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Revista Jus Populis - n. 1, v.

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A PROVA COMO UM INSTRUMENTO DO


LIVRE CONVENCIMENTONA
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL EM
MATÉRIA TRABALHISTA
THE TEST AS AN JUDICIAL INSTRUMENT IS OF DISCRETION ONTHE JUDGEMENT IN
WORKING SUBSTANCE

Leiraud Hilkner de Souza1


Oreonnilda de Souza2

Resumo: O presente artigo trata da prova na esfera trabalhista, analisando os meios de produzi-la e sua
natureza jurídica, tomando como parâmetro as reflexões feitas sobre o assunto e a aplicação exclusiva das
normas e princípios orientadores da prova. A prova consiste em meios definidos pela lei ou admitidos no
sistema jurídico por serem interpretados como lícitos e moralmente legítimos, que convencem o magistrado da
ocorrência de determinados fatos que envolvem a relação jurídica e justificam a pretensão das partes. Tema
relevante na solução das lides, não só em âmbito trabalhista como também nos demais ramos do direito.
Palavras-chave: Prova. Processo trabalhista. Princípios. Finalidade. Meios de prova. Convencimento do Juiz.

Abstract: The present article deals with the proof in the labor sphere, analyzing the ways of producing it and its
legal nature, taking as parameter the reflections made on the subject and the exclusive application of the rules
and orienting principles of the proof. The proof consists of means that are defined by the law or admitted in the
legal system for being interpreted as lawful and morally legitimate. It convinces the magistrate about the
occurrence of determined facts that involve the legal relationship and justify the pretension of the parts. It is an
important subject in the solution of the cases, not only in labor scope but also in the other branches of the law.
Keywords: Proof. Principles. Purpose. Means of Proof. Judge’s conviction. Working legal proceedings.

1
Mestrando em Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social pela Universidade de
Marília UNIMAR. Graduação em Direito (2003), Graduação em Ciências Contábeis (2009), Pós-Graduação Lato
Sensu em Direito Material e Processual Civil (2007) e em Direito Material e Processual do Trabalho (2011) pelo
Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. Encarregado de expediente do Centro Universitário de Rio Preto -
UNIRP. Sócio-proprietário do escritório HILKNER ADVOGADOS, com prática profissional em contencioso,
arbitragem e mediação, com ênfase em Direito Civil e Empresarial, Direito do Consumidor, Direito Tributário,
Direito Civil (família, sucessões e contratos) e Direito do Trabalho.
2
Bacharel em Direito (2008), Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho (2010) pelo Centro
Universitário de Rio Preto - UNIRP e Mestranda em Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e
Mudança Social pela Universidade de Marília - UNIMAR (2015). Graduanda do Curso de Pedagogia (7º
período) pelo Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP. Atua como Editora Responsável e Avaliadora
parecerista na Revista Eletrônica Jurídica UNIVERSITAS, como pesquisadora e colaboradora no Núcleo de
Iniciação Científica (NICDir) e como docente no Curso de Direito do Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP.
Advogada militante (consultivo e contencioso) sócio-proprietária do escritório HILKNER Advogados.
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Introdução

Prova é tudo “aquilo que demonstra ou estabelece a verdade de um facto;


testemunho; demonstração; marca; indício; documento comprovativo [...].” (PRIBERAM,
2015).
No sentido jurídico, prova é o meio com que as partes procuram formar a convicção
do julgador acerca da existência de um direito ou da veracidade de um fato. Portanto, no
processo, a prova objetiva os fatos da causa e tem por finalidade o convencimento de seu
destinatário, o juiz, a respeito desses fatos; reconstituindo-os.
O magistrado tem liberdade na apreciação da prova, contudo deve indicar na
sentença quais os motivos que lhe levaram a chegar à determinada conclusão. Trata-se do
livre convencimento motivado do juiz.
Moacyr Amaral Santos (2004, p.339) aponta dois sentidos ao conceituar prova, prova
em sentido objetivo – implica nos meios destinados ao conhecimento da verdade dos fatos
deduzidos em juízo – e prova em sentido subjetivo – aquela que se forma no espírito do juiz
quanto à verdade desses fatos. Não podendo, esses dois caracteres, ser apreciados
separadamente, pois se completam. Finalmente, define prova como “a soma dos fatos
produtores da convicção, apurados no processo.”
Cabe ressaltar que o conceito de prova é fruto das interpretações doutrinárias, tendo
em vista que nem o Código de Processo Civil, nem a Consolidação das Leis do Trabalho
conceituam prova.
Deve-se vislumbrar a importância da prova, pois nela se materializa a verdade dos
fatos, sendo possível a justa e satisfatória solução da lide; considerando que, em nome da
verdade, os meios de prova devem ser lícitos (guardarem respeito à lei).
A atividade probatória, incumbência das partes em razão do ônus objetivo atribuído
pelo artigo 818 da Consolidação das Leis Trabalhistas, consiste em levar aos autos a verdade
dos fatos alegados que influenciarão no convencimento do órgão jurisdicional, observando-
se as normas legais específicas, estabelecidas pelo direito processual, que determina as
modalidades de prova admitidas em juízo (art.332, CPC) e o procedimento probatório das
partes.
Via de regra, os fatos serão o objeto de prova (art.332, CPC), salvo exceções que se
farão prova do direito (art. 337, CPC). A prova deve incidir sobre todos os fatos, relevantes e
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controvertidos, narrados na ação, devendo ficar fora do campo da prova os fatos


incontroversos (os fatos afirmados por uma das partes, confessados pela parte contrária ou
por ela não impugnados), os fatos notórios (art.334, I, CPC) e aqueles com presunção legal de
existência ou veracidade (art.334, IV, CPC).
Nesse diapasão, leciona Amador Paes de Almeida (2003, p. 243):

