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Psa Na Mata Atlantica Licoes Aprendidas e Desafios 202 PDF
Psa Na Mata Atlantica Licoes Aprendidas e Desafios 202 PDF
Presidente
DILMA VANA ROUSSEFF
Vice Presidente
MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA
Ministra
IZABELLA MÔNICA VIEIRA TEIXEIRA
Secretaria Executiva
Secretário
FRANCISCO GAETANI
Departamento de Florestas
Diretor
JOÃO DE DEUS MEDEIROS
Pagamento por Serviços Ambientais
na Mata Atlântica
Lições aprendidas e desafios
Editores gerais: Fátima Becker Guedes e Agradecemos às valiosas contribuições: Alberto
Susan Edda Seehusen Jorge da Rocha Silva, André Luiz Gonçalves, Anita
Diederichsen, Annette von Lossau, Armin Deiten-
Textos: André A. Cunha, Arnaldo Freitas, bach, Camila Gramkow, Carla Yamaguti Lemos,
Fernando Veiga, Ingrid Prem, Marina Gavaldão, Christiane Ehringhaus, Claudio Valladares Pádua,
Peter H. May, Susan Edda Seehusen. Clemente Coelho Júnior, Clóvis Borges, Eduardo
Ditt, Guilherme Dutra, Helena Carrascosa von
Colaboração nos textos e acompanhamento do Glehn, Heliandro Maia, Isabel Renner, Jan Börner,
estudo: Antonio Carlos Tafuri, Jerônimo A. Amaral, João de Deus Medeiros, Jorge
Dan Pasca, Eduardo Correa, Ingrid Prem, Jorge Luiz Hargrave G. Silva, José de Aquino Machado Jr., Le-
Vivan, Marcelo Elias de Aguiar, Vinícius de Azeredo, onardo Diniz Reis Silva, Lúcio Bedê, Luiz Carlos Bal-
Wigold Bertoldo Schäffer. cewicz, Luiz Paulo Pinto, Marcello S. Nery, Marcia
Hirota, Marilza F. Guimarães, Marina Kosmus, Ma-
Mapas: Yuri Salmona (capítulos) e Dan Pasca (fi- rina Landeiro, Rejane Andrade, Shigeo Shiki, Thiago
chas) Belote Silva, Wilson Loureiro
Fotos: Wigold Bertoldo Schäffer, Miriam Prochnow, Acima de tudo, este estudo não teria sido viável sem
Alan Yukio Mocochinski, Susan Edda Seehusen, a contribuição dos responsáveis pelos projetos de
Fátima Becker Guedes, Cyro Soares (Arquivo do pagamento por serviços ambientais, que responde-
Projeto Corredores Ecológicos). ram aos questionários e às entrevistas e tornaram
possível este levantamento de projetos e análise.
Projeto gráfico e capa e ilustrações:
Masanori Ohashy Apoio: Projeto Proteção da Mata Atlântica II, finan-
ciado pelo Governo Alemão no âmbito da Iniciativa
Revisão: Ana Cíntia Guazzelli Internacional de Proteção ao Clima (IKI) do Ministé-
rio Federal do Meio Ambiente, da Proteção à Natu-
reza e da Segurança dos Reatores Nucleares (BMU).
Catalogação na Fonte
P128 Pagamentos por Serviços Ambientais na Mata Atlânica: lições aprendidas e desafios / Fátima Becker
Guedes e Susan Edda Seehusen; Organizadoras. – Brasília: MMA, 2011.
ISBN 978-85-7738-157-9
1. Serviços ambientais. 2. Unidade de Conservação. 3. Mata Atlântica. I. Guedes, Fátima Becker. II.
Seehusen, Susan Edda. III. Ministério do Meio Ambiente – Secretaria de Biodiversidade e Florestas.
VI. Título. V. Série.
CDU(2.ed.)33:504
A reprodução desta obra é permitida desde que citada a fonte. Esta permissão não se aplica às fotos, que foram cedidas exclusivamente
para esta publicação. Esta obra não pode ser comercializada.
Ministério do Meio Ambiente
Secretaria de Biodiversidade e Florestas
Departamento de Conservação da Biodiversidade
Núcleo Mata Atlântica e Pampa
Brasília - DF
2011
BIODIVERSIDADE 42
Sumário
Apresentação............................................................................................... 8
Introdução ................................................................................................ 11
Introdução ............................................................................................................................ 16
O que são os serviços ambientais? ...................................................................................... 17
Valor dos ecossistemas e dos serviços ambientais.............................................................. 24
Problemática econômica relacionada aos serviços ambientais ......................................... 28
Como lidar com a tendência à degradação de servicos ambientais? ............................... 31
Pagamentos por serviços ambientais.................................................................................. 34
Da teoria para a prática: questões orientadoras na concepção de sistemas de PSA ....... 45
Introdução ............................................................................................................................ 56
O mercado de carbono florestal ......................................................................................... 58
Sistemas de PSA-Carbono na Mata Atlântica..................................................................... 65
Gargalos e recomendações ................................................................................................. 77
Projetos de PSA-Carbono .................................................................................................... 80
ANEXOS
I. Arcabouço Legal ............................................................................................................. 252
II. Métodos de valoração econômica e exemplos de aplicação ...................................... 267
III. Lista de siglas e acrônimos ........................................................................................... 268
Apresentação
Projetos de pagamento por serviços ambientais das serras, além de preservar um patrimônio his-
(PSA) vêm se difundindo rapidamente no Brasil e tórico e cultural, serviços ambientais vitais para
já há muitas lições aprendidas por parte dos imple- aproximadamente 120 milhões de brasileiros que
mentadores. No entanto, existem poucas publica- vivem em seu domínio.
ções que sistematizam essas experiências e anali- Na Mata Atlântica, no decorrer da colonização
sam o instrumento de PSA criticamente no Brasil, e exploração econômica, foram destruídas exten-
e, como consequência, os responsáveis pelos proje- sas áreas da sua cobertura vegetal. Apenas cerca
tos enfrentam muitas dúvidas conceituais sobre os de 22% da área original ainda estão cobertas com
mecanismos relacionados. remanescentes de vegetação nativa. No entanto, os
Esta publicação se propõe a preencher par- fragmentos florestais bem conservados e maiores
te desta lacuna ao apresentar uma sistematização de 100 ha, somam apenas 7,3% da cobertura ori-
e análise de projetos de pagamentos por serviços ginal.
ambientais na Mata Atlântica, tendo como foco A Avaliação Ecossistêmica do Milênio demons-
aqueles de armazenamento ou sequestro de car- tra que cerca de 60% dos dos serviços ambientais
bono, de proteção de serviços hidrológicos e de que garantem o bem-estar humano estão degra-
conservação da biodiversidade. Ele é baseado em dados e sob pressão, como resultado da contínua
um amplo levantamento de iniciativas promissoras destruição e sobre-exploração dos recursos natu-
e análise de suas lições aprendidas. A publicação rais e da biodiversidade. Para diminuir e reverter
também oferece indicações de como diagnosticar esses processos é necessário promover a proteção,
condições necessárias para o funcionamento de o uso sustentável e a recuperação dos ecossistemas
PSA e preparar projetos de PSA exitosos, mostran- e, dessa forma, garantir importantes serviços am-
do bons exemplos em prol da proteção, recupera- bientais dos quais todos precisamos, como a captu-
ção e do uso sustentável da Mata Atlântica. ra de carbono, a manutenção dos ciclos hídricos e
A Mata Atlântica é uma região de importância a proteção da biodiversidade e das belezas cênicas
global, constituída por um conjunto de formações para a sociedade.
florestais e outros tipos de vegetação, que estendia- Considerando essa situação, existem várias ini-
se originalmente por aproximadamente 1.300.000 ciativas, ações, projetos e programas para a prote-
km2 em 17 estados do território brasileiro. Além ção, recuperação e uso sustentável da Mata Atlânti-
de ser uma das regiões mais ricas do mundo em ca. É nesse contexto, que o pagamento por serviços
biodiversidade e um sumidouro de carbono de sig- ambientais apresenta-se como um instrumento
nificância para o clima. A Mata Atlântica é impor- promissor para uma gestão ambiental exitosa e que
tantíssima na regulação do fluxo dos mananciais, ao mesmo tempo gera novas fontes de renda para
para assegurar a fertilidade do solo, controlar o avançar na proteção do meio ambiente. Essa pers-
equilíbrio climático e proteger escarpas e encostas pectiva está presente na atuação e nas políticas do
Ministério do Meio Ambiente. Em 2009, o Gover-
no Federal, por intermédio do MMA, encaminhou
ao Congresso Nacional um Projeto de Lei que visa
instituir a Política Nacional dos Serviços Ambien-
tais e criar o Programa Federal de Pagamento por
Serviços Ambientais. Sua entrada em vigor consti-
tuirá em um avanço para a proteção das florestas
tropicais, ecossistemas associados e sua biodiversi-
dade e fomentará, também, o desenvolvimento de
projetos de recuperação de áreas degradadas, bem
como a proteção e recuperação de mananciais.
Com o avanço nos marcos regulatórios de pro-
jetos de Pagamentos por Serviços Ambientais, bem
como a difusão do conhecimento acerca deste ins-
trumento, o MMA pretende contribuir de forma
consistente para a conservação da biodiversidade
de forma integrada com a economia e o bem-estar
da população. Consideramos esta uma forma es-
tratégica de assegurar a capacidade dos ecossiste-
mas de suprir as necessidades atuais e futuras da
sociedade e, assim, avançar rumo ao desenvolvi-
mento sustentável na Mata Atlântica.
Boa leitura!
Por que
Pagamentos
por Serviços
Ambientais?
Susan Edda Seehusen e Ingrid Prem
16 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Introdução
O que são os serviços ambientais, qual sua im- condição de que ele garanta a provisão do serviço
portância e por que é preciso de instrumentos de (condicionalidade)” (Wunder, 2005).
gestão para lidar com eles? E o que são esses sis- Os sistemas de PSA ocorrem em contextos di-
temas de PSA? Como eles surgem? Para que eles versificados e das mais variadas maneiras. Visando
servem e qual seu papel para a conservação, recu- prover uma contribuição para a difusão de conheci-
peração e uso sustentável da biodiversidade e dos mentos na área, esse capítulo busca introduzir con-
recursos naturais? Como eles funcionam nos di- ceitos-chave relacionados ao PSA. Ele proporciona
versos contextos e, finalmente, como elaborar um um panorama sobre os serviços ambientais e os be-
sistema PSA? nefícios econômicos por eles providos; explica por-
Muitas questões permeiam a discussão sobre o que, sob a ótica econômica, o provimento dos servi-
PSA. Com o seu aparecimento, surgiram concomi- ços ambientais tende a estar sob pressão; apresenta
tantemente diversas definições e questionamentos brevemente os principais instrumentos usados para
quanto ao instrumento, que reforçam a necessida- superar este problema e situa as abordagens de PSA
de deste mecanismo ser mais testado e estudado. A entre eles; introduz o conceito de PSA e mostra
despeito das inúmeras definições para o PSA, uma parte da discussão de literatura sobre a realidade de
delas é amplamente usada e o define como “uma implementação do PSA no Brasil e no mundo. Por
transação voluntária, na qual um serviço ambien- fim, passando da teoria para a prática, introduz al-
tal bem definido, ou um uso da terra que possa as- gumas questões orientadoras que podem servir de
segurar este serviço, é adquirido por, pelo menos, apoio à elaboração de projetos PSA.
um comprador de no mínimo, um provedor, sob a
Por que pagamentos por serviços ambientais? 17
O que são os
serviços ambientais?
A Convenção das Nações Unidas sobre a Di- Uma vez conhecidas e suas contribuições para
versidade Biológica (CDB) define ecossistema a sociedade, identificadas, as funções dos ecossis-
como um “complexo dinâmico de comunidades temas podem ser definidas como serviços ecos-
vegetais, animais e de micro-organismos e o seu sistêmicos (De Groot et al., 2002). Um exemplo é
meio inorgânico que interagem como uma uni- provido pela figura 1.
dade funcional”. Há ecossistemas marinhos, como Há inúmeras definições para serviços ecossis-
oceanos abertos e costas, e há ecossistemas terres- têmicos e serviços ambientais. Nesta publicação,
tres, como florestas, campos, manguezais, lagos e optou-se usar a terminologia de serviços ambien-
rios, desertos, áreas de cultivo, tundras, ambientes tais, considerando que eles englobam tanto os ser-
rochosos e glaciares. viços proporcionados ao ser humano por ecossis-
Nos ecossistemas ocorrem diversos processos temas naturais (os serviços ecossistêmicos), quanto
naturais, que resultam das complexas interações os providos por ecossistemas manejados ativamen-
entre os seus componentes bióticos (organismos te pelo homem. Por exemplo, este pode influenciar
vivos) e abióticos (componentes físicos e químicos) positivamente a oferta de serviços ambientais a
por meio das forças universais de matéria e energia. partir da sua escolha em adotar práticas agrícolas
Esses processos naturais garantem a sobrevivência diversificadas e sustentáveis em uma área (SAFs,
das espécies no planeta e têm a capacidade de pro- agricultura orgânica etc.) em detrimento de ativi-
ver bens e serviços que satisfazem necessidades hu- dades potencialmente degradantes (como pecuária
manas direta ou indiretamente. Essas capacidades mal manejada ou agricultura comercial com alto
são classificadas como funções dos ecossistemas emprego de pesticidas) (Muradian et al., 2010).
(De Groot et al., 2002).
Serviços de provisão
São aqueles relacionados com a capacidade dos ecossistemas em prover bens, sejam eles alimentos (frutos, raízes, pescado,
caça, mel); matéria-prima para a geração de energia (lenha, carvão, resíduos, óleos); fibras (madeiras, cordas, têxteis); fitofár-
macos; recursos genéticos e bioquímicos; plantas ornamentais e água.
Serviços reguladores
São os benefícios obtidos a partir de processos naturais que regulam as condições ambientais que sustentam a vida humana,
como a purificação do ar, regulação do clima, purificação e regulação dos ciclos das águas, controle de enchentes e de erosão,
tratamento de resíduos, desintoxicação e controle de pragas e doenças.
Serviços culturais
Estão relacionados com a importância dos ecossistemas em oferecer benefícios recreacionais, educacionais, estéticos, espiritu-
ais.
Serviços de suporte
São os processos naturais necessários para que os outros serviços existam, como a ciclagem de nutrientes, a produção primá-
ria, a formação de solos, a polinização e a dispersão de sementes.
Tanto comunidades urbanas quanto rurais mas conservados e bem manejados, como flo-
necessitam de serviços ambientais para a sobrevi- restas, mangues, ecossistemas marinhos, entre
vência; dependem, entre outros, de matérias pri- outros, têm um papel fundamental na provisão
mas, da água para beber, dos ciclos de chuvas para desses serviços. A seguir são apresentados al-
irrigar lavouras, do armazenamento de carbono guns dos serviços ambientais providos por flo-
para mitigar as mudanças climáticas. Ecossiste- restas tropicais.
Dois terços da população brasileira, que vivem de alcance principal. Por exemplo, a mitigação das
em áreas de abrangência da Mata Atlântica, depen- mudanças climáticas é um benefício tratado no âm-
dem do provimento de água em quantidade e qua- bito global, já que, não importando onde ela é feita,
lidade, do ciclo de chuvas, da polinização natural têm impactos nesse âmbito. Já o serviço de controle
provida por remanescentes de vegetação nativa a da erosão impacta primordialmente o nível local.
plantações agrícolas, da proteção contra desastres A formação dos mercados para SA está relacio-
naturais e pestes agrícolas, da beleza cênica para nada à qual dos níveis cada um dos serviços está
recreação e dos serviços culturais e espirituais. Mas mais ligado. Por exemplo, no caso da mitigação das
a Mata Atlântica não beneficia somente a popula- mudanças climáticas, pode haver disposição a pa-
ção local e regional. A sociedade global também gar em outros países por um serviço prestado na
se favorece da proteção de recursos genéticos, da Mata Atlântica. Já no caso do controle da erosão, a
beleza cênica, da proteção de espécies endêmicas, e disposição a pagar se restringe ao nível local.
da mitigação das mudanças climáticas. A Mata Atlântica é uma das regiões mais bio-
A figura 2 identifica alguns dos benefícios pres- diversas no mundo e porciona diversos serviços
tados pelos serviços ambientais da Mata Atlântica ambientais para a sociedade. Ditt e outros autores
indicando, para cada um, seu principal nível de quantificaram alguns destes benefícios providos
benefício: global, regional ou local. Mesmo reco- pelas fitofisionomias florestais do Sistema Canta-
nhecendo que há interrelações entre os três níveis, é reira, que abastece de água a cidade de São Paulo
interessante notar que cada benefício tem um nível (Box).
* Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Ciência Ambiental, é secretário executivo e pesquisador do Instituto de
Pesquisas Ecológicas - IPÊ
** Administrador de empresas e biólogo, mestre e doutor em Biologia da Conservação, é reitor da Escola Superior de
Conservação Ambiental e Sustentabilidade e Vice-Presidente do IPÊ
Alguns dos serviços ambientais reguladores levar à perda de vidas humanas. Um estudo de
providos pela Mata Atlântica merecem destaque caso realizado pelo Ministério do Meio Ambiente
pela importância na prevenção de desastres natu- (Schaffer et al., 2011), exemplifica bem a relação
rais, tais como deslizamentos de terra e enchentes, entre áreas de risco e áreas nas quais a legislação
que podem causar prejuízos sociais, ambientais vigente estabelece que deve ser mantida a vegeta-
e econômicos, mas que, principalmente, podem ção nativa, como podemos ver no box a seguir.
22 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
O Código Florestal (Lei Federal no 4.771/65) nativa, a não ser em casos excepcionais de baixo
determina a existência de áreas especialmente pro- impacto ambiental ou obras de utilidade pública.
tegidas. São elas, as Áreas de Preservação Perma- Entre as APPs, temos as margens de nascentes e
nente – APP, Reservas Legais – RL, entre outras cursos d’água (rio, nascente, vereda, lago ou lagoa),
áreas com características especiais (a exemplo da- as bordas de tabuleiros ou chapadas, os topos de
quelas com inclinação entre 25 e 45o, onde é per- morros, montes, montanhas e serras e as encostas
mitido apenas o manejo sustentável da vegetação de alta declividade, entre outros.
nativa). As APPs, conforme o conceito legal esta- O estudo de caso realizado pelo Ministério do
belecido pelo Código, têm a função ambiental de Meio Ambiente faz uma análise das regiões mais
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a esta- atingidas pelas enchentes e pelos deslizamentos
bilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de terra e rochas na região serrana do Rio de Ja-
de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem- neiro, em janeiro de 2011. Este trabalho apresenta
estar das populações humanas. O Código estabele- uma análise comparativa, com base em imagens
ce parâmetros mínimos para as APPs, espaços que de satélites e fotos aéreas, da relação entre as áreas
devem estar livres de intervenções humanas, não atingidas no desastre e as APPs estabelecidas pelo
sendo permitida a supressão da cobertura vegetal Código Florestal. Foram produzidos mapas onde
é possível observar que as áreas nas margens dos getação nativa bem conservada, ou seja, áreas que
rios atingidas pelas enchentes, onde foram des- não apresentavam alteração antrópica. Também
truídas muitas edificações e houve perda de vidas constatou-se que as unidades de conservação, além
humanas, coincidem, em grande medida, com as de protegerem e preservarem a biodiversidade, os
Áreas de Preservação Permanente, que foram in- processos ecológicos e os recursos genéticos, cum-
devidamente ocupadas. Também constatou-se que prem importante papel na conservação do solo,
nas APPs com vegetação nativa preservada, não proteção de encostas com alta declividade, prote-
houve danos sociais e econômicos relevantes. O ção dos mananciais hídricos e minimização de im-
estudo quantificou a relação entre as interferên- pactos de chuvas torrenciais.
cias antrópicas nas montanhas e os deslizamen- Como se observa, o estudo explicita a impor-
tos e demonstrou que 92% dos deslizamentos de tância dos serviços ambientais prestados pelas
terra e rocha ocorreram em áreas com algum tipo áreas especialmente protegidas por lei. Entre esses
de intervenção, tais como construção de estradas, serviços, destacam-se: a preservação dos recursos
desmatamento ou terraplanagem para edificação, hídricos e da estabilidade geológica e a proteção do
realizadas no sopé, na vertente ou no topo de mon- bem-estar das populações humanas.
tanhas. Tais intervenções potencializam o risco de *Bióloga, mestre em Genética e Evolução. É analista ambiental do
Núclo Mata Atlântica e Pampa da Secretaria de Biodiversidade e
deslizamentos em uma região na qual o solo que Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
cobre os morros e as montanhas é raso e com esta-
bilidade frágil. Foi identificado, ainda, que apenas
8% dos deslizamentos ocorreram em áreas com ve-
para que uma espécie seja protegida em seu habitat ceiros, trazendo mais clareza sobre os ganhos e as
natural, como o urso polar, por exemplo, mesmo perdas que cada alternativa envolve, os chamados
que o agente saiba que nunca irá de fato ver um conflitos de escolha (trade-offs). É nesse contexto
animal desses na natureza. Valor de legado refere- que estudos têm buscado valorar os benefícios eco-
se ao valor atribuído a algo para que ele seja con- nômicos providos pelos ecossistemas e seus servi-
servado, permitindo que próximas gerações dele ços ambientais para a sociedade (TEEB, 2010 b).
se beneficiem (seja através do uso ou não uso). A A primeira estimativa do valor econômico da
Figura 3 sistematiza os componentes do conceito biosfera como um todo foi elaborada por Robert
de valor econômico total. Costanza e outros autores em meados dos anos
Excluídos os bens com valores de uso direto, 1990 (Costanza et al., 1997). Eles revisaram um
para a maior parte dos outros benefícios providos número de valorações de serviços ambientais e fi-
pelos ecossistemas e pela biodiversidade não há zeram uma estimativa do valor total dos ecossis-
mercados e, consequentemente, para eles não exis- temas, baseada em cálculos adicionais próprios,
te um preço. Portanto, para acessar a contribuição captando valores de uso (matérias-primas, recrea-
econômica de diversos serviços ambientais ao bem ção, alimentos, e de não comercializados); não uso
estar humano, foram desenvolvidos métodos para (regulação do clima, controle de erosão, ciclagem
valorar economicamente estes serviços (vide tabela de nutrientes, tratamento de resíduos etc.); valores
no Anexo 2), baseados em modelos de comporta- de opção (recursos genéticos, habitat) e valores de
mento humano, que consideram as preferências existência (culturais, habitat etc.), entre outros.
subjetivas individuais. De acordo com este estudo, a biosfera promove
Ao mensurar os valores econômicos dos servi- a cada ano bens e serviços ambientais à humanida-
ços ambientais, possibilita-se a comparação destes de da ordem entre 16 a 54 trilhões de dólares (em
com outros bens produzidos ou recursos finan- média 33 trilhões) a preços de 1994 (Costanza et
Valor de Uso Direto Valor de Uso Indireto Valor de Opção Valores de Legado Valores de Existência
Armazenamento
de Carbono
Alimento Controle contra Habitats Habitats
Biodiversidade
Madeira cheias Valores culturais Espécies em ex-
Preservação de
Recreação Proteção contra o Espécies amea- tinção
habitats
Medicamentos vento çadas Biodiversidade
Manutenção dos
ciclos hídricos
al., 1997). Esse valor era quase duas vezes o Produ- os valores dos serviços ambientais providos pelos
to Interno Bruto (PIB) global da época do estudo, ecossistemas e pela biodiversidade. Ela visa sensi-
de US$ 18 trilhões. bilizar cidadãos, empresas e tomadores de decisão
Os ecossistemas florestais, em especial os tro- sobre os valores da biodiversidade e os impactos da
picais, como os da Mata Atlântica, exercem um sua perda na economia. Um de seus estudos com-
papel primordial nesse contexto. Segundo o estudo pilou alguns valores econômicos providos por flo-
citado, o valor médio produzido por um hectare restas tropicais, como ilustra a Tabela 3.
de floresta tropical equivalia a US$ 2 mil por ano. Um estudo do Ministério do Meio Ambiente
Excluindo-se os bens, os valores correspondiam a em parceria com a UNEP e WCMC mostra quan-
US$ 1.652 por ano (Costanza et al., 1997). to as áreas protegidas contribuem para a economia
Desde 2008, a iniciativa Economia dos Ecos- nacional (Medeiros et al., 2011). O estudo demons-
sistemas e da Biodiversidade (TEEB) vem promo- tra que 38,4% dos empreendimentos de geração
vendo um grande esforço de cientistas do mundo de energia hidrelétrica no Brasil (responsáveis por
inteiro para aprofundar os conhecimentos sobre 80,3% do total da energia provenientes de fontes
Regulação climática Lescuyer (2007) valorou os benefícios da regulação climática das florestas tropicais em
Camarões em até US$ 842 – 2.265 por hectare por ano.
Regulação hidrológica Yaron (2001) valorou a proteção contra inundações provida pelas florestas tropicais em
Camarões em até US$ 24 por hectare por ano. Van Beukering e outros autores (2003)
estima o valor presente líquido (VPL) do suprimento de água provido pelo ecossistema
Leuser, composto por aproximadamente 25.000 km² de florestas tropicais, em até US$
2,42 bilhões.
Reposição de aquíferos Kaiser e Rumassat (2002) valoraram os benefícios indiretos dos 40.000 ha da Bacia Hi-
drográfica Ko‘olau, no Havaí, em até US$ 1,42 - 2,63 bilhões.
Polinização Priess e outros autores (2007) valoraram os serviços de polinização providos pelas flores-
tas em Sulawesi, na Indonésia, em até 46 Euros por hectare. A continuidade da conver-
são de florestas incorre na redução dos serviços de polinização, impactando as colheitas
de café em até 18% e os retornos por hectare em até 14% nas próximas duas décadas.
Valores de existência Horton e outros autores (2003) usou a valoração contingente para estimar a disposição a
pagar de domicílios da Grã-Bretanha e Itália para proteger áreas na Amazônia Brasileira
em até US$ 46 por hectare por ano.
hidrelétricas em operação) ficam a jusante de áreas aos cofres públicos cerca de US$ 7,3 milhões ao ano
protegidas, sendo estas extremamente relevantes em custos para a manutenção de diques marinhos.
não somente pela perenidade do provimento de Ainda há muitos desafios em relação à valora-
água (a quantidade), mas também para a conten- ção econômica dos serviços ambientais, por envol-
ção da erosão e do aumento da carga sedimentária verem questões éticas, filosóficas ou metodológicas
dos rios (a qualidade da água), evitando a sedimen- (TEEB, 2010). No entanto, as iniciativas de valo-
tação deste material nas represas. Isto representa ração como descritas acima estão deixando claro
um dos principais fatores de custo no processo de que os ecossistemas, a biodiversidade e os serviços
geração de energia hidrelétrica. ambientais são extremamente valiosos e devem ser
O TEEB mostra também que a natureza pro- preservados, não somente por motivos sociais, éti-
vém diversos benefícios a custos menores do que cos ou religiosos, mas também por razões econô-
poderiam ser alcançados por soluções técnicas. micas.
Esse é o famoso caso de PSA de Nova Iorque. A ci- Mas, se os serviços ambientais são tão impor-
dade avaliou que restaurar a Bacia Hidrográfica de tantes e valiosos para o bem-estar da sociedade,
Catskill, que fornece água para a cidade, era mais por que os ecossistemas e a biodiversidade, que
barato que investir em uma usina de pré-tratamen- garantem seu provimento, são destruídos e degra-
to para manter a água pura. A primeira alternativa dados? Se a proteção, manejo e uso sustentável dos
custou à cidade US$ 2 bilhões, enquanto a última ecossistemas e da biodiversidade são necessários
teria custado US$ 7 bilhões em investimentos e para garantir o suprimento de serviços ambientais,
US$ 300 a 500 milhões ao ano em custos operacio- por que atividades ecologicamente insustentáveis
nais (TEEB, 2010). conseguem se impor?
Outro exemplo é do Vietnam. Desde 1994, co-
munidades locais plantaram e protegeram áreas de
mangues nas regiões costeiras do país, onde mais
de 70% da população são ameaçadas por desastres
naturais. A restauração de mangues foi mais custo-
efetiva do que construir barreiras artificiais. O in-
vestimento custou US$ 1,1 milhão e economizou
28 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Problemática econômica
relacionada aos serviços
ambientais
Muitos benefícios providos pelos ecossistemas
e pela biodiversidade não são considerados nas Desafios para se dar valor
decisões econômicas, por não existir um merca- à natureza
do para a maioria dos serviços ambientais e estes
não terem um preço determinado pela dinâmica “Nem tudo que é muito útil custa caro
da oferta e da demanda. Logo, seu consumo gera (água, por exemplo) e nem tudo que custa
custos e benefícios que não são captados pelo siste- caro é muito útil (como o diamante). Este
ma de mercado. Essa falta de consideração ocorre, exemplo expressa não um, mas dois dos
embora muitos serviços ambientais sejam essen- principais desafios de aprendizagem que a
ciais para a vida humana na Terra. A despeito do sociedade enfrenta na atualidade.
seu alto valor, não são atribuídos preços adequados A natureza é fonte de muito valor no
aos serviços ambientais e o mercado não consegue nosso dia a dia apesar de estar fora do
alocá-los de forma eficiente. Isso geralmente leva à mercado e ser difícil atribuir-lhe um pre-
destruição do capital natural e consequentemente ço. Essa ausência de valoração está na raiz
à redução no provimento de serviços ambientais, da degradação dos ecossistemas e da per-
causando graves consequências para a sociedade da de biodiversidade”.
como um todo.
Fonte: TEEB, 2009.
Sob a ótica econômica, este problema ocorre,
porque serviços ambientais são considerados ex-
ternalidades e têm características de bens públicos. ser positivas, a exemplo da mitigação dos impactos
Externalidades são efeitos não intencionais da de- das mudanças climáticas relacionada com a deci-
cisão de produção ou consumo de um agente eco- são de proteger ecossistemas e evitar emissões de
nômico, que causam uma perda (ou um ganho) de carbono, que geram benefícios para a comunidade
bem-estar a outro agente econômico. Esta perda global.
(ou ganho) não é compensada e é comumentemen- Ademais, muitos serviços ambientais têm, em
te excluída dos cálculos econômicos dos agentes. maior ou menor grau, a natureza de bens públi-
Externalidades podem ser negativas, a exem- cos, sendo caracterizados por suas propriedades de
plo dos impactos da produção de uma companhia nãoexclusividade e de nãorivalidade. A não exclu-
química, cujos efluentes implicam em custos adi- sividade denota a impossibilidade (ou a possibili-
cionais de tratamento de água a outra empresa dade proibitivamente cara) de excluir alguém do
captadora de água em um rio. Elas também podem consumo dos serviços ambientais. Por exemplo, é
Por que pagamentos por serviços ambientais? 29
tecnicamente difícil impedir que alguém se benefi- dos serviços ambientais, há uma falha de mercado,
cie do ar, da água ou da beleza cênica. Sem a exclu- que impede a alocação eficiente dos recursos, o que
são, preços não se formam e não atuam para racio- leva ao sobreuso dos recursos naturais, fenômeno
nar o uso ou gerar receitas para a conservação dos este chamado por Garrett Hardin de “tragédia dos
serviços, podendo resultar em sua degradação ou comuns” (Hardin, 1968). Isto, consequentemente,
exaustão (Seroa da Motta et al., 1998). A não rivali- leva à tendência à suboferta no suprimento de ser-
dade de uso refere-se à ausência de competição no viços ambientais.
consumo de um bem ou serviço. Para os bens e ser- É importante notar que nem todos os bens e
viços não rivais, o consumo de um bem ou serviço serviços ambientais têm características de bens pú-
por um indivíduo não reduz o montante disponível blicos puros. Há variados graus de não exclusivi-
para outro. O prazer de apreciar uma catarata por dade e não rivalidade para os diferentes serviços
uma pessoa, por exemplo, não necessariamente ambientais e é a sua intensidade que determinará
diminui se uma outra também a está admirando. o nível da falha de mercado, assim como a melhor
Devido às características de não rivalidade e não forma de lidar com ela (Landell-Mills e Porras,
exclusividade, os direitos de propriedades aos ser- 2002; Engel et al., 2008).
viços ecossistêmicos não são completamente defi-
nidos (Seroa da Motta et al., 1998).
Como consequência, surge o dilema do caro-
nista (free-rider): porque os agentes não podem ser
excluídos do consumo dos serviços ambientais e o
consumo dos serviços por terceiros não reduz os
seus benefícios, os agentes não têm incentivos a pa-
gar por eles. Eles esperam que outros paguem pelos
serviços para que possam consumi-los de qualquer
maneira. Ao passo que todos agentes adotam es-
tratégias de caronista, no agregado, a disposição a
pagar por eles tende a zero (Landell-Mills e Porras,
2002; Costanza et al., 1997).
Logo, a despeito do alto valor atribuído aos
serviços ambientais, consumidores que deles se be-
neficiam não pagam por eles, enquanto produtores
não recebem por produzi-los (ou para garantir a
provisão dos serviços). A não exclusividade e a não
rivalidade impedem que certos bens sejam transa-
cionados nos mercados específicos e tornam im-
possível a transformação do seu valor em preços
(Seroa da Motta et al., 1998). Como os preços são
os sinais de mercado que direcionam as decisões
econômicas dos produtores e consumidores da so-
ciedade, se eles não refletem o valor e a escassez
30 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Por que pagamentos por serviços ambientais? 31
1 Börner e outros autores referem-se aos instrumentos como opção de gestão (management options).
32 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
enfoque pigouviano sugere a imposição de taxas ou Esse enfoque vem sendo discutido nos últimos
subsídios, a chamada taxa pigouviana, para com- anos como uma potencial solução para lidar com a
pensar os custos ou benefícios ambientais. Essa problemática relacionada à provisão dos serviços
taxa deve corrigir o preço de mercado de um bem ambientais e é a principal ideia por trás do instru-
ou serviço de tal forma que esse se torne equivalen- mento econômico de PSA.
te ao seu valor social, que corresponde à somatória No processo de escolha de uma opção de ges-
entre o custo (ou benefício) privado e o custo (ou tão é importante considerar as diferentes caracte-
benefício) social2 (Seroa da Motta, 2005). É mui- rísticas dos serviços ambientais em questão. Vale
to complicado implementar o instrumento em sua ressaltar que nem sempre há uma opção de gestão
forma pura, devido às dificuldades de se medir o ótima, que seja claramente superior às alternativas
dano ou benefício ambiental de maneira total e não sob todos os aspectos (Börner et al, 2008). A imple-
controversa (Seroa da Motta, 1998). mentação de um instrumento geralmente implica
Por outro lado, Coase preconiza pela definição em conflitos de escolha (trade-offs), ou seja, o ins-
ou redefinição dos direitos de propriedade para as trumento mais eficiente para atingir um objetivo
externalidades (Coase, 1960). Uma vez definidos, ambiental pode não ser o socialmente mais justo
seria possível a negociação entre a parte afetada e ou vice-versa (Börner et al., 2008).
a geradora da externalidade, com base nos custos Finalmente, deve-se ter em mente que a com-
e benefícios da externalidade por elas percebidos. binação de opções de gestão, como a estratégia de
Quando essas negociações são possíveis, os preços combinar instrumentos regulatórios e instrumen-
das externalidades emergem, norteando a alocação tos econômicos, não só é viável, como promissora
eficiente dos recursos, capaz de alcançar objetivos para lidar com a problemática relacionada aos ser-
ambientais com menores custos e maximizar os ga- viços ambientais.
nhos sociais agregados (Seroa da Motta, 1998).
Através desse conceito, uma companhia quí- Custos de transação
mica poluente a montante de um rio deve pagar a
uma empresa captadora de água mineral a jusante, Como ressaltam Börner e outros autores
devido ao aumento dos custos de tratamento de (2008), implementar opções de gestão em relação
água gerados. aos serviços ambientais nunca é de graça. Portanto,
Traduzindo o conceito para o caso de ecossis- a existência de uma falha de mercado relacionada
temas protegidos ou manejados sustentavelmente, a um servico ambiental não é suficiente para jus-
a abordagem coaseana significa que deveriam ser tificar alguma ação. É necessário acessar primei-
definidos direitos de propriedade aos serviços am- ramente os efeitos do problema relacionado aos
bientais, de forma que uma empresa hidrelétrica serviços ambientais e compará-los aos custos de se
a jusante de um rio pague para produtores rurais implantar as alternativas de instrumentos para so-
que vivem a montante dele por conservarem suas lucionar o problema.
florestas e manterem dessa forma a qualidade da Devido ao caráter difuso do problema ambien-
água, assim como a regulação dos fluxos hidroló- tal, observa-se um elevado número de partes ge-
gicos. radoras e afetadas pelas externalidades e a solução
O pagamento por serviços ambientais (PSA) mais aceita na literatura até o momento, que define
surge como um instrumento econômico dentre o pagamento por serviços ambientais como:
muitas opções de gestão para lidar com a falha de
mercado relativa à tendência à suboferta de servi- “Uma transação voluntária, na qual, um servi-
ços ambientais em decorrência da falta de interesse ço ambiental bem definido ou um uso da terra
por parte de agentes econômicos em atividades de que possa assegurar este serviço é comprado
proteção e uso sustentável dos recursos naturais. por, pelo menos, um comprador de, pelo me-
Ele é um instrumento econômico, discutido com nos, um provedor, sob a condição de que o pro-
grande ênfase na atualidade para estimular a pro- vedor garanta a provisão deste serviço (condi-
teção, o manejo e o uso sustentável de florestas tro- cionalidade)”
picais, em especial em países em desenvolvimento.
Estas florestas se encontram em geral sob grave Esta definição é bastante útil para diferenciar
pressão de desmatamento e degradação, ao mesmo o PSA de outros mecanismos para a conservação
tempo em que ali moram populações rurais caren- da natureza. Nela é possível encontrar cinco com-
tes de desenvolvimento. ponentes orientadores para serem observados na
A ideia por trás do instrumento é recompen- concepção de uma proposta de PSA. No entanto,
sar aqueles que produzem ou mantêm os serviços desenvolvedores de projetos não precisam ficar en-
ambientais atualmente, ou incentivar outros a ga- gessados a esta definição. Mesmo porque, na práti-
rantirem o provimento de serviços ambientais, que ca, é raro encontrar esquemas de PSA em curso no
não o fariam sem o incentivo. Com o mecanismo, mundo que atendam a todos os critérios propostos
busca-se mudar a estrutura de incentivos de forma acima (Wunder, 2005; Wunder, 2007; Muradian
a melhorar a rentabilidade relativa das atividades et al., 2010). A maioria dos esquemas no mundo
de proteção e uso sustentável de recursos naturais é “tipo-PSA”, atendendo a alguns, mas não a todos
em comparação com atividades não desejadas, se- os critérios propostos simultaneamente (Wunder,
guindo o princípio do “protetor recebedor“. 2007). Descrevemos abaixo os diferentes princípios
Entretanto, o que é considerado como PSA que caracterizam o PSA, assim como a realidade de
pode variar bastante e há diversas definições para implementação dos projetos no mundo e no Brasil.
o instrumento. A proposta por Wunder (2005) é a
Por que pagamentos por serviços ambientais? 35
Os provedores podem ser tanto os provedores benefício para os provedores ocorre na forma da
dos serviços ambientais ou um intermediário. No implementação de políticas específicas, ou outros
último caso, frequentemente um governo munici- tipos de compensações.
pal, estadual ou nacional, é compensado por tomar A existência de provedores também é condicio-
certa decisão, tal como a de criar uma unidade de nada à existência de sistemas indutores. Muitas ve-
conservação em um município. No entanto, não zes, são necessárias políticas/programas ou legisla-
são repassados necessariamente pagamentos em ção específicos para capacitar potenciais ofertantes
dinheiro ao provedor do serviço. Muitas vezes o a se tornarem provedores efetivos.
Pagamento mínimo
(depende do custo Pagamentos por
Ganhos econômicos oportunidade) serviços ambientais
para os produtores
rurais
Redução na
qualidade da água
Custos para as Pagamento pelo
populações à Perda de serviço
biodiversidade Pagamento máximo
jusante
Perda de (benefícios dos
biodiversidade serviços ambientais)
Um ponto importante em projetos de PSA é a definição dos preços a serem pagos pelos ser-
viços ambientais, em especial para o caso da água e da biodiversidade. Como não há mercados
estabelecidos para estes serviços, o valor dos pagamentos devem ser negociados entre o compra-
dor e o provedor dos serviços ambientais para que se chegue a um valor justo e viável.
