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Joana Monteiro*
Setembro de 2013
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1. INTRODUÇÃO
em casa cuidando dos filhos de inativas porque são inativas no mercado de trabalho e não estudam, e
não porque não exercem qualquer tipo de trabalho.
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mas entre os jovens como um todo, indicando que o aumento da escolaridade traz
novos desafios.
A seção a seguir detalha os resultados encontrados.
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A população economicamente ativa inclui todas as pessoas com mais de 10 anos que participam do
mercado do trabalho, seja trabalhando ou procurando emprego.
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Figura 1 - Evolução da População Jovem de 19 a 24 anos por ocupação
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Chama atenção, entretanto, a evolução desses números como mostram a Tabela 2 e
a Figura 2. Houve no período uma forte queda do número de mulheres com filhos que
estão na condição nem-nem, que saiu de 1,94 para 1,44 milhões de mulheres. Em
termos percentuais, a taxa de inatividade entre mulheres com filhos caiu de 46% para
43%. Essa queda é resultado de dois efeitos. Primeiro, as mulheres de forma geral
passaram a ter filhos mais tarde e em menor número. O número de mulheres com
filhos nessa faixa etária caiu de 4,2 milhões de mulheres para 3,4 milhões e a taxa de
fecundidade nessa faixa etária caiu de 0,7 filhos por mulher para 0,5. O segundo fator
foi o aumento no percentual de mulheres com filho que participam do mercado de
trabalho, que saiu de 42% para 46% entre 2001 e 2011,
Figura 2 - Evolução da população nem-nem por gênero (milhões)
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A Tabela 3 mostra que a baixa escolaridade é outra característica marcante dos
jovens na condição nem-nem. Um milhão dos 3,2 milhões de jovens na condição nem-
nem tem ensino fundamental incompleto. Entretanto, a representação desse grupo de
baixa escolaridade caiu fortemente ao longo da década de 2000. Os jovens com
fundamental incompleto correspondiam a 60% dos jovens na condição nem-nem em
2001 e passaram a representar 32% em 2011.
Tabela 3 – Evolução da população jovem total e Nem-Nem por nível de ensino
Fundamental 7,82 3,61 40% 19% 2,03 1,02 26% 28% -6,02 0,98 -5,03
Incompleto
Fundamental 2,01 2,01 10% 10% 0,38 0,44 19% 22% 0,05 0,31 0,36
Completo
Ensino Médio 2,51 2,43 13% 13% 0,22 0,34 9% 14% -0,02 0,66 0,64
Incompleto
5,16 7,63 26% 40% 0,73 1,26 14% 17% 2,23 0,63 2,86
Ensino Médio
Ensino 2,08 3,51 11% 18% 0,06 0,15 3% 4% 0,32 0,15 0,47
Superior
Fonte: Elaboração própria com dados da PNAD/IBGE de 2001 e 2011.
Nota: Os níveis de ensino listados foram computados com base nos anos de estudo
indicados na PNAD seguindo a seguinte regra: fundamental incompleto (até 8 anos de
estudo), fundamental completo (8 anos), ensino médio incompleto (9 a 10 anos),
médio completo (11 anos) e ensino superior (12 ou mais).
A decomposição do percentual de jovens na condição nem-nem por grupo de
escolaridade revela que todos os grupos educacionais apresentaram aumento do
percentual de jovens na condição nem-nem. Como é possível então explicar que o
percentual de jovens na condição nem-nem permaneceu estável ao longo da década
de 2000? O que explica é que houve no período um notável avanço da escolaridade
dessa população, que pode ser visualizado na Figura 3. O número de jovens com
ensino médio completo aumentou 48% em 10 anos, saltando de 5,16 milhões em 2001
para 7,63 milhões em 2011. O acesso ao ensino superior também aumentou de forma
expressiva, passando de 2,1 milhões de jovens com ensino superior completo ou
incompleto em 2001 para 3,5 milhões em 2011. Como resultado, os jovens com ensino
médio completo passaram a representar 40% da população jovem do Brasil, enquanto
os jovens que cursaram pelo menos parte do ensino superior atingiram 18% dessa
população. Ao mesmo tempo, o número de jovens com ensino fundamental incompleto
passou de 40% da população de jovens para 19% entre 2001 e 20114.
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Para uma maior discussão da escolaridade, ver INSPER (2003).
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Figura 3 – Evolução da escolaridade dos jovens brasileiros
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Entretanto, como as mulheres são bem mais educadas que os homens, esses elevados níveis de
inatividade entre mulheres pouco educadas pesam pouco na taxa total.