[...] os fatos não admitidos ou contestados, os controversos, requerem a produção


de provas. Todavia isso não significa que os fatos não contrariados não possam ser
objeto de prova, pois ao juiz, em face do princípio inquisitório, é dado exigir prova
do alegado, ainda que não contestado, ‘para o fim de formar com mais segurança o
seu convencimento’, ou ainda que se faça necessária a prova do ato jurídico,
quando a lei exija que esta se revista de forma especial. Não necessitam ser
provados os fatos notórios (aqueles de conhecimento da coletividade), como
também, os fatos confessados se compatíveis com as demais provas dos autos.

Lembrando que, no processo, os fatos que estão à margem do litígio ou aqueles que
foram narrados intempestivamente não poderão servir de prova. Enfim, prova “é a
demonstração segundo as normas legais específicas da verdade dos fatos relevantes e
controvertidos no processo.” (TEIXEIRA FILHO, 1997, p. 35).

1 Natureza jurídica da prova

Quanto à natureza jurídica da prova, encontram-se posicionamentos antagônicos,


alguns a consideram como própria do direito material, em razão, de inúmeras vezes, já
preexistir ao processo; outros, a partir do Código de Processo Civil de 1973, passaram a
considerá-la como instituto de natureza processual. Há também, aqueles como Sérgio Pinto
Martins (2007, p. 311-312) que defendem a natureza mista da prova:

[...] tanto tem natureza processual, de ser apresentada no processo, como é forma
de demonstrar os negócios jurídicos praticados pelas partes. Sua natureza é mista,
pois a prova pode ser feita extrajudicialmente [...]. Somente os fatos deverão ser
provados em juízo, pois o direito é de conhecimento do magistrado. A prova deverá
constar dos autos, pois o que deles não constar o juiz não terá obrigação de saber
[...]. Entretanto, aparte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário (costumeiro) deverá fazer prova de seu teor e vigência (art. 337 do
CPC).
O mesmo se dá em relação às normas coletivas e regulamento interno do
empregador. Quanto aos tratados e convenções internacionais ratificados pelo
Brasil, têm força de lei federal, sendo, porém, recomendável que as partes os
juntem ao processo, até mesmo porque muitas vezes não se sabe se aquele tratado
foi ou não ratificado ou se está em vigor.
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Comungamos do posicionamento do insigne doutrinador supracitado.

2 Classificação das provas

Moacyr Amaral (2004, p. 339-341) utiliza três critérios classificadores da prova:


1) quanto ao seu objeto, têm-se as provas diretas e indiretas. Prova direta é aquela que se
refere ao próprio fato, representando-o. Enquanto a prova indireta não se refere ao fato
probando, mas sim a outro que por raciocínio lógico se chega a uma conclusão quanto à
existência daquele fato; exemplos são as presunções e os indícios;
2) quanto ao sujeito, pode ser pessoal ou real. Será pessoal “toda afirmação pessoal
consciente, destinada a fazer fé dos fatos afirmados”. Entretanto, se “a prova de um fato
consiste na atestação inconsciente, feita por uma coisa, das modalidades que o fato
probando lhe imprimiu, esta é uma prova real”;
3) quanto a sua forma, será testemunhal, documental ou material. Testemunhal – afirmação
pessoal oral. Compreende as testemunhas, os depoimentos das partes, a confissão e o
juramento. Documental – afirmação escrita ou gravada. Material – é a atestação emanada da
coisa, ou melhor, qualquer coisa que sirva de prova do fato probando.
Cumpre, ainda, elucidar que prova judicial é a produzida em juízo e a extrajudicial
aquela realizada fora dele, como é o caso das provas colhidas nos inquéritos policiais.
Na esfera trabalhista, as provas pré-constituídas3 são de suma importância; podendo
vislumbrar-se tal importância nos contratos laborais, em que os fatos vão ocorrendo e vão se
materializando na forma documental (recibos de pagamentos, horas extras, etc.) ou
testemunhos (rotina do ambiente de trabalho a ser demonstrada pelos demais funcionários).
O confronto da prova pré-constituída com a confissão ficta (art. 400, I, CPC) é
admitido pelo Tribunal Superior do Trabalho, não constituindo cerceamento de defesa o
indeferimento de provas posteriores (Súmula nº 74, II, inserida a OJ nº184).
Nota-se que, para Moacyr Amaral (2004), os indícios e as presunções são espécies de

3
Prova pré-constituída é aquela elaborada antes do processo; que será utilizada como prova em sede
processual futuramente. Nela constará o fato em um documento (autêntico) elaborado conforme as
formalidades exigidas pela lei. (ALMEIDA, 1997, p. 115).
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provas indiretas em razão de somente por meio de um raciocínio lógico chegar-se a


evidências da existência ou veracidade de um fato. Posição não aceita por Teixeira Filho,
motivado no sentido de que as presunções constituem mero raciocínio lógico realizado pelo
Juiz e não um meio de prova.

