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I.

SOLOS

Apontamentos elaborados por


Ana Mafalda Pacheco Ferreira
Santarém, 2014

.0.
1. DEFINIÇÃO DE SOLO E DE SUBSOLO

Solo
O solo é a formação natural resultante de uma superfície com estrutura móvel e
espessura variável, resultante da transformação da rocha - mãe subjacente sob
a influência de diversos factores físicos, químicos e biológicos. (A. Demolon)

Solo agrícola
Parte da crosta terrestre susceptível de assegurar o desenvolvimento da
planta.

Camada arável
É a zona mais superficial do terreno e na qual se desenvolvem grande parte
das raízes das plantas cultivadas. É a mais atingida e modificada pelos
trabalhos de lavoura, de mobilização ou de pastoreio. Não ultrapassa em regra
os 30 cm.

Subsolo
Constituído pela camada ou camadas subjacentes. Só excepcionalmente é
modificado por mobilizações mais ou menos profundas ou por raízes de maior
porte e sistema mais profundante.

Rochas
As rochas podem definir-se como grandes massas naturais, pertencentes
ao reino mineral, de características mais ou menos constantes e que
entram na constituição da crusta terrestre.

.1.
2. ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS AGRÍCOLAS

O solo forma-se a partir da rocha – mãe (rocha primária, granito ou


recente, aluviões). Para passar de rocha a solo, intervém vários fenómenos:

◘ Desagregação física
◘ Alteração química
◘ Processos biológicos
◘ Movimentos de elementos ou migrações

Estes fenómenos por sua vez são influenciados por diversos factores:

◘ Clima
◘ Rocha mãe
◘ Vegetação
◘ Relevo
◘ Homem
◘ Tempo

A influência relativa de cada um destes factores varia de local para local


e determina o tipo de solo formado. É por isso que existem muitos solos
diferentes.

2.1. Formação dos solos

A superfície da Terra é formada por vários tipos de rocha. Mesmo duras, essas
rochas podem quebrar-se, dando origem ao solo que pisamos. Além de outros
factores, a água tem um papel muito importante nesse fenómeno. Ela
pode modificar os minerais presentes nas rochas e desmanchá-las,
formando estratos ou camadas. As variações de temperatura, ao provocarem
diferenças de dilatação, originam a fissuração das rochas. A água penetra
nessas fissuras
e, sob a acção do gelo, provoca o seu alargamento. O vento e as águas
de escoamento asseguram a erosão das rochas.

Quando as rochas se despedaçam,


sobram grãos e partículas de diversos
tamanhos: os mais grossos são a areia
(1) e os mais finos a argila. O espaço
vazio entre os grãos recebe o nome de
poro (4), e pode ser ocupado por água
(2) ou ar (3). O solo tem ainda matéria
orgânica (restos de animais e plantas),
que se mistura aos minerais,
alimentando as plantas fixadas no
solo.

O clima, o tipo de rocha, o relevo, a vegetação e a presença de


organismos também interferem na formação do solo. E, para que ele esteja
pronto e em condições de produzir alimentos e servir de base para
construções, é necessário um determinado tempo. Se usado muito cedo, o
solo desgasta-se rapidamente.

À medida que ocorre a meteorização das rochas e os elementos


minerais coexistem com a matéria orgânica, o solo nasceu
verdadeiramente. No entanto, os processos físicos, químicos e biológicos
continuam e o solo evolui.

Os elementos mais solúveis e os mais finos têm tendência para descer,


arrastados pelas águas de infiltração: existe migração de elementos e formam-
se camadas sobrepostas de composição diferente.

Uma estreita camada de solo pode demorar séculos - milénios até - para
formar-se e estar pronta para ser usada. É por causa da lentidão desse
processo que os homens precisam encontrar meios de proteger os solos dos
danos provocados pela erosão, um fenómeno que, se não for controlado, pode
ser bastante destrutivo.
Em todos os solos encontram-se estes diferentes tipos de acção, mas
com intensidade diferente segundo a intervenção de vários factores: clima,
rocha mãe, vegetação, relevo, Homem, tempo.

