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História e Tecnologias da Televisão

Karen Cristina Kraemer Abreu∗


Rodolfo Sgorla da Silva†

Índice Resumo

Introdução 1 Este trabalho é uma investigação bibli-


1 Memórias da Televisão 2 ográfica desenvolvida na Universidade Fe-
2 A Televisão ao Vivo 4 deral de Santa Maria – UFSM, no campus de
3 A Chegada do Videotape 4 Frederico Westphalen/RS, e se propõe a res-
4 Color Bars: Deslumbrando a Audiên- gatar a História da Televisão, focando tanto
cia 5 nos cientistas que contribuíram para que os
5 Os Formatos U - MATIC , BETAMAX , raios catódicas fossem recebidos nos apare-
VHS E SVHS 5 lhos de TV das casas dos espectadores pro-
6 TV a Cabo: uma Programação Seg- movendo a propagação de informações no
mentada 6 modelo um para muitos como também dos
7 HDTV: A Televisão de Alta Definição 8 processos tecnológicos utilizados possibili-
8 HDMI: Tudo Novo de Novo 9 tando tais transmissões, chegando ao mo-
9 Tendências e Panorama no Brasil 10 delo HDMI. Este estudo foi desenvolvido em
Referências 11 2011 como atividade do grupo de pesquisa
Convergência e Jornalismo, ConJor.
Palavras-chave: História da Televisão,
Tecnologias da Televisão, TV a cabo, Tele-
∗ comunicações, Televisão no Brasil.
Professora Assistente do Departamento de Ciên-
cias da Comunicação da Universidade Federal de
Santa Maria – UFSM/ FW. Doutoranda e Mestre em
Ciências da Linguagem/UNISUL. Graduada em Co- Introdução
municação Social, habilitações em Jornalismo e em
informações sobre as realiza-
Publicidade e Propaganda/UNISINOS. Membro do
grupo de Pesquisa Convergência e Jornalismo – Con-
Jor/UFSM. karen.kraemer@hotmail.com.
B USCAR
ções passadas é resgatar a história e se
instrumentalizar para projetar os próximos

Estudante do curso de Comunicação Social com passos; os avanços necessários podem surgir
habilitação em Jornalismo da Universidade Federal
de Santa Maria– UFSM/FW. Membro do grupo dos resultados das reflexões. Este artigo re-
de Pesquisa Convergência e Jornalismo – Con- sulta de uma pesquisa bibliográfica e, é uma
Jor/UFSM. rodolfosgdasilva@gmail.com. tentativa de repensar as propostas para a tele-
visão a partir de um olhar para o passado,
2 Karen Cristina Kraemer Abreu & Rodolfo Sgorla da Silva

sem esquecer de estruturar os caminhos fu- implicava o uso de fio condutor.


turos, em especial a convergência das mí- (SQUIRRA, 1995, p. 33).
dias.
Ainda no século XIX, em 1892, os cien-
tistas alemães Juluis Elster e Hans Geitel in-
1 Memórias da Televisão ventaram a célula fotoelétrica, ampliando os
O cientista sueco Jakob Berzellus, em 1817, estudos de Smith. Constantin Perskyi, apre-
observou a fotossensibilidade do selênio ao sentou, em 1900, ao Congresso Internacional
ser exposto à luz. A preciosa informação de Eletricidade de Paris uma tese que des-
descoberta por Berzellus, de que o selênio crevia o funcionamento de um equipamento
possuía a propriedade de transformar a e- com base nas propriedades fotocondutoras
nergia luminosa em energia elétrica, só foi do selênio, transmitindo imagens à distância.
comprovada 56 anos depois, em 1873, pelo O título daquele trabalho era “Televisão”,
telegrafista irlandês Willougeby Smith May, palavra que criou a partir da reunião de dois
que realizou mais pesquisas com o selênio. termos: 1) tele, que pode ser traduzido do
O alemão Paul Nipkow, em 1884, patenteou grego por longe, e 2) videre, que em latim
uma proposta de transmissão de imagens à signfica visão.
distância, fato que lhe concedeu o crédito de Não se pode indicar um único cientista
"fundador da técnica de TV". Relata Ruiz responsável pela invenção da televisão pois
(1971, p. 29), que Nipkon “produziu um muitas foram as contribuições feitas por
disco cheio de pequenas perfurações, mon- vários estudiosos. Cada nova descoberta
tado de forma que, girando em alta veloci- se utilizava dos conhecimentos anteriores já
dade, pudesse projetar a grandes distâncias a disponíveis. Arbwhnett, em 1906, desen-
imagem de uma pequena cruz”. Conforme volveu o sistema de visão à distância (tele-
Squirra, visão) através dos raios catódicos e da explo-
ração mecânica de espelhos. Boris Rosing,
Os pequenos buracos estavam dis- na Rússia, também desenvolveu uma técnica
postos em forma espiral e colo- semelhante.
cados na frente de um cristal de Em 1920, tendo como base o trabalho
selênio. [...] girando o disco de Niptow, o cientista escocês John Lo-
rapidamente, a luz correspondente gie Baird realizou as primeiras transmissões
a cada partícula da imagem foca- através do sistema mecânico. Surge na Rús-
lizada produziria no selênio dife- sia, em 1923, o a partir dos estudos de
rentes impulsos elétricos que se- Wladimir Kosma Zworykin1 , o iconoscópio,
riam amplificados e enviados por invento que utilizava o tubo de raios catódi-
um fio até o aparelho recep- cos, um tubo especial que elimina o pro-
tor, onde outro disco igual ao cesso mecânico desenvolvido por Nipkow.
primeiro, girando na mesma ve- O escocês Baira conseguiu transmitir con-
locidade, faria a recuperação da tornos de objetos à distância em 1924; e, no
imagem de modo inverso. Era 1
Wladimir Kosma Zworykin, russo nacionalizado
a solução de ordem mecânica, e norte-americano. (SQUIRRA, 1995, p. 33).