3 Princípios

“Os princípios são mandamentos que se irradiam sobre as normas, dando-lhes


sentido, harmonia e lógica. Eles constituem o próprio ‘espírito’ do sistema jurídico-
constitucional” (BRASIL, [s.d.]). Todos os ramos do Direito são regidos por princípios
específicos e, também, devem observância aos princípios constitucionais explícitos e
implícitos. Os princípios determinam como serão a forma, os objetivos, os meios utilizados e
o fim que um determinado sistema deve alcançar.
O direito processual do trabalho deve manter o caráter protecionista do direito
material do trabalho, preservando sua essência que consiste na proteção do trabalhador
(leia-se empregado).
Nos ensinamentos do ilustre doutrinador Sérgio Pinto Martins (2007, p. 310-311), a
prova deve ser norteada por alguns princípios, sendo eles:

a) Necessidade da prova: não basta fazer alegações em juízo. É preciso que a parte
faça a prova de suas afirmações. Aquilo que não consta no processo não existe no
mundo jurídico;
b) Unidade da prova: a prova deve ser apreciada em seu conjunto, em sua unidade,
e não isolada;
c) Lealdade da prova: as provas devem ser feitas com lealdade. Artigo 5ºda CF
determina que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”. A lealdade da prova decorre do inciso II do art. 14 do CPC;
d) Contraditório: apresentada uma prova em juízo, a parte contrária tem o direito
de sobre ela se manifestar, impugnando-a;
e) Igualdade da oportunidade de prova: todos têm os mesmos direitos de
apresentar a prova nos momentos adequados;
f) Oportunidade da prova: a prova dever ser produzida nos momentos próprios para
esse fim. Cabendo em situações, excepcionais, em situação de perigo a
antecipação;
g) Comunhão da prova: diz respeito a ambas as partes;
h) Legalidade: o contraditório e a ampla defesa serão assegurados de acordo com as
provas que estiverem previstas na lei (art. 5º, II, CF);
i) Imediação: o juiz é quem tem a direção do processo e principalmente das provas
a serem produzidas pelas partes;
j) Obrigatoriedade da prova: a prova é de interesse não só das partes, mas também
do Estado, que pretende o esclarecimento da verdade;
k) Aptidão da prova: trata-se do princípio de que a parte com melhores condições
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de fazer a prova terá esse ônus, pois tem mais fácil acesso a ela ou porque é
inacessível à parte contrária;
l) Disponibilidade da prova: a prova deve ser apresentada nos momentos próprios
previstos em lei ou para a instrução do processo.

Amauri Mascaro Nascimento (2002, p. 426-427) atribui maior relevância aos


princípios da necessidade, da unidade, da lealdade ou probidade, da contradição, da
igualdade de oportunidade, da legalidade, da imediação e ao da obrigatoriedade da prova.
Ao tratar do princípio da necessidade da prova Manoel Antônio Teixeira Filho (1997,
p. 64) entende que o juiz não deve decidir com base no seu conhecimento pessoal acerca
dos fatos, salvo exceções, pois está adstrito à imparcialidade. Com relação ao princípio da
contradição, enquanto Amauri Mascaro Nascimento apenasse refere à impugnação da prova
(conhecê-la, discuti-la e impugná-la), não havendo, portanto, prova secreta; Manoel Antônio
Teixeira Filho (1997, p. 64) amplia os limites, vislumbrando a possibilidade da produção da
contraprova. Entretanto, o princípio que causa maior divergência entre eles é o da
obrigatoriedade de prova, defendendo Amauri Mascaro Nascimento (2002, p. 427) que a
prova é de interesse das partes e do Estado, que visa ao esclarecimento da verdade, podendo
o Juiz compelir às partes a apresentarem no processo determinada prova e, no caso de
omissões, sujeitá-las-á a sanções. Pensamento equivocado, na concepção de Manoel Antônio
Teixeira Filho, sustentando a não existência de tal obrigatoriedade de se provar em juízo a
verdade dos fatos, mas sim a existência de um ônus objetivo de provar, perante o juiz; diante
disso, não havendo obrigação, não haverá, também, sanção processual.

4 Finalidade da prova

Frente à violação de um direito, seu titular poderá movimentar a máquina judiciária


para tutelar ou tentar restaurar seus interesses, provando o fato causador da violação do
direito ou do prejuízo suportado pela parte.
Como dito anteriormente, nem todos os fatos pressupõem provas; deverão ser
provados aqueles relevantes, que tenham pertinência com o processo e que sejam
controvertidos, pois caso não haja controvérsia basta a mera aplicação do direito.
O artigo 302, do Código de Processo Civil, prevê a impugnação dos fatos, isto é, o réu
deverá manifestar-se precisa e tempestivamente sobre os fatos narrados na petição inicial,
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sob pena de serem presumidos verdadeiros os não contestados.


Constitui exceção à regra contida no caput deste artigo a impossibilidade de confissão
a respeito dos fatos se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que
a lei considere da substância do ato.
Em suma, provar é

[...] convencer o julgador da existência de um direito ou da veracidade deum fato.


