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II SELIN

II SEMINÁRIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA UNESP

ANAIS DO SELIN
SEMINÁRIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS
DA UNESP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E


LÍNGUA PORTUGUESA – UNESP/ARARAQUARA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS


LINGUÍSTICOS – UNESP/SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

13 A 15 DE OUTUBRO
Seminário de Estudos Linguisticos da Unesp (2. : 2010 : Araraquara, SP)
Anais do SELIN: Seminário de Estudos Linguisticos da Unesp / II
Seminário de Estudos Linguisticos da Unesp, Araraquara, 13-15 out. 2010
(Brasil). Araraquara : SELIN - UNESP, 2010
ISSN
1. Linguistica — Congressos. I. Seminário de Estudos Linguisticos da
Unesp (2. : 2010 : Araraquara, SP).

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da FCLAr – UNESP.


Comissão Organizadora
Alessandra Del Ré (FCLAr)
Cristina Martins Fargetti (FCLAr)
Fabiana Cristina Komesu (IBILCE-SJRP)
Gladis Massini-Cagliari (FCLAr)
Luciani Ester Tenani (IBILCE-SJRP)
Rosane de Andrade Berlinck (FCLAr)

Alunos:

Alessandra J. Vieira (FCLAr)


Taísa Barbosa Robuste (FCLAr)
Erasmo (FCLAr)
Luciana Merês Ribeiro(FCLAr)
Gisele Alves(FCLAr)
Fernanda Massi (FCLAr)
Ana Carolina Cangemi (FCLAr)
Paula Gonçalves (FCLAr)
Natália Grecco (FCLAr)
Patrícia Falasca (FCLAr)
Patrícia de Cuzzo Cury (FCLAr)
Rosângela Nogarini Hilário (FCLAr)
Juliana Simões Fonte (FCLAr)
Denise Silva (FCLAr)
Paola Goussain (FCLAr)

Apoio:

CAPES
FUNDUNESP
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNESP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E LÍNGUA PORTUGUESA –
UNESP/FCLRAr
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS – UNESP/IBILCE
Apresentação
No presente caderno estão reunidos os resumos dos trabalhos que serão
apresentados ao longo do II Seminário de Lingüística da UNESP (SELIN).
Trata-se de um evento promovido, conjuntamente, pelos Programas de
Pós-Graduação em Lingüística da UNESP dos campi de Araraquara e São José
do Rio Preto – o Programa de Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara e o Programa de Estudos Linguísticos do Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas de São José do Rio Preto.
O Seminário já se constitui uma tradição: desde o ano de 2001, nove
Seminários de Pesquisa foram organizados com o intuito principal de oferecer a
seus alunos a possibilidade de discutir seus projetos de pesquisa e seus trabalhos
com docentes de outros programas do país.
As experiências desses nove anos foram sempre muito positivas, pois,
na medida em que os trabalhos dos alunos são avaliados por especialistas, com
pesquisas consolidadas em suas respectivas sub-áreas e linhas de investigação,
os projetos de nossos alunos se enriquecem. Esses “outros olhares” têm favorecido
o aprofundamento teórico e o refinamento metodológico dos trabalhos, com um
significativo ganho de qualidade no resultado final das pesquisas.
Nesta segunda edição do SELIN, que reúne novamente os dois referidos
Programas, mais do que uma simples fusão dos Seminários anuais, o evento
representa um formato que combina a essência da proposta original – oferecer
espaços para o debate das pesquisas em desenvolvimento pelos pós-graduandos
dos dois Programas – com uma abertura para a participação de pesquisadores
externos aos Programas, em algumas das modalidades de apresentação de
trabalhos – sessões abertas de apresentação de trabalhos recém-defendidos e
de trabalhos atualmente em desenvolvimento em programas de pós-graduação
do país reconhecidos pela CAPES. Essa prática tem por objetivos, assim,
proporcionar aos alunos de mestrado e doutorado a possibilidade de terem seus
trabalhos debatidos/comentados por especialistas de outras instituições, intensificar
a troca de experiências entre discentes, docentes, pesquisadores de um modo
geral, e dar ao evento maior visibilidade junto à comunidade científica.
A nova dimensão que o evento ganha implica, naturalmente, uma
organização mais complexa. A duplicação do número de pós-graduandos expondo
suas pesquisas demanda um número também bastante ampliado de
pesquisadores-debatedores. Pautados pelo critério da qualidade, convidamos
especialistas com larga experiência, das várias sub-áreas da Lingüística, sem
deixar de lado nossa política de possibilitar aos alunos contato com professores
que não participaram de edições anteriores do Seminário. O conjunto de convidados
inclui, assim, tanto pesquisadores de Instituições paulistas (USP, PUC-SP,
UNICAMP, UFSCar, UNESP, UNIFESP), como especialistas de várias outras
Universidades brasileiras (UFMG, UFSC, UEM, UFRJ, UFF, UFPeL, UFJF, UFSC)
e até mesmo do exterior (Université de Montpellier – França), como é o caso
deste Seminário.
Diante disso, convidamos todos vocês a descobrirem conosco o resultado
dessa já bem-sucedida experiência, expresso neste caderno, e a participarem
nos dias 13, 14 e 15 de outubro deste momento de troca, diálogo e de
enriquecimento.
A todos, um bom seminário!

A Comissão Organizadora
II SEMINÁRIO DE ESTUDOS
LINGUÍSTICOS DA UNESP
13 a 15 de outubro de 2010
Faculdade de Ciências e Letras
UNESP/Araraquara - SP

O II Seminário de Estudos Linguísticos da UNESP, que


ocorrerá nos dias 13 a 15 de outubro de 2010, na FCLAr/
UNESP, destina-se ao debate das pesquisas em
desenvolvimento por alunos do Programa de Pós-
Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara e do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, do
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas de São
José do Rio Preto, ambos da UNESP. Além disso, visa
promover o intercâmbio entre pesquisadores da área de
Linguística, por meio de conferências e mesas-redondas,
além de sessões abertas de apresentação de trabalhos
recém-defendidos e de trabalhos atualmente em
desenvolvimento em programas de pós-gradução do país
reconhecidos pela CAPES.

Sessão de comunicações (aberta)


Destina-se à apresentação de dissertações e teses
recém-defendidas e ou em andamento em programas
de pós-graduação da área de Linguística do país
reconhecidos pela CAPES.

Sessão de debates (pós-graduandos UNESP)


Destina-se ao debate de dissertações e de teses em
desenvolvimento nos dois programas de pós-graduação
da área de Linguística da UNESP.

Sessão de painéis (aberta)


Destina-se à apresentação de projetos de alunos de
mestrado e de doutorado que estejam na fase inicial
de desenvolvimento de suas pesquisas.
II SEMINÁRIO DE ESTUDOS
LINGUÍSTICOS DA UNESP
13 a 15 de outubro de 2010
Faculdade de Ciências e Letras
UNESP/Araraquara - SP

Conferencistas e Debatedores
Mario Alberto Perini (UFMG)
Rosana Novaes Pinto (UNICAMP)
Cristiane Capristano (UEM)
Angela Rodrigues (USP)
Verena Kewitz (USP)
Angel Corbera Mori (UNICAMP)
Silvia Matravolgyi (ITA)
Vera Lucia Menezes de Oliveira (UFMG)
Carmem Luci (UFSC)
Cristine Gorski Severo (UFSCAR)
Antonio Vicente Serafim Pietroforte (USP)
Ana Ruth M. Miranda (UFPel)
Lourenço Chacon (UNESP-IBILCE)
Mariângela Rios de Oliveira (UFF)
Márcia Romero Lopes (UNIFESP)
Margarida Salomão (UFJF)
Waldemar Ferreira Neto (USP)
Luciani Ester Tenani (UNESP_IBILCE)
Isadora Valencise Gregolin (UFSCAR)
Rozana Aparecida Lopes Messias (UNESP-ASSIS)
Rosely Xavier (UFSC)
Terezinha de Jessus Machado Maher (UNICAMP)
José Sueli de Magalhães (UFU)
Elias de Almeida Cardoso Caretta (USP)
Maria Helena de Moura Neves (UNESP)
Lucy Seki (UNICAMP)
Claudia Zavaglia (UNESP-IBILCE)
Rosane de Andrade Berlinck (UNESP-FCL)
Flavia Bezerra e Menezes Hirata-Vale (UFSCAR)
Matilde Scaramucci (UNICAMP)
Roberto Gomes Camacho (UNESP-IBILCE)
Marize Mattos DallÁglio Hattnher (UNESP-IBILCE)
Cristina Martins Fargetti (UNESP-FCL)
Ester Miriam Scarpa (UNICAMP)
Maria Célia Magalhães (UFMG)
Christelle Dodane UNIVERSITE DE MONTPELLIER-FRANÇA)

Informações:
http://www.fclar.unesp.br/poslinpor/eventos.php?id=poslinpor
e-mail: selin2010@fclar.unesp.br
Sumário
Conteúdo por título de trabalho
SESSÃO DE DEBATES:

A constituição da subjetividade linguageira infantil por meio das condutas


argumentativas ....................................................................... 24
A proficiência oral do professor de inglês como língua estrangeira: foco
na metalinguagem ................................................................... 25
Estratégias de relativização e classe de palavra: um estudo tipológico-
funcional ................................................................................. 26
Aspectos subjetivos na sintaxe: um estudo das orações subordinadas
substantivas ........................................................................... 27
A concordância nominal na escrita de adolescentes ........................... 28

Caracterização do gênero projeto editorial ....................................... 29

Integração de tecnologias e webtecnologias no ensino de língua inglesa:


concepções teóricas, crenças e interação na prática docente ........... 30
A motivação e sua relação com os princípios de autonomia e
reciprocidade em contexto de aprendizagem em Teletandem ........ 31
A relação entre suporte material e atividade verbal na emergência de
abreviaturas na internet .......................................................... 32
Dicionário Terminológico Onomasiológico dos Termos Fundamentais da
Biotecnologia com Equivalências em Inglês: busca de equivalentes
e tratamento dos dados em português ....................................... 33
A concordância verbal no português brasileiro e europeu: estudo
sociolinguístico comparativo ...................................................... 34
A Gramaticalização em PODE SER .................................................... 35
O percurso das ideias do Círculo de Bakhtin na análise do discurso
francesa ................................................................................. 36
Da ortografia para a fonética e fonologia nos Sermões do Padre Antônio
Vieira ..................................................................................... 37
Lexicografia bilíngue: considerações sobre o estudo lexicográfico da
língua terena ............................................................................ 38
O estudo do léxico para a preservação da memória de um povo .......... 39

II SELIN - 13
11
Sumário

Construção exploratória do ontoléxico do domínio da experiência


Indústria do Bordado de Ibitinga ............................................... 40
Relações paradigmáticas e sintagmáticas na construção de um dicionário
analógico ................................................................................ 41
O Ensino interativo e crítico de gramática nas séries iniciais do Ensino
Fundamental .......................................................................... 42
Acessibilidade semântica das construções relativas: um estudo
tipológico-funcional .................................................................. 43
Descrição funcional dos evidenciais no discurso da auto-ajuda sobre
saúde ...................................................................................... 44
A gramaticalização de então no português paulista: um estudo
pancrônico .............................................................................. 45
“Noção” e produção de textos: o ensino de Língua Portuguesa ............ 46
As formas de vida do homem na atualidade ...................................... 47
Uma abordagem do uso de preposições: latim medieval e português
paulista moderno .................................................................... 48
Processos fonológicos de motivação estilística presentes nas Cantigas
de Santa Maria ........................................................................ 49
Indícios sobre a construção de coda silábica simples por alfabetizandos
da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em processo de aquisição
do enunciado escrito ................................................................ 50
Diacronia dos processos constitutivos do texto relativos a assim: um
novo enfoque da gramaticalização .............................................. 51
Teletandem e formação continuada de professores vinculados à rede
pública de ensino do interior paulista: um estudo de caso ............. 52
Estudo das fricativas coronais da Língua Portuguesa: da fonética à
ortografia e da ortografia à fonética .......................................... 53
Contextos discursivos nos deslizamentos hesitativos de sujeitos
parkinsonianos e não-parkinsonianos ......................................... 54
Interface semântica lexical – lexicografia: glossário do amor e do sexo
em Sex and the City ................................................................. 55
Sentidos da entoação: um estudo comparativo ................................ 56
Estudo acústico da pronúncia e percepção de pares mínimos vocálicos
da Língua Inglesa por alunos de nível intermediário e avançado .... 57
A produção e percepção de alguns fonemas da língua inglesa por alunos
de um curso de Letras .............................................................. 58
Contribuições ao estudo da ambiguidade da linguagem sob a ótica
enunciativa ............................................................................. 59