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ano seguinte, 1925, John Logie Baird trans- BBC de Londres transmitiram a cerimô-
mitiu, de sua casa, imagens à distância do nia da coroação do Rei George VI da Grã-
seu vizinho Willian Taynton, à casa ao lado, Bretanha, atingindo cerca de 50 mil telespec-
fazendo de Taynton o primeiro homem tele- tadores, consolidou a importância da tele-
visado ao vivo na história da televisão, uti- visão inglesa no mundo. É evidente que a
lizando o padrão mecânico e definição de qualidade de imagem e de transmissão nem
30 linhas. Em 1927, Phil Farnworth paten- de longe se compara ao que se vê na atuali-
teou um sistema de secador de imagens por dade. Na Rússia, a televisão começou a fun-
raios catódicos, porém com nível de reso- cionar em 1938.
lução não satisfatório, inventando a televisão Um ano depois, nos Estados Unidos, a
eletrônica. No entanto, foi John Baird que transmissão televisiva, com imagem e som,
do discurso do presidente Franklin D. Roo-
[...] em fevereiro de 1928 realizou sevelt pronunciado na Feira de Amostras de
a primeira transmissão de televisão Nova Iorque, marca o início da comunicação
transatlântica, ligando a estação in- eletrônica no continente Americano.
glesa de Coulsdon à de Hartsdale, Em 1939, teve início a Segunda Guerra
nos Estados Unidos. [...] Foi Baird Mundial e, quase que a totalidade das bata-
quem primeiro realizou experiên- lhas ocorreu no território europeu. A Ale-
cias com a televisão em core, a par- manha manteve as transmissões de TV no
tir da exploração das imagens com ar durante o período da Guerra, aliás, foi o
luz vermelha, verde e azul, princí- único país da Europa a fazê-lo. Na França,
pios que regem a televisão colorida as transmissões só foram retomadas em ou-
até hoje. (SQUIRRA, 1995, p. 34). tubro de 1944, na Rússia, em dezembro de
1945 e, na Inglaterra, a BBC, só retornou às
Na Inglaterra, em 1930, foi inaugurada atividades em junho de 1946, com o anúncio
a BBC, pioneira em realizar a primeira do fim da II Grande Guerra, transmitindo o
transmissão de um programa de televisão desfile da vitória.
no mundo com imagem composta por 240 Os Estados Unidos da América é o país
linhas, padrão mínimo que os técnicos que melhor entendeu e absorveu a nova era
chamavam de "alta definição", por garan- da mídia. A NBC estreou em 1941, nos Es-
tir boa qualidade e nitidez. Em três meses tados Unidos, apresentando o formato mer-
o sistema oficial da BBC já era de 405 cadológico da comunicação de massa, com
linhas. Anos mais tarde, René Bartelemy anunciantes e patrocinadores para garantir a
promove a primeira transmissão na França. programação. Zworykin coordenou o grupo
Mais implantações do sistema de televisão da RCA, produtora do Orticon, o primeiro
pulverizam-se pela Europa. tubo de televisão produzido em escala indus-
A Alemanha foi o primeiro país a insta- trial a partir de 1945. É no território es-
lar a televisão pública, em março de 1935, tadounidense que a mídia televisão alcança
adotando um padrão de “média definição”: as mais importantes conquistas, principal-
180 linhas e 25 quadros por segundo. No mente, depois do final da Segunda Guerra
ano de 1936, três câmeras eletrônicas da Mundial.