A valoração econômica não é estritamente necessária para se chegar aos valores a serem
pagos. No entanto, ela pode ser bastante útil para ajudar a balizá-los. Pelo lado da disposição a
pagar, ela pode demonstrar aos compradores uma estimativa dos benefícios econômicos rela-
cionados ao provimento de cada serviço ambiental. Pelo lado dos ofertantes, ela pode ajudar a
estimar os custos adicionais incorridos pelos produtores, que dependem dos custos de oportu-
nidade e a diferença de custo da prática sustentável em relação à menos sustentável. Estes custos
adicionais frequentemente balizam a disposição mínima a receber por parte dos produtores para
que eles entrem em um esquema de PSA.
Existem diversos métodos para estimar o valor econômico de serviços ambientais. Depen-
dendo do serviço que se queira valorar e do contexto local, deve-se utilizar um método diferente
de valoração (ou combinar vários métodos). Exemplos de métodos de valoração são custos evi-
tados, preços hedônicos, custos de reposição, bem como valoração contingente (um panorama
sobre os métodos e exemplos de aplicação encontra-se no Anexo 2).
40 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
ciados a eles e enumera os elementos aos quais os rial, como o zoneamento ecológico econômico. É
pagamentos estão diretamente relacionados. preciso avançar mais nesta área.
Outra forma de comercializar serviços am-
bientais é através do agrupamento de serviços Condicionalidade
(bundling). Segundo este método, tenta-se vender
serviços ambientais de uma área natural única de Segundo o conceito de condicionalidade pro-
maneira agrupada em “pacotes”. Leva-se em conta, posto acima, em um esquema de PSA, o pagamen-
por exemplo, que a proteção de uma área de flores- to deve ocorrer somente se o provedor garantir o
tas nativas sob pressão de desmatamento não evita provimento do serviço em questão. Na prática, este
somente emissões de carbono, mas também pro- é o critério mais difícil de ser alcançado (Wunder,
tege a biodiversidade ali presente. O agrupamento 2007). Há complexidades biofísicas intrínsecas
de serviços pode contribuir para fortalecer as es- aos ecossistemas e seus processos, que dificultam
truturas de governança locais ao evitar que uma a comprovação da relação de causalidade entre os
área tenha diferentes iniciativas de PSA investindo diferentes usos da terra, como no caso de um reflo-
os esforços em serviços diferentes, por exemplo, na restamento e seus efeitos para a recarga de aquífe-
água e na biodiversidade. ros, por exemplo. Outros fatores como a intensida-
Estão emergindo duas formas principais para de de chuvas ou características geológicas podem
agrupamento dos serviços: pacotes misturados influenciar os efeitos da medida adotada (GIZ,
(merged bundles) e pacotes de cestas de compras 2011). Estes fatores limitam a definição, mensura-
(shopping basket bundles) (Landell-Mills e Porras, ção e as possibilidades de monitoramento do pro-
2002). Pacotes misturados não permitem que os vimento de serviços ambientais.
serviços sejam subdivididos e vendidos separada- Na realidade, altos níveis de “comoditização”
mente; eles são uma estratégia útil para controlar do serviço são raros (ao exemplo dos projetos nos
os custos de transação. Os pacotes de cestas de quais são transacionadas toneladas de carbono
compras são mais sofisticados, permitindo que os armazenadas em uma floresta em um período de
provedores subdividam os serviços para vendê-los tempo). Na maior parte dos casos, a caracterização
a diferentes compradores. O resultado deste mé- do serviço ambiental ainda é difusa, baseada em
todo pode ser melhores retornos aos provedores. suposições ou crenças compartilhadas sobre a rela-
Entretanto, dadas as exigências técnicas, infor- ção entre um uso da terra e a provisão dos serviços
mativas e institucionais para a comercialização de ambientais. Um exemplo são os casos de projetos
sucesso para diferentes compradores, o modelo é de PSA para proteção dos serviços hidrológicos,
um objetivo bem distante (Landell-Mills e Porras, que geralmente não são baseados em provas cientí-
2002). ficas (Muradian et al., 2010).
Também é até hoje um grande desafio promo- Devido à informação incompleta sobre a rela-
ver a visão integral levando em conta as potencia- ção entre ecossistemas, intervenção humana e pro-
lidades e vulnerabilidades do território. Pouco se visão dos serviços ambientais, na prática, eles nem
explorou deste campo e a pergunta que se coloca é sempre são bem definidos. Geralmente certos ti-
como promover sinergias entre instrumentos eco- pos de uso da terra são considerados aproximações
nômicos como o PSA com ferramentas de plane- para o provimento de serviços ambientais, embora
jamento do uso da terra e de ordenamento territo- não se conheça com certeza a relação exata entre
42 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Impactos indiretos
- Manutenção ou melhoria da qualidade da água
- Regulação dos fluxos hídricos
- Redução de riscos de enchentes e deslizamentos
Brecha de atribuição
- Restauração florestal
-Regeneração assistida
Atividades - Cercamentode nascentes
- Terraceamento
- Treinamentode instituições
Por que pagamentos por serviços ambientais? 43
Essa estratégia de monitorar os resultados variações nos serviços ambientais pode ser muito
pode ser bastante promissora, dado que em mui- caro, aumentando demasiadamente os custos de
tos casos os impactos que se almeja com relação transação e podendo até tornar o PSA desinteres-
aos serviços ambientais (impactos diretos) são sante em comparação a outros mecanismos de ges-
geralmente difíceis de ser pesquisados e há uma tão ambiental (Muradian et al., 2010).
brecha de tempo até que esses impactos possam Além do monitoramento dos resultados, suge-
ser sentidos. re-se trabalhar uma cadeia de impactos, observan-
Ademais, é necessário analisar o nível de custos do os fatores externos que influenciam a provisão
do sistema de monitoramento a ser implementado. de serviços ambientais e que estão fora do alcance
Monitorar a conexão precisa entre usos da terra e do projeto.
Transação
(quanto pagar?)
Comprador
- Valoração indireta? (demanda)
Condicionalidade - Em função dos custos de - Quem se beneficia do serviço?
oportunidade?
- O que será medido? - Quem pode potencialmente pagar
- Em função dos recursos pelo serviço?
- Como será medido?
disponíveis?
- Quais fontes de recursos podem
- Durante que período?
ser usadas?
- A que escala (área)?
Serviço Ambiental
Marco
Legal - Qual serviço ambiental é elegível? Provedor
(oferta)
- Que legislação é - Qual uso da terra é elegível?
necessária? - Quem provém o
- Quais áreas devem ser priorizadas?
serviço?
46 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Pagiola e Platais (2007), é preciso considerar que o nam et al., 2010). No entanto, identificam-se muitas
escopo para o uso de PSA é restrito a um limitado dificuldades por parte de instituições interessadas
número de problemas, em que os ecossistemas são em ter um panorama sobre os pontos principais
mal manejados porque a maioria dos benefícios são que envolvem um PSA. Neste contexto, como re-
externalidades por parte dos proprietários de terra. sultado da sistematização de lições aprendidas de
Outro fator importante está relacionado aos uma experiência piloto conduzida no Peru, são
custos de transação do instrumento. Como apre- propostos abaixo alguns passos e questões orien-
sentado como citado acima, implementar opções tadoras para apoiarem o processo de desenvolvi-
de gestão em relação aos serviços ambientais nunca mento de um sistema de PSA dentro da estratégia
é de graça e a existência de uma falha de mercado de conservação, recuperação e uso sustentável dos
relacionada a um serviço ambiental não é suficiente recursos naturais em questão (Peru. Minam et al.,
para justificar alguma ação. Primeiramente, é ne- 2010). Segundo esta proposta, o processo de desen-
cessário analisar os efeitos relacionado aos serviços volvimento de PSA é dividido em tem três fases: de
ambientais e compará-los aos custos de se implan- diagnóstico, desenho e implementação.
tar o instrumento para solucionar o problema (Bör- Durante a fase de diagnóstico, pretende-se
ner et al, 2008). É recomendável usar o PSA como comparar as condições atuais e desejadas e as ten-
opção de gestão, se os benefícios gerados pelo ins- dências que se observam no uso da terra e no ma-
trumento (a melhora no provimento dos serviços nejo dos ecossistemas, identificando os fatores crí-
ambientais) forem maiores que seus custos de im- ticos. Os resultados técnicos são apresentados aos
plantação (custos de gerenciamento do mecanismo, atores, para empoderar o processo no curto, médio
das atividades em campo, de sensibilização e articu- e longo prazos.
lação, etc.). Se este não for o caso, é recomendável Esta fase é dividida em três passos. O primeiro
analisar se há opções de gestão mais custo-efetivas envolve a caracterização do ecossistema, a identifi-
para se lidar com o problema ambiental. cação dos serviços ambientais e a definição do pro-
Finalmente, para que um PSA tenha êxito, seja blema ambiental (Passo 1). Para a caracterização,
efetivo e sustentável, é necessário o trabalho dedi- é preciso coletar informações sobre a área, usos da
cado e permanente para criar espaços de participa- terra, serviços ambientais relevantes e fatores que
ção interinstitucionais, incorporando a sociedade estão influenciando o seu provimento, entre ou-
civil e para fortalecer instituições, estruturas e or- tros. Esse passo é chave para determinar a impor-
ganizações, para que a implantação do mecanismo tância do uso do PSA em uma determinada área
de PSA seja efetiva e sustentável. É preciso traba- para a sociedade.
lhar a sensibilização, comunicação e educação am- O seguinte, (Passo 2) trata da análise dos atores
biental, bem como fomentar capacidades nos te- envolvidos (compradores e provedores de serviços
mas relacionados (Peru. Minam et al., 2010). ambientais) e do contexto econômico da região. É
preciso coletar as seguintes informações: 1. ativi-
Elaborando um sistema PSA dades humanas (tipo e localização); 2. análise so-
cioeconômica dos atores (incluindo o enfoque de
Não há uma receita única para se conceber um gênero); e, 3. sistemas de manejo da terra e a sua
sistema de PSA e sempre é preciso adaptar a estra- relação com o fluxo dos serviços ambientais. De-
tégia de intervenção às realidades locais (Peru. Mi- pendendo do interesse dos atores locais em prover
Por que pagamentos por serviços ambientais? 47
Fase 1: Diagnóstico
Fatores de êxito 1 Caracterização 2 Caracterização dos 3 Identificação das
Criar espaços do ecossistema, dos atores (oferta e deman- alternativas de manejo,
de participação serviços ambientais e da) e do contexto socio- valoração econômica
interinstitucionais e definição do problema econômico e instrumentos econô-
incorporar à sociedade ambiental micos
civil.
Trabalhar na Fase 2: Desenho
sensibilização,
comunicação e educação a) Identificação do mecanismo financeiro
ambiental. b) Definição do arranjo institucional e aspectos de governança
Fomentar capacidades
nos temas relacionados. Fase 3: Implementação
Implementação, monitoramento e avaliação (gestão adaptativa)
A seguir são propostas questões norteadoras, Quem são os demandantes dos serviços am-
que objetivam oferecer orientação metodológica bientais e quais os seus interesses e necessida-
em cada uma das fases do processo de elaboração des?
de uma sistema de PSA. Os demandantes estão conscientes das relações
entre o manejo da terra e o fluxo de serviços
Fase 1: Diagnóstico ambientais?
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Por que pagamentos por serviços ambientais? 53
Introdução
A celebração do Protocolo de Quioto consti- Os custos de transação necessários para vencer
tuiu um marco na definição de instrumentos de os obstáculos à aprovação de um projeto de qual-
incentivo econômico para a gestão ambiental, quer natureza pelos procedimentos do MDL são
pois os mecanismos de flexibilização incorpo- estimados em torno de US$ 150 mil por projeto,
rados permitiram um estímulo sem precedentes fazendo com que somente projetos comerciais de
à criação de mercados para serviços ambientais. grande porte fossem considerados custo-efetivos.
Embora os investimentos propiciados tenham se Apesar da criação de modalidades de projeto A/R
focado principalmente em inovações energéti- em pequena escala, certificação de créditos de car-
cas e troca de combustíveis, foram mobilizados bono em grupo ou mesmo a criação de consórcios
esforços para legitimar atividades adicionais, vi- de projetos visando reduzir os custos de entrada
sando fortalecer o setor florestal. Neste contexto, e permitir a participação de projetos florestais de
o Acordo de Marrakech, que limitou investimen- base comunitária no mercado formal de créditos
tos florestais no Mecanismo de Desenvolvimento de carbono, não há esperanças de haver maior par-
Limpo (MDL)1 a projetos de florestamento ou re- ticipação de projetos florestais no âmbito do MDL.
florestamento (A/R)2, gerou algumas frustrações. Entretanto, há uma discussão em curso sobre
Estas foram reforçadas pelas barreiras à entrada a proposta de Redução de Emissões de Desmata-
de projetos florestais criadas no Painel de Meto- mento e Degradação Florestal (REDD), que deve
dologias de Linha de Base, e no próprio Conselho aplicar princípios de PSA para compensar proprie-
Executivo do MDL, que registrou apenas 21 pro- tários rurais que evitam o desmatamento, ou que
jetos florestais ao longo do primeiro período de ativamente enriqueçam florestas remanescentes
compromisso, dos quais apenas dois localizados visando recompor estoques de carbono (Angelsen,
no Brasil (projetos - Plantar e AES-Tietê). 2009). As discussões sobre REDD+ (que inclui a
1 O MDL é um dos chamados “mecanismos de flexibilização” do Protocolo de Quioto, da UNFCCC, e tem por objetivo permitir que países
desenvolvidos (listados no Anexo I do Protocolo de Quioto) possam compensar suas emissões por meio da compra de emissões certificadas
de redução (ECR) geradas a partir de atividades implementadas por países em desenvolvimento , ou seja, países que não constam no Anexo
I do Protocolo de Quito e, portanto, não possuem metas de redução de emissões.
2 A/R, do inglês Afforestation/Reforestation.
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 57
3 O Fundo Amazônia foi instituído como resposta ao Pacto para o Fim do Desmatamento e Valorização da Floresta Amazônica, promovido
por um conjunto de nove ONGs nacionais e internacionais atuantes na região. A proposta levou o governo brasileiro a instituir o Fundo
dentro do BNDES, com recursos iniciamente oriundos do governo da Noruega, que prometeu até US$ 1 bilhão ao Fundo Amazônia ao
longo de 10 anos. Adicionais recursos foram prometidos pelo governo alemão.
58 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Projetos florestais começaram a fazer parte do carbono florestal é bem diverso, tanto pelo lado da
mercado global de crédito de carbono no início da demanda quanto da oferta. Muitos créditos foram
década de 1990, quando organizações não gover- produzidos e comercializados meramente com fins
namentais, indústrias e outras empresas formaram filantrópicos e muitos outros foram criados como
parcerias para conservar florestas e plantar árvores commodities para serem vendidos nos mercados re-
com o objetivo de neutralizar suas emissões de ga- gulamentados e voluntários. No entanto, a evolução
ses de efeito estufa por intermédio da captura de dos padrões de certificação e validação dos proje-
carbono pelas árvores plantadas (offsetting). Em- tos no mercado voluntário tem permitido que estes
bora os projetos de carbono florestal tenham sido ganhem credibilidade e sejam vistos como comple-
os primeiros a fazer parte do mercado de compen- mento ao mercado regulamentado (Simoni, 2009).
sação de carbono, eles logo foram colocados de O Ecosystem Marketplace (Hamilton et al.,
lado pelas políticas regulatórias sobre gases de efei- 2009), da entidade Forest Trends, monitorou pro-
to estufa oriundas do Protocolo de Quioto. Apenas jetos que geraram créditos durante os últimos 20
21 projetos florestais foram registrados pelo MDL anos, tanto nos mercados voluntários quanto nos
até a data deste estudo, totalizando uma redução de mercados regulamentados. Mesmo se referindo a
emissões prevista pelos executores de 927 mil to- projetos com diferentes características e com os
neladas de CO2 (tCO2) por ano (cálculos do autor, ativos comercializados tendendo a representar va-
baseado em UNFCCC, 2010). lores e conceitos distintos, esses ativos são geral-
Desta forma, a grande maioria dos projetos mente considerados em toneladas de dióxido de
florestais, não conseguindo financiamento no carbono (tCO2).
mercado regulamentado (compliance market), foi De acordo com os dados apresentados por Ha-
capturada pelos mercados voluntários. Alguns milton e outros autores (2009), na Tabela 1, abai-
compradores foram atraídos por essa categoria de xo, os mercados voluntários estão representados
compensação tangível, baseada em recursos ter- principalmente pelo mercado Over-the-Counter
restres e outros cobenefícios socioambientais (p.e., (OTC), que se refere a todas as transações de car-
uso de produtos florestais não madeireiros para bono não reguladas por atores de mercado, e pelo
geração de renda por comunidades tradicionais), mercado do Chicago Climate Exchange (CCX),
e outros abriram mão da complexidade e riscos ativos de carbono comercializados em conjunto na
inerentes a projetos de compensação de carbono Bolsa de Futuros de Chicago. Uma bolsa de pro-
baseados em florestas. Atualmente, o mercado de jetos de redução de emissões está sendo criada na
4 Esta seção foi inspirada em grande medida pelo resumo executivo de Hamilton et al. (2009), com subsídios de outros estudos e informa-
ções obtidas ao longo deste levantamento.
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 59
Volume
Valor (milhões de US$)
(milhões de toneladas de MtCO2)
Mercados
Total Acumulado 2008 Total Acumulado 2008
até 2008 até 2008
5 Trata-se de um projeto de redução de emissões numa indústria de cerâmicas, promovido pelo programa Carbono Social da entidade
Instituto Ecológica. Um projeto anterior, financiado pelo governo de São Paulo, havia também comercializado certificados de redução de
emissões na mesma instância.
6 BIRD/FINEP/B&MF/Bovespa, Projeto de Fortalecimento das Instituições e Infraestrutura do Mercado de Carbono no Brasil, 2010. Dis-
ponível para download em: http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/mercados/mercado-de-carbono/estudos-sobre-o-mercado-de-carbono-
brasileiro.aspx?Idioma=pt-br.
60 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
A/R), que representam 0,5 MtCO2, ou apenas 4% ço quanto o volume de transações no mercado de
do mercado global de créditos de carbono florestal. carbono, assim como ocorreu com todos os demais
No geral, o volume de transações permane- mercados de risco (Point Carbon, 2010), com a ex-
ceu baixo até 2006. Com a ratificação e início do ceção do mercado de carbono terrestre (Hamilton
primeiro período de compromisso do Protocolo et al., 2009).
de Quioto, em 2007, o volume de comercialização Os preços dos créditos de carbono florestal va-
cresceu 226%, alcançando um total de 5,1 MtCO2. riaram de US$ 0,65/tCO2 a mais de US$ 50/tCO2.
No ano de 2008, o crescimento foi tímido em rela- Ao longo do tempo, o preço médio ponderado foi
ção ao ano anterior, atingindo um montante de 5,3 de US$ 7,88/tCO2. Os mercados regulamentados,
MtCO2 comercializadas. Já em 2009, os proponen- em geral, obtiveram os preços mais elevados, com
tes de projetos reportaram um total de 10,4 MtCO2 um preço médio de US$ 10,24/tCO2, seguido pelo
comercializadas, quase dobrando o total de crédi- mercado voluntário OTC com US$ 8,44/tCO2. Os
tos em relação ao ano anterior, e alcançando 24% preços médios para os tCER’s (certificados tempo-
de todo o mercado OTC neste ano. O crescimento rários), que devem ser substituídos ou reeditados
principal se deve à explosão em contratos REDD+, no fim do seu período de crédito, foram signifi-
sendo que este novo mercado para carbono flores- cativamente mais baixos, alcançando US$ 4,76/t
tal, com vistas à preservação da “floresta em pé”, CO27. Os créditos mais baratos foram comerciali-
quadruplicou em apenas um ano (Hamilton et al., zados pelo mercado CCX, com um preço médio de
2009). A crise financeira global abalou tanto o pre- US$ 3,03/t CO2. Estes preços caíram de forma sig-
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7 Devido à baixa demanda de CERs associados com projetos MDL em A/R, abriu-se a possibilidade de comercializar tCERs, com curto
período de maturação, como forma de reduzir o risco ao investidor. Mesmo com esta abertura, houve poucos projetos apoiados nesta
modalidade.
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 61
nificativa durante a crise financeira de 2009, regis- para aumentar esse valor. Mesmo assim, o preço
trando uma média de US$ 4,60/tCO2 para projetos do CER de carbono florestal comercializado no
A/R e somente US$ 2,40/tCO2 para desmatamento mercado regulamentado está, em geral, em menos
evitado. da metade do valor médio de carbono no merca-
Os preços tendem a flutuar, tendo como índi- do europeu, que foi de US$ 18,70 em 2009. Mes-
ce – como o restante do mercado de carbono – o mo após o colapso dos preços que acompanhou
mercado global de combustíveis fósseis e, particu- a crise financeira mundial, ainda permanece uma
larmente, o custo-efetividade de trocas entre eles: percepção de grande risco associado a estes ativos,
quando o preço dos combustíveis aumenta devido particularmente o carbono florestal, no mercado
às expectativas de taxação das emissões, sinaliza financeiro.
escassez, e a reação dos agentes é a de procurar um Com o total de 18,4 MtCO2 do volume acu-
fundo de cobertura (hedge fund) (Simoni, 2009). mulado comercializado até meados de 2009, a
Mesmo com um futuro mais escasso quanto à dis- América do Norte (7,2 MtCO2) e a América La-
ponibilidade de petróleo, as incertezas na regula- tina (3,9 MtCO2) estão no topo da lista de lugares
ção do clima têm afetado a estabilidade do preço que mais comercializaram créditos de carbono
do carbono, que sofreu uma queda significativa no florestal, respondendo por 39% e 22% do total de
mercado voluntário pós-Copenhague. Se houver transações, respectivamente. A Oceania, que con-
inclusão de off-sets florestais na legislação nortea- ta principalmente com projetos na Austrália, se-
mericana em discussão, pode-se prever uma valo- gue com 16% do volume de transações, enquanto
rização de ativos em projetos florestais certificados a África é responsável por 11% das transações, e a
por padrões internacionais. A determinação da Ásia e a Europa respondem por 6% e 4%, respecti-
California Air Resources Board (CARB) de adotar vamente. Quando o valor total para cada região é
off-sets associados com redução do desmatamen- considerado, o ranking entre os mercados é: US$
to, deve ter efeitos positivos sobre estes ativos num 37 milhões para Oceania, US$ 35,5 milhões para
futuro próximo. América Latina, US$ 32 milhões para América do
Hamilton e outros autores (2009) relatam que Norte, US$ 20,9 milhões para África, US$ 9,9 para
o valor total de mercado de carbono florestal re- Ásia e US$ 6 milhões para Europa. É evidente que
gistrado até a primeira metade de 2009 foi de US$ a América Latina, por sua vocação florestal, vai
149,2 milhões, dos quais cerca de US$ 137,6 mi- continuar no topo do ranking de investimentos
lhões vieram do mercado voluntário e US$ 11,6 neste setor. No entanto, proponentes de projetos
milhões dos mercados regulamentados. Cabe de carbono florestal devem ficar atentos aos riscos
mencionar que este valor está em torno de apenas percebidos nestes investimentos, que limitam o
0,1% do valor do mercado de carbono como um valor dos ativos e dificultam o acesso ao mercado.
todo (US$ 143,7 bilhões, em 2009) (Kosoy e Am- De acordo com a Figura 2, a maioria dos cré-
brosi, 2010). Grande parte deste valor (66%) foi ditos comercializados provém de projetos de A/R
gerada de 2007 até a primeira metade de 2009, de- com 63%, seguidos por projetos de Redução de
vido à comercialização de grandes volumes a pre- Emissões por Desmatamento e Degradação Flo-
ços mais elevados. Um interesse geral emergente restal (REDD) com 17% e de projetos de Manejo
pelo mercado voluntário, juntamente com padrões Florestal Sustentável (MFS) com 13%. Em 2008,
e infraestrutura bem estabelecidos, contribuíram projetos de A/R permaneceram no topo da lista
62 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
de geradores de créditos (53%). Projetos que com- Estas características levam os agentes de mercado a
binam REDD, A/R e MFS surgiram na segunda focarem em oportunidades para A/R, agroflorestas
posição, com 24% do volume total, seguidos por e regeneração na Mata Atlântica. Com o crescente
projetos de MFS com 20%. No mercado voluntário, interesse em investimentos relacionados ao desma-
a maioria dos projetos de A/R (60%) divulgou que tamento evitado, os riscos associados ao mercado
plantou árvores nativas. Em geral, esta estrutura de carbono florestal reduziram, mas o mercado
do mercado praticado é semelhante ao que desco- brasileiro para tais projetos fica restrito à Amazô-
brimos no levantamento de projetos em curso ou nia. A importância do vínculo do carbono florestal
proposto para a Mata Atlântica (figura 2), ou seja, a outros serviços socioambientais pode fazer com
predominância de projetos
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!"#/#())$0' para projetos na Mata Atlântica se-
!"#1$#())1$,-.$2'
345637$*'
tado em combinação%&'com regeneração
*+' *&'
de florestas 0' jam mais 2'demandado*' no futuro.
A/R
17%
REDD
IFM
A/R+REDD
A/R, REDD, IFM
13% outros
4%
63%
2%
1%
tentável dos recursos naturais. Ao longo do tempo, tion (SGS-COV: 10%, ou 1,6 MtCO2) e Greenhouse
86% de todos os créditos de carbono florestal fo- Friendly (6% ou 1 MtCO2). Créditos comercializa-
ram originados por projetos que utilizam padrões, dos por projetos registrados sob o MDL correspon-
sejam estes desenvolvidos internamente ou apli- dem a 3% dos créditos certificados. Outros 12%,
cados por organizações independentes. A certifi- foram certificados por padrões internos dos pró-
cação por padrões de organizações independentes prios desenvolvedores de projetos ou das entidades
aumentou significativamente, variando de meros de suporte, enquanto 10% do total de créditos entre
15% dos créditos certificados com base no volume todos os tipos de mercados não foram certificados
de CO2, em 2002, para a marca de 96% na primeira (Hamilton et al., 2009).
metade de 2009, indicando a maior credibilidade Um outro exemplo importante é o Voluntary
de certificação independente e voluntária. Carbon Standard (VCS) que adota os mesmos cri-
Os padrões se caracterizam, basicamente, em térios para validação de projetos que o MDL em
duas categorias: os que focam na qualidade da me- termos de adicionalidade e impactos sobre o de-
dição e monitoramento da quantidade de carbo- senvolvimento sustentável local. Projetos florestais
no, e aqueles com foco nos benefícios associados não foram certificados pelo VCS até novembro
aos créditos de carbono (cobenefícios, como, por de 2008, por questões de permanência dos ativos
exemplo, questões socioambientais). florestais. Dessa forma, não estão incorporados
Entre os mercados, 23% de todos os créditos nestas estatísticas, que se referem a projetos certi-
vindos de projetos florestais validados por padrões ficados até 2008. O VCS criou um processo com-
de organizações independentes adotaram a con- plicado de duas etapas de validação de créditos de
formidade com os padrões Climate, Comunity and carbono florestais para evitar os riscos de perma-
Biodiversity (CCB). Isso corresponde a 3,7 MtCO2 nência: primeiramente é realizada por um painel
de redução de gases de efeito estufa. O predomínio de especialistas e, posteriormente, de acordo com
de créditos certificados pelos padrões CCB aponta o padrão VCS geral.
para uma demanda por créditos de carbono flores- Apesar do cenário de oportunidades e riscos
tal com cobenefícios socioambientais, não estando para o mercado de carbono florestal, investidores
estritamente relacionados à comprovação da ma- permanecem atentos a sinais de melhor definição
nutenção de estoque de carbono florestal ou redu- da regulamentação para se envolverem mais agres-
ção de carbono da atmosfera pelo sequestro em te- sivamente no financiamento de projetos de carbo-
cidos lenhosos. Projetos certificados pelo CCB têm no florestal. Mesmo sem as certezas do mercado,
a opção de não se sujeitar a padrões de verificação infraestrutura e ferramentas de medição e moni-
de carbono. toramento continuam a amadurecer rapidamen-
Outros 16% dos créditos estão em conformida- te, servindo como base para o financiamento de
de com os padrões do CCX. Alguns esquemas de projetos de carbono florestal nos anos vindouros
certificação em uso incluem o New South Wales (Hamilton et al., 2009). Os resultados dos investi-
Greenhouse Gas Reduction Scheme (NSW-GGAS: mentos em 2009, apesar da crise financeira global,
11% ou 1,8 MtCO2), padrão adotado no programa apontam para este amadurecimento, com particu-
de redução de emissões de New South Wales, uma lar atenção a oportunidades de investimento em
província no norte da Austrália; padrões Societé projetos REDD+.
Generale de Surveillance Carbon Offset Verifica-
64 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 65
Sistemas de PSA-Carbono na
Mata Atlântica
Esta seção se dedica à sistematização e avalia- e/ou à provisão de benefícios em termos de renda
ção de projetos, em desenvolvimento ou em algum incremental oriunda do manejo das espécies in-
estágio de planejamento, que envolvem a valoriza- corporadas no sistema. O agrupamento (bundling)
ção do ativo florestal da Mata Atlântica através do de diversos atributos ecossistêmicos associados a
mercado de carbono. O levantamento priorizou estes projetos pode implicar em uma valorização
principalmente projetos que promovem a restau- dos ativos comercializados, mas requer também a
ração e manutenção das funções dos ecossistemas necessidade de apresentar os serviços gerados de
da Mata Atlântica, muito embora, em certos casos, forma acreditável, viáveis de serem monitorados e
alguns projetos envolvem plantios de espécies exó- verificados in situ. Uma vez que a mensuração de
ticas ou sistemas agroflorestais enriquecidos com carbono, a partir de uma linha de base, é mais factí-
espécies nativas. Também foram enfatizados os vel, a comprovação tende a se limitar a este serviço.
projetos que possuem benefícios socioambientais
associados (cobenefícios) e não estão restritos à
captura ou manutenção de estoques de carbono. Distribuição espacial
Investidores (demandantes de serviços am-
bientais) nestes projetos estão fundamentalmente
e diferenciação dos
interessados em comprovar que conseguem ga- projetos
rantir a permanência de um volume relevante de
carbono estocado em recursos terrestres. Dito isso, Ao todo, foram levantados 33 projetos ou pro-
há uma variedade de cobenefícios que grande parte gramas, distribuídos em diferentes estados que
dos projetos tenta promover, seja como condição compõem a Mata Atlântica (Figura 3)8. Como pode
para um padrão de certificação específico do mer- ser visto, mais de 25% dos projetos estão localizados
cado voluntário, seja para responder às demandas em São Paulo, principalmente pela proliferação de
de comunidades locais afetadas. Estes cobenefí- projetos de neutralização de emissões neste estado.
cios incluem principalmente aspectos associados A grande maioria dos projetos possui atividades em
à conservação e/ou restauração da biodiversidade apenas sete estados: por ordem de densidade, SP, RJ,
nativa, proteção de mananciais ou matas ciliares, PR, BA, MG, SC e RS, com grande proliferação no
8 Um programa representa um agrupamento de projetos semelhantes, realizados pela mesma entidade executora. Do total de projetos
levantados, nove (19%) estão na Mata Atlântica e foram submetidos à última licitação do Programa Petrobras Ambiental. Apesar deles
não terem sido contemplados pelo financiamento do programa neste estágio, eles foram incluídos no “Banco de Projetos” do programa.
Consideramos que os proponentes destes projetos possuem grande interesse em acessar o mercado de carbono, embora as informações
disponíveis sejam escassas. Outros cinco projetos efetivamente financiados pelo Programa Petrobras Ambiental foram incluídos no levan-
tamento como “em desenvolvimento”.
66 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Pontal do Paranapanema, próximo à tríplice fron- referem-se a entidades ou projetos que, embora
teira entre SP, PR e MS (ver Figura 4). Este levanta- tenham interesse em considerar meios para incor-
mento9 identificou uma lacuna significante de pro- porar a valorização do carbono florestal nas medi-
jetos na região Nordeste (com exceção da BA), onde das planejadas, ainda não têm especificada a forma
existem alguns com interesse focado no acesso do de atuação e carecem de informações sobre como
mercado de carbono, no entanto, aparentemente acessar o mercado de carbono (as fichas completas
ainda não encontraram o “caminho das pedras”. dos projetos levantados podem ser vistas ao final
Nota-se também que projetos de PSA-Carbono deste capítulo). Finalmente, projetos qualificados,
estão sub-representados nos fragmentos de Mata mas indeferidos pela linha de projetos “fixação
Atlântica localizados nos estados do Centro-Oeste. de carbono ou emissões evitadas” do Programa
Os 33 projetos levantados de forma detalhada Petrobras Ambiental (fazem parte do “banco de
para o fichamento foram sistematizados de acor- projetos” on-line da Petrobras)10 , dentre os quais
do com o estágio de desenvolvimento em que se existem nove projetos localizados na Mata Atlân-
encontram (Figura 3). Os 16 projetos ou progra- tica, podem ser considerados na estruturação de
mas já em execução fornecem importantes lições um programa ou fundo de apoio a projetos que
aprendidas em plantios, monitoramento, certifica- contemplem PSA (estes projetos não constam no
ção, financiamentos e pagamentos pelos serviços levantamento deste estudo).
ambientais. Uma segunda categoria identificada Dos projetos levantados, a maioria tem ações
se refere aos 15 projetos que estão em “desenvol- em uma ou mais propriedades privadas, mas raras
vimento”: embora eles possam ter realizado ain- vezes isto ocorre através de uma perspectiva de
da acordos com proprietários, pré-certificação ou paisagem que vise reforçar a conectividade entre
qualquer plantio para finalidades de execução, eles fragmentos remanescentes (corredores ecológi-
já possuem algum financiamento piloto e estão cos). A maioria dos projetos promove refloresta-
traçando a linha de base, identificando proprieda- mentos em terrenos particulares de forma isolada,
des e definindo as ações a serem realizadas. Nesta normalmente onde se consegue entrar em acordo
categoria, foram incluídos alguns dos projetos fi- com o proprietário para dedicar parte da proprie-
nanciados na linha “fixação de carbono ou emis- dade a esta finalidade. De modo geral, isto ocorre
sões evitadas” do Programa Petrobras Ambiental. onde existe algum passivo ambiental associado à
Foram incluídos também alguns projetos de enri- não observação de toda ou parte da Reserva Legal
quecimento agroflorestal que, embora não tenham (RL) e/ou área de preservação permanente (APP).
acessado o mercado de carbono, já possuem todos Quando este passivo é composto por áreas de mata
os requisitos para tanto, incluindo certificação de ciliar ou áreas com nascentes, ou ainda adjacências
outros produtos de baixo impacto ambiental, tais de fragmentos remanescentes, a ação empreendida
como cultivo de cítricos ou café sombreados e or- pode assegurar a restauração de funções de conec-
gânicos. Uma terceira categoria, composta por três tividade associadas aos corredores, assim como de
projetos, foi caracterizada como de “interesse” e proteção aos mananciais.
9 O levantamento utilizou os seguintes recursos disponíveis para identificar os projetos em curso nos estados abrangidos pela Mata Atlân-
tica: listagens de workshops e conferências, estudos de caso, programas de apoio à formulação de estudos de viabilidade, buscas pela
Internet e bibliografia especializada. Alguns projetos em realização, focados principalmente em fornecimento de energia de biomassa, não
foram contemplados por não ter como objetivo principal a recomposição ou proteção do estoque de carbono terrestre.
10 Veja: http://www2.petrobras.com.br/minisite/programa-ambiental/projeto_banco.asp
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 67
Projetos: 1) Parque de Carbono ; 2) Carbono, Biodiversidade e Comunidade; 3) RURECO; 4) Brasil Mata Viva; 5) Carbono, Biodiversidade e Renda; 6) Recomposição da Paisagem
e SAFs (Café com Floresta); 7) Carbon Free; 8) Combate ao Aquecimento Global na Zona Costeira; 9) Desmatamento Evitado; 10) Reflorestamento das bordas de reservatórios; 11)
Reflorestamento como Fonte Renovável de Suprimento de Madeira para Uso Industrial no Brasil; 12) Florestas do Futuro; 13) Ipiranga Carbono Zero; 14) Ações Ambientais Susten-
táveis no Recôncavo Sul Baiano; 15) Projeto de Sequestro de Carbono;16) Banco de Mudas da MA; 17) Corredor Aymorés ; 18) Manejo Sustentável da Juçara; 19) Recuperação de
áreas degradadas- sub-bacia rio Maquiné; 20) Projeto Carbono Muriqui; 21) Banco de Carbono; 22) Mapa dos Sonhos do Pontal do Paranapanema; 23) Plantando Água; 24)
Neutralização de emissões de carbono; 25) COMCAFÉ; 26) Cultivando nosso clima; 27) Consórcio de Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica; 28) Programa Recôncavo
Sustentável – REDD, A/R e Eficiência Energética; 29) Corredores Florestais na Mata Atlântica; 30) Projeto Floresta Viva; 31) Rio Padilha; 32) Corredor de Biodiversidade do NE; 33)
Reserva Ecológica de Guapiaçu.
68 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
13 Cristiano Motter, técnico do Centro Ecológico Litoral Norte, em 23 de junho de 2010, comunicação pessoal.
14 http://www.uwab.se/index.php?option=com_content&view=article&id=12&Itemid=142&lang=en
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 71
15 Os empreendimentos florestais comerciais de grande porte têm feito esforços para assegurar a manutenção de remanescentes, particu-
larmente em matas ciliares e APPs, que às vezes superam as exigências do Código Florestal. Na medida em que tais plantações propiciam
a manutenção de estoques temporários e ao mesmo tempo protegem remanescentes permanentes, procuram reivindicar compensação
pelo mercado de carbono.
16 http://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/legislacao/estadual/resolucoes/2008_Res_SMA_08.pdf
17 A SOS Mata Atlântica, para incentivar a estruturação de viveiros e reflorestadores locais, tem permitido uma flexibilização desta norma
(ClickÁrvore, Florestas do Futuro) para o mínimo de 60 espécies.
72 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
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inclusive, a condução da regeneração natural de (SAFs) possuem diversidade menor do que os re-
espécies nativas como um dos métodos18. Já em florestamentos com nativas, com vistas a propiciar
áreas de Reserva Legal, existe maior flexibilidade, maior crescimento e produtividade às espécies de-
tanto para a composição e estrutura da recompo- nominadas “carro-chefe” dos SAFs, podendo estas
sição, como para uso19. A permanência das ações ser café, cacau, cítricos ou outros. Uma estratégia
(plantio, cercamento, manutenção inicial) dos adotada pela cooperativa EcoCitrus, no litoral sul
projetos de carbono desta natureza é, tipicamente, do RS, que agrega carbono ao sistema, é o enrique-
bem mais curta do que a prevista para os plantios. cimento dos pomares com plantio de árvores nati-
Procura-se, com o acesso ao mercado de carbono, vas, numa média de 500 árvores/ha. A diversidade
garantir os recursos necessários para a plantação e a estabilidade fornecidas por esta estratégia re-
inicial de mudas e sua manutenção (às vezes com sultam em benefícios aos serviços ambientais (tan-
contribuição do proprietário) durante o período to ao carbono quanto à água e à biodiversidade)
inicial de crescimento, visando atingir um padrão superiores aos reflorestamentos monoespecíficos,
de sobrevivência inicial das espécies que promova além de garantirem retorno financeiro oriundo dos
maior segurança quanto à permanência do reflo- produtos “carro-chefe”, e dos produtos secundários
restamento. integrados aos SAFs.
Uma questão que surge com frequência é: como Uma contribuição do pagamento pelo incre-
assegurar o adequado monitoramento e proteção mento de carbono em SAFs poderia providenciar
dos plantios no período posterior à implantação e um retorno financeiro adicional, compensando o
manutenção inicial dos mesmos? Como o princi- investimento no plantio de espécies de sombrea-
pal fator que define o ganho de crédito de carbono mento e possível redução de rendimentos quando
associado aos projetos florestais é a permanência comparado com o plantio a sol aberto. No entanto,
dos plantios, que precisam ser regularmente verifi- para a utilização econômica das espécies nativas
cados, os contratos exigem compromissos de longo em sistemas de plantio e/ou de regeneração assisti-
prazo, incorrendo em custos adicionais associados da deverá ser observado o disposto no Decreto no
com a certificação. Sem remuneração durante a 6.660/200820.
fase pós-projeto, as atividades de manutenção dos O Decreto da Mata Atlântica permite o manejo
plantios ficam comprometidas, particularmente se de espécies pioneiras quando estas ocorrem com
forem de responsabilidade do proprietário. frequência superior a 60% das espécies arbóreas
No caso dos projetos agroflorestais, estes são, dos fragmentos de vegetação nativa, a bracatinga
com frequência, executados em conjunto com (Mimosa scabrella), o tanheiro (Alchornea tripli-
ações de regeneração/recuperação florestal, seja nervea), a embaúba (Cecropia pachystachya), a can-
no mesmo campo agrícola onde é realizada a res- deia (Gochnatia polymorpha), a licurana (Hyeroni-
tauração florestal, ou em outra parte das mesmas ma alchorneoides), são algumas das espécies que
propriedades. Em geral, os sistemas agroflorestais podem ser manejadas. Na Mata Atlântica, existem
18 Resolução CONAMA no 429, de fevereiro de 2011, dispõe sobre a metodologia de recuperação das Áreas de Preservação Permanente
- APPs.