12 - II SELIN
Sumário

O léxico político-ideológico do primeiro jornal impresso em língua


portuguesa – século XVIII ......................................................... 60
As ambiguidades linguísticas na tradução automática: aplicação de
conhecimento linguístico na resolução de problemas ..................... 61
A variante paulista do kaingang na aldeia Icatu: descrição funcional
sobre aspectos semânticos e morfossintáticos ............................. 62
As grafias das vogais pretônicas: registros da inserção dos escreventes
em práticas orais e letradas ...................................................... 63
Para uma gramática da produção: análise da marca “mesmo” sob a
ótica da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas ............ 64
A gramaticalização de “depois” ...................................................... 65
As estruturas de inversão Sujeito-Verbo e a Concordância Verbal: um
estudo sociolinguístico sincrônico nos gêneros escritos de imprensa
do Português Brasileiro ............................................................. 66
Subjetividade e o processo de input na aquisição da linguagem da
criança ..................................................................................... 67
As grafias não-convencionais da coda silábica nasal em dados de escrita
de jovens e adultos em processo de alfabetização ........................ 68
Pausas em diferentes interpretações da canção Mamãe Baiana ........... 69
Criações lexicais e expressividade na poética de João Cabral deMelo
Neto: contribuições aos estudos do léxico no discurso literário ...... 70
A marcação do plural na fala de duas crianças pequenas: subjetividade
e enunciação .......................................................................... 71
O processo de (re)construção de conhecimentos pedagógicos de
professores de língua inglesa em formação inicial ......................... 72
Teletandem Brasil: Conflitos no processo de ensino e aprendizagem de
línguas no meio virtual e suas abordagens ................................. 73
Uma análise dos contextos de uso da construção se não me engano .... 74
O processo de aquisição da linguagem de uma criança bilíngue: aspectos
sociais e culturais .................................................................... 75
A cadeia referencial e a correferencialidade em textos com mais de um
objeto-de-discurso: análise de mecanismos de coesão textual........ 76
Avaliação de proficiência oral em contexto de ensino-aprendizagem de
teletandem: contribuições de um estudo na área de português para
falantes de outras línguas ......................................................... 77

II SELIN - 13
Sumário

SESSÃO DE PAINÉIS:

A elaboração de ontologias linguísticas no âmbito da Web Semântica:


Uma ontologia no domínio de artefatos da indústria da borracha .... 80
Proposta de análise para a Língua wauja (Arawák) ........................... 81
Análise discursiva do Dicionário Português-Espanhol de Julio Martínez
Almoyna ................................................................................. 82
A Problemática do Ensino da Língua Portuguesa no Ensino Primário em
Contexto Sociolinguístico Urbano nas Grandes Cidades de
Moçambique: Maputo, Beira e Nampula ...................................... 83
Linguística de Corpus e Grego antigo: o uso de ferramentas
computacionais de análises lexicais ........................................... 84
Caracterização lexicogramatical dos verbos com clítico se inerente do
português do Brasil e estudo do seu alinhamento semântico com
verbos do inglês da base da WordNet de Princeton ...................... 85
Um príncipe encantado? Não, um príncipe para encantá-la: a
adolescência moderna e o romantismo “sem ilusão” ..................... 86
Os usos não-convencionais da vírgula em textos de alunos da quinta
série do Ensino Fundamental ..................................................... 87
Mapeamento e análise das ocorrências dos processos de sândi vocálico
externo nas sessenta primeiras Cantigas de Santa Maria ............. 88
O discurso administrativo da Secretaria Especial dos Direitos e Políticas
para Mulheres e a constituição do sujeito feminino ........................ 89
Relações intergenéricas entre práticas de escrita na internet e na es-
cola ........................................................................................ 90
A transformação do português falado em Moçambique em norma ...... 91
Estudo das características acústico-perceptual das fricativas do Português
do Brasil ............................................................................... 92
Complexidade gramatical e proficiência oral do professor de inglês
como língua estrangeira: contribuições à validação do teste oral
do EPPLE (Exame de Proficiência para professores de Língua
Estrangeira) .............................................................................. 93
A voz média grega: ensino e aprendizagem e linguística de corpus .... 94
Construções adverbiais causais nas variedades lusófonas: uma
abordagem discursivo-funcional .................................................. 95
Polissemia nos usos auxiliares do verbo TER: arbitrariedade ou
iconicidade? ............................................................................. 97
‘Diário de Viagens do Barão de Mossâmedes’: aspectos lexicais e
elaboração de um glossário ........................................................ 98

14 - II SELIN
Sumário

Aprendizagem de línguas em contexto Teletandem: a telecolaboração e


o desenvolvimento da competência intercultural em uma parceria
português/ espanhol ................................................................ 99
Uma análise da tradução de vocábulos relacionados à violência, em
quatro obras de Patrícia Melo, traduzidas por Clifford Landers ....... 100
Variáveis influenciadoras da continuidade ou descontinuidade das
parcerias de Teletandem ............................................................. 101
A modalização sob o prisma da “Dinâmica de Forças”: um estudo
comparativo ........................................................................... 102
Misticismo e religiosidade em romances policiais contemporâneos ...... 103
Por uma análise dos usos não-convencionais da vírgula: discussões
sobre um objeto de estudo ........................................................ 104
Estudo do Pretérito Perfeito do Modo Indicativo nas Cantigas de Santa
Maria ...................................................................................... 105
Análise da adaptação de um dicionário bilíngue francês-português
europeu para a variante brasileira .............................................. 106
O projeto Teletandem Brasil: as relações entre as comunidades virtuais,
as comunidades discursivas e as comunidades de práticas ............ 107
As Vogais Portuguesas em Três Momentos da História da Língua: séculos
XIII, XV e XVI .......................................................................... 108
Projeto Teletandem Brasil – línguas estrangeiras para todos sob a
perspectiva dos gêneros ........................................................... 109
Descrição do sistema ortográfico em documentos manuscritos do século
XVII No Brasil ......................................................................... 110
Os valores atribuídos ao pretérito perfecto compuesto espanhol nas
regiões dialetais argentinas ....................................................... 111
A noção de palavra em dados de escrita de adultos em processo de
alfabetização: relação entre oralidade e letramento ...................... 112
Letramento digital de professores de inglês como língua estrangeira .... 113
A construção referencial no gênero crônica e o emprego do nome
próprio .................................................................................... 114
O discurso educativo da rede Globo na perspectiva de M. Foucault ...... 115
Estudo do processo de harmonização vocálica das vogais médias
pretônicas na variedade do noroeste paulista ............................... 116
A sociolinguística e o ensino de língua portuguesa: uma proposta para
um ensino aprendizagem livre de preconceitos .............................. 117
Direito e verdade: contribuições da Linguística à análise do discurso
jurídico ..................................................................................... 118

II SELIN - 15
Sumário

As interrogativas de conteúdo na história do português brasileiro: uma


abordagem discursivo-funcional ................................................. 119
As primeiras experiências de professores do CEL com o teletandem ..... 120
Subjetividade na aquisição da escrita: um estudo de caso .................. 121
Enunciados ecolálicos: um enfoque discursivo .................................. 122
A influência da língua inglesa na formação de nomes comerciais no
Brasil: questões de identidade cultural e fonológica ..................... 123
O sistema de gêneros nas interações do projeto Teletandem Brasil ...... 124
Estudo de um corpus paralelo constituído por três obras de Milton
Hatoum, com foco na tradução de marcadores culturais. .............. 125
A aprendizagem de uma língua estrangeira como possibilidade de
constituição de outra subjetividade ............................................ 126
A criança bilíngue e a construção da identidade ................................ 127
A configuração da imagem do interlocutor no gênero Reportagem ....... 128
Linguagem verbal e linguagem não-verbal em produções escritas
escolares ................................................................................. 129
Análise do Discurso e Semiologia: ressignificações da memória discursiva
em ambiente virtual ................................................................. 130
Integração conceptual e esquemas de imagem como recursos
metacognitivos para o ensino de verbos de movimento em inglês ... 131
Análise reflexiva e colaborativa na (re)construção das Identidades
profissionais, sociais e culturais de professores de LE (inglês) em
pré-serviço ............................................................................... 132
Graus de gramaticalização, prototipia e especialização das construções
e dos conectivos concessivos ..................................................... 133
O leitor das crônicas machadianas da Gazeta de Notícias ................... 134
Orações encaixadas em posição de sujeito: gramaticalização e
dessentencialização de orações matrizes ...................................... 135
Estudo da tradução de termos simples, expressões fixas e semifixas
presentes em um corpus paralelo da subárea de Antropologia das
Civilizações .............................................................................. 136
Estudo dos clíticos fonológicos nas cantigas religiosas de Santa Maria .. 137
Estudo das formas aumentativas e diminutivas em Português Arcaico .. 138
O estudo do emprego da vírgula e do ponto em textos escritos por
alunos do último ano do Ensino Fundamental .............................. 139
Características semântico-discursivas de sujeitos com doença de
Parkinson e de sujeitos sem lesão neurológica ............................. 140

16 - II SELIN
Sumário

COMUNICAÇÕES:

Estudos fonológicos da língua guató (Macro-Jê) ................................. 142


A escrita e sua caracterização no ciberespaço: resultados parciais ...... 143
Um recorte na cidade: modos de conceber o índio fora da aldeia ........ 144
Formas de representação do discurso musical em contos de Machado
de Assis ................................................................................... 145
A relação língua-cultura no ensino de LE: um estudo sobre professores
em serviço ............................................................................. 146
A escrita (de si) na virtualidade ........................................................ 147
Grau de Gramaticalização de perífrases verbais: ferramentas de aná-
lise ........................................................................................ 148
O ethos na linguagem da criança: um caminho para a identidade
enunciativa .............................................................................. 149
Um olhar semiótico para as obras do gênero Fantasia mais vendidas no
período de 1980 a 2007 ........................................................... 150
Discussões em torno das variantes do espanhol em um curso multimedial
de formação contínua de professores ......................................... 151
Interação via videoconferência no ensino-aprendizagem de língua
espanhola: análise do processo de mediação online em tempo
real .......................................................................................... 152
As cartas de Chico Xavier: uma análise semiótica ............................. 153
Metaliteratura e Interdiscursividade: uma busca pelo diálogo entre
criação e teoria em O Recital, de Luís Fernando Veríssimo ............ 154
A não-concordância verbo-sujeito: uma regra inovadora em contextos
de língua escrita do Português brasileiro? ................................... 155
Estratégias de construção textual do chat educacional sob a perspectiva
textual-interativa ..................................................................... 156
O(s) obscuros(s) dizer(es) do sujeito e a inscrição social da família ..... 157
O discurso instalado pelos sites de pesquisa: sentidos sobre a mulher
na política ................................................................................ 158
Interface música e linguística no estudo do português arcaico ............. 159
Os instrumentos linguísticos na revista do IHGB .............................. 160
Estruturação do conhecimento e relações semânticas: uma ontologia
para o domínio da Nanociência e Nanotecnologia .......................... 161
Harmonia nasal em Terena (ARUAK) ............................................... 162