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4 Karen Cristina Kraemer Abreu & Rodolfo Sgorla da Silva

Em relação à qualidade das transmissões a famosa frase do jornalista Paulo Francis,


televisivas, as informações obtidas indicam relembrada por Squirra (1995, p. 36), “na
que em 1950, a emissora da França operava televisão se representam estereótipos que o
com definição de 819 linhas, a BBC de Lon- público possa logo identificar sem o menor
dres, com 405 linhas, na Rússia, 625 linhas esforço mental”.
e, nos Estados Unidos e no Japão, 525 linhas.
3 A Chegada do Videotape
2 A Televisão ao Vivo
O videotape (videoteipe) é um gravador de
Hoje é praticamente inimaginável pensar a imagens que utilizava fitas magnéticas de 1
estrutura de programação de uma emissora ou 2 polegadas de largura acondicionadas em
de televisão totalmente AO VIVO. No en- carretéis plásticos. Até 1979, os videotapes
tanto, quando as emissoras de televisão ini- eram os responsáveis pela gravação em meio
ciaram suas atividades, toda a programação magnético. Os equipamentos eram caros
era gerada desta maneira. e pesados e destinados apenas ao mercado
Programas produzidos nos mesmos for- profissional. Com o surgimento do video-
matos daqueles sucessos existentes no Rá- tape, para os programas de televisão, rompe-
dio, intervalos comerciais apresentados por se a barreira dos estúdios e a televisão vai
garotas propaganda que experimentavam os às ruas das cidades. Novas imagens podem
produtos para as câmeras e em frente aos ser capturadas e, literalmente, um mundo de
espectadores presentes no auditório, falas possibilidades se abre à produção televisiva.
decoradas, gestos teatrais, movimentação de
bastidores, etc, assim eram os tempos da TV Ah, o videoteipe! Mudou a história
com transmissão direta. . programas não precisavam mais
Poucas horas diárias, problemas técni- ser ao vivo, facilitando, e muito, as
cos de áudio e/ou de vídeo eram comuns gravações e regravações; e podiam
nas transmissões daquele tempo. Tele- ser reprisados. Isso impulsionaou
jornais, telenovelas, entrevistas, apresen- a história e mais emissoras foram
tações musicais. Tudo produzido em es- inauguradas. Surge a TV Excel-
túdio. Iluminação básica, cenários, pra- sior, que revolucionou os padrões
ticáveis, tapadeiras e muito jogo de câmera da época, lançando as telenovelas.
para iludir a visão à distância da audiência, (CESAR, 2008, p. 13 – 14).
paralisada em suas casas, principalmente à
noite, depois da jornada de trabalho. Mesmo com equipamentos pesados,
Equipamentos pesados, criatividade, in- grandes equipes são constituídas para sair
ventividade, compromisso com a progra- em busca da notícia, do comportamento,
mação, buscar identificação com a so- das preferências do público. Transmitir
ciedade, “agradar” ao telespectador e cons- jogos, passeios na cidade e no campo ou
truir uma cultura televisiva foram os princi- na praia, mostrar tendências da moda para
pais desafios da equipes pioneiras das emis- a mulher que está em casa e já adquiriu os
soras de TV. Nesse contexto, vale ressaltar eletrodomésticos que lhe facilitam a vida, é