19 Resolução SMA - 44, de 30-6-2008, define critérios e procedimentos para a implantação de Sistemas Agroflorestais no estado de São
Paulo.
20 O Decreto no 6.660, de 21 de novembro de 2008, regulamenta dispositivos da Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe
sobre a utilização e proteção da vegetação nativa da Mata Atlântica.
74 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
espécies, a exemplo as do gênero Miconia, que são serviço prestado por diferentes provedores. Há sete
atualmente foco de estudos21 para definição de casos entre os projetos levantados onde já existem
parâmetros para seu manejo sustentável, como al- experiências piloto de PSA, ou nos quais o PSA
ternativa a espécies exóticas em reflorestamento e forma parte integral do projeto proposto para exe-
recuperação de Reserva Legal. Se os instrumentos cução22. Somente em um caso, os valores definidos
legais de PSA tiverem por fim o redirecionamento foram explicitamente diferenciados entre proprie-
do uso do solo e serviços “em pacote” (ecológicos, dades, com base nas características dos serviços
econômicos), estes estudos devem ser fomenta- verificados. Em vez disso, a maioria dos projetos
dos, acompanhados e utilizados como piloto para oferece um pagamento mensal ou anual determi-
alcançarem a escala necessária aos projetos de nado à família que adere ao projeto (por exemplo,
PSA. É, portanto, necessário aumentar as opções Floresta Viva - Ficha nº 30). Em outros casos, o pa-
de espécies nativas que poderão ter uso econômi- gamento reflete a área dedicada, como no Projeto
co, quando utilizadas em recuperação de Reserva Carbono Seguro (R$ 256/ha/ano, um valor supe-
Legal e/ou em reflorestamentos, nos casos de pro- rior ao custo de oportunidade médio da região, que
jetos de PSA. Estes mecanismos deverão prever a é de pecuária bovina). A duração do pagamento
retirada seletiva de indivíduos baseada em taxas de previsto também varia entre os projetos: no Flores-
incremento e ciclos de vida de espécies de cresci- ta Viva, este pagamento (em média, 1/2 salário mí-
mento rápido, tal como E. edulis, mantida a fun- nimo/mês) é previsto somente por um período de
cionalidade ecológica definida para o uso do solo “transição tecnológica” de 5 anos, intervalo que cai
(APP ou RL). para apenas três anos no projeto da Rureco (Ficha
nº 3), e se estende até 10 anos no Corredor Muri-
qui (Ficha nº 20). Em outros casos, o pagamento
Pagamentos por deve ocorrer ao longo do projeto, chegando até 30
21 “Bases para Manejo dos Recursos Madeireiros de Florestas Secundárias em Pequenas Propriedades Agrícolas de Santa Catarina”. Finan-
ciado pelo CNPq – Processo: 503167/2009-6.
22 Os projetos que incorporam PSA são: Carbono Muriqui (MG; Ficha nº 21), Recôncavo Sustentável (BA; Ficha nº 29), Floresta Viva (BA;
Ficha nº 31), Agricultura Ecológica e Serviços Socioambientais (PR; Ficha nº3), Brasil Mata Viva (GO; Ficha nº 4), Carbono Seguro (SP; Ficha
nº 7 PR; ficha nº 14).
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 75
23 Programa creditício do Ministério de Desenvolvimento Agrário, voltado ao financiamento para agricultores familiares e assentados. O
programa PRONAF-Florestal financia a implantação de reflorestamentos, privilegiando o uso de sistemas agroflorestais (SAFs).
76 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Gargalos e recomendações
A seguir, são apresentadas sugestões para a ela- Existe uma falta generalizada de informações
boração de estratégias de fomento às iniciativas de sobre procedimentos para captação de recur-
PSA. Tais recomendações se limitam aos projetos sos, fontes nacionais e internacionais, e quais
que envolvem a valorização de florestas com base os canais que podem ser acionados para aces-
no mercado do carbono, mas podem ser igualmen- sá-las. O conceito de PSA atrai bastante inte-
te relevantes para os demais ativos e atributos flo- resse, mas entre interesse e institucionalização
restais (água, biodiversidade). do mecanismo há um grande abismo. Portan-
No curso deste estudo, identificou-se uma série to, é necessário que as iniciativas sejam melhor
de problemas e lacunas que devem ser equaciona- fundamentadas por documentação de experi-
dos no desenho e execução de projetos, os quais ências concretas e provisão de assessoria espe-
incluem: cializada.
Como assegurar o adequado monitoramento Apesar do melhor potencial econômico de
e a proteção dos plantios no período posterior projetos que preveem a geração de produtos
à implantação e manutenção inicial dos mes- comerciais além do carbono (reflorestamento
mos, considerando que a maioria dos projetos comercial ou SAFs), as vulnerabilidades dos ar-
contempla insumos com este propósito apenas ranjos produtivos em projetos que visam o uso
para os primeiros 3-5 anos? sustentável precisam ser reconhecidas e supe-
A maioria dos projetos é de escala muito re- radas. A atribuição de valores adicionais para
duzida, em termos de área e/ou quantidade de os produtos associados aos serviços ambientais
carbono, para atrair investidores ou se bene- (cadeia de valor dos produtos da sociobiodi-
ficiar das economias de escala associadas aos versidade) pode ser um caminho para maior
custos fixos de implantação. As ações devem, competitividade comercial, mas para atingir
portanto, contemplar áreas adjacentes em par- tais nichos, é preciso parcerias com agentes de
cerias associativistas para assegurar escala. mercado que possam agregar tais valores atra-
Entidades que estão interessadas em acessar o vés do marketing e da certificação de origem
mercado sentem falta de informações suficien- independente.
tes sobre o potencial de sequestro de carbono Considerando as incertezas, a complexidade e
por espécies nativas ou SAFs para permitir a multiplicidade de agentes envolvidos em negó-
formulação de propostas técnicas. Há neces- cios de carbono florestal, iniciativas de fomen-
sidade de agregar conhecimentos existentes to devem aportar recursos visando subsidiar a
como base para a formulação de projetos. negociação e o cumprimento dos acordos entre
78 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
24 Um dos presentes argumentou que sem regulamentação do mercado de carbono florestal dentro do MDL não haverá valori-
zação dos projetos no mercado voluntário.
25 http://www.iniciativaverde.org.br/pt/#carbonoseguro.
80 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Projetos PSA-Carbono
Projetos em desenvolvimento (com fontes de recursos e locais identificados para implantação de ações, mas
sem implementação)
16 Associação Ambientalista Copaíba - Banco de Mudas da Mata Atlântica MG/SP
17 Associação Ecológica Amigos da Serra (Asema) - Corredor Aymorés RJ
18 Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (IPEMA) - Manejo Sustentável da Juçara SP
no Litoral Norte e Serra do Mar
19 Ação Nascente Maquiné - Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas da Sub-bacia do Rio RS
Maquiné
20 Conservação Internacional - Projeto Carbono Muriqui MG
21 Instituto Arvorar - Banco de Carbono Brasil
22 Instituto Arvorar - Mapa dos Sonhos do Pontal do Paranapanema SP
23 Instituto Arvorar - Plantando Água: Serviços da Mata Atlântica no Entorno do Reservatório Ati- SP
bainha
24 Instituto Arvorar - Neutralização de Emissões de Carbono SP/MG
25 Fundação CEPEMA - COMCAFÉ CE
26 Centro Ecológico IPE - Litoral Norte do RS e Sul de SC RS/SC
27 ECOCITRUS - Consórcio de Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica RS
28 Instituto Perene - Programa Recôncavo Sustentável - REDD, A/R e Eficiência Energética BA
29 Associação Mico Leão Dourado - Corredores Florestais na Mata Atlântica RJ
30 Instituto Floresta Viva - Projeto Floresta Viva BA
Projetos de entidades que têm interesse (ou intenção de procurar oportunidades no mercado de carbono)
31 Mira-Serra - Rio Padilha RS
32 AMANE e CEPAN - Corredor de Biodiversidade do Nordeste PE/PB/RN/AL
33 REGUA - Reserva Ecológica de Guapiaçu RJ
82 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 83
1
Instituto BioAtlântica – Parque de Carbono / RJ
Restauração Florestal no Parque Estadual da Pedra Branca
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
2
Instituto BioAtlântica – Carbono, Biodiversidade e Comunidade / BA
Corredor Ecológico Monte Pascoal – Pau Brasil
Categoria: Execução
CONTEXTO
tem, no mínimo, 1.000ha, distribuídos
em várias propriedades, que ainda não
O projeto visa fortalecer a proteção de foram catalogadas pelos executores.
remanescentes de Mata Atlântica cos-
teira através da formação de um cor- FONTES DE RECURSOS
redor ecológico entre dois parques na- Empresas interessadas no abatimento
cionais: o do Pau Brasil e o do Monte das emissões de GEEs decorrentes de
Pascoal, no Estado da Bahia. suas operações.
TIPO DE INTERVENÇÃO CUSTOS DE INVESTIMENTO
Este projeto propicia três abordagens Os custos de investimento somam R$
diferentes, alinhadas com os objetivos 15 mil/ha, considerando todos os insu-
de manutenção da floresta: mos e mão de obra. Os custos de ma-
Mitigação da alteração climática nutenção da restauração das áreas pro-
através do resgate de CO2 da atmosfera tegidas giram em torno de R$ 6 mil/
e fixação nas árvores das áreas reflorestadas; ha, por três anos, além de mais R$ 1,5 mil/ha para os
Preservação e recuperação da biodiversidade pela co- monitoramentos ao longo de 30 anos.
nexão de fragmentos florestais hoje isolados; e A contrapartida esperada dos proprietários é o cer-
Desenvolvimento socioeconômico de comunidades camento da área e o compromisso de manter a área
locais, pela participação efetiva de organizações, pro- reflorestada sem corte ao longo dos 30 anos além da
prietários e agentes locais na concepção e implementa- averbação das áreas. A contrapartida das instituições
ção do projeto. parceiras é a manutenção de dois viveiros de mudas
O projeto pretende recuperar APPs e áreas integrantes nativas do Grupo Ambiental Natureza Bela, equipa-
da RL, através de regeneração assistida e enriqueci- mentos para coleta de sementes da COOPLANTAR e
mento com espécies nativas. Essas áreas foram trans- os recursos tecnológios do IBio, CI-Brasil e TNC.
formadas em pastagem e encontram-se em estágios
diversos de degradação (pasto degradado, pasto sujo e MONITORAMENTO
capoeira rala), sendo escolhidas em função de sua ele- O projeto já possui localização definida e negociações
gibilidade perante os critérios do MDL e a garantia que com stakeholders encontram-se em andamento. A linha
fornecem, pelo seu status legal, de fixação permanente de base dos estoques de carbono já foi definida e crédi-
do carbono capturado. tos foram comercializados em 2008. Os recursos capta-
As técnicas utilizadas no processo de recuperação in- dos com os créditos foram aplicados na restauração dos
cluem produção local de mudas de espécies nativas a primeiros hectares.
partir de sementes coletadas na região e condução da Atualmente, todas as atividades do projeto encontram-
regeneração natural e plantio de mudas de espécies na- se validadas, mas somente uma pequena área foi cer-
tivas, conforme o estágio de degradação de cada área. tificada recentemente utilizando a metodologia VCS,
ARRANJO INSTITUCIONAL
sendo o Imaflora o verificador subcontratado pela
Rainforest Alliance. Essa área recebeu o certificado Cli-
Execução: Instituto BioAtlântica. ma, Comunidade e Biodiversidade (padrão CCB), o
Rede de instituições parceiras composta por: TNC, que significa que a iniciativa foi considerada capaz de,
CI-Brasil, Instituto Cidade, Grupo Ambiental Natu- ao mesmo tempo, minimizar os efeitos das mudanças
rezabela, ANAC, ASCBENC e CooPlantar. climáticas, conservar a biodiversidade e dar suporte ao
Acordo entre vendedor e comprador: O projeto cele- desenvolvimento sustentável, gerando benefícios para
bra contratos de prestação de serviços entre as partes e as comunidades envolvidas. No entanto, os executores
busca recursos junto a empresas. Os pagamentos ocor- do projeto esperam adicionar novas áreas para certi-
rem ao longo da prestação do serviço. ficação até atingir os mil hectares de restauração pro-
ABRANGÊNCIA
jetados previstos.
3
RURECO – Agricultura Ecológica e Serviços Socio-ambientais / PR, RS
Campos Gerais do Paraná, Litoral Norte do RS
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
CONTEXTO
UNESP/ FEPAF/TRIPLO-A.
Acordo entre vendedor e compra-
O projeto está sendo executado nos dor: é celebrado um acordo entre os
municípios de Nazário, Goiatuba e Jo- proprietários participantes e a empresa
viânia, no estado de Goiás, em áreas executora do projeto, onde, por meio
com Mata Atlântica. da implantação do Banco de Créditos
TIPO DE INTERVENÇÃO
Ambientais são realizados os pagamen-
tos dos serviços prestados pelas pro-
O Movimento Brasil Mata Viva é uma priedades e aplicação dos recursos na
metodologia desenvolvida pela empre- recuperação das APPs, RLs e no reflo-
sa IMEI Consultoria, que pode ser apli- restamento.
cada em Núcleos de Produtores Rurais,
promovendo articulações institucio- ABRANGÊNCIA
nais e geração de emprego e renda atra- O projeto teve início em 2007, com per-
vés de soluções ambientais nas áreas manência prevista de 25 anos, locali-
rurais e assentamentos. zado nos municípios de Nazário, Goiatuba e Joviânia,
A metodologia envolve várias etapas: no Estado de Goiás, em áreas com ocorrência de Mata
Identificação da vocação da região do projeto e pla- Atlântica. Atualmente, encontra-se em fase de imple-
nejamento de uma matriz produtiva com atividades mentação em 10 propriedades com mais de 500 ha de
sustentáveis nas propriedades. Através desta matriz extensão cada uma.
evita-se a expansão do desmatamento pela queima de
reservas florestais e dos arredores de áreas preservadas, FONTES DE RECURSOS
ao mesmo tempo em que se investe na implantação de O projeto busca recursos junto a empresas e fundos
agroflorestas com espécies madeireiras ou fruteiras. ambientais, além de contar com o retorno da comer-
Realização de um inventário do estoque de carbono cialização dos créditos de carbono.
existente nas áreas rurais, sendo então estimada a ca-
pacidade de fixação de CO2 por meio da preservação CUSTOS DE INVESTIMENTO
das reservas, recomposição de áreas de RL, preservação Foram investidos cerca de R$ 240 mil na recuperação
permanente e reflorestamentos. de 230ha, utilizando reflorestamento com 90 mil mu-
Elaboração de documento de certificação que é co- das de teca, e implantação da matriz produtiva para
mercializado no mercado na forma de títulos ambien- superação da pressão sobre as áreas de mata, transfor-
tais por meio da Bolsa de Títulos Ambientais do Brasil. mando o modelo de exploração de pecuária extensi-
O recurso gerado é destinado à remuneração das va para semi-intensiva, com implantação de piquetes
áreas rurais pelo serviço de conservação em compensa- para pastagens rotacionadas. Parte do recurso gerado
ção pelo uso sustentável, promovido pelo investimento pela comercialização dos créditos será destinada à im-
em adequação ambiental e em novas técnicas de uso plementação e manutenção da matriz produtiva nas
da terra voltadas ao ganho de produtividade e renda, propriedades, baseadas na verticalização das ativida-
revertendo o processo de pressão sobre as áreas de des produtivas, que agregam renda e propiciam a sus-
reserva. 50% dos créditos gerados são direcionados a tentabilidade das propriedades, gerando excedentes ao
um fundo de recursos coletivo do núcleo, destinado à proprietário da terra e reduzindo a degradação. Este
implantação da matriz produtiva que propiciará a su- mecanismo propicia um saldo líquido de mais de R$
stentabilidade do mecanismo de desenvolvimento da 1.500/ha/ano.
comunidade local. O programa prevê toda a estrutura Em contrapartida, os proprietários disponibilizam a
de gestão e legalização do processo. área, que é inventariada com recursos investidos por
ARRANJO INSTITUCIONAL
parceiros do programa que são remunerados por êxito
na comercialização dos títulos.
Execução: Fundação RURECO.
Instituições parceiras: MARKIT, BTAAB, Associa- MONITORAMENTO
ção dos Produtores, IDESA/BIOMA, IBAMA, MAPA, Além da certificação própria, encontram-se em nego-
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 87
5
Instituto Arvorar – Carbono, Biodiversidade e Renda
Pontal do Paranapanema, São Paulo
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
www.arvorar.com
88 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
6
Instituto Arvorar – Recomposição da Paisagem e SAFs (Café com Floresta)
Pontal do Paranapanema, São Paulo
Categoria: Execução
7
Iniciativa Verde / SP
Interior do Estado de São Paulo
Categoria: Execução
CONTEXTO
Matas Ciliares da Secretaria Estadual do
Meio Ambiente de São Paulo.
O projeto, localizado no interior do No Programa Carbono Seguro, os
estado de São Paulo, visa compensar fragmentos a serem preservados serão
emissões de GEE através de refloresta- registrados em cartório na forma de ser-
mentos em APPs com remanescentes vidão florestal. O projeto busca investi-
de Mata Atlântica e matas ciliares. mentos junto a empresas.
Acordo entre vendedor e comprador:
TIPO DE INTERVENÇÃO
Uma vez aprovado o custo, é firmado
O projeto é executado através de três um contrato de serviço técnico que de-
sub-programas: talha as normas de uso do selo Carbon
Carbon Free visa contribuir para Free, que já pode ser utilizado logo após
a melhoria da eficiência ambiental a assinatura e tem validade de acordo
de processos, implementando em com o contrato.
suas ações e métodos de produção o
princípio do 3R+C: redução do consumo; reutilização ABRANGÊNCIA
de materiais; reciclagem de rejeitos e, por fim, com- O projeto está em operação em um conjunto de pro-
pensação das emissões de CO2. É voltado para em- priedades cuja extensão total é de cerca de 17ha, distri-
presas, eventos e órgãos que desejem compensar suas buídos em duas propriedades, sendo uma com 6ha e a
emissões. outra com 11ha, e que possuem remanescentes de Mata
Amigo da Floresta é um fundo cujos recursos capta- Atlântica compostos por Floresta Estacional Semideci-
dos através de doações, patrocinarão pesquisas na área dual e vegetação secundária em estágio inicial e médio
florestal, capacitação de agricultores e restauração de regeneração.
florestal de áreas degradadas. As pesquisas serão con-
duzidas de forma a identificar o potencial de absorção VALORAÇÃO DO SERVIÇO
de CO2 de biomas como a Mata Atlântica e o Cerrado. O proprietário rural receberá o valor equivalente ao
Outro objetivo é aprimorar metodologias de restauro carbono estocado na floresta em sua propriedade. Em
florestal e desenvolver técnicas de implementação de muitos casos, o valor que o proprietário receberá pode
SAFs. ser superior ao que receberia caso optasse por desmatar
Carbono Seguro: dezenas de produtores rurais do e arrendar a área.
interior de São Paulo são “guardiões” da Mata Atlân-
tica. Eles estão sendo convidados pela Iniciativa Verde FONTES DE RECURSOS
a aderir ao programa Carbono Seguro, com o objetivo Empresas, eventos e órgãos que desejem compensar
de criar reservas de carbono em áreas até então desti- suas emissões.
nadas à pecuária leiteira. Essa atividade é responsável O programa também fornecerá subsídios para viabi-
por boa parte do desmatamento da Mata Atlântica. A lizar a compensação por reduções de desmatamento
meta é proporcionar aos pequenos produtores rurais a através do mercado voluntário de carbono (incluindo
possibilidade de arrendar suas terras para fins de pre- doações, no curto prazo) numa primeira fase e, poste-
servação da floresta. riormente, após 2012, no mercado de REDD, desde que
A metodologia utilizada nos programas se baseia em as reduções de emissão de desmatamento sejam adicio-
três vertentes: (a) Inventário de emissões e potencial de nais às obrigações de redução de emissões de GEEs dos
compensação; (b) Educação ambiental nas escolas; (c) países do Anexo I.
Capacitação de cooperativas de trabalhadores rurais na
implementação de restauros florestais, manutenção e CUSTOS DE INVESTIMENTO
monitoramento. O custo médio de investimento do Programa Carbono
Seguro é de aproximadamente R$ 10.000/ha, que inclui
ARRANJO INSTITUCIONAL
o custo de cercamento, inventário florestal e visitas de
Execução: OSCIP Iniciativa Verde. monitoramento. O custo médio de manutenção é de R$
Parceiro: Banco de Áreas do Projeto de Restauro de 256/ha/ano, valor calculado considerando-se o estoque
90 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
de carbono estimado (320tCO2/ha), o valor de mercado suficiente para que as mudas atinjam tamanho ideal
da tonelada de CO2 (US$10/tonCO2 ou R$24/tonCO2, para vencer as gramíneas invasoras. Após esse período,
para a taxa de câmbio de US$1=R$2,40) e o tempo de devido ao caráter legal das regiões reflorestadas (APPs),
duração do projeto (30 anos). Dessa forma, para a área o local segue monitorado pela Polícia Florestal e por
de abrangência do projeto de 17ha, o custo total de in- órgãos ambientais estaduais como o DEPRN, uma vez
vestimento é de R$170 mil, enquanto o custo total para que o corte destas árvores será considerado crime inafi-
manutenção é de R$130.560. ançável perante a legislação ambiental.
O proprietário não arca com nenhum custo, mas em As áreas reflorestadas também são monitoradas pela
contrapartida, tem que comprovar anualmente a flore- Iniciativa Verde via imagens de satélite durante todo
sta em pé preservada. o período em que as árvores estiverem absorvendo
No caso do Programa Carbon Free, os valores não fo- a quantidade de CO2 que se deseja compensar com o
ram informados. Porém, o investimento necessário plantio, ou seja, por cerca de 40 anos. Utiliza-se uma
para a primeira etapa (que contempla o levantamento metodologia para projetos de reflorestamento de áreas
prévio das emissões, o processamento das informações degradadas aprovada pelo conselho executivo da UNF-
e o cálculo do número de árvores a serem plantadas) e o CCC. A metodologia inclui ações como: 1) verificar a
custo final do projeto para o recebimento do selo Car- sobrevivência das mudas plantadas nos primeiros três
bon Free, é custeado pela Iniciativa Verde. Este custo é meses e durante três anos após o plantio - se a taxa de
repassado ao cliente apenas nos projetos inéditos e de sobrevivência for inferior a 90%, realizar o replan-
maior complexidade, que demandam tempo conside- tio; 2) certificar-se permanentemente sobre a sobre-
rável dos especialistas. O custo do projeto é referente ao vivência das árvores através de amostras; 3) eliminar
plantio, manutenção e monitoramento das árvores, e as ervas daninhas, que dificultem o desenvolvimento
inclui também a taxa operacional da organização. das árvores; 4) realizar uma pesquisa de amostragem
suplementar para coletar dados como número, espécies
MONITORAMENTO
e diâmetro das árvores existentes e sinais de interven-
A comprovação é feita através de certificação de ção humana como pastagem, queimadas, derrubada e
estoques de carbono, cuja quantidade é aferida com o corte de madeira.
auxílio de uma estimativa da densidade de biomassa
MAIORES INFORMAÇÕES
potencial com uso de SIG. Para garantir a fixação do
carbono, o projeto de restauro dura 30 meses, tempo www.iniciativaverde.org.br
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 91
8
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS)
Programas de Conservação da Mata Atlântica
APA de Guaraqueçaba, Paraná – Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
CUSTOS DE INVESTIMENTO
repassado ao cliente apenas nos projetos inéditos e de
maior complexidade, que demandam tempo conside-
O custo de investimento do Programa Carbono Seguro rável dos especialistas. O custo do projeto é referente
é de aproximadamente R$ 10.000/ha, totalizando R$ ao plantio, manutenção e monitoramento das árvores,
170 mil, já incluídos o custo de cercamento, inventário e inclui também a taxa operacional da organização. O
florestal e visitas de monitoramento. O custo de manu- prazo de execução dos restauros florestais é de aproxi-
tenção é de R$ 256/ha/ano, totalizando R$ 130 mil. No madamente 30 meses.
caso do custo de manutenção, ele é calculado de acordo
com a seguinte fórmula: MONITORAMENTO
(320 t CO2/ha x $10 x R$ 2,40) / 30 anos = R$ 256/ha/ A fim de avaliar a capacidade de absorção de carbono
ano. pela floresta, os técnicos da SPVS realizam monitora-
O proprietário não arca com nenhum custo, mas em mento constante, com base em metodologia desenvol-
contrapartida ele tem que comprovar anualmente a vida pela Winrock International, que envolve medições
floresta em pé preservada. e avaliação do crescimento de árvores assim como uso
No caso do Programa Carbon Free, os valores não fo- de equações para cálculo da biomassa vegetal.
ram informados. Porém, o investimento necessário
para a primeira etapa (que contempla o levantamento MAIORES INFORMAÇÕES
prévio das emissões, o processamento das informações www.spvs.org.br
e o cálculo do número de árvores a serem plantadas) e o
custo final do projeto para o recebimento do selo Car-
bon Free, é custeado pela Iniciativa Verde. Este custo é
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 93
9
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS)
Programa Desmatamento Evitado / PR, SC
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
www.spvs.org.br
94 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
10
AES Tietê
Reflorestamento de Bordas de Reservatório / SP
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
11
Grupo Plantar – Projeto de Reflorestamento como Fonte Renovável de Supri-
mento de Madeira para Uso Industrial no Brasil / MG
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
12
Fundação SOS Mata Atlântica
Florestas do Futuro SP, RJ, MG, PR, BA
Categoria: Execução
http://www.f lorestasdofuturo.org.br/paginas/home.
php?pg
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 97
13
Rede Ipiranga – Ipiranga Carbono Zero / SP e RJ
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
14
Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBÁ)
Ações Ambientais Sustentáveis no Recôncavo Sul Baiano
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
O projeto está localizado nos municí- O projeto ainda está em fase de pros-
pios de São Miguel das Matas, Santa pecção de propriedades, mas vem sen-
Teresinha, Castro Alves, Elísio Medra- do implementado em um conjunto de
do e Varzedo, no estado da Bahia. pequenas e médias propriedades, cuja
área total chega a 10ha, passíveis de re-
TIPO DE INTERVENÇÃO
cuperação.
A estratégia consiste em evitar ou redu-
FONTES DE RECURSOS
zir o desmatamento e a degradação da
vegetação existente em APP e RL, atra- O projeto busca de recursos junto a
vés da conscientização dos proprietá- empresas para manter as atividades de
rios, aliada a ações de reflorestamento pesquisa e monitoramento das áreas
nas áreas que já se encontram degra- ameaçadas como forma de evitar a de-
dadas. Pretende ampliar a abrangência gradação das matas e mananciais.
das suas atividades, dando continuidade a ações de re-
CUSTOS DE INVESTIMENTO
florestamento de áreas degradadas de APP, implanta-
ção de cercas vivas com essências nativas regionais, im- Não informado.
plantação de um banco de sementes nativas regionais,
MONITORAMENTO
monitoramento e sistematização da fixação de carbono
por áreas reflorestadas em APPs, além do fortalecimen- O projeto já realizou convênios com empresas e pos-
to de organizações e comunidades locais. sui localização definida. Como pretende desenvolver
O projeto não prevê retorno financeiro pelos serviços uma metodologia de monitoramento e sistematização
ambientais prestados. da fixação de carbono de áreas reflorestadas em APPs,
investirá na regularização ambiental das áreas para ini-
ARRANJO INSTITUCIONAL
ciar o processo de certificação.
O projeto é executado pelo GAMBA, tendo a Petrobras
MAIORES INFORMAÇÕES
como empresa financiadora.
http://onggamba.wordpress.com/
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 99
15
Klabin – Projeto de Sequestro de Carbono / SP
Município de Telêmaco Borba, Paraná
Categoria: Execução
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
16
Associação Ambientalista Copaíba
Banco de Mudas da Mata Atlântica / MG, SP
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
O projeto está sendo executado nas Ba- O projeto está sendo implementado
cias Hidrográficas dos Rios Peixe e Ca- em um conjunto de propriedades, com
manducaí em Minas Gerais, e nos mu- área total de 60ha, que possuem rema-
nicípios de Socorro, Águas de Lindóia, nescentes de Mata Atlântica de interior.
Lindóia, Serra Negra, Pinhalzinho,
FONTES DE RECURSOS
Monte Alegre do Sul, Pedra Bela, Bu-
eno Brandão e Munhoz, em São Paulo. Programa Petrobras Ambiental, por
meio de seleção pública de projetos.
TIPO DE INTERVENÇÃO
CUSTOS DE INVESTIMENTO
A estratégia para redução de emissões
de carbono consiste em efetuar ações Os custos não foram informados. A
que evitem o desmatamento e a de- contrapartida dos proprietários é a
gradação florestal em áreas conserva- disponibilidade para plantar, volunta-
das, ao mesmo tempo em que se investe na restauração riamente, pelo menos mil mudas na área a ser reflores-
e regeneração das áreas já degradadas. tada. Para esse plantio, é necessária uma área de 0,6ha
O projeto pretende formar um banco com 100 mil mu- de terra por proprietário. O benefício não poderá con-
das de árvores de 100 espécies nativas da Mata Atlân- templar pessoas com pendências jurídicas.
tica que serão destinadas gratuitamente a proprietários
MONITORAMENTO
rurais interessados em plantar voluntariamente pelo
menos mil mudas nativas em áreas ciliares de suas O projeto não prevê o acesso ao mercado de carbono,
propriedades. Além das mudas, eles receberão apoio mas está investindo em convênios, regularização ambi-
e orientação técnica para o sucesso da restauração, in- ental das áreas protegidas e definição da linha de base.
cluindo visitas e elaboração de projeto de restauração A localização do projeto já está definida e as negocia-
específico para cada área a ser restaurada. ções com stakeholders encontram-se em andamento.
ARRANJO INSTITUCIONAL MAIORES INFORMAÇÕES
17
Associação Ecológica Amigos da Serra (ASEMA)
Projeto Corredor Aymorés / RJ
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
municípios do Estado do Rio de Janei-
ro, abrangendo 392.543ha.
O projeto está sendo executado na re- As áreas possuem remanescentes de
gião da Cordilheira Aymorés, nos mu- Mata Atlântica de interior, compostos
nicípios de Macaé, Conceição de Maca- por Floresta Ombrófila Densa Auto
bu e Trajano de Moraes, no interior do Montana, Floresta Ombrófila Densa
Estado do Rio de Janeiro. Montana, Submontana e as Florestas
TIPO DE INTERVENÇÃO
de Terras Baixas.
18
IPEMA – Manejo Sustentável da Juçara no Litoral Norte e Serra do Mar / SP
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
http://www.ipemabrasil.org.br/default.htm
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 103
19
Ação Nascente Maquiné
Recuperação de áreas degradadas da sub-bacia do Rio Maquiné / RS
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
mudas, plantio e manutenção das ár-
vores, até cursos de capacitação e atua-
O projeto está sendo executado na re- ção no monitoramento ambiental das
gião da sub-bacia hidrográfica do rio áreas recuperadas.
Maquiné, que faz parte da bacia do rio
Tramandaí, no estado do Rio Grande ARRANJO INSTITUCIONAL
do Sul. Esta sub-bacia possui extensão O projeto é executado pela ONG Ação
de 543km2 e localiza-se quase que to- Nascente Maquiné e foi selecionado
talmente no município de Maquiné, no edital 2008 do Programa Petrobras
sendo considerada de alta prioridade Ambiental.
para a conservação da biodiversidade,
pois em seu interior encontra-se a RE- ABRANGÊNCIA
BIO da Serra Geral, UC estadual que O projeto encontra-se em implementa-
abriga os remanescentes mais íntegros ção em um conjunto de propriedades
da Mata Atlântica no RS, incluindo de- cuja extensão total não foi computada,
zenas de nascentes que abastecem a bacia do Tramandaí abrangendo os municípios de Ubatuba, Natividade da
e propiciando habitats para dezenas de espécies raras Serra, Caraguatatuba, Paraibuna, São Luís do Paraitin-
ou ameaçadas de extinção. Por esses atributos naturais, ga e Cunha.
é considerada zona núcleo da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica. FONTES DE RECURSOS
TIPO DE INTERVENÇÃO
Programa Petrobras Ambiental. Serão fechados contra-
tos de compra e venda de créditos entre as partes. Ao
O projeto tem como objetivos evitar ou reduzir o des- mesmo tempo estão sendo procurados investimentos
matamento e a degradação das áreas da sub-bacia do rio junto a empresas, bancos, fundações etc.
Maquiné, ao mesmo tempo em que recupera as áreas já
degradadas, através do reflorestamento da mata ciliar CUSTOS DE INVESTIMENTO
e da conscientização da população e de proprietários Os custos não foram informados.
de terra ao longo da bacia. Para atingir esse objetivo é
adotada uma visão ecossistêmica e são propostas ações MONITORAMENTO
conjugadas e complementares: O projeto ainda está em fase de desenvolvimento, mas
Reflorestamento conforme processo de sucessão o já tem sua localização definida. Foram realizados
ecológica, com espécies pioneiras e secundárias em convênios com setor privado, bem como contatos com
áreas desnudas e adensamento com espécies clímax em stakeholders. Apesar da linha de base ainda não ter sido
áreas florestadas (25.000 mudas); calculada, espera-se que seja feito um investimento na
Manejo racional de abelhas nativas, responsáveis pela regularização ambiental das propriedades, buscando
polinização da floresta; obter certificação necessária, quantificando a fixação
Proteção das margens e encostas (2.500m) com mate- de carbono e as emissões evitadas com base na recupe-
rial retirado do próprio leito do rio; ração das áreas degradadas.
Programa de educação ambiental para 205 pessoas,
com dias de campo com alunos, professores e agricul- MAIORES INFORMAÇÕES
tores, além de cursos de ecologia florestal e manejo de http://www.onganama.org.br/projetos_petrobras.
abelhas nativas; html
Programa de comunicação, divulgação e produção
multimídia para a conscientização da comunidade.
O projeto não inclui pagamentos por serviços ambien-
tais, mas poderá atuar na geração de renda alternativa
para os proprietários de terra, já que são previstas ações
nas quais a comunidade também é protagonista, parti-
cipando desde a coleta de sementes para produção de
104 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
20
Fundação SOS Mata Atlântica
Projeto Carbono Muriqui / MG
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
O projeto está sendo executado nos O projeto está localizado nos mu-
municípios de Ipanema, Caratinga e nicípios de Ipanema, Caratinga e Si-
Simonesia, no estado de Minas Gerais. monesia, no estado de Minas Gerais,
abrangendo um conjunto de proprie-
TIPO DE INTERVENÇÃO
dades com uma área total de 100,8ha,
A estratégia adotada pelo projeto para sendo 76,4ha elegíveis para aplicação
redução das emissões de carbono são a de MDL/Kyoto e 89,6ha elegíveis para
restauração/regeneração das áreas pro- certificação VCS.
tegidas e o reflorestamento das áreas Duração prevista de 30 anos a partir
degradadas, com o objetivo de aumen- da implantação do projeto. Não há pre-
tar a disponibilidade e a conectividade visão de manejo.
de habitat para o muriqui-do-norte
FONTES DE RECURSOS
(Brachiteles hypoxanthus) ao longo das
RPPNs Feliciano Miguel Abdala e Mata do Sossego. Existe a possibilidade de um eventual aporte de recur-
O projeto investe na regularização ambiental das pro- sos do Bolsa Verde, programa do governo estadual. En-
priedades participantes em recortes de microbacias tretanto, os pagamentos por serviços ambientais ainda
ao longo do corredor de planejamento entre dois san- carecem de recursos para serem efetivados.
tuários do muriqui, reconhecido como área prioritária O preço pretendido por tonelada de carbono equiva-
para conservação pelo governo de Minas Gerais. A lente (CO2e) varia de U$ 23,40 a U$ 28,14, valor que
regularização ambiental visa a obtenção da certifica- cobriria todos os custos ao longo dos 30 anos de dura-
ção necessária para quantificar o estoque de carbono e ção do projeto. Em relação a esses valores, os executores
acessar o mercado de créditos de carbono como forma salientam que podem sofrer alguma oscilação, causada,
de captação de recursos e incentivo direto aos aderentes por exemplo, pela variação dos custos de equipamen-
ao projeto. tos, maquinários, terceirizações ou variação cambial.
O projeto também visa proteger os mananciais de água,
CUSTOS DE INVESTIMENTO
essenciais para sustentabilidade da produção rural, re-
duzir a erosão e aumentar os estoques de carbono por Os custos do projeto encontram-se em reavaliação,
meio do plantio de árvores e enriquecimento da rege- bem como a contrapartida esperada.
neração natural.
MONITORAMENTO
Será adotada a estratégia de agrupamento de projetos
(bundling) a fim de juntar um número viável de áreas O monitoramento do carbono sequestrado será rea-
para reflorestamento. A área prevista para refloresta- lizado a cada cinco anos. O projeto realizou convênios
mento é de 600ha. Portanto, atualmente o projeto con- com o setor público e financeiro, principalmente o go-
ta com menos de 15% das áreas desejadas. verno estadual. Já foram definidas a linha de base do
projeto e a negociação com stakeholders. A localização
ARRANJO INSTITUCIONAL
final do projeto será definida após a fase de prospecção
Sociedade para Preservação do Muriqui: execução. de propriedades. O projeto visa obter a certificação nos
Parceiros: Fundação SOS Mata Atlântica; Projeto padrões VCS e CCB.
Promata (IEF/KfW); prefeituras municipais de Cara-
MAIORES INFORMAÇÕES
tinga e Ipanema; Conservação Internacional; Ambi-
ental Prado Valadares; Fundação Biodiversitas e Citi w w w. c o n s e r v a t i o n . o r g . b r / n o t i c i a s / n o t i c i a .
Foundation. php?id=459l
O projeto ainda não possui um acordo padronizado
entre vendedor e comprador, em virtude de não ter
iniciado a venda de créditos de carbono. O pagamento
será feito nos primeiros 10 anos de projeto.
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 105
21
Instituto Arvorar – Banco de Carbono
Todas as regiões do Brasil
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
O projeto está sendo elaborado para ser O projeto não possui ainda localização
aplicado em qualquer região do Brasil, específica, mas está sendo elaborado
sendo consideradas elegíveis quaisquer para ser aplicado em qualquer região
propriedades com mais de 10ha dis- do país.
poníveis para restauração.
FONTES DE RECURSOS
TIPO DE INTERVENÇÃO
O projeto busca investidores entre
O projeto tem o objetivo de estimular empresas, bancos, fundos ambientais,
a geração de renda com a implantação fundações ou programas de compensa-
de SAFs, através da restauração flore- ção voluntária.
stal. Os proprietários participantes re-
CUSTOS DE INVESTIMENTO
ceberão assistência técnica no processo
da produção, plantio e monitoramento O custo de implementação do Projeto
da área a ser reflorestada com mudas de espécies nati- gira em torno de R$ 7.000/ha, necessários para implan-
vas da Mata Atlântica. tar um sistema SAF, considerando todos os insumos e
O projeto investe no comércio de produtos dos siste- mão de obra. Os custos de manutenção do projeto gi-
mas sombreados, tanto da cultura principal quanto ram em torno de 3 anos x R$ 1.500/ha/ano. A contra-
dos produtos dos SAFs, qualificando toda a produção partida dos participantes ainda não foi definida.
e incluindo aprimoramentos tais como adubagem or-
MONITORAMENTO
gânica produzida pelos proprietários, catação seletiva,
despolpa, secagem apurada, visando sustentabilidade e O projeto ainda não alcançou nenhum resultado nesse
maior produtividade. Futuramente, o projeto preten- sentido, mas pretende investir na regularização ambi-
de investir na regularização ambiental das áreas par- ental das áreas participantes, para que estas possam
ticipantes, para que estas possam obter a certificação e obter a certificação e acessar o mercado de créditos de
acessar o mercado de créditos de carbono. carbono.