Dependem de prova os fatos controvertidos, ou seja, aqueles não admitidos ou
contestados. Todavia isso não significa que os fatos não contrariados não possam
ser objeto de prova, pois ao juiz, em face do princípio inquisitório, é dado exigir
prova do alegado, ainda que não contestado, “para o fim de formar com mais
segurança o seu convencimento”, ou ainda que se faça necessária a prova do ato
jurídico, quando a lei exija que esta se revista de forma especial. Não necessitam
ser provados os fatos notórios, assim considerados aqueles de domínio geral,
conhecidos pela coletividade, o mesmo ocorrendo com os fatos confessados, se
compatíveis com as demais provas dos autos (ALMEIDA,2002, p. 243).

5 Momentos de produção das provas

O momento de produção da prova, ou seja, de reprodução dos fatos afirmados pelas


partes, é a instrução processual ou dilação probatória.
Em regra, a prova deve ser produzida em audiência como preceitua os artigos336 e
446, II, do CPC. A CLT não dispõe expressamente acerca do assunto, entretanto tem o mesmo
entendimento segundo depreende-se dos artigos 818 a 830e 843 a 851.
Acentua-se que na Justiça do Trabalho a audiência é una e, para que seja viabilizada, é
necessária a tripartição em inicial, de instrução e de julgamento. Nesse diapasão, Teixeira
Filho (1997, p. 73) fixa três momentos para a produção das provas: “1) com a inicial; 2) com a
resposta do réu (na primeira audiência); 3) na audiência de instrução (que é a segunda),”
ressalvando a prova documental, já que a sua produção deve restringir-se aos dois primeiros
momentos.
Moacyr Amaral Santos (2004, p. 361) divide a produção da prova, também, em três
momentos, a saber: a proposta da prova (momento em que as partes devem confirmar suas
alegações), a sua admissão pelo juiz (que admite ou repele a prova proposta) e a sua
produção (exceto as documentais que se produzem no processo desde que admitidas).
A fase de instrução inicia-se com o ajuizamento da Inicial, prosseguindo na primeira
audiência (de proposta de conciliação) com o oferecimento da contestação, encerrando-se
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com a segunda audiência em que serão coletadas as provas.


Pairam entendimentos no sentido de que a fase de instrução se inicia na primeira
audiência, invocando o art. 848, § 1º da Consolidação das Leis do Trabalho, embora seja
reconhecido que a fase probatória se inicia com a juntada de documentos pelas partes
(reclamante na inicial e reclamado na contestação).

6 Ônus da prova no processo do trabalho

O ônus da prova é tema de suma importância, principalmente no que tange às


relações de consumo e de trabalho, em que sua igualitária distribuição, geralmente, não
atende a necessidade da parte hipossuficiente.
No estudo deste encargo de provar o que se alega, se faz mister elucidar a diferença
entre ônus e dever, pois como sustenta Isis de Almeida, esta discussão doutrinária é
relevante, tendo em vista serem as regras relativas à produção da prova estabelecidas em
função do interesse dos litigantes (ALMEIDA, 1997, p. 125).
Onus probandi, na concepção de Moacyr Amaral Santos (2004, p. 354), é dever,
necessidade de provar, frisando que a ideia de dever não reflete a obrigação, mas sim
necessidade de fornecimento da prova para formação da convicção do magistrado quanto
aos fatos alegados, mesmo porque não existe sanção pelo seu não-cumprimento.
A prova das alegações (onus probandi) é incumbência da parte que as fizer sob pena
de preclusão; regra contida no artigo 818 Consolidado com aplicação subsidiária do artigo
333 do Código de Processo Civil.
O processo do trabalho é peculiar, pois como meio de efetivação do direito material
do trabalho assume a identidade paternalista na proteção dos interesses do empregado.
A aplicação da igualdade formal das partes do processo civil vem de encontro ao
direito processual do trabalho, tendo em vista, que a aplicação deste princípio inviabilizaria a
própria aplicação do direito material, ensejando a colisão de princípios, frente à
desigualdade do empregado face a seu empregador. Restando nítida e de grandes
proporções referida desigualdade, principalmente tratando-se de produção de provas, pois
além do empregado encontrar-se em estado de sujeição (subordem), o empregador é quem
detém os meios de prova, isto é, as provas documentais comprobatórias de sua
subordinação e, na maior parte das vezes, estão subordinadas a ele (empregador) as
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“possíveis” testemunhas.
A aplicação do princípio da proteção viabiliza-se pela aplicação de seus
desdobramentos, ou seja, da aplicação da regra mais favorável, do respeito à condição mais
benéfica e do in dubio pro operario, sendo este último diretamente relacionado com a
questão da prova, pois frente às dúvidas prevalecerá o empregado.
A teoria da inversão do ônus da prova vem ocupando lugar na defesa do
hipossuficiente – aqui, diga-se o empregado, polo vulnerável – equilibrando a relação
processual, pelas razões fundantes já mencionadas.
É o que determina o princípio de aptidão para a prova, deve provar aquele que está
apto a fazê-lo; no campo trabalhista, isto significa inverter o ônus da prova, quase sempre,
em favor do empregado. Neste sentido, toda vez que a lei, por uma razão determinada, exigir
pré-constituição de uma prova e o empregador não cumprir tal exigência, o ônus probandi se
inverterá.
Assim, o princípio da aptidão para a prova

[...] deve ser eleito como o principal elemento supletivo do processo do trabalho,
em cujo âmbito permanecerá em estado de latência, vindo a aflorar sempre que
convocado para dirimir eventuais dificuldades em matéria de ônus da prova,
prescrevendo-se, em definitivo, a presença incômoda do art. 333 do CPC, que nada
mais representa – em última análise – do que uma abstração da realidade prática
do processo do trabalho [...]. (TEIXEIRA FILHO, 1997, p. 118).