II SELIN - 17
Sumário

A relação entre “hipercorreção” e preconceito linguístico .................... 163


Constituição do enunciatário no mundo virtual ................................... 164
Os dizeres da/sobre a ditadura militar nas tramas do jornal Última
Hora ...................................................................................... 165
O espanhol andino de Canta (Peru) ................................................ 166
A formação do leitor de textos latinos: questões metodológicas ......... 167
Formação de palavras na poesia de João Cabral de Melo Neto: um
estudo léxico-estilístico ............................................................. 168
Da oralidade à obra estética: o trajeto transformativo dos gêneros
discursivos no interior do método de criação dramática de Luís Alberto
de Abreu ................................................................................ 169
O discurso político: da resistência ao espetáculo nos jogos da mídia .... 170
Cinema glauberiano: a constituição de sujeitos errantes nos discursos
sociopolíticos ............................................................................. 171
Relações Adverbiais Independentes nas Variedades Lusófonas Faladas
à Luz da Gramática Discursivo-Funcional ..................................... 172
Heranças do passado e algumas mudanças: uma análise comparativa
entre as vogais do português arcaico e as vogais do português
brasileiro atual ......................................................................... 173
Uma perspectiva discursiva sobre a hesitação .................................. 174
Literatura e Cinema: a Representação do Feminino em Daisy Miller ........ 175
Estudo lexical dos nomes indígenas da mesorregião dos Pantanais Sul-
mato-grossense: acidentes geográficos ...................................... 176
Adaptações prosódicas e segmentais do reggae cantado na zona rural
de São Luís - MA: discutindo os dados da pesquisa ...................... 177
Estudo da variação/mudança das preposições de complementos
locativos de verbos de movimento do português brasileiro com
colaborações da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas
de Antoine Culioli ....................................................................... 178
Considerações sobre os Enunciados de caminhão ............................. 180
Charge jornalística impressa: estabilidade e instabilidade no estilo do
gênero ...................................................................................... 181
Para uma descrição dos aspectos fonéticos das nasais do português e
do espanhol ............................................................................ 182
A constituição dos sujeitos e dos sentidos no espaço urbano: a alteridade
em um corpus de redações ...................................................... 183
Erotismo e Contemplação em “Infância” de Manoel de Barros .............. 184

18 - II SELIN
Sumário

A diversidade de versões do livro sagrado no jogo das vozes em


interação ................................................................................ 185
Discurso, intelectualidade e saber: práticas discursivas e representativas
do intelectual e do saber na cibermídia ........................................ 186
A variação de pluralidade nas estruturas predicativas da variedade falada
na região de São José do Rio Preto ............................................. 187
As muitas vozes que permeiam o discurso religioso: o dialogismo e a
construção do sentido nas cartas encíclicas do Papa Bento XVI ...... 188
Um estudo comparativo sobre os processos morfofonológicos na
formação de nomes deverbais com os sufixos -çon/-ção e -mento
em Português Arcaico e Português Brasileiro ................................ 189
Língua Tapayúna: Aspectos Sociolinguísticos e uma Análise Fonológico
Preliminar ................................................................................ 190
O tempo da linguagem compreendido em etapas .................................. 191
Uma investigação de traduções de textos da área médica sob a luz dos
estudos da tradução baseados em corpus ..................................... 192
O consensual e o polêmico no texto argumentativo escolar ................... 193
A construção do herói no discurso de Xanana Gusmão ......................... 194
Implicações culturais na semiótica tensiva ........................................ 195
Dicionário Temático infantil (DTI): uma proposta de elaboração para o
português do Brasil ................................................................... 196
Antropônimos de pronúncia inglesa: adaptações fonológicas realizadas
por falantes do Português Brasileiro ............................................ 197
As relações concessivas no português falado sob a perspectiva da
Gramática Discursivo-Funcional ................................................. 198
A gramaticalização de juntivos adversativos na história do português .. 199
A voz da mídia internacional de/sobre o ambientalista e seringalista
Chico Mendes .......................................................................... 200
Semioses da subversão em Caio Fernando Abreu: um estudo semiótico 201
Construção de um saber sobre o professor de línguas: aspectos da
singularidade .......................................................................... 202
Sujeitos na Rede Eletrônica: Sentidos em Espiral .............................. 203
Usos não-convencionais de vírgulas em chats infantis ........................ 204
O processo de individualização do sujeito no discurso publicitário ....... 205

II SELIN - 19
II SELIN
II Seminário de Estudos Linguisticos

PROGRAMAÇÃO

13/10/2010 - Quarta-feira

18h30 - 19h00: Últimas inscrições e entrega de materiais


19h00 - 19h30: Sessão de Abertura
19h30 - 21h00: CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Prof. Dr. Mario Alberto Perini (UFMG)

14/10/2010 - Quinta-feira

08h00 - 09h30: SESSÃO DE DEBATES - 2 debates por sessão


09h30 - 10h30: SESSÃO DE PAINÉIS I
10h30 - 10h45: Pausa para café

10h45 - 12h30: MESA-REDONDA I:


"Estudos sobre Aquisição da Linguagem"
Ana Ruth M. Miranda (UFPel)
Lourenço Chacon (UNESP-IBILCE)
Carmem Luci (UFSC)

12h30 - 14h00: Pausa para almoço

14h00 - 15h30: SESSÃO DE DEBATES


15h30 - 16h45: SESSÃO DE COMUNICAÇÕES I*

16h45 - 17h15: Pausa para café


17h15 - 19h15: MESA-REDONDA II: "Funcionalismo"
Maria Helena de Moura Neves (UNESP - FCL)
Margarida Salomão (UFJF)
Mariângela Rios de Oliveira (UFF)
19h15: COQUETEL DE LANÇAMENTO DE LIVROS

15/10/2010 - Sexta-feira

08h00 - 09h30: SESSÃO DE COMUNICAÇÕES II


09h30 - 10h30: SESSÃO DE PAINÉIS II
10h30 - 10h45: Pausa para café
10h45 - 12h30: MESA-REDONDA III:
"Estudos das Línguas Indígenas no Brasil".
Lucy Seki (Unicamp)
Angel Corbera Mori (Unicamp)
Cristina Martins Fargetti (UNESP-Araraquara)
12h30 - 14h00: Pausa para almoço
14h00 - 15h45: MESA-REDONDA IV:
"Ensino /Aprendizagem de Línguas"
Márcia Romero Lopes (UNIFESP-SP)
Ester Mirian Scarpa (UNICAMP)
Maria Célia Magalhães (UFMG)
15h45 - 16h15: Pausa para café
16h15 - 17h55: SESSÃO DE DEBATES
18h00 - 19h30: CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
Profa. Dra. Christelle Dodane
(Université de Montpellier)

A programação final do evento também poderá ser acessada no


seguinte endereço: http://www.fclar.unesp.br/poslinpor/eventos.php?id=poslinpor

Contatos com a Comissão: selin2010@fclar.unesp.br


SESSÃO DE DEBATES
Sessão de Debates

A constituição da subjetividade linguageira infantil


por meio das condutas argumentativas

Alessandra Jacqueline VIEIRA (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

A partir de uma perspectiva linguageira e discursiva (François, 1994;


Bakhtin, 1988; Bruner, 1991, 2004) que leva em consideração os
movimentos dialógicos e o encadeamento entre os enunciados, pretendemos,
neste trabalho, demonstrar a importância das condutas argumentativas para
a constituição da subjetividade linguageira infantil. O objetivo é verificar
a relação entre marcas que podem ser encontradas no discurso infantil
(pronomes pessoais de primeira pessoa, pronomes possessivos, marcas
morfológicas de verbos etc.), no interior das condutas argumentativas, e o
papel que elas desempenham para que possamos desvendar o processo de
constituição de subjetividade na linguagem da criança. Para tanto,
analisaremos os dados de uma criança de 20 a 33 meses (A.), coletados em
contexto familiar, em situações cotidianas de interação com os pais. Partimos
do pressuposto de que a criança constrói progressivamente sua subjetividade
e adquire gradativamente novos mecanismos de linguagem e que, desde
muito cedo, consegue estabelecer relações e fornecer explicações aos seus
interlocutores (Veneziano, 1999). Assim, entendemos que o processo
interacional contribui efetivamente para seu desenvolvimento lingüístico e
cognitivo, tornando sua linguagem cada vez mais próxima da utilizada pelo
adulto. Além disso, acreditamos que a criança, ao colocar-se no discurso
por meio dos pronomes eu, meu, dos verbos em primeira pessoa etc., ratifica
sua individualidade, demonstrando, também, seus desejos, suas vontades,
seu ponto de vista. Nesse sentido, na análise de nossos dados, buscaremos
examinar os enunciados produzidos em situação de socialização (Ochs,
1989) e, também, situá-los dentro do contexto enunciativo. Dessa forma,
destacamos a importância da relação de interação (mãe/criança ou adulto/
criança), bem como os elementos extralingüísticos para a compreensão do
sentido completo do enunciado.

24 - II SELIN
Sessão de Debates

A proficiência oral do professor de inglês como


língua estrangeira: foco na metalinguagem

Aline Mara FERNANDES (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Douglas Altamiro CONSOLO (Orientador)

Esta pesquisa trata especificamente da avaliação da proficiência


oral do professor de inglês como língua estrangeira (ILE) por meio do
TEPOLI (Teste de Proficiência Oral em Língua Inglesa). Objetiva-se
comparar dados da produção oral de duas professoras em sala de aula e no
teste em dois momentos distintos: (1) ao final do curso de Licenciatura em
Letras; (2) após um ano de atuação docente. No primeiro contexto, as
professoras, ainda em formação, passaram pelo referido teste no final da
graduação no ano de 2008, enquanto que no segundo contexto, após um
ano de docência, as professoras atuantes foram submetidas novamente ao
mesmo teste. A primeira fase comparativa foi feita com base nas faixas de
proficiência atingidas pelas professoras no teste, com base no aspecto da
precisão gramatical e no uso de metalinguagem. Na segunda fase da
pesquisa, realizou-se um levantamento das ações comunicativas produzidas
pelas professoras em sala de aula e a comparação dos dados do teste com
dados de gravações das aulas. A análise teve foco na metalinguagem por
ser esta uma característica fundamental do uso da língua para ensino da
própria língua. A partir desses dados, foi possível discutir os níveis atingidos
pelas professoras no teste com base nos descritores dos dois tipos de faixas
de proficiência do TEPOLI, ou seja, as faixas para avaliação do uso geral
da língua e as faixas para avaliação do uso metalingüístico. O uso dos dois
tipos de faixas de proficiência justifica-se pelas características da
competência linguístico-comunicativa do professor, que está na intersecção
entre a competência de uso geral da língua e o discurso de sala de aula
(Consolo, 2007). Além disso, acredita-se que este trabalho contribua para
as pesquisas do escopo do EPPLE (Exame de Proficiência para Professores
de Língua Estrangeira) e, consequentemente para a formação de professores
linguisticamente competentes.

