das artimanhas de
seu pai, avisando-o quando era preparada alguma armadilha.

Vale destacar a passagem em que Saul mandou mensageiros para prender Davi enquanto este estava
reunido com Samuel e outros profetas em Ramá. Quando seus mensageiros chegaram próximo ao
grupo de profetas, Espírito do Senhor entrou neles e eles também começaram a profetizar. O
mesmo ocorreu com um segundo grupo de mensageiros e, finalmente, com o próprio Saul que foi
ao local pessoalmente ver o que estava acontecendo e acabou ficando um dia e uma noite
profetizando sem parar, nu e caído por terra (19:18-24).

Vendo apertar o cerco de Saul, Davi acabou virando fugitivo. Durante sua fuga, teve, inclusive, que
se fazer passar por louco diante do rei de Gate, com medo que este o ferisse (21:10-15). Depois, ele
reuniu um exército em torno de si, juntando todos os rejeitados, as pessoas problemáticas (leia
22:1-2) e que por isso não tinham nada a perder.

Saul , vendo que o reino estava lhe escapando, perdendo cada vez mais apoio, perdeu
completamente o juízo, chegando a matar 85 sacerdotes com raiva destes estarem do lado de Davi
(4:16-18). Todas as suas artimanhas não puderam, no entanto, superar a unção do Senhor que
estava sobre Davi. Este ficava a cada dia mais querido pelo povo, organizando batalhas contra os
inimigos filisteus.

Como toda pessoa verdadeiramente ungida por Deus, Davi tinha autocontrole e era longânimo, ou
seja, um pessoa que não se ira com facilidade. Uma ocasião, ele e sua tropa encontraram Saul
desprotegido, dormindo em uma caverna. Mesmo sendo incentivado por seus homens a matá-lo,
Davi não ousou levantar a mão contra aquele que tinha sido ungido por Deus, ainda que já tivesse
caído e perdido essa unção (24:1-15). No dia em que isso ocorreu, Saul se quebrantou e admitiu
que Deus estava dando o reino nas mãos de Davi (24:16-22).
17
Um dos sinais da grande sabedoria que Deus concedeu a Davi era justamente o fato de ele saber
deixar que o Senhor fizesse a justiça contra os seus inimigos. Isso aconteceu com um homem
chamado Nabal, que se levantou contra ele (25:9-11). Tendo sua esposa pedido clemência, Davi
não fez mal a ele. Porém, Deus o vingou, fazendo com que Nabal morresse após ficar dez dias
imóvel como uma pedra (25:32-38).

Apesar de mais de uma vez ter jurado a Davi que não mais o perseguiria, Saul continuava a tentar
matá-lo. Com isso, Davi acabou tendo que se refugiar na terra dos filisteus. Enquanto isso, Saul
fazia uma besteira atrás da outra. Um de seus pecados mais graves foi consultar uma necromante
(pessoa que busca contato com os mortos), depois de tentar consultar a Deus sem sucesso (28:5-22).

Esta é uma passagem de difícil entendimento, uma vez que diz que o espírito de Samuel apareceu à
feiticeira e depois ao próprio Saul, dando-lhe uma forte repreensão. Uma possível explicação para
esta narrativa, que contraria nossa crença de que não há comunicação com os mortos é o fato dos
israelitas terem uma visão diferente da nossa em relação ao que ocorre após a morte. Eles
acreditavam que o espírito da pessoa ia para um lugar chamado Seol, onde ficava em um estado de
fraqueza e esquecimento. Assim, é possível que um anjo do Senhor tenha trazido uma mensagem a
Saul, sendo confundido com o espírito de Samuel.

Davi continuou tendo muitas vitórias nas batalhas de que participava. Enquanto isso, Saul ficava
cada vez mais distante da graça de Deus. Em uma ocasião, vendo-se cercado pelos filisteus e sendo
informado que seus filhos tinham sido mortos na batalha, Saul se suicidou, lançando-se sobre sua
própria espada (31:1-13).

Davi Torna-se Rei

Logo após o suicídio de Saul, Davi foi para Judá, sua tribo de origem, onde foi aclamado rei. Seu
reinado de início não contou com unanimidade entre os israelitas, ficando as tribos divididas entre
os seguidores de Davi e outros que mantinham-se fiéis à descendência de Saul. Com isso, acabou
ocorrendo uma guerra civil.

Depois, os anciãos elegeram Davi rei de todo o Israel, reconhecendo nele o ungido de Deus capaz
de unir o povo. Davi tinha, na ocasião, trinta anos, ficando um total de quarenta anos como rei,
sendo sete sobre Judá e trinta e três sobre todo o Israel. (II Sam. 5:1-5).

Logo que tornou-se rei de todo o Israel, Davi teve que enfrentar a ira dos filisteus que o atacaram,
temendo que os israelitas ficassem muito fortalecidos. Deus, porém, deu a ele uma grande vitória
sobre os filisteus, como faria muitas outras vezes, tendo sido seu reinado marcado por sucessivas
lutas contra os povos inimigos.

A Arca é Trazida para Jerusalém

Davi, vendo consolidar-se seu reinado, trouxe a Arca do Senhor até Jerusalém, promovendo uma
grande festa religiosa. Tão alegre ele ficou na ocasião que dançou diante de Deus, sendo
repreendido por sua esposa, Mical, que julgava que uma pessoa de sua posição não deveria se
expor, dando demonstrações muito fortes de alegria. Como castigo por seu preconceito, Mical ficou
estéril (II Sam. 6:21-23).Após ter trazido a arca para Jerusalém, Davi achou que deveria construir
um templo para o Senhor. Porém, o profeta Natã foi alertado por Deus que essa não era sua vontade
e que caberia a seu filho que o sucederia empreender essa obra (II Sam. 7:1-17).
O Pecado de Davi (II Sam. 11:1-27)
18

Davi foi, sem dúvida, grandemente abençoado por Deus, tendo obtido muitas vitórias como rei.
Embora fosse temente ao Senhor, caiu em pecado por causa da paixão por uma mulher casada,
Bate-Seba, a quem avistou tomando banho numa tarde. Caindo em tentação, teve relações com ela e
acabou por engravidá-la. Depois, fez algo ainda mais grave, arrumando para que o marido traído,
Urias, fosse colocado na frente da batalha e, em seguida, abandonado à própria sorte, de modo que
morresse. Passado o período de luto, Davi tomou Bate-Seba como sua esposa.

Essa história é um dos muitos exemplos encontrados na Bíblia e na nossa vida pessoal onde vemos
cumprida a palavra “um abismo chama o outro”. A partir de um pecado outros se sucedem, pois o
afastamento da vontade de Deus nos leva a errar e, se não nos arrependemos de imediato,
continuamos errando na tentativa de consertar o que fizemos.

O profeta Natã, conselheiro espiritual de Davi, foi avisado por Deus do ocorrido e trouxe ao rei a
seguinte profecia: por causa de seu pecado, o filho que tinha gerado com Bate-Seba morreria. Davi
se arrependeu do que fizera e confessou o seu pecado, mas o menino morreu.

A passagem de morte do menino nos traz uma importante lição: Enquanto tinha esperanças, Davi
orava e jejuava sem parar em favor da criança e se mostrava abatido. Tão logo soube de sua morte,
“se levantou da terra, lavou-se, ungiu-se e mudou de vestes; e entrando na casa do senhor o
adorou” (12:20). Seus servos o questionaram sobre sua súbita mudança de comportamento, ao que
Davi explicou que, nada mais havendo a fazer, deveria se conformar, louvar ao Senhor e voltar à
sua vida. Nós devemos aprender com essa história a não ficar lamentando por coisas ocorridas que
não podemos mais consertar. Deus quer que olhemos para frente como fez Davi.

Após consolar a Bate-Seba, Davi teve novamente relações com ela, gerando a Salomão, que viria a
ser seu sucessor.

O Pecado de Amnom (13:1-22)

Amnom, um dos 17 filhos de Davi, apaixonou-se por Tamar, sua irmã de maneira tão intensa que
não tinha mais paz no coração. Acabou armando um plano para possui-la. Fingiu-se de doente e
pediu que ela o alimentasse. Agarrou-a, então, forçando-a a ter relações com ele. Depois,
abandonou-a à própria sorte, recusando-se a casar-se com ela, o que, embora não fosse um costume
comum entre os israelitas não era, naquela época, totalmente inaceitável, sendo habitual entre os
povos vizinhos e representando uma saída mais honrosa para a moça.

Absalão, outro filho de Davi, tendo descoberto o ocorrido, ficou um tempo sem tomar nenhuma
atitude. Depois, porém, resolveu vingar-se de seu irmão: Organizou uma festa em sua fazenda e fez
que Amnom ficasse bêbado, ordenando a seus servos que o matassem. Em seguida, refugiou-se em
Gesur, terra natal de sua mãe, com medo de ser castigado por seu pai.

