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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Economia Internacional II
Período letivo 2020.1

Aula 4 – Unidade III

São Luís
O período anterior à 2a. Guerra Mundial…

O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Segundo Dobb (1987; p-321), os vinte anos que separaram a


1ª. e a 2ª. Guerra Mundial testemunharam a continuação
daquelas tendências imanentes que modelaram o cenário
econômico da primeira década do novo século, só que em
nível mais adiantado e num ritmo mais acelerado.

Na década de 1920, era opinião comum que os males


econômicos da época eram resultados dos conflitos e que
passariam uma vez que a “estabilização” (restauração de
um nível “normal” de relações de preços) fosse atingida. Para
isso, bastaria restaurar a liberdade de imprensa e de
comércio.

Assim, a desorganização causada pela guerra seria


compensada estendendo-se o volume e o alcance do
comércio internacional, permitindo que as forças da
concorrência nos mercados mundiais reorganizassem a
especialização internacional.

A opinião de que os sintomas da crise eram transitórios


reforçavam-se pelo contraste entre as dificuldades da
Europa e a prosperidade norte-americana. Tal otimismo só
seria interrompido pela crise de 1929.

Curso de Ciências Econômicas


Disciplina: Economia Internacional II
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O período anterior à 2a. Guerra Mundial…

O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

De acordo com Dobb (1987; p-322), os traços principais dessa


era monopolista que vigorou entre as guerras seriam:

• Rigidez dos preços numa ampla faixa de indústrias


principais (mantendo as margens de lucros em vez de
permitir o colapso dos preços);
• Restrição da produção (em vez de restrição de custos);
• Capacidade excedente e desemprego crescentes e
mundiais (em dimensões sem precedentes).

Contradição essencial do monopólio: a concentração da


riqueza aumenta o desejo de investir mas as oportunidades
existentes (sem prejudicar a taxa de lucro protegida)
diminuem.

Numa época assim, o “medo à capacidade produtiva”


resultará em que uma parte do poder produtivo existente
seja mantida fora de ação ou subutilizada, enquanto o
exército industrial de reserva terá seus contingentes
ampliados por uma restrição deliberada da produção.

A tendência a existir um declínio na taxa de novos


investimentos seria grande já que os monopólios ficam
temerosos de aumentar a produção e criam barreiras à
entrada da concorrência no setor.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

A principal consequência dessa estratégia adotada pelos


monopólios é uma busca intensificada de saídas externas
para o investimento. A taxa decrescente de investimento no
país (a menos que fosse compensada por uma exportação
maior de capital) resultaria num estreitamento do mercado
para os produtos da indústria pesada enquanto que a
existência de desemprego em massa baixariam o consumo e
o mercado de bens de consumo.

Dobb (1987, p-325) destaca, no entanto, que a organização


monopolista não é de todo despida de elementos
progressistas. Ela estaria em posição melhor para organizar a
pesquisa e adotar uma visão mais ampla e prolongada que
a firma pequena, além de ser capaz de concentrar a
produção nas fábricas mais eficientes.

Schumpeter ( apud DOBB; 1987, p-325), por exemplo,


argumenta que a grande organização monopolista deverá
atingir um padrão incomum de iniciativa construtiva, tanto
por ter recursos suficientes para planejar a estratégia
comercial em um escala ambiciosa quanto por ser bastante
forte para fazer frente aos riscos e incertezas.

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O período entre as
duas guerras e suas
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Dobb (1987; p-326), no entanto, acredita que o tempo e os


recursos do monopólio se concentrarão muito mais nas
estratégias mais lucrativas. Ou seja, gasta-se mais pensando
em como restringir e obstruir do que em aperfeiçoar e
melhorar.

As considerações mais importantes sobre monopólio, segundo


este autor, seriam as que dizem respeito ao seu efeito sobre o
desenvolvimento econômico e não ao equilíbrio econômico.
Tais efeitos podem alterar não só a taxa em que as
modificações acontecem mas toda a trilha que o
desenvolvimento segue em dada época.

Sob regime monopolista o foco de interesse muda


acentuadamente de considerações sobre produção e
custos para outras questões de supremacia financeira e
comercial.

Assim, os ganhos auferidos com as estratégias para melhorar


a posição da empresa no mercado passam a ser mais
importantes do que quaisquer lucros a se auferir por uma
exibição de iniciativa na esfera da produção.