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garantir a audiência. É garantir os patroci- entrou definitivamente no mundo


nadores da publicidade, que financiam os colorido, com a transmissão em
programas da TV. cores, agora oficial, pelo sistema
Com a gravação de sons e imagens e PAL-M, em 1972 e a Copa do
movimento a televisão, concentra sobre si a Mundo em 1974. (CESAR, 2008,
atenção das audiências. O que é mostrado p. 14).
na tela da televisão pode transformar-se em
tendência de moda ou de comportamento As cores, o quarto elemento a caracteri-
imediatamente. Há uma grande atenção des- zar a mídia televisão, foi o último a chegar.
tinada pelos telespectadores sobre o que é Mas proporcionou uma revolução. Agora
visto através da TV. A credibilidade que era necessário preparar a pele dos apresen-
o sistema de visão proporciona é inques- tadores, dos atores, das atrizes para a ilu-
tionável. Se crê no que se vê. É a certifi- minação artificial dos estúdios. E as cores
cação de uma sentença bíblica comprovada aplicadas aos cenários, que harmonizavam-
na modernidade. Para o público leigo, é se entre si. Os figurinos também precisaram
quase impossível desconstruir aquilo que a ser repensados e testados. A cor trouxe vida
audiência vê através da mídia audiovisual. e realidade às transmissões de TV.

4 Color Bars: Deslumbrando a 5 Os Formatos U - MATIC ,


Audiência BETAMAX , VHS E SVHS

Tudo o que se via na tela da televisão já pro- Desde a década de 1960 a Phillips utilizava-
duzia um sentimento de verdade, de credi- se do conceito da fita K-7, uma pequena
bilidade. Quando as cores entram na pro- “caixinha plástica” onde era armazenada
dução televisiva, a audiência se deslumbra; a fita magnética de áudio. Em 1971, a
há um encantamento. Tudo fica mais bonito, Sony desenvolveu a primeira fita cassete para
colorido, mais próximo da realidade. O céu equipamentos de televisão, armazenado ima-
é azul, a grama é verde, as ondas do mar gem e som: o U-matic. A fita para o
e as nuvens são tão branquinhas... E as vídeocassete foi montada em uma caixa plás-
roupas, como são lindas! Os sapatos brilham tica com uma tampa retrátil, possibilitando
o verniz que lhes cobre o couro. Agora é pos- introduzi-la no equipamento gravador de áu-
sível ver o mundo como ele é. dio e vídeo com facilidade e agilidade; estava
protegida de contato com elementos externos
Outra revolução foi a TV em cores, bem como com as mãos do operador. Mais
inaugurada no Brasil em 1962, tarde foram introduzidos os sintonizadores
pela TV Excelsior. Em 1963, a de TV, uma espécie de relógio orientador da
TV Tupi também adere à novi- gravação, pois o mercado de equipamentos
dade. Mas as transmissões eram para a TV percebeu a possibilidade de intro-
no sistema NTSC, ou seja, não duzir estes equipamentos no uso doméstico,
eram oficiais. Poucos anos de- gravando a programação das emissoras de
pois, já na década de 1970, o Brasil

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TV e podendo reproduzi-las independente- prevaleceu. Em razão de outras políticas de


mente de sinal. Também possibilitava gravar mercado da Sony, a produção de Betamax
cenas familiares ou de eventos interessantes foi encerrada e a empresa adotou o formato
ao consumidor que poderia reproduzi-las a VHS.
qualquer tempo, quando desejasse. O formato Super Video Home System (S-
A Sony, em novembro de 1975, desen- VHS) chegou ao mercado em 1987. O
volveu o formato Betamax e lançou-o no que o diferencia de seu antecessor, o sis-
mercado norte-americano. Este novo for- tema VHS, são o processamento de imagem
mato utilizava uma fita magnética de 1/2 e a frequência de gravação dos sinais, pro-
polegada de largura. Quando essa fita era duzindo uma imagem superior, com melhora
retirada do equipamento de videocassete en- na definição de cores, e maior resolução da
volvia as cabeças de gravação e leitura imagem. Também os materiais de consumo
fazendo com que a troca de informação fosse portavam maior qualidade e vinham identi-
maior, gerando melhora na qualidade da i- ficados como S-VHS, mas as fitas VHS co-
magem. Originalmente, o tempo de gravação muns também serviam de supoorte visto que
com uma fita Betamax era de 1 hora; com o não havia diferença físicas entre elas. Entre-
desenvolvimento do formato VHS, ela pas- tanto, um material de áudio e vídeo gravado
sou a 2h/fita. As políticas mercadológicas em S-VHS só podia ser reproduzido em um
da Sony impediram de franquear o formato equipamento S-VHS. O mesmo não ocorria
Betamax no mundo inteiro, poucas empre- com as fitas de vídeo no formato VHS, que
sas como a NEC e a Sanyo receberam este rodavam em videocassetes VHS e S-VHS,
privilégio. Este fato comprometeu a expan- sendo totalmente compatíveis com os dois
são da comercialização dos equipamentos da formataos de equipamento.
marca Sony no mundo e, prejudicou a apli-
ação do uso do sitema Betamax, como con-
6 TV a Cabo: uma Programação
sequência.
O Video Home System (VHS), foi lançado Segmentada
em 1976, pela JVC, com tempo de gravação Outro ponto importante sobre a história da
de 2h/fita. Também utilizava fitas magnéti- televisão é a chegada da TV a cabo. TV a
cas de 1/2 polegada Ao contrário da japonesa cabo é sinônimo de TV paga elo consumi-
Sony, a JVC franqueou a tecnologia do VHS dor, com a contrapartida de maior variedade
para outras empresas, entre elas a RCA, a de canais do que a TV aberta (como o nome
Panasonic (Matsushita), a Sharp e a Zenith. sugere é a TV não-paga) e possibilidade
Tal postura mercadológica possibilitou a di- maior de interatividade, como adquirir pa-
fusão do formato VHS no mundo. cotes exclusivos de filmes e programas de
Em 1980 três formatos de fitas magnéti- esportes, por exemplo, que a TV aberta não
cas para TV, fisicamente incompatíveis en- oferece.
tre si, eram comercializados, quais sejam, De acordo com Paternostro (2006), a TV
U-matic, Betamax e VHS. Por muitos anos a cabo foi o resultado de uma dificuldade
os sistemas Betamax e VHS disputaram a encontrada por vendedores de televisão nos
preferência do consumidor. O formato VHS