II SELIN - 25
Sessão de Debates

Estratégias de relativização e classe de palavra: um


estudo tipológico-funcional

Amanda D’Alarme GIMENEZ (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Roberto GOMES CAMACHO (Orientador)

Esta pesquisa de mestrado estuda a relação entre a modificação


sintática mediante o uso de orações relativas (ORs) e de adjetivos e a
organização morfossintática das línguas da amostra no que se refere às
classes de palavras, com a finalidade de conduzir a uma generalização
tipológica. Sobre isso, a hipótese que se investiga é a da possível correlação
entre ausência de adjetivo como classe de palavra e ausência de OR como
construção a serviço da modificação nominal. A principal consequência
dessa correspondência é a de o nome assumir a função modificadora do
adjetivo e a construção nominalizada, a função modificadora da OR. Sendo
assim, são investigadas duas situações alternativas, já que parece tanto
improvável haver uma construção de modificação diferente de
nominalização quando da ausência de adjetivo enquanto classe de palavra
como provável a situação inversa, em que a carência de adjetivo como
classe é suprida por uma OR no papel de modificador nominal. Adota-se,
no âmbito deste trabalho, o enfoque tipológico-funcional, de natureza
essencialmente empírica,em que os dados são coletados por meio de
comparação translinguística. Por se tratar de uma investigação transistêmica,
o corpus de análise deve ser representativo, ou seja, é preciso considerar a
distância genética, geográfica e tipológica das línguas que o constituem.
Sob essas condições, compôs-se a amostra deste trabalho, que dispõe de
quarenta e uma línguas indígenas brasileiras, descritas sob a forma de
gramáticas, teses ou manuais, representando um número de vinte e uma
diferentes famílias lingüísticas.

26 - II SELIN
Sessão de Debates

Aspectos subjetivos na sintaxe: um estudo das


orações subordinadas substantivas

Ana Carolina SPERANÇA (UNESP/FCLAR – Bolsista CAPES)


Antônio Suárez ABREU (Orientador)

O ensino tradicional do período composto por subordinação


(substantiva) limita-se à identificação e classificação da função sintática
que as orações subordinadas desempenham em relação a um termo da oração
principal. Neste trabalho, as orações subordinadas substantivas são
estudadas sob uma perspectiva funcionalista-cognitivista: busca-se observar
os aspectos pragmáticos e cognitivos que motivam essa organização
sintática, o que corrobora o princípio funcionalista de que a estrutura da
língua é determinada pelo uso que dela fazem os falantes nas mais diversas
situações de interação. O corpus da pesquisa constitui-se por textos de
reportagem e textos de opinião dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado
de S. Paulo (online), e da Revista Veja (impressa). Alguns resultados parciais
mostram que construções com orações subjetivas, objetivas diretas,
completivas nominais e predicativas, por exemplo, atuam na marcação da
evidencialidade, a partir da intenção do falante de querer demonstrar maior
ou menor comprometimento em relação ao que diz. O objetivo principal
do trabalho é propor uma abordagem funcional para o ensino da gramática,
especialmente da sintaxe. Acredita-se, desta forma, ser possível garantir ao
aluno um melhor desenvolvimento de suas habilidades linguísticas, tanto
no processo de produção quanto no de interpretação de textos, em quaisquer
situações comunicativas.

II SELIN - 27
Sessão de Debates

A concordância nominal na escrita de adolescentes

Ana Helena Rufo FIAMENGUI (UNESP/IBILCE)


Roberto Gomes CAMACHO (Orientador)

A concordância nominal representa um fenômeno variável em todo


o território brasileiro, como demonstram inúmeras pesquisas
sociolinguísticas fundamentadas em diversos dialetos. A esse respeito, a
importância de diversos fatores linguísticos e extralinguísticos, advindos
de pesquisas anteriores sobre a concordância nominal (principalmente
SCHERRE, 1988), foi comprovada na análise do córpus Iboruna
(FIAMENGUI, 2007), que representa a variedade falada na região de São
José do Rio Preto.Os estudos de Molicca (1999) e de Casemiro (1995)
sobre a variação da concordância nominal e o estudo de Lima (2001) sobre
a variação na concordância verbal em redações escolares de ensino
fundamental mostram que o fenômeno também abrange textos escritos, em
diferentes regiões do país. O universo desta pesquisa será composto, então,
por amostras de escrita de alunos do ensino fundamental de uma escola
pública de São José do Rio Preto. A pesquisa pretende observar se os
contextos em que a variação ocorre são os mesmos que se apresentam
variáveis na modalidade oral da mesma região. Além disso, será possível
avaliar se os fatores que favorecem/desfavorecem o uso de marcas de plural
na modalidade oral são capazes de explicar também a variação na escrita
ou se há outros fatores específicos que influenciam a variação nesta
modalidade. A análise será fundamentada em princípios formais e será,
portanto, dividida em dois tipos de análise: atomística, que se ocupa de
cada elemento do SN separadamente e não-atomística, que vê o SN como
um todo. Os resultados estatísticos serão fornecidos pelo conjunto de
programas GoldVarb.

28 - II SELIN
Sessão de Debates

Caracterização do gênero projeto editorial

Assunção Aparecida Laia CRISTÓVÃO (UNESP/FCLAr)


Renata Maria Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

Este projeto de pesquisa prevê a elaboração de um trabalho que


visa a conceituar o gênero projeto editorial, a partir dos seis projetos
produzidos a partir de 1981 pela Folha de S. Paulo e, a partir dessa
conceituação, contrastar os diversos projetos para identificar a dinâmica
das alterações promovidas no jornal, sua história, a evolução da sua
concepção de jornalismo e da própria imagem que esse veículo tem de si
mesmo. O objetivo será dar continuidade aos estudos iniciados na
dissertação de mestrado denominada “O projeto editorial da Folha de S.
Paulo sob a perspectiva do Círculo de Bakhtin”, defendida em 1º. de abril
de 2005, no Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua
Portuguesa, sob orientação da Profa. Dra. Renata Maria Facuri Coelho
Marchezan. A opção por fazer avançar os estudos de caracterização do
gênero projeto editorial aconteceu em função da constatação de esse tema
ser um estudo inédito, no sentido de que os vários gêneros situados no
âmbito de atuação do jornalismo – entre eles, a reportagem, a notícia, os
editoriais, etc – mereceram numerosos estudos no campo da Análise do
Discurso, mas os projetos editoriais ainda carecem, inclusive, de uma
conceituação adequada. Haverá um cuidado especial em não limitar o
trabalho a uma mera descrição das características desse gênero tão peculiar.
Os conceitos bakhtinianos nos alertam para o fato de que nenhum gênero
textual pode ser dissociado da atividade humana, das relações sociais,
históricas e ideológicas que lhe deram origem. É num amplo, complexo e
dialético cenário que os gêneros surgem e se modificam. Assim, tal
caracterização terá como finalidade a possibilidade de opor, contrastar cada
exemplar dos projetos editoriais da Folha para, desta forma, poder captar
não a sua forma cristalizada, mas, por outro lado, justamente o percurso,
regular ou não, adotado pelo jornal, ou seja, seu dinamismo.

II SELIN - 29
Sessão de Debates

Integração de tecnologias e webtecnologias no


ensino de língua inglesa: concepções teóricas,
crenças e interação na prática docente

Azenaide Abreu Soares VIEIRA (UNESP/IBILCE)


Maria Helena VIEIRA-ABRAHÃO (Orientadora)

O objetivo da investigação em andamento é traçar concepções


teóricas e crenças de ensino de Língua Inglesa mediado por tecnologia e
webtecnologia, assim como inquirir como tais pressupostos interagem na
prática pedagógica do professor de Língua Inglesa durante um curso de
aperfeiçoamento em Tecnologia Educacional oferecido no molde
semipresencial (blended learning). O curso que serviu de contexto de
pesquisa foi ofertado de abril/2009 a junho/2010. Período de intensivo
trabalho de coleta, categorização e análise dos dados. Para tanto, foi utilizado
como instrumentos de coleta: questionário aberto, portfólio online e
ferramentas do Ambiente Virtual de Aprendizagem. Participam da pesquisa
seis (06) profissionais da educação básica que exercem na escola a função
de professor de Língua Inglesa e formador em Tecnologia Educacional. O
arcabouço teórico utilizado para alicerçar a pesquisa está centrado nos
conceitos sobre a formação em serviço do professor de língua inglesa
(VIEIRA-ABRAHÃO, 2004), Educação a Distância e formação tecnológica
(MORAN, 2004, 2008, 2009; SANCHO, 2001; PAIVA, 2008), formação
de professor em blended learning (GATTI, 2002; HAMPEL, 2009), e, nos
conceitos de crenças do professor de língua inglesa (BARCELOS, 2006).
A análise preliminar das concepções teóricas revela que os participantes
possuem conceitos de ensino pautados na abordagem tradicional, cuja
prática com aparatos tecnológicos é norteada pelo CALL behaviorista e
comunicativo. Quanto às crenças de ensino mediado por recursos
tecnológicos verifica-se que há a crença de que as tecnologias tradicionais
(livro, caderno e lousa) são os recursos principais ao ensino de Língua
Inglesa e que a webtecnologia substitui completamente o livro didático,
sendo utilizada nas aulas como recurso principal. Percebe-se também que
há um esforço por parte dos participantes em integrar o maior número
possível de tecnologias e webtecnologias em suas atividades pedagógicas,
entretanto sem uma reflexão quanto à abordagem para ensinar.

30 - II SELIN
Sessão de Debates

A motivação e sua relação com os princípios de


autonomia e reciprocidade em contexto de
aprendizagem em Teletandem

Camila Maria da Costa KAMI (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Ana Mariza BENEDETTI (Orientadora)

O contexto de aprendizagem em teletandem é ideal para o estudo


da motivação e autonomia, uma vez que interagentes trabalham de forma
autônoma e colaborativa para aprender a língua estrangeira e ensinar a sua
língua materna. Em contexto de aprendizagem virtual, especialmente o
teletandem, a motivação é influenciada por fatores pessoais (desejo de
aprender a língua por razões profissionais, simpatia pela língua-alvo, etc);
socioculturais (identificação com a língua e a cultura) e contextuais (acesso
à tecnologia, comprometimento do parceiro, temática abordada, recebimento
de feedback e engajamento da instituição no exterior). Além disso, a
motivação possui uma relação intrínseca com os princípios do teletandem:
a autonomia e a reciprocidade. Acreditamos que a autonomia proporcionada
pelo ambiente torna o interagente ainda mais motivado, uma vez que tem a
liberdade de selecionar o tema que mais lhe agrada, negociar horários de
interação de acordo com sua disponibilidade, etc. O comprometimento e o
envolvimento do interagente com o processo de aprendizagem do parceiro
também é fundamental para que ambos mantenham-se motivados. A presente
pesquisa qualitativa e de natureza etnográfica tem como objetivos: verificar
as motivações iniciais de pares interagentes, principalmente a dos
brasileiros, em relação ao aprendizado da língua estrangeira em teletandem;
analisar como elas se sustentam, ou não, ao longo do processo interativo,
tendo em vista o atendimento dos princípios de autonomia e reciprocidade.
O contexto de pesquisa é o do teletandem e para este trabalho selecionamos
uma graduanda do curso de Letras de uma universidade pública do interior
do estado de São Paulo, que interagia em espanhol. Como fontes de dados
foram utilizados questionário semiaberto, registros de interações pelo chat,
diários da interagente e da mediadora e entrevista semiestruturada. Até o
presente momento, acreditamos que a interagente manteve-se motivada em
razão do comprometimento do parceiro com o seu aprendizado e da
autonomia proporcionada por este ambiente de aprendizagem.