2.2. Factores de formação dos solos

a) Clima
Em climas diferentes a mesma rocha pode dar solos diferentes. Em
climas semelhantes rochas diferentes podem originar solos semelhantes.

Há mesmo famílias de solos cujo nome indica o papel determinante do clima : é


o caso dos solos mediterrânicos. Nos climas tropicais (quentes e húmidos) os
processos de meteorização das rochas são sempre mais acelerados.

Sob este ponto de vista interessa salientar os elementos mais importantes do


clima: temperatura e humidade.

A rocha exposta aos raios solares e à água da chuva vai sofrendo alterações no
seu aspecto físico e na sua composição química.

A meteorização física deve-se às oscilações de pressão e temperatura


que provocam fissuras nas rochas, os quais se vão prolongando em
profundidade. Estas oscilações variam com a estação do ano, com o local, com
a altura do dia. Variam também com a natureza da rocha (dureza, propriedades
diferentes de contracção e dilatação)

A meteorização química deve-se essencialmente às condições de humidade.


É provocada pela água que, carregada de oxigénio e dióxido de carbono
provenientes do ar, vai desencadear numerosas reacções nas rochas. Por
exemplo a dissolução do calcário na água.
Em resumo, no clima importa realçar:

Acções térmicas – amplitudes térmicas muito elevadas,


dilatações, contracções, gelo e degelo.
Acções químicas – dissolução, oxidação, hidrólise...
Acções eléctricas – trovoadas
Acções mecânicas – precipitação, vento, etc.

b) Rocha mãe
A rocha é um factor passivo, ou de resistência, na formação do solo e sobre o
qual vão actuando outros factores.

Intervém pela sua duração e pela sua permeabilidade, por um lado e por outro
pela sua natureza química.
Uma rocha permeável (areia) será favorável a uma evolução mais rápida
do
que uma rocha impermeável (granito).

As rochas podem dividir-se em 3 grandes grupos: Eruptivas ou


magmáticas, sedimentares e metamórficas.

Eruptivas: Formam-se quando o magma (produto de composição complexa, existente


em profundidade a temperaturas elevadas) solidifica.
A composição química do magma e a sua taxa de arrefecimento determinam o tipo de
rocha final. Ex. Granito, basalto...

Sedimentares: Formam-se a partir de rochas já existentes ou de partes


de organismos mortos. Formam-se a partir de depósitos que se acumulam à superfície
da terra. Ex. areias, calcário...

Metamórficas: São rochas que foram substancialmente modificadas da sua


forma eruptiva, sedimentar ou metamórfica original.
São formadas quando as rochas são sujeitas a altas temperaturas, alta pressão,
fluidos ricos em minerais ou por uma combinação de todos estes factores. Ex. Xisto, ...
A partir da rocha é porem a acção combinada de todos os factores de formação
que resulta o solo.

c) Vegetação
Com o início da desagregação da rocha surgem fendas e aí aparecem logo as
primeiras plantas – musgos, líquenes, etc..

As raízes penetram nas fissuras da rocha e contribuem para o


alargamento destas.

À medida que se vão decompondo vão proporcionando o aparecimento


de outras plantas, e as raízes destas, aumentando em profundidade continuam
o processo de desagregação das rochas. A rocha vai assim
dando progressivamente lugar ao solo.

d) Relevo
O relevo atesta bem a acção construtiva e destrutiva dos vários agentes
atmosféricos e está directamente relacionado com as diversas formações
rochosas.

Consoante a topografia, assim a incidência da luz solar, a permanência


ou escorrimento das águas da chuva, os arrastamentos ou depósitos, os ventos
a erosão ou desgaste e o transporte, a exposição a norte ou a sul, o frio ou
calor mais ou menos prolongados, a geada, etc. vão variar

Podemos assim verificar que o solo se forma de maneira diferente consoante o


relevo e a sua exposição.

E também de acordo com o relevo, a sua maior ou menor profundidade.


e) Homem
Actua sobretudo indirectamente sobre a vegetação, podendo degradar ou
contribuir para uma boa conservação do solo.

