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PARIS, Robert. As Origens do Fascismo.

“Fascismo, nacionalismo e futurismo foram igualmente produtos da época


contemporânea, da sociedade industrial e, mais precisamente, do grande capital1 [...]”. O
fascismo, enquanto produto do pós-guerra, é objeto de estudo de Robert Paris em As
Origens do Fascismo (1994), publicado em 1968. Conduz seu trabalho a seguinte
questão: quais foram os responsáveis pelo aparecimento deste na Itália? As respostas
que intenta dar, todavia, se dão em meio de uma série de fatores e forças políticas que se
desenrolam nos anos anteriores a “Marcha sobre Roma”, iniciada em outubro de 1922, e
ao telegrama do rei Vitor Emanuel III que convocava Benito Mussolini para organizar o
governo (PARIS, p.85).

Para tal, o livro, dividido em duas partes, trabalha questões como a desigualdade
econômica, e social, entre o norte industrializado e sul agrário (ibid., p.21) – que se
agravam a partir de 1896 -, o recrudescimento do nacionalismo italiano (ibid., p.32), as
forças sindicais e revolucionárias (ibid., p.35), as influências literárias e culturais, com
destaque para o futurismo (ibid., p.47) e para influência de Gabriele d´Annunzio (ibid.,
p.72), a relações dos fascistas com a política institucional (ibid., p.88), e as ocupações,
como a de Fiuze (ibid., p.71), nas suas relações com a ascensão fascista em 1922.

Por sua vez, questiona as condições por meio das quais Mussolini passa de um
“retumbante fracasso eleitoral2” em 1919 à figura central da política italiana. Única
saída para a crise que se apresentava no pós-guerra. Assim, também, o faz com o
movimento fascista. Como afirma, este se entendia, inicialmente, como revolucionário e
em seu caráter populista (Ibid., p.64). Era inspirado pela experiência socialista de seus
dirigentes3, até, então, se reorientar à direita e adotar discurso que colocava Mussolini
como “[...] uma espécie de ponto geométrico [...]” (ibid., p.77) para o qual convergiam
as posições de movimentos radicais de direita e políticos liberais, como o primeiro-
ministro Giovanni Giolliti – político que apoiaria o Partido Nacional Fascista nas
eleições de 19214.

1
PARIS, 1994, p.26
2
Ibid., p.69.
3
O autor afirma que “[...] o apogeu do sindicalismo revolucionário foi quase contemporâneo à subida do
nacionalismo italiano e à ascensão de Mussolini como chefe dos “revolucionários” do Partido Socialista
Nacional” (ibid., 35). Sendo expulso do partido em novembro de 1914, Mussolini chegara a liderança do
deste atacando a guerra da Libia, em 1912, época que se torna “[...] objeto de um verdadeiro culto junto
aos jovens socialistas” (ibid., p.55)
4
Ibid., p.81.
Paris, no entanto, trabalha o fascismo italiano não como obra de Mussolini, mas
como fruto de uma intersecção de fatores que influem em sua criação e ascensão. Situa
a criação dos Fasci di combattimento em 23 de março de 1919, em uma reunião de
pouco mais de cento e cinquenta pessoas5, vinte e um dias depois da convocação feita
no jornal, ligado ao intervencionismo de esquerda6, Popolo d´Italia7. Todavia, o anti-
partido, como define Mussolini, fora criado apenas em novembro de 1921 (ibid., p.82),
sob a alcunha de Partido Nacional Fascista. Aqui podemos notar, através dos
documentos apresentados no livro de Paris8, as formas como o fascismo se adaptou a
diferentes situações e alianças políticas9 e como tais mudanças de orientação se
relacionaram com as crises internas no movimento.

Na segunda parte do livro, Paris faz um levantamento historiográfico entre


autores italianos. Aqui, o autor questiona alguns pontos destas historiográficas como o
do fascismo enquanto revolução das classes médias 10, o fascismo enquanto uma nova
burocracia (ibid., p.105) ou como “[...] um produto cujos germes fermentam em todos
os estados capitalistas11”. Então trabalha questões como a postura dos movimentos
fascistas frente ao Risorgimento (ibid., p.109), a financiamento deste por socialistas
franceses (ibid., p.112), assim como outras formas de financiamento (ibid., p.116) –
entre os quais se destaca o “[...] sistema de subscrições e de taxas extremamente
modernos [...]” – as relações entre Fascismo e Nazismo (ibid., p.121), o caráter
inconsciente (ibid., p.124) e, o qual gostaríamos de destacar, a ocupação das fábricas
como uma oportunidade das esquerdas em consolidar um revolução (ibid., p.119).

Nesta parte, o autor questiona a visão que “Até uma época bastante recente,
comunistas e anarquistas estiveram de acordo em julgar a ocupação das fábricas em
1920 como a grande oportunidade perdida do pós-guerra italiano [...]” (ibid., p.119) ao

5
Ibid., p.64. Dentre as figuras conhecidas na Itália destaca-se o futurista Marinetti.
6
Ibid., p.54, o jornal tinha disposição favorável à entrada dos italianos na Primeira Guerra.
7
Ibid., p.63. O jornal, como aponta o autor, contou com o apoio financeiro advindo de fundos
provenientes do governo francês (ibid., p.112)
8
Programa dos Fasci di combattimento (ibid., p.91), de junho de 1919, e Programa do Partido Nacional
Fascista (ibid., p.97), de dezembro de 1921.
9
Paris (p.81) aponta o discurso “manchesteriano” de Mussolini na Câmara, em 21 de junho de 1921,
como uma inflexão no discurso fascista. São apontados, também, o “[...] elogio do Estado liberal,
aspirações imperialistas, negação da luta de classes, ambiguidade sobre a questão das instituições [...]”
(ibid., p.83)
10
Na afirmação de que o “[...] o Fascismo representa pois a luta de classes da pequena burguesia, que se
enquadra entre o capitalismo e o proletariado, como um terceiro entre dois litigantes” (Ibid., p.105)
11
Turati apud. Paris, 1994, p.106. Aqui, Paris critica a ideia de que todo fascismo possa tornar-se
fascismo, afirmando que tal colocação é vazia.
afirmar uma “[...] crise da direção revolucionária12” que, mesmo em meio à serie de
greves que se instauram a partir de 1919, tais grupos não souberam direcionar esta “[...]
inegável radicalização da massa proletária13 [...]” à medida que

12
Ibid., p.73
13
Ibid., p.73

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