II SELIN - 31
Sessão de Debates

A relação entre suporte material e atividade verbal


na emergência de abreviaturas na internet

Carla Jeanny FUSCA (UNESP/IBILCE)


Fabiana Cristina KOMESU; Luciani Ester TENANI (Orientadoras)

Neste trabalho, partimos da hipótese de que a escrita na internet


não é caótica, como apregoado por determinados grupos na sociedade, a
respeito dessa prática de escrita. Essa hipótese de configuração não-caótica
é fundada nas regularidades linguísticas por nós investigadas no processo
de abreviação. Acreditamos que um exame mais atento desse processo,
amplamente utilizado em determinadas salas de bate-papo virtual, torna
possível, a problematização de afirmações como a de que a escrita digital
consistiria em uma tentativa de transcrição fonética. Por meio da análise
de abreviaturas coletadas em salas de bate-papo abertas, frequentadas por
jovens autonomeados como tendo de 10 a 15 anos, acreditamos que seja
possível observar que o escrevente de chats opera tanto com aquilo que ele
imagina ser a escrita institucionalizada quanto com o que ele imagina fazer
parte da prática oral/falada. Nesse sentido, consideramos que as abreviaturas
consistem em um importante indício, não da interferência da fala na escrita,
mas da heterogeneidade da escrita, tal como proposta por Corrêa (2004).
Fundamentados, pois, em um conjunto de enunciados resultantes do uso
de abreviação na internet, propomo-nos a refletir sobre quais fatores
linguístico-discursivos facultam esse uso, considerado, por muitos,
“excessivo”. A afirmação mais corrente é a de que se abrevia por exigência
do suporte, o qual demanda velocidade na interação. Concordamos com
essa afirmação, mas acreditamos que esse não pode ser o único fator a ser
levado em conta. Além do suporte, é importante observar a(s) relação(ões)
estabelecida(s) entre os participantes do bate-papo e a constante repetição
de enunciados já ditos nesse gênero em emergência. Essa é a proposta deste
trabalho: refletir sobre a relevância do suporte no surgimento de abreviaturas
na internet.

32 - II SELIN
Sessão de Debates

Dicionário Terminológico Onomasiológico dos


Termos Fundamentais da Biotecnologia com
Equivalências em Inglês: busca de equivalentes e
tratamento dos dados em português
Cassia Maria DAVANÇO (UNESP/IBILCE)
Maurizio BABINI (Orientador)
O objetivo principal deste trabalho consiste em elaborar um
dicionário terminológico-onomasiológico com equivalências em inglês,
seguindo os pressupostos propostos por Babini (2001), aos termos
fundamentais da Biotecnologia no Brasil. Entende-se por dicionário
onomasiológico todo dicionário que permite encontrar uma unidade lexical
ou terminológica a partir de seu conteúdo semântico. Para a realização
desse modelo de dicionário onomasiológico, elaboraremos um dicionário
eletrônico da língua portuguesa com equivalências em inglês, referente a
esses termos da Biotecnologia. A metodologia empregada no tratamento
terminográfico e na pesquisa terminológica bilíngüe será norteada pela TCT
(Teoria Comunicativa da Terminologia), que nos auxiliará a lidar com as
diferenças terminológicas existentes entre os dois idiomas estudados. As
principais referências metodológicas que guiarão nossas buscas pelos
equivalentes lexicais são Dubuc (1985), Rondeau (1984), Alpìzar-Castillo
(1995), Cabré (1993, 1999), Barros (2004), Babini (2001a, 2001). Um ponto
inovador desse modelo são as possibilidades de buscas. Em particular, nosso
dicionário oferecerá ao usuário o semema, ou seja, o conjunto de semas ou
traços semânticos que compõe o conceito de cada termo do dicionário.
Todo semema encontrar-se-á em língua portuguesa e em língua inglesa.
Dessa maneira, um usuário brasileiro poderá buscar um termo em inglês,
utilizando tanto sua língua materna como a língua inglesa para escolher os
semas disponíveis em nosso dicionário. Do mesmo modo, um usuário inglês
pode pesquisar um termo em português usando tanto sua língua materna
quanto a língua portuguesa para escolher os traços semânticos referentes
ao termo pesquisado. Como suporte eletrônico para a criação de nosso
dicionário, utilizaremos o programa CDS/ISIS, que possibilita construção,
armazenamento, recuperação de informação e gerenciamento de base de
dados com maior direcionamento em texto. Portanto, o funcionamento desse
modelo de dicionário terminológico onomasiológico bilíngue aplicado aos
termos da biotecnologia mostra-se eficaz e aplicável também a outras áreas
do saber.
II SELIN - 33
Sessão de Debates

A concordância verbal no português brasileiro e


europeu: estudo sociolinguístico comparativo

Cássio Florêncio RUBIO (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Sebastião Carlos Leite GONÇALVES (Orientador)

Como fartamente documentado, o fenômeno variável da


concordância verbal (CV, daqui a diante) é característica do português
brasileiro (PB), e também de outras variedades africanas, mas tem sido, até
o momento, contestado, por linguistas portugueses, para a variedade
europeia do português. O tema da pesquisa se justifica por buscar a
comparação sociolinguística interdialetal entre o PB, o PE (português
europeu) e o PA (português africano), o que, se não inédito, é praticamente
inexplorado até o presente momento, visto a consideração da invariabilidade
do PE, em relação à CV. Assim, o presente trabalho tem por objetivo
apresentar uma análise comparativa do comportamento linguístico de
informantes do PB, variedade do Noroeste do Estado de São Paulo (RUBIO,
2008), do PE, corpus oral “Português Fundamental”, coletado pelo Centro
de Linguística da Universidade de Lisboa, e do PA, corpus de variedades
Africanas do Português, também coletado pelo Centro de Linguística da
Universidade de Lisboa, considerando, nos termos de Labov (1972), fatores
linguísticos e sociais correlacionados à presença/ausência de marcas de
CV. Com base nessa comparação, tentaremos detectar possíveis origens e
razões para o fenômeno da CV variável no português e, ainda, se estas
razões são comuns a ambos os dialetos ou se possuem motivações diferentes.
Buscaremos reunir evidências para verificar em que bases empíricas mais
recentes se fundam as argumentações de Naro & Scherre (2007), que
contestam a tese de que a crioulização do PB se deve a certas características
de natureza variável, incluindo aí a CV, decorrentes de uma influência de
falares crioulos e semicrioulos de base africana, como defendem, por
exemplo, alguns crioulistas (COELHO, 1967; GUY, 1989).

34 - II SELIN
Sessão de Debates

A Gramaticalização em PODE SER

Cibele Naidhig de Souza CARRASCOSSI


(UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)
Maria Helena de Moura NEVES (Orientadora)

Na língua portuguesa do Brasil, pode ser, em determinados


contextos, constitui uma expressão consolidada de avaliação epistêmica.
Nesses enunciados, nota-se que pode ser permanece invariável, deixa de
exercer a função de uma perífrase verbal e passa a assumir a função de um
elemento adverbial epistêmico. Assume-se que o fenômeno em estudo pode
ser concebido como um caso de gramaticalização no português brasileiro.
O objetivo deste trabalho é estudar a gramaticalização em pode ser,
buscando-se identificar os valores e as funções assumidos por essa
construção nos seus contextos de ocorrência. A pesquisa está assentada
nos pressupostos funcionalistas, principalmente aqueles desenvolvidos pela
teoria da gramaticalização. O banco de dados utilizado é o disponível no
Laboratório de Lexicografia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP
de Araraquara, que é constituído por quase 200 milhões de ocorrências em
textos diversificados pelas literaturas romanesca, dramática, oratória,
técnica, jornalística e de propaganda. São textos selecionados a partir de
1950, o que permite a observação do português escrito contemporâneo.
Identificaram-se diferentes usos para pode ser, os quais constituem uma
escala de gramaticalização (menos gramatical > mais gramatical). A análise
das ocorrências indica que esses usos são motivados por pressões
pragmáticas, configurando uma estratégia de proteção da face do falante,
que atenua o grau de adesão de certeza de uma proposição. As alterações
funcionais sofridas pelo verbo modal poder, nesses contextos, revelam
significados cada vez mais baseados em atitudes e crenças subjetivas do
falante (o que caracteriza um processo de subjetivização).

II SELIN - 35
Sessão de Debates

O percurso das ideias do Círculo de Bakhtin na


análise do discurso francesa

Claudiana Nair Pothin Narzetti COSTA


(UNESP/FCLAr – Bolsista FAPEAM)
Renata Maria Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

Nossa pesquisa investiga o percurso que as idéias do Círculo de


Bakhtin percorreram na Análise do discurso derivada dos trabalhos de
Michel Pêcheux. Consideramos que essas idéias tiveram um percurso
bastante peculiar na história da AD – recusa num primeiro momento (período
da segunda época da disciplina, no qual as obras do Círculo de Bakhtin
chegavam à França) e apropriação num segundo (período da terceira época
da disciplina, momento de abertura teórica para fontes distintas daquelas
das épocas iniciais). Esse percurso configura-se como uma questão a ser
pesquisada na medida em que os conceitos do Círculo de Bakhtin, apesar
daquela primeira rejeição, tornaram-se largamente utilizados nos trabalhos
de Análise do discurso. Sendo assim, nossos objetivos são os que seguem:
(1) discorrer sobre o momento da primeira recepção de Bakhtin nessa
disciplina, o da recusa (anos 70), e apontar como sua possível causa uma
“incompatibilidade” teórico-filosófica entre Pêcheux e o Círculo de Bakhtin,
expressa principalmente em suas posições contrárias quanto à interpretação
do Materialismo Histórico, da Lingüística e da Psicanálise; (2) analisar o
modo como conceitos bakhtinianos (dialogismo e alteridade, por exemplo)
são relidos e trabalhados por Authier-Revuz, e o que nesse trabalho de
releitura propiciou sua apropriação na teoria e na análise do discurso
desenvolvida por Pêcheux e seu grupo; (3) refletir sobre o modo como
aqueles conceitos reinterpretados são apropriados pela AD pecheutiana.
Acreditamos que nossa reflexão possa contribuir para uma compreensão
cada vez mais global da história da AD, condição sem a qual ela pode
deixar de ser um campo crítico para se tornar um dogma.

36 - II SELIN
Sessão de Debates

Da ortografia para a fonética e fonologia nos


Sermões do Padre Antônio Vieira

Cristiane Jussara ROMANATTO (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

Partindo do pressuposto de que “(...) A história da escrita ou da


ortografia é um conjunto de ocorrências que podem ser encontradas,
analisadas e classificadas em função do tempo e do lugar onde ocorreram”
(CAGLIARI, 2009), esta pesquisa propõe-se extrair o sistema ortográfico
empregado por Padre Antônio Vieira - pessoa que morou no Brasil e em
Portugal e que era muito influente na colônia e na metrópole, no século
XVII - nos sermões Sermam da Sexagesima (pregado no ano de 1655 e
impresso no ano de 1679, pela oficina de João da Costa) e Sermam da
Rainha Santa Isabel (pregado em 1674 e impresso pela oficina de Miguel
Deslandes, no ano de 1682).
Através das cópias facsimiladas dos dois sermões, foram retiradas
palavras com variações gráficas e, no momento, elas estão sendo comparadas
com comentários de gramáticos e ortógrafos da época, com o intuito de
serem levantadas hipóteses fonéticas, mostrando a associação das letras a
determinados sons, pois são justamente as variantes gráficas que permitem
o estabelecimento de possíveis ligações entre a ortografia e a fonética e,
consequentemente, permitem a realização de uma análise fonológica da
língua para uma época consideravelmente distante. Com este propósito, o
presente trabalho procura colaborar com a reconstrução de sistema anterior
de escrita do português e, principalmente, da sua ortografia.

