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Orientação Homilética

Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição


Produção de esboços de sermões para uso nos sermões de prova

I. A orientação de Futato em Interpretação dos Salmos


[FUTATO, Mark, Interpretação dos Salmos (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011),
p.179-182]

Produzir esboços: a lógica


Há dois princípios para formular um esboço lógico de seus pensamentos sobre o texto e
de sua apresentação dele: coordenação e subordinação. Alguns pensamentos são
coordenados; outros são subordinados. Pensamentos coordenados ficarão no mesmo nível na
apresentação final, enquanto pensamentos subordinados aparecerão em um nível inferior.
Como uma ilustração simples, analise a lista seguinte: pombas, cães, aves, animais, buldogues,
dálmatas e falcões. Quais termos são coordenados e quais são subordinados? Pombas e
falcões são coordenados entre si, mas subordinados a aves. De forma similar, buldogues e
dálmatas são coordenados entre si, mas subordinados a cães. Finalmente, aves e cães são
categorias coordenadas, mas subordinadas ao termo mais genérico da lista, animais. Se essa
lista fosse um texto, os resultados de nossa análise resultariam na seguinte apresentação:

Animais
1. Aves
a. Pombas
b. Falcões
2. Cães
a. Buldogues
b. Dálmatas

Como você analisaria e apresentaria a seguinte lista: ensinar, frutos, paz, pregador,
estudar, amor, funções? Qual é a ideia principal ou o termo mais genérico? Quais são os
pontos principais, ou seja, quais termos são coordenados entre si e subordinados ao termo
mais genérico? Quais são os subpontos, aqueles termos coordenados entre si e subordinados
aos pontos principais? A lógica dos termos resulta no seguinte esboço:

Pregador
1. Funções
a. Estudar
b. Ensinar
2. Frutos
a. Amor
b. Paz

Vamos retornar ao salmo 13, que já concluímos ter três estrofes baseadas em mudanças
de modo gramatical em seus versos. Sem se preocupar neste momento em tornar poética a
sua apresentação, mas mantendo o foco na lógica dos seus pensamentos sobre o texto e da
sua apresentação dele, como você poderia esboçar esse salmo? Antes de continuar lendo,
tente produzir seu esboço sozinho.
Algo que serve para coordenar todas as três estrofes é que elas estão expressando os
sentimentos e pensamentos de Davi em um momento de profunda aflição. Os versos 1-2[2-3]
expressam as questões atormentadoras de Davi, questões sobre Deus (observe o “te” no
v.1[2]), sobre si mesmo (observe o “eu” e “minha” no v.2a[3a]) e sobre outros (observe o
“inimigo” no v.2b[3b]). Os versos 3-4[4-5] expressam os pedidos de Davi, aquilo que ele deseja
que Deus faça (“atenta” e “responde” no v.3a[4a]) por ele (“[meus] olhos” e “eu não durma”
no v.3b[4b]) em relação aos outros (“inimigo” e “adversários” no v.4[5]). Os versos 5-6[6]
expressam a resolução de Davi de confiar no amor e na bondade do Senhor e sua resolução de
louvar ao Senhor. Um esboço analítico simples que demonstre a coordenação e a
subordinação lógicas das ideias nesse poema poderia ser assim:

Lidando com a aflição: o exemplo de Davi


I. As questões de Davi (v.1-2[2-3])
A. Sobre Deus (v.1[2])
B. Sobre si mesmo (v.2a[3a])
C. Sobre os outros (v.2b[3b])
II. Os pedidos de Davi (v.3-4[4-5])
A. Em relação a Deus (v.3a[4a])
B. Em relação a si mesmo (v.3b[4b])
C. Em relação aos outros (v.4[5])
III. As afirmações de Davi (v.5-6[6])
A. Sua resolução em confiar no Senhor (v.5[6a])
B. Sua resolução em louvar ao Senhor (v.6[6b])

Embora você possa achar que seu trabalho acabou após ter produzido um esboço lógico,
você ainda precisa considerar um passo final, que é a linguagem do seu esboço.

Produzir esboços: a linguagem


Há uma diferença entre a linguagem da exegese e a linguagem da exposição. A
linguagem exegética em geral é bem conectada ao texto e na terceira pessoa, enquanto a
linguagem expositiva é universal1 e na segunda pessoa.2 O esboço acima do salmo 13 é
exegético, por isso sua linguagem está fortemente associada ao texto e está na terceira
pessoa. O benefício de usar uma linguagem assim é que ela “permite focar mais precisamente
o contorno, a estrutura e o conteúdo do texto; consequentemente, também o seu
significado”.3 A desvantagem é que uma linguagem assim salienta imediatamente a distância
entre o texto e a audiência contemporânea. O esboço acima afirma que o salmo 13 é sobre
Davi, e não sobre você. Usar a linguagem exegética sugere que a aplicação é algo que o
pregador adiciona à exposição.4 O uso da linguagem expositiva, entretanto, assume que
“exposição é na verdade aplicação”.5
A linguagem expositiva é universal. Isso significa simplesmente que a mensagem
imbuída no texto se aplica a todas as pessoas em todos os tempos e lugares e deve ser assim
comunicada. Poderíamos dizer, por exemplo, que Gênesis 14 trata de Abraão e dos reis do
leste; ou poderíamos dizer que é uma ação embasada na promessa e motivada pelo amor.6 A
primeira opção sugere que a história trata de um tempo e espaço distantes, enquanto a
segunda sugere que a história impacta como as pessoas devem viver hoje. Poderíamos dizer
que o salmo 121 apresenta promessas aos peregrinos israelitas em sua jornada até Jerusalém;