À medida que cultiva o solo, o Homem poderá ir fazendo mais ou menos solo,
exemplo típico são as vinhas do Douro implantadas em rochas de xisto
cuja decomposição o homem vai acelerando com máquinas e alfaias.

Mas, se colabora por vezes com os factores de formação do solo, frequente é


também provocar a sua degradação com o seu uso menos
adequado, seguindo práticas de cultivo contrárias à sua conservação.
Chega mesmo a destruir num tempo mínimo o que se formou ao longo de
milhares de anos.

f) Tempo
Os processos de formação e evolução do solo decorrem ao longo do tempo,
sendo de esperar que independentemente de outros factores , quanto maior o
período de exposição aos agentes atmosféricos, tanto maior a espessura
(profundidade) do solo. E sobretudo melhor se diferenciam as diferentes
camadas.

Solos jovens serão assim menos diferenciados e menos espessos que


solos mais antigos. Há no entanto excepções, por exemplo os aluviões
(depósitos junto às margens dos rios) bem recentes, embora solos não
evoluídos são em geral profundos e normalmente muito férteis e fáceis de
trabalhar.

2.3. Desenvolvimento do perfil pedológico e classificação dos solos

Da interacção dos 5 factores de formação, resulta o desenvolvimento do perfil


do solo.
Quando se observa um corte da superfície até à rocha-mãe, verifica-se, num
solo evoluído, uma sobreposição de camadas que diferem pela cor, tamanho
dos constituintes, sua disposição, etc. Este corte vertical constitui o perfil
pedológico e as camadas são os seus diferentes horizontes.

Horizonte A – É o mais superficial, e


onde se desenvolve a
maior actividade biológica.
Normalmente é mais escuro que
as camadas inferiores pois o seu
teor em matéria orgânica é mais
elevado

Horizonte B – Se o houver, pode


notar-se uma maior acumulação de
elementos finos (argila, ferro
e/ou alumínio) e mudança de cor.
Trata- se de uma zona de
acumulação onde se depositam
os elementos arrancados do
horizonte A.

Horizonte C – Constituído por


material desagregado e ainda com
muitas características da rocha-mãe.

O horizonte O não se encontra presente nos campos cultivados. Trata-se de


um horizonte constituído por detritos, folhagem, e outros materiais
orgânicos que se depositam à superfície do solo. Esta camada é escura
devido à decomposição da matéria orgânica.

A classificação dos solos está baseada no grau de evolução dos perfis.


Alguns exemplos são apresentados:

▪ Aluvissolos
São solos pouco evoluídos sem horizontes claramente diferenciados,
praticamente reduzidos ao material originário. São constituídos por
depósitos estratificados de aluviões (depósitos junto às margens dos rios).
▪ Podzóis
São solos evoluídos de perfil ABC.
A matéria orgânica ácida produzida na charneca ou sob floresta de resinosas,
decompõe-se lentamente formando um horizonte escuro na superfície. Os
produtos de degradação desta matéria orgânica atacam a argila e
os elementos solúveis muito finos são arrastados. Forma-se um horizonte A
muito pobre, constituído por grãos de quartzo finos e cinzentos. Por
baixo, o horizonte B é muito compacto pelos elementos tirados de A.
São medíocres solos de cultura, pobres e ácidos.

▪ Hidromórficos
São solos sujeitos a encharcamento temporário ou permanente que
provoca intensos fenómenos de redução em todo ou em parte do seu perfil

3. SOLOS MAIS REPRESENTATIVOS NA REGIÃO


DE SANTARÉM

Na área geográfica do PDAR de Santarém podem ser definidas 3 zonas:

Zona do vale do Tejo (CAMPO)


Zona da CAMPINA (BAIRRO)
Zona da CHARNECA
BAIRRO

Solos:
Distinguem-se grosso modo duas grandes manchas de solos:

1. Solos vulgarmente conhecidos por argilo-calcários, provenientes de


materiais calcários. Estes solos vão desde solos delgados até bastante
profundos, dominando os pardos e aparecendo alguns vermelhos.