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estados norte-americanos da Pennsylvania e Ainda de acordo com Paternostro (2006),


do Oregon. Em cidades de regiões monta- no Brasil, pode-se dizer que a TV a cabo
nhosas daqueles estados, a qualidade da i- surgiu em 1989, com o Canal + (Canal Plus),
magem dos televisores só era satisfatória nas que transmitia os canais ESPN, CNN, MTV
lojas, pois estavam conectadas a uma antena. e RAI.
Os vendedores, então, começaram a puxar
cabos até as residências dos compradores, A chegada da TV paga no Brasil
cobrando por esse serviço, e as vendas au- poderia ter ocorrido cerca de 15
mentaram. Desta forma, o cabo passou a ser anos antes, o que só não se con-
utilizado para distribuir não somente canais cretizou devido à pressão política e
locais, mas, também, sinais de emissoras de econômica de empresas da área de
outras cidades, através de uma pequena rota equipamento e das grandes rede de
de microondas. televisão aberta sobre os governos
militares.[...] Até esse momento
A partir de meados da década o Estado colaborou com os in-
de 1970, com o avanço da tec- teresses particularistas da indústria
nologia de satélites de comuni- midiática e de equipamentos não
cação, os sistemas de transmissão, fazendo, ou seja, não implantando
até então regionais, se expandiram a TV a cabo no sentido proposto
rapidamente, incluindo captações por entidades da sociedade civil
de sinais via satélite. Os teles- e mesmo efetivamente não per-
pectadores começavam a receber mitindo o ingresso dessa modali-
uma programação especializada: dade de transmissão televisiva no
eram os primeiros canais temáti- país, já que de certa forma era
cos, como previsão do tempo, temido seu efeito sobre a televisão
movimento das bolsas, eventos aberta, preocupação, aliás, com-
culturais. [...] Os sistemas de provada pertinente, considerando-
transmissão de sinais conjugavam se a lógica empresarial, já que hoje
duas tecnologias: satélite e cabo. há uma grande migração de au-
Os telespectadores recebiam uma diência de uma para outra. (BRIT-
programação especial e pagavam TOS, 1999, p. 5 - 6).
por isso e ainda podiam receber
em casa quantos canais quisessem. Em seguida, o Grupo Abril comprou o
(PATERNOSTRO, 2006, p. 41). Canal + e passou a chamá-lo de TVA –
TV Abril, veiculando, também, produção na-
Com base nisso, infere-se que foi possível cional de jornalismo. Em 1991, surgiu a
a transmissão de canais exclusivos de de- Globosat, programadora e operadora das Or-
terminados assuntos porque as emissoras ti- ganizações Globo, com sinal vindo direta-
nham conhecimento de quem compunha o mente do satélite Brasilsat II, o que assegu-
seu público, sabendo, de certa forma, o que rava qualidade de som e imagem. Em 1993,
ele gostaria de assistir. a Globosat somente programa os canais,