1
Sobre o uso da linguagem universal na pregação, vd. Hendrik Krabbendam, “Hermeneutics and preaching”, em: The
preacher and preaching: reviving the art in the twentieth century (Phillipsburg: P & R, 1986), p. 239-245.
2
Sobre o uso de uma linguagem na segunda pessoa na pregação, vd. John F. Bettler, “Application”, em: The
preacher and preaching: reviving the art in the twentieth century (Phillipsburg: P & R, 1986), p. 331-349.
3
Krabbendam, “Hermeneutics and preaching”, p. 239.
4
Bettler, “Application”, p.332.
5
Krabbendam, “Hermeneutics and preaching”, p. 239.
6
Ibidem, p. 241.
ou poderíamos dizer que ele apresenta promessas para todos os crentes em sua jornada pela
vida. A linguagem expositiva cativa o coração e a mente desde o início.
A linguagem expositiva também deve ser na segunda pessoa. Expressões na segunda
pessoa (...) cativam imediatamente a audiência e aplicam o texto aos ouvintes. Poderíamos
dizer que Filipenses 1.1-11 trata de como o Espírito Santo encoraja a unidade por meio do
serviço; ou poderíamos dizer que se trata de como o Espírito Santo encoraja você a buscar
unidade na igreja por meio do serviço mútuo.7 Mesmo se nenhuma outra aplicação for
apresentada, você já aplicou o texto ao comunicar o que o Espírito Santo deseja que sua
audiência faça. Poderíamos dizer que o salmo 29 convida os anjos à adoração em reação à
presença teofânica de Deus; ou poderíamos dizer que ele o convida à adoração quando você
percebe o poder e a glória de Deus na criação. Afirmar que a linguagem expositiva deve ser na
segunda pessoa não é afirmar que não há espaço na pregação para um discurso na primeira ou
na terceira pessoa. Ao se acrescentar o discurso na primeira pessoa (“eu” e “nós”) na
linguagem expositiva, obtém-se o benefício de se criar uma identificação do pregador com a
audiência e, por conseguinte, de se evitar uma crítica condescendente à congregação. A
questão em foco aqui é que um uso equilibrado do discurso na segunda pessoa, especialmente
nos níveis mais altos do esboço, imediatamente cativará a audiência e aplicará o texto.
Com essa linguagem expositiva em vista, nosso esboço do salmo 13 poderia ser assim:

Como lidar com a aflição na vida


I. Apresente seus questionamentos (v.1-2)
A. Sobre como Deus está tratando você (v.1)
B. Sobre o conflito em sua própria alma (v.2a)
C. Sobre sua frustração causada pelos outros (v.2b)
II. Faça suas petições (v.3-4)
A. Para que Deus preste atenção em você (v.3a)
B. Para que Deus dê livramento a você (v.3b)
C. Para que Deus o vindique quanto aos outros (v.4)
III. Afirme suas intenções (v.5-6)
A. De confiar no Senhor (v.5)
B. De louvar ao Senhor (v.6)

Há certamente outros modos de proclamar a mensagem do salmo 13. Porém, uma


apresentação como essa acima tem a vantagem de levar sua audiência a percorrer
diretamente o fluxo de pensamento no texto. Além disso, tem a vantagem de falar à sua
audiência em uma linguagem clara e inesquecível que imediatamente “aplica” o texto à sua
vida.

7
Bettler, “Application”, p. 340.
II. Modelo de esboço a ser adotado nos sermões de prova
Nome do aluno

Data da pregação

Título ou tema do sermão

Passagem a ser exposta

Ideia exegética

Ideia homilética

Propósito do sermão: Ao final deste sermão, o ouvinte... (incluir objetivo na área de


conhecimento, a reação ao conhecimento e a ação resultante pretendida).

Introdução (Não redigir neste esboço a Introdução. Apenas uma oração que informe seu
conteúdo. Ela estará inteira no sermão escrito que os professores também receberão)

I. Ideia ou tese completa da primeira divisão


A. Ideia ou tese completa da primeira subdivisão
B. Ideia ou tese completa da segunda subdivisão
C. Idem para outras subdivisões, se houver
II. Ideia ou tese completa da segunda divisão
A. Ideia ou tese completa da primeira subdivisão
B. Ideia ou tese completa da segunda subdivisão
C. Idem para outras subdivisões, se houver
III. Mesmo procedimento para quantas outras divisões houver

Conclusão (Não redigir neste esboço a Conclusão. Apenas uma oração que informe seu
conteúdo. Ela estará inteira no sermão escrito que os professores também receberão)

Cláudio Marra

São Paulo, março de 2019

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