A Rebelião de Absalão (15:1 a 18-33)

Davi procurou entender o que Absalão fizera e mandou chama-lo de volta de seu exílio voluntário.
Tendo retornado à corte, Absalão desejou apoderar-se do trono de seu pai, passando a instigar o
povo contra ele, acusando-o de ser pouco ágil nas decisões e procurando angariar a simpatia do
povo, apresentando-se como capaz de resolver os problemas que eram trazidos ao rei. Acabou
juntando consigo um pequeno exército, misturando algumas pessoas que tinham raiva de Davi com
outras que não sabiam exatamente o que estava acontecendo. Alguns da família de Saul se juntaram
19
aos rebeldes, fortalecendo o movimento e colocando em sério perigo o reinado de Davi que teve
que fugir de Jerusalém.

Quando Davi conseguiu reunir um exército forte o suficiente para debelar a rebelião de Absalão,
ordenou que os soldados tratassem a este brandamente (18:5), numa grande prova de mansidão e
amor paterno. No entanto, Absalão sofreu um acidente durante a batalha: o jumento em que estava
montado passou por debaixo de uma árvore e ele ficou preso pela cabeça em um galho mais baixo.
Sendo avisado do fato, Joabe, o comandante do exército de Davi, cravou-lhe três dados no coração,
sendo seguido por seus soldados que acabaram de matá-lo. Ao ser informado da morte de seu filho,
Davi chorou e se lamentou grandemente, dizendo: “meu filho Absalão, meu filho, meu filho
Absalão, quem me dera que eu morrera por ti, Absalão meu filho, meu filho” (18:33)

Davi conseguiu reconstruir a unidade política de seu reino graças à sua boa vontade para com
aqueles que tinham se rebelado contra ele. Ao invés de puni-los violentamente, procurou unir-se a
eles, chegando a colocar Amasa, o general de Absalão, como um de seus oficiais. Essa postura lhe
trouxe alguns problemas, tendo que enfrentar mais algumas rebeliões, mas era sua única saída.

Davi ainda enfrentou, durante seu reinado, um período de grande falta de alimentos (21:1-14) e
guerras contra os filisteus (21:15-22), sendo bem sucedido na superação desses problemas. Sua
gratidão a Deus pelas muitas bênçãos recebidas está expressa no capítulo 22 de II Samuel, que
apresenta um belo hino de louvor.

O Censo Militar e a Praga Sobre Israel (24:1-17)

Davi resolveu fazer um levantamento da força militar de Israel, enviando Joabe para contar o
número de soldados das diversas tribos. Depois, ele se arrependeu (24:10) e pediu perdão a Deus.
Embora o censo fosse permitido para outros fins, tendo sido feito, por exemplo, por Josué quando
foi dividir as terras conquistadas, a finalidade militar por trás do gesto de Davi desagradou a Deus e
ao povo.

O profeta Gade recebeu de Deus uma palavra, oferecendo a Davi o direito de optar entre três pragas
que assolariam o país como castigo pelo seu pecado: Sete anos de fome; três meses de fuga diante
dos inimigos ou três dias de peste na terra. Tendo escolhido a última opção, foram mortos cerca de
setenta mil pessoas pela peste, mas Deus teve misericórdia e não levou a destruição até o fim. Diz
a Bíblia que Davi avistou o anjo que feria o povo e pediu-lhe que levantasse a sua mão contra ele e
sua casa e não contra o povo inocente (24:17).

O livro de II Samuel termina com o relato da construção de um altar, por Davi, para agradecer a
Deus pelo fim da praga (24:18-25).
20
OS LIVROS DE I E II REIS E DE I E II CRÔNICAS

Da mesma forma que I e II Samuel, não se sabe quem escreveu o livro de Reis, que originalmente
era um único volume, sendo dividido, em uma das cópias em dois rolos, motivo pelo qual ficou
separado até os dias de hoje. Provavelmente, de acordo com s estudiosos da Bíblia, foi escrita por
mais de uma pessoa, tendo sido iniciado durante a reforma de Josias (621 a 609 a.C.) e concluído
na época do exílio babilônico (por volta de 550 a.C.).

Em Reis encontramos informações sobre o reinado de Salomão e a rebelião que se sucedeu após o
mesmo, gerando a divisão de Israel nos reinos do norte e do sul. Encontramos, também, a história
dos reis que se sucederam nos dois reinos, com destaque para os erros e acertos que os mesmos
cometeram (mais erros que acertos, pois a maioria ficou bastante afastada da vontade de Deus).
Outros grandes personagens do livro são os profetas Elias e Eliseu, seu sucessor, que foram ungidos
por Deus, sendo instrumentos de grandes prodígios operados pelo Senhor.

Da mesma forma que Reis, Crônicas era, originalmente, um único livro, também de autor
desconhecido, embora existam fortes evidências de que foi escrito por Esdras, no momento da volta
do exílio. Como muitos dos acontecimentos dos livros de Reis e de Crônicas são narrativas
paralelas, vamos estudá-los juntos nesta apostila.

A Escolha de Salomão como Sucessor de Davi (I Reis cap. 1)

O início do livro de Reis apresenta Davi velho e doente, incapaz de continuar à frente do trono.
Essa situação é retratada pelo fato de ele tremer de frio continuamente, acabando por ser escolhida
uma moça para ser sua concubina e esquentá-lo com seu próprio corpo, mas não tendo relações
sexuais com ele, que já não estava mais em condições de fazê-lo.

Como vimos em II Samuel, foram assassinados os filhos mais velhos de Davi: Amnom, por ter
violentado a Tamar sua irmã, e Absalão, por ter se rebelado contra seu pai. O primeiro na linha
sucessória seria Adonias, mas Salomão era o filho da esposa preferida de Davi, Bete-Seba.
Seguindo o mau exemplo de Absalão, Adonias tentou tomar o trono de seu pai, precipitando-se
quando viu que a morte deste era iminente. Davi, assim como fizera com Absalão, foi complacente
com Adonias, permitindo que durante quatro anos ele desenvolvesse uma rede de apoio na corte,
chegando a conquistar a adesão de duas pessoas de grande importância no reino: O sacerdote
Abiatar, descendente de Eli e Joabe, o general comandante do exército de Israel.

Faltou a Adonias, no entanto, conquistar o apoio de Natã, profeta de grande influência na corte e
que tinha sido anteriormente avisado por Deus de que Salomão seria o sucessor de Davi, cabendo a
ele construir o templo que seria erguido em Jerusalém (II Samuel 7:11 es ss.). Orientada pelo
profeta, Bate-Seba foi até Davi e o informou que Adonias já estava como se fosse rei e que ela e
Salomão seriam perseguidos por ele. (I Reis 1:15-21). Natã apresentou-se logo em seguida,
reforçando o pedido de Bate-Seba de que fosse combatida a atitude precipitada de Adonias, que já
agia como se fosse rei, embora Davi ainda vivesse e não o tivesse designado.

Davi atendeu os pedidos e escolheu Salomão para ser seu sucessor, determinando que fosse
publicamente ungido como rei pelas mãos do profeta Natã e do sacerdote Zadoque. A entronização
de Salomão ocorreu no momento em que Adonias dava um banquete para os que o apoiavam.
Vendo que o povo estava com Davi e Salomão, os que antes ficaram do lado de Adonias o
abandonaram à própria sorte, fazendo com que ele tivesse que se apresentar humildemente diante
de Salomão, clamando por misericórdia, tendo conseguido o perdão de seu irmão. Sua aliança, no
entanto, não durou muito. Ele acabou se interessando, após a morte de Davi, por desposar a
21
Abisaque, a concubina que tinha sido encarregada de esquentar o rei na sua velhice. Seu pedido,
apresentado a Salomão através de sua mãe Bate-Seba, foi rejeitado como uma atitude insolente.
Seguindo os últimos conselhos dados por davi em seu leito de morte, Salomão mandou matar a
Adonias, sufocando de vez aquele que poderia lhe trazer ainda muitos problemas. Agiu da mesma
forma com Joabe, que tinha aderido a Adonias quando este se rebelara contra Davi.

Um dos primeiros atos de Salomão foi estabelecer uma aliança com o Egito, casando-se com a filha
de faraó (I Reis 3:1-2). Essa atitude, muito conveniente em termos políticos e militares, acabou
custando caro a ele, pois o levou à idolatria, iniciando posteriormente os problemas que
determinaram a divisão do reino de Israel após sua morte.

