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Desenho nº 1
1
“Why is drawing relevant today? Because we are still trying to define what it is, and, imagine what it
might become.”
Giorgio Vasari (1511-1574), no seu célebre As vidas dos mais excelentes pintores,
escultores e arquitetos, apontou o desenho como pai das três artes.
(LICHTENSTEIN, 2006, p. 20).
Contudo, a polissemia presente na palavra disegno não se manteve. Com as
mudanças no entendimento da arte no ocidente, o sentido assumido pelo desenho
foi submetido ao papel daquilo que cada época entendeu como sendo a atividade
artística e seu campo de atuação.
Estas mudanças foram frutos de uma crise que se exprimiu na arte a partir
dos eventos que culminaram na Revolução Industrial. Crise proveniente do abalo
sofrido, principalmente, na cultura e sociedade europeia, no momento em que a
industrialização tornou-se fato pujante.
Surgiu o design, que supriu uma necessidade utilitária das antigas
características de projeto e desígnio relacionadas ao desenho. No entanto, o que
mais abalou as crenças arraigadas no desenho artístico foi o advento da fotografia.
A verdadeira razão de ser das academias de arte – o papel de representar e
estabelecer a relação entre as coisas – rapidamente teve sua estrutura abalada pela
precisão e imediatismo dos processos fotográficos. A fotografia se impôs de forma
radical como novo modelo de realidade. Substituiu o apontamento e amplia, pelo
que passou a revelar do mundo visível, o campo do possível para representação.
Alguns desenhistas, fascinados, apropriaram-se de suas qualidades, transpondo
efeitos fotográficos para o trabalho com desenho.
Ocorreu o que Flávio Motta (1975, p. 33) denominou de “[...] desvio que houve
à luz das tradições neoclássicas”. Um empobrecimento da palavra, um afastamento
do seu sentido original. O papel paradigmático assumido pela pintura no ocidente e
a gradativa separação entre as chamadas belas artes e as artes de ofício, seguindo
os pressupostos de uma emergente ideologia burguesa que discriminava e valorava
pejorativamente os conhecimentos adquiridos pela via do trabalho manual,
estendeu-se ao desenho. Mantendo-se como fundamento para o exercício de
outras artes, o desenho adquiriu o novo papel que se estabeleceu à arte como um
todo: o puro deleite.
Zé de Rocha*
Petrolina - PE, Agosto de 2013.
*Artista Visual, professor de desenho na UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São Francisco).
www.zederocha.com.br
REFERÊNCIAS
ARTIGAS, Vilanova. O desenho. In: Sobre o desenho. São Paulo: Centro de Estudos Brasileiros do
Grêmio da FAU-USP, p. 3-16, 1975.
DEXTER, Ema (Org.). Vitamin D, New Perspectives in Drawing. London: Phaidon Press Limited,
2005.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
LICHTENSTEIN, Jacqueline (Org.). O desenho e a cor. A pintura. São Paulo: Ed. 34, 2006. v. 9.
MOLINA, Juan José Gómez (Coord.). Las lecciones del dibujo. Madrid: Cátedra, 2003.
MOTTA, Flávio. Desenho e emancipação. In: Sobre o desenho. São Paulo: Centro de Estudos
Brasileiros do Grêmio da FAU-USP, p. 27-33, 1975.
TILLEY, Annabel. The Inexorable Rise of Drawing. In: Garageland. n.6. Disponível
em:<http://www.transitiongallery.co.uk/documents/The_rise_of_drawing_Annabel_Tilley.pdf>. Acesso
em 11 out. 2012.