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16/10/2020 ConJur - Luciana Lanna: O Pantanal e a economia florestal sustentável

OPINIÃO

Incêndios no Pantanal: a importância de uma


economia orestal sustentável
16 de outubro de 2020, 6h36

Por Luciana Lanna

O Pantanal, considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, e que até
então mantinha boa parte da sua cobertura vegetal nativa, o que viabilizava a permanência
de espécies que, em outros biomas, já se mostravam em extinção, está sendo consumido
pelos incêndios oriundos, ao que parece, de queimadas provocadas por ação humana que
fugiram do controle. O desastre que o Pantanal vive representa, em números, até o
momento, a perda de 2,3 milhões de hectares de flora, fauna e biodiversidade.

A tragédia do Pantanal escancara problemas de


base na gestão florestal brasileira. O combate aos
incêndios e ao desmatamento ilegal passa
necessariamente por duas frentes de atuação, o
fortalecimento das instituições responsáveis pela
fiscalização e o fomento para uma economia
florestal sustentável.

Com relação aos órgãos de fiscalização ambiental,


é fundamental que haja a retomada e a intensificação da fiscalização através da ampliação e
apoio do uso de inteligência e expertise do Ibama, ICMBio e Funai, visando à
responsabilização pelos ilícitos ambientais identificados, conforme estudo realizado pela
Coalizão Brasil.

Mas contar com instrumentos de comando e controle não é mais suficiente, é necessário ir
além. Juntamente com fiscalização eficiente, é importante firmar a premissa de que uma
floresta em pé vale mais do que áreas de pastagem.

No caso da Amazônia, seu maior potencial é a biodiversidade, não é a pecuária, nem a


agricultura tradicional, tampouco o minério. De acordo com o cientista brasileiro Carlos
Nobre, o futuro da floresta depende do desenvolvimento de uma industrialização a partir da
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16/10/2020 ConJur - Luciana Lanna: O Pantanal e a economia florestal sustentável

biodiversidade, com a floresta em pé, sistemas agroflorestais e com a restauração de áreas


desmatadas.

Nesse sentido, o combate ao desmatamento também passa pela valorização dos serviços
florestais. As florestas são fundamentais por sua biodiversidade e pelos serviços ambientais
que prestam. O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta, mais de 20% do número
total de espécies da Terra, representando enormes possibilidades científicas, econômicas e
culturais. O setor da agroindústria, por exemplo, que se beneficia diretamente desse
patrimônio genético, responde por cerca de 40% do PIB brasileiro; o setor florestal, por sua
vez, responde por 4% e produtos da biodiversidade respondem por 31% das exportações
brasileiras.

Esse processo depende de uma governança eficiente e de incentivo para os serviços


ambientais, através de vários mecanismos, tais como: compensação monetária para
incentivar a conservação da vegetação nativa e a recuperação e melhoria dos ecossistemas,
que geram serviços ambientais (incluindo, mas não se limitando, ao carbono); combate ao
desmatamento, degradação florestal e incêndios florestais por meio de incentivos
financeiros. incentivo a conservação e recuperação da vegetação nativa de propriedades
rurais, áreas de conservação, terras indígenas, assentamentos, bem como terras de
comunidades e povos tradicionais; promoção do cumprimento da legislação ambiental,
especialmente a relacionada à proteção e recuperação da vegetação nativa (Código
Florestal); e promoção de um mecanismo financeiro para fomentar o desenvolvimento e a
implementação de políticas públicas voltadas à conservação e recuperação da vegetação
nativa.

Destaco que todos esses objetivos estão contemplados no Programa Floresta +, lançado em
julho deste ano pelo Ministério do Meio Ambiente e cujo objetivo é valorizar as ações de
preservação da floresta nativa brasileira.

A tragédia do Pantanal exige uma resposta imediata às enormes perdas de cobertura vegetal
nos biomas brasileiros, não somente em razão dos prejuízos socioambientais envolvidos,
mas também pela ameaça que a destruição florestal impõe às questões econômicas
nacionais. O desflorestamento prejudica o agronegócio, as exportações e os investimentos
no Brasil.

O desmantelamento das políticas ambientais é histórico no Brasil. O aumento nas taxas do


desmatamento apenas escancara a ineficácia institucional e a falta de políticas sólidas para
a construção de uma agenda de desenvolvimento mais sustentável.

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16/10/2020 ConJur - Luciana Lanna: O Pantanal e a economia florestal sustentável

Luciana Lanna é advogada, especialista em Direito Ambiental e responsável pela área


Ambiental do Lemos Advocacia Para Negócios.

Revista Consultor Jurídico, 16 de outubro de 2020, 6h36

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