A Sabedoria e Prosperidade de Salomão (I Reis, caps. 3 e 4)

O Senhor apareceu a Salomão enquanto este lhe oferecia sacrifícios em um altar construído em
Gibeão, e disse-lhe: “pede o que queres que eu te dê” (3:5). O pedido de Salomão foi sabedoria
para reinar (3:6-9). Satisfeito por ter Salomão pedido sabedoria e não riquezas ou poder, Deus
atendeu o seu pedido, fazendo-lhe grandemente sábio. Disse-lhe, ainda, que as riquezas e a glória
que ele não pedira lhe seriam também acrescentadas (3:10-15).

O primeiro teste da sabedoria de Salomão ocorreu quando duas prostitutas se apresentaram diante
dele com um problema de difícil solução: As duas tinham sido mãe recentemente e uma delas
perdera o filho. Agora ambas afirmavam que o menino que sobreviveu era seu. Diante do impasse,
Salomão tomou uma espada e ameaçou dividir a criança em duas partes para dar metade a cada
mulher. Imediatamente a verdadeira mãe abriu mão da criança, movida pelo instinto materno de
salvar sua vida, enquanto a outra disse-lhe que poderia levar adiante a divisão do menino. A
diferença na atitude das duas deixou claro quem era realmente a mãe e a criatividade de Salomão na
resolução do problema contribuiu para que sua sabedoria começasse a ficar famosa. (I Reis 3:16-
28).

O reinado de Salomão foi bastante próspero. Nem antes nem depois dele Israel experimentou um
período de tanta prosperidade: “Eram, pois, os de Judá e Israel numerosos como a areia que está à
beira do mar; e comendo e bebendo se alegravam. E dominava Salomão sobre todos os reinos,
desde o rio até a terra dos filisteus e até o termo do Egito e eles pagavam tributo e serviram a
Salomão todos os dias de sua vida” (4:20-21). Este foi, sem dúvida, o apogeu de Israel, a época de
glória e poder do reino, que seria sucedida pelo declínio, com a divisão do reino na sucessão de
Salomão. Enquanto Salomão viveu, no entanto, grande foi o poder de Israel, devido à sabedoria
com que ele conduzia seu reinado. Diz a Bíblia que vinham pessoas de países distantes para
conhecer sua sabedoria.

A Construção do Templo (I Reis caps. 5 a 7)

Cumprindo o pedido que Davi lhe fizera no seu leito de morte, Salomão mandou construir o templo
do Senhor em Jerusalém. Essa foi uma tarefa relativamente fácil para ele, já que contava com
grande riqueza e muito prestígio junto ao povo e aos reinos vizinhos. Assim, o templo foi erguido
com os melhores e mais caros materiais que existiam e a obra foi cercada de grandes cuidados
artísticos e arquitetônicos. Após sete anos, o templo ficou pronto, sendo motivo de muito orgulho
para os israelitas. No momento da consagração, Deus manifestou-se poderosamente, na forma de
uma nuvem que encheu o templo, fazendo com que os sacerdotes não pudessem ficar de pé (8:10-
11)
22
A Fama e a Riqueza de Salomão

A Bíblia apresenta diversas narrativas que destacam o esplendor alcançado pelo reinado de
Salomão, devido à sua grande sabedoria. Uma das narrativas famosas é a visita da rainha de Sabá,
que viajou cerca de 2.400 Km, desde o sudeste da Arábia para conhecer pessoalmente a Salomão (I
Reis 10:1-3). Tanto ouro Salomão possuía que, segundo a Bíblia, em sua época, a prata não tinha
valo algum em Israel (10:21). A Bíblia também afirma que “Salomão excedeu a todos os reis da
terra tanto em riqueza quanto em sabedoria” (10:23).

O Pecado de Salomão (I Reis 11:1-13)

Salomão amou a muitas mulheres estrangeiras, casando-se muitas vezes por conveniência política.
Essas mulheres acabaram lhe pervertendo o coração. Em sua velhice, ele participou dos cultos a
deuses estranhos que suas mulheres promoviam, chegando a mandar construir um altar para
Quemós, deus dos moabitas e para Moloque, dos amonitas

Deus, indignado com o pecado de Salomão, anunciou a ele que, como castigo por infidelidade, o
reino de Israel seria dividido ao fim de seu reinado, cabendo a seu filho, seu sucessor, reinar sobre
apenas uma das tribos. Deus também permitiu que outros povos se levantassem contra Israel, que
perdeu a invencibilidade que tinha conquistado no apogeu do reinado de Salomão.

A Rebelião de Jeroboão (I Reis 11:26 a 12:24)

Jeroboão, um líder dos trabalhadores do rei, forte e valente, conforme descreve a Bíblia, rebelou-se
contra Salomão. O profeta Aías, encontrando-o disse-lhe que ele seria o rei de dez das tribos de
Israel logo após a morte de Salomão. O rei procurou então matar a Jeroboão, que fugiu para o
Egito, onde ficou até a morte de Salomão.

Roboão, filho de Salomão, foi o seu herdeiro. Logo que assumiu o trono, Jeroboão e um grupo de
pessoas foram até Roboão para pedir-lhe que diminuísse a quantidade de impostos que Salomão
tinha instituído. Este pediu-lhes três dias para tomar uma decisão e foi então consultar os anciãos,
que lhe aconselharam a atender o pedido do povo. Depois, porém, acabou seguindo os conselhos de
jovens que eram seus amigos de infância e que o aconselharam a aumentar a invés de reduzir os
impostos. Essa atitude causou grande revolta no povo, do que se aproveitou Jeroboão para usurpar
o trono, tendo Roboão se refugiado em Jerusalém.

Assim, se cumpriu o que profetizou Aías, com Jeroboão passando a reinar sobre dez tribos e
Roboão ficando apenas com Judá e o que sobrou da tribo de Benjamim, que foi bastante
enfraquecida no episódio do incidente de Gibeá, narrado no final do livro de Juízes. A partir daí,
formaram-se os reinos do sul, com capital em Jerusalém (Judá) e do norte, com capital em Samaria
(Israel).

Os samaritanos, ou seja, as dez tribos do reino do norte, depois de sofrerem com péssimos
governantes, caíram sob o domínio da Assíria em 722 a.C., conforme narrado em II Reis 17:24-41.
A contínua infidelidade do povo e o domínio da Assíria fizeram com que eles perdessem a
identidade israelita, misturando-se com outros povos e outros credos. Os judeus (do reino do sul)
com o tempo criaram uma forte rixa com eles. No tempo de Jesus eles eram mais detestados pelos
judeus do que os pagãos. Eles, na época de Cristo, ainda estudavam o pentateuco, mas não
reconheciam os demais livros do Antigo Testamento. Esperavam pelo messias, mas não criam que
23
ele viria como um continuador do reinado de Davi, conforme esperavam os judeus e sim como um
novo Moisés.
Os Reis do Reino do Sul

REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS


Roboão I Reis 11 17 anos Além de inábil para manter o reino unido, permitiu
I Reis 14:21-31 que religiões pagãs ganhassem força em Judá,
II Cr. 10:1 a inclusive aquelas que incluíam orgias sexuais no
12:46 culto. Guerreou continuamente contra Jeroboão e o
reino do norte.
Abião I Reis 15:1-8 3 anos Continuou as más obras de seu pai, dando lugar à
idolatria e guerreando contra seus irmãos do norte.
Asa I Reis 15:9-24 41 anos Foi um rei temente a Deus, desviando-se da idolatria,
II Cr. 14:1 a combatendo os cultos pagãos, embora não tenha
16:14 conseguido eliminá-los totalmente. Administrou bem
o seu reino, construindo e fortalecendo cidades.
Guerreou contra Basa, que na época reinava em
Israel (Reino do Norte).
Jeosafá I Reis 22 25 anos Assim como o sei pai, foi reto aos olhos de Deus,
II Cr. 17:1 a combatendo a idolatria. Foi o primeiro rei de Judá a
20:37 fazer aliança com Israel (Reino do Norte), que tinha
Acabe como rei em sua época, para lutar contra
povos inimigos.
Jeorão II Reis 8:16-24 8 anos Fez o que era mal aos olhos do Senhor. Casou-se
II Cr. 21:1-20 com Atalia, filha de Acabe, pegando desta a
influência do culto a Baal. Teve que enfrentar
rebeliões dos edomitas. Enfrentou também sérias
contendas familiares, acabando por matar todos os
seus irmãos à espada.
Acazias II Reis 8:25-29 1 ano Também fez o que era mal aos olhos de Deus,
persistindo na idolatria. Foi morto durante uma
rebelião interna enfrentada por Jorão, seu aliado, que
era rei de Israel (reino do norte).
Atalia II Reis 11:1-3 6 anos Atalia era mãe de Acazias e apoderou-se do trono
II Reis 11:13-16 quando seu filho morreu. Para isso, mandou matar
II Cr. 22:1-9 todos os descendentes de Acazias, mas Joás acabou
escapando da matança, sendo escondido por sua tia.
Foi morta em uma contra-revolução comandada pelo
sacerdote Jeioada. Este sacerdote comandou também
a destruição do santuário de Baal e a morte de seu
sacerdote.
Joás II Reis 11:1 a 40 anos Tinha apenas sete anos quando começou a reinar. Na
12:21 maior parte de seu reinado, fez o que era reto aos
II Cr. 24:15-27 olhos do Senhor, sendo instruído pelo sacerdote
Jeioada. Apesar de não se envolver com a idolatria,
não conseguiu eliminá-la totalmente.. Promoveu uma
reforma no templo, que estava se deteriorando. No
final de seu reinado, após a morte do sacerdote
Jeioada, afastou-se da vontade de Deus e acabou
morto em uma batalha contra os sírios.
24

REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS


Amazias II Reis 14:1-22 29 anos Foi reto aos olhos do Senhor. Venceu uma
II Cr. 25:1-28 importante batalha contra os edomitas. Rompeu com
Jeoás, rei de Israel e acabou sendo morto numa
rebelião que contou com o apoio deste.
Azarias II Reis 15:1-7 52 anos Também conhecido como Uzias, foi reto diante de
II Cr. 26:1-23 Deus, mas, assim como os reis que o antecederam,
não conseguiu eliminar totalmente a idolatria, pois o
povo continuava a oferecer sacrifícios nos altos,
altares proibidos, pois a lei determinava um único
santuário para sacrifícios - o templo de Jerusalém.
Ficou leproso, tendo que ser afastado de suas
funções, deixando seu filho Jotão como seu regente.
Jotão II Reis 15:32-38 16 anos Assim como Azarias, foi reto diante de Deus, mas
II Cr. 27:1-9 não conseguiu eliminar totalmente a idolatria.
Acaz II Reis 16:1-20 16 anos Foi um rei ímpio, que se deixou influenciar pela
II Cr. 28:1-27 idolatria praticada pelos reis de Israel, chegando a
oferecer sacrifícios de crianças. Foi castigado
enfrentando uma guerra movida contra ele pela
Assíria, que passou a dominar a Judá e Israel.
Zedequias II Reis 18 e 19 29 anos Foi reto aos olhos de Deus, sendo apontado na Bíblia
II Cr. 29:1-36 como o mais justo de todos os reis de Judá, incluindo
os que vieram antes e depois dele. Combateu
vigorosamente a idolatria, destruindo os altares e as
imagens pagãs. O Senhor era com ele, e assim pode
rebelar-se contra o rei da Assíria, conseguindo livrar
o reino de Judá do seu domínio, ao contrário do que
ocorreu com Israel. Quando se viu fraco diante do
poderio da Assíria, tentou um acordo de paz, que não
foi aceito. Recorreu, então, ao profeta Isaías, que
profetizou a vitória contra os assírios, apesar destes
terem um exército infinitamente mais forte. Como os
assírios insistiram em guerrear, Deus honrou o seu
ungido e fez pesar sua mão sobre eles, ferindo em
uma única noite a 185 mil de seus soldados (19:35).
Recebeu outra grande benção quando ficou doente de
morte e, após ter suplicado, foi curado por Deus. Foi
um grande administrador, construindo, inclusive, um
aqueduto em Jerusalém. Teve a Isaías como seu
conselheiro constante.
Manassés II Reis 21:1-9 42 anos Aos doze anos Manassés começou a reinar como co-
II Cr. 33:1 a regente junto a Ezequias seu pai. Dez anos depois
36:21 assumiu o trono. Não continuou a boa obra de seu
pai, praticando a idolatria. Perseguiu os profetas do
Senhor, em especial a Isaías, e derramou muito
sangue inocente. Por causa de sua infidelidade, Deus
o avisou que deixaria que Jerusalém caísse.
25

REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS


Amom II Reis 21:19-26 2 anos Foi idólatra como seu pai. Acabou sendo morto em
rebelião promovida por seus servos.
Josias II Reis 22 e 23 31 anos Foi um rei justo aos olhos do Senhor. Ordenou uma
II Cr. 34:1 a reforma no templo, durante a qual foi achado, pelo
35:27 sacerdote Hilquias, em 622 a.C., o livro da lei
(provavelmente Deuteronômio), que estava perdido e
esquecido, como toda a palavra do Senhor, devido
aos sucessivos maus reinados. Convocou, então, os
profetas do Senhor, assim como a todos os anciãos, e
fez uma leitura pública da lei, estabelecendo um
pacto de que voltariam a segui-la. Promoveu, então,
uma grande reforma religiosa, eliminando o culto a
Baal e a outros deuses pagãos, queimando os ídolos e
os objetos a eles dedicados e destruindo seus altares.
Extirpou da terra todos os feiticeiros e advinhos. Fez,
ainda, com que novamente fosse celebrada a páscoa,
promovendo uma reforma profunda em Judá, para
recolocá-lo no caminho do Senhor. Apesar de sua
fidelidade, não conseguiu aplacar a ira de Deus
contra o povo. Sua reforma foi interrompida por
volta de 609 a.C. quando foi morto pelo Faraó-Neco.
Jeoacaz II Reis 23:31-35 3 meses Fez o que era mal aos olhos do Senhor. Sua história
II Cr. 36:1-4 começou errada, do momento em que foi ungido rei
no lugar de seu pai pelo “povo da terra”, apesar de
não ser o filho mais velho, usurpando o direito de seu
irmão Eliaquim. Houve uma intervenção externa,
com o faraó prendendo a Jeoacaz e colocando o seu
irmão em seu lugar. O faraó ainda trocou o nome de
Eliaquim para Jeoaquim.
Jeoiaquim II Reis 23:36 a 11 anos Também fez o que era mal diante de Deus.
24:7 Nabucodonozor ,rei da Babilônia, dominou sobre ele.
II Cr. 36:5-8 Após três anos (601 a.C.) ele tentou reagir mas, de
acordo com a Bíblia, Deus enviou outros povos
contra ele para enfraquece-lo de vez, pois era de Sua
vontade que o povo judeu caísse sob o domínio
babilônico como castigo por seus muitos pecados.
Joaquim II Reis 24:8-17 3 meses Joaquim, também conhecido como Jeconias, também
II Reis 25:27-30 foi um rei infiel a Deus. Durante seu reinado
II Cr. 36:9 aconteceu a vitória dos babilônicos, que passaram a
dominar sobre Judá e levaram cativos o rei e os
líderes do povo. No final de sua vida foi favorecido
por Evil-Merodaque, que assumiu o lugar de
Nabucodonozor, o qual tratou-o com respeito,
permitindo que usasse suas vestes reais e se sentasse
à mesa com ele. Continuou, no entanto, sem reinar,
sendo servo do rei da Babilônia e sem poder voltar
para sua terra.
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REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS


Zedequias II Reis 24:18 a 11 anos Também foi infiel a Deus. Tentou se rebelar contra o
25:21 domínio da Babilônia mas fracassou. Nabucodonozor
II Cr. 36:10-21 promoveu um cerco contra Jerusalém, mandou
prender o rei, vazar-lhe os olhos e levá-lo preso com
cadeias de bronze sobre os ombros. Após isso,
ocorreu a queda definitiva de Jerusalém (586 a.C)
Nabucodonozor pôs fogo no templo e nas principais
casas da cidade e executou diversos líderes do povo,
além de saquear as riquezas do país, incluindo os
objetos sagrados do templo. Com isso, foi
interrompida a dinastia dos reis de Judá, sendo
nomeado pela Babilônia Gedalias, chefe de uma
destacada família de Judá, para ser o governador.