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O período entre as
duas guerras e suas
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O resultado de tal lógica é que o valor nominal total, ou


mesmo o valor de mercado total, dos títulos vendáveis que
cobrem qualquer dado grupo de equipamento industrial e
recursos materiais, e que dão direito à sua propriedade,
sempre supera, e de muito, o valor de mercado total do
equipamento e dos recursos que dão título de propriedade.

Em 1929, por exemplo, nos EUA, no ápice da prosperidade, a


capacidade excedente de fábricas e equipamentos atingia
a cifra de 20%. Tal número subiu para 50% no ano de maior
depressão. A repercussão da crise no comércio internacional
também foi impressionante, este se retraiu para menos 40%
de seu volume de 1929 em valor e de 74% em volume físico.

Desemprego na Inglaterra:
1920 = 12%;
A rigidez de preços
causada pelas 1930/35 = média de 18,5%.
políticas comerciais de Durante a crise de 1929/1933
manutenção e houve uma tendência a que a
restrição de preços produção caísse menos onde os
contribuiu para o preços caíram mais e vice-versa.
prolongamento e E a queda no preço de produtos
aprofundamento da controlados por cartéis foi
crise em comparação apenas um terço daquela à qual
com as anteriores. os bens nos mercados livres se
encontravam sujeitos.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

A severidade da crise de 1929/33 foi notável sobretudo por


sua universalidade (só a Rússia escapou). Tal fato não havia
acontecido nas crises anteriores que afetavam mais
principalmente a Europa e acabavam por ser encaradas
como decorrência da guerra.

Além de um grande volume de investimento feito nos EUA na


década de 1920, foi durante essa fase que ocorreu também
a expansão do capital norte-americano. Grande parte dessa
expansão tomou a forma de investimentos diretos através ou
sob o controles de companhias americanas.

O contraste entre as dificuldades europeias e a prosperidade


americana tornou a universalidade da crise mais
surpreendente. Em 1932 a produção americana voltara ao
nível de 1913 e mesmo depois de alguns anos não foram
além do máximo alcançado em 1929.

Entre 1922 e 1929 a taxa de aumento da produção de bens


de capital nos EUA subiu 70% e correspondia ao dobro da
taxa de aumento da produção de bens de consumo
(embora o aumento da produção de bens de consumo
duráveis fosse também maior do que a produção de não-
duráveis).

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A recuperação da crise, depois de1932, quando veio,


mostrou-se hesitante e desigual. O panorama econômico era
confuso e pouco promissor. Em crises anteriores, passada a
tempestade, a iniciativa empresarial podia contar com
oportunidades renovadas, o que não foi o caso da crise de
1929.

A dificuldade de retomar a prosperidade, segundo Dobb


(1987; p-334), se deve a:

• Medidas restritivas aumentadas;


• Desorganização da moeda (com o objetivo de explorar os
vizinhos);
• Fato de que a expansão da produção dependia agora da
política governamental (sobretudo as monetárias e
tarifárias favoráveis à indústria).

As políticas governamentais implicavam ainda: na redução


das taxas de juros para estimular a construção civil; e no
gasto com rearmamento (primeiro na Alemanha e depois na
Grã-Bretanha).

A recuperação hesitante que se observava não vinha mais


de dentro do sistema. Dependia de estímulos de fora do
sistema e que apresentavam origem política.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Traços especiais da Inglaterra no período entre guerras:

1. A despeito das dimensões


anormais do exército industrial Em outros países os
de reserva, em todos os países, salários caíram
os salários reais daqueles que bastante entre
mantiveram seus empregos se 1929 e 1933:
sustentaram ou mesmo subiram
• Alemanha –
nos primeiros anos da crise da
cerca de 20%;
década de 1930 na Inglaterra
– consequência do vigor do • EUA – entre 30 e
trabalho organizado e do 40%.
barateamento dos gêneros
alimentícios importados;
2. A produtividade do trabalho mostrou uma taxa incomum
de aumento, não só nos EUA mas também na Inglaterra,
e tal aumento continuou por todo o período da
depressão – consequência dos avanços consideráveis
das técnicas e, no caso da Inglaterra, do
aperfeiçoamento na organização e equipamentos
industriais (até então ausentes na Inglaterra);
3. Juntamente com a tendência para a concentração da
produção e seu controle e a extensão de formas
monopolistas ou semimonopolistas de organização,
houve uma persistência, bem acentuada, da pequena
firma.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