II SELIN - 37
Sessão de Debates

Lexicografia bilíngue: considerações sobre o estudo


lexicográfico da língua terena

Denise SILVA (UNESP/FCLAr)


Cristina Martins FARGETTI (Orientadora)

O presente trabalho é resultado de leituras e discussões do projeto


de doutorado “Estudo lexicográfico da língua Terena: proposta de um
dicionário bilíngüe terena-português” e tem como objetivo analisar a
proposta de dicionário existente sobre a língua terena “O léxico da língua
Terena: proposta do dicionário infantil-bilíngüe Terena-Português” e
justificar a necessidade de elaboração de uma nova proposta. Para tanto
elegemos como suporte teórico Haensch et al (1982) e Welker (2004) .
Neste texto faremos uma descrição do trabalho, a discussão de alguns
aspectos e a apresentação das justificativas para a elaboração de uma nova
proposta de estudo lexicográfico da língua terena. Nossa proposta de
trabalho tem como objetivo estudar o léxico de tal língua, defini-lo e
organizá-lo em forma de um dicionário bilíngüe, Terena- português, e para
tanto aplicaremos a fundamentação teórica da lexicografia com o objetivo
de elaborar um dicionário mais completo, com macro e micro estrutura
bem definidas e adequadas. Buscaremos uma adequada definição das
classes de palavras e atentaremos, tanto quanto possível, a questões
fonológicas, morfossintáticas, semânticas e pragmáticas. Por se tratar de
uma língua pouco estudada, julgamos importante discutir informações sobre
fonologia, morfologia e sintaxe da língua para que o leitor compreenda a
organização e o funcionamento da língua, essenciais para a elaboração do
dicionário. Tais informações serão baseadas nos trabalhos já existentes:
Silva ( 2008) “Descrição fonológica da língua Terena” e Rosa, (2009)
“Morfologia da língua Terena”(em andamento), além de outros trabalhos.
No entanto, todos os dados serão testados nos trabalhos de campo a serem
realizados para esta pesquisa.

38 - II SELIN
Sessão de Debates

O estudo do léxico para a preservação da memória


de um povo

Elisângela Alves GUSMÃO (UNESP/FCLAr)


Cristina Martins FARGETTI (Orientadora)

A intenção deste estudo é a compreensão das diferentes relações


sociais presentes no léxico da atividade pesqueira e nos topônimos
encontrados na comunidade linguística de Curuçá, no Estado do Pará, região
amazônica. Nossa pesquisa destina-se a pesquisadores que se interessem
pelo estudo do léxico e sua contribuição para a preservação da memória de
um povo. Segundo Giarrizzo (2007), Curuçá faz parte da segunda maior
área contínua de manguezais do mundo, cobrindo uma área de
aproximadamente 7.000 km2 de florestas. Apesar do grande valor ecológico
desta região, o rápido crescimento da população ameaça a conservação
deste ecossistema único. Nosso estudo propõe uma análise, a partir da teoria
lexical de Borba (1990), entre outros teóricos, do léxico utilizado em Curuçá-
Pa e suas origens indígenas, os índios Andirá, que ainda vivem na região,
deixaram marcas lexicais no município, algumas apagadas pelo tempo e
outras que compõem traços da cultura curuçaense, mantendo viva a presença
do elemento indígena na região. Dito isso, temos como enfoque o léxico e
suas relações com a memória, com a sociedade e com o imaginário de um
povo. O povo Andirá pertence ao município de Curuçá, atualmente, e não
há registros que confirmem a existência de habitantes que falem a língua
desta etnia. Segundo Lima (1995), ao tempo da descida dos índios para
Curuçá, houve um núcleo de índios Andirá que habitou a aldeia que deu
origem à comunidade atual e , atualmente, alguns de seus habitantes
preservam suas crenças, rituais e história por meio do léxico usado na
atividade pesqueira, nos topônimos encontrados na região e na prática de
alguns ritos. O produto final de nosso estudo, além da finalização de nossa
tese, é a documentação de uma região desconhecida linguisticamente e a
promoção do reencontro do povo Curuçaense com suas origens por meio
dos estudos lingüísticos.

II SELIN - 39
Sessão de Debates

Construção exploratória do ontoléxico do domínio


da experiência Indústria do Bordado de Ibitinga

Erasmo Roberto MARCELLINO (UNESP/FCLAr – Bolsista FAPESP)


Bento Carlos DIAS-DA-SILVA (Orientador)

Este trabalho descreve desenvolvimentos da pesquisa de mestrado,


inserida nas áreas dos Estudos do Léxico e da Linguística Computacional,
que organiza uma ontologia para o domínio conceitual INDÚSTRIA DO
BORDADO DE IBITINGA (IBI) e sua instanciação lexical em duas etapas:
uma linguística e outra linguística-computacional, ambas motivadas pela
metodologia de construção de redes relacionais como as wordnets. O
revestimento lexical em português e inglês da realidade extralinguística
dessa indústria é composto dos itens e expressões lexicais particulares que
vêm sendo coletados, descritos e organizados nas categorias conceituais
da ontologia em desenvolvimento, dentre elas a SUPORTE PARA
BORDADO (SPB). Assim, o que está em construção exploratória é um
ontoléxico desse domínio da experiência. Aqui focamos a atividade de
coleta, que se dá num corpus atualmente composto por referências impressas
e on-line, como o site <www.tudoarte.com.br/>, que abriga oito anunciantes
de produtos de Ibitinga. Dos anúncios foi extraída aproximadamente meia
centena de itens e expressões lexicais significativas para a ontologia do
domínio IBI, por exemplo: ‘camisola’, ‘pano de prato’, ‘puxa-saco’,
‘avental’, ‘tapete para o vaso sanitário’, ‘porta fralda’, ‘linhão’, ‘gorgurinho’,
‘viés’, ‘overloque’, etc. Os sete primeiros fazem parte da categoria SPB,
sendo que ainda podem integrar subcategorias como QUARTO, COZINHA
e BANHEIRO (divisão conceitual intuitivamente consagrada na terra dos
produtos para ‘cama, mesa e banho’). É importante salientar que a coleta
no site citado foi manual, no entanto em outras fases da pesquisa também
nos valemos de procedimentos semi-automatizados para a mineração de
dados lexicais de conteúdos on-line; ambos os procedimentos são
importantes para a população das categorias conceituais e, assim, para o
domínio IBI.

40 - II SELIN
Sessão de Debates

Relações paradigmáticas e sintagmáticas na


construção de um dicionário analógico

Felipe Iszlaji de ALBUQUERQUE (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Bento Carlos DIAS-DA-SILVA (Orientador)

Há uma tendência em destacar que o princípio que rege a


categorização é a analogia ou raciocínio analógico. Por outro lado, a
estruturação de conceitos pode também se dar não pela analogia, pautada
na ideia de similaridade, mas pela maneira como as coisas estão dispostas,
lado a lado, no mundo – ou seja, pelo princípio da contiguidade. Segundo
Jakobson, são específicas da contiguidade as organizações mentais
decorrentes da causalidade, que cumprem uma lógica linear, de causa e
efeito, ou seja, associações estruturadas por subordinação, onde os signos
mantêm entre si relações de proximidade (JACKOBSON, 1973: 34-62). Já
na associação por similaridade, instituem-se as analogias, relações entre
signos de domínios ou contextos distantes, mas que mantêm entre si alguma
semelhança conceitual. Se fizermos um paralelismo com as ideias
saussurianas (SAUSSURE, 1969), contiguidade e similaridade passam,
respectivamente, a sugerir os dois eixos da linguagem: sintagma
(subordinação/combinação) e paradigma (justaposição/seleção). A nossa
proposta para um dicionário analógico na internet objetiva estruturar
relações semânticas tanto paradigmáticas – em ausência, das quais os
sinônimos são o melhor exemplo – quanto sintagmáticas, em presença.
Nossa hipótese é de que as relações semânticas paradigmáticas (sinonímia,
antonímia, hiperonímia, etc.) são melhor trabalhadas em estruturas como a
das wordnets (estruturas em forma de rede, onde as unidades lexicais são
organizadas sob a forma de synsets – do inglês, synonym set) (MILLER,
1998), e as relações sintagmáticas são adequadamente tratadas pela
semântica de frames, ou seja, em estruturas como a das framenets
(FILLMORE et al., 2003; BAKER, FILLMORE e LOWE, 1998).

II SELIN - 41
Sessão de Debates

O Ensino interativo e crítico de gramática nas séries


iniciais do Ensino Fundamental

Francisco Vanderlei Ferreira da COSTA (UNESP/FCLAr)


Maria Helena de Moura Neves (Orientadora)

O ensino de gramática nas séries iniciais do Ensino Fundamental


lida com forma e sentido da língua. O profissional de educação ensinará
nessa etapa uma modalidade da língua que exige dele um conhecimento
substancial sobre a própria língua e a linguística possui um largo debate
sobre esse tema, diversas teorias se debruçaram sobre a linguagem para
propor maneiras de se estudar a produção da língua natural. Disso tem
resultado que muitos alfabetizadores têm procurado um debate teórico nas
disciplinas de linguagem para responder a essa necessidade que o processo
de ensino/aprendizagem acarreta. Considerando essa afirmação, esse
trabalho procura descrever o atual quadro do ensino da forma e do sentido
da língua nas séries iniciais, mostrando que os debates atuais sobre
alfabetização e letramento requerem do(a) professor(a) um maior
comprometimento com as teorias de linguagem. Ou seja, o processo de
ensino/aprendizagem da escrita da língua portuguesa pede como pré-
requisito um certo envolvimento do professor com teorias de linguagem
que dêem conta das discussões que envolvem tal processo. Pensando nisso,
essa proposta trará os debates de algumas teorias da linguagem sobre a
questão da forma e do sentido, enfocando essa relação dentro da gramática
da língua portuguesa e procurando associá-la ao ensino da modalidade
escrita da língua portuguesa durante o processo de alfabetização.

42 - II SELIN
Sessão de Debates

Acessibilidade semântica das construções relativas:


um estudo tipológico-funcional

Gabriela Maria de OLIVEIRA (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Roberto Gomes CAMACHO (Orientador)

Este trabalho tem como objetivo investigar como restrições de


ordem semântica atuam ao lado das sintáticas para a determinação do
processo de formação das orações relativas (ORs) em busca de evidências
que confirmem a revisão da Hierarquia de Acessibilidade (HA) de Keenan
e Comrie (1977), tal como proposto por Dik (1997). Tal hierarquia revela
que o papel sintático do participante compartilhado pela oração matriz e
pela OR permite diferenciar os tipos de relações relativas e revela, também,
que a variação obedece a padrões regulares de distribuição tipológica. No
entanto, Dik (1997) afirma que as funções semânticas e pragmáticas são
relevantes para a descrição da acessibilidade das ORs. As críticas à HA de
Keenan e Comrie (1977) dizem respeito tanto a razões empíricas (o fato de
existirem línguas que não dispõem de nenhum tipo de construção relativa)
quanto a razões teóricas (o fato de os autores tomarem como universais
categorias sintáticas sem a menção de nenhuma teoria que as defina e sem
levar em consideração que há línguas para as quais essas funções não são
relevantes). Por se tratar de um estudo funcional-tipológico, o enfoque deste
trabalho é voltado para uma metodologia essencialmente empírica, mediante
a qual os dados são coletados e analisados por meio de comparação
translinguística. Uma pesquisa de cunho tipológico deve conter amostras
representativas das línguas do mundo e, para isso, a amostra deve contar
com uma grande diversidade genética, geográfica e tipológica. O corpus
deste trabalho é composto por 41 línguas indígenas brasileiras e conta com
descrições previamente feitas, como gramáticas, teses e outros tipos de
manuais descritivos.