Os Reis do Reino do Norte

REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS


Jeroboão I Reis 12:25 a 22 anos Foi um rei sem temor a Deus, fazendo o que era mal
14:20 aos olhos do Senhor. Estimulou a idolatria,
I Cr. 13:1-22 construindo dois bezerros de ouro para que o povo os
adorasse. Foi condenado por um profeta do Senhor,
tendo sua mão secado quando tentou golpeá-lo (leia I
Reis 13:1-6)
Nadabe I Reis 15:25 2 anos Continuou as más obras de seu pai. Acabou tendo o
trono usurpado por uma rebelião comandada por
Baasa, comandante de seu exército.
Baasa I Reis 15:27 a 24 anos Foi outro rei iníquo. Após apoderar-se do trono,
16:7 matou a todos os descendentes de Jeroboão para que
os mesmos não tentassem retomar o poder.
Elá I Reis 16:6-15 2 anos Teve o mesmo destino de Nadabe, sendo traído por
um de seus servos, Zinri.
Zinri I Reis 16:16-20 7 dias Nos poucos dias em que ficou no trono, matou a
todos os descendentes de Basa e de Elá.
Onri I Reis 16:21-28 12 anos Aproveitou-se da rebelião comandada por Zinri para
assumir o trono. No início, enfrentou uma divisão do
reino, com metade das pessoas ficando sob seu poder
e a outra parte sendo dominada por Tibni. Também
fez o que era mal perante os olhos do Senhor, sendo,
segundo a Bíblia, pior do que os que o antecederam.
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REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS


Acabe I Reis 16:29-34 22 anos Foi mais um rei infiel a Deus. Tomou por mulher a
I Reis caps. 18 a Jezabel, uma feiticeira adoradora de Baal. Reedificou
22 a Jericó, recaindo sobre ele a antiga maldição lançada
I Cr. 21:1 a 22:9 quando da sua destruição: seu filho mais velho
morreu no momento em que foram lançados os
alicerces da cidade e o filho mais moço quando
foram colocadas as portas. O profeta Elias teve
vários confrontos com Acabe e Jezabel, sendo que
esta tentou matá-lo. Acabe acabou morrendo debaixo
de uma maldição, com os cães lambendo seu sangue.
Jezabel também morreu de maneira terrível, tendo o
seu cadáver sido devorado por cães.
Acazias I Reis 22:51-53 2 anos Foi idólatra como o seu pai, continuando a adorar a
II Reis 1:1-18 Baal. Sofreu um acidente e mandou consultar os
II Reis 8:25-29 sacerdotes de Baal se ficaria bom. O profeta Elias o
condenou por isso, avisando-lhe que morreria como
castigo. Tentou matar a Elias, fracassando como
vemos na famosa passagem em que dois grupos de
50 soldados tentam pegar o profeta e são consumidos
pelo fogo do Senhor (II Reis 1:9-16).
Jorão II Reis 3:1-3 12 anos Também foi idólatra, embora menos que Acazias,
pois mandou tirar a coluna de adoração a Baal. Foi
morto por Jeú, homem instigado por Eliseu para
comandar uma rebelião profética e exterminar a
descendência de Acabe.
Jeú II Reis 9 e 10 28 anos Promoveu uma verdadeira reforma religiosa em
Israel. Foi comissionado por Eliseu para fazer justiça
contra Jorão, cumprindo a profecia feita por Elias
contra Acabe e seus descendentes. Matou a todos os
adoradores de Baal. Porém, não foi totalmente reto
aos olhos de Deus por não ter acabado com o culto
aos bezerros de ouro construídos por Jeroboão.
Jeoacaz II Reis 13:1-9 17 anos Foi um rei infiel a Deus. Conseguiu, no entanto, pela
misericórdia do Senhor, sair vitorioso da opressão
sofrida do rei da Síria.
Jeoás II Reis 13:10-13 16 anos Também foi idólatra. Manteve-se, no entanto, atento
II Reis 14:15-22 à autoridade profética de Eliseu, pranteando sua
II Cr. 25:17-24 morte. Em sua última profecia, Eliseu proclamou a
vitória de Jeoás na guerra contra a Síria, o que de
fato foi alcançado. . Guerreou contra Amazias, rei de
Judá, saindo vencedor da peleja.
Jeroboão II II Reis 14:23-29 41 anos Foi mais um rei ímpio. Porém, conseguiu manter
uma grande estabilidade política e prosperidade
econômica. Os profetas Amós e Oséias, seus
contemporâneos, retratam em seus livros a
decadência moral que se abateu sobre o país em meio
à riqueza obtida.
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REI TEXTOS TEMPO PRINCIPAIS FATOS
Zacarias II Reis 15:8-12 6 meses Também foi infiel a Deus. Acabou perdendo o trono
numa rebelião comandada por Salum.
Salum II Reis 15:13-16 1 mês Teve um reinado extremamente curto, sendo deposto
por Menaém.
Menaém II Reis 15:17-22 10 anos Já iniciou mal o seu reinado quando, ao depor Salum,
praticou um ato de crueldade extrema: Matou ao fio
da espada todas as mulheres grávidas da cidade de
Tirza, cujos habitantes tinham se mantido fiéis ao
antigo rei. Fez um acordo com o rei da Assíria
comprando a liberdade de Israel por mil talentos de
prata, tendo arrecadado o dinheiro necessário dos
ricos de Israel.
Pecaías II Reis 15:23-26 2 anos É mais um rei de Israel que foi infiel a Deus e
acabou sucumbindo a uma rebelião, numa
demonstração da fragilidade do poder que se abateu
sobre a nação. Foi deposto por Peca, chefe de sua
tropa.
Peca II Reis 15:27-31 20 anos Após usurpar o trono, fez o que era mal aos olhos do
Senhor. Foi morto por Oséias, o qual contou com o
apoio de Tiglate-Pileser, rei da Assíria.
Oséias II Reis 17:1-6 9 anos Enquanto esteve submisso à autoridade de Tiglate-
Pileser pôde reinar em paz, sendo apontado pela
Bíblia como um rei não tão infiel como os seus
antecessores. Com o tempo, porém, o rei da Assíria
passou a desconfiar de sua fidelidade, foi tirado do
trono, passando Israel a ficar sob intervenção direta
da Assíria. Foi o último rei de Israel.

O Profeta Elias

Elias foi um grande profeta e líder religioso, como Israel não via desde Samuel. Foi uma figura
solitária, que aparece subitamente no relato bíblico para anunciar uma grande seca. Combateu
ferozmente a idolatria, sofrendo por isso constantes perseguições. Operou diversos milagres e,
graças à sua intimidade com Deus, não conheceu a morte, sendo levado aos céus em um carro de
fogo.

O primeiro milagre operado através de Elias está I Reis 17:8-16, a passagem da viúva de Sarepta,
quando ele fez multiplicar a farinha e o azeite de uma pobre mulher que, confiando em sua palavra,
o assistiu com o resto de alimento que possuía. Esta passagem é bem conhecida e nos trás
importantes lições sobre como Deus abençoa aqueles que entregam o que tem à sua obra. Logo
depois, em I Reis 17:17-24, Elias ressuscitou o filho dessa mesma viúva, operando um dos grandes
milagres narrados na Bíblia.
29

Outra passagem gloriosa da vida de Elias foi a luta que ele empreendeu contra os profetas de Baal,
desafiando-os a orarem ao seu deus que mandasse fogo para consumir um sacrifício a ele dedicado
e fazendo-os passarem pelo vexame de nada conseguirem, enquanto ele próprio orou ao Senhor e
Este mandou imediatamente fogo do céu para consumir a oferta de Elias (I Reis 18:20-40). Após
ter desmascarado os idólatras, comandou uma matança contra os profetas de Baal. Por causa disso,
teve que enfrentar a fúria de Jezabel, esposa do rei Acabe e feiticeira adoradora de Baal, a qual
passou a persegui-lo, instigando seu marido contra ele. Durante sua fuga para o deserto, onde
procurou refugiar-se da perseguição sofrida, foi servido por um anjo do Senhor, que além de pão e
água deu-lhe ânimo renovado para continuar lutando contra a idolatria.

Elias enfrentou, também, a fúria do rei Acazias, a quem havia condenado por mandar consultar a
Baal quando adoeceu para saber se ficaria bom. Acazias, desejando puni-lo, enviou um capitão com
um grupo de 50 homens ao seu encontro no monte onde se refugiava. Elias clamou ao Senhor e,
imediatamente, desceu fogo do céu, matando todos seus perseguidores. Em seguida, veio novo
grupo, com igual composição e o mesmo aconteceu (II Reis 1:1-16).

Eliseu, o Sucessor de Elias

Após ouvir a voz de Deus durante sua estada no deserto, Elias voltou a Israel com a missão de
colocar a Eliseu como seu sucessor e de ungir a Jeú como rei de Israel no lugar de Jorão, neto de
Acazias que reinava em seu lugar. No momento em que estava para ser arrebatado, Elias operou
novo milagre: bateu nas águas do rio Jordão com seu manto e as águas se abriram para que ele e
Eliseu passassem. Ao ser informado por Elias que poderia pedir-lhe o que quisesse, Eliseu pediu-
lhe por herança porção dobrada da unção que ele possuía. Em seguida, um carro de fogo, com
cavalos de fogo, os separou, tendo Elias subido num redemoinho. Eliseu pegou o manto de Elias e
repetiu o mesmo milagre que este fizera, ferindo as águas do rio e fazendo com que se abrissem.
Com isso, foi reconhecido pelos discípulos do profeta como seu legítimo sucessor. (II Reis, 2:1-18)

Passando por Jericó, Eliseu foi abordado por seus moradores, reclamando da água ali encontrada
que era ruim para o consumo. Eliseu colocou sal em um prato e o depositou no poço, ordenando
que fossem retiradas da água a morte e a esterilidade, o que ocorreu de imediato (II Reis, 2:19-22).
Logo em seguida, enquanto ele ia para Betel, um grupo de rapazes ficou zombando de sua calvície.
Irado com a zombaria, Eliseu os amaldiçoou. Imediatamente saíram do bosque duas ursas, que
despedaçaram quarenta e dois deles (II Reis 2:23-25).