Portanto, ao iniciar a instrução processual, o juiz, ouvidas as partes, deverá fixar os


pontos controvertidos, sobre os quais serão feitas as provas em juízo (art.451 do CPC).
O ônus da prova é de quem alega (regra), conforme trata o art. 818 das CLT.O art. 333
do CPC complementa:

O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor.

Importante acrescentar os ensinamentos do artigo 389 do CPC: “Incumbe o ônus da


prova quando: I - se tratar de falsidade de documento, à parte que a arguir; II - se tratar de
contestação de assinatura, à parte que produziu o documento.”
Entretanto, existem exceções, as quais o juiz inverterá as regras sempre que a sua
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aplicação colidir com os princípios que informam o direito material do trabalho; conforme já
pacificado pelo TST, na edição de suas Súmulas (nº 6, VIII; nº 16; nº212; nº 254 e nº 338, I,
III).
Compete-nos um alerta quanto às inovações do novo Código de Processo Civil (Lei n.
13.105/2015), que entrará em vigor no dia 17 de março de 2016. No texto atual, o ônus da
prova é previsto no art. 373, cuja redação é a mesma. A inovação está no §1º:

Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à


impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos
do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o
juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir
do ônus que lhe foi atribuído.

Pois bem, diante da necessidade justificada o juiz poderá distribuir o ônus da prova
entre as partes litigantes, conforme seja aferida a facilidade e dificuldade de cada qual na
produção probatória. Entretanto, o §2º veda a distribuição que gere “situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.”
Frente a isso, imperioso é que as partes guardem documentos e demais espécies de
provas para instruírem os processos em que figurarem, pois poderá ocorrer a redistribuição
do ônus.

7 Espécies de prova

No intuito de instruir o processo, utilizam-se os meios de prova, ou seja, as espécies


de provas a serem produzidas em juízo.
Sérgio Pinto Martins (2007, p. 317) cita como meios de prova: o depoimento pessoal
das partes, as testemunhas, os documentos, as perícias e a inspeção judicial. Diz, ainda, “o
depoimento pessoal é meio de prova, não é prova. Prova é a confissão da parte por
intermédio do depoimento pessoal.”
O Código de Processo Civil, em seu artigo 332, admite “todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para
provar a verdade dos fatos em que se funda a ação ou a defesa”. No entanto, o mencionado
diploma legal não esclarece o complexo conceito dos meios de prova moralmente legítimos.
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Nossa Carta Republicana de 1988, em seu artigo 5º, inciso LVI, admite no processo
somente as provas obtidas por meios lícitos; tal regra não é absoluta, pois diante de
circunstâncias excepcionais deverá ceder lugar à efetivação da Justiça em prol do próprio
sistema jurídico. O magistrado deverá proceder à luz dos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, vislumbrando o bem maior a ser tutelado nestes casos, acautelando-se para
não incutir em admissões errôneas e prejudiciais, bem como em atos arbitrários. Desta
forma, deverá ele (juiz) declinar os motivos relevantes, ensejadores da aceitação da prova
tida, a priori, como “proibida”.
Amauri Mascaro Nascimento (2002, p. 437) confere duplo significado ao conceituar
meio de prova, utilizando tanto para designar a atividade do Juiz ou das partes para a
produção das provas, bem como os instrumentos prestados ao magistrado no processo para
formar o seu convencimento.
Humberto Theodoro Júnior (2005, p. 464) considera como meios de prova as
presunções e os indícios e a prova emprestada. Contudo o entendimento majoritário não os
considera meios de prova, mas sim um instrumento do raciocínio do julgador. No campo da
prova emprestada, em observância aos princípios da economia e da celeridade processual,
não deverão ser requeridas com frequência, salvo se imprescindíveis às partes.
A Consolidação das Leis do Trabalho não enumera, taxativamente, os meios de prova
admissíveis no processo do trabalho, mas faz menção aos seguintes:
 interrogatório das partes (art. 848);
 confissão (art.844, caput);
 prova documental (arts. 787, 830);
 prova testemunhal (arts. 819, 820, 821 a 825, 828, 829, 848, § 2º),
 prova pericial (arts. 827, 848, § 2º).
No processo trabalhista, as provas serão produzidas conforme uma ordem exigida, ou
seja, juntada de documentos, perícia, depoimentos pessoais e de testemunhas. No entanto,
essa ordem não é taxativa, uma vez que o juiz pode alterá-la em atendimento ao princípio da
economia processual. Lembrando que caso alguma das provas requeridas, se produzida
primeiro, dispense as outras; deve o juiz determinar que esta seja considerada em
prevalência, igualmente com fundamento no princípio da economia processual.
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7.1 Prova documental