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Tabela 4 – Evolução da População Jovem Total e Nem-nem por Nível de Ensino e Gênero
Participação da
Participação dos Efeito- Variação
População Jovem população jovem População Jovem Efeito-
jovens Nem-Nem composi 2001-
por grupo na população Nem-Nem nível
na população total ção 2011 (em
total
pp)
2001 2011 2001 2011 2001 2011 2001 2011
Total 19,58 19,18 3,42 3,21 -0,7
Homens 9,62 9,53 49% 50% 0,64 0,83 7% 9%
Fundamental Incompleto 4,25 2,16 22% 11% 0,39 0,31 9% 14% -1,22 0,84 -0,38
Fundamental Completo 1,04 1,15 5% 6% 0,06 0,10 6% 9% 0,05 0,16 0,21
Ensino Médio Incompleto 1,22 1,29 6% 7% 0,04 0,08 3% 6% 0,02 0,18 0,20
Ensino Médio 2,26 3,48 12% 18% 0,14 0,29 6% 8% 0,48 0,32 0,80
Ensino Superior 0,85 1,45 4% 8% 0,01 0,05 2% 4% 0,09 0,12 0,21
Mulheres sem filhos 5,74 6,27 29% 33% 0,84 0,95 15% 15%
Fundamental Incompleto 1,16 0,47 6% 2% 0,35 0,18 30% 39% -1,21 0,35 -0,85
Fundamental Completo 0,45 0,34 2% 2% 0,09 0,09 20% 26% -0,12 0,13 0,01
Ensino Médio Incompleto 0,87 0,61 4% 3% 0,05 0,06 6% 11% -0,10 0,18 0,08
Ensino Médio 2,20 3,00 11% 16% 0,33 0,55 15% 18% 0,73 0,45 1,18
Ensino Superior 1,06 1,86 5% 10% 0,02 0,06 2% 3% 0,12 0,10 0,22
Mulheres com filhos 4,22 3,38 22% 18% 1,94 1,44 46% 43%
Fundamental Incompleto 2,41 0,97 12% 5% 1,29 0,54 54% 55% -3,93 0,13 -3,80
Fundamental Completo 0,52 0,52 3% 3% 0,23 0,25 45% 49% 0,03 0,11 0,14
Ensino Médio Incompleto 0,41 0,53 2% 3% 0,13 0,20 32% 37% 0,23 0,13 0,36
Ensino Médio 0,70 1,15 4% 6% 0,26 0,43 38% 37% 0,90 -0,02 0,88
Ensino Superior 0,17 0,20 1% 1% 0,02 0,03 12% 14% 0,02 0,02 0,04
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Os quintis dividem os domicílios em cinco grupos de acordo com sua posição na distribuição de renda.
O quintil 1 de renda inclui os domicílios 20% mais pobres conforme a renda domiciliar mensal per capita.
O quintil 2 inclui domicílios que estão entre os 20% e os 40% mais pobres seguindo o mesmo critério. O
quintil 3 inclui domicílios que estão entre os 40% e os 60% mais pobres, o quintil 4 os domicílios que
estão entre os 60% e 80% mais pobres e o quintil 5 inclui os domicílios 20% mais ricos.
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Figura 4 – Ocupação dos jovens por quintil de renda (2011)
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3. ANÁLISE ESTATÍSTICA
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A PNAD não permite a identificação da renda proveniente do programa Bolsa Família. Essa renda é
incluída na variável ‘outras rendas’, que inclui ainda outros programas sociais, juros e dividendos.
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Outro resultado que merece destaque é a influência da idade e quantidade de filhos na
condição de nem-nem entre as mulheres. O fator que mais contribui para a condição
nem-nem entre as mulheres é ter um bebê. Ter um bebê está associado a um
aumento de 23 pontos percentuais na chance de estar na condição nem-nem. De
outra forma, ter um bebê em casa dobra a chance de uma mulher estar na condição
nem-nem8. O coeficiente negativo associado à idade do filho caçula indica que quanto
mais velho é o filho mais novo, maior a chance da mulher ser ativa no mercado de
trabalho ou estudar. Em particular, cada ano a mais de idade do filho mais novo
aumenta em 1,7 pontos percentuais a chance da mulher não estar na condição nem-
nem. Por fim, chama atenção que mulheres que tiveram filho quando tinham menos de
18 anos têm menor chance de estarem na condição nem-nem hoje, o que contraria a
ideia de que a condição nem-nem está associada ao abandono definitivo dos estudos
e do trabalho por causa da gravidez precoce.