Outro importante milagre operado através de Eliseu ocorreu quando uma viúva pediu-lhe socorro
pois tinha diversas contas a pagar e não possuía recursos. Eliseu tomou um pouco de azeite, única
coisa que lhe restava e multiplicou-o de tal maneira que ela pôde arrecadar dinheiro vendendo
azeite. (II Reis, 4:1-7).

Eliseu operou, também, a ressurreição de um menino, deitando-se sobre seu corpo inerte (II Reis,
4:8-37). Logo após, voltando a Gilgal, um dos seus discípulos apanhou uma planta venenosa e
usou-a para cozinhar. Alertado sobre o fato, o profeta colocou farinha na panela e a comida ficou
totalmente pura, própria para o consumo (II Reis 4:38-41). Logo em seguida, tomou vinte pães e
multiplicou-os, conseguindo alimentar com fartura a cem homens (II Reis 4:42-44).

Naamã, comandante do exército do rei da Síria, ficou curado da lepra que contraíra através de
Eliseu (II Reis, 5:1-19). Muito agradecido pela cura, Naamã desejou presentear o profeta, mas este
não aceitou. Geazi, um de seus discípulos acabou indo atrás de Naamã e mentiu, dizendo que Eliseu
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havia mudado de idéia e queria prata e roupas finas como presente. Tendo recebido o que pediu,
Geazi voltou e foi inquirido por Eliseu sobre onde estivera. Ao alegar que não saíra daquele lugar,
foi desmascarado por Eliseu, que disse-lhe que tinha visto em revelação o que ele fizera e que,
como castigo, a lepra que saíra de Naamã entraria nele, o que de fato ocorreu de imediato ( II Reis
5:19-27).

Outro milagre de Eliseu narrado na Bíblia está na passagem em que ele fez flutuar a lâmina de ferro
de um machado que havia afundado no rio (II Reis 6:1-7). Mais tremendo do que este, porém, foi o
que ocorreu em seguida. O rei da Síria, que guerreava contra Israel, mandou tropas à cidade em
que Eliseu estava. O seu ajudante, tendo acordado cedo, entrou em desespero ao ver, do monte
onde estavam, que o exército sírio os cercava, indo, de imediato, acordar o profeta. Sua resposta
demonstrou a confiança típica dos ungidos do Senhor: “Não temas; porque mais são os que estão
conosco do que os que estão com eles” (II Reis 6:16). Tendo Eliseu orado, o Senhor abriu os olhos
de seu ajudante, que pôde então contemplar que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo
do Senhor, os quais desceram contra os sírios, ferindo-os de cegueira.

Ainda outros prodígios operou Eliseu, conforme vemos em diversas passagens do livro de Reis.
Ainda depois de morto, um milagre foi operado através dele. Um homem foi enterrado em sua
sepultura e, logo que o corpo tocou os ossos de Eliseu, ressuscitou (II Reis 13:21).
31
OS LIVROS DE ESDRAS E NEEMIAS

Originalmente, os atuais livros de Esdras e Neemias constituíam um único livro, chamado Esdras.
Foi por volta do terceiro século depois de Cristo que houve a divisão em dois volumes, sendo a
segunda parte do livro batizada de Neemias por volta de 400 d.C. Por constituírem uma seqüência
natural, optamos por estudá-los em conjunto nesta apostila.

A narrativa apresentada no livro de Esdras começa no momento em que os judeus iniciam sua volta
do exílio babilônico. Como vimos nos livros de Reis e Crônicas, após passarem por diversos
governos iníquos e se afastarem da vontade de Deus, os israelitas caíram sob domínio estrangeiro,
com o Reino do Norte sendo dominado pela Assíria em 721 a.C. e o Reino do Sul caindo sob o
poder da Babilônia em 587 a.C. Os livros seguem narrando como o povo judeu repovoou
Jerusalém e, principalmente, como foi reconstruído o templo e restabelecido o culto ao Senhor.

Ocorreu que a Pérsia passou a dominar o oriente médio, subjugando a Babilônia em 550 a.C. Ciro,
o rei da Pérsia foi tocado por deus e, em 538 a.C. resolveu promover a libertação dos judeus e
incentivar a reconstrução do templo de Jerusalém. Os líderes e os sacerdotes que se encontravam
exilados logo se animaram e passaram a comandar uma campanha de arrecadação de fundos para a
reconstrução, sendo bem sucedidos em seu empreendimento. Ciro também os ajudou, mandando de
volta os vasos sagrados que haviam sido roubados por Nabucodonozor.

A narrativa bíblica destaca, entre outros aspectos, a união do povo no seu intento de restaurar a casa
do Senhor: “...ajuntou-se o povo como um só homem em Jerusalém... e edificaram o altar de
Deus” (Esdras 3:1-2). É destacada, também, a alegria causada pela reconstrução: “E todo o povo
levantou grande brado, quando louvaram ao Senhor, por se terem lançado os alicerces da casa do
Senhor” (Esdras 3:10-11). Tão forte foi a emoção que muitos daqueles que tinham conhecido o
templo antes da destruição choraram em alta voz ao verem os alicerces reconstruídos.

Problemas com os Samaritanos (Esdras 4:1-5)

Conforme vimos nos comentários sobre os livros de Reis e Crônicas, o Reino do Norte recebeu
tantas influências de outros povos e houve tanta miscigenação racial, que seus habitantes deixaram
de ser chamados de israelitas, passando a ser conhecidos por samaritanos. Quando os samaritanos
viram os judeus reconstruindo o templo desejaram colaborar na obra, sendo, porém, impedidos por
Zorobabel, o líder da reforma, que temia que ocorresse contaminação religiosa. Zorobabel era
descendente de Jeoiaquim, um dos últimos reis de Judá. A partir daí, o “povo da terra” passou a
hostilizar fortemente os construtores, impedindo que a obra prosseguisse.

A Segunda Tentativa de Reconstruir o Templo (Esdras 5:1 a 6:22)

Após um intervalo de cerca de dezesseis anos, os profetas Ageu e Zacarias persuadiram Zorobabel
e Josuá a renovarem os esforços para a reconstrução do Templo. Isso ocorreu em 520 a.C., quando
o profeta Ageu pregou em Jerusalém. Dois meses após essa pregação, Zacarias, cujo ministério
profético durou de 520 a 518 a.C. juntou-se a ele na defesa da retomada da obra. Neste momento, a
obra já tinha recomeçado e ele passou a louvar os esforços empreendidos por Zorobabel.
32

A nova tentativa de reconstruir o Templo chamou a atenção de Tatenai, o governador da província


a oeste do império Persa e Sater-Bozenai, um de seus oficiais. Eles questionaram se os judeus
teriam realmente autorização para a obra, afinal, vários anos tinham se passado desde que Ciro
decretara a autorização.

Além do tempo decorrido, o temor dos dirigentes persas se dveu a um forte temor de que os judeus
se aproveitassem da reconstrução do Templo para reconquistar sua soberania política. O próprio
profeta Ageu havia predito a violenta derrocada do império Persa (Ageu 2:21-22) e prometera aos
judeus que tomariam posse dos tesouros do mesmo (Ageu 2:6-9). Zacarias também fizera previsões
neste sentido (Zac. 1:29 e 2:23). Ambos os profetas viam em Zorobabel o futuro rei do reino a ser
reconstruído de Judá. O movimento nacionalista era, portanto, uma ameaça real ao domínio da
Pérsia.

Tatenai enviou, então, uma carta a Dario, então Rei da Pérsia, denunciando o andamento da obra,
embora o tenham feito em um tom extremamente respeitoso, talvez por não estarem certo se havia
de fato uma autorização para a mesma (Esdras 5:8-17). O rei Dario mandou, então, que fosse
realizada uma busca nos arquivos do governo, sendo então encontrado o decreto de Ciro. Enviou,
então, uma resposta a Tatenai, ordenando que ele e seus homens não impedissem a obra e mais, que
eles pagassem toda a despesa necessária, incluindo a compra dos animais a serem oferecidos em
sacrifício.

A Conclusão da Obra e a Celebração da Páscoa (Esdras 6:14-22)

A carta de Dario abriu caminho para a rápida finalização da reconstrução do Templo. Houve, então,
uma grande festa, um culto de consagração onde procurou-se repetir o ritual feito quando Salomão
consagrou o primeiro templo.

Também foi celebrada a páscoa, sendo destacado na Bíblia dois importantes aspectos no
comportamento dos Levitas e Sacerdotes envolvidos: sua santificação e sua unidade: “Pois os
sacerdotes e levitas se tinham purificado como se fossem um só homem, todos estavam limpos”
(Esdras 6:20).