O avanço da técnica era uma tentativa de resposta ao


movimento operário organizado. Assim a tecnologia
contribuía principalmente para aumentar o desemprego e
não a produção.
• A expansão da capacidade na forma de métodos mais
novos e baratos teve como principal efeito a precipitação
de uma crise da indústria, da qual emergiu não a
reconstrução sobre base nova, mas uma epidemia de
planos restritivos e guerras intestinas entre produtores de
baixo e alto custo pela distribuição de cotas e o preço ao
qual a restrição se devia aplicar.
• O investimento no período tomou a forma de
aprofundamento e não de alargamento. Ou seja, algumas
indústrias se expandiram tanto na produção como no
emprego (engenharia elétrica, transporte rodoviário,
motores, aeronaves, alimentos etc.).
• Parte do investimento da época representava uma
concentração de capital e de empresas em esferas onde
a entrada de novos investidores era ainda relativamente
livre (território ainda não demarcado e onde o cartel e o
conglomerado ainda não tinham se aventurado).

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Novos traços do capitalismo em sua fase mais recente:

• Surgimento de uma A nova camada de


nova classe média – técnicos e funcionários de
proletariado passa a ter escritório não se
acesso à casa própria, assemelham aos antigos
rádio, etc. As mestres e artesãos. Estes
necessidades da eram pequenos
indústria moderna proprietários com alguma
causaram um independência econômica
crescimento nos (ainda que modesta) pois
quadros administrativos suas atividades econômicas
e técnicos, tanto estava ligada a meios
absoluta quanto produtivos que eles próprios
relativamente; possuíam e controlavam.

• Surgimento do “divórcio entre a propriedade e o controle”


– a disseminação das sociedades por ações exerceu
influência democratizadora sobre a propriedade e o
controle. Na prática, no entanto, os acionistas menores
exercem nenhuma influência sobre os rumos das
empresas;

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Novos traços do capitalismo em sua fase mais recente:

• A concentração moderna do poder econômico confere


inevitável distorção ao funcionamento da democracia
política – o capital, através de sua influência sobre a
imprensa e outros órgãos de opinião, pode interferir na
política convertendo governos locais e nacionais em seus
porta-vozes. Assim, o Estado pode ser usado, por exemplo,
para auxiliar a indústria a conseguir oportunidades e
contratos no exterior.
No trato com o trabalho o poder econômico concentrado se
mostra ainda mais cruel (independente da máquina estatal).
Perseguições, privação do direito de associação e reunião
política, tentativas de retaliações contra vitórias obtidas, etc.

• Obsessão crescente da indústria com a limitação dos


mercados – ligado ao fato de que a expansão do
consumo e das oportunidades de investimento lucrativo
veio arrastar-se cronicamente atrás do crescimento das
forças produtivas.

Outro fator importante, ligado à limitação dos mercados,


diz respeito a algumas das modificações técnicas que
marcaram o século XX e, especialmente, o período entre
guerras.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Essas modificações técnicas – que podem ter efetuado


alterações radicais em todo o panorama econômico e nas
reações dos empresários capitalistas em relação a ele –
apresentaram uma série de traços em comum, conhecidos
como “produção em massa”.

Características da “produção em massa”:


• Introdução de métodos de fluxo de produção contínuos
(movidos à eletricidade) – etapas sucessivas da produção
são governadas por um mesmo processo mecânico;
• Aumento da complexidade da divisão do trabalho e da
subordinação das operações de trabalho ao processo
mecânico;
• Os trabalhadores tendem, coletivamente, a adquirir um
novo sentimento de poder como aqueles que governam os
membros de um processo mecânico. O homem se vê como
cérebro e sistema nervoso da maquinaria. O homem como
técnico no processo de produção opõe-se cada vez mais à
força de trabalho como mercadoria, que é a base sobre a
qual repousa o capitalismo;
• Maior unidade conferida ao processo produtivo – os ritmos
devem ser combinados para garantir a harmonia.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Consequências dos novos desenvolvimentos da


situação técnica:

1. Aumenta a extensão Aumenta, também, o perigo


em que modificações da ossificação da estrutura
importantes da técnica frente a dimensão dos recursos
e da estrutura industrial e dos riscos inerentes às
têm de se efetuar por empreitadas. Aumenta, ainda,
saltos revolucionários, a dependência da indústria
ao invés de fazê-lo por aos bancos e instituições
uma sucessão gradual financeiras (e também ao
de pequenas Estado) que financiam as
adaptações; inovações.