ARRANJO INSTITUCIONAL MAIORES INFORMAÇÕES
22
Instituto Arvorar
Mapa dos Sonhos no Pontal do Paranapanema
Categoria: Desenvolvimento
23
Instituto Arvorar
Plantando Água: Serviços da Mata Atlântica no entorno do Reservatório Atibainha / SP
Categoria: Desenvolvimento
24
Instituto Arvorar
Neutralização de emissões de Carbono / SP, MG
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
25
Fundação CEPEMA
Cooperativa dos Cafeicultores Ecológicos do Maciço de Baturité (COMCAFÉ) / CE
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
a desenvolver atividades de agregação
de valor ao componente madeireiro
O projeto está sendo desenvolvido nos produzido nestes sistemas.
municípios de Guaramiranga, Mulun-
gu e Aratuba, situados na APA da Ser- ARRANJO INSTITUCIONAL
ra do Baturité, no Ceará. Este maciço O projeto está sendo desenvolvido pela
montanhoso é um dos mais importan- Fundação CEPEMA, que faz parte da
tes enclaves úmidos do Nordeste bra- Rede Terra do Futuro (Suécia), da Rede
sileiro, numa região onde o sistema de Mata Atlântica e nela do Grupo de Tra-
café sombreado cobre cerca de 5 mil ha balho em Sistemas Agroflorestais;
e existe desde a metade do século 19. Parceiros: APEMB; COOPMAB;
TIPO DE INTERVENÇÃO
EMATERCE; Sindicatos e algumas se-
cretarias dos municípios.
O conjunto de propriedades partici-
pantes é fragmentado na paisagem dos ABRANGÊNCIA
municípios (não em bloco), uma vez que se trata de um As propriedades dos agricultores que participam di-
projeto demonstrativo que objetiva agregar seu entor- retamente do projeto somam 782,9ha, incluindo estru-
no para a iniciativa. O projeto prevê: turas fundiárias de pequeno, médio e grande portes,
Manutenção e recuperação de RL e APP por regenera- conforme os parâmetros regionais (10% entre 1 a 10ha;
ção assistida e enriquecimento com espécies nativas. 54% entre 11 a 50ha; 18% entre 51 a 100ha, e 18 entre
Eventualmente, esta recuperação será feita com siste- 100 a 500ha).
mas que incluam café sombreado, uma vez que este sis- O projeto abrange 20 propriedades com extensões va-
tema está ocupando áreas de APP e RL há mais de um riando de 11 a 50ha e uma extensão total de aproxima-
século, e se enquadra na Resolução CONAMA de 29 de damente 600ha.
abril de 2010.
Renovação de cafezais sombreados, utilizando como FONTES DE RECURSOS
estratégia a implantação de SAFs, consorciando café, O projeto não tem fonte de recursos definida. Como
banana, espécies madeiráveis frutas nativas e frutas está em desenvolvimento, não existem ainda acordos
cítricas;redução de emissões, estoques de carbono e de compra e venda. No entanto, os executores têm con-
perdas. tatos com a empresa Y&W (Suécia) que mediou a rela-
Os principais estoques a serem conservados/recupera- ção com a rede MaxBurger (Suécia) para a compra de
dos estão na biomassa do dossel que promove o som- créditos de carbono no mercado voluntário do projeto
breamento, seguido do café e serrapilheira. Ele ocor- Nhambita, em Moçambique. Esta empresa aguarda a
rerá também pela conservação/recuperação de APPs e execução de uma linha de base e o desenvolvimento do
RLs. O ciclo de manejo dos cafezais envolve poda para projeto de carbono para propor o credenciamento do
regulagem de sombra e corte seletivo de indivíduos ma- projeto para o mercado voluntário.
duros para fins madeireiros nos cafezais sombreados. Um estudo exploratório em 2008 (Vivian et al., 2009)
Tal manejo, que pode variar entre propriedades, alcan- apontou que a média de renda/ha/ano do café som-
ça 30% do dossel, sendo 70% das árvores permanentes breado (R$ 732) supera a de outros usos concorrentes
e não manejadas. Outros sistemas mais intensivos, com (R$ 250). Como existe uma variação bastante grande
menor biodiversidade e ciclos mais intensivos de podas, entre a renda nas propriedades, os casos alvos para o
não são estimulados pelo projeto. projeto seriam as propriedades de menor eficiência e
O projeto investe no comércio de produtos dos sistemas mais ameaçadas de conversão dos cafezais sombrea-
sombreados, qualificando todo o arranjo produtivo do dos para outros usos. Nestas, o custo de oportunidade
café arábica com parceiros na iniciativa privada. Envol- (renda café sombreado – renda uso concorrente) pode
ve aprimoramentos tais como catação seletiva, despol- chegar a R$ 220/ha/ano. Porém, o projeto enfatiza que
pa e secagem apurada, visando excelência da bebida. PSA não irá subsidiar usos da terra ineficientes, mas
Envolve também diversificação, apoiando a comercia- pretende ser um estímulo à revitalização (ecológica e
lização de frutas in natura e polpas de frutas, e começa econômica) destes sistemas. Da mesma forma, não exi-
110 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
ste uma linha de base de estoques de carbono formaliz- A contrapartida dos agricultores e do projeto é a mão
ada para o projeto para remanescentes florestais. de obra para a implantação de mudas de espécies nati-
Porém, o ativo ambiental existente nas propriedades vas e/ou regeneração assistida nos cafezais em SAF (300
familiares (SAFs) pode ser inferido pela soma de área a 800 mudas/ha), e o apoio técnico para a melhoria am-
de cafezais sombreados e fragmentos florestais em di- biental da cadeia produtiva, com redução e/ou elimina-
versos estágios de sucessão (geralmente florestas se- ção do uso de insumos agroquímicos.
cundárias) nas áreas dos participantes, que em média
MONITORAMENTO
chega a 60%.
O projeto tem um sistema de monitoramento de indi-
CUSTOS DE INVESTIMENTO
cadores ecológicos (de flora) em atividade, e de fauna
Os custos são calculados em três bases diferenciadas: (avifauna) em construção, em parceria com organiza-
Implantar um cafezal agroflorestal, considerando ções parceiras. Promoveu um estudo exploratório de
todos os insumos e mão de obra: R$ 4.100/ha; indicadores ecológicos e econômicos para cinco casos
Implantar apenas as árvores em cafezais atualmente típicos de produtores de café sombreado, mas não ana-
degradados e/ou em monocultivo e/ou com baixo nível lisou ainda estoques de carbono dentro deste estudo.
de sombreamento: R$ 616/ha/ano;
MAIORES INFORMAÇÕES
Custos de manutenção das árvores implantadas até seu
estabelecimento e, quando necessário, manejo de fuste www.arvorar.com; www.ipe.org.br
(desrama): R$ 115/ha/ano.
26
Centro Ecológico IPE – Cultivando nosso clima: promovendo a produção
e consumo de produtos ecológicos para esfriar o planeta / RS, SC
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
locais e regionais, mercado institucio-
nal (merenda escolar e PAA/CONAB/
O projeto está sendo desenvolvido MAPA). O projeto investe no comércio
nos municípios de Torres, Morrinhos dos produtos dos sistemas sombreados,
do Sul, Três Cachoeiras, Mampituba, qualificando todo o arranjo produtivo,
Dom Pedro de Alcântara e Osório, lo- com parceiros na iniciativa privada.
calizados no estado do Rio Grande do Envolve aprimoramentos tais como
Sul, e Praia Grande, no estado de Santa adubação orgânica e coleta seletiva, vi-
Catarina, sando a sustentabilidade ambiental da
TIPO DE INTERVENÇÃO
produção.
Outra estratégia adotada pelo projeto é
Como estratégia para reduzir as emis- a quantificação do carbono sequestra-
sões de carbono, o projeto prevê a con- do e os benefícios da diversidade bioló-
servação e recuperação de RL e APP, gica em um conjunto de 15 proprie-
por regeneração assistida e enriqueci- dades agroecológicas assessoradas pelo
mento com espécies nativas, além da implantação de Centro Ecológico, bem como o desenvolvimento de um
SAFs consorciando banana com espécies madeireiras, sistema de certificação participativa de serviços ambi-
palmito (E. edulis), frutas nativas e ornamentais. entais, em conjunto com outras cinco organizações
Os principais estoques a serem conservados/recupera- da Rede Ecovida de Agroecologia e a ampliação em
dos estão na biomassa do dossel que promove o sombre- 15% do número de agricultores que adotam práticas
amento, seguido do palmiteiro e serrapilheira. O ciclo de de manejo agroflorestal. Existe um projeto submetido
manejo dos palmiteiros e das árvores envolve poda para ao Banco Mundial (Produção de Açaí para Geração de
regulagem de sombra e corte seletivo de indivíduos ma- Renda e Preservação da Mata Atlântica/Development
duros para fins madeireiros seletivos, ao longo de ciclos Marketplace), que espera ampliar a implantação dos
de 15 a 35 anos (estoques de carbono). Tal manejo, que SAFs com palmiteiros (E. edulis) em mais 400 famílias.
pode variar entre propriedades, alcança 30% do dossel,
sendo 70% das árvores permanentes e não manejadas. ARRANJO INSTITUCIONAL
Na sua grande maioria, os agricultores acessam mer- A ONG Centro Ecológico IPÊ é a organização execu-
cados diferenciados para produtos orgânicos - feiras tora.
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 111
Parceiros: Cooperativas Sem Fronteiras; CEDECO, ha, sendo este o valor de implantação de um bananal
ONG costa-riquenha, sócia da Iniciativa CSF e com ex- agroflorestal, com banana, café, louro e outras espécies
pertise em serviços ambientais; Rede Terra do Futuro nativas arbóreas e de R$ 600/ha para o plantio de ár-
(Suécia) e MAELA. vores e palmeiras. O custo de manutenção é de R$ 200/
ha/ano até o estabelecimento do SAF, incluindo, quan-
ABRANGÊNCIA
do necessário, manejo de fuste (desrama) para ajuste de
O projeto se desenvolve em uma área total de cerca de sombreamento do bananal.
200 ha, sendo 50% composta por propriedades com ex-
tensão de 0 a 10 ha e 50% com extensão de 11 a 50 ha, A contrapartida dos agricultores e do projeto é a mão
com remanescentes de Mata Atlântica Meridional, for- de obra para a implantação de mudas de nativas e/ou
mada por Floresta Ombrófila Densa. Dessa área, estão regeneração assistida nos bananais em SAF (500-1000
previstos reflorestamento em 200 ha. mudas/ha), e o apoio técnico para a melhoria ambien-
O projeto já conta 19 anos desde a implantação dos pri- tal da cadeia produtiva, com redução e/ou eliminação
meiros SAFs. do uso de insumos agroquímicos.
FONTES DE RECURSOS MONITORAMENTO
O projeto não tem fonte de remuneração ou investi- O projeto ainda não acessou o mercado de créditos,
mento definido. Como o projeto está em desenvolvi- nem conta com linha de base definida, mas possui uma
mento, não existem ainda acordos de compra e venda. sistematização e mensuração de carbono e biodiversi-
No entanto, o preço por tonelada de carbono esperado dade de um conjunto de propriedades, que foi o resul-
é de aproximadamente U$ 10. tado de um estudo realizado em uma tese de doutorado
Adicionalmente, a tese de doutorado (Gonçalves, 2008) em recursos naturais pela Cornell University. Também
indicou que os SAFs igualam e eventualmente superam possui o apoio de dois projetos de cooperação interna-
os sistemas convencionais de produção de banana (mo- cional ICCO e SSPN, para mensurar os serviços am-
nocultivos) em renda, o que indica que ganhos por bientais e coordenar alguns trabalhos de sistematiza-
PSAs partiriam de um custo de oportunidade favor- ção de serviços ambientais (PNUD e PDA/MMA).
ável.
MAIORES INFORMAÇÕES
CUSTOS DE INVESTIMENTO
www.arvorar.com; www.ipe.org.br
Os custos de investimento do projeto são de R$ 4.500/
112 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
27
ECOCITRUS
Consórcio de Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica / RS
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
28
Instituto Perene - Programa Recôncavo Sustentável
REDD, A/R e Eficiência Energética / BA
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
considerada de 1.000ha.
possui convênios com os setores público e financeiro e de créditos de carbono como fonte de captação de re-
localização definida. As negociações com stakeholders cursos. O preço da tonelada de CO2 deverá variar entre
encontram-se em andamento. A linha de base já foi de- U$ 8 e 14, dependendo da escala alcançada.
finida e os executores estão submetendo o projeto para
MAIORES INFORMAÇÕES
obtenção de certificação de estoque de carbono junto à
CCBA, VCS e Gold Standard. Após a certificação das www.perene.org.br e www.ambientalpv.com
áreas protegidas, o projeto pretende acessar o mercado
29
Associação Mico Leão Dourado
Corredores Florestais na Mata Atlântica / RJ
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
www.micoleao.org.br
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 115
30
Instituto Floresta Viva
Programa Floresta Viva / BA APA Itacaré/Serra Grande
Categoria: Desenvolvimento
31
MIRA-SERRA
Projeto Rio Padilha / RS
Categoria: Interesse
CONTEXTO ABRANGÊNCIA
A estratégia dos executores consistiu em evitar ou re- Os custos de investimento no projeto giraram em torno
duzir desmatamento ou a degradação da vegetação de R$ 3.000/ha em média, sendo que o valor médio de
existente; proteger a qualidade do solo, a fauna dis- R$1.000/mês ou R$ 12.000/ano foram obtidos através
persora e os mananciais hídricos, com ações junto ao de projetos e campanhas junto aos parceiros e financia-
poder público, culminando no reconhecimento da área mentos de empresas. A contrapartida esperada é a ma-
como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Consiste nutenção das áreas de risco, através do monitoramento
também na promoção de ações educativas, mantendo ambiental realizado.
uma sede na área urbana (Espaço MIRA-SERRA de
MONITORAMENTO
Estudos Ambientais), com museu de história natural,
videoteca e biblioteca temáticas, visando o conheci- Apesar de existir o interesse em participar do mercado
mento e a valorização do bioma local, com incursões de créditos de carbono, até o momento ainda não foi
de turismo acadêmico controlado à RPPN. Também realizada nenhuma operação nesse sentido devido às
desenvolvem ações de restauração e regeneração com o dificuldades encontradas pelos executores na obtenção
plantio de centenas de sementes de espécies nativas nas de informação especializada sobre meios de valoração e
áreas perturbadas limítrofes à RPPN. pagamento dos serviços ambientais. Em virtude dessas
O projeto não prevê retorno financeiro nem PSA, mas dificuldades, ainda não foi iniciado nenhum processo
busca recursos junto a empresas e fundações para man- de certificação.
ter as atividades de pesquisa e monitoramento das áre- Em relação ao monitoramento da área, ele é realizado
as ameaçadas como forma de evitar a contínua degra- através de incursões periódicas de integrantes da ONG
dação das matas e mananciais. e da RPPN, bem como pesquisas científicas na área. O
projeto também utiliza o monitoramento por fotos das
ARRANJO INSTITUCIONAL
áreas que foram recuperadas e daquelas que têm o ob-
O projeto está sendo desenvolvido pela ONG MIRA- jetivo de manter preservadas.
SERRA.
MAIORES INFORMAÇÕES
Parceiros: IBAMA/RS, UERGS, ULBRA/Martinho
Lutero e PUC. www.miraserra.org.br
Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 117
32
AMANE e CEPAN
Corredor da Biodiversidade do Nordeste / AL, PE, PB, RN
Categoria: Interesse
CONTEXTO
O projeto estimula ainda a geração de
renda nas localidades através da im-
O Corredor da Biodiversidade do plantação de viveiros de produção de
Nordeste abrange 107 UCs que prote- mudas de espécies nativas e de espécies
gem mais de um milhão de hectares que serão utilizadas na implantação dos
de remanescentes de Mata Atlântica SAFs. A partir daí, o projeto vai investir
costeira, de altitude e de interior, com no comércio de produtos dos sistemas
outros ecossistemas associados, como agroflorestais, qualificando toda a pro-
manguezal e restinga. A região-alvo do dução e incluindo aprimoramentos tais
projeto constitui áreas biologicamente como adubagem orgânica produzida
prioritárias, na forma de UCs ou como pelos proprietários, visando sustentabi-
remanescentes florestais em proprieda- lidade e maior produtividade.
des privadas, especialmente em usinas Além disso, está sendo iniciado o
de cana-de-açúcar, juntamente com mapeamento de propriedades e áreas
a totalidade da paisagem circundante de APPs na Bacia Hidrográfica do
sob diferentes padrões de uso da terra, dominado prin- Rio Una e restauração ecológica na RPPN Serra do
cipalmente pela pecuária e cana-de-açúcar. O maior Urubu, em Pernambuco. Existe um componente de
número de áreas protegidas por UCs encontra-se no apoio à criação e implementação da Cooperativa de
estado de Pernambuco, num total de 63 (499.320ha). Produtores da Agricultura Familiar Camponesa de
No entanto, Alagoas, com apenas 24 UCs, protege vir- Murici, no Estado de Alagoas, para comercialização de
tualmente 597.050ha. A Paraíba apresenta 16 UCs no produtos da região. Esse projeto foi iniciado em 2009,
domínio deste Corredor (36.890ha) e o Rio Grande do com apoio também do FUNBIO/KfW, com instalação
Norte, apenas cinco (17.290ha). de um Centro de Educação para Conservação da
TIPO DE INTERVENÇÃO
Biodiversidade da Mata Atlântica em Murici.
33
REGUA – Reserva Ecológica de Guapiaçú / RJ
Município de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro
Categoria: Interesse
Referências
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Iniciativas de PSA de Carbono Florestal na Mata Atlântica 121
Introdução
de abastecimento de capitais como Brasília, Vitó-
ria, Palmas e Campo Grande. Outras encontram-
se em regiões estrategicamente importantes para a
A ferramenta econômica de PSA tem mostrado conservação de corredores naturais, o que possibi-
seu dinamismo e seu potencial para a conservação. lita agregar mais valor para tais iniciativas, pois se
Envolvendo 848 prestadores de serviços ambien- multiplicam os serviços oferecidos pela manuten-
tais, há na Mata Atlântica 40 projetos de PSA-Água ção de um determinado remanescente florestal –
que englobam uma área total de aproximadamente água, conservação dos solos, carbono, manutenção
40 mil hectares. Os projetos atuam na conservação de fluxos gênicos e habitats (Figura 1).
de áreas de remanescentes florestais, restauração Os custos para a implementação e manutenção
florestal e regenereção assistida em bacias hidro- de tais sistemas são muito variáveis e alcançam va-
gráficas, que provêm água para aproximadamente lores entre R$ 200 mil a R$ 2,5 milhões por ano.
38 milhões de brasileiros. Estes valores na maior parte das vezes não refletem
Este capítulo tem como objetivo apresentar o somente os custos associados aos pagamentos aos
estado da arte das iniciativas promissoras de pa- produtores rurais, mas também os custos das ações
gamento por serviços ambientais (PSA) para a de restauração e conservação. Entretanto, não con-
proteção dos recursos hídricos na Mata Atlântica; sideram em grande parte os altos custos de tran-
os principais desafios enfrentados por elas e reco- sação associados ao estabelecimento dos projetos,
mendações de próximos passos. Ele é baseado na decorrentes da necessidade da consolidação das
pesquisa e sistematização de projetos realizadas até parcerias e do caráter ainda pioneiro das iniciati-
fevereiro de 2010, a qual se referem os dados apre- vas.
sentados. De maneira geral, as iniciativas necessitam
Na pesquisa foram mapeadas 40 iniciativas de mais de uma instituição para a sua realização,
em curso. Dos projetos levantados, apenas oito tendo como fontes de recursos para pagamentos,
encontram-se em fase de implementação; 20 estão basicamente orçamentos públicos, assim como re-
em fase de desenvolvimento e 12 em fase de arti- cursos de Comitês de Bacia Hidrográficas (CBHs),
culação. 28 iniciativas mapeadas estão localizadas através da cobrança pelo uso da água e de empresas
na região Sudeste, sete na região Sul e somente cin- fornecedoras de água para a população. De uma
co estão localizadas nas regiões Norte, Nordeste e maneira mais tímida, os arranjos de financiamen-
Centro-Oeste. 57% dos projetos encontram-se em to envolvem a iniciativa privada. As iniciativas de
fitofisionomias de Florestas Estacionais Semideci- PSA para proteção de recursos hídricos têm sido,
duais, Florestas Ombrófilas Mistas, Densas e Aber- em maior parte, lideradas por prefeituras munici-
tas; 13% na fitofisionomia de Savanas (Cerrado); e pais e, em alguns casos, pelas empresas municipais
30% encontram-se em áreas de transição entre Flo- de água, podendo ser observada também uma for-
resta Ombrófila Densa e Mista, Estepes e Savanas. te participação dos órgãos estaduais de meio am-
Treze iniciativas estão localizadas em impor- biente e/ou recursos hídricos, de organizações não
tantes sistemas de abastecimento de grandes aglo- governamentais (ONGs) e da Agência Nacional de
merações urbanas, como o Sistema Cantareira e as Águas (ANA), responsável pela introdução do con-
represas Billings e Guarapirangua, em São Paulo; o ceito Produtor de Água, principal referência para
Sistema Guandu, no Rio de Janeiro, e mananciais as iniciativas em curso.
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 125
Projetos: 1) Conservador de Águas; 2) Produtor de Água – Bacia PCJ; 3) Produtores de Água e Florestas – Bacia Guandu; 4) ProdutorES de Água – Bacia Benevente; 5) ProdutorEs de
Água – Bacia Guandu; 6) Oásis; 7) Oasis; 8) Programa de Gestão Ambiental da Região dos Mananciais. 9) Camboriú; 10) Pipiripau; 11) Município de São Paulo; 12) Corredores do Vale do
Guaratinguetá; 13) Campo Grande; 14) Produtor de Água São Francisco Xavier; 15) Entorno RPPN Feliciano Abdala/Corredor Muriqui; 16) Nascentes do Rio Doce – Brás Pires; 17) Ribeirão
do Boi Sustentável ; 18) Desenvolvimento Rural Sustentável na Bacia do Rio Santo Antônio; 19) Florestas para a Vida; 20) ProdutorEs de Água – Bacia do Rio São José; 21) Consórcio
Intermunicipal Lagos São João; 22) CBH Sorocaba e Médio-Tietê; 23) Promata Itabira; 24) Promata Itamonte – Atitude Verde; 25) Promata Carlos Chagas; 26) Promata Amanhágua; 27)
Promata AMAJF; 28) Promata 4 Cantos - AMA Lapinha; 29) Parque Estadual Três Picos. 30) Porto Seguro – BA; 31) Palmas – TO; 32) Patrocínio; 33) Luiz Eduardo Magalhães; 34) PSA
Corumbataí; 35) Erechim - Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Apuaê-Inhandava; 36) São José do Rio Preto; 37) Estrela; 38) Consórcio Quiriri; 39) Lagoinha; 40) Londrina; 41) OIkos
PSA Vale do Paraíba
126 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
A difusão de sistemas de PSA de proteção dos do Rio de Janeiro já possui uma discussão madu-
recursos hídricos tem sido impulsionada ampla- ra da legislação de PSA, enquanto que Rio Grande
mente principalmente pelo Programa Produtor de do Sul e Pernambuco também apresentam algum
Água, da ANA e pelas políticas estaduais. A ANA movimento no desenvolvimento de leis estaduais.
teve um papel chave ao desenvolver o conceito de- Somados a diversas iniciativas municipais, esses
nominado Produtor de Água, que reconhece o pa- desenvolvimentos podem impulsionar ainda mais
pel de geração de serviços ambientais desempenha- a difusão de sistemas de PSA de proteção dos re-
do por produtores rurais no abatimento de erosão cursos hídricos na Mata Atlântica.
e infiltração de água, a partir do desenvolvimento Além disso, discute-se no Congresso Nacional
de práticas de conservação do solo e práticas de o Substitutivo ao Projeto de Lei 792 de 2007. Este
conservação e restauração florestal. Este conceito, não somente visa estabelecer diretrizes para a Polí-
que pela primeira vez foi formalmente testado nas tica Nacional de Pagamento por Serviços Ambien-
experiências desenvolvidas no Sistema Cantareira, tais no país, como também a criação do Programa
é a principal referência para os esquemas de PSA- Federal de Pagamentos por Serviços Ambientais e
Água no país, com as devidas adaptações para cada do Fundo Federal de Pagamento por Serviços Am-
local e para cada arranjo institucional. bientais. A discussão sobre este Projeto de Lei vem
Grande potencial de impulso aos sistemas de sendo feita com uma boa participação da socieda-
PSA demonstram também as políticas públicas de civil e das instituições que participam do debate
estaduais. Há três estados da Federação que estão e da implementação de Programas PSAs no país.
mais avançados na área, com legislação aprovada e Ao longo do debate, já surgiram pontos impor-
programas de PSA em curso. Sob a coordenação do tantes, tais como: a) a isenção fiscal para PSA; b) a
Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos possibilidade de recebimento de pagamentos, mes-
Hídricos (IEMA), o estado do Espírito Santo já está mo em áreas de proteção legal; c) a formalização
atuando em três microbacias através do programa de que produtores rurais possam receber recursos
ProdutorES de Água e conta com um fundo estadu- públicos, se eles fornecerem serviços ambientais
al, o FUNDÁGUA, com recursos provenientes de à população; d) a possibilidade de vinculação dos
3% da arrecadação dos royalties de petróleo (apro- contratos à terra e não ao indivíduo, aumentando
ximadamente R$ 15 milhões por ano). O estado de a segurança jurídica para contratos de longo prazo.
Minas Gerais, trabalhando na implementação de Avançar nesta política é fundamental para que o
seu programa, o Bolsa Verde, que foi inspirado na mecanismo de PSA ganhe a escala desejável.
iniciativa nas experiências do município de Extre- Ainda há muitos desafios a serem enfrentados
ma. Ele será financiado por 10% dos recursos do para que o PSA ganhe escala. Com este estudo foi
FHIDRO, que por sua vez são derivados das me- possível aferir que existem lacunas importantes em
didas de compensação do setor elétrico. No estado termos de recursos humanos, metodologias e ca-
de São Paulo, o Programa Mina D’água é a primeira pacitação técnica para a elaboração, implementa-
iniciativa de PSA-Água no âmbito estadual. ção, monitoramento e avaliação de projetos. Além
Nos estados de Santa Catarina e Paraná, os disso, ainda faltam recursos financeiros em larga
processos legislativos referentes ao PSA já foram escala para fazer jus ao tamanho do desafio.
concluídos, caminhando agora para o processo Este capítulo está dividido da seguinte manei-
de regulamentação das leis já aprovadas. O estado ra: na próxima parte são apresentados conceitos
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 127
Base conceitual
Alguns conceitos básicos orientaram a pesqui- Stress hídrico
sa aqui apresentada, tais como: água, stress hídrico
e externalidades. O foco deste trabalho será nos A expressão “stress hídrico” refere-se à combi-
dois primeiros conceitos, dado que o último foi nação entre o aumento populacional e a degrada-
apresentado na introdução desta publicação. Em ção dos recursos hídricos, o que acarreta, por sua
seguida, informações sobre usos da terra e provi- vez, a redução da disponibilidade do recurso água
mento de serviços ambientais na proteção dos re- à sociedade. A Organização das Nações Unidas
cursos hídricos. A seguir, uma breve descrição dos considera como uma situação de stress hídrico se-
conceitos. vero, a disponibilidade do recurso menor que 500
m3/habitante/ano. É importante notar que mesmo
Água em regiões desenvolvidas do país, muito distantes
de locais de clima semiárido, estes valores já foram
Na Conferência Internacional sobre Água e alcançados. Por exemplo, na Bacia PCJ, em São
Meio Ambiente, ocorrida na cidade de Dublin, Ir- Paulo, os beneficiários dispõem atualmente de so-
landa, em janeiro de 1992, seus 500 participantes, mente 400 m3/habitantes/ano no período de estia-
representantes de mais de 100 países e de 80 insti- gem (Comitê PCJ, 2006), o que se configura como
tuições internacionais, intergovernamentais e não stress hídrico severo, segundo o limite proposto
governamentais, prepararam o chamado Dublin pelo Relatório da ONU (1997).
Statement, que foi posteriormente incorporado na Aliada ao fator da disponibilidade, encontra-
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am- se a capacidade de resiliência, termo que traduz a
biente e Desenvolvimento, a Rio 92. Este recurso, capacidade de um determinado recurso se recom-
essencial à manutenção da vida, é tratado na Agen- por e se regenerar para retornar as suas condições
da 21 (1992) da seguinte maneira: originais. A velocidade de tal capacidade é inver-
samente proporcional à velocidade com a qual os
“A gestão holística das águas como um recurso
recursos são consumidos. Considerando o aumen-
finito e vulnerável e a integração setorial dos
planos e programas hídricos aos arcabouços to populacional, o maior consumo de recursos e a
das políticas econômicas e sociais são de prima degradação dos recursos naturais, torna-se cada
importância para as ações na década de 90 e vez mais difícil conciliar a demanda e a oferta por
para os anos seguintes.” recursos em quantidade e qualidade. Nesse contex-
to, torna-se extremamente importante se pensar e
“O manejo integrado dos recursos hídricos é implementar estratégias de longo prazo de conser-
baseado na percepção da água como parte in-
vação dos recursos hídricos.
tegral do ecossistema, um recurso natural e um
bem econômico e social, onde as suas caracte-
rísticas qualitativas e quantitativas determinam
a natureza da sua utilização.”
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 129
Reconhecimento
Usuários do valor do
recebendo serviço de seu
água “prestador”
de qualidade
Modelo
de PSA
Vegetação
nativa Atividades de
produzindo recuperação e
serviços conservação da
ambientais - vegetação nativa
Água
130 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Redes de conhecimento
132 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
mercados, sugeridos por alguns autores (Wunder, incluam o suporte a esquemas PSA-Água como
2005), no qual os beneficiários diretos dos serviços parte das medidas tomadas para a mitigação e/ou
fariam pagamentos, voluntários, diretamente aos compensação da pegada hídrica destas empresas.
provedores dos mesmos. Entendendo-se, aí, que o Além das citadas acima, é possível também
benefício econômico da abordagem ecossistêmica identificar iniciativas escoradas em ações filantró-
é maior do que o das mais tradicionais, do ponto de picas em um primeiro momento. Elas têm como
vista do abastecimento urbano ou consumo pró- objetivo final, o estímulo às políticas públicas, que
prio, tais como a construção de estações de trata- dêem consequência às ações iniciadas de forma fi-
mento de água ou a construção de novas estruturas lantrópica. O melhor exemplo desta linha de ação
de captação de água. Na literatura internacional, é o Projeto Oásis, levado a cabo pela Fundação
são exemplos clássicos o esquema desenvolvido Grupo Boticário, na região sul dos mananciais que
pela empresa de água mineral francesa Perrier- abastecem a Região Metropolitana de São Paulo.
Vittel ou ainda o esquema liderado pela empresa
de abastecimento de água da cidade de Nova York, Situação dos projetos de PSA-
nos Estados Unidos. Água segundo as rotas
No levantamento realizado, é possível identi-
ficar algumas iniciativas em andamento baseadas Sob a perspectiva da formação de demanda
nesta abordagem. Talvez a mais significativa seja para os sistemas de PSA, as rotas A (baseada na in-
aquela liderada pela EMASA, a empresa de abas- dução por um Comitê de Bacia Hidrográfica) e B
tecimento de água dos municípios de Camboriú e (baseada em legislação), apresentadas acima, vêm
Balneário Camboriú, em Santa Catarina, que, con- sendo as mais aplicadas até o momento. A despei-
vencida dos benefícios da abordagem ecossistêmi- to dos avanços de sistemas de PSAs baseados por
ca, lidera o desenvolvimento do projeto Produtor CBHs, vale a pena ressaltar que importantes Co-
de Água em sua bacia de abastecimento. mitês de Bacia, tal como o CBH do Paraíba do Sul,
não apresentam esquemas de PSAs em processo de
Grandes usuários de água implementação, apesar do assunto estar na pauta
deste Comitê desde 2006.
Compensando ou mitigando sua pegada hídri- Ainda não havia exemplo da rota D até a rea-
ca através da contribuição voluntária a esquemas lização deste estudo. Uma outra ausência notável
PSA - Este caso, ainda não contemplado nas inicia- em um país onde a energia hidrelétrica ocupa um
tivas estudadas para este trabalho, seria aquele em papel central é a rota C. Ainda não há um esque-
que grandes empresas usuárias de água estariam ma de PSA-Água financiado por empresas do se-
colaborando voluntariamente para esquemas PSA, tor elétrico preocupadas com a vida útil dos seus
buscando mitigar ou compensar sua pegada hídri- reservatórios. O setor elétrico aparece apenas de
ca. forma indireta, através dos recursos de compensa-
Parece claro que, com o avançar da internali- ção destinados ao FHIDRO em Minas Gerais, que
zação do conceito de pegada hídrica e da relação financia a implantação do Programa Bolsa Verde
existente com a responsabilidade socioambiental no Estado.
de grandes empresas, cresce a possibilidade de se
ter, no futuro próximo, iniciativas corporativas que
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 135
Sistemas de PSA-Água na
Mata Atlântica
Abaixo os projetos levantados pela pesquisa são projeto. Estes projetos pilotos estão localizados em
analisados segundo as fases de articulação, desenvol- bacias que abastecem aproximadamente 22,2 mi-
vimento e implementação, conforme apresentadas lhões de pessoas.
pela cadeia de resultados para projetos de PSA-Água. Os custos dos projetos mencionados pelos seus
Os valores apresentados referem-se às informações executores variam de R$ 200 mil a R$ 2,5 milhões
levantadas até o mês de fevereiro de 2010. por ano. Estes valores na maior parte das vezes não
refletem somente os custos associados aos paga-
Projetos em fase de mentos aos produtores rurais, mas também os das
implementação ações de restauração e conservação florestal. Mui-
tas vezes, não consideram os altos custos de transa-
Foram identificados oito projetos de PSA-Água
em fase de implementação. Pode-se dizer que exis-
te aí um acúmulo de lições aprendidas para a im- A fase de Implementação refere-se aos
plementação dos esquemas de PSA, que poderá projetos que possuem algumas (ou to-
servir às outras iniciativas/projetos. das) características abaixo:
São aproximadamente 345 prestadores engaja- Proprietários engajados;
dos, recebendo por serviços ambientais relaciona-
Contratos assinados designando
dos à qualidade e quantidade de água, com valores
áreas a serem restauradas e paga-
de PSA variando de R$ 10,00/ha/ano (min. - Pro-
mentos acordados;
dutores de Água e Florestas) a R$ 577,00/ha/mês
(máx. - Joinville). Os cálculos foram feitos com Atividades de conservação e restau-
base, em sua grande maioria, nos custos de opor- ração implementadas, baseadas no
tunidade, somados ou não a outros critérios, como mapeamento do uso do solo;
estado sucessional da floresta, declividade e uso do Mudanças no uso do solo monitora-
solo. São diferentes arranjos institucionais que va- das;
riam de três a mais de seis instituições, responden-
Pagamentos realizados.
do às necessidade e capacidades específicas de cada
1 É importante notar que no número de prestadores de serviços ambientais relatado acima estão incluídos todos aqueles produtores lista-
dos nos projetos apoiados pelo Promata, em Minas Gerais. As diferentes iniciativas listadas apoiadas pelo Promata foram aqui categorizadas
como “em desenvolvimento”, por duas razões principais. A primeira porque o projeto não apoia especificamente iniciativas associadas
ao PSA-Água, e a segunda, porque os produtores neste projeto recebem os valores de PSA associados às práticas de restauração florestal
executadas, os quais em última instância, também remuneram a participação do produtor em termos de mão de obra. Como este projeto
foi a origem e o piloto no qual o estado de Minas Gerais construiu sua política estadual de PSA, o Programa Bolsa Verde, o qual conta com
recursos ligados diretamente à agenda hídrica, e como há uma grande expectativa de que vários projetos apoiados pelo Promata irão migrar
para o Programa Bolsa Verde, decidiu-se por inclui-los nestes aqui chamados, em desenvolvimento, imaginando categorizá-los nos projetos
em implantação, quando da sua inserção no Bolsa Verde
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 137
de oportunidade, ponderados por fatores ligados à projeto a diversas áreas com atividades anteriores
declividade da área, estágio sucessional das flores- de recuperação de matas ciliares.
tas, tipo de atividade a ser implantada e outros fa-
tores. Os pagamentos que estão escorados na legis- Projetos em fase de articulação
lação vigente, em geral, possuem valores baseados
em unidades fiscais do município ou do estado. Ao longo do processo de reunião de informa-
Nos 20 projetos apresentados, todas as rotas de ções para este trabalho, entre os meses de janeiro a
PSA-Água vêm sendo trabalhadas, com exceção março de 2010, foram coletadas as 12 iniciativas na
daquela que foca na pegada hídrica. Há 12 inicia- fase de articulação2 .
tivas que se apoiam em programas públicos (com Neste levantamento, foi possível identificar a
ênfase para o Programa Promata, e seus desdobra- presença de iniciativas em novos Estados, como o
mentos para o Programa Bolsa Verde, em Minas Tocantins, Bahia e Rio Grande do Sul, os dois últi-
Gerais, e o ProdutorES de Água, no Espírito San- mos de particular importância em se tratando de
to). Existe uma liderança dividida entre prefeituras Mata Atlântica. Seguindo a mesma linha dos outros
municipais, iniciativas estaduais e ONGs, com ain- estágios de desenvolvimento de projetos, os propo-
da uma pequena participação dos CBHs e empre- nentes são diversos, podendo ser observada a pre-
sas usuárias (por exemplo, Camboriú); e ainda, o dominância de atores municipais, tanto governa-
Ministério Público como participante importante mentais, quanto não governamentais, assim como
em pelo menos uma delas (Campo Grande). a presença das empresas locais de abastecimento
Novamente, pode-se observar uma concentra- de água. Chama também a atenção a participação
ção de projetos na região Sudeste, embora também dos Comitês de Bacias Hidrográficas, mesmo onde
estejam sendo desenvolvidas iniciativas em im- a cobrança pelo uso da água ainda não está imple-
portantes estados da Federação fora desta região, mentada (e mesmo longe de estar), talvez apontan-
tais como Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal e do para o fato de que os PSA possam ser um fator
Mato Grosso do Sul. de mobilização dos atores locais estabelecidos nos
Mais uma vez, várias iniciativas estão estrate- comitês, particularmente os atores rurais. Essa par-
gicamente posicionadas para conservação de áreas ticipação pode impulsionar a cobrança pelo uso da
prioritárias da Mata Atlântica ou estão localizadas água, para que ela seja mais rapidamente estabele-
próximas a grandes centros urbanos. Dos projetos cida nestes comitês.
apresentados, 12 se encontram em área de ocor-
rência de Florestas Estacionais Semideciduais, Flo-
restas Ombrófilas Mistas, Densas e Abertas; dois, Os projetos da Fase de Articulação estão
em áreas de Savanas; e, outras seis em áreas de em processo de:
transição entre Florestas Estacionais Semidecidu- Criação de uma rede de atores inte-
ais/Floresta Ombrófila Densa/Floresta Ombrófila ressados e capazes de implementa-
Mista e Savanas. Em alguns casos, as instituições rem projetos de PSA-Água em uma
parceiras dispõem de recursos financeiros ou ca- bacia hidrográfica
pacidade técnica e já se encontram estendendo o
2 Isto certamente não engloba todas iniciativas em andamento que não foram incluídas neste levantamento, particularmente em se
tratando o estágio inicial, onde os potenciais implementadores estão se articulando e buscando identificar parcerias e possibilidades de
desenvolvimento e implementação de projetos.
138 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
3 O número apresentado acima representa uma estimativa dos beneficiários dos cursos d’água onde se encontram as iniciativas/projetos.
Em alguns casos foram usados estimativas dos habitantes das bacias e microbacias referindo-se à população da cidade mais próxima ou da
microbacia em questão, e em outras casos, medidas mais indiretas para referirmos aos cursos d´água mais distantes e que, em grande parte
dos casos, deságuam nos sistemas de abastecimento de grande importância como o Sistema Cantareira.