A Viagem de Esdras a Jerusalém (Esdras 7:1 a 8:36)

A apresentação de Esdras inicia-se por sua genealogia, demonstrando ser ele um descendente de
Arão, cuidado esse que visou, provavelmente, legitimar sua liderança religiosa. Esdras é, também,
apresentado como um escriba hábil, que deixara o exílio babilônico com o objetivo de ensinar aos
judeus a Lei do Senhor. Em seu retorno, Esdras trouxe onsigo um grupo de cantores e porteiros,
oficiais relacionados ao trabalho do Templo. Sendo apontado como um homem reto e abençoado
por Deus, ele trazia uma carta do Rei Artaxexes, concedendo a ele amplos poderes para dirigir o
trabalhos religiosos os judeus e para levar as ofertas que tinham sido dadas para o Templo. Além
disso, deu a Esdras poder para constituir juizes que julgassem o povo de acordo com as leis de
Deus.

No capítulo oito vemos que Esdras teve cuidado ao recrutar as pessoas que foram com ele em sua
viagem, de modo que fossem apenas pessoas fiéis a Deus. Vemos também neste capítulo uma prova
da sua fé. Ele recusou a escolta de soldados oferecida por Artaxexes, dizendo que a mão do Senhor
os protegeria. Proclamou, então, um jejum preparatório da viagem, para que o povo estivesse em
33
sintonia com Deus. Vale esclarecer que a viagem seria longa, durando quatro meses, e que eles
levavam tesouros, sendo, portanto, perigosa a jornada.

A viagem foi bem sucedida e, logo que chegou, Esdras promoveu um grande culto a Deus. Em
seguida, procurou os oficiais locais para apresentar-lhes a carta de Artaxexes e assumir os poderes a
ele concedidos.

A Crise dos Casamentos Mistos (Esdras 9:1 a 10:44)

Uma das primeiras questões que Esdras teve que enfrentar em Jerusalém foi o questionamento dos
levitas aos casamentos que o povo de Israel vinha fazendo com povos estrangeiros. Ao ser
informado de que até altos oficiais estavam promovendo tais casamentos, Esdras ficou tão
contrariado que rasgou sua roupa e rapou seu cabelo e sua barba, ficando um dia inteiro atônito.
Depois, pôs-se de joelhos pedindo perdão a Deus pelo que estava ocorrendo, numa bela e
emocionada oração (Esdras 9:6-1).

Enquanto Esdras orava chorava, prostrado diante da Casa de Deus, um grande número de pessoas
se juntou a ele, unindo-se ao seu lamento. Os casamentos mistos eram uma ameaça efetiva à tão
sonhada reconstrução de Israel, pois dificultariam sobremodo a preservação sua cultura e sua fé.
No momento em que Deus tinha tido misericórdia de seu povo e lhe ofereceu todas as condições
necessárias à sua libertação e à renovação da aliança, o povo estava prevaricando, ou seja, traindo.

Esdras convocou uma grande assembléia, obrigando que todos os que tinham retornado do exílio se
reunissem em Jerusalém, sob pena de trem seus bens confiscados se não comparecessem. Logo se
juntaram todos os homens das tribos e Judá e Benjamim. Era inverno e uma fria chuva caía sobre o
povo reunido na praça em frente ao Templo. Mesmo assim, eles permaneceram reunidos. Porém,
vendo que não seria justo que o povo ficasse tomando chuva e que o problema exigia uma
discussão demorada, Esdras concordou com uma proposta de que fosse designada uma comissão
para tratar do assunto.

O assunto era realmente delicado. Ocorreu que, ao regressar do exílio, o povo judeu encontrou as
terras dominadas por famílias estrangeiras lançou mão do casamento para reconquistar seu pedaço
de terra. O divórcio das filhas das ricas famílias que tinham se estabelecido na judéia exigia, de
fato, bastante diplomacia.

O final do atual livro de Esdras apresenta a relação de todos os que tinham se casado com mulheres
estrangeiras e informa que os mesmos desfizeram seus casamentos e ofereceram sacrifícios a Deus,
pedindo perdão pelo pecado cometido. Assim, Esdras conseguiu fazer valer sua autoridade, usando
de mão forte para controlar o povo e evitando a contaminação religiosa.

Neemias na Corte de Artaxexes

Neemias era descendente de uma das várias famílias judaicas que, após terem recebido autorização
para retornar à judéia, preferiram continuar morando no Oriente, mantendo, contudo, contato com o
pequeno grupo que lutava para iniciar uma nova vida em sua terra natal. Tendo recebido notícias de
que Jerusalém estava sofrendo uma crise, endo seu muro sido destruído e sua porta queimada.
Sendo um homem de oração, ele se prostou diante de Deus pedindo-lhe proteção para o seu povo.
34
Sendo copeiro do rei, este estranhou quando Neemias, sempre alegre e bem disposto, apresentou-se
abatido, indagando-lhe qual era o motivo de sua tristeza. Naquela época, o copeiro não era apenas
um empregado subalterno, sendo este cargo considerado de grande importância por privar da
intimidade do rei. Neemias era, portanto, alguém admirado por Artaxerxes. Assim, ao apresentar ao
rei o motivo sua angústia, recebeu deste autorização para ir até Jerusalém e comandar os trabalhos
de reconstrução dos muros.

A Inspeção em Jerusalém (Neemias 2:11-16)

Chegando a Jerusalém, Neemias se apresentou aos oficiais locais, afirmando ser credenciado por
Artaxerxes para comandar a reconstrução do muro da cidade. O anúncio da obra que seria
executada trouxe grande entusiasmo ao povo mas gerou, ao mesmo tempo, uma reação negativa em
algumas das autoridades vizinhas (Sambalate e Tobias). O motivo de seus descontentamento era
que julgavam ser a reconstrução do muro uma clara indicação de que Neemias pretendia separar
Judá da administração samaritana. Além disso, se Neemias tinha qualquer documento do rei que
comprovasse a autoridade a ele concedida não o revelou.

Enquanto os oficiais samaritanos reagiam ao trabalho de Neemias, os sacerdotes se dispuseram


rapidamente a reedificar o muro. Cada família se ocupou de uma parte, conforme narrado no
capítulo 3, fazendo com que a obra evoluísse rapidamente. Sambalate e Tobias arderam em ira ao
perceberem que a reconstrução era inevitável promoveram uma reunião com outros líderes e
procuraram ridicularizar a obra, dizendo que até uma raposa poderia derrubar o muro (Neemias
4:3).

Tendo sido informado que o grupo liderado por Samalate e Tobias ameaçava entrar em conflito
aberto com os que trabalhavam no muro, Neemias orou a Deus pedindo-lhe proteção e castigo aos
inimigos e, ao mesmo tempo, tratou de colocar guardas para proteger os trabalhadores, além de
fazer com que todos passassem a trabalhar portando sua espada na cinta. Contudo, a tensão foi se
agravando, até chegar a um ponto insuportável para os trabalhadores, que acabaram por interromper
a obra. Além da ameaça externa, os trabalhadores mais pobres estavam sendo achacados por
agiotas que tinham emprestado dinheiro e agora tomavam como escravos os filhos daqueles que
não podiam quitar suas dívidas.

O Confronto de Neemias com os Exploradores (5:6-19)

Neemias muito se indignou ao saber do que estava ocorrendo com os endividados, tratando de
reunir uma grande assembléia para resolver a questão. Ele procurou envergonhar os opressores e
fazê-los desistirem de suas práticas abusivas, acusando-os de estarem não só prejudicando os
irmãos a quem escravizavam como também pondo em risco toda a comunidade num momento de
ameaças externas. Exigiu, então, que fossem restituídos os penhores e cessassem as extorsões.

É importante realçar que Neemias teve autoridade para condenar os exploradores porque ele
próprio não apenas nunca praticara aos semelhantes com até mesmo tinha deixado de usufruir das
regalias pessoais que sua condição de governante lhe permitia, recusando-se a receber o tributo que
a ele seria devido para não aumentar a carga sobre o povo.
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A Conclusão do Muro (6:1 a 7:73)

Neemias teve que enfrentar diversas ameaças e falsas profecias de Semaías, um profeta local
contratado para tentar leva-lo ao pânico e induzi-lo a cometer um sacrilégio, refugiando-se no
santuário para fugir da perseguição (ele não poderia entrar no santuário pois não era sacerdote e,
como leigo, só tinha acesso ao pátio do Templo). Contudo, conseguiu terminar a obra do muro e
fortificou a cidade, colocando porteiros e seguranças.

Após a conclusão do muro, Neemias passou a preocupar-se com o repovoamento da cidade, que
sabia ser necessário para garantir a segurança de Jerusalém e do Templo o Senhor.