São solos de textura que varia do franco-argiloso, franco-limoso,


franco- argilo-limosa a argiloso calcário com pH de 7,5 a 8,5 e
frequentemente com elevada percentagem de calcário activo. Normalmente
são carênciados em fósforo e com baixos níveis de matéria orgânica.
Na sua generalidade são solos de mediana capacidade
produtiva. Susceptíveis de uma agricultura moderadamente intensiva.
No entanto há algumas áreas com elevada capacidade produtiva e
outras apenas com aptidão florestal.

2. Solos provenientes de areias, arenitos e argilitos, pouco evoluídos de


várias famílias de solos para-hidromórficos, passando ainda por solos
argiluviados e alguns podzolizados. São solos de textura grosseira, reacção
próxima da acidez e com fracas reservas minerais, portanto de menos
potencialidades e mais limitações do ponto de vista agrícola. Possuem
alguma pedregosidade e são também mais declivosos. A sua maioria possui
apenas aptidão florestal embora haja também alguns susceptíveis de uma
agricultura moderadamente intensiva.

Paisagem agrária:
Sequeiro onde predominam as culturas de cereais (trigo, aveia e cevada),
algumas consociações de aveia x leguminosas, cultura do grão de bico, olival,
vinha, algumas manchas de sobreiral, eucaliptal e pinhal. Este último
mais concentrado a norte dos concelhos de Rio Maior e Santarém.
Esta zona tem sofrido modificações com a reconversão do olival, tendo surgido
zonas de terra limpa que têm vindo a ser ocupadas com culturas regadas com
água proveniente de furos, utilizando modernos sistemas de rega. Também a
transferência da vinha do CAMPO para o BAIRRO proporcionou algumas
modificações.
Além das zonas cultivadas existe também prados espontâneos e uma pequena
parte de floresta.

CAMPO

Solos
No vale do Tejo há a considerar.
- A montante da Azambuja até Abrantes, os aluviossolos modernos calcários
de textura mediana, alguns ligeiros e outros pesados, sujeitos na maioria a
cheias no Inverno. Surgem também nesta zonas pequenas manchas
de solos mal drenados.
- A jusante da Azambuja os solos são salgados, em aluviões normalmente de
textura pesada, com ou sem calcário.

No vale do Sorraia encontram-se as formações aluvionares modernas de


textura mediana a ligeira, por vezes também pesada, não calcárias e com certa
representação de hidromórficos.

Paisagem agrária:
Culturas regadas (tomate, melão, milho e pimento), pomares e vinha.
Além dos solos cultivados surgem algumas pastagens, notando-se ainda uma
certa vocação florestal dos solos pela presença do pinheiro, eucalipto e
sobreiro.
CHARNECA

Solos
É uma extensa zona de solos arenosos com poucos declives e recortada por
alguns vales aluvionares.
Os solos provém de depósitos grosseiros, consolidados ou não, quase sempre
com calhau rolado. De referir ainda os estreitos e frequentes vales ao
longo dos quais se desenvolvem solos hidromórficos de textura ligeira.

Estes solos têm no seu conjunto um aproveitamento cultural superior ao


da zona do Bairro pois são mais profundos , menos erosionáveis e
valorizados pela presença de lençol freático.

Paisagem agrária:
Zona de transição para a serra onde se encontram espécies arbustivas,
arbóreas (pinhal e eucalipto) e olival. Na serra são dominantes as
espécies arbustivas e pastagens naturais, com algumas manchas de
solos com capacidade agrícola.
4. ESTUDO FÍSICO DO SOLO

4.1. Constituintes físicos do solo

O solo é um meio heterogéneo que compreende; partículas sólidas


de dimensões diferentes, água e intervalos maiores ou menores ocupados pelo
ar. Aqui vamos apenas falar da parte sólida do solo.

Na maior parte dos casos, o solo é constituído principalmente por


matéria mineral sólida, à qual, até profundidade variável está associada a
matéria orgânica. As partículas minerais podem apresentar grande
variedade de dimensões que podem ir desde pedras até materiais muito finos.