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 139
Cantareira, e as represas Billings e Guarapirangua, lores de R$ 200 mil a R$ 2,5 milhões por ano. Estes
em São Paulo; o Sistema Guandu, no Rio de Janei- montantes, na maior parte das vezes, não refletem
ro, e mananciais de abastecimento de capitais como somente os custos associados aos pagamentos aos
Brasília, Vitória, Palmas e Campo Grande. Outras produtores rurais, mas também os das ações de res-
estão em regiões estrategicamente importantes tauração e conservação; entretanto, muitas vezes,
para a conservação de corredores naturais, o que não consideram os altos custos de transação para
possibilita agregar mais valor para tais iniciativas/ o estabelecimento dos projetos, decorrentes da ne-
projetos, pois se multiplicam os serviços oferecidos cessidade da consolidação das parcerias e também
pela manutenção de um determinado remanescen- do caráter ainda pioneiro das iniciativas.
te florestal – água, conservação dos solos, carbono, Os pagamentos, embora em alguns casos pare-
manutenção de fluxos gênicos e habitats. çam ter valores baixos, mudam a percepção sobre a
Além das iniciativas e projetos no campo, outro importância das florestas e, mesmo que em alguns
ponto que merece destaque é o desenvolvimento casos percebidos como simbólicos, são importan-
de políticas públicas municipais, estaduais e fede- tes para a promoção de atitudes de conservação
rais, que poderão dar a este processo um grande ambiental e para o sentimento de valorização do
impulso de replicação. É importante notar que a produtor rural como um beneficiário para a socie-
maior parte dos projetos aqui relatados é piloto, dade. A simplificação do repasse de recursos atra-
que, ou serviram de base para a formulação destas vés dos marcos legais é também de extrema impor-
políticas, como é o caso do estado de São Paulo ou tância, bem como a simplificação de tais processos
Rio de Janeiro, ou inauguram as mesmas, como é o a fim de se evitar custos desnecessários. Ainda so-
caso do Espírito Santo. bre os pagamentos, estes são mais explícitos quan-
De maneira geral, as iniciativas envolvem di- do atrelados à área trabalhada, pois estabelece de
versas instituições e aparentemente não existe um forma mais clara a relação entre a perda da área
número ideal de instituições, que geralmente está produtiva e o pagamento pelo serviço ambiental.
positivamente correlacionado com os custos de Também é importante lembrar que o produ-
transação da iniciativa, muitas vezes subestimados. tor rural, em geral, nos projetos aqui descritos,
As principais fontes de recursos para os PSA não recebe apenas os pagamentos strictu sensu. Ele
são os orçamentos públicos, assim como dos Comi- também recebe um pacote de outros benefícios, no
tês de Bacia, através da cobrança pelo uso da água. qual geralmente estão inclusos os insumos para a
Há poucos arranjos que envolvem a iniciativa pri- restauração e conservação florestal (cercas, mudas,
vada. Tais iniciativas/projetos têm sido, em maior adubos etc); na maior parte dos casos também o
parte, lideradas pelas prefeituras municipais; em trabalho associado a estas ações (equipes de traba-
alguns casos, pelas empresas municipais de água, lho pagas pelo projeto); e em alguns casos, outros
podendo ser observada também uma forte parti- benefícios, como a conservação de solos, sistemas
cipação dos órgãos estaduais de meio ambiente e/ de saneamento rural, conservação de estradas etc.
ou recursos hídricos, ONGs e da ANA, através dos Ao produtor, em vários casos, cabe “abrir a portei-
Programa Produtor de Água, principal referência ra” para o projeto, e a partir daí, construir uma re-
para as iniciativas em curso. lação de acompanhamento junto aos proponentes/
Os custos para a implementação e manutenção executores do mesmo.
de tais sistemas são muito variáveis e alcançam va-
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 141
Gargalos e recomendações
Para que esta demanda siga firme e crescente treinamento para o desenvolvimento de projetos
é preciso que seus potenciais compradores estejam são instrumentos chave ao processo de capacita-
conscientes e convencidos de que a conservação e ção.
restauração florestal é um bom, ou um melhor ca- Em grande parte dos casos, as iniciativas/pro-
minho para a provisão em longo prazo de água em jetos iniciam-se nas prefeituras municipais. Sendo
qualidade e quantidade. Hoje a demanda ainda é assim, recomenda-se promover parcerias entre as
pequena por parte dos usuários finais do serviço. municipalidades, visando a troca de experiências
Boa parte desta ausência de demanda pode ser de- entre aquelas que se encontram em estágios dife-
rivada da falta de conhecimento (ou da pequena rentes no processo de aproximação com o tema.
importância dada) da relação floresta-água do pú- Para apoiar todo este processo de capacitação,
blico em geral, inclusive de alguns grandes usuá- sugere-se a criação e o fortalecimento da rede de
rios industriais. atores atuantes na implementação de projetos de
Para isto, recomenda-se a organização de se- PSA. Isso pode ser impulsionado por meio da cria-
minários e iniciativas de mobilização focados para ção de sistemas interativos virtuais que sejam ca-
potenciais pagadores (CBHs, grandes usuários), pazes de disponibilizar as legislações referentes ao
formadores de opinião do setor industrial priva- tema, de fornecer materiais didáticos sobre PSAs,
do e do setor público responsáveis pelo abasteci- de promover a troca de informações virtual etc.
mento urbano e política industrial. Poderia ajudar Estes sistemas interativos baseados em ferramentas
neste processo o apoio a projetos que busquem o virtuais fomentariam a disseminação de redes de
desenvolvimento do conceito da neutralização da agentes multiplicadores no tema PSA. Através do
pegada hídrica associada a projetos PSA-Água, as- sistema também poderiam ser promovidos encon-
sim como o apoio a projetos em novos Comitês de tros presenciais.
Bacia, onde ainda não existem projetos de PSA.
Assistência técnica à elaboração e
Capacitação e treinamento execução de projetos
ros projetos PSA baseado no cruzamento de áreas ral, ainda incipientes, e nem sempre cobrindo todos
de mananciais com áreas prioritárias para conser- os pontos referentes à implementação dos projetos,
vação de biodiversidade da Mata Atlântica e Cerra- particularmente no que diz respeito ao monito-
do5 , e o estudo da relação do projeto Produtor de ramento da quantidade e qualidade da água. Fica
Água com medidas de adaptação às mudanças cli- evidente a necessidade de melhoria nos processos
máticas6. Avançar neste quesito ao apoiar estudos estabelecidos, especificamente no estabelecimento
ao nível de projeto, bacia ou região é extremamente de linhas de base que possam ser comparadas no
relevante na construção dos saberes sobre PSA. futuro. Este acompanhamento é essencial para a
Também sugere-se a identificação das áreas credibilidade dos projetos e da estratégia de PSA
mais suscetíveis à regeneração florestal assistida como instrumento de conservação.
(menor custo) em bacias selecionadas, buscando Para facilitar este processo, sugere-se a priori-
reduzir o custo da restauração florestal e aumentar zação de locais que disponham de séries históricas
o retorno do serviço ambiental por real dispendido. de dados para a implementação do monitoramento
da qualidade e quantidade da água. A implantação
Monitoramento dos protocolos de monitoramento idealmente deve
levar em consideração também os atores locais
Para os projetos PSA-Água, os dois principais como protagonistas deste processo, gerando assim
focos para o monitoramento devem ser primei- um reforço na relação das comunidades locais com
ramente o monitoramento das ações contratadas os projetos em desenvolvimento. O envolvimento
entre os provedores e os compradores dos serviços da comunidade acadêmica também é desejável,
ambientais, ou seja, o monitoramento das práticas não apenas porque valida e qualifica os protocolos
de conservação e restauração exigidas em contra- de monitoramento em curso, mas porque podem
partida aos pagamentos. Se considerarmos que a trazer o acompanhamento de longo prazo, vitais
maior parte dos projetos estimula ações de restau- para este tipo de análise.
ração florestal, também é importante estabelecer
um protocolo de monitoramento que dê conta de Políticas públicas e legislações de PSA
avaliar a qualidade deste processo. Em segundo lu-
gar, é fundamental o monitoramento da qualidade Provavelmente nada pode impulsionar mais o
e quantidade de água ao longo do tempo, posto que processo de ganho de escala e replicação do que o
estas são, por essência, o produto que está sendo avançar das políticas públicas nesta seara. A ins-
vendido. Mesmo sabendo que a variação na qua- talação da legislação pertinente e de programas
lidade/quantidade de água não irá variar no curto correspondentes é importante, porque garantem
prazo, os projetos devem estabelecer uma linha de os mecanismos legais de repasse de recursos aos
base que possa ser comparada no tempo, mesmo produtores rurais e marcam o reconhecimento da
que no longo prazo. importância de tais serviços para a sociedade. Con-
O que pode ser observado no levantamento das forme aponta este estudo, os marcos legais para o
iniciativas em andamento é que existem processos PSA-Água, especialmente na Mata Atlântica, vêm
de monitoramento em curso, mas, de maneira ge- caminhando a passos significativos. Sugere-se que
Projetos PSA-Água
Projetos em execução UF
1 Departamento de Meio Ambiente de Extrema - Conservador de Águas MG
2 Ana/TNC - Produtor de Água, Bacia PCJ SP
3 Instituto Terra - Produtores de Água e Florestas – Bacia Guandu RJ
4 Instituto BioAtlântica/ IEMA - ProdutorES de Água – Bacia Benevente ES
5 IEMA - ProdutorEs de Água – Bacia Guandu ES
6 Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza - Oásis SP
7 Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza - Oásis PR
8 Fundema - Programa de Gestão Ambiental da Região dos Mananciais SC
Projetos em desenvolvimento
9 TNC - Camboriú SC
10 TNC - Pipiripau GO
11 TNC - Município de São Paulo SP
12 TNC - Corredores do Vale do Guaratinguetá SP
13 Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado do MS - Campo Grande MS
14 Prefeitura Municipal de São José dos Campos - Produtor de Água São Francisco Xavier SP
15 SOS Mata Atlântica /CI - Entorno RPPN Feliciano Abdala/Corredor Muriqui MG
16 Instituto Xopotó - Nascentes do Rio Doce – Brás Pires MG
17 IBIO - Ribeirão do Boi Sustentável MG
18 IBIO - Desenvolvimento Rural Sustentável na Bacia do Rio Santo Antônio MG
19 IEMA - Florestas para a Vida ES
20 IEMA/ IBIO - ProdutorES de Água – Bacia do Rio São José ES
21 Comitê da Bacia Hidrográfica Lagos São João - Consórcio Intermunicipal Lagos São ES
22 Comitê de Bacias Hidrográficas Sorocaba e Médio-Tietê - CBH Sorocaba e Médio-Tietê SP
23 Prefeitura de Itabira - Promata Itabira MG
24 Prefeitura de Itamonte - Promata Itamonte - Atitude Verde MG
25 Prefeitura de Carlos Chagas - Promata Carlos Chagas MG
26 Amanhágua - Promata Amanhágua MG
27 AMAJF /TNC - Promata AMAJF MG
28 4 Cantos do Mundo/AMA A LAPINHA - Promata 4 Cantos - AMA Lapinha MG
29 Conservação Estratégica - Parque Estadual Três Picos RJ
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 147
Projetos em elaboração
30 Porto Seguro BA
31 Saneatins - Bacia do Taquarassu, Palmas TO
32 DAEPA - Rio Dourados, Córrego Feio, Patrocínio MG
33 Prefeitura Municipal de Luis Eduardo Magalhães - Rio Tocantins, Luiz Eduardo Magalhães BA
34 Grupo Mata Ciliar de Piracicaba - PSA Corumbataí, Bacia do Corumbataí SP
Comitê Coordenador de Políticas Agrícolas e Agrárias do SUTRAF-AU - Comitê de Bacia Hidrográfica dos
35 RS
Rios Apuaê-Inhandava
36 Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto - São José do Rio Preto SP
37 Prefeitura Municipal de Estrela - Rio Taquari, Estrela RS
38 Consórcio Municipal Quiriri - São Bento do Sul, Rio Negrinho, Corupá e Campo Alegre SC
39 Prefeitura Municipal de Lagoinha - Rio Paraitinga, Lagoinha SP
40 ONG MAE - Londrina PR
41 OIKOS - PSA Vale do Paraíba SP
148 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
1
Conservador de Águas – MG
Município de Extrema, Minas Gerais
Categoria: Execução
Microbacia das Posses: 1.200 ha de área – já realiza- Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura Muni-
do; cipal de Extrema – MG
Microbacia do Salto: 4.000 ha de área – em execução. meioambiente@extrema.mg.gov.br
Beneficiários: cerca de 8,8 milhões de pessoas – Siste-
ma Cantareira (ISA, 2007).
Duração: 2007 – término indeterminado.
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 149
2
Produtor de Água – Bacia PCJ / SP
Municípios de Nazaré Paulista e Joanópolis, São Paulo
Categoria: Execução
MAIORES INFORMAÇÕES
TNC: www.nature.org/wherewework/southamerica/
brasil/features/art32751.html
Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC) CATI - REGIONAL DE BRAGANÇA PAULISTA:
SMA-SP: www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam2/De- edr.braga@cati.sp.gov.br
fault.aspx?idPagina=6373 ANA: www.ana.gov.br/produtordeagua
3
Produtores de Água e Florestas – Bacia Guandu / RJ
Município de Rio Claro, Rio de Janeiro
Categoria: Execução
CONTEXTO
hídricos disponíveis no sistema Guan-
du. Área a ser conservada ou restaura-
O projeto se insere no âmbito das po- da: 3.342 ha e 335 ha, respectivamente;
líticas estaduais e federal de cobrança resultando em 3.677 ha de área total.
pelo uso da água e de incentivos para a Beneficiários: o Sistema Guandu
conservação das bacias hidrográficas e abastece cerca de 8 milhões de pesso-
está localizado na bacia do rio Guandu, as na Região Metropolitana do Rio de
no Corredor de Biodiversidade Tinguá- Janeiro.
Bocaina, nunicípio de Rio Claro, RJ Duração: 2009 – Término indetermi-
TIPO DE INTERVENÇÃO
nado (mínimo cinco anos).
MONITORAMENTO
5.234/08 que altera o Artigo 27 da Lei 3.239/99. PL de
PSA Estadual em discussão.
Hidrológico (nove parâmetros de qualidade + precipi-
tação + vazão + deflúvio), Ictiofauna, Avifauna, Res- MAIORES INFORMAÇÕES
tauração. Instituto Terra/RJ: www.institutoterra.org.br/pagina/
BASE LEGAL
programa-produtores-de-agua-e-floresta/49#texto
4
Produtores de Água – Bacia Benevente / ES
Município de Alfredo Chaves , Espírito Santo
Categoria: Execução
MONITORAMENTO
ços Ambientais, e Decreto 2.168-R de 2008, que regula-
menta o PSA Água; Portaria 015R/2009.
Vistorias periódicas anuais.
MAIORES INFORMAÇÕES
BASE LEGAL
Instituto BioAtlântica: www.bioatlantica.org.br/
Lei Estadual 5.818/98, que dispõe sobre a política es- IEMA – Comissão de Implantação do Projeto Produto-
tadual de recursos hídricos; Lei 8.960/08, que dispõe res de Água: www.meioambiente.es.gov.br
sobre a criaçãodo FUNDÁGUA; Lei Estadual 8.995 de E-mail: produtores@iema.es.gov.br
2008, que institui o Programa de Pagamento por Servi-
5
Produtores de Água – Bacia Guandu / ES
Municípios de Afonso Cláudio e Brejetuba, Espírito Santo
Categoria: Execução
CONTEXTO
Duração: 2009 – término indetermi-
nado.
O projeto se insere no âmbito das po-
líticas estaduais do Espírito Santo de VALORAÇÃO DO SERVIÇO
incentivos para a conservação dos re- A equação engloba os critérios: declivi-
cursos hídricos. dade do terreno, estágio de regeneração
TIPO DE INTERVENÇÃO
da floresta e o custo de oportunidade.
Desta maneira, os valores variam entre
Restauração florestal e conservação de R$ 80,00 e R$ 340,00/ha/ano.
florestas para conservação dos recursos
hídricos. Meta para 2010: restauração e FONTES DE RECURSOS
conservação florestal de 200 ha. FUNDÁGUA (Fundo Estadual de Re-
ARRANJO INSTITUCIONAL
cursos Hídricos do ES) cujos recursos
são provenientes de 3% dos royalties
Participantes: 10 pequenos e médios de petróleo e gás e de 100% das com-
produtores rurais (cafeicultores e olericultores), locali- pensações pagas pelo setor hidrelétrico); no futuro: co-
zados na Bacia Hidrográfica do Rio Guandu (sub-bacia brança pelo uso da água do rio Doce.
do rio Doce). Propriedades de no máximo 80 hectares,
com rendimentos de um a três salários mínimos/mês. CUSTOS DE INVESTIMENTO
Parceiros: IEMA, IBIO, BANDES, ANA, Comitê da Custo total do projeto: cerca de R$ 1 milhão / 5 anos.
Bacia do Guandu, TNC e Prefeituras Municipais de
Afonso Cláudio e Brejetuba. MONITORAMENTO
Contrapartida técnica: disponibilização de equipe Vistorias periódicas anuais.
técnica.
Forma de relacionamento: Termo de Compromisso BASE LEGAL
assinado entre o BANDES, agente financeiro do pro- Lei Estadual 5.818/98, que dispõe sobre a política es-
grama, e os produtores rurais. tadual de recursos hídricos; Lei 8.960/08, que dispõe
ABRANGÊNCIA
sobre a criação do FUNDÁGUA; Lei Estadual 8.995 de
2008, que institui o Programa de Pagamento por Ser-
Beneficiários: Municípios de Brejetuba com 11.097 viços Ambientais, e Decreto 2.168-R de 2008, que regu-
habitantes e Afonso Cláudio com 31.384, totalizando lamenta o PSA-Água.
42.481 habitantes. Incluindo os municípios de Laranja
da Terra e Baixo Guandu, estima-se atualmente uma MAIORES INFORMAÇÕES
população entre 80.000 e 90.000 habitantes. IEMA – Comissão de Implantação do Projeto Produto-
rES de Água: www.meioambiente.es.gov.br
E-mail: produtores@iema.es.gov.br
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 153
6
Oásis – São Paulo / SP
Região metropolitana de São Paulo
Categoria: Execução
O Projeto Oásis premia financeira- Cada proprietário recebe, por ano, en-
mente proprietários de terras que man- tre R$ 75,00 e R$ 370,00 por hectare de
têm remanescentes de Mata Atlântica área natural conservada. A valoração se
protegidos, contribuindo para a con- dá pelo custo de reposição, conforme
servação de mananciais da região da a conservação das áreas e o Índice de
Bacia do Guarapiranga, na Grande São Valoração de Mananciais (IVM). Paga-
Paulo. mento com maior valor para áreas pre-
servadas, reduzindo o valor de acordo
TIPO DE INTERVENÇÃO
com a menor conservação da área. Para
Conservação florestal visando o ar- tanto, três critérios utilizados:
mazenamento de água, o controle de a) Produção e armazenamento de água
erosão e a manutenção e qualidade da - R$ 99/ha/ano;
água. b) Controle de erosão - R$ 75/ha/ano; e
c) Manutenção da qualidade da água - R$ 196/ha/ano -
ARRANJO INSTITUCIONAL
valor máximo R$ 370,00/ha/ano).
Participantes: 13 produtores rurais. Não são pro-
FONTES DE RECURSOS
dutores rurais convencionais: com algumas exceções,
as propriedades não têm nenhuma produção que gere Fundação Mitsubishi.
renda.
CUSTOS DE INVESTIMENTO
Parceiros: Fundação Grupo Boticário: coordenação,
execução e manutenção; Fundação Mitsubishi: finan- Financiamento no valor de R$ 800.000 da Fundação
ciamento dos PSAs. Mitsubishi para PSA e outros R$ 400.000 pela Funda-
Forma de relacionamento: Contrato. ção Grupo Boticário de contrapartida/administração e
desenvolvimento do projeto.
ABRANGÊNCIA
MONITORAMENTO
Preservação de 900 ha de áreas naturais em 13 pro-
priedades. Realizado pela Fundação Boticário para a avaliação dos
Beneficiários: Bacias de Guarapiranga e Billings; ci- aspectos: vegetação, hidrografia e manejo da proprie-
dade de São Paulo – aproximadamente 3,7 milhões de dade, que influem no cálculo dos valores a serem rece-
habitantes beneficiados. bidos pelos proprietários.
Duração: 2006 – 2012.
BASE LEGAL
Acordos privados.
MAIORES INFORMAÇÕES
7
Oásis – Apucarana / PR
Município de Apucarana, Paraná
Categoria: Execução
CONTEXTO
dam o exigido legal; a existência de
linhas de quebra vento ou cercas vivas
Num contexto de replicação do projeto feitas exclusivamente com espécies na-
anterior, em 2009 a Fundação Grupo tivas; a quantidade de nascentes com
Boticário assinou termo de cooperação suas matas ciliares protegidas existen-
com a Prefeitura de Apucarana, para tes na propriedade. Estes, entre outros
contribuir tecnicamente com o Proje- fatores, produzirão um índice de valo-
to Oásis-Apucarana, desenvolvido pela ração da propriedade rural que defini-
própria prefeitura. O objetivo da par- rá o quanto cada proprietário receberá
ceria é potencializar os resultados do por mês.
projeto paranaense para a conservação
da natureza. FONTES DE RECURSOS
TIPO DE INTERVENÇÃO
Recursos dos Parceiros e do Fundo
Municipal do Meio Ambiente (com-
Restauração florestal para conectivi- posto por repasse de 1% das tarifas
dade entre fragmentos florestais e unidades de conser- da SANEPAR; receitas derivadas do repasse do ICMS-
vação, assim como orientação técnica para adequação Ecológico municipal; parte de multas ambientais apli-
ambiental das propriedades. cadas pelo Ministério Público e/ou órgãos competen-
ARRANJO INSTITUCIONAL
tes, e mediante convênios a serem firmados com ONGs
e outras entidades.
Participantes: 64 produtores rurais. Propriedades con-
tratadas com média de 21ha; renda média bruta anual CUSTOS DE INVESTIMENTO
por volta de R$ 21.000,00; renda líquida: aproximada- Custos 1° ano: R$ 130 mil.
mente R$ 6.300,00 (30% da renda bruta) que resulta
numa renda líquida média mensal de R$ 525,00. MONITORAMENTO
Parceiros: SEMATUR: execução; SANEPAR: repasse Realizado pela Secretaria de Meio Ambiente e Turismo
de arrecadação; Fundação Grupo Boticário de Prote- de Apucarana e pela Fundação Grupo Boticário.
ção à Natureza: apoio técnico. É feita uma vistoria anual da propriedade rural e o va-
Forma de relacionamento: Contratos entre os produto- lor pago ao proprietário pode varias, dependendo de
res rurais e a Prefeitura de Apucarana. suas ações para melhorar a qualidade ambiental de sua
ABRANGÊNCIA
propriedade. Por exemplo, se o proprietário implanta
um projeto de recuperação ambiental da RL ele passa
Bacias dos rios Tibagi e Pirapó, Apucarana, PR. a receber mais do que antes, mas se, por outro lado, ele
Beneficiários: Apucarana 121.290 habitantes; Londri- desmata uma área, ele passa a receber menos, podendo
na com 510.707 e Maringá com 335.511, totalizando até ser excluído do projeto.
967.508 habitantes.
Duração: 4 anos, prorrogáveis por mais 4 anos. BASE LEGAL
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
Lei Federal 4.771/65; Lei Municipal 58/09; Lei Muni-
cipal 241/09; Decreto Municipal 107/09; e Instrução
Cada propriedade recebe, entre R$ 93 e 563/ ano, ajus- Técnica 01/09.
tados anualmente de acordo com a Unidade Fiscal do
Município. Esta valia em março de 2010 R$ 36,00. MAIORES INFORMAÇÕES
A valoração é definida pelo custo de oportunidade da Fundação Grupo Boticário
terra e pela qualidade ambiental das propriedades. A http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/pt-br/
avaliação da qualidade ambiental se dá por meio de paginas/o-que-fazemos/areas-protegidas/reserva/de-
pontuação, observando-se características como: exis- fault.aspx?idAreaProtegida=4&titulo=Projeto_Oásis
tência de RL e APP e seu estado de conservação; nível
de conectividade da RL com as RLs e APPs dos vizi-
nhos; existência de áreas de floresta nativa que exce-
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 155
8
Programa de Gestão Ambiental da Região dos Mananciais – SOS Nascentes
Município de Joinville, Santa Catarina
Categoria: Execução
9
Produtor de Água do Rio Camboriú / SC
Municípios de Balneário Camboriú e Camboriú, Santa Catarina
Categoria: Desenvolvimento
10
Pipiripau / DF, GO
Município de Planaltina de Goiás e Planaltina, DF
Categoria: Desenvolvimento
A bacia tem uma extensão de 23.527 ha. Foram ma- Não há legislação específica.
peadas 431 propriedades de diferentes tamanhos, tota-
MAIORES INFORMAÇÕES
lizando 5.949 ha, sendo 1.633 ha a serem restaurados e
4.316 ha de remanescentes a serem conservados. TNC: http://www.nature.org/ourinitiatives/regions/
Beneficiários: Bacia Hidrográfica do Ribeirão Pipi- southamerica/brasil/destaques/produtores-de-agua.
ripau (nascente em Goiás) - cabeceiras do São Barto- xml
lomeu - Bacia do Paraná (~3,2 milhões de habitantes).
Duração: Nov. 2008 – 2018.
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
11
Município de São Paulo / SP
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
Em dicussão.
12
Corredores do Vale do Guaratinguetá – BHPS / SP
Município de Guaratinguetá, São Paulo
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
ção do abatimento da erosão e custos
de oportunidade da terra (baseado em
O projeto se insere no âmbito das po- valores de arrendamento). Em um pri-
líticas municipais de incentivos para a meiro momento, os pagamentos são
conservação dos recursos hídricos. não monetários (insumos); em um se-
TIPO DE INTERVENÇÃO
gundo momento, são monetários (cus-
to de oportunidade).
Conservação dos recursos hídricos Índice de Eficiência de Abatimento de
através da redução da erosão dos solos Erosão (P.A.E.):
e de projetos de conservação e restaura- P.A.E. (%) = 100 (1– F1 / F0)
ção florestal. Onde, F0 é o fator de proteção contra
ARRANJO INSTITUCIONAL
erosão proporcionado pelo uso e ma-
nejo atual, e F1 é o fator de proteção do
Participantes: ainda não definidos. uso e manejo proposto, estes últimos
Proponentes/Parceiros: SAEG - re- tabelados.
cursos financeiros dos PSAs; CATI: supervisão e apoio Valores: entre R$ 40 e 320/ha/ano; máximo de 5 a 10
técnico; elaboração dos projetos individuais de pro- ha por propriedade, referentes à recuperação de áreas
priedades e práticas de conservação de solo; Prefeitura erodidas.
Municipal de Guaratinguetá/Secretaria de Agricultura
e Meio Ambiente - suporte institucional; Fíbria -plane- FONTES DE RECURSOS
jamento e promoção do programa Poupança Florestal; SAEG – Companhia de Serviço de Água, Esgoto e Resí-
TNC - apoio técnico e suporte financeiro parcial para duos de Guaratinguetá – em discussão.
recuperação e manutenção de áreas florestadas; BASF -
construção de fossas sépticas. CUSTOS DE INVESTIMENTO
Forma de relacionamento: contrato. Cerca de R$ 784.500 para o projeto (instalação e pri-
ABRANGÊNCIA
meiro ano). Custos projetados:
- restauração florestal: R$ 594.000.
Sub-bacias do Paraíba do Sul - Bacia do Rio Paraíba - conservação de solo: R$ 24.000.
do Sul. Pequenos produtores rurais, propriedades em - fossas biodigestoras: R$ 60.000.
média de 50ha, com uma renda líquida mensal estima- - PSA: R$ 106.500/ano.
da em R$ 1.000. Meta de 50 ha.
Beneficiários: População de Guaratinguetá com MONITORAMENTO
113.357 habitantes. Em definição.
Duração: 2010 – 2020.
BASE LEGAL
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
PL Municipal e Estadual em andamento.
Modelo Produtor de Água da ANA: custos de redu-
MAIORES INFORMAÇÕES
TNC:http://www.nature.org/ourinitiatives/regions/
southamerica/brasil/destaques/produtores-de-gua.
xml
160 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
13
Campo Grande / MS
Município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
conforme o nível de intervenção; por-
centagem de área a ser conservada; e
O projeto se insere no âmbito das po- declividade.
líticas municipais de incentivos para a Valores: entre R$ 25 e 125/ha/ano.
conservação dos recursos hídricos.
FONTES DE RECURSOS
TIPO DE INTERVENÇÃO
Empresa Águas do Guariroba –em dis-
Conservação dos recursos hídricos cussão.
através de ações de conservação de solo
e restauração florestal, assim como de CUSTOS DE INVESTIMENTO
servidão florestal para RL. Repasse realizado pela ANA, em
ARRANJO INSTITUCIONAL
dezembro de 2009, no valor de R$
800.000;
Participantes: ainda não definidos. Repasse realizado pela Prefeitura
Proponentes/Parceiros: Promoto- Municipal de Campo Grande, no valor
ria Pública; DAEX e Prefeitura Municipal de Campo de R$ 80.000;
Grande - apoio institucional; Grupo técnico presidido Em fase de elaboração: alteração contratual no con-
pelo conselho gestor da APA do Guariroba -apoio ins- trato de concessão de serviço público de fornecimento
titucional e elaboração do plano de manejo; Sindicato de água potável vigente entre a Prefeitura Municipal
Rural de Campo Grande - apoio institucional; SEMA- de Campo Grande e a empresa concessionária Águas
DUR; IMASUL - vistoria técnica e apoio institucional; Guariroba S.A, permitindo reajuste financeiro destina-
Empresa Águas do Guariroba e TGB (Empresa do Ga- do a auxiliar a implementação do programa produtor
soduto) - recursos financeiros; Associação de Recupe- de água.
ração da Bacia do Guariroba - mecanismo de repasse.
Forma de relacionamento: cadastro e contrato. MONITORAMENTO
ABRANGÊNCIA
Acompanhamento técnico e fiscalização do cumpri-
mento das medidas conservacionistas.
Bacia do Guariroba (20% da APA Guariroba). Pro-
jeto Piloto Executivo, estudo específico em fase de im- BASE LEGAL
plementação, 14 propriedades, que integram uma das Lei 2406/2002 – Política Estadual de Recursos Hídri-
cinco microbacias que compõem a APA do Guariroba. cos;
Cerca de 7.600 ha de APPs degradadas de um total de Projeto de Lei Municipal em fase de elaboração, imple-
35.976 ha da Bacia. mentando o Programa Produtor de Água;
Beneficiários: população de Campo Grande abasteci- Decreto de aprovação do plano de manejo da APA Gua-
da pela bacia: 385.100 habitantes. riroba.
Duração: não estabelecido.
MAIORES INFORMAÇÕES
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado
Modelo Produtor de Água, da ANA, segundo o tipo do MS.
de atividade – restauração e conservação de ecossiste-
mas nativos (cerrado); conservação dos solos, variáveis
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 161
14
Produtor de Água São Francisco Xavier / SP
Município de São José dos Campos, São Paulo
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
Custo de oportunidade da terra calcu-
lado pela renda bruta da atividade lei-
O projeto, localizado na Bacia Hidro- teira, estimada em R$ 1.424,96/ha/ano.
gráfica do Paraíba do Sul/SP, se insere Valores: máximo: R$ 1.424,26/ha/ano.
no âmbito das políticas municipais de
incentivos para a conservação dos re- FONTES DE RECURSOS
cursos hídricos. Em definição – potencialmente a SA-
TIPO DE INTERVENÇÃO
BESP e recursos dos parceiros.
ABRANGÊNCIA
Em discussão.
15
Entorno RPPN Feliciano Abdala/Corredor Muriqui /MG
Municípios de Caratinga, Ipanema, Simonésia, Minas Gerais
Categoria: Desenvolvimento
www.conservation.org.br/onde/mata_atlantica/index.
php?id=65
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 163
16
Nascentes do Rio Doce – Brás Pires / MG
10 Municípios em Minas Gerais
Categoria: Desenvolvimento
17
Ribeirão do Boi Sustentável / MG
Municípios de Caratinga, Entre Folhas e Vargem Alegre
Categoria: Desenvolvimento
www.bioatlantica.org.br/bacias.asp
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 165
18
Desenvolvimento Rural Sustentável na Bacia do Rio Santo Antônio / MG
Categoria: Desenvolvimento
CONTEXTO
fine o valor máximo para pagamento
pela prestação de serviços ambientais
O projeto está localizado na Bacia Hi- em 510 VRTEs/ - por ha/ano, relativos
drográfica do Rio Santo Antônio (sub- aos serviços prestados pela cobertura
bacia do rio Doce), nos municípios florestal. A inclusão no programa se-
de Conceição do Mato Dentro, Serro, gue uma série de critérios de pontua-
Alvorada de Minas, Dom Joaquim e ção, que leva, em conta a área protegi-
Congonhas do Norte (MG). O projeto da/conservada em relação ao exigido
se insere no âmbito das políticas esta- pelo Código Florestal e outros critérios
duais de incentivos para a conservação socioambientais.
dos recursos hídricos (Bolsa Verde). Valores: máximo 510 VRTEs / ha/ano.
TIPO DE INTERVENÇÃO FONTES DE RECURSOS
Restauração florestal para formação de Anglo American – em definição.
corredores de biodiversidade para res- Potencialmente, o Programa Bolsa Ver-
tauração dos serviços ambientais de carbono e água. de.
Desenvolvimento e implantação de APL.
CUSTOS DE INVESTIMENTO
ARRANJO INSTITUCIONAL
Estimativa de R$ 90 milhões por 10 anos.
Participantes: ainda não definidos.
Proponentes/Parceiros: IBIO - gestão do projeto; An- MONITORAMENTO
glo American - suporte financeiro; Instituto Espinhaço Em discussão.
- mobilização comunitária e contrapartida técnica.
Forma de relacionamento: Em definição. BASE LEGAL
ABRANGÊNCIA
Lei Federal 9.433/97 (cobrança pelo uso da á-gua);
Lei Estadual 17.727/08 e Decreto 45.113/09 (Pro-grama
Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio (sub-bacia Bolsa Verde).
do rio Doce). Total de 7.200 ha, sendo 70% de restaura-
ção intensiva; 20% enriquecimento e 10% condução de MAIORES INFORMAÇÕES
regeneração natural. www.bioatlantica.org.br/bacias.asp
Beneficiários: município chave - Mato Dentro, com
18.534 habitantes.
Duração: 2010 a 2020.
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
19
Florestas para a Vida / ES
Categoria: Desenvolvimento
20
Produtores de Água – Bacia do Rio São José / RJ
Municípios de Mantenópolis e Alto Rio Novo
Categoria: Desenvolvimento
21
Consórcio Intermunicipal Lagos São João / RJ
Municípios de Mantenópolis e Alto Rio Novo
Categoria: Desenvolvimento
O FUNBOAS pretende atender cerca de 100 pequenas Resolução 13/07 e Resolução 23/09. O Consórcio é
(até 20 ha) e médias (20 a 50 ha) propriedades nos pró- regido pelas normas do Código Civil Brasileiro (Lei
ximos cinco anos. 10.406/02) e pelo seu Estatuto e Regimento Interno.
Beneficiários: a bacia do rio São João é responsável Segue ainda as diretrizes preconizadas na Lei Federal
pelo abastecimento de água de 75% da população re- 9.433/97 e na Lei Estadual 3.239/99 que instituíram as
sidente na região, em especial dos municípios da zona políticas nacional e estadual de recursos hídricos, res-
costeira, o que equivale a cerca de 600 mil pessoas. pectivamente.
Duração: Indeterminada.
MAIORES INFORMAÇÕES
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
www.lagossaojoao.org.br/index-comite.html
Em processo de definição.
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 169
22
CBH Sorocaba e Médio-Teitê / SP
Município de Ibiúna
Categoria: Desenvolvimento
23
Promata Itabira / MG
Município de Itabira
Categoria: Desenvolvimento
O projeto está localizado nas bacias dos Pagamentos são destinados para áreas a
rios Tanque e Piracicaba. O projeto se serem restauradas; valores de R$ 140 a
insere no âmbito das políticas estadu- R$ 300/ha/ano:
ais de incentivos para a conservação Proteção de capoeira: R$ 140/ha/ano;
dos recursos hídricos. Capoeira com enriquecimento e cerca-
mento: R$ 200/ha/ano;
TIPO DE INTERVENÇÃO
Recuperação de áreas degradadas: R$
Conservação e restauração florestal. 300/ha/ano;
Futuramente deverá seguir os moldes
ARRANJO INSTITUCIONAL
do programa Bolsa Verde.
Participantes: ainda não definidos.
FONTES DE RECURSOS
Proponentes/Parceiros: IEF - insu-
mos e recursos para restauração e PSA; Programa PROMATA – IEF. Potencial-
Prefeitura de Itabira - articulação e implementação; mente, o Programa Bolsa Verde.
Produtores rurais - mão de obra para implan-tação da
CUSTOS DE INVESTIMENTO
restauração.
Forma de relacionamento: Termo de cooperação en- O valor total de R$ 601.190/ano; sendo R$ 60.200 da
tre o produtor rural e a Prefeitura Municipal de Itabira; Prefeitura de Itabira e R$ 540.990 do IEF.
recibo de confirmação do recebimento do material.
MONITORAMENTO
ABRANGÊNCIA
A definir.
Proteção das áreas do entorno e formação do Corre-
BASE LEGAL
dor das UCs de proteção integral - Reserva Biológica
Mata do Bispo (municipal); Parque Municipal do Ri- Lei Estadual 17.727/08 e Decreto 45.113/09 (Programa
beirão São José; Parque Natural Municipal do Alto do Bolsa Verde).
Rio do Tanque; Parque do Morro do Chapéu e Parque
MAIORES INFORMAÇÕES
do Tropeiro; Parque Estadual da Serra do Cipó.
Beneficiários - bacias dos rios Tanque e Piracicaba www.itabira.mg.gov.br
(Itabira 110.419 habitantes).
Duração: 2010 – término indeterminado.
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 171
24
Promata Itamonte – Atitude Verde / MG
Município de Itamonte
Categoria: Desenvolvimento
O projeto está localizado nas bacias dos Pagamentos são destinados para áreas a
rios Verde e Grande. O projeto se insere serem restauradas; valores de R$ 140 a
no âmbito das políticas estaduais de in- R$ 300/ha/ano:
centivos para a conservação dos recur- Proteção de capoeira: R$ 140/ha/ano;
sos hídricos. Capoeira com enriquecimento e cerca-
mento: R$ 200/ha/ano;
TIPO DE INTERVENÇÃO
Recuperação de áreas degradadas: R$
Restauração florestal (regeneração na- 300/ha/ano;
tural) e plantio de candeia. Futuramente deverá seguir os moldes
do programa Bolsa Verde.
ARRANJO INSTITUCIONAL
FONTES DE RECURSOS
Participantes: ainda não definidos.
Proponentes/Parceiros: Prefeitura de Programa Promata – IEF. Potencial-
Itamonte - gestão do projeto; IEF insumos e recursos mente, o Programa Bolsa Verde.
para restauração e PSA; Valor Natural - mapeamento
CUSTOS DE INVESTIMENTO
do uso do solo; definição de áreas prioritárias; Produ-
tores rurais - mão de obra para implantação da restau- O valor total é de R$ 371.148 por 1 ano; sendo R$ 30
ração. mil da Prefeitura Municipal de Itamonte e R$ 341.148
Forma de relacionamento: termo de cooperação entre do IEF.
o produtor rural e a Prefeitura Municipal de Itamonte.
MONITORAMENTO
ABRANGÊNCIA
A definir.
Restauração florestal nas áreas prioritárias do muni-
BASE LEGAL
cípio (516 ha), mas segue a demanda dos proprietários.
Beneficiários: Bacias Hidrográficas do rio Verde e rio Lei Estadual 17.727/08 e Decreto 45.113/09 (Programa
Grande no município de Itamonte. Diretos: 923.449 Bolsa Verde).
habitantes; e indiretos (bacia do médio e baixo rio
MAIORES INFORMAÇÕES
Grande e reservatório de Furnas): 1,8 milhões de ha-
bitantes. http://agricultura.itamonte.mg.gov.br
Duração: 2009 – término indeterminado.
172 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
25
Promata Carlos Chagas / MG
Município de Carlos Chagas
Categoria: Desenvolvimento
www.carloschagas.mg.gov.br
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 173
26
Promata Amanhágua / MG
Município de Itamonte
Categoria: Desenvolvimento
O projeto está localizado nas Bacias Pagamentos são destinados para áreas a
Hidrográficas dos rios Verde e alto rio serem restauradas; valores de R$ 140 a
Grande. O projeto se insere no âmbi- R$ 300/ha/ano;
to das políticas estaduais de incentivos Proteção de capoeira: R$ 140/ha/ano;
para a conservação dos recursos hídri- Capoeira com enriquecimento e cerca-
cos. mento: R$ 200/ha/ano;
Recuperação de áreas degradadas: R$
TIPO DE INTERVENÇÃO
300/ha/ano.
Restauração florestal (regeneração na- Futuramente deverá seguir os moldes
tural, regeneração natural com enri- do programa Bolsa Verde.
quecimento e plantio).
FONTES DE RECURSOS
ARRANJO INSTITUCIONAL
Programa PROMATA – IEF. Potencial-
Participantes: 330 pequenos produtores. mente, o Programa Bolsa Verde.
Proponentes/Parceiros: Amanhágua - articulação e
CUSTOS DE INVESTIMENTO
implementação; TNC - capacitação, monitoramento
e recursos para a restauração florestal; IEF - insumos R$ 1,2 milhões IEF e TNC.
e recursos para PSA; Produtores rurais - mão de obra
MONITORAMENTO
para implantação da restauração.
Forma de relacionamento: termo de cooperação en- Protocolo de monitoramento da restauração florestal
tre o produtor rural e a Prefeitura Municipal. desenvolvido e em aplicação.