8 Esse cálculo considera que a diferença na taxa de inatividade das mulheres com filhos (45%) e as sem
filhos (15%) é de 27 pontos percentuais. O exercício indica que a contribuição da presença de um bebê
na taxa de inatividade é de 17 pontos percentuais ou dois-terços dessas diferenças.
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Tabela 5 – Efeito de características individuais e domiciliares na probabilidade de um
jovem estar na condição nem-nem.
Homens
Mulheres
Amostra: Todos Homens pouco Mulheres
com filhos
escolarizados
Variável dependente: Variável indicadora para condição Nem-Nem
(1) (2) (3) (4) (6)
Características individuais:
homem -0.174
(0.002)***
Anos de estudo -0.021 -0.010 -0.038 -0.027 -0.023
(0.000)*** (0.000)*** (0.002)*** (0.001)*** (0.001)***
Migrante -0.004 -0.009 -0.005 -0.002 0.009
(0.002)*** (0.002)*** (0.007) (0.003) (0.005)*
Negro ou pardo -0.002 -0.004 -0.017 -0.003 -0.017
(0.002) (0.002)* (0.007)** (0.003) (0.005)***
Idade 0.001 -0.001 -0.006 -0.000 -0.005
(0.000)** (0.000)*** (0.002)*** (0.001) (0.002)***
Tem bebê 0.233 0.168
(filho menor que 1 ano) (0.006)*** (0.007)***
Número de filhos 0.052 0.010
(0.002)*** (0.003)***
Foi mãe na adolescência -0.015 -0.015
(tinha menos de 18 anos) (0.006)** (0.009)
Idade do filho mais novo -0.017
(0.002)***
Características domiciliares:
Presença da mãe no domicílio -0.046 0.042 0.108 -0.071 -0.112
(0.002)*** (0.002)*** (0.006)*** (0.003)*** (0.005)***
Razão crianças/adultos -0.082 -0.031 -0.115 -0.137 -0.135
(0.005)*** (0.005)*** (0.016)*** (0.008)*** (0.017)***
Renda trabalho -0.030 -0.017 -0.141 -0.031 -0.109
(R$ 1000 domiciliar mensal per capita) (0.002)*** (0.001)*** (0.024)*** (0.003)*** (0.013)***
Renda aposentadoria -0.015 -0.020 -0.586 0.002 -0.126
(R$ 1000 domiciliar mensal per capita) (0.014) (0.010)** (0.118)*** (0.026) (0.107)
Renda aluguel 0.010 0.010 -0.517 0.002 0.071
(R$ 1000 domiciliar mensal per capita) (0.004)** (0.005)** (0.268)* (0.007) (0.058)
Renda doações -0.038 0.031 0.576 -0.051 -0.026
(R$ 1000 domiciliar mensal per capita) (0.005)*** (0.008)*** (0.153)*** (0.007)*** (0.071)
Outras rendas 0.119 0.123 0.359 0.123 0.230
(R$ 1000 domiciliar mensal per capita) (0.017)*** (0.023)*** (0.115)*** (0.025)*** (0.081)***
Observações 255,848 127,304 16,499 128,544 48,717
R2 0.116 0.030 0.094 0.173 0.115
Fonte: Elaboração própria com dados da PNAD/IBGE de 2005 a 2011. Além dos
regressores listados, as regressões incluem variáveis indicadoras de ano. Erros-
padrão entre parênteses.
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4. DISCUSSÃO
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Os números apresentados neste artigo são um pouco diferentes dos apresentados por Cárdenas, Hoyos
e Székely (2011) porque este último inclui entre os jovens na condição nem-nem aqueles que só
procuram emprego. Este estudo não classifica os jovens que procuram emprego como em-nem visto que
eles, por definição, são parte da população economicamente ativa (PEA).
10
Carvalho e Soares (2013) mostram que a baixa escolaridade e a não frequência à escola estão
associados com o envolvimento de jovens no tráfico de drogas no Rio de Janeiro.
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Figura 6 – Percentual de Jovens de 19 a 24 anos que não trabalham e não estudam
Outro dado preocupante é que a taxa de inatividade tem crescido entre os homens e
mulheres sem filho. Esse aumento de inatividade entre os homens é mais forte para o
grupo menos escolarizado, onde o percentual de jovens na condição nem-nem passou
de 9% dessa população para 14%. Mas, de forma geral, a participação de jovens
homens na condição nem-nem aumentou em todos os grupos educacionais. Esse fato,
associado ao expressivo aumento de escolaridade ocorrido nos anos 2000, indica que
os homens que estudam pouco estão encontrando cada vez mais dificuldades de se
inserir no mercado de trabalho. Tal indicação é reforçada pelo estudo de Menezes et
al (2013) que mostra que jovens com fundamental incompleto têm maior chance de se
tornarem inativos e passarem mais tempo nessa situação.