Os lotes constituintes de uma amostra de solo são (escala de Atterberg):

Diâmetro médio das


Lote ou fracção
partículas (  em mm)
Blocos > 200
Calhaus 100 – 200
ELEMENTOS
Pedras 50 – 100
GROSSEIROS
Pedras miúdas 20 – 50
Cascalho 20 – 5
Saibro 5 –2

Areia grossa 2 – 0,2


Areia fina 0,2 – 0,02
TERRA FINA
Limo 0,02 – 0,002
Argila < 0,002

A terra fina compreende não só a areia, limo e argila como também o calcário e
a matéria orgânica.
Calcário: é definido pela sua natureza química – carbonato de cálcio. Não está
presente em todos os solos (ex. os solos de origem granítica estão totalmente
desprovidos de calcário).
Matéria orgânica: é definida pela sua origem viva, animal ou vegetal. Passa
por várias fases de decomposição desde a sua incorporação até à formação de
húmus estável. Existe em todos os solos, mas geralmente, em
fraca quantidade (2% a 5%).
Os outros constituintes de origem siliciosa são definidos pela dimensão
das suas partículas (ver quadro em cima).

4.2. Principais propriedades dos constituintes físicos do solo:

Cada constituinte tem propriedades diferentes. Segundo a proporção de cada


um deles, o solo terá portanto, propriedades diferentes.

Areia: Tem principalmente um papel físico. Favorece o arejamento do solo e


também a sua permeabilidade.

Calcário: É um elemento básico do solo, evita a sua acidificação. Nem todo o


calcário no solo tem a mesma actividade. Esta é condicionada pela sua
solubilidade, que depende de:
¤ Dureza das partículas
¤ Tamanho das partículas
Além do teor do solo em calcário total é preciso também conhecer o seu teor
em calcário activo.

Argila: Formada por partículas muito finas, pode permanecer muito tempo em
suspensão no estado disperso. Pode também apresentar-se no
estado floculado ( ex. na presença de cálcio a argila junta-se, formando uma
espécie de flocos; diz-se que há floculação). Esta característica confere à
argila propriedades importantes:
¤ As partículas de argila retêm os alimentos da planta: cálcio, potássio,...
¤ As partículas de argila são um elemento de coesão no solo: os flocos
de argila ligam os grãos de areia entre si – importante na estrutura do
solo.
¤ A argila absorve muita água, tornando-se impermeável.
¤ A argila contrai-se ao secar – os solos argilosos fendem-se no verão.
¤ A argila é plástica – quando está húmida é possível amassa-la e dar-
lhe a forma que se quiser, conserva esta forma ao secar.

Húmus: É a parte mais importante da matéria orgânica. A sua proporção


é muitas vezes da ordem dos 30% da matéria orgânica inicial, ao fim de 2 a 3
anos. Apenas os detritos vegetais dão origem ao húmus.
É uma substância fina, escura. A sua cor escura favorece o aquecimento
do solo. Tem propriedades semelhantes às da argila.
No solo, a argila e o humus encontram-se sempre floculados, formando o
complexo argilo-humico.

4.3. Textura do solo

A textura do solo é definida pela proporção relativa de partículas minerais de


várias dimensões que entram na constituição da terra fina.

Indica assim as quantidades relativas de areia, limo e argila que existem no


solo (ou em cada horizonte).

A determinação da textura de um solo é muito importante pois o


comportamento físico-químico dos solos minerais depende fortemente das
proporções relativas de areia, limo e argila. A textura de um solo está
na base da maior parte das propriedades deste.

São 3 as grandes classes de textura:


Ligeira ou grosseira
Predominam os materiais arenosos. Solos arenosos que são normalmente
pobres e secos.

areia
90%

limo
5%
argila
5%

Mediana
verifica-se um certo equilíbrio entre areia, limo e argila. Solos
francos. Normalmente férteis e fáceis de trabalhar.

limo
25%

argila
30%

areia
45%
Pesada ou fina
Predomina a argila. São solos pesados, difíceis de trabalhar. Conservam bem a
água, mesmo com tendência para o encharcamento. Fendilham na época seca.
Podem ser muito férteis.

argila
60%

limo
25%
areia
15%

Há depois uma série de subdivisões ou combinações destas classes de


textura. Pode dizer-se que um solo é bom quando a proporção de partículas de
areia, limo e argila é equilibrada.