O documento descreve um fato ocorrido. Significa mostrar, indicar. Portanto é todo


objeto, proveniente de ato humano, que descreve um fato ou objeto, uma pessoa, uma cena,
um acontecimento. O documento não deve ser confundido como instrumento, já que este
último é uma espécie do primeiro, caracterizando-se nos escritos, públicos ou privados,
autênticos ou sem autenticação (NASCIMENTO apud MARTINS, 2007, p. 323).
A principal classificação dos documentos divide-os em particulares, “documentos de
feitura do interessado, totalmente escrito ou por este assinado”, e em documentos públicos,
aqueles “constantes dos livros e notas oficiais, como a escritura registrada em seu livro de
tabelião.” (MALTA, 1997, p. 387).
O documento apresenta várias funções, como a de dar existência ou validade a alguns
atos jurídicos que sem a respectiva documentação inexistem. Outra função é a meramente
processual, independendo o ato de sua existência ou não.
Determina o artigo 787 Consolidado que a prova documental seja apresentada
juntamente com a petição inicial, sendo aceita se estiver no original ou em certidão
autêntica, ou quando conferida a respectiva pública-forma ou cópia perante o juiz ou
tribunal (artigo 830 da CLT). A contestação deverá, também, trazer as provas documentais
fundamentando a defesa (artigo 845 da CLT). Vale lembrar que os documentos não
fundamentais ao pedido e/ou à contestação, podem ser apresentadas em razões de recurso.
Juntados os documentos, em audiência, após a contestação, cada uma das partes terá vista,
cabendo razões finais ou requerimento de prazo para produzir prova em contrário. A
impugnação terá cabimento quando juntado o documento intempestivamente ou diante de
vícios formais.
O juiz poderá, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, requisitar as repartições: a)
as certidões necessárias à prova das alegações das partes; b) os procedimentos
administrativos na causa em que forem interessada a União, o Estado, o Município ou as
respectivas entidades da administração pública indireta, nos termos do artigo 399 do Código
de Processo Civil. No mais, o juiz poderá, também, determinar que a parte exiba documentos
ou coisa em juízo (artigo 355 do CPC).
Caberá às partes suscitarem, em qualquer tempo e grau de jurisdição, o incidente de
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falsidade com a contestação ou no prazo de 10 (dez) dias contados da juntada do documento


aos autos (art. 390 do CPC). Suscitado o incidente, o processo será suspenso e o incidente
processado em apenso aos autos principais, sendo intimada a parte que produziu o
documento para responder em 10 (dez) dias,
designando, o juiz, a prova pericial. Contudo, caso a parte contrária não se oponha ao
desentranhamento, não será efetuada a perícia. A sentença deste incidente declarará a
falsidade ou autenticidade do documento, não cabendo dela recurso.

7.2 Depoimento pessoal e confissão

Depoimento pessoal é a declaração da parte (Reclamante ou Reclamado) sobre os


fatos relacionados ao litígio que originou o processo.
O comparecimento das partes à primeira audiência é obrigatório, no intuito detentar-
se a conciliação. Infrutífera essa tentativa, o Juiz inquirirá as partes e as testemunhas.
O não comparecimento em juízo implica em pena de confissão (art. 343, § 2ºdo CPC),
tal consequência consiste em:

[...] admitir como verdadeiros os fatos contrários ao interesse da parte faltosa e


favoráveis ao adversário. Sua imposição, todavia, dependerá deter sido o depoente
ser intimado com a advertência prevista no § 1º do art.343 (THEODORO JUNIOR,
2005, p. 469).

Confissão é a declaração feita por qualquer uma das partes, reconhecendo, total ou em
parte, a veracidade dos fatos que lhe são imputados; favoráveis à parte contrária. Exceto
quanto aos direitos indisponíveis, pois, em relação a eles, não terá validade a confissão.
Na ótica de Amauri Mascaro Nascimento, confissão é uma prova que pesa sobre
quem a faz e em favor da parte contrária, mera confirmação das alegações do adversário.
Não devendo ser confundida com depoimento pessoal, pois não são a mesma coisa. Pode
haver depoimento pessoal sem confissão. Como também pode haver confissão extrajudicial
(admitida com reserva no processo trabalhista), ou fora do depoimento pessoal na
contestação, desde que haja o reconhecimento parcial ou total de fatos alegados pelo autor
na contestação.

Confissão é, portanto, aceitação dos fatos alegados pela parte, como verdadeiros,
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produzida quer no depoimento pessoal, como é mais comum, quer em atos


processuais, quer em outros atos processuais e mesmo extrajudicialmente
(NASCIMENTO, 2002, p. 439).

7.3 Prova pericial

Pela perícia depreende-se tanto a atuação de um técnico no intento de se revelar


determinados fatos, quanto no depoimento de um profissional sobre esses mesmos fatos
dando seu parecer após avaliação.
A prova pericial deve ser requerida na petição inicial ou na contestação. No processo
trabalhista, as perícias mais freqüentes são as que envolvem a insalubridade, periculosidade,
comissões, equiparações salariais, acidentes de trabalho e moléstias profissionais (como
exemplo, a lesão por esforço repetitivo).
Os exames periciais serão realizados por perito (único) designado pelo juiz, que fixará
o prazo para entrega do laudo. As partes poderão indicar um assistente, cujo laudo deverá
ser apresentado no mesmo prazo conferido ao perito oficial. O artigo 424, incisos I e II do
Código de Processo Civil, permite, em caso do perito ou assistente não possuir conhecimento
técnico ou científico, ou se estes deixarem de cumprir o encargo no prazo determinado, que
sejam substituídos.
A perícia pode ser: exames (inspeção de pessoas, coisas ou semoventes);vistorias
(inspeção ocular de coisas, móveis ou imóveis) e avaliações (estimativa dos valores das coisas
móveis e imóveis).
Esse meio de prova somente será admitido quando for imprescindível o parecer
técnico, conhecimento especializado em relação ao fato, ou nos casos previstos pela própria
legislação trabalhista,