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passando a distribuição para a NETBrasil, detalhes, contraste e definição


a operação via satélite para a NetSat e a iguais à imagem do cinema. [...] A
distribuição, também em via satélite, para grande vantagem da HDTV é, sem
a SKY. A Globosat é a responsável pelo dúvida, a definição da imagem. A
primeiro canal brasileiro de telejornalismo imagem da alta definição tem de
24 horas por dia, a Globo News. 1.080 a 1.125 linhas de resolução,
Na França, país desenvolvido e sob um enquanto a imagem da TV conven-
governo democrático2 , a TV a cabo começou cional fica entre 525 a 625 linhas.
a ser instalada sete anos antes. “Numa (PATERNOSTRO, 2006, p. 66).
primeira fase o desenvolvimento do cabo
em França foi iniciado pelos poderes públi- A imagem da TV é formada por pixels,
cos através do ‘Plan Câble’ de 1982. O quanto mais pixels, melhor a resolução. O
‘Plan Câble’ pretendia a cablagem das 50 sistema analógico do Brasil possui imagem
maiores cidades e dava o monopólio da com 150 mil pixels, enquanto que a TV di-
construção das redes à France Telecom” gital atinge uma resolução de 2 milhoes, 73
(BRAUMANN, 1998, p. 3). mil e 600 pixels. Outra vantagem da HDTV
é o som, que possui a mesma qualidade de
um CD.
7 HDTV: A Televisão de Alta A emissora estatal italiana, a RAI, trans-
Definição mitiu 16 jogos da Copa do Mundo da Itália,
O começo das pesquisas para melhorar a 1990, em alta definição. As Olimpíadas de
qualidade da TV ocorreu no Japão. Em Barcelona, dois anos depois, foi o primeiro
seguida a Europa também começou estu- evento internacional a ser coberto em HDTV.
dos nesse sentido. Pesquisadores norte- Depois, emissoras ligadas à Comunidade
americanos perceberam que as dificuldades Européia passaram a realizar transmissões
em avançar nas pesquisas deviam-se ao fato esporadicamente em alta definição, através
de que trabalhavam com o sistema analógico. do formato DVB, Digital Video Broadcas-
Eles teriam que aliar a transmissão da TV ao ting.
sistema digital, pelas características de poder Record e Globo brigavam pelo posto de
comprimir as imagens e digitalizar dados. primeira transmissão digital no Brasil. A
Record transmitiu em 1998, em circuito
A HDTV, a High Definition Tele- fechado, um vídeo aos convidados de uma
vision ou a televisão de alta festa no Memorial da América Latina. A
definição, é uma das maiores captação das imagens, a edição e a trans-
mudanças tecnológicas desde o missão foram feitas no sistema digital. Já a
aparecimento da TV em cores. Ela Globo, também em 1998, transmitiu o Fan-
traz imagens mais amplas, mais tástico direto de Paris, por ocasião da Copa
do Mundo da França, em sistema digital. Os
2
Esse processo de implantação da TV a cabo na telespectadores perceberam a diferença no
França ocorre no mesmo período em que o Brasil
vivia o processo de retorno à democracia. (N. dos A.).
formato da transmissão 16x9 (digital), mais
largo do que o 4x3 (analógico).

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O formato analógico converte in- só vez e ficam armazenados. O