Com alguma prática, é relativamente segura a determinação em campo


das três grandes classes de textura. Com um pouco de terra colhida, e depois
de separados ou elementos grosseiros (saibro, cascalho e pedras) e/ou
outras impurezas, coloca-se a mesma na palma da mão e vai-se humedecendo.
Com o auxilio da outra mão começa-se por tentar fazer um filamento; se
não se conseguir, significa que estamos perante uma terra de textura
ligeira; se se obtiver filamento, será uma textura mediana e, se ao tentar fazer
uma argola com esse mesmo filamento, esta não fendilhar, podemos dizer que
se trata de uma textura pesada.

Para obter resultados mais rigorosos, recorre-se a análises laboratoriais –


Análise granulométrica.
4.4. Estrutura do solo

Entende-se por estrutura do solo, o arranjo das partículas terrosas em


agregados naturais, em que a ligação das partículas constituintes é mais forte
do que a ligação dos agregados entre si. Há macroporos nestes intervalos.

Segundo a forma e dimensão dos agregados podemos definir diferentes tipos


de estruturas:

Sem estrutura – Os grãos de areia são livres. Ex. solos muito arenosos.
Estrutura grumosa – Os agregados são arredondados e dispostos em grumos
de alguns milímetros. Há assim espaço para a circulação da água e do ar. Ex.
Solos francos
Estrutura prismática – Os agregados tem forma de prismas justapostos
deixando muito menos intervalos entre si. Ex. Solos argilosos

Segundo a forma e o tamanho dos agregados, os intervalos que deixam entre si


são maiores ou menores: surge a noção de porosidade.

Segundo a dimensão dos intervalos, podemos distinguir:

Macroporosidade: espaços lacunares que


estão preenchidos por ar, num solo normalmente seco

Porosidade

Microporosidade: Espaços mais finos (espaços


capilares), que são ocupados pela água num solo
normalmente seco.

Tem de existir um equilíbrio entre a macro e a microporosidade. Num solo


em bom estado de cultura a microporosidade é da ordem de 60% da
porosidade total.
Macro-
Microporosidade -porosidade

30% 20%

Sólido Água Ar

50% 50%

porosidade

Vários factores fazem variar a porosidade:

Textura  Condiciona principalmente a microporosidade. Solo argiloso


tem maior porosidade que um arenoso.

Estrutura  Condiciona principalmente a macroporosidade. Solo de estrutura


grumosa tem melhor porosidade que um solo de estrutura prismática.

Profundidade  Em igualdade de textura a porosidade diminui com a


profundidade devido a:

 Menor teor de matéria orgânica


 Piores condições de estrutura
 Peso dos níveis superiores

Trabalho do solo  Um solo lavrado de fresco pode ter uma porosidade de


cerca 70% ao passo que num compactado pode descer aos 30%.
Os trabalhos de lavoura destroem, com frequência a estrutura das
camadas
superficiais, sobretudo quando executadas em épocas menos apropriadas.
5. PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO

A textura e a estrutura condicionam o conjunto das propriedades físicas


do solo:
Comportamento da água no solo
Arejamento
Aquecimento
Facilidade de trabalho no solo

5.1. Comportamento da água no solo

Podemos dizer que o solo desempenha um papel de reservatório de água das


chuvas para a planta. Enche-se no período chuvoso e esvazia-
se progressivamente entre as chuvas. É portanto importante ver como
este reservatório se comporta para melhor o utilizar.

Infiltração da água no solo


Durante uma chuvada, a água que cai no solo infiltra-se, escorre ou evapora-
se:

infiltração
A água de infiltração é a única importante para nós. A sua proporção
em relação à agua recebida depende de vários factores:

Declive – Quando acentuado, favorece o escoamento

Compactação do solo – o solo mobilizado permite uma melhor infiltração

Microrelevo – A água escorre mais facilmente sobre um solo liso do que sobre
um solo lavrado (salvo se a lavoura for efectuada no sentido de maior declive)

Humidade do solo – A água infiltra melhor num solo ligeiramente húmido.