Art. 195. A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade,


segundo as normas do Ministério do trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo
de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrada no Ministério do
Trabalho.
§ 2º Argüida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja
por sindicato em favor de grupo de associados, o juiz designará perito habilitado na
forma deste artigo e onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do
Ministério do trabalho.
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7.4 Inspeção judicial

A inspeção judicial é uma atividade desempenhada pelo juiz que objetiva


esclarecer fatos conexos à lide. Portanto, quando o juiz vai diretamente ao local do trabalho
do empregado para observar pessoas ou coisas, objeto dos fatos alegados pelas partes nos
autos, tal atividade é denominada inspeção judicial.
A inspeção judicial pode ser feita “ex officio” pelo juiz ou a requerimento da parte,
não constituindo cerceamento de prova o seu indeferimento pelo magistrado, pois se há
provas evidentes, o juiz deve indeferir o requerimento ou se abster de inspetar, porque não
haverá interesse à decisão da causa.
Poderá a inspeção ser realizada em qualquer fase do processo e, concluída a
diligência, o juiz mandará lavrar o auto circunstanciado conforme previsão dos artigos 440 e
443 do Código de Processo Civil.
Não se deve confundir inspeção e perícia, já que no exame pericial é o perito que
deve examinar pessoas, coisas, lugares, etc.; ao passo que na inspeção judicial o juiz é que,
pessoalmente, fará tal exame, visando esclarecimentos sobre fato de interesse da causa, no
intuito de formar sua convicção.

7.5 Prova testemunhal

Prova testemunhal é aquela obtida por meio de testemunha. Testemunha é a pessoa


física, capaz de depor, estranha ao feito, com conhecimentos acerca do fato litigioso,
chamada a depor pela parte interessada, ou por ela arrolada e intimada pelo juízo, que após
ser compromissada (pois suas declarações devem refletir a verdade), narrará sobre esses
fatos controvertidos dos quais adquiriu conhecimento pelos seus próprios sentidos (SANTOS,
2004, p. 460).
A testemunha não deve ser confundida com as partes, pois é uma pessoa, alheia à
relação processual, convocada a depor por ter conhecimento de fato ou ato com o condão de
buscar a verdade e dirimir as dúvidas do juiz, firmando-lhe a convicção. É, portanto, um meio
de prova consistente na declaração de uma pessoa física (como já demonstrado) sobre fatos
ou atos controvertidos entre os litigantes.
A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso. No
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processo do trabalho, a prova testemunhal, geralmente, é a única forma de que as partes


dispõem para fazerem a prova de suas alegações, principalmente o reclamante que não tem
acesso aos documentos da empresa ou que, na maioria das vezes, não retratam a realidade
do trabalho por ele desempenhado, como exemplo disso tem-se o cartão de ponto. No
entanto, “a prova testemunhal é a pior prova que existe, sendo considerada a prostituta das
provas, justamente por ser amais insegura” (MARTINS, 2007, p. 332) e, facilmente,
influenciável.

A parte poderá fazer prova por testemunhas:


a) nos contratos simulados, para demonstrar a divergência entre a vontade real e a
vontade declarada;
b) nos contratos em geral, dos vícios de consentimento. É o que ocorre em relação
aos descontos autorizados pelo empregado, para mostrar que foram viciados (S.
342 do TST) (MARTINS, 2007, p. 333).

8 Sistema de avaliação das provas

Para Moacyr Amaral dos Santos, o ciclo probatório não se encerra com a produção
das provas, mas sim com a produção se completa a parte processual da instrução.

A prova conseguirá seu fim e dar-se-á por concluída quando a verdade resultante
das manifestações dos elementos probatórios, decorrentes do exame, estimação e
ponderação desses elementos, originar, nascer dessa avaliação efetuada pelo juiz, a
verdade. Define-se essa avaliação como o processo intelectual destinado a
estabelecer a verdade produzida pelas provas (SANTOS, 2004, p. 386-387).