Em relação às mulheres com filho, embora elas ainda tenham níveis de inatividade
muito altos (43% em 2011), sua participação no mercado de trabalho vem
aumentando, ao mesmo tempo que seu peso na população vem caindo devido à
queda da fecundidade. Não é objetivo desse artigo entender porque essas mulheres
não trabalham ou estudam, mas os resultados da Tabela 5 dão algumas indicações.
Não há evidência de que a gravidez precoce aumente as chances de uma jovem estar
na condição nem-nem nessa faixa etária. Por outro lado, a forte associação entre ter
um filho com menos de um ano (bebê) e estar na condição nem-nem sugere que a
pequena oferta de creches públicas é um fator importante. Isso é reforçado por uma
análise, não apresentada, que leva em conta a interação entre pobreza e a idade do
14
filho. Mulheres que têm um bebê e são pobres11 têm 10 pontos percentuais a mais de
chance de estar na condição nem-nem do que mulheres que têm um bebê e não são
pobres. Entretanto, isso pode ser explicado tanto pela falta de creches públicas quanto
pelo fato de que mulheres de domicílios pobres são em geral pouco educadas e por
isso têm um custo de oportunidade menor de ficar em casa. Dessa forma, sem uma
análise específica que leve em conta outros aspectos da decisão das mulheres, não é
possível afirmar que a baixa oferta de creches públicas é o principal fator que leva as
mulheres com filhos a não trabalharem e não estudarem.
Outro grupo que merece ser analisado em mais detalhe é o dos jovens com ensino
médio completo. O percentual de jovens com ensino médio que estão na condição
nem-nem subiu de 14% para 17% entre 2001 e 2011. Embora essas taxas sejam
metade das verificadas por jovens com ensino fundamental incompleto, elas são muito
importantes uma vez que esse grupo passou a ser o mais representativo entre os
jovens. Como vimos, o forte aumento de escolaridade ocorrido nos anos 2000 levou o
número de jovens com ensino médio a sair de 5,2 para 7,6 milhões, alcançando 40%
dessa população. Esse aumento da taxa de inatividade entre os jovens com ensino
médio sugere que os mesmos estão enfrentando maiores dificuldades em continuar
estudando ou em encontrar trabalho.
Do lado da educação, fatores como dificuldade no acesso ao ensino superior,
especialmente por pessoas de baixa renda, podem explicar esses números. De acordo
com os dados do INEP, 42% das vagas no ensino superior não estavam preenchidas
em 2010, sendo a quase totalidade dessas vagas em universidades privadas. Isso
sugere que restrições na demanda devem explicar porque os estudantes não seguem
os estudos.
Em relação ao mercado de trabalho, a evidência indica que o problema principal
enfrentado pelo jovem não é a dificuldade em conseguir um trabalho e sim
permanecer nele. Corseuil et al (2013) mostram que os postos de trabalho
encontrados pelos jovens têm duração menor e são em firmas mais instáveis, o que
faz com que sua rotatividade no mercado de trabalho seja bem maior que a dos
adultos. Esse padrão é ainda mais acentuado para jovens de baixa escolaridade. Não
é claro, entretanto, se a maioria dos jovens nem-nem são jovens que nunca tiveram
um emprego 12 , ou são jovens que já trabalharam e que inferiram que os postos
disponíveis para eles não os interessam. Esse é um ponto que merece mais
investigação.
Por fim, outro dado aqui apresentado que chama atenção é a queda do percentual de
jovens que estuda parcial ou integralmente. Isso provavelmente é consequência de um
mercado de trabalho aquecido, que ao empregar mais gente e com melhores salários,
passou a atrair mais jovens. Esse movimento de saída do estudo para o trabalho é
problemático se os jovens que o fazem abandonam os estudos antes de completá-los
e se o caminho inverso (do trabalho para o estudo) é pouco frequente. Isso é mais um
tópico que merece estudos mais aprofundados.
11
Pobreza aqui é definida como morar em domicílios que estão entre os 40% mais pobres.
12
Vários motivos podem explicar porque jovens têm dificuldades de se inserir no mercado de trabalho,
dentre os quais eu destacaria (i) a má adequação entre as qualificações que as firmas demandam e as
que os jovens possuem e (ii) um elevado salário de reserva do jovem, que faz com que ele não esteja
disposto a trabalhar pelo salário ofertado para pessoas de sua qualificação.
15
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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