2. Os riscos específicos ligados à operação de uma fábrica


de tipo moderno numa economia não planejada (onde
as flutuações da demanda se mostram incalculáveis)
podem impedir sua adoção e estabelecer a preferência
por uma forma técnica de um tipo mais antigo e menos
eficiente (o empresário prefere o lucro certo);

3. Um valor incomum é conferido às medidas destinadas a


ampliar o mercado ou capturar a demanda.

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O período entre as
duas guerras e suas
consequências:

Medidas destinadas a ampliar o mercado ou capturar a


demanda:
• Campanhas de vendas;
• Boicote organizado de fontes rivais de oferta;
• Captura e fortificação de mercados desprotegidos;
• Adiantar a integração para controlar ou influenciar o uso
do produto;
• Uso de pressão política para conseguir ajuda do Estado;
• Busca de órgãos públicos que funcionem como
consumidor e empreiteiro.

Limites das medidas destinadas a ampliar o mercado ou


capturar a demanda:
• Caso dos bens de consumo – limite é o nível de renda da
maioria dos consumidores;
• Caso dos bens de capital – expansão depende do
aumento na taxa de investimentos que sofre influência do
“medo à capacidade produtiva” e pela relutância dos
capitalistas.

Dentre as medidas que afetam em grau substancial as


vendas de qualquer setor estão: o controle político dos
territórios estrangeiros e a despesa do Estado (sobretudo com
armamentos).

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O período anterior à 2a. Guerra Mundial…

O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

Como entender a internacionalização da produção?

De acordo com Michalet (1983; p-100), os “grupos


capitalistas” são veículos da internacionalização do processo
de produção. Eles constituem um elemento essencial do
imperialismo, não só porque são agentes importantes da
circulação internacional do capital dinheiro, mas também
porque organizam uma nova divisão do trabalho em escala
mundial.

A fase imperialista do capitalismo inaugura uma nova


organização da divisão do trabalho em escala mundial: o
surgimento da criação descentralizada do valor.

É preciso adotar um novo enfoque da extensão mundial do


capitalismo, no qual o lugar de integração econômica das
diversas formações econômico-sociais (FES) desigualmente
desenvolvidas seja não o mercado mundial, mas o próprio
processo produtivo.

A ideia de um Sistema Econômico Mundial (SEM) surge,


então, como noção adequada para substituir a de
economia internacional. Ela permite considerar o conjunto
das relações econômicas que entrelaçam as partes
componentes e oferece um quadro apropriado à descrição
da hierarquia de relações entre as FES.

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O período anterior à 2a. Guerra Mundial…

O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

A unidade dos processos de produção e circulação


caracteriza o ciclo do capital. Enquanto as relações
internacionais se restringem à troca de mercadorias elas
ficam presas no âmbito da circulação e favorecem a
coexistências de estruturas capitalistas e pré-capitalistas.
Quando ocorre o deslocamento do processo produtivo
(empresas multinacionais) a criação do valor é
descentralizada e o capitalismo tende a se impor em toda
parte.

A realidade que se procura entender não é algo acabado. A


consideração de um sistema a priori, onde as inter-
relações das partes – entre si e com o todo – estão
fixadas para sempre equivaleria a recair nas construções
de um equilíbrio geral.

O SEM deveria englobar as instâncias institucionais, sócio-


culturais e políticas em via de internacionalização. Enfim, a
tarefa é elaborar as especificidades do modo de produção
capitalista em escala mundial.

É possível distinguir três orientações analíticas que objetivam a


compreensão da emergência de uma economia mundial: a
dicotomia centro-periferia; a renovação do ultra-
imperialismo; e a abordagem setorial.

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O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

Nenhuma delas, segundo Michalet (1983; p-103), procura


estabelecer uma relação dialética entre, de um lado, as
condições preexistentes (a predominância do Estado-nação,
do intercâmbio mercantil, da divisão internacional do
trabalho) e, de outro, o novo complexo de interações
induzido pela totalidade em formação – o SEM.

A empresa multinacional, como principal agente do


processo, parece situar-se na intersecção dessa dupla
determinação.