O insigne autor entende, ainda, que o juiz deve desempenhar esse trabalho
intelectual de forma ordenada, criteriosa. Para tal, faz menção a três sistemas de apreciação
de provas:
 critério positivo ou legal, tempo das ordálias também denominado juízos de Deus, em
que se submetia alguém a uma prova crendo que Deus não o deixaria sair com vida,
ou sem um sinal evidente, se não dissesse a verdade. Nesse sistema, as regras legais
estabelecem os casos em que o juiz deve considerar provado, ou não, um fato. O juiz
estava preso às formalidades pré-estabelecidas; estando constrangido a dizer a
verdade conforme a lei lhe ordenava;
 livre convicção, também chamado da íntima convicção, o juiz é livre para indagar a
verdade e apreciar as provas. Não há vinculação de regra, uma vez que a convicção
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decorre não só das provas colhidas, mas também do conhecimento pessoal do juiz,
das suas impressões pessoais. Não estando obrigado a declinar os motivos que o
levaram a esta ou aquela conclusão. No ver do ilustre doutrinador supracitado, este
sistema peca por ofender os princípios fundamentais da justiça: o de que ninguém
pode ser condenado sem ser ouvido (princípios constitucionais da ampla defesa e do
contraditório)e o da sociabilidade do convencimento (sem motivação de sua decisão,
havendo arbitrariedades não poderiam ser contestadas);
 persuasão racional ou convencimento racional em que o juiz aprecia as provas
livremente, não seguindo suas impressões pessoais, mas sim tirando sua convicção
das provas produzidas, ponderando-as, utilizando uma consciência condicionada as
regras jurídicas, a lógica jurídica, as regras de experiência, mencionando na sentença
os motivos que formaram seu convencimento. Como a convicção do juiz está
condicionada, há obrigatoriedade de motivá-la, ou seja, “é-lhe imposta a obrigação
de dar as razões em que o seu espírito assentou o convencimento.” (SANTOS, 2004,
p.391).
O Código de Processo Civil pátrio filia-se ao sistema da persuasão racional(art.131 c/c
366 CPC). Portanto o juiz pode apreciar livremente todas as provas e atribuir o valor a cada
uma delas conforme o que entenda merecerem, desde que decline os motivos que o levaram
a decidir neste sentido, sempre, fundamentando seu convencimento; é o denominado “livre
convencimento motivado” do juiz.

Conclusão

Diante do exposto, ficou demonstrada a importância do estudo da prova; colocada


em lugar de destaque no processo, a prova possibilita a solução da lide, pois sua produção
contundente confere ao magistrado condições de formar seu convencimento e motivar sua
decisão no cumprimento da prestação jurisdicional.
Provar é demonstrar, pelos meios legais, a verdade dos fatos arguidos. Neste sentido,
a prova é um conjunto de atos que as partes, terceiros ou até mesmo o juiz praticam para
averiguação da verdade, buscando a convicção do magistrado.
Em regra, a prova deve ser produzida em audiência como preceitua os artigos336 e
446, II, do CPC. A CLT não dispõe expressamente sobre o assunto, entretanto extrai-se igual
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entendimento dos artigos 818 a 830 e 843 a 851.


Ressalta-se que na Justiça do Trabalho a audiência é una e, para que seja viabilizada, é
necessária a tripartição em inicial, de instrução e de julgamento. O que leva o insigne
doutrinador Manoel Antônio Teixeira Filho (1997, p. 73) a fixar três momentos para sua
produção: “1) com a inicial; 2) com a resposta do réu (na primeira audiência); 3) na audiência
de instrução (que é a segunda),” guardando ressalvas quanto à prova documental que deve
ser juntada nos dois primeiros momentos.
Há diversas modalidades de provas instituídas como as documentais, testemunhais,
depoimentos pessoais, perícias, presunções e os indícios, etc. Existem divergências
doutrinárias no que tange às presunções e os indícios, no sentido de que não constituem
meios de prova, mas sim um instrumento do raciocínio lógico do julgador (presunções) e/ou
meras probabilidades de ser verdadeiro o fato ou seu vestígio (indícios).
A Consolidação das Leis do Trabalho menciona como meios de prova o interrogatório
das partes, a confissão, a prova documental, a prova testemunhal, aprova pericial. Contudo,
o rol não é taxativo, aplicando-se o disposto no Código de Processo Civil que admite todos os
meios de prova lícitos e moralmente legítimos, mesmo que não descritos no Código.
Entretanto o profissional do direito deve utilizar-se das normas contidas no Código de
Processo Civil com cautela, não ensejando sua má aplicação e ocasionando, desta forma,
prejuízos às partes.
Finalizando, a prova das alegações incumbe à parte que as fizer (artigo 818,CLT).
Aplicando-se subsidiariamente ao processo trabalhista o artigo 333 do CPC, no sentido de
que cabe ao autor o ônus da prova de fato constitutivo de seu direito, enquanto ao réu, a
existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Entretanto,
existem exceções, as quais o juiz inverterá o ônus da prova, aplicando os princípios do direito
material do trabalho; princípio da aptidão para aprova, por exemplo. Esta inversão do ônus
da prova no processo do trabalho põe equilíbrio à relação processual, pois é nítida e de
grandes proporções as desigualdades das partes, principalmente, no que se refere à
produção de provas, em virtude de o empregado estar subordinado a seu empregador, além
de ser ele, empregador, quem detém os meios de provas, isto é, os documentos
comprobatórios da relação de emprego e as possíveis testemunhas que, também,
geralmente, estão a ele subordinadas pelo vínculo empregatício. Ademais com a vigência do
novo CPC poderá ocorrer a redistribuição do ônus da prova, mediante necessidade e
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justificativa do juiz.
Ficou demonstrada a importância da prova nos processos judiciais em todas as
esferas do direito na prestação da tutela jurisdicional, tornando-se impossível a concessão de
um direito não-provado. Ressaltada a necessidade do julgador se ater às provas constantes
nos autos, já que quod non est in actis non est in mundo, isto é, o que não consta nos autos,
não existe no mundo. Em suma, aquele que prova em juízo e convence o magistrado da
veracidade dos fatos arguidos, verá concedido o direito pleiteado.

Referências

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