II SELIN - 43
Sessão de Debates

Descrição funcional dos evidenciais no discurso da


auto-ajuda sobre saúde

George Henrique NAGAMURA (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Marize M. Dall’Aglio-HATTNHER (Orientadora)

Aceitando-se a caracterização do discurso da auto-ajuda proposta


por Brunelli (2004), entende-se que seu sujeito enunciador assume um lugar
de saber, procurando ensinar ao interlocutor o que deve ser feito para se
alcançar algum tipo de objetivo, como conseguir um bom emprego ou como
ser feliz em um relacionamento. No caso da auto-ajuda da saúde, como
curar-se/prevenir-se de doenças. Do ponto de vista da materialidade
linguística, o enunciador, ao falar de um lugar de saber, modaliza seu
enunciado de forma a mostrar certeza, a instaurar ordens para seu
interlocutor e a indicar as fontes do saber enunciado. São essas estratégias
linguísticas que interessam a esse projeto, que parte da premissa de que é
possível caracterizar o discurso da auto-ajuda da saúde pelo uso que nele
se faz dos modalizadores e dos evidenciais. Para confirmar essa hipótese,
será feito o levantamento e análise dos evidenciais e dos modalizadores
epistêmicos e deônticos de acordo com a teoria da Gramática Discursivo-
Funcional (HENGEVELD MACKENZIE, 2008). A opção pela GDF
justifica-se por ser uma teoria que leva em conta o uso real da língua e que
não se restringe a apenas um aspecto da língua, como o pragmático, o
semântico ou o morfossintático. Os resultados obtidos deverão ser
comparados com estudos já realizados sobre o discurso de auto-ajuda
genérica e o discurso científico.

44 - II SELIN
Sessão de Debates

A gramaticalização de então no português paulista:


um estudo pancrônico

Glaucia Andrioli CHIARELLI (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Sanderléia Roberta LONGHIN-THOMAZI (Orientadora)

O objetivo desta pesquisa é investigar a multifuncionalidade do


item então em textos das formas de enunciação falada e escrita,
representativos do português paulista, tomando como ponto de partida a
instabilidade inerente ao item, o que indicia, entre outras coisas, mudança
linguística. Descrevemos os padrões funcionais de então com base na (i)
teoria da Gramaticalização (HEINE et al. 1991; HOPPER e TRAUGOTT,
2003; HEINE e KUTEVA, 2007), que estuda o processo pelo qual formas
lexicais ou menos gramaticais passam, gradualmente, a assumir funções
mais gramaticais e nos (ii) modelos de junção de Raible (2001) e Halliday
(1985), que buscam tratar das correlações entre os aspectos relativos à
arquitetura sintática e às relações semântico-discursivas estabelecidas por
juntores de uma língua. Nosso trabalho, dessa forma, focaliza a descrição
dos padrões funcionais do item, considerando aspectos semânticos e
sintáticos e, a partir dessa descrição, buscamos discutir o grau de
gramaticalidade dos padrões mapeados, bem como verificar uma possível
reconstrução diacrônica entre os usos encontrados. Para a descrição dos
diversos usos de então em dados de fala, utilizamos o banco de dados
IBORUNA, composto pela gravação de 152 informantes da região de São
José do Rio Preto, sendo selecionadas 20 gravações das Amostras Censo.
Para a descrição dos dados de escrita, contamos com amostras variadas
dos séculos XIX, XX e XXI, compostas de textos da Tradição Discursiva
carta, sendo selecionadas cartas pessoais e cartas de leitores e redatores de
jornais e revistas. Quanto à metodologia, buscamos conjugar as abordagens
quantitativa e qualitativa, subsidiadas pelo critério “frequência”, que será
contada por meio de dois métodos relevantes: a frequência token, que diz
respeito à frequência de ocorrência de um item independentemente do
significado e a frequência type, que se refere à frequência com que um
padrão particular ocorre (HEINE et al, 1991 e BYBEE, 2003).

II SELIN - 45
Sessão de Debates

“Noção” e produção de textos: o ensino de Língua


Portuguesa

Jacqueline JORENTE (UNESP/FCLAr)


Letícia Marcondes REZENDE (Orientadora)

Nossa pesquisa de doutorado analisa produções de textos, a fim de


levantar reflexões voltadas ao ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa.
O foco de nossa atenção é especificamente a questão lexical, que é observada
nesses textos a fim de discutir a idéia de que são relações léxico-gramatical-
discursivas que estão envolvidas na produção de significação. Dentro de
uma perspectiva tradicional, o léxico é tomado muitas vezes de forma
descontextualizada. A observação de alguns exercícios de Língua
Portuguesa, encontrados em livros didáticos, mostrou-nos atividades que
trabalham com um preestabelecimento de significação, desconsiderando
as relações que se dão no texto. Adotando o conceito de “noção”,
apresentado pelo lingüista francês Antoine Culioli, nossa pesquisa busca
olhar para um momento anterior a estabilizações, que permite uma outra
abordagem da questão lexical. Ela não é então tomada de maneira
descontextualizada, mas o que passa a interessar são as relações
estabelecidas a cada enunciação. Buscando observar essas relações é que
nossas análises concentram-se em produções textuais de estudantes.
Apresentaremos neste fórum de debates parte do trabalho já desenvolvido
por nós. As etapas iniciais, já cumpridas em nossa pesquisa, dizem respeito
a uma seleção e organização dessas produções textuais que analisamos e à
construção do quadro teórico e metodológico do trabalho. A partir do quadro
teórico-metodológico construído e da seleção e organização do corpus de
análise, as questões levantadas pela pesquisa podem ser analisadas e
discutidas.

46 - II SELIN
Sessão de Debates

As formas de vida do homem na atualidade

Juliana Spirlandeli BATISTA (UNESP/FCLAr)


Edna Maria Fernandes dos Santos NASCIMENTO (Orientadora)

O objetivo da presente pesquisa é verificar como as diferentes


formas de vida do homem são caracterizadas nas diferentes peças
publicitárias contidas em revistas dirigidas essencialmente ao público
masculino, que descrevem objetos-valores deste referido público, revelam
o espaço em que circulam, bem como o tempo em que se passam suas
ações e as emoções que experimentam. Dessa maneira, o discurso
publicitário leva à identificação de algumas figuras típicas do homem
moderno, conforme tipologia proposta por Landowski (2002, p.39) que se
caracterizam como o homem do mundo, por seu senso de adequação, o
esnobe, que apenas tem por aspiração juntar-se à elite social, o dândi, que
é disposto a tudo para se disjuntar da sociedade, do camaleão, cuja habilidade
consiste em se fazer passar por alguém que já pertence ao mesmo mundo e,
enfim, o urso, que é caracterizado essencialmente pela sua solidão, loucura
ou genialidade e que, não se desvia de sua trajetória, uma vez traçado seu
caminho. Partindo do pressuposto da teoria semiótica greimasiana de que
o texto constrói seu enunciatário, será possível averiguar, da mesma maneira,
como a partir da figurativização do homem, nas publicidades, pode-se chegar
às formas de vida do homem na atualidade e, da mesma forma, investigar
as manifestações linguísticas presentes no discurso publicitário de cada
uma delas, bem como observar o modo pelo qual essas formas de vida
moldam o comportamento do homem atual. Para isso, a metodologia de
pesquisa terá como suporte a teoria semiótica francesa, principalmente os
estudos de A. J. Greimas e seus discípulos.

II SELIN - 47
Sessão de Debates

Uma abordagem do uso de preposições: latim


medieval e português paulista moderno

Kelly Cristina TANNIHÃO (UNESP/FCLAr – Bolsista FAPESP)


Rosane de Andrade BERLINCK (Orientadora)

Partindo da concepção de que as línguas não constituem realidades


estáticas, a presente pesquisa trabalha com duas sincronias lingüísticas,
enfocando a questão das mudanças morfológico-sintático-semânticas
sofridas pelo sistema das preposições, traçando semelhanças e diferenças
entre essas variedades lingüísticas. A primeira sincronia é um estágio do
processo de evolução do sistema latino. Para isso, é utilizada a coleção de
documentos e textos medievais intitulada Portugaliae Monumenta
Histórica, cujos documentos datam do século IX ao século XIII. A coleção
consta de quatro partes, das quais trabalha-se com uma amostragem do
primeiro volume da parte intitulada Leges et Consuetudines, material que
se constitui de anotações notariais de cessão e de administração de terras.
Para a outra sincronia, trabalha-se com um corpus de redações escritas por
estudantes que estejam concluindo ou que tenham concluído o ensino médio
na rede paulista de ensino, especificamente nas cidades de Ribeirão Preto,
Rio Claro e Itirapina. Com este trabalho pretende-se: (i) fazer um estudo
focando o uso de preposições no sistema latino; (ii) analisar o português
brasileiro moderno, considerando o comportamento das preposições, dando
ênfase à questão do apagamento delas em determinadas funções; e, (iii)
relacionar as informações obtidas nas duas análises anteriores, com o intuito
de construir um quadro de convergências e divergências no emprego do
sistema prepositivo. Toma-se por base uma abordagem funcionalista dos
estudos lingüísticos e a Teoria da Variação e Mudança Lingüísticas
(Weinreich, Labov, Herzog, 1968) fornece a fundamentação para o
tratamento do fenômeno como manifestação do caráter dinâmico da língua.
Dessa forma, a pesquisa tem caráter histórico e é constituída por uma fase
de reconhecimento, exploratória e seletiva das ocorrências prepositivas,
depois por uma análise reflexivo-crítica, seguida de um trabalho
interpretativo-explicativo das questões abordadas.

48 - II SELIN
Sessão de Debates

Processos fonológicos de motivação estilística


presentes nas Cantigas de Santa Maria

Lívia Monteiro de Queiroz MIGLIORINI (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O presente trabalho tem como objetivo principal fazer um


mapeamento dos processos fonológicos de motivação estilística presentes
nas primeiras 100 Cantigas de Santa Maria (CSM), compostas pelo rei
Afonso X de Castela. Esta análise está inserida no âmbito do projeto de
doutorado “Aspectos fonoestilísticos das Cantigas de Santa Maria”, cujo
principal objetivo é a análise dos processos estilísticos presentes nessas
cantigas, e a verificação dos possíveis condicionamentos lingüísticos
envolvidos na sua realização. A análise será delineada a partir da
investigação da obrigatoriedade/não-obrigatoriedade da ocorrência desses
processos. Estará em foco também a ocorrência/não-ocorrência excepcional
de processos considerados obrigatórios. Como, por exemplo, o caso da
realização da elisão em “vyu a pedr’ entornada” (CSM 1-44), caracteriza
um processo não esperado, visto que a regra não deveria ser aplicada neste
contexto (MASSINI-CAGLIARI, 2005). Dentro desta mesma perspectiva,
serão analisados também os casos de epêntese, paragoge, hiato, apagamento
vocálico, deslocamento de acento, entre outros. Enfim, trata-se de verificar
se, para suprir necessidades artísticas, o trovador “inventa” ou não um
dialeto “literário”, usado apenas em contextos específicos e restritos. Desta
forma, compara-se a aplicação padrão dos processos fonológicos
investigados, que remete ao sistema da própria língua, aos usos estilísticos,
que se baseiam em usos muitas vezes inesperados, que vão contra o sistema
estabelecido. O uso estilístico, portanto, é desviante e, enquanto tal, deve
receber uma representação que se baseie na noção de “desvio”, ou, em
outras palavras, “diferente” do “padrão”.