O precursor da economia mundial foi Bukhárin:


• Em 1915, Bukhárin publicou “A economia mundial e o
imperialismo”, onde tenta adotar um enfoque em termos
de economia mundial;
• Para Bukhárin, economia mundial é “um sistema de
relações de produção e intercâmbio, abarcando a
totalidade do mundo”;
• Ele enfatiza a dimensão “internacional” tomada pela
concorrência. Na fase industrial, o quadro de referência
era constituído pelo espaço do Estado-nação. Com o
surgimento do capitalismo financeiro, as fronteiras
nacionais são ultrapassadas e as empresas-gigantes
passam a competir em escala mundial.

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O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

A análise de Bukhárin, segundo Michalet (1983; p-105) , vê


apenas uma parte do fenômeno. Embora tenha considerado
as empresas multinacionais, sua análise não ultrapassou o
nível do mercado.

Atrás das relações das mercadorias existem as relações das


pessoas que as produzem. A ampliação do campo da
concorrência reflete o próprio desenvolvimento do
capitalismo.

A problemática “centro-periferia”:
De acordo com Michalet (1983; p-106), Samir Amin recusou-se
a considerar os países subdesenvolvidos à margem do sistema
mundial, para ele todas as sociedades contemporâneas
estão integradas no sistema mundial.

O centro seria constituído pelas economias industrializadas


(EUA, Europa, Japão, Austrália, etc.) enquanto a periferia é
formada pelos países não industrializados. O
desenvolvimento desigual se explica essencialmente pela
integração da periferia na economia mundial capitalista;

A periferia tem uma economia de caráter “extrovertido”


em oposição a do centro que é “auto-sustentado”.

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O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

O processo de industrialização acentua a especificidade das


formações periféricas, na medida em que começa pelo fim.
A fase de substituição das importações se caracteriza pela
produção local de bens de consumo correspondentes aos
estádios mais avançados do centro. Um eventual
desenvolvimento de bens de capital em função de
necessidades específicas ou estímulo do governo.

Problemas com a tese de Samir Amin segundo Michalet


(1983; p-108/109):
• O lugar teórico da integração é o mercado mundial –
para se referir a uma economia mundial de base
capitalista, seria preciso mostrar a internacionalização das
relações de produção e das forças produtivas. O
mercado não pode substitui essas categorias sem recair
no quadro da análise clássica ou neoclássica a qual
Samir Amin deseja refutar;
• Ao manter a separação entre o centro industrial e a
periferia exportadora de produtos primários, Samir Amin
fica impossibilitado de considerar o deslocamento de
certos setores industriais através da multinacionalização
(a nova divisão internacional do trabalho).

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Economia Mundial
(SEM):

Um novo ultra-imperialismo:

Segundo Michalet (1983; p-110), Kautsky baseia sua análise


do imperialismo na tendência crescente à concentração
industrial. Ao contrário de Lenin e Bukhárin, no entanto, ele é
otimista. Crê na possibilidade de que a harmonia universal
acabe sendo produzida pelo próprio capitalismo
monopolista.

De acordo com Kautsky (apud MICHALET; 1983, p-111), os


capitalistas acabariam compreendendo que mais vale o
entendimento que o confronto.

Um cartel único organizaria a produção mundial em vez de


deixá-la entregue a anarquia do mercado. A racionalidade
econômica triunfaria.

Embora a história tenha dado mais razão aos pensadores


da esquerda (para os quais a violência é inerente ao
capitalismo), a tese de Kautsky continua a fazer adeptos e
inspira os trabalhos ligados ao tema da
transnacionalidade.

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O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

Os apologistas das empresas Teoria neoclássica HOS


multinacionais, inspirados na (Heckscher-Ohlin-
Teoria HOS, acreditam que Samuelson) – pregava a
elas seriam capazes de alocação ótima dos
promover a alocação ótima fatores.
dos fatores.
A extensão do fenômeno das empresas multinacionais
provocou uma renovação da tese do ultra-imperialismo que
leva a substituir o espaço da economia internacional pelo da
empresa multinacional, com a consequente negação do
Estado.

Uma outra corrente ultra-imperialista, encabeçada por


Steven Hymer, afirma que as empresas multinacionais
organizam o mundo. O lugar da integração do sistema deixa
de ser o mercado e a posição passa a ser ocupada pela
própria empresa multinacional.

Objetivo das empresas multinacionais, nesse caso, seria o de


reduzir as incertezas e explorar as economias de escala ao
máximo.

Segundo Hymer ( apud MICHALET; 1983, p-112), a


organização do controle no interior das empresas
multinacionais vai determinar a organização do poder em
escala mundial.