ABRANGÊNCIA BASE LEGAL
Entorno de áreas de UCs - as áreas prioritárias são es- Lei Estadual 17.727/08 e Decreto 45.113/09 (Programa
colhidas em função da conectividade de remanescentes Bolsa Verde).
florestais, no entorno do Parque da Serra do Papagaio.
MAIORES INFORMAÇÕES
Meta: Fomentar a recomposição/regeneração/plan-
tio de áreas em 1.470 ha, sendo: 900 ha de regeneração http://amanhagua.org/index.html
natural; 100 ha de regeneração natural com enriqueci-
mento; 420 ha de plantios de candeia; 25 ha de plantio
de guatambu e 25 ha de plantio de eucalipto, em peque-
nas e médias propriedades rurais, na área de abrangên-
cia acima mencionada.
Beneficiários - bacias hidrográficas dos rios Verde e
alto rio Grande. Cerca de 500 mil habitantes (bacia do
rio Verde).
Duração: 2007 – término indeterminado.
174 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
27
Promata AMAJF / MG
Municípios de Matias Barbosa, Santos Dumont e Juiz de Fora
Categoria: Desenvolvimento
O projeto está localizado na Bacia Hi- Pagamentos são destinados para áreas a
drográfica dos Afluentes Mineiros dos serem restauradas; valores de R$ 140 a
Rios Preto e Paraibuna. O projeto se in- R$ 300/ha/ano:
sere no âmbito das políticas estaduais Proteção de capoeira: R$ 140/ha/ano;
de incentivos para a conservação dos Capoeira com enriquecimento e cerca-
recursos hídricos. mento: R$ 200/ha/ano;
Recuperação de áreas degradadas: R$
TIPO DE INTERVENÇÃO
300/ha/ano;
Restauração florestal. Futuramente deverá seguir os moldes
do programa Bolsa Verde.
ARRANJO INSTITUCIONAL
FONTES DE RECURSOS
Participantes: 67 pequenos produto-
res. Programa PROMATA – IEF. Potencial-
Proponentes/Parceiros: IEF - insumos e recursos mente, o Programa Bolsa Verde .
para PSA; TNC - capacitação, monitoramento e recur-
CUSTOS DE INVESTIMENTO
sos para a restauração florestal; AMAJF - articulação e
implementação; Produtores rurais: mão de obra para R$ 761 mil no ano; R$ 666 mil IEF e TNC; R$ 95 mil
implantação da restauração. ONG AMAJF.
Forma de relacionamento: termo de cooperação en-
MONITORAMENTO
tre os produtores rurais e a AMAJF.
Protocolo de monitoramento da restauração florestal
ABRANGÊNCIA
desenvolvido e em aplicação.
Meta de recomposição de 1.200 ha de Mata Atlântica
BASE LEGAL
no ano agrícola 2009/2010, sendo 1.000 ha na moda-
lidade de regeneração natural, 170 ha de regeneração Lei Estadual 17.727/08 e Decreto 45.113/09 (Programa
natural com enriquecimento e 30 ha de plantio total Bolsa Verde).
de áreas.
MAIORES INFORMAÇÕES
Beneficiários - Bacia Hidrográfica dos Afluentes Mi-
neiros dos Rios Preto e Paraibuna. Cerca de 700 mil www.amajf.org.br
habitantes (bacia do Paraibuna)
Duração: 2008 – término indeterminado.
Iniciativas de PSA de Conservação dos Recursos Hídricos na Mata Atlântica 175
28
Promata 4 Cantos - AMA Lapinha / MG
5 Municípios
Categoria: Desenvolvimento
O projeto está localizado nos muni- Pagamentos são destinados para áreas
cípios de Morro do Pilar, Conceição a serem restauradas; valores de R$ 140
do Mato Dentro, Santo Antonio do a R$ 300/ha/ano;proteção de capoeira:
Rio Abaixo, Itambé do Mato Dentro e R$ 140/ha/ano; capoeira com enri-
Santana do Riacho, nas bacias dos rios quecimento e cercamento: R$ 200/ha/
Santo Antônio e Cipó. O projeto se in- ano; recuperação de áreas degradadas:
sere no âmbito das políticas estaduais R$ 300/ha/ano. Futuramente deverá
de incentivos para a conservação dos seguir os moldes do Programa Bolsa
recursos hídricos. Verde.
TIPO DE INTERVENÇÃO FONTES DE RECURSOS
29
Parque Estadual Três Picos / RJ
Município de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro
Categoria: Desenvolvimento
As instituições envolvidas são: Conservação Estratégi- Será criado um comitê gestor do sistema de pagamento.
ca. INEA (gestor do parque); Conservação Internacio-
BASE LEGAL
nal e SOS Mata Atlântica.
Os papéis de cada uma serão ainda definidos. Falta de legislação específica. A Lei Estadual de PSA
está em processo de desenvolvimento.
ABRANGÊNCIA
MAIORES INFORMAÇÕES
Parque Estadual dos Três Picos; Bacia Hidrográfica dos
Rios Guapiaçu e Macacu. http://conservation-strategy.org/pt
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
36. São José do Rio Preto (SP) Rio Preto: cidade com aproximadamente 420.000 habitantes.
DAEPA (Empresa de saneamento); TNC; IEF-MG; Em processo de Lei Estadual 17.727/08 e Decreto
definição de papéis. 45.113/09 (Programa Bolsa Verde).
Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto, SP. Lei Federal 9.433/97;
Projeto de Lei Estadual em discus-
são.
ONG MAE de Londrina; Ministério Público; IAP; Empresas locais. Lei Estadual 16.436/10; Lei Munici-
pal 9.760/05 (Fundo Municipal do
Meio Ambiente).
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Janeiro, 2008.
GAVALDÃO M. Avaliação da percepção ambi-
ental e dos impactos socioeconômicos do pro-
jeto Conservador das Águas – Extrema, Minas
Iniciativas de
PSA para a
Proteção da
Biodiversidade
na Mata
Atlântica
Susan Edda Seehusen, André A. Cunha e
Arnaldo Freitas de Oliveira Júnior
184 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Introdução
A biodiversidade é definida no Art. 2 da Con- 20.000 espécies de plantas, 934 espécies de aves, 456
venção das Nações Unidas sobre Diversidade Bio- espécies de anfíbios, 311 espécies de répteis, 264 de
lógica (CBD) como “a variabilidade entre os orga- mamíferos e 350 de peixes de água doce, sendo que
nismos vivos de todas as origens, incluindo, inter parte considerável destas espécies é endêmica e/ou
alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros está ameaçada de extinção1. Mas afinal, por que é
ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos necessário proteger toda esta biodiversidade?
dos quais fazem parte”, que incluem a diversida- A biodiversidade é essencial para a manuten-
de nas populações das espécies, o número de es- ção da integridade e da dinâmica intrínseca dos
pécies e a diversidade dos ecossistemas. Em outras ecossistemas naturais, em especial para a sua re-
palavras, a biodiversidade é o termo para definir a siliência, ou seja, a capacidade de retornarem às
diversidade biológica em seus vários níveis. Consi- suas condições iniciais de “equilíbrio”, em relação à
derando as abordagens dos estudos sobre a biodi- composição de espécies, ciclagem e provimento de
versidade e suas diferentes propriedades, podemos nutrientes e recursos, após sofrerem distúrbios. A
identificar os níveis dos genes, indivíduos, popu- biodiversidade é fundamental para a regulação do
lações, espécies, comunidades, ecossistemas, paisa- clima, para o provimento e regulação da qualidade
gens e também a dimensão humana (Soulé, 1991). e quantidade da água, para a produção de alimen-
E, nestes diferentes níveis, a biodiversidade fornece tos, cosméticos e medicamentos. Adicionalmente,
inúmeros bens e serviços essenciais para a socieda- a biodiversidade tem elementos que trazem consi-
de humana. go valores estéticos, espirituais e morais. Todos es-
O Brasil é um dos 17 países megadiversos no ses benefícios da biodiversidade são muito valiosos
mundo e muito provavelmente aquele que con- para a sociedade como um todo e são conhecidos
centra maior biodiversidade do planeta, ao longo como serviços ambientais.
de sete biomas altamente heterogêneos e ricos em A perda de biodiversidade afeta negativamente,
termos de diversidade biológica, geomorfológica, e de forma imediata, o provimento destes serviços.
social e cultural. A Mata Atlântica é uma área críti- Como exemplos clássicos podemos citar o impacto
ca para a conservação da biodiversidade mundial e econômico da queda na produtividade de setores
foi identicada como hotspot de biodiversidade: área agrícolas devido à diminuição ou extinção de po-
que reúne elevada riqueza de espécies e espécies linizadores (Gallai et al., 2009) ou de predadores
endêmicas, mas que enfrentam intensa destruição naturais que controlam as pragas. Além disso, a
de seus habitats nativos (Mittermeier et al., 2004). manutenção da variabilidade genética, através da
Na Mata Atlântica, estima-se que existam mais de conservação e manejo de variedades selvagens,
pode proporcionar a resistência de culturas agrí- mudanças climáticas vêm se tornando um forte
colas a pragas ou a novas condições ambientais. A risco à manutenção da biodiversidade, o que pode
conservação dos habitats naturais e da diversida- acentuar as extinções em massa e provocar deslo-
de de espécies que os compõem também preserva camentos geográficos de espécies e ecossistemas
um acervo bioquímico e genético com potencial de inteiros, podendo levar a um colapso ecológico. A
uso e de descobertas para cura de diversas doenças, contínua degradação e fragmentação têm colocado
bem como de inspiração para inovações tecnoló- a biodiversidade da Mata Atlântica em um nível de
gicas. risco extremamente crítico: a grande maioria das
Estima-se que 120 milhões de pessoas vivam em espécies ameaçadas de extinção no Brasil encon-
áreas de abrangência da Mata Atlântica. Não só os tra-se na Mata Atlântica (MMA, 2003). Neste ce-
povos rurais e populações tradicionais (como indí- nário, também estão em grave risco a manutenção
genas, quilombolas e caiçaras), mas também a po- da sustentabilidade ecológica e do provimento dos
pulação urbana dependem fortemente dos serviços serviços ambientais, em médio e longo prazos.
ambientais que a Mata Atlântica lhes proporciona. A proteção e o manejo adequados da biodiver-
Entretanto, há cinco séculos a Mata Atlântica vem sidade requerem o uso de instrumentos de política
sendo o berço dos principais ciclos econômicos do pública, seja na forma de unidades de conservação
Brasil, levando à destruição de grande parte de sua ou de apoio às atividades econômicas sustentáveis.
cobertura original e severos impactos ambientais e Neste contexto, o mecanismo de pagamento por
sociais, trazendo graves consequências para a ma- serviços ambientais surge como uma ferramenta
nutenção da biodiversidade e para o provimento de complementar para promover atividades de con-
seus serviços ambientais (Dean, 1996). servação, manejo e uso sustentável dos recursos
Em sua extensão original, a Mata Atlântica naturais.
cobria cerca de 1.300.000 km2 do território brasi- Este capítulo destaca os principais serviços am-
leiro (IBGE, 2008). Atualmente, restam somente bientais prestados pela biodiversidade, discorre so-
entre 22% desta cobertura histórica: grande parte bre os indutores dos sistemas de pagamentos por
dispersa em pequenos fragmentos, em geral, isola- serviços ambientais de proteção da biodiversidade
dos e em diferentes níveis de degradação (IBAMA, e, por fim, apresenta os resultados do trabalho do
2010). Considerando apenas fragmentos maiores levantamento das iniciativas promissoras de PSA
que 100 hectares, o percentual coberto por rema- prestados pela biodiversidade na Mata Atlântica,
nescentes da vegetação é drasticamente menor, incluindo a sistematização dos exemplos de proje-
correspondendo a 7,3% (SOS Mata Atlântica & tos, ao final do capítulo.
INPE, 2009).
Os remanescentes da Mata Atlântica estão sob
forte pressão antrópica como resultado da sobre-
exploração dos recursos da biodiversidade, através
da retirada de madeira, palmito e caça. Eles tam-
bém estão sujeitos a graves ameaças devido às es-
pécies invasoras, particularmente às exóticas, ao
contínuo processo de fragmentação e degradação,
à defaunação e ao efeito de borda. Além disso, as
186 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Marco conceitual
Os serviços ambientais polinizadores necessitam de áreas de vegetação nati-
prestados pela biodiversidade va conservada para a sua reprodução. A destruição e
degradação acelerada de ambientes naturais e o uso
A proteção da biodiversidade é essencial para indiscriminado de pesticidas está levando a um dé-
garantir o provimento de serviços ambientais, entre ficit de polinização (Kluser & Peduzzi, 2007). Logo,
os quais a manutenção dos ciclos hídricos; a cicla- a manutenção dos serviços da polinização está dire-
gem de nutrientes; a regulação climática local, regio- tamente relacionada a uma paisagem agrícola com
nal e global, a prevenção de desastres ambientais e áreas de vegetação nativa conservadas, intercalada
o armazenamento de carbono na vegetação nativa. com áreas de cultivo.
Já há algumas iniciativas de pagamentos por Áreas com cobertura relativamente conservada
serviços ambientais para a proteção da biodiver- de remanescentes da Mata Atlântica, ainda conse-
sidade. Elas estão principalmente relacionadas aos guem prover o serviço da polinização. Isto se re-
serviços de polinização, dispersão, controle de pra- flete diretamente na maior produtividade agrícola
gas, manutenção da variabilidade genética, cultura das áreas adjacentes a remanescentes de vegetação
e beleza cênica, descritos à seguir. nativa e unidades de conservação. De Marco e Co-
elho (2008) quantificaram um aumento de 14,6%
Polinização e dispersão na produtividade em plantações de café adjacentes
a fragmentos de Mata Atlântica em Minas Gerais.
Os processos de polinização e dispersão são Resultado semelhante foi encontrado na Costa
fundamentais para a reprodução das plantas, sejam Rica, onde estudos estimaram que a proximidade
espécies de flora nativa ou comerciais. Tanto em de florestas às plantações de café aumenta em 7%
ambientes nativos, quanto em cultivos agrícolas, os as receitas de produção, o que equivale a cerca de
animais são peças chave para a polinização; desta- US$ 395 (R$ 6912) por hectare por ano (Ricketts et
cadamente os insetos, como as abelhas, borboletas al., 2004). Na Indonésia, os benefícios da manuten-
e besouros, além das aves e mamíferos, principal- ção dos serviços de polinização de florestas foram
mente morcegos. valorados em EUR 46 (R$ 1053) por hectare por
Das 115 principais culturas agrícolas mundiais, ano. Nesta região, a conversão das florestas para
87 dependem de polinizadores animais, incluindo áreas agrícolas pode reduzir os serviços de poli-
importantes culturas como café e cacau (Klein et al., nização em plantios de café em 18% e as receitas
2007). Sem os agentes polinizadores, diversas cultu- por hectare em até 14% nas próximas duas décadas
ras agrícolas têm sua produtividade reduzida, reper- (Pries et al., 2007).
cutindo negativamente na economia e comprome- A dispersão é responsável por manter o fluxo
tendo a segurança da população mundial. Agentes gênico entre as populações, sendo um processo
fundamental para o estabelecimento e crescimento parasita contribui para o controle de uma ou mais
de novas plantas em ambientes naturais, dada a ele- pestes; redundância, quando mais espécies de gru-
vada probabilidade de morte dos frutos e sementes pos funcionais similares ou iguais irão agir como
abaixo da planta-mãe (Janzen, 1970). A reprodu- coadjunvantes no controle de populações de presas
ção de grandes árvores, típicas de florestas bem e doenças; e reserva, em caso de distúrbio ou mu-
conservadas e de alto valor comercial madeireiro danças no ecossistema (TEEB, 2010a).
e não madeireiro, depende principalmente da dis- Em ambientes naturais relativamente conser-
persão provida por grandes animais como antas, vados, a predação é dependente da densidade po-
porcos-do-mato, grandes macacos e grandes aves: pulacional, ou seja, o aumento do tamanho de uma
alvos preferenciais para a caça em florestas tropi- população de presas leva ao aumento da taxa de
cais, como as da Mata Atlântica e da Amazônia. mortalidade por predação e parasitismo, resultan-
Apesar de não ser tão relevante para os cultivos do na regulação destas populações. Este controle
agrícolas convencionais, nos quais a semeadura é natural contra pragas e invasões ocorre em todos
parte integral do processo produtivo, a dispersão é os ecossistemas, entretanto, naqueles intensamente
um serviço fundamental para!manutenção de po- degradados pela atividade humana em que a popu-
pulações naturais de espécies de árvores que pro- lação de predadores é mínima ou ausente, o risco
duzem produtos florestais não madeireiros, como de ocorrência de pragas e invasões é muito maior.
a castanha, o palmito, a andiroba, o pinhão, entre Predadores e parasitas como aves, morcegos,
vários outros. Sendo assim, dela dependem o tra- mosquitos, vespas, sapos, fungos, besouros, agem
balho e a renda de diversas famílias de populações no controle natural de pragas e invasores (TEEB,
tradicionais, destacadamente na Amazônia, mas 2010a). Em curto prazo, o controle biológico evi-
também na Mata Atlântica. ta que uma peste se alastre, assim como contribui
para aumentar safras, e em longo prazo, mantém
Controle biológico o equilíbrio ecológico que previne a ocorrência de
novas pestes.
A dinâmica populacional predador-presa é um As pestes agrícolas são responsáveis por per-
dos exemplos clássicos de interação ecológica e é das econômicas significativas. Mundialmente, a
uma relação essencial para manutenção da biodi- despeito do uso anual de mais de três milhões de
versidade. Ela é particularmente importante no toneladas de pesticidas em cultivos, um volume ex-
controle de pestes e doenças em sistemas agrícolas pressivo da produção de alimentos é perdido devi-
e em outros tipos de cultivos. De forma similar, a do a pestes de insetos, germes patogênicos e ervas
interação parasita-hospedeiro é chave na evolução daninhas (TEEB, 2010a). Medidas de controle bio-
de mecanismos de defesas. Em geral, as interações lógico natural devem ser ainda mais demandadas,
ecológicas são fonte de inspiração para diversas pois as evidências indicam que as mudanças climá-
aplicações, desde bélicas às medicamentosas (Be- ticas irão acarretar o surgimento de novas e inten-
gin et al., 2006). A manutenção da diversidade sas pestes e aumentar a suscetibilidade das espécies
de competidores e predadores naturais aumenta a parasitas, doenças e predadores.
a eficácia do controle biológico por meio de me-
canismos como: complementaridade de espécies,
ou seja, quando mais de um tipo de predador ou
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 189
práticas de sistemas tradicionais de cura à base de universos de conhecimento. Nesse sentido, o Esta-
plantas, e que cerca de 25% dos medicamentos do brasileiro pode e deve continuar a desenvolver as
produzidos são derivados de vegetais (Oliveira et ações voltadas à promoção da conservação, do ma-
al., 2005). O mercado mundial de fitoterápicos atu- nejo e do uso sustentável dos recursos genéticos de
almente atinge valores de até US$ 20 bilhões anu- utilização terapêutica, fortalecendo diversas iniciati-
ais, e no Brasil, ele varia entre US$ 160 milhões e vas institucionais, tais como os Centros Irradiadores
US$ 500 milhões, com crescimento anual de 15% de Manejo da Agrobiodiversidade – CIMAs e a pro-
(Carvalho et al., 2008; Lameira & Pinto, 2008). Esses posta de autoregulação das farmácias comunitárias
valores indicam o potencial da utilização dos recur- (Brasil, 2006b; Dias e Laureano, 2009).
sos genéticos, principalmente vegetais, na promo- Com a publicação da Política Nacional de Plan-
ção da qualidade de vida e bem-estar, por meio da tas Medicinais e Fitoterápicos e do seu programa, o
geração de oportunidades, renda e trabalho para as Brasil conta hoje com diretrizes e com um plano de
comunidades e populações envolvidas, desde que a ação concreto para o enfrentamento das dificulda-
exploração e explotação destes recursos sejam feitas des existentes e para potencializar as vantagens de
adequadamente. ser um país megabiodiverso no contexto do uso dos
Para viabilizar este tipo de bioprospeção, é ne- seus recursos genéticos (Brasil, 2006; 2009).
cessário o fomento tanto à pesquisa científica para * Etnobiólogo, Mestre em Biologia Vegetal. É técnico especializa-
a conservação e o uso sustentável da biodiversidade, do da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do MMA.
ria e a resistência ao ataque de patógenos, pragas e para as unidades de conservação, como os parques
invasores. A manutenção de cultivares comerciais nacionais e estaduais do país, é cada vez maior
nativos é uma ação chave para garantir a segurança (Cunha, 2010). Regiões de extraordinária beleza
alimentar especialmente no contexto das mudan- cênica e dotadas de infraestrutura, como a Mata
ças climáticas globais. Atlântica, têm um papel de destaque, liderando
grande parte dos principais destinos turísticos do
Serviços culturais país.
Com a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpí-
Os ecossistemas e as espécies provêm serviços adas, em 2016, Medeiros e outros autores estimam
culturais para a sociedade ao satisfazer suas ne- um aumento de 60% nos desembarques interna-
cessidades estéticas, espirituais e psicológicas. Os cionais até 2016, totalizando 8,9 milhões de turis-
serviços culturais providos pelos ecossistemas e tas internacionais, com potencial de gerar aproxi-
biodiversidade incluem a recreação, o turismo, a madamente US$ 12,5 bilhões em divisas. Para os
apreciação da beleza cênica e a inspiração para a parques nacionais do país, entre turistas nacionais
cultura, arte e design, assim como às experiências e internacionais, estima-se um potencial total de
espirituais (TEEB, 2010a). 13,8 milhões de visitantes/ano, em 2016, poden-
Os serviços culturais são especialmente rele- do trazer até R$ 1,8 bilhão para a economia destas
vantes para populações rurais e particularmente unidades de conservação e das cidades do entorno.
para as tradicionais, como os indígenas, quilombo- Espera-se que a grande maioria dos visitantes tenha
las, caiçaras e caboclos da Mata Atlântica, cuja sub- como destino áreas localizadas na Mata Atlântica,
sistência e manutenção do modo de vida e crenças como o Parque Nacional do Iguaçu, Tijuca, Serra
dependem da biodiversidade, de ecossistemas nati- dos Órgãos e Itatiaia (Medeiros et al., 2011).
vos e dos seus serviços ambientais. A conservação Esta movimentação econômica pode favorecer
da biodiversidade é, portanto, fundamental para populações do entorno das unidades de conserva-
manter a cultura e o modo de vida destas popu- ção, trazendo benefícios adicionais de distribuição
lações. de renda, já que a maioria das áreas naturais está
localizada em municípios menos desenvolvidos. A
Beleza cênica e recreação visitação nas áreas verdes também contribui para
a sensibilização ao tema de conservação e uso sus-
Toda sociedade se beneficia ao apreciar e ao
tentável da biodiversidade.
desfrutar de áreas naturais bem conservadas como
As populações urbanas que vivem na Mata
praias, montanhas, rios e cachoeiras, florestas,
Atlântica também têm seu modo de vida muitas
campos, mangues e restingas. Os ecossistemas na-
vezes ligado a ambientes naturais, como as praias
tivos são palcos para atividades turísticas, educa-
ou as serras. Elas se beneficiam da beleza cênica
cionais, espirituais e recreacionais.
desses ecossistemas e do seu provimento de diver-
O turismo baseado na natureza é o ramo da
são. Uma das áreas utilizadas para lazer pela po-
indústria turística que mais cresce mundialmente,
pulação brasileira são os mangues, que provêm di-
com destaque para os países tropicais em desenvol-
versos serviços para a sociedade além da recreação
vimento, como o Brasil. A destinação de pessoas
(Box).
e recursos para áreas naturais, e particularmente
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 193
Alguns exemplos de sistemas agrícolas “ami- tação de habitats nativos e o uso de pesticidas ten-
gos da biodiversidade” são os sistemas agroflo- dem a ter impactos negativos severos para estas po-
restais (SAFs) (Box), a agricultura orgânica, os pulações, o aumento da agricultura orgânica pode
sistemas de cultivos perenes abaixo do dossel de reverter essa tendência (TEEB, 2010). Na Mata
espécies nativas, e os sistemas faxinais4. Outras Atlântica, o sistema de produção do cacau sombre-
atividades que podem ser adotadas sem prejudicar ado, cultivado abaixo do dossel de árvores nativas,
a biodiversidade são o manejo florestal sustentá- frequentemente encontrado no sul da Bahia e co-
vel de produtos madeireiros e não madeireiros, nhecido como ‘cabruca’, proporciona não só me-
a pesca e aquicultura sustentáveis, a proteção de lhor o aproveitamento econômico do cacau, como
ecossistemas para a bioprospecção e o ecoturis- contribui expressivamente para a conservação de
mo5 (Bishop et al., 2008). inúmeras espécies nativas, inclusive as ameaçadas
Um benefício para a biodiversidade pode ser de extinção.
demonstrado ao analisar as populações de agentes Sistemas de manejo sustentável de recursos na-
de controle biológico. Se por um lado, o aumento turais marinhos também são muito relevantes para
das áreas de monocultivos, a destruição e fragmen- proteger a biodiversidade e manter serviços am-
No litoral norte do Rio Grande do Sul, diversas famílias de pequenos agricultores vêm transfor-
mando as monoculturas de banana em plantios multidiversos. A partir do enriquecimento da área
de produção com espécies nativas tais como o sobragi (Colubrina glandulosa), o louro pardo (Cordia
trichotoma), o cedro (Cedrela fissilis), a embaúba (Cecropia sp.) e, principalmente, o palmiteiro (Eu-
terpe edulis), os bananais promovem importantes serviços ambientais. Esse trabalho de promoção
de sistemas agroflorestais é desenvolvido pela ONG Centro Ecológico e suas organizações parceiras.
Estudos recentes realizados na região apontam para a importância desses sistemas complexos
na conservação da biodiversidade e na produção de biomassa (sequestro de carbono). Alguns
bananais chegam abrigar mais de 30 espécies vasculares, típicas da Mata Atlântica, e a sequestrar
cerca de 150 toneladas de CO2 equivalente em um período de 15 anos (Gonçalves, 2008). Outro
papel importante dos SAFs é quanto à manutenção de conectividade entre as áreas de fragmentos
de habitat. De acordo com Hassdenteufel (2011), a proporção de espécies da avifauna típica de
ambientes florestais é maior em bananais cultivados em sistema complexos e multidiversos do que
em sistemas de monocultivo.
*Engenheiro Agrônomo, Doutor em Recursos Naturais. É professor de Agroecologia do Instituto Federal Catarinense Rio do
Sul e Coordenador Técnico do Centro Ecológico
4 Sistema faxinal é um sistema de produção camponês tradicional, característico da região Centro-Sul do Paraná, que tem como traço
marcante o uso coletivo da terra para produção animal e a conservação ambiental, integrando três componentes: a) produção animal cole-
tiva, à solta, através dos criadouros comunitários; b) policultura alimentar de subsistência para consumo e comercialização; c) extrativismo
florestal de baixo impacto: manejo de erva-mate, araucária etc.
5 Não é objetivo aqui aprofundar nos diversos sistemas produtivos e seus efeitos para a proteção da biodiversidade. Para esta análise,
sugere-se o estudo de Bishop et al. (2008), que se aprofunda no assunto.
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 195
bientais para a sociedade. Os ecossistemas costei- zas e áreas naturais. Entretanto, a integridade des-
ros são fundamentais no controle de inundações, tes ecossistemas encontra-se altamente vulnerável
de erosão, na retenção e exportação de nutrientes, devido à ação antrópica e às mudanças climáticas,
determinando a produtividade pesqueira de uma podendo influenciar na sua capacidade de prover
região. Eles contribuem para a segurança alimentar, serviços ambientais. Nesse contexto, iniciativas de
geração de renda e trabalho para diversas popula- governança e manejo sustentável dos recursos na-
ções caiçaras e são habitats para inúmeras espécies, turais podem contribuir fortemente para a manu-
muitas delas endêmicas. O Brasil possui uma das tenção da integridade ecológica dos ecossistemas
áreas marinhas mais ricas do planeta, com recifes marinhos (Box).
de coral, manguezais, dunas, restingas, complexos Embora atividades de uso e manejo sustentá-
lagunares nas quais vive grande parte da população vel dos recursos naturais (como o de recursos pes-
brasileira, que usufrui imensamente de suas bele- queiros) e atividades agrícolas sustentáveis (como
1
Exportação de biomassa de áreas com maior para áreas com menor abundância.
* Biólogo, Coordenador do Programa Marinho, Conservação Internacional.
196 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Aquisição de terras privadas (feita por compradores privados, poder público ou ONGs para conservação da
biodiversidade).
Aquisição de terras públicas (feita por um órgão governamental explicitamente para conservação da biodiversidade).
Direitos de bioprospecção (direitos para coletar, testar e utilizar o material genético das áreas designadas).
Licenças para pesquisa (direitos para coletar espécimes e fazer medições nas áreas designadas).
Autorização para coleta de espécies selvagens.
Uso para ecoturismo (direito para entrar na área, observar a vida selvagem, fazer acampamento ou caminhada).
Servidões de conservação (proprietário é pago para usar e gerenciar pedaço de terra determinado apenas para fins
de conservação; as restrições são geralmente perpétuas e transferíveis em caso de venda da terra).
Arrendamento de terras para conservação (proprietário é pago para usar e gerenciar um pedaço determinado de
terra para fins de conservação, por um período de tempo definido).
Concessão para conservação (órgão público é pago pela conservação de uma determinada área).
Concessão comunitária em áreas públicas protegidas (a indivíduos ou comunidades são atribuídos direitos de
utilização de uma determinada área de vegetação nativa, em troca do compromisso de proteger a área de práticas
que prejudicam a biodiversidade).
Contratos de manejo para a conservação de habitats ou espécies em imóveis rurais particulares (contrato que
detalha as atividades de gestão da biodiversidade e os pagamentos ligados à realização dos objetivos especificados).
Comercialização de Cotas (de conservação da biodiversidade) sob Tetos Estabelecidos por Regulamentações
(cap and trade)
Créditos negociáveis de mitigação em áreas úmidas (créditos de conservação ou de recuperação de áreas úmidas,
que podem ser utilizados para compensar as obrigações de agentes de manter uma área mínima de zonas úmidas
naturais numa determinada região).
Direitos negociáveis de desenvolvimento (direitos de exploração de uma determinada área, que, em caso de não uso,
podem ser comercializados).
Créditos negociáveis de biodiversidade (créditos representando áreas de proteção ou manutenção da biodiversidade,
que podem ser comprados por empreendedores para garantir que estes cumpram um padrão mínimo de proteção da
biodiversidade).
6 Embora haja mercados específicos para o serviço ambiental de beleza cênica, este é considerado aqui como um dos serviços da biodi-
versidade.
200 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Na Mata Atlântica, há poucas iniciativas de pa- mitados, embora estejam crescendo (Kosmus et al.,
gamento por serviços ambientais em curso, com 2009). Em geral, parece haver interesse somente por
foco principal no serviço biodiversidade. Diversas parte de empresas que usam a biodiversidade ou
iniciativas PSA-Água e Carbono levantadas por cujo negócio é impactado direta ou indiretamente
este estudo mencionaram contribuir para a bio- por ela, a exemplo daquelas que se beneficiam de
diversidade por meio de suas ações, entretanto, o cadeias de valores sustentáveis da biodiversidade,
serviço comercializado é principalmente a água ou como as produtoras de café e de madeira, além de
o carbono. Apenas cinco iniciativas levantadas fo- empresas interessadas no uso de recursos genéticos
caram na biodiversidade. (Figura 1). para fármacos ou cosméticos, além das empresas
Os sistemas de PSA-Biodiversidade ainda en- turísticas (Kosmus et al., 2009).
frentam diversos desafios em sua concepção e Em linha com o contexto mundial, no Brasil,
implementação, que vão desde dificuldades de se ainda são raras as iniciativas de PSA-Biodiversi-
estabelecer o que será monitorado até o de se de- dade baseadas em interesses estritamente volun-
terminar como será comprovada a adicionalidade tários. Na pesquisa conduzida no presente estudo
das atividades. No entanto, um dos maiores desa- foram identificados apenas dois projetos de paga-
fios é encontrar os pagadores para os serviços am- mento para a proteção da biodiversidade induzidos
bientais. A seguir, apresentamos o estado do PSA- por interesses voluntários na Mata Atlântica.
Biodiversidade segundo os indutores dos sistemas, O primeiro projeto é da ONG Sociedade de
quais sejam: interesses voluntários, pagamentos Pesquisa e Vida Selvagem e Ambiental (SPVS) e
mediados por governos, e adequação às regula- conta com iniciativas na Bahia, Paraná e Santa Ca-
mentações ambientais (Capítulo 1). tarina (Ficha 1). Proprietários rurais que querem
proteger suas áreas e usá-las para o ecoturismo são
Sistemas PSA-Biodiversidade compensados financeiramente através de apoio
voluntários para a construção de infraestrutura, como centro
de visitantes, trilhas e sinalização. Ademais, rece-
Sistemas voluntários surgem por motivos éti- bem compensação para complementar sua ren-
cos, filantrópicos e até por interesses privados para da. O projeto tem recursos de empresas privadas
a geração de lucro e para o consumo (Becca et al., como do Banco HSBC e da Posigraf, assim como
2010). Mundialmente, os financiamentos voluntá- da ONG IUCN. Segundo a classificação da Tabela
rios para a proteção da biodiversidade ainda são li- 1, ele pode ser visto como um projeto de pagamen-
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 201
Projetos: 1) Desmatamento evitado; 2) Turismo Carbono Neutro; Elaboração: 3) Instituto Xopotó - Agente Ambiental; 4) Desenvolvimento
local e sistemas agroflorestais; 5) Cabruca.
202 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Sistemas PSA-Biodiversidade
induzidos por regulamentações
repartição dos benefícios do uso da biodiversidade, No entanto, para o caso do Código Florestal,
e as Leis Estaduais de ICMS-Ecológico. a regulamentação não determina o máximo do
O Código Florestal Brasileiro (Lei no 4.771/65) malefício ambiental e sim o mínimo do ambien-
estipula que propriedades rurais devem manter talmente desejável que se almeja alcançar. Ele de-
parte da área a título de Reserva Legal (RL), sen- fine percentuais de áreas mínimas por propriedade
do 80% na Amazônia, 35% no Cerrado Amazôni- que devem estar sob regime de proteção ou mane-
co7 e 20% em outras regiões do país (inclusive na jo sustentável, criando demanda pela proteção de
Mata Atlântica). Através desta regulamentação, o ecossistemas nativos e consequentemente para o
governo cria uma demanda por áreas de vegeta- serviço ambiental de proteção da biodiversidade.
ção nativa conservadas e manejadas sustentavel- Ao estabelecer sistemas de compensação, permite-
mente. se através da troca de “direitos e deveres”, que os
Por meio dos mecanismos de compensação objetivos sejam atingidos de forma flexível (Becca
estabelecidos pelo Artigo 44 do Código Florestal, et al., 2010). Esta possibilidade de compensação
proprietários que não atingem a área mínima de entre os agentes econômicos propicia o surgimento
RL exigida podem compensar as faltantes em áre- de oferta e demanda por áreas de RL. A partir deste
as com vegetação nativa em outra propriedade. A ponto, o mercado atua na alocação dos recursos da
compensação pode ser implementada mediante o maneira mais eficiente possível, do ponto de vista
arrendamento de área sob regime de servidão flo- econômico.
restal ou reserva legal, ou mediante a aquisição de Esse mecanismo pode ser visto como um mo-
cotas de reserva florestal. A partir destes mecanis- delo prático do que Daly (1999) chama de mercado
mos, permite-se que proprietários rurais possam ambiental restringido por decisões éticas e eco-
se adequar à lei de forma flexível, possibilitando o lógicas. Nestes sistemas, o governo tem um papel
surgimento de um mercado de ofertantes e deman- primordial na determinação de escala e na distri-
dantes de áreas para a proteção da biodiversidade e buição dos direitos de propriedade dos serviços
podendo apoiar o surgimento de sistemas de PSA- ambientais (Daly, 1999; Seehusen, 2007). Eles são
Biodiversidade. bons exemplos da complementaridade entre re-
Este mecanismo pode ser categorizado segun- gulamentações e mecanismos de mercado para se
do a Tabela 1 como um sistema de comercialização atingir objetivos ambientais.
de cotas de conservação sob tetos estabelecidos por Outra regulamentação que cria demanda para
regulamentações. Ele emerge de forma similar aos a proteção da biodiversidade a partir do pagamen-
tradicionais sistemas de tetos para emissões de ga- to por serviços ambientais é a Medida Provisória
ses poluentes, nos quais determinam-se os impac- (MP) 2.186-16, de 23 de agosto de 2001. Criada
tos máximos para emissões, e depois permite-se a para atender ao que estabelece o terceiro objetivo
transação de emissões (sistemas de cap and trade). da Convenção sobre Diversidade Biológica, a MP
O exemplo mais conhecido são os mercados de impõe uma série de regras para os usuários da bio-
carbono que surgiram das metas de emissões as- diversidade brasileira, inclusive a repartição justa
sumidas pelos países desenvolvidos no âmbito do e equitativa dos benefícios oriundos da utilização
Protocolo de Quioto. do patrimônio genético brasileiro e dos conheci-
mentos tradicionais dos povos indígenas e comu- tição de benefícios no Brasil e no mundo. Para
nidades locais do Brasil. A legislação brasileira ajudar nessa questão, os países signatários da
determina ainda que os benefícios sejam utilizados CDB buscaram um instrumento legal internacio-
exclusivamente para a conservação da biodiversi- nal obrigatório que pudesse estabelecer diretri-
dade. zes básicas para as regras de acesso aos recursos
Entretanto, como uma legislação brasileira, a genéticos e aos conhecimentos tradicionais, bem
MP não tem alcance fora da jurisdição nacional, como garantir a repartição justa de benefícios.
o que impede a implementação efetiva da repar- Nesse sentido, em outubro de 2010, durante a 10ª
A discussão sobre a necessidade de um instru- roso et al., 2002) e no Brasil sua maior ocorrência
mento internacional que pudesse conter a perda é na Mata Atlântica e regiões baixas da Amazônia
acelerada de biodiversidade no mundo deu origem (Rosa et al., 2008). Seus usos são amplamente co-
à construção e elaboração do texto da Convenção nhecidos pela população caiçara que vive no litoral
sobre Diversidade Biológica – CDB. Um dos instru- do Brasil (Miranda e Hanazaki, 2008). A partir desse
mentos pensado para minimizar a erosão da biodi- conhecimento tradicional, o medicamento foi de-
versidade foi um mecanismo para converter os be- senvolvido. Depois de 16 anos e investimento de R$
nefícios oriundos do uso dos recursos naturais em 15 milhões, a pomada chegou ao mercado com po-
prol da conservação da biodiversidade, levando em tencial para se tornar um blockbuster (medicamento
conta a importância das populações tradicionais e com potencial de vendas de R$ 1 bilhão) (Natércia,
dos seus saberes. A imensa diversidade de serviços 2005). O mercado de fitoterápicos, bem como a prá-
ambientais prestados pelos ecossistemas e pelos po- tica da etnobotânica, crescem cada vez mais diante
vos indígenas e comunidades tradicionais, frequen- das perspectivas de grandes chances de acerto, re-
temente se transformam em benefícios econômicos dução no tempo de pesquisa, consequente redução
para aqueles que os exploram. Exemplo disso foi o no investimento e desenvolvimento de um produto
desenvolvimento de um fitoterápico por uma indús- natural, com todo o seu apelo mercadológico. Por
tria farmacêutica a partir da erva-baleeira (Cordia que não repartir benefícios com quem conservou e
verbenacea). Esta planta é nativa das Américas (Bar- conserva a biodiversidade utilizada? E com as po-
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 205
Conferência das Partes (COP) da CDB, os países fícios da biodiversidade em curso no Brasil, este
aprovaram o Protocolo de Nagoia8 que tem como estudo não conseguiu levantar iniciativas na Mata
escopo os recursos genéticos e os conhecimentos Atlântica que já tenham a autorização para condu-
tradicionais a eles associados, além da repartição zir a repartição dos benefícios do uso da biodiver-
de benefícios oriundos da utilização desses com- sidade segundo a Medida Provisória 2.186-16, de
ponentes (Box). 23 de agosto de 2001.