tensidade luminosa (pontos de luz) telespectador pode acessar na hora,
em sinais eletrônicos que variam mais tarde, outro dia, até um mês
no tempo e na frequência, gerando depois, dependendo do seu inte-
sinais de várias amplitudes que resse. (PATERNOSTRO, 2006, p.
trafegam em uma banda específica 67).
do satélite de comunicação. Os
telefones tradicionais, os de casa, Apesar do Ministro das Telecomunicações
funcionam pelo sistema analógico. do governo Lula, Hélio Costa, ter infor-
O formato digital transforma os mado que a primeira transmissão comercial
sinais de áudio e vídeo em dados da televisão digital no Brasil seria realizada
ou bits de um computador ou seja, num evento histórico festejando o dia da
gera e processa informações digi- independência, em 7 de setembro 2006, e
talizadas. Os telefones celulares de contar com as seis principais redes de
e os satélites de comunicação, por TV brasileiras que haviam se comprometido
exemplo, funcionam pelo sistema com a transmissão, efetivamente, a primeira
digital. (PATERNOSTRO, 2006, transmissão oficial de sinal de TV digital no
p. 62-63). Brasil ocorreu em 2 de dezembro de 2007,
em São Paulo. O Ministério das Telecomu-
No formato digital não há interferência no nicações estimou em 10 mil os aparelhos re-
sinal se existe obstáculo entre a torre trans- ceptores do sinal digital, naquela data.
missora e a recepção, além disso, é possível
ocupar uma só banda de transmissão, através
8 HDMI: Tudo Novo de Novo
da digitalização, para trafegar vários canais.
Inicialmente, os aparelhos convencionais po- A HDMI, High-Definition Multimedia In-
dem receber sinal digital, desde que tenham terface, ou Interface Multimídia de Alta
um conversor de sinais acoplado. Porém, Definição é um aprimoramento da HDTV,
quando toda a estrutura de sinais das emis- possibilitando mais interatividade por parte
soras funcionar em HDTV, os aparelhos de do telespectador. Trata-se de um cabo que
TV terão de ser trocados. suporta qualquer formato de vídeo de uma
TV ou computador.
Também considerada uma carac-
terística revolucionária, a HDTV O surgimento de novas mídias,
tem a possibilidade inesgotável principalmente a Internet, somado
de utilizar recursos da informática às mudanças de hábito do telespec-
o que facilita a programação de tador, em função das alterações nas
canais e a interligação com com- esferas econômica, política e so-
putador, videocassete, aparelho de cial, promovidas pelas novas tec-
som, fax, telefones etc. [...] In- nologias, dá forma a um ambi-
teratividade: os programas chegam ente complexo. A televisão agora
ao display (ou aparelho) de uma encontra-se, como nunca, sob o

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10 Karen Cristina Kraemer Abreu & Rodolfo Sgorla da Silva

domínio das tecnologias computa- disponível a todo o tempo, a toda


cionais. [...] Os parâmetros da hora, de acordo com a vontade do
TV Digital em suas diversas áreas usuário-consumidor. (GALVÃO,
de influência subvertem em am- 2007, p. 14 – 16).
pla escala o que conhecemos até
então como televisão (analógica).
9 Tendências e Panorama no
(GALVÃO, 2007, p. 3 – 4).
Brasil
Com a tecnologia HDMI, o telespectador
interage e, de certa forma, comanda a pro- É importante reafirmar que a televisão não
gramação, podendo assistir o programa que foi uma invenção de somente uma pessoa.
quiser na hora que quiser. Além disso, a par- Inventores aperfeiçoaram diversas criações
tir deste dispositivo, a TV passa a “falar” di- de outras pessoas até se chegar no que hoje
retamente para o telespectador. se denomina de televisão, a transmissão de
imagens à distância.
Outra possibilidade oferecida pela A televisão é um meio de comunicação
televisão digital, através de seu importante na sociedade contemporânea. Na
canal de retorno, é o método que voz de Squirra (1995, p. 38), “é inegável
permite rastrear os hábitos de con- o papel da televisão como dinamizador
sumo televisivo dos moradores e cultural, formador de opinião, difusor do
dos lares em que existam dispo- conhecimento e, obviamente, de entreteni-
sitivos de televisão digital instala- mento”.
dos, e com canal de retorno ativo, No Brasil, em especial, pensar em tele-
obtendo assim informações rele- visão é pensar em programação destinada
vantes que pode ser utilizadas em a um público muito eclético, com origens,
uma modalidade de anúncio antes culturas, costumes e gostos diversos. Exis-
inviável com a televisão analó- tem muitas emissoras de TV e cada uma de-
gica, o anúncio segmentado por las produz e destina sua programação para
perfil, ocupando simultaneamente públicos distintos. A TV a cabo promove
o mesmo espaço publicitário para ainda mais a segmentação do público a par-
mensagens e anunciantes distintos. tir da programação que oferece ao consum-
Com a televisão digital as emis- idor. Se, há alguns anos era questionada a
soras podem comercializar um viabilidade da TV paga, hoje, sabe-se que
mesmo espaço para anunciantes ela tem um público determinado e que lhe
distintos, variando apenas o lo- atribui mais do que conteúdo, também lhe
cal (televisão) para onde o anun- transfere status. É importante considerar que
cio será enviado e exibido. [...] O muitas produtoras independentes produzem
modelo linear, de conteúdo progra- conteúdo para as emissoras de TV fechada,
mado para ser exibido com hora o que amplia as possibilidades de diferentes
certa e data marcada perde es- programas na telinha, em especial, o espaço
paço para o conteúdo disponibi- para documentários. Há 37 anos o mundo vê
lizado sob demanda (on-demand),