O Reavivamento de Esdras (8:1 a 10:39)

Esdras reuniu o povo para que ouvissem a leitura da Palavra do Senhor. Após efetuar a leitura, ia,
com o auxílio de alguns levitas, explicando seu significado ao povo e bendizendo o nome do
Senhor.

A partir daí, foi promovida a restauração de uma série de rituais e cerimônias religiosas que haviam
sido esquecidos durante o período do exílio. Foram celebradas festas e promovidos períodos de
jejum e confissão. Esdras fez um longo sermão, lembrando ao povo da antiga aliança estabelecida
com seus antepassados e da necessidade da contínua renovação do pacto e da obediência aos
mandamentos de Deus.

Esdras não apenas fez com que o povo confessasse seus pecados e assumisse um compromisso
renovado com Deus, como também promoveu a assinatura de um pacto neste sentido para dar mais
força ao acordo feito.

As Reformas de Neemias (13:4-31)

Após ter passado doze anos em Jerusalém, Neemias retornou a Pérsia, provavelmente para cumprir
seus deveres junto ao rei. Logo depois, porém, foi informado de que a situação a judéia estava se
deteriorando, com seus inimigos exercendo influência sobre o povo e Tobias, um dos opositores da
reconstrução o muro, tinha ganho direito a uma grande câmara no Templo.

Ao retornar a Jerusalém, Neemias encontrou a Casa de Deus abandonada, tendo os levitas deixado
de cumprir suas tarefas em função das perseguições sofridas e do boicote aos dízimos que seus
inimigos promoviam. Viu, ainda, que o povo estava desrespeitando o mandamento de guardar o
sábado e que voltava a promover casamentos mistos.

Fazendo-se valer de sua autoridade e notável capacidade de liderança, Neemias conseguiu


restabelecer a ordem em Jerusalém. Foi, sem dúvida, um grande personagem da Bíblia, um
exemplo que merece ser estudado pelos líderes de hoje.
36
O LIVRO DE ESTER

Este livro conta a história de uma moça judia que se casou com Xerxes, o rei da Pérsia, país que
dominava, na época, as nações vizinhas. Hamã, o primeiro ministro do reino, planejou exterminar
os judeus, mas Ester e seu primo Mordecai conseguem fazer fracassar seu perverso plano. Para
relembrar esta importante vitória, foi instituída a festa de Purim, até hoje celebrada pelos judeus.

Ester se Torna Rainha (caps. 1 e 2)

A Pérsia tinha, na época do rei Xerxes, 127 províncias, estendendo seus domínios da Índia à
Etiópia. Este rei deu uma ocasião uma grande festa, na qual estavam diversas pessoas estrangeiras e
foram convidados tantos os ricos quanto os pobres.

No sétimo dia (naquela época as festas duravam muitos dias), depois de ter bebido bastante, Xerxes
mandou que seus servos trouxessem à sua presença sua esposa, a rainha Vasti, a qual, segundo a
Bíblia, era muito bonita. O rei queria que ela viesse com suas vestes reais e suas jóias para que os
convidados admirassem sua beleza. Ela, porém, recusou-se a ir até ele, o que o deixou furioso.

Indo consultar seus conselheiros, Xerxes ouviu destes que a rainha lhe fizera uma grande desfeita.
Disseram, ainda, que a atitude dela poderia servir de incentivo à rebeldia de outras mulheres contra
seus maridos. Sugeriram, então, que o rei proibisse Vasti de aparecer diante dele e arrumasse outra
para reinar em seu lugar. O rei gostou dessa sugestão e aproveitou para mandar cartas a todas as
províncias do reino, recomendando que os maridos fossem chefes de suas casas e tivessem sempre a
última palavra.

Mais tarde, cumprindo o que tinha sido recomendado, o rei enviou carta às províncias pedindo que
as mais lindas virgens se apresentassem para que fosse escolhida uma nova rainha. Mordecai, um
judeu da tribo de Benjamim, era primo de Ester, a quem criara desde pequena quando ela ficou
órfã. Sendo Ester muito bonita, ele resolveu levá-la ao palácio para participar da seleção. Depois de
serem submetidas a um tratamento de beleza que durava um ano, as jovens deveriam ir, uma a uma,
até o rei. Xerxes gostou dela mais do que qualquer outra moça e escolheu-a, então, para ser a nova
rainha.

Hamã Planeja a Morte dos Judeus (caps. 3 a 5)

Mordecai foi nomeado para um cargo no palácio, onde logo caiu nas graças do rei porque descobriu
um plano que alguns criados estavam tramando para matá-lo. Logo, porém, ganhou um inimigo de
peso: Hamã, o primeiro ministro. Sendo um homem muito vaidoso, Hamã conseguiu que o rei
determinasse que todos deveriam se curvar diante dele. Mordecai, porém, não fazia isso, pois como
judeu que era só podia reverenciar a Deus. Sabendo disso, Hamã ficou furioso e resolveu jogar o rei
contra os judeus, acusando-os de serem um povo rebelde, pedindo autorização para que mandasse
exterminá-los, sendo autorizado a fazê-lo (O rei não sabia que Ester era judia).

Tendo sido divulgada a decisão do rei, houve grande lamento entre os judeus. Mordecai foi, então,
buscar o auxílio de Ester. Disse-lhe, inclusive, que certamente Deus a tinha preparado para proteger
seu povo quando fez dela rainha e, por isso, ela não poderia fugir à sua responsabilidade.
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Ester, vestindo-se com suas mais belas roupas, ficou esperando em frente ao salão nobre do rei
(naquela época, mesmo a rainha tinha que ser convidada para estar diante do rei). Sendo chamada
por Xerxes, ela disse que desejava convidar a ele e a Hamã, o primeiro ministro, para um banquete
que ela estava preparando.

No dia do banquete, após ter comido um bocado e tomado bastante vinho o rei disse à rainha que
ela poderia lhe pedir o que quisesse, mesmo que fosse a metade de seu reino que ele lhe daria. Ela,
porém, pediu que ele e Hamã comparecessem a outro banquete, no dia seguinte, quando ela então
apresentaria o seu pedido.

Hamã é Denunciado e Morto (caps. 6 e 7)

Ao sair do banquete, Hamã encontrou Mordecai e ficou furioso porque ele, mais uma vez, não se
curvou diante dele. Hamã, planejou, então, enforcar Mordecai.

Naquela noite, porém, o rei não estava conseguindo dormir e resolveu mandar que seus servos
lessem para ele um livro onde estava registrada a história de seu reinado. A parte que eles leram foi
justamente a que contava como Mordecai havia livrado o rei da rebelião de seus servos. Xerxes
resolveu, então, mandar homenagear a Mordecai e, para ira de Hamã, ele foi o encarregado de
providenciar as devidas homenagens.

No dia seguinte, durante o banquete, ao ser perguntada sobre seu desejo, Ester disse ao rei que
queria pedir-lhe que salvasse seu povo. O rei, assustado com a notícia de que os parentes da rainha
iam ser mortos perguntou-lhe quem era o responsável por isso, ao que ela indicou a Hamã.
Enquanto o rei se retirou por uns instantes para o jardim atordoado com o que Ester lhe dissera,
Hamã atirou-se no sofá onde a rainha estava para pedir-lhe misericórdia. Chegando de volta,
Xerxes julgou que ele estava querendo violentar a rainha e mandou, imediatamente, que seus
soldados o pegassem. Hamã acabou sendo enforcado na forca que preparara para Mordecai.

Os Judeus Acabam com Seus Inimigos (caps. 8 e 9)

Quando Ester pediu ao rei que anulasse o decreto que ele antes tinha assinado, influenciado por
Mordecai, Xerxes disse-lhe que, infelizmente, a palavra de um rei não poderia voltar atrás. Deu-lhe,
porém, um novo decreto, dando aos judeus o direito de se defenderem de seus inimigos, reagindo a
qualquer ataque de outros povos.

No dia que tinha sido marcado para a matança dos judeus, os povos inimigos vieram para liquida-
los, mas o que ocorreu foi justamente o contrário. Em todas as cidades em que havia judeus, eles se
organizaram e, quando foram atacados, venceram seus inimigos, auxiliados por soldados do rei.

Para relembrar esta importante vitória de seu povo, Mordecai, que gozava de cada vez mais
prestígio junto ao rei, instituiu a festa do Purim, na qual os judeus deveriam dar banquetes,
enviando comida uns para os outros e distribuindo presentes aos pobres.

Deus honrou a fidelidade de Mordecai, que não se curvou diante de Hamã e protegeu o seu povo,
mostrando-nos, através desta bela história, como devemos ser fortes diante dos problemas, pois Ele
pode transformar em vitórias nossas aparentes derrotas.
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