Cobertura vegetal - A água infiltra melhor num solo coberto de vegetação que
num solo nu.

Regime da chuva – Numa chuvada muito violenta a água não tem tempo para
se infiltrar. Numa chuvada muito fraca, a água é em grande parte evaporada. A
chuva mais eficaz é aquela que cai com uma intensidade de cerca de 1mm/h.

Temperatura e vento – Condicionam a evaporação.

Retenção da água pelo solo e permeabilidade

Onde e como a água é retida no solo?

A água pode ser retida de várias maneiras. A figura seguinte mostra as


diferentes formas de retenção de água pelo solo.
Parte da água é fixada por adsorsão na superfície dos colóides. Desloca-
se molécula a molécula no estado de vapor. Esta água é denominada por água
higroscópica.

Outra parte é sujeita a fenómenos de capilaridade. Encontra-se sob a forma de


películas contínuas que envolvem as partículas do solo e nos microporos.
Desloca-se muito lentamente nos espaços intersticiais no estado líquido. Trata-
se da água capilar.

Uma terceira parte não é retida pelo solo. Desloca-se apenas nos macroporos
sob a acção da gravidade. Chama-se água gravitacional.

Nem todos os solos retêm a mesma quantidade de água. Por exemplo um solo
argiloso retém mais água que um arenoso. Quanto mais finos são
os elementos do solo, mais água eles retém. A sua superfície específica é
maior, portanto têm mais água higroscópica e deixam mais espaços capilares
em que a água pode ficar retida.
Existem vários conceitos que se podem estabelecer, tendo em conta a
capacidade dos solos para reter água. Esses conceitos são:

Capacidade máxima para a água  % máxima de água que um solo pode


conter. Corresponde ao preenchimento total da porosidade.

Capacidade de campo (C.C)  Teor de humidade retido pelo solo


quando, depois de ter cessado o movimento gravitacional, o movimento da
água capilar diminui substancialmente.

Coeficiente de emurchecimento (C.E)  Teor de humidade correspondente à


água dita higroscópica. Pode designar-se como o limite inferior de água no solo
disponível para as plantas.

Capacidade utilizável (C.U)  É a água contida no solo que não


oferece dificuldades à absorção radicular. Tem como limite superior a C.C
e limite inferior o C.E.
6. ESTUDO QUÍMICO DO SOLO

6.1. O poder adsorvente do solo

Adsorção  Fenómeno de acumulação de matéria na interface de um sólido


com uma solução aquosa. É um fenómeno de interacção das superfícies dos
colóides minerais e húmicos com os iões dissolvidos na solução do solo.

Os solos têm capacidade para adsorver iões

Carga eléctrica das partículas sólidas.


A capacidade de um
Superfície específica das partículas sólidas. É
solo para adsorver
tanto maior quanto mais divididas estão
iões depende:
as partículas. Atinge valores mais elevados no
caso
dos materiais coloidais.

Minerais de argila
Fracção coloidal dos
Matéria orgânica (humus)
solos:

Hidróxidos de Fe e Al

Fracção mais reactiva do solo, isto é,


estes constituintes do solo é que são
permitem que os nutrientes fiquem
retidos no solo.
A figura seguinte mostra a forma como os elementos do solo (nutrientes) ficam
retidos no chamado complexo argilo-húmico.

Os catiões mais abundantes na maioria dos solos são:

2+ 2+ + + 3+ +
Ca ; Mg ; K ; Na ; Al e H

Bases de troca

2+
Em solos de reacção alcalina e neutra os catiões dominantes são Ca ;
2+ + +
Mg ; K ; Na

3+ +
Em solos de reacção ácida os catiões dominantes são  Al e H

Uma das características fundamentais da adsorção é a sua reversibilidade, i.e.,


os iões adsorvidos podem ser substituídos por outros presentes na solução do
solo  Reacções de troca

Troca iónica  Processo reversível pelo qual os iões retidos na superfície da


fase sólida são, sem alteração sensível ou decomposição desta,
permutados com quantidades equivalentes de iões em solução numa fase
líquida, ou pertencentes a outra fase sólida em contacto com a primeira.
Resumindo,

Todos os solos têm capacidade para reter elementos nutritivos para as plantas
(catiões).