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O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

Países subdesenvolvidos, neste contexto, teriam dificuldade


para explorar eficazmente os efeitos paralelos dos
investimentos estrangeiros. Seus objetivos de desenvolvimento
encontrariam condições adversas resultantes de sua posição
subalterna na organização das empresas multinacionais, ou
seja, no sistema econômico mundial.

Assim, as regiões iriam se hierarquizar de acordo com a


hierarquia das empresas multinacionais:
• Nível III – mais baixo – composto pelo conjunto de
atividades de execução = regiões que só possuem força
de trabalho e recursos naturais;
• Nível II – intermediário – se encarrega de coordenar as
atividades do nível II = grandes cidades dos países
periféricos mais próximos dos mercados financeiros e
meios de comunicação;
• Nível I – mais alto – onde se elabora a política da empresa
e se traça diretrizes = grandes cidades dos países
avançados.

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Economia Mundial
(SEM):

Já para R. Murray, de acordo com Michalet (1983; p-115), o


crescimento das empresas multinacionais implica no
desaparecimento dos Estados. Ele constata a crescente
distância entre o espaço de referência da soberania
nacional e o da empresa. Desse desajuste resulta o crescente
enfraquecimento da autonomia estatal em relação às
atividades empresariais.

Tal evolução pode acabar suscitando um questionamento


das funções econômicas tradicionais do Estado que,
segundo ele, seriam:
•A garantia do funcionamento livre e concorrencial da
economia;
• A regulação conjuntural;
•O aprovisionamento de inputs;
•A manutenção de um consenso social; e
•A direção das relações exteriores.

Inputs = trabalho, tecnologia, matérias-primas, infra-


estrutura, etc.

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O Sistema da
Economia Mundial
(SEM):

Segundo Michalet (1983; p-117), é claro que as empresas


multinacionais passam a ter enorme poder de influência, mas
não é possível resumir o sistema todo a um simples jogo de
forças oligopólicas.

Problemas com raciocínio de Hymer e Murray, segundo


Michalet (1983; p-108/109):
• Não é o acaso e nem a simples existência de infra-
estrutura (aeroportos, universidades, etc.) que explicam a
localização dos top executives em certas metrópoles;
• A hierarquia organizacional das empresas multinacionais
reproduz, de fato, a hierarquia preexistente nas
economias;
• É a nacionalidade que comanda a extensão
internacional das firmas e suas modalidades. Muitas
vezes esse movimento só acontece porque conta com o
apoio dos Estados de origem (incentivos financeiros,
força militar, diplomacia, etc.);
• O risco político nunca está ausente e por isso faz parte
do cálculo das empresas multinacionais nos seus estudos
de pré-viabilidade.

A repartição internacional das atividades não é o


resultado das atividades das empresas e sim o inverso.

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Economia Mundial
(SEM):

A internacionalização setorial:
Para Vernon (apud MICHALET; 1983, p-118) a transformação
da economia mundial estaria marcada por uma tendência
irreversível à deriva de certos setores industriais, dos países
mais desenvolvidos para os menos desenvolvidos.

Tal modelo estaria ligado ao ciclo de vida dos produtos, que


teriam três fases: novo, maduro e padronizado;

Segundo essa lógica todos os setores tendem a se deslocar


no sentido da periferia subdesenvolvida, é só uma questão
de tempo.

A teoria de Vernon apresenta uma dinamização da


especialização internacional que já não se baseia
inteiramente na dotação de fatores. Todos seriam
conduzidos à industrialização mas o centro detém a
melhor posição.
Já Palloix trata de romper radicalmente com a ótica da
empresa multinacional e adota a abordagem do ramo. Para
ele, a categoria econômica de ramo (ou indústria) se
internacionaliza, em vez de se desenvolver antes, num
espaço nacional.
Tanto Vernon como Palloix relativizam o papel da empresa
multinacional.

Curso de Ciências Econômicas


Disciplina: Economia Internacional II
Período Letivo: 2020-1 / Aula 4 – Unidade III
REFERÊNCIAS

DOBB, Maurice. A Evolução do Capitalismo. Rio de


Janeiro: LTC, 1987.

MICHALET, Charles-Albert. O capitalismo mundial. Rio


de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

Curso de Ciências Econômicas


Disciplina: Economia Internacional II
Período Letivo: 2020-1 / Aula 4 – Unidade III

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