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História e Tecnologias da Televisão 11

a organização do International Public Televi- plataforma que mais lhe interessar ou àquela
sion, o INPUT, que mostra anualmente pro- que lhe esteja disponível. Isto para se adaptar
dutos produzidos para exibição em televisão, ao novo contexto comunicacional, resultante
fato que indica a profusão do meio entre nós. da existência e ampla utilização da Internet,
Desde o início das transmissões não houve como por exemplo, a busca por se aproximar
uma padronização do sistema de televisão, do telespectador, através de dispositivos de
fato que se repetiu com a implantação dos interatividade.
sistemas digitais de TV no final do século
XX e nas primeiras décadas do século XXI.
Referências
Buscar possibilidades para a TV brasileira
digital promoveu diversas discussões tanto AGERT – Associação Gaúcha de Emisso-
no setor público (governamental) quanto no ras de Rádio e Televisão. Disponível
privado. Outra importante discussão no setor em: http://www.agert.org.br.
de telecomunicações é a cobrança do acesso Acessado em: 15 de outubro de 2011.
aos conteúdos através dos sistemas de tele-
fonia móvel (telefonia celular). BRAUMANN, Pedro Jorge (1998). A
A disponibilização de conteúdos pela TV televisão por cabo em França: situa-
digital relevou as condições da transmissão ção actual e perspectivas de mercado.
do sinal de televisão no Brasil e foi auto- Biblioteca On-line de Ciências da Co-
rizado o acesso gratuito aos conteúdos da TV municação (BOCC), Universidade da
digital no país. Televisão, rádio e telefonia Beira Interior (UBI), Covilhã, Portu-
integram o mesmo setor: telecomunicação. gal. Disponível em http://www.
Entretanto, a radiodifusão (rádio e TV), que bocc.ubi.pt Acessado em 9 de abril
anteriormente ocupava o setor inteiramente, de 2011.
hoje é responsável por cerca de 30% dos BRITTOS, Valério Cruz (1999). A partici-
negócios. A telefonia móvel, que está a- pação do Estado no mercado de TV por
tuando a pouco mais de 13 anos, é quem con- assinatura. Biblioteca On-line de Ciên-
trola os outros 70% do setor de telecomuni- cias da Comunicação (BOCC), Uni-
cações. versidade da Beira Interior (UBI), Co-
Com interesses divergentes, quedas de vilhã, Portugal. Disponível em http:
braço são frequentes entre os representantes //www.bocc.ubi.pt. Acessado em 9
do setor de radiodifusão e do setor de tele- de abril de 2011.
fonia. A programação da televisão brasileira
busca encontrar programas interativos e que GALVÃO, Fabricio Scaff (2007). Não é TV,
cativem o público, desviando-os do acesso à é uma nova mídia. Biblioteca On-line
Internet, ao prender-lhes a atenção, buscando de Ciências da Comunicação (BOCC),
impor táticas antigas de difusão ou abor- Universidade da Beira Interior (UBI),
dando a convergência dos conteúdos para os Covilhã, Portugal. Disponível em
mais variados meios, possibilitando ao con- http://www.bocc.ubi.pt. Aces-
sumidor (não mais telespectador, ouvinte ou sado em 9 de abril de 2011.
internauta) acessar o conteúdo que desejar na

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12 Karen Cristina Kraemer Abreu & Rodolfo Sgorla da Silva

MORAIS, Fernando (1994). Chatô:


o rei do Brasil, a vida de Assis
Chateaubriand. São Paulo: Companhia
das Letras.

PATERNOSTRO, Vera Íris (1999). O texto


na TV: manual de telejornalismo. 16a .
Tiragem. Rio de Janeiro: Elsévier.

RUÍZ, Anibal Arias (1971). El mundo de la


television. Madri: Guadarrama.

SAMPAIO, Mário Ferraz (1972). História


da televisão e rádio no Brasil e no
mundo. Petrópolis, RJ: Vozes.

SQUIRRA, Sebastião Carlos de Morais


(1995). Aprender telejornalismo: pro-
dução e técnica. 1a . Reimpressão. São
Paulo: Brasiliense.

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