Estes elementos são retidos pela argila e pelo húmus, que se ligam formando o
chamado complexo argilo-húmico.

A capacidade de reter estes catiões e de trocá-los por outros que surjam


no solo chama-se capacidade de troca catiónica.

A capacidade de troca catiónica depende do tipo de solo. Por exemplo, um


solo arenoso tem menor capacidade de troca catiónica que um argiloso porque
tem menor quantidade de argila e húmus.

Em solos alcalinos os catiões que existem em maior quantidade


são:
2+ 2+ + +
Ca ; Mg ; K ; Na . Estes catiões são chamados também de bases de troca.

+
Em solos ácidos os catiões que existem em maior quantidade são: H e
3+
Al . À soma destes catiões chama-se também acidez de troca.

6.2. A reacção do solo (pH)

O pH traduz de uma certa maneira a concentração hidrogeniónica num


solo, dando-nos um grau de acidez ou basicidade em função da
+
abundância dos iões H .

+
Nos solos ácidos há pois excesso de iões H no complexo de adsorção,
enquanto que nos solos alcalinos predominam as bases de troca.
Ex.:

pH ÁCIDO pH ALCALINO
+ ++
O complexo retém mais H O complexo retém mais Ca
++ +
do que Ca do que H

A escala de pH varia entre 0 e 14. Assim, consoante o seu valor um


solo é considerado ácido, neutro ou alcalino:

0 6,5 7 8 14

Solos ácidos Solos alcalinos

Solos neutros
Acções do pH sobre o solo:

 inconvenientes da acidez

 Degradação da estrutura
++
 Fenómenos de troca catiónica afectados (devido à falta de Ca )

 inconvenientes da alcalinidade

++
 Bloqueio de certos micronutrientes pelo ca

Acções do pH sobre a vegetação:

As diferentes espécies cultivadas têm preferências para determinado pH,


sendo possível definir uma zona de pH óptimo para cada uma.

Exemplos de pH preferidos por algumas culturas:

Espécies Valores de pH
cultivadas
4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7 7,5 8
Tremoço
Arroz
Centeio
Aveia
Tomateiro
Milho
Alface
Trigo
Oliveira
Girassol

Cevada
Luzerna
6.3. Composição química

As plantas para o seu crescimento tem necessidade de vários nutrientes. Estes


podem ser classificados em:

Carbono (C)
Oxigénio (O) São extraídos do ar e da água
Hidrogénio (H)

São denominados por macronutrientes principais


Azoto (N) (São absorvidos pelas plantas em quantidades de um modo
geral elevadas e na maioria das situações é necessário
Fósforo (P)
proceder à sua aplicação ao solo e/ou às plantas sob a
Potássio (K)
forma de
fertilizantes).

São denominados por macronutrientes secundários (São

Cálcio (Ca) absorvidos pelas plantas em quantidades ainda relativamente


elevadas mas é costume admitir-se que se encontram
Enxofre (S)
nos solos em quantidades suficientes para dispensar a
Magnésio (Mg)
sua
aplicação sob a forma de fertilizantes)

Estes elementos formam mais de 99% da matéria vegetal seca. A


restante fracção é constituída pelos chamados micronutrientes (Elementos
essenciais às plantas mas, ao contrário do que acontece com os
macronutrientes são absorvidos em quantidades reduzidas, podendo ser
fitotóxicos quando absorvidos em excesso). Destes micronutrientes os
mais importantes são: Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Cobre (Cu),
Boro (B) e Molibdénio (Mo).

Estes diferentes elementos encontram-se no solo em maior ou


menor quantidade e em formas mais ou menos disponíveis para as plantas.

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