Embora já haja iniciativas de pagamento por O ICMS-Ecológico é outra regulamentação no
acesso a recursos genéticos e repartição dos bene- Brasil que atua na formação de demanda por servi-
pulações tradicionais que permitiram economia de cursos genéticos e dos conhecimentos tradicionais
tempo e de recursos financeiros? Por que não per- associados a esses recursos, bem como a repartição
mitir que esse sistema colabore para a valorização da justa e equitativa dos benefícios oriundos dessa utili-
floresta “em pé”? Nesse caminho, o Brasil aprovou o zação. Naturalmente, o Protocolo não resolve todas
texto da CDB, por meio do Decreto Legislativo nº 2, as situações complexas envolvendo a utilização dos
de 1994 e, em 2000, por meio da edição da Medida recursos genéticos e dos conhecimentos tradicionais
Provisória 2.052/2000, estabeleceu regras, direitos e e nem se propõe a isso. Mas apresenta as diretrizes
deveres em harmonia com o que prevê o texto da necessárias para que os países elaborem suas leis
CDB. Tal Medida Provisória, reeditada com o número nacionais e, principalmente que elas sejam respei-
2.186-16/2001 e com força de lei, é a diretriz legal tadas e cumpridas fora da jurisdição nacional. Com
nacional para o acesso à biodiversidade brasileira e isso, o Protocolo pode representar um marco para a
aos conhecimentos tradicionais associados aos re- conservação e uso sustentável da biodiversidade e,
cursos genéticos e para a repartição de benefícios. consequentemente, para a manutenção dos serviços
Entretanto, para que a legislação brasileira fosse ambientais.
respeitada por países usuários de recursos genéti- * Bióloga, Mestre em Microbiologia Aplicada. É analista ambien-
cos e de conhecimentos tradicionais, era necessário tal da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do MMA.
8 À data do estudo, o Protocolo se encontrava aberto para assinaturas desde fevereiro de 2011 e deveria entrar em vigor 90 dias após a
data de depósito da 50ª ratificação pelas Partes. O Brasil já assinou o Protocolo. O texto deve ser encaminhado para a ratificação do Con-
gresso Nacional o quanto antes.
206 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
ços ambientais de proteção da biodiversidade. Ele é dos ICMS arrecadados pelos estados em função de
um mecanismo de redistribuição fiscal, que deter- critérios ambientais, tais como a existência de uni-
mina a distribuição aos municípios de percentual dades de conservação (Loureiro, 2002) (Box).
Gargalos e
tros paguem pelo serviço ambiental para dele se
beneficiarem. Logo, no agregado, a disposição a
recomendações
pagar pelo serviço tende a ser bastante baixa. Nes-
te contexto, não é esperado que um mercado para
o serviço ambiental de proteção da biodiversidade
Ainda existem muitos fatores que limitam a di- desenvolva-se de forma ampla e voluntária, pois é
fusão de sistemas de PSA-Biodiversidade na Mata improvável que uma falha de mercado seja solucio-
Atlântica, impedindo que eles alcancem resultados nada pelo livre mercado.
mais expressivos para a conservação da biodiver- No entanto, ao combinar instrumentos, aumen-
sidade e melhoria da qualidade de vida das popu- ta-se o potencial de se criar demanda para os ser-
lações que contribuem para a sua conservação e viços ambientais prestados pela biodiversidade. Por
uso sustentável. Abaixo são analisados os gargalos exemplo, através de regulamentações. Em seguida,
econômicos, técnicos e legais e são propostas reco- ao permitir que os agentes se adéquem de forma
mendações de como lidar com eles. flexível a elas, deixa-se que surja um mercado com
ofertantes e demandantes por serviços ambientais.
Econômicos Dessa forma, a regulamentação determina a escala
almejada e distribui os direitos de propriedade, mas
O interesse em sistemas de pagamentos por deixa que o mercado aloque os recursos da forma
serviços ambientais de proteção da biodiversidade mais eficiente possível, do ponto de vista econô-
ainda são limitados. Isto foi evidenciado na pes- mico (Seehusen, 2007). O Código Florestal e seus
quisa conduzida neste estudo, que identificou ape- mecanismos de compensação da RL já atuam e têm
nas cinco projetos de PSA-Biodiversidade na Mata ainda grande potencial de atuar neste sentido.
Atlântica, um número bastante reduzido, em com- É recomendável explorar estes tipos de siner-
paração com os 33 projetos PSA-Carbono e 40 pro- gias entre regulamentações e instrumentos econô-
jetos PSA-Água. Embora muitas das iniciativas de micos. Deve-se considerar outras possibilidades
PSA-Água e Carbono declarem contribuir para a de incentivo às combinações de instrumentos,
proteção da biodiversidade, poucas delas recebem contando com a forte atuação do estado para a ela-
recursos para prover este serviço. boração e implementação de regulamentações que
O principal gargalo para os mercados e siste- criem demanda para a proteção da biodiversidade
mas PSA-Biodiversidade deve-se à demanda res- de forma a garantir o provimento de serviços am-
trita, relacionada à baixa disposição a pagar dos bientais, mas deixando que o mercado aloque os
beneficiários pela proteção da biodiversidade. Isso recursos da forma mais eficiente possível.
provavelmente está relacionado às características
de bens públicos quase puros dos serviços da bio- Agrupamento de serviços ambientais
diversidade. Ou seja, a falta dos serviços ambien- (bundling)
tais advindos da proteção da biodiversidade afeta
muito indiretamente aqueles que se beneficiam No levantamento feito para este estudo, vá-
dos serviços em contraste com o caso da água, por rios projetos responderam ao questionário e se
exemplo. Isso leva a comportamentos de caroneiro definiram como projetos de PSA para a proteção
(free rider) dos indivíduos, que esperam que ou- da biodiversidade juntamente com a proteção dos
208 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
recursos hídricos e com o armazenamento ou re- dades dependem da biodiversidade, qual a impor-
duções de emissões de carbono. Porém, os projetos tância da proteção deste capital natural. As relações
não comprovaram ter pagadores para a proteção da entre a proteção da biodiversidade e os ganhos eco-
biodiversidade e sim para a proteção dos recursos nômicos de atividades produtivas ainda são pouco
hídricos ou para o armazenamento de carbono. claras para toda a sociedade. É fundamental que o
Isso demonstra que eles têm buscado comercializar setor empresarial compreenda e incorpore cada vez
os serviços de proteção da biodiversidade usando a mais essas relações em suas estratégias de negócios,
estratégia do agrupamento de serviços (bundling). investindo em atividades de proteção e difusão de
Essa comercialização de serviços agrupados conhecimentos, e de boas práticas do uso sustentá-
tem potencial de angariar recursos para a prote- vel da biodiversidade. Por exemplo, contribuindo
ção da biodiversidade através dos mercados de com apoio e recursos no longo prazo para os pe-
PSA-Água e Carbono, já melhor estabelecidos. quenos produtores em esquemas de PSA.
Um exemplo são os projetos de REDD+ que vi- Algumas iniciativas, principalmente na área do
sam acessar mercados de carbono que valorizam turismo, vêm agindo nessa linha, como a de em-
atividades, cujo impacto à biodiversidade é posi- preendimentos turísticos que promovem ativida-
tivo. Neste sentido, estratégias de comercialização des agrícolas sustentáveis no sul da Bahia (Ficha 5).
“agrupada” de serviços ambientais deveriam ser Esses empreendimentos identificaram a demanda
mais exploradas (Box). de seus clientes por alimentos orgânicos e visam
também garantir a manutenção da beleza cênica ao
Bioprospecção redor das suas instalações.
A iniciativa TEEB (2010) pode contribuir ex-
No Brasil, a despeito do alto potencial relacio- pressivamente para sensibilizar o setor privado
nado a este tema, os investimentos em biopros- para os ganhos potenciais com a proteção da bio-
pecção ainda são incipientes (Saccaro Jr., 2011). A diversidade, de forma a incentivar investimentos
bioprospecção pode ser uma área estratégica para em iniciativas PSA-Biodiversidade nos níveis na-
a valorização da floresta em pé, dado que áreas cionais e locais.
conservadas têm papel fundamental para proteger Assim, é importante demonstrar a importância
estas fontes de medicamentos e produtos. A ativi- da biodiversidade e o valor de seus serviços para a
dade tem potencial de trazer altos ganhos econô- sociedade, bem como a relação entre a conservação
micos para o país e também para as populações da biodiversidade, os modos de uso da terra, a ges-
locais, caso seja adequadamente regulamentada e tão dos recursos naturais e a manutenção dos ser-
implementada. Logo, é interessante identificar e viços ambientais e da qualidade de vida das popu-
estimular a coordenação dos interesses envolvidos lações rurais , urbanas e tradicionais. A elaboração
nesta área. de regulamentos e implementação de condições
favoráveis para as empresas investirem em siste-
Sensibilização e envolvimento do setor mas de PSA-Biodiversidade também são ações ne-
privado cessárias para potencializar a consolidação de um
mercado de PSA para proteção da biodiversidade.
Ainda é pouco claro para grande parte do setor
empresarial, mesmo para as empresas cujas ativi-
210 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Políticas públicas
Projetos PSA-Biodiversidade
Em execução
1 SPVS SC
Desmatamento Evitado
2 Associação Movimento Mecenas da Vida BA
Turismo Carbono Neutro na APA Itacaré -Serra Grande
Em elaboração
3 Instituto Xopotó MG
Agente Ambiental na Bacia Hidrográfica do Rio Xopotó
4 Centro Ecológico SC e RS
Desenvolvimento Local e Sistemas Agroflorestais
5 Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia BA
Cabruca
214 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
1
Desmatamento Evitado
Estados da Bahia, Paraná, Santa Catarina
Categoria: Execução
O projeto está sendo realizado nos Cálculo do custo real para garantir a
estados da Bahia, no município Santa preservação da propriedade e permi-
Rita de Cássia; no Paraná, nos muni- tir margem de retorno ao proprietá-
cípios Fernandes Pinheiro, Guarapu- rio, que é responsável pela implanta-
ava, Ponta Grossa, Tibagi, Tijucas do ção das ações.
Sul, Lapa e Piraquara; assim como em A composição do custo para remune-
Santa Catarina, nos municípios Itaió- ração tem como referência a contra-
polis e Alfredo Wagner. tação de guarda parque, instalação
O objetivo do projeto é ajudar a pro- de infraestrutura, repasse de recursos
teger os remanescentes de áreas na- financeiros ao proprietário, melhoria
turais, como a Floresta com Araucá- do sistema de trilhas, entre outros es-
ria, em razão do seu potencial para pecíficos de acordo com o plano de
compensação de emissões de GEEs, manejo adotado semelhante ao de
bem como de sua importância para a conservação RPPN.
da diversidade biológica.
FONTES DE RECURSOS
TIPO DE INTERVENÇÃO
Empresas privadas e outras instituições: principal-
O projeto cadastra propriedades com áreas conser- mente o Banco HSBC na área de seguros; a Posigraf,
vadas ou em estágio médio ou avançado de regene- maior gráfica do Brasil, e a IUCN.
ração e estabelece um processo de apoio financei-
CUSTOS DE INVESTIMENTO
ro por parte de empresas por um período de cinco
anos, com o objetivo de garantir a preservação des- Existe um custo inicial de implantação de infraes-
tas áreas através de um plano de manejo simplifica- trutura básica (construção de cercas, instalação de
do, monitorado mensalmente. placas sinalizadoras, construção de galpão, constru-
ção de casa para o guarda parque, contratação de
ARRANJO INSTITUCIONAL
guarda parques) para garantir a preservação da pro-
Participantes/Parceiros: priedade que é analisado caso a caso. Depois disto
SPVS, responsável pela intermediação e execução; se mantém o apoio por 60 meses.
Proprietários privados detentores de áreas conserva- A contrapartida dos proprietários rurais é o compro-
das ou em estágio avançado de regeneração. misso de preservação das áreas designadas para tal
Empresas em suas propriedades.
Forma de relacionamento: Contrato entre empresa e
MONITORAMENTO
produtor, sob a intermediação da SPVS.
O monitoramento ocorre por meio de visitas mensais
ABRANGÊNCIA
para avaliar se as áreas estão sendo preservadas.
A abrangência total não foi informada. No âmbi-
BASE LEGAL
to da Floresta com Araucária, o projeto garantiu a
proteção de aproximadamente 800ha de áreas bem O contrato é privado e prescinde de base legal.
conservadas.
MAIORES INFORMAÇÕES
As áreas selecionadas têm por princípio a qualidade
de conservação e para o programa atual são elenca- http://spvs.org.br/desmatamentoevitado/hsde_in-
das propriedades com área média de 100ha. Tam- dex.php
bém existe um modelo de pequenos proprietários
consorciados num único processo de adoção. A situ-
ação socioeconômica dos proprietários pode variar,
mas em geral são agricultores de pequeno ou médio
porte.
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 215
2
Turismo Carbono Neutro
Municípios de Itacaré e Uruçuca - BA
Categoria: Execução
CONTEXTO
não influencia no valor a ser recebido.
As contrapartidas pelo recebimen-
No contexto regional, o projeto visa to da bolsa também são as mesmas,
reorientar a atividade turística, trans- sendo o principal deles o plantio de
formando-a num vetor para a con- pelo menos 360 árvores por ano.
servação ambiental, inclusão social e A bolsa funciona como pagamento
desenvolvimento humano, premissas pelos serviços ambientais dos rema-
para a construção da sustentabilidade nescentes florestais das propriedades
local. Em escala global, a finalidade é dos agricultores, principalmente fixa-
reduzir e neutralizar as emissões de ção de carbono, proteção da biodi-
carbono da região, integrando o pro- versidade e das paisagens da região.
grama aos esforços para combater o Para receber a bolsa o agricultor assu-
aquecimento global. me as seguintes contrapartidas:
TIPO DE INTERVENÇÃO
Conservar os remanescentes flores-
tais em suas propriedades (evitando
Turismo Carbono Neutro é um programa socioam- emissões de carbono);
biental, que congrega a redução e neutralização das Reflorestar áreas degradadas das propriedades
emissões de carbono, a conservação das florestas, (promovendo a neutralização de carbono dos em-
da biodiversidade e dos recursos naturais e o desen- preendimentos);
volvimento das populações tradicionais da APA Ita- Adotar práticas conservacionistas na propriedade
caré ⁄ Serra Grande, no litoral sul da Bahia. (para conservar os recursos naturais da propriedade);
Trata-se de uma certificação do turismo, que dife- Deixar de praticar a caça (para reduzir a pressão
rencia os empreendimentos turísticos e os turistas sobre a biodiversidade);
que neutralizam as emissões de carbono geradas Colocar os filhos em idade escolar na escola e pre-
por suas atividades. Na outra ponta do programa, servá-los do trabalho pesado da roça (para assegurar
agricultores tradicionais que sempre viveram em si- um futuro mais digno às crianças);
tuação de risco social e, por isso, foram muitas vezes Participar dos cursos de capacitações técnicas, am-
agentes da degradação ambiental, assumem o papel bientais, econômicas e sociais (para serem inseridos
de protagonistas da conservação, reflorestando áre- na cadeia produtiva do turismo como fornecedores
as desmatadas de suas propriedades e conservando de produtos agrícolas aos equipamentos turísticos da
os remanescentes florestais existentes nas mesmas. região).
ARRANJO INSTITUCIONAL FONTES DE RECURSOS
A ONG Associação Movimento Mecenas da Vida Os 115 empreendimentos turísticos da APA Itacaré/
elabora e executa os projetos. Participam agriculto- Serra Grande. Indiretamente os turistas, por meio de
res e estabelecimentos turísticos. O projeto funciona suas opções de hospedagem e compras.
como uma rede de colaboradores voluntários.
CUSTOS DE INVESTIMENTO
ABRANGÊNCIA
O custo anual de manutenção e operação é de apro-
Atualmente o projeto abrange 12 famílias de agricul- ximadamente R$ 100 mil.
tores e 115 estabelecimentos turísticos.
MONITORAMENTO
VALORAÇÃO DO SERVIÇO
O monitoramento é feito semanalmente nos muti-
Os recursos aportados pelos empreendimentos cer- rões de trabalho e capacitações nas propriedades
tificados para neutralizar suas emissões financiam o dos agricultores. Os responsáveis pelo monitoramen-
trabalho de reflorestamento e de conservação reali- to são os técnicos do programa. Não foi estabelecida
zados pelos agricultores tradicionais. nenhuma linha de base para monitoramento.
Cada agricultor recebe uma Bolsa Conservação no va-
lor mensal de R$ 300. O tamanho da área florestada
216 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
3
Agente Ambiental
Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Xopotó - MG
Categoria: Elaboração
CONTEXTO
dual de Florestas/MG, coordenação
e agente financiador. O apoio insti-
O projeto possui larga escala de tucional de prefeituras e secretarias
abrangência nos municípios que de agricultura e meio ambiente está
compõem a Bacia Hidrográfica do Rio vinculado à EMATER, e conta com o
Xopotó, constituída por pequenos apoio do CNPq – financiador da pes-
municípios, com IDH entre os mais quisa para desenvolvimento de crité-
baixos do país: Divinésia, Senhora de rios e indicadores para PSA.
Oliveira, Senhora dos Remédios, Se-
nador Firmino, Presidente Bernardes, ABRANGÊNCIA
Dores do Turvo, Alto Rio Doce, Brás O projeto abrange os produtores ru-
Pires, Cipotânea, Desterro do Melo, rais pertencentes à Bacia Hidrográfica
Rio Espera, Paula Cândido, Ubá, Mer- do Rio Xopotó (MG). Não foi divulga-
cês. do o número estimado de produtores
Em grande parte das pequenas pro- envolvidos neste projeto.
priedades rurais da região as principais áreas de cul-
tivo agrícola e de pastagem ocorrem em áreas de VALORAÇÃO DO SERVIÇO
APP, intensificando a degradação dos cursos d’água Foi levantada a Disposição a Receber pelos produto-
e dos demais recursos naturais. Pretende-se proteger res, para que eles imobilizem áreas de suas proprie-
os recursos florestais e garantir as funções ambien- dades para garantir a provisão de serviços ambientais
tais destas áreas através da recuperação de áreas e chegou-se a uma média ponderada de R$ 189,90/
degradadas e do manejo sustentável dos recursos ha/ano.
naturais. O programa Bolsa Verde estabeleceu como valor
TIPO DE INTERVENÇÃO
de pagamentos R$ 200,00/ha/ano. Para estabeleci-
mento deste valor foi considerado o custo de opor-
O projeto visa fomentar a sustentabilidade de pe- tunidade da produção pecuária de corte e leiteira no
quenas e médias propriedades rurais da região das estado de MG e da produção de milho.
nascentes do rio Doce, orientando as atividades
produtivas de forma a gerar renda ao produtor rural FONTES DE RECURSOS
sem comprometer os recursos naturais locais. Em sua fase inicial, o projeto está sendo financiado
Os produtores rurais devem alcançar metas pré-esta- pelo Instituto Estadual de Florestas/MG. Atualmente,
belecidas de recuperação ambiental e adequação o Instituto Xopotó busca a aprovação de propostas
legal da propriedade a partir do plano de sustenta- de pagamento por serviços ambientais no âmbito do
bilidade ambiental proposto para sua propriedade. Programa Bolsa Verde, do Governo de Minas Gerais.
Estando a propriedade adequada, o produtor se
responsabiliza por manter a prestação dos serviços CUSTOS DE INVESTIMENTO
ambientais conforme contrato de PSA. O projeto ainda não tem previsão de custos totais.
ARRANJO INSTITUCIONAL MONITORAMENTO
O projeto é uma parceria entre o Instituto Xopotó, As áreas serão monitoradas por técnicos do Institu-
mentor e executor do projeto, a Universidade Fede- to Xopotó ou dos parceiros semestralmente. A ava-
ral de Viçosa, parceira acadêmica, e o Instituto Esta- liação e monitoramento das técnicas implantadas
Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 217
serão realizados a partir de metas pré-estabelecidas lei estadual que criou o Bolsa Verde (MG, Lei
no plano de sustentabilidade proposto para cada 17.727/2008).
propriedade.
MAIORES INFORMAÇÕES
BASE LEGAL
www.institutoxopoto.org.br/
Pagamento por Serviços Ambientais previsto na
4
Desenvolvimento local e sistemas agroflorestais
Região de Torres - SC e RS
Categoria: Elaboração
CONTEXTO
mesorregião que se estende ao longo
do litoral nordeste do Rio Grande do
O projeto é realizado nos Estados do Sul e extremo sul catarinense. O nú-
RS e SC, nos municípios de Dom Pe- mero de agricultores familiares parti-
dro de Alcântara, Morrinhos do Sul, cipando do projeto nesta vasta região
Três Cachoeiras, Três Forquilhas, Tor- não está ainda definido.
res, Mampituba e Praia Grande.
A região está sofrendo as conse- VALORAÇÃO DO SERVIÇO
quências da modernização agrícola: Ainda está em discussão.
desmatamento para a conversão de
florestas em áreas agrícolas; altera- FONTES DE RECURSOS
ção de cursos d’água; desmatamen- Existem contatos com empresas sue-
to de áreas remanescentes da mata cas, que estão envolvidas em esque-
nativa, principalmente ao longo dos mas de PSA em outras iniciativas e
cursos d’água; drenagem de áreas de que poderão ser compradoras nesta
banhados e de cursos d’água pela lavoura irrigada iniciativa.
do arroz, prejudicando outros usos; uso intensivo de
agrotóxicos com danos à saúde humana e ao ambi- CUSTOS DE INVESTIMENTO
ente; êxodo rural; defasagem entre custos de pro- O projeto ainda não tem previsão dos custos para a
dução e preços recebidos pelos agricultores etc. implantação e manutenção dos SAFs.
TIPO DE INTERVENÇÃO MONITORAMENTO
Proteção dos recursos florestais e garantia das fun- Não existe um monitoramento no momento e não
ções ambientais destas áreas através da recuperação foi estabelecida uma linha de base. Apenas existem
de áreas degradadas e do manejo sustentável dos algumas pesquisas de mestrado e doutorado, que
recursos naturais. apontam que os sistemas agrícolas implantados pe-
ARRANJO INSTITUCIONAL
los agricultores contribuem para a manutenção e o
aumento da biodiversidade.
O projeto está sendo desenhado pelo Centro Ecoló-
gico, uma ONG que trabalha no fomento a sistemas BASE LEGAL
agrícolas sustentáveis. Com a implantação de siste- Na visão dos envolvidos, os contratos entre a inicia-
mas agroflorestais visa-se o pagamento pelo conjun- tiva privada e os produtores não necessitam de base
to dos serviços ambientais prestados pelos SAFs. legal específica.
ABRANGÊNCIA MAIORES INFORMAÇÕES
A área de abrangência do projeto, denominada ge- www.centroecologico.org.br
nericamente Região de Torres, está localizada na
218 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
5
Cabruca – Bahia
Municípios do sul da Bahia.
Categoria: Elaboração
ARRANJO INSTITUCIONAL
www.cabruca.com.br
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Iniciativas de PSA de Proteção da Biodiversidade na Mata Atlântica 223
Os mecanismos de PSA têm se destacado como As limitações são não só de ordem econômi-
um instrumento econômico complementar para a ca, decorrentes, por exemplo, dos altos custos das
contenção da degradação e para a promoção de atividades de recuperação da vegetação nativa e
atividades de conservação, recuperação e uso sus- da gestão compartilhada dos projetos. Questões
tentável de ecossistemas naturais. As experiências de ordem técnica relacionadas à elaboração e im-
com abordagens de PSA estão se multiplicando plementação de sistemas de monitoramento e di-
pelo mundo e também pelo Brasil. ficuldades nos processos de recuperação também
Para a elaboração desta publicação, foram rea- se apresentam como fatores limitantes. Há ainda
lizados três estudos independentes que levantaram gargalos de ordem institucional e legal, como o re-
as iniciativas de PSA existentes na Mata Atlântica duzido número de pessoal das instituições gover-
para os serviços de armazenamento e sequestro de namentais e a falta de regulamentações que apoiem
carbono (PSA-Carbono), proteção dos recursos hí- o surgimento de sistemas de PSA. Este capítulo
dricos (PSA-Água) e conservação da biodiversida- busca sumarizar a situação atual do PSA-Carbono,
de (PSA-Biodiversidade). Água e Biodiversidade conforme estudos apresen-
Estes estudos apontaram que o PSA está se di- tados anteriormente, identificar os principais de-
fundindo rapidamente na Mata Atlântica. No en- safios enfrentados pelos projetos até o momento,
tanto, para que as iniciativas de PSA ganhem esca- e propor recomendações para a consolidação das
la, é fundamental reconhecer que ainda há desafios experiências piloto e para o ganho de escala desses
pela frente e refletir sobre possíveis estratégias para sistemas na Mata Atlântica.
lidar com eles.
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 227
228 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Abrangência
No ano de 2010, foram identificadas 78 ini- sete na região Sul e somente cinco nas regiões Nor-
ciativas promissoras de PSA no contexto da Mata te, Nordeste e Centro-Oeste (Figura 1).
Atlântica. Destas, 24 encontravam-se, na data do Dificuldades técnicas, financeiras ou institu-
levantamento, em implementação; 35, em estágio cionais das outras regiões do país podem ser a ra-
de desenvolvimento e 19 ainda em articulação de zão dos projetos de PSA em curso na Mata Atlânti-
parceiros (Tabela 1). ca se concentrarem em maior número no Sudeste.
As iniciativas levantadas estão concentradas, Além disso, os programas estaduais de PSA em São
principalmente, nas regiões Sul e Sudeste do país. A Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, que já con-
região Nordeste (com exceção do estado da Bahia, tam com bases legais consolidadas, têm assumido
onde há uma rápida difusão de sistemas PSA) e os papel chave para impulsionar a disseminação das
estados do Centro-Oeste, parcialmente abrangidos iniciativas de PSA na região. A atuação de ONGs e
pela Mata Atlântica, são claramente sub-represen- de atores da sociedade civil no suporte técnico aos
tados. Como exemplo, no caso do carbono, aproxi- projetos, assim como na implementação de capaci-
madamente 25% dos projetos estão localizados no tações, também intensifica a concentração regional
estado de São Paulo. do PSA.
Essa concentração das iniciativas PSA na re- Diante deste desafio, é importante, identificar
gião Sudeste, com destaque para os estados de as dificuldades nas áreas com menor ocorrência de
Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, também sistemas de PSA e, a partir daí, promover a capaci-
ocorre para os sistemas água. Das 40 iniciativas de dade institucional e apoiar iniciativas para fomen-
PSA-Água mapeadas, 28 localizam-se nessa região; tar experiências nestas regiões.
Como apresentado no primeiro capítulo, há país e onde a demanda por recursos hídricos au-
três indutores que atuam na formação de demanda menta crescentemente, é primordial promover a
por serviços ambientais ou na indução de sistemas proteção destes recursos, já que sua falta pode vir a
de PSA: 1. Interesses voluntários; 2. Pagamentos comprometer o desenvolvimento econômico e so-
mediados por governos; 3. Regulamentações ou cial da região.
acordos. Os principais indutores dos sistemas de PSA-
No caso do carbono, regulamentações inter- Água são governos, sobretudo por intermédio de
nacionais foram os principais indutores dos PSAs, leis e programas que impulsionam as iniciativas,
possibilitando o surgimento não só do mercado re- cujo desenvolvimento e implementação contam
gulamentado, mas também do mercado voluntário. com a forte participação da sociedade civil. A
A grande maioria dos projetos de carbono florestal, Agência Nacional de Águas (ANA) exerceu um
no entanto, não conseguiu acessar os mercados re- papel chave neste contexto através do “Programa
gulamentados. Mesmo em nível internacional, só Produtor de Água”, difundindo o conceito “Pro-
foram registrados 21 projetos de MDL Florestal, dutor de Água” no país e propondo linhas gerais
sendo dois deles no Brasil, na Mata Atlântica: pro- para esquemas de PSA. Paralelamente, os pro-
jeto da AES Tietê e projetos da Plantar (Fichas 10 e gramas municipais e estaduais, como o programa
11 do PSA-Carbono, respectivamente). Conservador de Água (Extrema – MG) (Ficha 1 –
As fontes de recursos para o pagamento de PSA-Água) e os programas estaduais Mina D’água
serviço ambiental nos projetos de PSA-Carbono (SP), ProdutorES de Água (ES) e Bolsa Verde (MG)
advêm principalmente de empresas que querem, (boxes abaixo) induziram fortemente sistemas de
voluntariamente, neutralizar suas emissões de car- PSA-Água na região da Mata Atlântica.
bono. Diversas iniciativas contam com o financia- Ademais, o Brasil conta com a Lei da Política
mento da Petrobras Ambiental para atividades de Nacional dos Recursos Hídricos, Lei nº 9.433/97,
preparação dos projetos, mas, apesar de fomentá- que instituiu o marco legal para a cobrança pelo
los, a empresa não compra os créditos de carbono uso da água, potencial fonte de recursos para o pa-
gerados por eles. gamento por serviços ambientais.
O Brasil segue a tendência mundial, apresen- Para a maioria dos sistemas em curso, as fontes
tando um maior número de projetos de PSA para de recursos para os pagamentos são majoritaria-
água. Sendo este o serviço ambiental mais tangível mente dos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs),
nos níveis local e regional, a sociedade já sente hoje através da cobrança pelo uso da água, das empresas
o risco relacionado à sua escassez. Especialmente fornecedoras de água para a população e, de uma
no Sudeste, região mais populosa e povoada do maneira mais tímida, da iniciativa privada.
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 231
O Pagamento por Serviços Ambientais no es- em cada uma das Unidades de Gerenciamento
tado de São Paulo foi instituído como um dos de Recursos Hídricos.
instrumentos do Programa de Remanescentes As fontes de recursos para o financiamento
Florestais (PRF), que é parte da Política Estadual de projetos de PSA são: orçamento do estado;
de Mudanças Climáticas (PEMC) instituída pela transferências da União; doações; cooperação
Lei Estadual 13.798/20091. Este programa rela- internacional; conversão de multas por infrações
ciona as agendas de mudanças climáticas e con- ambientais; remuneração por sequestro de car-
servação da biodiversidade e da água. bono no Programa de Remanescentes Florestais;
As ações que podem ser objeto de projetos recursos do FEHIDRO e da cobrança pelo uso da
de PSA são as seguintes: conservação de rema- água destinados pelos Comitês de Bacia. No caso
nescentes florestais; recuperação de matas ci- do Projeto Mina d’Água, os recursos para o pa-
liares e implantação de vegetação nativa para a gamento aos provedores, no montante de R$ 3,5
proteção de nascentes; plantio de mudas de es- milhões para cinco anos de execução, são pro-
pécies nativas e/ou execução de práticas que fa- venientes do orçamento do estado de São Pau-
voreçam a regeneração natural para a formação lo e foram alocados no FECOP. O FECOP firmará
de corredores de biodiversidade; reflorestamen- contratos com as prefeituras conveniadas com a
tos com espécies nativas ou com espécies nativas SMA para o repasse dos recursos para o paga-
consorciadas com espécies exóticas para explo- mento aos provedores. Os custos operacionais
ração sustentável de produtos madeireiros e não são suportados pela SMA e pelas prefeituras.
madeireiros; implantação de sistemas agroflores- O desafio que se coloca para a consolidação
tais e silvipastoris que contemplem o plantio de, do PSA como política pública é a integração (não
no mínimo, 50 indivíduos de espécies arbóreas subordinação) das diversas iniciativas municipais
nativas por hectare; implantação de florestas co- e regionais de programas e projetos de PSA ao
merciais em áreas contíguas aos remanescentes programa estadual. Isto irá assegurar um alinha-
de vegetação nativa para a minimização de efeito mento dos programas e projetos, respeitando-se
de borda e manejo de remanescentes florestais as especificidades locais. Além disso, a coorde-
para controle de espécies competidoras, espe- nação dos esforços das diversas instituições pos-
cialmente espécies exóticas invasoras. sibilitará maiores avanços no desenvolvimento
Dentro deste contexto, foi definido o Pro- de estratégias e metodologias e na redução dos
jeto Mina d’Água, objeto da Resolução SMA custos de monitoramento e avaliação. Finalmen-
123/2010, que tem como objetivo a proteção te, o monitoramento e avaliação de resultados
e recuperação de nascentes em mananciais de e impactos dos projetos de PSA devem ser uma
abastecimento público. O Projeto Mina d’Água preocupação constante, pois a sustentabilidade
será implementado em etapas, sendo a primeira do PSA depende da demonstração de sua efeti-
delas, em curso, voltada ao desenvolvimento e vidade.
avaliação de metodologias, estratégias e arranjos *Coordenadora de Biodiversidade e Recursos Naturais, Secre-
para a execução, que está baseada em parcerias taria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
1
Para um aprofundamento sobre a questão legal relacionada
entre a SMA e prefeituras de 21 municípios, um ao PSA, consulte o anexo ”Arcabouço Legal”.
232 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Nos sistemas mediados pelo governo, para que mais acentuado de bens públicos dos serviços am-
se possa pagar por serviços ambientais com recur- bientais da biodiversidade, sua demanda ainda é
sos orçamentários, é necessário que haja um arca- bastante restrita.
bouço legal para embasar os pagamentos. Assim, Dentre os projetos levantados por este estudo,
foram elaboradas e aprovadas diversas leis, como há alguns induzidos por interesses voluntários e
as que podem ser observadas no item Base Legal. outros mediados pelo governo. Mas, dado o caráter
É preciso avançar, para que a disposição a pagar dos serviços da biodiversidade como bens públicos
por parte de usuários finais dos serviços aumente, quase puros, não é de se esperar que surja uma de-
especialmente no caso de usuários industriais. Pro- manda espontânea para estes serviços. Neste con-
vavelmente, parte do baixo interesse em se pagar texto, regulamentações assumem o papel essencial
pela proteção dos recursos hídricos seja derivada de impulsionar o surgimento de oferta e demanda
da falta de conhecimento do público em geral sobre para estes serviços.
a importância da relação floresta-água. No Brasil, já há regulamentações que atuam no
Portanto, para que haja um crescimento na de- sentido de criar demanda pelos serviços ambientais
manda pelo serviço ambiental de manutenção da de proteção da biodiversidade. Como exemplos,
quantidade e qualidade da água, é preciso que os vale ressaltar a Medida Provisória 2.186/2001, que
beneficiários e potenciais pagadores pelo serviço regulamenta a repartição dos benefícios derivados
estejam conscientes e convencidos de que a con- do uso da biodiversidade, e o Código Florestal que
servação e recuperação da vegetação nativa é um estipula que os imóveis rurais devem manter par-
bom ou o melhor caminho para garantir, no longo te da área a título de Reserva Legal (RL) (sendo
prazo, o provimento desse recursos por serviços. 80% na Amazônia, 35% no Cerrado Amazônico e
Sugere-se, neste caso, a ampla sensibilização não só 20% nas demais regiões do país - incluindo a Mata
de CBHs e grandes usuários, mas também de for- Atlântica). O interessante no Código Florestal é
madores de opinião dos setores público e privado, que através desta regulamentação, o governo cria
dos responsáveis pelo abastecimento urbano e pela demanda por áreas de vegetação nativa conserva-
política industrial, bem como da sociedade em ge- das e manejadas sustentavelmente e por meio de
ral. seus mecanismos de compensação (estabelecidos
O número de iniciativas de PSA-Biodiversi- pelo Artigo 44), proprietários podem atingir sua
dade em curso ainda é pequeno. Os serviços da meta de conservação de forma flexível. Possibilita-
biodiversidade têm sido tratados como um eixo se, assim, o surgimento de um mercado de ofer-
transversal, sendo comercializados em projetos de tantes e demandantes de áreas para a proteção da
PSA-Água e Carbono quando as intervenções em biodiversidade, o que pode impulsionar surgimen-
campo propostas por estes projetos contribuem, to de sistemas de PSA-Biodiversidade.
por exemplo, para a manutenção ou aumento de Seja quem for o indutor do sistema, o aval po-
espécies endêmicas. lítico para a implementação de sistemas de PSA
No entanto, ainda falta clareza sobre a inter- é essencial em todos os níveis, sobretudo por se
relação entre usos da terra que protegem a biodi- tratar de uma ferramenta complementar aos ou-
versidade e o provimento de serviços ambientais, tros mecanismos de gestão ambiental, tal como
assim como sobre como estes serviços influenciam os instrumentos de comando e controle e outras
o bem-estar da sociedade. Por isso e pelo caráter políticas ambientais, como as de ordenamento ter-
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 233
O projeto ProdutorES de Água tem como objetivo dar início ao processo de implantação do
mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no estado do Espírito Santo, através do
reconhecimento e da compensação financeira a proprietários rurais que possuem remanescentes
de floresta nativa em áreas estratégicas para os recursos hídricos.
Para sua implantação, foi desenvolvida uma base legal que respaldou tecnicamente a metodo-
logia de PSA, os trâmites financeiros, bem como a definição das bacias hidrográficas contempladas
e suas áreas prioritárias. Para tanto, existem as Leis Estaduais 8.995/2009 e 9.607/2010, que reco-
nhecem os serviços ambientais prestados pela Mata Atlântica; o Decreto Estadual 2.168-R/2008,
que regulamenta o Serviço Ambiental referente à água, objeto do Projeto ProdutorES de Água e a
Portaria 06-S/2011, que define as áreas de atuação do projeto.
Concomitantemente, foi criado o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDAGUA), através
da Lei Estadual 8.960/2008, que é a mecanismo responsável pelo suporte financeiro ao Projeto
ProdutorES de Água, com 60% de seus recursos diretamente destinados a esta modalidade de
Pagamento por Serviços Ambientais. Suas principais fontes de recursos são royalties do petróleo
(3% do total) e a compensação financeira do setor hidrelétrico (100% da parte cabível ao governo
do Estado).
Ressalta-se que o principal desafio enfrentado no início do projeto foi a discussão técnica e
política da Lei de PSA do Estado. Vencida esta etapa, a valoração do serviço ambiental referente à
qualidade da água permitiu que o projeto se materializasse. Para tanto, foi criada uma equação de
serviço ambiental que tem na sua composição o Custo de Oportunidade da Terra ponderado por
dois fatores ambientais que interferem diretamente na prestação do serviço ambiental de qualidade
de água: topografia e estágio sucessional da floresta atlântica.
Após três anos de intenso trabalho e consolidação da ferramenta de PSA e de seus resultados
concretos (2.200 hectares de floresta atlântica preservada e 220 produtores rurais contemplados),
os grandes desafios do Projeto ProdutorES de Água são o ganho de escala no estado do Espírito
Santo, a integração com outras políticas públicas e por fim o reconhecimento de outros serviços
ambientais, como biodiversidade, conservação de solos e sequestro de carbono.
* Analista de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - ES
** Instituto BioAtlântica
234 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
ritorial. Logo, é preciso que o PSA seja usado em muito conhecimento consolidado sobre a elabora-
consonância com as políticas públicas de proteção ção de leis e sobre a implementação do PSA, mas é
do meio ambiente de forma a promover sinergias. ainda necessário fomentar a troca de informações
Similarmente a outras regiões do Brasil e do e a sistematização das lições aprendidas, para que
mundo, um dos maiores desafios para a promo- novas iniciativas mediadas por governos tenham
ção de projetos PSA na Mata Atlântica é identifi- um bom ponto de partida.
car quem será o indutor do PSA, o que está dire- Embora governos possam implementar direta-
tamente ligado à fonte de financiamento para as mente programas de PSA, eles muitas vezes encon-
atividades dos projetos e para os pagamentos pelos tram limitações na sua difusão e implementação.
serviços. Os principais motivos são dificuldades institucio-
Os programas mediados por governos apresen- nais como restrições na disponibilidade de recur-
tam grande potencial de alavancagem, como polí- sos financeiros, por exemplo, para financiar os al-
ticas de PSA municipais, estaduais e federais. Já há tos custos das atividades de recuperação.
Em Minas Gerais, a Lei Estadual 17.727, de 13 de Dentre os objetivos específicos, busca-se repas-
agosto de 2008, é o instrumento legal que prevê o sar, pelo menos, 70% do crédito inicial autorizado
pagamento por serviços ambientais pelo Governo do do orçamento anual do programa para o pagamen-
Estado. Sob a denominação de incentivos econômi- to dos beneficiários, realizar deliberação colegiada
cos aos proprietários e posseiros rurais, o Programa sobre as diretrizes estabelecidas para o programa,
Bolsa Verde apresenta princípios, critérios e procedi- incluindo sua revisão, e contribuir, junto a outras ini-
mentos, criados e regulamentados por mecanismos ciativas governamentais, da iniciativa privada e da
infralegais, visando selecionar os beneficiários de sociedade civil organizada, para que a área de cober-
forma mais justa e transparente possível. O resultado tura vegetal nativa do estado de Minas Gerais, em
buscado desse arcabouço normativo é a retribuição 2011, atinja 35% de sua extensão territorial.
àqueles que propiciaram serviços ambientais, direta O Bolsa Verde realiza o pagamento de serviços
ou indiretamente, às populações localizadas em seu ambientais tanto pela manutenção (conservação)
entorno ou em toda uma bacia hidrográfica. como pela recuperação da cobertura vegetal nativa.
O objetivo geral do Programa Bolsa Verde é a Como uma iniciativa de cunho socioambiental, es-
ampliação da área de cobertura vegetal nativa em tão previstos critérios de pontuação na avaliação das
Minas Gerais por meio do pagamento por serviços propostas que valorizam a utilização de técnicas de
ambientais prestados pelos proprietários e posseiros controle biológico ou agroecológico, os sistemas de
rurais do estado. produção agroecológica ou sistemas integrados de
produção, a não utilização de agrotóxicos e o em-
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 235
prego de práticas de conservação do solo, da água tos R$ 7,2 milhões e, para 2011, estão destinados
e da fauna. R$ 8,5 milhões para a implementação do programa.
O Programa apoia os provedores de pagamento Os principais desafios previstos antes do início
por serviços ambientais tanto com o repasse de R$ da operacionalização do programa foram a dificul-
200,00/hectare/ano, durante um período de cinco dade para mobilização do público alvo em razão da
anos, aos selecionados em análise técnica e delibe- novidade da perspectiva do pagamento por serviços
ração de seu órgão colegiado, o Comitê Executivo ambientais e o alcance de toda a extensão territorial
do Programa Bolsa Verde (CEBV). A partir de 2011, mineira, a fim de atender previsão legal de contem-
com o oferecimento de materiais de cercamento e plar interessados de quaisquer pontos do estado.
insumos aos que se comprometam a recuperar áreas Atualmente, a principal dificuldade a ser supe-
de vegetação nativa e celebrem compromisso pelo rada concerne à implantação da segunda modali-
mesmo período daqueles que ratifiquem o pacto dade de atuação do programa e à recuperação da
pela conservação de suas áreas, além de receberem cobertura vegetal nativa, que requer maior volume
um valor em espécie, ainda a ser definido. de recursos financeiros e capacitação técnica mais
Os recursos financeiros para a implementação intensa para a elaboração dos projetos técnicos que
do Programa Bolsa Verde são originados de oito pos- indicarão as formas mais adequadas para emprego
síveis fontes, mas, desde 2010, o aporte realizado é em cada uma das áreas selecionadas.
proveniente do Fundo de Recuperação, Proteção e
Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográfi- * Especialista em políticas públicas e gestão governamental. Se-
cretaria Executiva do Bolsa Verde, Diretoria de Desenvolvimento e
cas do Estado de Minas Gerais (10% do orçamento Conservação Florestal, Instituto Estadual de Florestas - MG
anual do Fundo) e das multas administrativas aplica-
das pelo Instituto Estadual de Florestas (previsão de
50% do valor recolhido). Em 2010, estiveram previs-
236 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
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Obs.: Os projetos são compostos na maior parte das vezes por mais de uma atividade em campo. Por esta razão, o número
total de atividades conduzidas em campo é maior que o total de projetos (78).
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 237
formulação de propostas técnicas consistentes de lizar os efeitos benéficos das ações promovidas por
PSA e para se conseguir comercializar os serviços sistemas de PSA, elas deveriam assegurar a conec-
ambientais associados às atividades produtivas tividade e a proteção de mananciais. É preciso con-
sustentáveis, é preciso ter maior clareza sobre os siderar o planejamento territorial do uso da terra
benefícios ecológicos que estas atividades trazem baseado na conservação dos ecossistemas e dos
à sociedade, por exemplo, sobre o potencial de se- serviços ambientais sob a perspectiva de manuten-
questro de carbono e o benefício à biodiversidade ção de corredores ecológicos.
dos sistemas agroflorestais (SAFs) ou sobre os be- Gargalos técnicos e financeiros permeiam as
nefícios à qualidade da água providos por técnicas atividades de conservação e recuperação de vege-
de agricultura orgânica. Recomenda-se a sistema- tação nativa. Há reduzida disponibilidade institu-
tização do conhecimento técnico existente e a pro- cional e de pessoal capacitado para as atividades de
moção de pesquisas para ampliar o conhecimento campo, bem como escasso recurso financeiro para
sobre o assunto. conduzir e acompanhar as atividades: produção de
A exemplo do Programa Produtor de Água, mudas de espécies nativas, plantios e manejo para
deve-se buscar algumas técnicas padronizadas de garantir que os plantios efetivamente se estabele-
sistemas que se adéquem a áreas específicas, visan- çam. Diante deste quadro, recomenda-se promover
do o fortalecimento de certas atividades. A coope- a capacitação de pessoal e disseminação de técni-
ração com a área científica é capaz de promover cas, bem como o desenvolvimento de competên-
muitas sinergias neste aspecto. cias para a execução de atividades provedoras de
É importante conciliar atividades de PSA com serviços ambientais. Também é recomendada a
um ordenamento territorial baseado em áreas criação de fundos de financiamento que concedam
prioritárias para a conservação. Dado o alto nível crédito ao pequeno produtor a fundo perdido para
de fragmentação da Mata Atlântica, para potencia- que custeiem suas atividades de campo.
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 239
Arranjo institucional
Mecanismos de PSA geralmente requerem o processos longos para se alcançar o consenso so-
envolvimento de uma ampla gama de atores e par- bre as estratégias a serem adotadas, o que acarreta
ceiros. Primeiramente, participam dos projetos altos custos de transação. Estes custos devem ser
organizações de produtores rurais e associações considerados na análise de viabilidade de projetos
de classe. No apoio financeiro, técnico e político, de PSA. Caso a área de abrangência das ações dos
grande parte das iniciativas conta com a participa- projetos seja pequena, os gastos de gestão e articu-
ção primordial de prefeituras, órgãos estaduais de lação podem aumentar consideravelmente os cus-
meio ambiente e de gestão dos recursos hídricos, tos médios das ações por hectare. É por esta razão
e da ANA. Também fazem parte frequentemente que, no caso do carbono, a viabilidade financeira
do arranjo institucional, empresas interessadas em dos projetos de pequeno porte, muitas vezes, de-
compensar suas emissões de carbono, empresas de pende de doações complementares a fundo perdi-
abastecimento de água e empresas privadas que do, especialmente quando os preços de carbono no
usam a biodiversidade. ONGs ambientais assumem mercado voluntário não são favoráveis.
um papel importante no arranjo institucional, pois Diante desta perspectiva, sugere-se buscar
atuam no desenvolvimento e implementação dos oportunidades para agrupar um grande número de
sistemas. Elas apoiam o processo de capacitação, provedores de serviços ambientais, localizados em
de gestão dos mecanismos, articulação entre pro- áreas adjacentes, de forma a assegurar maior abran-
vedores e compradores etc. Destaca-se também o gência das ações e garantir a viabilidade econômica
relevante papel da cooperação internacional, que dos projetos. Isso, por sua vez, requer uma articu-
tem fomentado o desenvolvimento de competên- lação social e institucional sólida dos provedores
cia institucional e a execução de iniciativas piloto dos serviços, para que trabalhem em conjunto. É
de PSA. preciso fomentar a cooperação entre os provedores
O amplo arranjo institucional dos projetos PSA de serviços ambientais e aumentar seu empodera-
é importante para somar esforços na implantação mento, assim como prover a justa repartição dos
desses sistemas inovadores e complexos. No entan- benefícios gerados através dos sistemas PSA.
to, a complexidade de atores e parceiros implica em
240 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
A sensibilização também pode servir como apoio para sua condução. Muitas vezes, faltam informa-
para que o tema ambiental seja considerado priori- ções conclusivas sobre os efeitos ecológicos e as re-
dade na agenda política, refletindo na alocação de lações entre usos da terra e serviços ambientais. É
orçamento público para atividades de proteção da por isso que a valoração deve ser usada de forma
biodiversidade. moderada, simples e pragmática, seguindo o con-
A valoração econômica tem o potencial de de- ceito de “manejo adaptativo”. Segundo ele, identi-
monstrar os benefícios econômicos de uma deter- fica-se, inicialmente, qual é a informação mínima
minada atividade em comparação com uma ativi- necessária para a valoração, complementando-a ao
dade tradicional alternativa. Isso pode sensibilizar longo do processo, porém, sem permitir que ela se
compradores de serviços ambientais para os valo- torne um obstáculo para o desenvolvimento de sis-
res econômicos das ações de conservação e recu- temas de PSA.
peração de vegetação nativa. Embora a valoração Por fim, recomenda-se que os valores econô-
econômica dos serviços ambientais esteja se popu- micos estimados sirvam como apoio para a sensi-
larizando, seu uso ainda é escasso. Poucos projetos, bilização da sociedade e como suporte à tomada
como o Florestas para a Vida, no Espírito Santo, de decisão sobre questões que envolvem serviços
calculam quanto as empresas de abastecimento de ambientais. Independente dos métodos de valora-
água economizam no tratamento da água em fun- ção, é importante frisar que o montante pago nos
ção da preservação de florestas, por exemplo. sistemas de PSA, na maioria das vezes, vai depen-
A justaposição dos benefícios econômicos dos der dos processos de mobilização e de negociação
compradores aos custos de oportunidade dos pro- entre os diferentes atores envolvidos.
vedores de serviços ambientais pode apoiar a defi-
nição de uma referência justa para o pagamento. No
entanto, os conhecimentos sobre valoração econô-
mica, sua utilidade e formas de utilização são pou-
co difundidos e por isso seu uso até hoje é bastante
restrito.
Sugere-se investir na difusão do conhecimento
sobre métodos de valoração econômica com foco
na aplicação prática para sensibilizar a população
ou tomadores de decisão sobre a importância da
manutenção da biodiversidade e do provimento de
serviços ambientais, assim como para analisar os
custos e benefícios de sistemas de PSA. Para tanto,
recomenda-se realizar a sistematização de infor-
mações, elaborar publicações, promover a troca
de conhecimento e de experiências e implementar
cursos de capacitação no tema.
Vale ressaltar, no entanto, que a valoração eco-
nômica tem suas limitações. Uma delas é a indis-
ponibilidade de todas as informações necessárias
242 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Monitoramento
Um dos maiores desafios dos sistemas de PSA dificuldades está relacionada principalmente ao
está relacionado à dificuldade de se definir com fato de que a área de abrangência dos projetos seja
precisão o que monitorar, com que indicadores de usualmente bastante reduzida. Por exemplo, dentre
forma a comprovar o benefício das atividades ado- os projetos de PSA-Água, há casos em que a área
tadas para garantir ou incrementar o provimento onde são executadas as ações, é demasiadamente
de serviços ambientais. Há, portanto, a necessidade pequena em comparação à da bacia hidrográfica, o
de sistematizar os conhecimentos existentes para que dificulta a avaliação de impactos.
servirem de base para a formulação de projetos de Ademais, há uma brecha de atribuição entre os
PSA bem sucedidos. resultados de projeto (restauração conduzida, por
O levantamento conduzido mostrou que diver- exemplo), os impactos diretos (plantios estabeleci-
sos projetos desenvolveram métodos para o mo- dos) e os impactos indiretos (melhoria da qualida-
nitoramento, em geral, para verificar o andamen- de da água) (cadeia de impactos - Capítulo 1). O
to das ações de intervenção em campo propostas, impacto indireto pode tomar tempo para de fato
analisando os resultados de projeto e não seus im- acontecer, o que aprofunda as dificuldades de mo-
pactos diretos e indiretos na prestação dos serviços nitoramento.
ambientais. É importante considerar que sistemas de mo-
Constatou-se também que falta padronização nitoramento podem ser complexos e custosos e
na formatação dos métodos de monitoramento, atentar para que eles não se tornem um objetivo
como no caso da definição da linha de base para em si, com custos e exigência de engajamento que
projetos de carbono. Isso dificulta o acesso aos excedam os benefícios ambientais e sociais das ati-
mercados e a consequente obtenção de recursos vidades dos projetos de PSA.
financeiros para o pagamento pelos serviços am- Sugere-se que o monitoramento dos serviços
bientais, podendo colocar em risco seu reconheci- seja medido com variáveis simples e robustas. A
mento e sua credibilidade. verificação do aumento e da qualidade de áreas
Recomenda-se, portanto, o uso de métodos florestadas através da utilização de ferramentas de
padronizados para calcular a linha de base e para geoprocessamento, por exemplo, pode ser uma for-
conduzir o monitoramento. Deve-se, no entanto, ma fácil para se medir os benefícios das atividades
levar em consideração as particularidades das ati- de sistemas de PSA. Embora os altos custos e a res-
vidades, as características das áreas em que são im- trita capacidade técnica disponível, impeçam o uso
plementadas e os atributos socioambientais asso- abrangente do monitoramento remoto hoje, essa
ciados aos projetos de PSA, com vistas à obtenção realidade pode mudar rapidamente, considerando
de certificação. o barateamento da tecnologia de geoprocessamen-
Um monitoramento eficaz das variações ao ní- to e consequentemente a ampliação do acesso à ela.
vel do provimento dos serviços ambientais (impac- Como forma de simplificação, recomenda-se
tos diretos e indiretos) ainda é complexo. Uma das considerar o uso de aproximações para estimar
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 243
O avanço das políticas públicas sobre PSA Em nível nacional, o processo de aprovação do
é, provavelmente, o principal indutor da alavan- Projeto de Lei de Pagamento por Serviços Ambien-
cagem e disseminação de projetos neste tema. A tais deve ser apoiado pelos atores dos diferentes
aprovação e implementação de normas legais nos segmentos envolvidos no processo de desenvolvi-
diversos níveis governamentais e a elaboração de mento e disseminação de sistemas de PSA. Além
programas correspondentes são necessários para disso, para que esta norma se constitua em uma
fundamentar legalmente os repasses de recursos referência para os sistemas de PSA no Brasil, ini-
públicos a produtores rurais. Em muitos casos, são ciativas devem considerar estudos técnicos e os re-
eles que garantem o provimento de serviços am- sultados de seminários e encontros para a difusão
bientais e marcam o reconhecimento da importân- dos conceitos, fortalecendo o processo de regula-
cia de tais serviços para a sociedade. mentação e a definição de um Programa Nacional
O arcabouço legal para o PSA no Brasil, espe- de PSA eficaz.
cialmente na Mata Atlântica, avança rapidamente. Ainda no âmbito nacional, o Brasil conta com
No âmbito nacional, a tramitação do Projeto de Lei a Lei da Política Nacional dos Recursos Hídricos
de PSA (PL 792/2007) continua, mas o destaque (Lei 9.433/97), que é uma base relevante em con-
vai para os estados e municípios. Eles elaboraram junto com o Programa Produtor de Água, da ANA,
e aprovaram diversas leis que instituem programas para a implementação do PSA-Água. A lei instituiu
de PSA como descrito acima. Um panorama do di- o marco legal para a cobrança pelo uso da água,
namismo nesta área é ilustrado pela tabela a seguir, que é fonte importante de recursos para o paga-
que sistematiza as diversas leis que consideram ele- mento pelos serviços ambientais relacionados aos
mentos para o PSA nos âmbitos nacional, estadual recursos hídricos. Até o momento, no Brasil, esse
e municipal. tipo de cobrança foi implementado em poucos lu-
É fundamental, portanto, que a sociedade e os gares, devendo, portanto, ser ampliado o uso deste
tomadores de decisão se articulem para que os go- mecanismo.
vernos em diferentes níveis ampliem seus esforços Por fim, destaca-se a necessidade de sistemati-
para o desenvolvimento, implementação e aper- zação das experiências e a troca de conhecimentos
feiçoamento de leis e políticas públicas na área de sobre a elaboração e implementação de políticas
PSA. Para assegurar ganho de escala das iniciativas públicas em PSA para que novas iniciativas se be-
de PSA, é fundamental também que os pioneiros neficiem com lições aprendidas e melhores práti-
na regulamentação desses sistemas, compartilhem cas.
suas experiências e lições aprendidas com outros
estados e municípios interessados.
246 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Nacional
Política Nacional e Programa Federal de PSA (Substitutivo ao Projeto de Lei 792/2007 e seus apensos; em
tramitação)
Reduções Certificadas de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal (RCEDD) (PL 5.586-A/2009)
Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/1997) e Conselho Nacional de Recursos Hídricos (Dec.
4.613/2003)
Estadual
ES Programa de PSA (Lei 8.995/2008; Dec. 2.168-R/2008)
FUNDÁGUA (Lei 8.960/2008)
MG Programa Bolsa Verde (Lei 17.727/2008; Dec. 45.113/2009)
PE Política Estadual de Enfrentamento às Mudanças Climáticas de Pernambuco (PL 1.527/2010; em trami-
tação)
PR Prestador de Serviços Ambientais (Lei 16.436/2010)
RJ Política e Programa Estadual de PSA (em preparação)
Política Estadual de Recursos Hídricos (Lei 3.239/99; e Lei 4.247/03: cobrança pelo uso da água) e o res-
pectivo Fundo (FUNDRHI); Lei n˚ 5.234 de 05/08 (Artigo 2; Inciso VII)
RS Política Estadual de Serviços Ambientais (PL 449/2007; em tramitação)
SC Política e Programa Estadual de PSA (PEPSA) e o respectivo Fundo (FEPSA) (Lei 15.133/2010)
SP Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) (Lei 13.798/2009);
Projeto Mina D’Água (Dec. 55.947/2010).
Política Estadual de PSA (PL 271/10 aprovado em 15/02/2011).
Municipal
Extrema - MG Projeto Conservador das Águas (Lei 2.100/2005)
Montes Claros -MG Política de Ecocrédito (Lei 3.545/2006)
Itabira - MG Política de Ecocrédito (Lei 4.069/2007)
Relevante para
Água Carbono Biodiversidade
248 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Considerações finais
Considerando os gargalos para a implantação dem ser usadas para apoiar políticas de prevenção
de sistemas de PSA, é preciso promover o desen- e adaptação às mudanças climáticas para preven-
volvimento de capacidades técnicas das entidades ção de riscos de deslizamentos e inundações.
interessadas na elaboração e execução de projetos É vital que as iniciativas de PSA estejam em
de PSA, pois acredita-se que o sucesso e a dissemi- consonância com as políticas de planejamento ter-
nação das iniciativas em curso possam ser garan- ritorial do uso da terra, baseados na conservação
tidos através de um processo abrangente de capa- dos ecossistemas e dos serviços ambientais, sob a
citação e troca de conhecimentos. Nesse contexto, perspectiva ecorregional de corredores ecológicos.
recomenda-se a criação de uma rede de atores re- Os esforços empreendidos pelos projetos de PSA
levantes na elaboração e implantação de projetos deveriam assegurar a restauração de funções de
de PSA, bem como o apoio técnico às iniciativas ao conectividade associadas aos corredores, potencia-
longo do seu processo de implantação. lizando os efeitos benéficos das ações.
Os custos, que incluem tanto os investimentos Ademais, é de extrema importância que as ini-
em atividades de campo, quanto os custos de tran- ciativas envolvam as populações locais, conside-
sação relacionados à elaboração e gestão de projetos rem os aspectos culturais das regiões onde são im-
de PSA, são limitantes para o ganho de escala dos plantadas com a perspectiva de fortaler os sistemas
sistemas. É importante avançar com a diversifica- de governança locais. O foco final das políticas de
ção das fontes de financiamento dos projetos, assim PSA deve ser a melhoria da qualidade de vida das
como com o desenvolvimento de sistemas de PSA populações provedoras dos serviços ambientais ao
que sejam mais padronizados, mais baratos e cujas reconhecer o valor de suas ações para o bem-estar
atividades em campo propiciem ganhos econômi- da sociedade.
cos para os produtores rurais. É importante, ainda, Por ser um mecanismo complexo e ainda inci-
avançar nas análises para verificar se o instrumento piente em sua aplicação, falta compreensão sobre os
atingirá os objetivos ambientais a custos viáveis. conceitos chave e metodologias de implementação
As pesquisas sobre as consequências ecológicas de projetos de PSA (elaboração, execução e monito-
e econômicas relacionadas à perda da biodiversi- ramento de serviços ambientais). Esta lacuna deve-
dade têm grande potencial para sensibilização da rá ser preenchida durante o processo de implemen-
sociedade e dos tomadores de decisão. Portanto, tação das iniciativas em curso na Mata Atlântica.
elas devem ser apoiadas para ressaltar a importân- O número de iniciativas de PSA cresce con-
cia das atividades de conservação. tinuamente e já há muitas lições aprendidas que
Devido ao alto nível de fragmentação da Mata precisam e merecem ser compartilhadas para que
Atlântica, é importante conciliar atividades de PSA o processo de alavancagem e replicação tenham
às políticas de planejamento territorial baseadas sucesso. No entanto, o intercâmbio de informações
em áreas prioritárias para a conservação. As inicia- ainda é insuficiente e falta sistematização daquelas
tivas de PSA podem promover fortes sinergias com existentes, que evidencie os conhecimentos adqui-
estas políticas, por exemplo, atividades de PSA po- ridos pelas experiências.
O PSA na Mata Atlântica: Estado da Arte, Desafios e Recomendações 249
Arcabouço Legal
A maior parte dos projetos de PSA existentes ços ambientais no âmbito da iniciativa privada, não
atualmente no Brasil e, principalmente na Mata necessitam de normas legais específicas, bastando
Atlântica, envolve pagamentos no âmbito de polí- para tanto os dispositivos contratuais e a observa-
ticas públicas de incentivo à manutenção dos ser- ção da legislação vigente (ambiental, trabalhista,
viços ambientais. Fundamentais para o processo de tributária etc.).
implementação em escala de esquemas de PSA em A seguir serão sistematizados os dispositivos
todo o país, normas legais específicas vêm sendo normativos, legislações relacionadas, assim como
desenvolvidas e propostas em todos os níveis de dispositivos de financiamento relevantes para
governo. a implementação de projetos de PSA na Mata
No âmbito federal, discute-se a Política Nacio- Atlântica.
nal de Pagamentos por Serviços Ambientais, por
meio do substitutivo ao Projeto de Lei nº 792/2007 Dispositivos Normativos
e seus apensos, que visa instituir esta política assim relevantes ao PSA
como o Programa Federal de Pagamento por Ser-
viços Ambientais. Há diversos instrumentos legais atualmente
A ausência de uma política federal de PSA não relevantes para a implementação de iniciativas de
impediu que outros entes federados antecipassem PSA nos níveis nacional, estadual e municipal. Es-
suas próprias políticas de PSA, especialmente no tes instrumentos serão resumidos a seguir.
que tange ao serviço ambiental de proteção dos É importante notar que outros estados brasilei-
recursos hídricos. Neste contexto, a definição da ros, como o Amazonas, avançaram muito em sua
Política Nacional dos Recursos Hídricos, de 1997, legislação de PSA. Ele já tem um amplo programa
que instituiu a cobrança pelo uso da água, assim governamental na área, o Bolsa Floresta. Neste es-
como a criação da Agência Nacional de Águas tudo são listadas apenas as legislações relevantes
(ANA), em 2000, deram impulsos decisivos para para a Mata Atlântica.
que estados como Espírito Santo, Minas Gerais,
São Paulo e Amazonas, assim como vários municí- A Política Nacional dos Serviços
pios, criassem suas próprias normas e começassem Ambientais – Projeto de Lei 792/2007
a implantação de programas de PSA. Outros esta-
dos e municípios normatizaram, ou estão norma- Em nível federal, está sendo discutido o subs-
tizando, o PSA no âmbito de suas políticas de mi- titutivo ao Projeto de Lei (PL) 792/2007 e seus
tigação e adaptação às mudanças climáticas, como apensos, que visa instituir a Política Nacional dos
por exemplo, Amazonas, Acre, Pernambuco ou o Serviços Ambientais, o Programa Federal de Paga-
estado e o município de São Paulo. mento por Serviços Ambientais, o Fundo Federal
Projetos de PSA, que envolvem transações vo- de Pagamentos por Serviços Ambientais e o Ca-
luntárias entre provedores e compradores de servi- dastro Nacional de Pagamentos por Serviços Am-
254 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
bientais. Este PL é discutido nas Comissões Temá- V - vedação à conversão das áreas florestais in-
ticas da Câmara dos Deputados, onde tramita. Em cluídas no Subprograma Floresta para uso agrícola
2010, foi aprovado pelas Comissão de Agricultura, ou pecuário.
Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural O Subprograma RPPN (Reserva Particular do
(CAPADR) e de Meio Ambiente e Desenvolvimen- Patrimônio Natural) visa incentivar os proprietá-
to Sustentável (CMADS). No início de 2011, estava rios a criarem tais UCs. São previstos pagamentos
sendo discutido no âmbito da Comissão de Finan- para serviços ambientais de propriedades com até
ças e Tributação (CFT)2. quatro módulos fiscais, que sejam reconhecidas
O substitutivo congrega uma série de pro- pelo órgão ambiental federal competente, excluí-
postas que vêm sendo apresentadas desde 2007, das as áreas de RL, de APP, bem como as áreas des-
visando regulamentar os procedimentos de PSA. tinadas para servidão florestal (PL 5.487/2009, Art.
Entre estas, o PL 5.487/2009 é o que melhor sis- 8º). Este subprograma tem como diretrizes a ma-
tematiza a matéria, consolidando aspectos das nutenção ou recuperação de área de extrema rele-
propostas anteriores. O PL contém os seguintes vância para fins de conservação da biodiversidade
elementos: e a formação e melhoria de corredores ecológicos
tFTUBCFMFDFDPODFJUPT
PCKFUJWPTFEJSFUSJ[FTEB entre UCs de proteção integral.
Política Nacional de Pagamento por Serviços Am- O Subprograma Água trata da questão da
bientais (PNPSA); segurança hídrica, visando ações de pagamento
t DSJB P 1SPHSBNB 'FEFSBM EF 1BHBNFOUP QPS aos ocupantes regulares de áreas de até quatro
Serviços Ambientais (ProPSA); módulos fiscais, situadas em bacias hidrográfi-
tDSJBP'VOEP'FEFSBMEF1BHBNFOUPQPS4FSWJ- cas de baixa disponibilidade e qualidade hídrica
ços Ambientais (FunPSA); (PL 5.487/2009, Art. 9º). O Subprograma Água
tDSJBP$BEBTUSP/BDJPOBMEF1BHBNFOUPQPS poderá receber recursos oriundos da cobrança
Serviços Ambientais; pelo uso dos recursos hídricos, de que trata a Lei
tEJTQÜFTPCSFPTDPOUSBUPTEF14" 9.433/97, para garantir a autonomia financeira
O ProPSA será operacionalizado através de três dos projetos de PSA. Constituem prioridades do
subprogramas: Floresta, RPPN e Água. subprograma:
O Subprograma Floresta visa gerir ações de I - as bacias ou sub-bacias abastecedoras de sis-
pagamento aos povos e comunidades tradicionais, temas públicos de fornecimento de água para con-
povos indígenas, assentados de reforma agrária e sumo humano ou contribuintes de reservatórios;
agricultores familiares (PL 5.487/2009, Art. 7º) e II - a diminuição de processos erosivos, redu-
tem as seguintes diretrizes: ção de sedimentação, aumento da infiltração de
I - reflorestamento de áreas degradadas; água no solo, melhoria da qualidade e quantidade
II - conservação da biodiversidade em áreas de água, constância do regime de vazão e diminui-
prioritárias; ção da poluição;
III - preservação da beleza cênica relacionada III - as bacias com déficit de cobertura vegetal
ao desenvolvimento da cultura e do turismo; em áreas de preservação permanentes;
IV - formação e melhoria de corredores ecoló- IV - as bacias hidrográficas onde estejam im-
gicos entre áreas prioritárias para conservação da plementados os instrumentos de gestão previstos
biodiversidade; na Lei 9.433/1997.
Anexos 255
do país. A segunda bacia federal onde a cobrança Espírito Santo – Lei 8.995/2008 –
pelo uso da água teve início foi a Bacia Hidrográfi- Programa de PSA
ca dos Rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ), em
2006. Além das bacias de âmbito federal, ou seja, Primeira Lei Estadual a tratar diretamente do
aquelas que se estendem por mais de um estado estabelecimento de uma política estadual de PSA,
da Federação, também as bacias de âmbito estadu- foi a capixaba, que instituiu o Programa de Paga-
al iniciaram o processo de cobrança. O estado do mento por Serviços Ambientais, direcionado ao
Rio de Janeiro implantou inicialmente a cobrança proprietário de área rural que destinar parte de sua
apenas nas águas fluminenses da bacia do Paraíba propriedade para fins de preservação e conserva-
do Sul, em 2004, e com a aprovação da Lei Esta- ção da cobertura florestal, com objetivo de, entre
dual 4.247/2003, estendeu a cobrança para as de- outros, conservar e melhorar a qualidade e dispo-
mais bacias fluminenses, tais como o rio Guandu nibilidade hídrica. O valor máximo estabelecido
e outras localizadas no estado. Em de São Paulo, o para o pagamento é de 510 Valores de Referência
Projeto de Lei foi aprovado em 2005, e a cobrança do Tesouro Estadual - VRTEs, por hectare por ano,
estadual teve início no ano de 2007, nas águas pau- e o contrato terá o prazo mínimo de dois anos e
listas do PCJ e Paraíba do Sul. máximo de 10 anos.
No caso dos Comitês de Bacia, cuja missão, es- A lei estabelece que o Banco de Desenvolvi-
tabelecida pela Política Nacional de Recursos Hí- mento do Espírito Santo (BANDES) será o agente
dricos, é assegurar a saúde e o bom funcionamen- financeiro do PSA e os pagamentos serão custea-
to das bacias hidrográficas, o principal desafio na dos por recursos oriundos: I- do Fundo Estadual
implementação de esquemas de PSA, é demonstrar de Recursos Hídricos do Espírito Santo - FUN-
que a proteção e a recuperação de florestas nativas DÁGUA; II- de transferências ou doações de pes-
têm importância para assegurar esta missão e des- soas físicas e/ou jurídicas de direito público e/ou
ta forma, garantir que dentro de cada comitê haja privado; III- de agentes financiadores nacionais e
recursos para a implantação de programas per- internacionais; IV - outros destinados a este fim
manentes de PSA, em nível de bacia, gerados pela por meio de lei.
cobrança, através da implantação do princípio do O FUNDÁGUA foi criado através da Lei
provedor-recebedor (Veiga Neto, 2008). 8.960/2008, destinado à captação e à aplicação
de recursos, como um dos instrumentos da Po-
lítica Estadual de Recursos Hídricos, de modo a
dar suporte financeiro e auxiliar a implementa-
ção desta, vinculado à Secretaria de Estado de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEAMA.
Uma das principais fontes de recursos do FUN-
DÁGUA são as compensações financeiras con-
tabilizadas pelo estado do Espírito Santo, sendo
direcionados ao FUNDÁGUA 3% dos royalties
de petróleo e gás e 100% das compensações pa-
gas pelo setor hidrelétrico. É através dos recursos
do FUNDÁGUA, que o Programa de PSA do Es-
258 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
pírito Santo, o ProdutorES de Água, vem sendo restais (PRF) que é parte da Política Estadual de
implementado. Mudanças Climáticas (PEMC) instituída pela Lei
Estadual 13.798, de 9 de novembro de 2009. Este
Minas Gerais – Lei 17.727/2008 e programa relaciona as agendas de mudanças cli-
Decreto 45.113/2009 – Programa Bolsa máticas e conservação da biodiversidade e da água.
Verde O Decreto Estadual 55.947, de 24 de junho de
2010, que regulamenta a PEMC, estabeleceu as
A Lei 17.727/08 estabelece o Programa Bolsa diretrizes, condições, requisitos e demais normas
Verde, que cria o incentivo financeiro a proprietá- para os projetos de PSA. Dentre os dispositivos do
rios e posseiros rurais que efetuem ações de recupe- decreto, destaca-se um artigo que estabelece que
ração, preservação e conservação, de: I) áreas neces- os projetos de PSA serão definidos em Resoluções
sárias à proteção das formações ciliares e à recarga do Secretário do Meio Ambiente. Esta formulação
de aquíferos; II) áreas necessárias à proteção da bio- possibilita que sejam instituídos projetos de PSA
diversidade e ecossistemas especialmente sensíveis. “customizados” para áreas definidas (bacias hidro-
Têm prioridade para o recebimento do pagamento, gráficas, zonas de amortecimento de unidades de
agricultores familiares e produtores rurais cuja pro- conservação, etc.) e/ou serviços ambientais espe-
priedade ou posse tenha área de até quatro módu- cíficos (conservação da biodiversidade e da água),
los fiscais, mas a lei prevê a extensão progressiva a observadas as diretrizes, requisitos e condições ge-
todos os proprietários e posseiros rurais do estado, rais definidos na lei e no decreto.
observadas as disponibilidades financeiras. O quadro legal relativo ao PSA foi complemen-
Além de recursos orçamentários, o programa tado pela edição da Lei 14.350, de 22/2/2011, que
conta com 10% dos recursos do Fundo de Recupe- alterou a Lei Estadual 11.160/2002 de criação do
ração, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Polui-
Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais ção (FECOP), definido como instrumento para a
(FHIDRO), abastecido por recursos oriundos das gestão financeira para o PSA. Com a alteração, tor-
compensações do setor elétrico ao estado. O Con- nou-se possível que o FECOP realize pagamentos
selho Estadual de Política Ambiental (COPAM), não reembolsáveis para pessoas físicas e pessoas
por meio da Câmara de Proteção à Biodiversidade jurídicas de direito privado no caso de projetos de
(CPB), tem a competência de analisar e aprovar o PSA, o que não ocorria anteriormente.
programa anual de execução do Programa Bolsa
Verde. O Decreto 45.113/2009 regulamenta e esta- Santa Catarina – Lei 15.133/2010
belece os princípios do Programa Bolsa Verde.
No início de 2010, foi aprovada a Lei Estadual
São Paulo - Lei 13.798/2009 - Política 15.133/10, que institui a Política Estadual de Servi-
Estadual de Mudanças Climáticas e ços Ambientais e regulamenta o Programa Estadu-
Decreto 55.947/2010 al de Pagamentos por Serviços Ambientais (PEP-
SA), no estado de Santa Catarina.
O Pagamento por Serviços Ambientais no O Programa Estadual é composto por três sub-
Estado de São Paulo foi instituído como um dos programas: I) Unidades de Conservação; II) For-
instrumentos do Programa de Remanescentes Flo- mações Vegetais; III) Água. O valor de referência
Anexos 259
definindo os serviços ambientais como: “serviços ros a delimitar dentro de suas propriedades áreas
proporcionados pela natureza à sociedade, decor- de preservação ambiental, destinadas à conserva-
rentes da presença de vegetação, biodiversidade, ção da biodiversidade. O produtor rural que decla-
permeabilidade do solo, estabilização do clima, rar essa área como de preservação ambiental tem
água limpa, entre outros”. Na mesma lei, o Art. 9° um incentivo do governo municipal, o Ecocrédito,
propõe incorporar o PSA como forma de incentivar equivalente a cinco UPFs (Unidade Padrão Fiscal)
proprietários particulares a preservarem remanes- por hectare/ano, que pode ser utilizado para o pa-
centes de floresta, além de um sistema de PSA, que gamento de tarifas municipais e acabou virando
deverá ser regulamentado uma vez aprovada a lei. uma espécie de moeda local.
A Lei Municipal de Extrema pode ser conside- O Ecocrédito foi também implementado no
rada como a grande iniciativa pioneira em termos município de Itabira, onde tem por objetivo incen-
de legislação de PSA no país, não somente no âm- tivar os produtores rurais a delimitarem, dentro de
bito municipal, mas como referência para todos os suas propriedades, áreas de preservação ambiental
outros níveis de governo. A Lei Municipal cria o destinadas à conservação da biodiversidade e dos
Projeto Conservador das Águas no molde do pro- recursos hídricos.
grama concebido pela Agência Nacional de Águas
(ANA), e autoriza o Executivo a prestar apoio fi- Município de Campo Grande, MS –
nanceiro aos proprietários rurais. Sua grande novi- Decreto 11.303/2010
dade foi exatamente criar a possibilidade do repas-
se de recursos financeiros aos produtores rurais, O Programa Manancial Vivo (Decreto
desde que os mesmos adotem as práticas de restau- 11.303/2010) é uma experiência piloto de PSA rea-
ração e conservação florestal, conservação de solo lizada nas Áreas de Proteção Ambiental do Guari-
e saneamento rural preconizadas pelo projeto. roba e Lajeado, localizadas no município de Cam-
A lei também estabelece o valor de referência po Grande. As Bacias Hidrográficas do Guariroba
para os pagamentos em 100 Unidades Fiscais do e Lajeado, escolhidas por serem importantes ma-
Município de Extrema e prevê que os contratos te- nanciais de abastecimento público do município de
rão a duração de pelo menos quatro anos. Os pri- Campo Grande, fornecem aproximadamente 51%
meiros pagamentos aos produtores rurais começa- da água do município de 385.100 habitantes.
ram a ser realizados a partir de fevereiro de 2007. O Programa Manancial Vivo segue as diretrizes
e conceitos do Programa Produtor de Água desen-
Município de Montes Claros, MG – Lei volvido pela ANA, que é um programa voluntário
3.545/2006 de restauração do potencial hídrico e do controle
da poluição difusa no meio rural. Prevê pagamen-
Outra modalidade de PSA é o conceito de “Eco- tos aos produtores rurais que, por meio de práticas
crédito”. O Ecocrédito tem por objetivo incentivar de manejo conservacionistas e da melhoria na dis-
os produtores rurais do município de Montes Cla- tribuição da cobertura de vegetação nativa na pai-
Anexos 261
para cada um deles, tais como: existência de unida- de área sob regime de servidão florestal ou Reserva
des de conservação, ocorrência de mananciais para Legal, ou mediante a aquisição de cotas de reserva
abastecimento público, gestão de resíduos sólidos, florestal. Ao estabelecer sistemas de compensação
tratamento de esgoto, preservação do patrimônio e permitir mecanismos flexíveis de instituir e con-
histórico, terras indígenas etc. Atualmente, 14 es- servar a RL, a norma legal possibilita o surgimento
tados estão implementando o ICMS-Ecológico. de oferta e demanda por áreas de vegetação nati-
Somente em Minas Gerais, 494 municípios se be- va protegidas, podendo estimular o surgimento de
neficiam dos repasses deste instrumento. sistemas de PSA.
Dispositivos de financiamento
Abaixo, segue um breve descritivo de alguns da União, dos estados e dos municípios para a exe-
dispositivos estaduais, regionais e municipais para cução de planos, programas, atividades e ações de
o potencial financiamento dos esquemas de PSA interesse do controle, preservação e melhoria das
nas regiões de interesse deste estudo. Alguns deles condições do meio ambiente no estado. O Artigo
já participam dos esquemas em curso, conforme 10°, alínea VI e VII estabelece que aplicações do
menção nas iniciativas: FECOP a fundo perdido podem ser aplicadas em
projetos de recuperação da biodiversidade; de re-
FHIDRO - Fundo de Recuperação, vegetação de nascentes ou áreas de preservação
Proteção e Desenvolvimento permanente; e de recuperação de córregos urba-
Sustentável das Bacias Hidrográficas nos. A edição da Lei 14.350 de 22/2/2011, que al-
do Estado de Minas Gerais terou a Lei Estadual 11.160/2002, tornou possível
A Lei 13.194/1999 cria o Fundo de Recupera- que o FECOP realize pagamentos não reembolsá-
ção, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das veis para pessoas físicas e pessoas jurídicas de di-
Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais e reito privado no caso de projetos de PSA, o que não
dá outras providências. ocorria anteriormente.
Anexo II
Tabela 1: Métodos de valoração econômica e exemplos de aplicação
Método
Preço de mercado
Custos evitados
Custos de viagem
Preferências reveladas
Preços hedônicos
Valoração contingente
Valoração simulada
Modelagem de escolha
Valoração em grupo
Exemplo de aplicação
Aplicável principalmente aos “bens” (por exemplo peixe ou madeira) ou mas também a serviços culturais (como lazer).
O valor do serviço de controle de enchentes pode ser derivado dos danos estimados caso a enchente ocorresse.
O valor da recarga do lençol freático pode ser estimado a partir dos custos de obtenção de água de outras fontes.
Os benefícios dos serviços de regulação fornecidos por zonas úmidas podem ser estimados calculando os custos de
investimento necessários para prevenir enchentes na sua ausência.
O valor do serviço ambiental é estimado pela sua contribuição como insumo ou fator de produção de um outro produto:
por exemplo, a contribuição da fertilidade do solo à produção e, com isso, à renda do produtor.
Uma parte do valor de lazer atribuído pelas pessoas a uma localidade ou paisagem se reflete no montante de tempo e
dinheiro que as pessoas gastam com a viagem para visitar este lugar.
O valor da beleza cênica pode ser estimado ao identificar quanto ter uma bela vista aumenta o preço de um imóvel.
Freqüentemente a única maneira de se estimar valores de não-uso. A aplicação de questionários pode levantar a
disposição a pagar dos usuários pela preservação das amenidades ambientais ou pela melhoria de um serviço: por
exemplo, a melhoria da qualidade de água para possibilitar a pesca e o banho num rio.
Aplicável através de diferentes métodos: experimentos de escolha, classificação de contingências, comparação de pares.
Estimativas de valoração obtidas em grupo e baseadas nos princípios da democracia deliberativa e na suposição de que
decisões públicas devem resultar do debate e de consensos entre atores sociais, e não da agregação de preferências
individuais medidas separadamente.
268 Pagamento por Serviços Ambientais na Mata Atlântica - Lições aprendidas e desafios
Realização