II SELIN - 49
Sessão de Debates

Indícios sobre a construção de coda silábica simples


por alfabetizandos da Educação de Jovens e Adultos
(EJA) em processo de aquisição do enunciado escrito

Luana PASSOS (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Luciani Ester Tenani (Orientadora)

Nessa sessão de debates, propomos a reflexão a respeito da


aquisição da escrita por alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a
partir do registro de elementos consonantais na posição de coda silábica
simples, discutindo, particularmente, a não-convenção ortográfica do
registro nessa posição da sílaba. Analisaremos aqueles registros que alteram
a estrutura da sílaba alvo de nosso estudo, quais sejam: o não registro da
coda e o registro não-convencional da coda, abrangendo casos de troca
entre consoantes, entre consoante e vogal, metátese e inserção de letras.
Partimos da concepção da sílaba fundamentada na teoria métrica da sílaba
(SELKIRK, 1982), como também nas análises da sílaba propostas por Bisol
(1999). Segundo essa visão, a sílaba é constituída de uma organização
hierárquica interna tendo o núcleo como seu elemento essencial, além de
dois outros constituintes principais: o ataque e a coda. No que diz respeito
à coda simples, isto é, com apenas um elemento, segundo Bisol (1999), há
restrições para o seu preenchimento: qualquer soante /R/, /l/, /N/, /j/, e /w/
e pela fricativa coronal /S/. Para realizar a pesquisa, foram utilizados dados
de escrita dos alfabetizandos da EJA do Termo II de escolarização, o que
corresponde aos terceiro e quarto anos do Ensino Fundamental. Realizamos
a coleta da escrita de palavras contendo a estrutura silábica de coda simples
preenchida por /l/, /N/, /R/ e /S/. Foram realizados dois bingos de palavras,
duas listas de imagens, cujas propostas eram escrever os nomes dos objetos
e uma lista de frutas. Em linhas gerais, nos nossos resultados, encontramos
(i) para o não-registro da coda a ordem: /N/(15,5%) >, /R/ (14,05%) >, /S/
(14%) > e /l/(12%); (ii) para o registro não-convencional da coda a ordem:
/l/(31%) >, /N/(11%) >, /R/(4,77%) > e /S/(4%).

50 - II SELIN
Sessão de Debates

Diacronia dos processos constitutivos do texto


relativos a assim: um novo enfoque da
gramaticalização

Lúcia Regiane LOPES-DAMASIO (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Sanderléia Roberta LONGHIN-THOMAZI (Orientadora)

Partindo de um enfoque teórico geral baseado na concepção


Coseriana (1975) de sincronia, diacronia, história e mudança lingüística,
em direção a um específico sobre um tipo de mudança que faz emergir
itens/construções gramaticais de itens/construções lexicais ou menos
gramaticais, via processo de gramaticalização (TRAUGOTT, 1995;
TRAUGOTT e KÖNIG, 1991), conjugado aos pressupostos analíticos da
perspectiva textual-interativa, assentada numa concepção pragmática de
linguagem e texto (JUBRAN, 2006), e numa orientação teórico-
metodológica fundamentada no conceito de diacronia não-ideal e,
consequentemente, no de Tradição Discursiva (TD), entendida como a
repetição de um texto ou de uma maneira particular de escrever/falar, com
valor de signo próprio (KABATEK, 2008), esta pesquisa, vinculada ao
“Projeto para História do Português Paulista”, propõe analisar assim e suas
formas correlatas: assim como, mesmo assim e assim que no que tange: (i)
ao seu funcionamento tópico geral, especificamente com enfoque semântico-
formal e nos processos de junção instaurados; e (ii) aos processos de
repetição, correção, paráfrase e parêntese, em diferentes TDs a fim de
destacar a relação entre o funcionamento desse item, nesses processos
textual-interativos, e o de seus demais usos. Os corpora desta pesquisa
constituem-se por textos de TDs, medialmente faladas e escritas: (i) no
recorte diacrônico: cartas e editoriais jornalísticos dos séculos XVIII, XIX
e XX; e (ii) no sincrônico: e-mails e dados de fala (IBORUNA). Objetiva-
se identificar: o comportamento de assim e seus correlatos na organização
tópica do texto e nos seus processos constitutivos; e se as funções textual-
interativas relacionadas diversificam-se no período e/ou são relevantes para
o desenvolvimento funcional do item. Estes objetivos visam à análise, nos
contextos de cada TD e de comparação entre as TDs, da estabilidade ou
mudança relacionadas ao item e aos seus correlatos, ou seja, da alteração,
permanência ou exclusão dos seus traços discursivo-semântico-gramaticais,
de acordo com os pressupostos da GR.

II SELIN - 51
Sessão de Debates

Teletandem e formação continuada de professores


vinculados à rede pública de ensino do interior
paulista: um estudo de caso

Ludmila Belotti Andreu FUNO (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


João Antônio TELLES (Orientador)

O presente trabalho é um estudo de caso de natureza qualitativa


vinculado ao projeto Teletandem Brasil, mais especificamente às ações
previstas para a terceira fase de implementação desse projeto (TELLES,
2006, p. 38), e tem como objetivo interpretar dados coletados a partir de
um curso de formação em serviço em que professores de espanhol/ LE,
vinculados à rede pública de ensino do interior paulista (SEE-SP), tiveram
contato com a prática de teletandem juntamente com pares interagentes
uruguaios, que em seu país atuam como professores de português/ LE. É
uma pesquisa em andamento e a proposta é tecer algumas interpretações
sobre os dados cedidos por esses colaboradores brasileiros, em que seja
possível colher evidências das representações sociais (MOSCOVICCI,
2007) desses docentes acerca do teletandem, da tecnologia que subsidia a
prática do teletandem, e da maneira como esses professores pensam ser
possível a inserção do teletandem em seu contexto de trabalho, para seus
alunos.

52 - II SELIN
Sessão de Debates

Estudo das fricativas coronais da Língua


Portuguesa: da fonética à ortografia e da ortografia à
fonética

Luciana Mercês RIBEIRO (UNESP/FCLAr – Bolsista FAPESP)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

O presente trabalho objetiva estudar as fricativas coronais da Língua


Portuguesa e sua relação com a ortografia. O estudo envolve historicamente
fricativas coronais e palatais. Os grafemas <s>, <z>, <ss>, <c>, <ç>, <sc>,
<xc> representam fricativas coronais. Os grafemas <x>, <ch> representam
fricativas palatais. Investiga-se a proveniência desses sons fricativos no
português e como eles têm sido descritos, representados e estudados nas
gramáticas, ortografias, tratados de ortografia e trabalhos mais antigos. Os
trabalhos dos estudiosos dos dialetos portugueses, de filólogos e demais
pesquisadores da Língua Portuguesa também são utilizados, bem como
trabalhos recentes dos autores: Nina Catach (1996), Luiz Carlos Cagliari
(2004), entre outros, no que concerne à teoria da ortografia. A presente
pesquisa dispõe de gravações feitas recentemente com falantes da Região
Norte de Portugal. Alguns dados dessas gravações têm uma análise acústica
processada através do programa PRAAT com o objetivo de ilustrar
realizações atuais de determinados sons fricativos e compará-los com as
análises históricas. A relação entre as diferentes realizações das fricativas
coronais e sua representação ortográfica ajuda a entender certos problemas
ortográficos atuais e porque surgiram determinados critérios para a fixação
das letras nas palavras. Esse estudo também ajuda a conhecer melhor a
realização de certos sons mais antigos da língua porque a ortografia se
apoiou neles (tendo sido feitas várias descrições da realização desses sons)
para estabelecer padrões na escrita. A partir do presente estudo, pretende-
se contribuir para um melhor conhecimento da história das fricativas,
principalmente das coronais, bem como para um melhor conhecimento de
como esses sons foram representados na escrita e as consequências das
decisões ortográficas na representação deles. Este estudo busca também
ser útil à elucidação de alguns fatos do passado linguístico do português
que podem contribuir para esclarecer fatos da sua estrutura atual.

II SELIN - 53
Sessão de Debates

Contextos discursivos nos deslizamentos


hesitativos de sujeitos parkinsonianos e não-
parkinsonianos

Maira CAMILLO (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Lourenço Chacon JURADO FILHO (Orientador)

A proposta deste estudo é investigar em que medida se aproximam


e/ou se distanciam os momentos de quebra na amarração dos significantes
na atividade enunciativo-discursiva de sujeitos com Doença de Parkinson
e de sujeitos sem lesão neurológica. Para tanto, analisamos dados de sessões
de conversação de três sujeitos parkinsonianos e de três sujeitos sem lesão
neurológica. De posse do material, selecionamos as marcas correspondentes
aos momentos de quebras na amarração dos significantes mostradas em
situações típicas de deslizamentos do tópico discursivo e deslizamentos
para contextualização. Selecionadas essas ocorrências, marcadas no fio do
discurso por hesitações e pausas, estamos agrupando-as em função dos
seguintes objetivos: (a) identificar os contextos discursivos em que
preferencialmente ocorrem deslizamento do tópico discursivo e
deslizamento para contextualização; (b) observar de que modo(s), no
discurso de ambos, se estabelecem relações entre os elementos de seus
enunciados que circundam essas rupturas; e (c) verificar em que medida as
limitações de natureza cognitiva ou motora impostas pela Doença de
Parkinson interferem numa possível disparidade numérica a ser encontrada.
Estamos realizando uma análise descritiva e explicativa dos dados, baseada
em estudos da Análise do Discurso de orientação francesa, já que os
marcadores das quebras dos significantes são concebidos como uma forma
de heterogeneidade mostrada, na medida em que constituem pontos em
que, sob as palavras, outras palavras são ditas. Até onde nossa pesquisa
avançou, observamos que, na superfície discursiva de ambos os sujeitos,
ocorreram quebras na amarração dos significantes. No entanto, encontramos
diferenças nas relações estabelecidas entre os elementos que circundam
esses deslizamentos do dizer, já que, nos enunciados dos sujeitos
parkinsonianos, estamos verificando maior ocorrência do tipo deslizamento
do tópico discursivo em comparação com os dos sujeitos não-
parkinsonianos.

54 - II SELIN
Sessão de Debates

Interface semântica lexical – lexicografia: glossário


do amor e do sexo em Sex and the City

Maira Coutinho FERREIRA (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Bento Carlos DIAS-DA-SILVA (Orientador)

Os objetivos deste trabalho são a composição de um campo léxico-


semântico do sexo e do amor da língua inglesa, e a elaboração de um
glossário em formato de hipertexto que registre as construções que compõem
esse campo. O campo léxico-semântico é composto pelas construções
relacionadas aos conceitos amor e sexo, extraídas do corpus composto pelas
legendas em inglês do primeiro e do último episódio de cada uma das 6
temporadas da série Sex and the City. Construções são as unidades básicas
da língua, são correspondências entre forma e significado, e seu significado
e/ou sua forma não derivam, não são previsíveis a partir de suas partes
componentes (GOLDBERG, 1995). As construções inventariadas são
agrupadas em sub-campos de acordo com as relações de conteúdo mais
específicas e a semelhança e/ou co-ocorrência de elementos contextuais
entre elas. O glossário, por sua vez, reflete e registra essa organização
semântico-lexical: nele, os verbetes são organizados em seções que
correspondem aos sub-campos léxico-semânticos, para que o usuário
conheça as situações em que cada construção é utilizada. Cada verbete terá
uma definição em português para a construção, e as construções presentes
nas abonações que constituam outros verbetes serão links para tais verbetes,
criando um formato de hipertexto que permita a consulta não-linear do
glossário.

II SELIN - 55
Sessão de Debates

Sentidos da entoação: um estudo comparativo

Maira Sueco Maegava CORDULA (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora);
Luiz Carlos CAGLIARI (co-orientador)

O presente trabalho tem como objetivo analisar modelos de variação


melódica da fala e os sentidos semânticos e pragmáticos por eles carreados
a partir de dados em dois sistemas lingüísticos. Vale lembrar que os
elementos prosódicos são primordiais na construção de sentidos no texto
falado sendo que também figuram entre um dos elementos mais difíceis no
aprendizado de uma língua estrangeira. Assim, elegeu-se como corpus dessa
pesquisa um trecho de um filme animado (Shrek, 2001) em sua versão
original em inglês norte-americano e dublada em português brasileiro. A
análise dos padrões entoacionais inicia-se com a análise acústica dos dados
com o auxílio do software de apoio a lingüistas Praat (v. 5.1.07) em que se
destaca a observação da altura melódica, da intensidade e da duração dos
enunciados. Em seguida, propõe-se uma análise lingüística dos padrões
entoacionais segundo os pressupostos teóricos de Halliday (1970) e dos
modelos de descrição do inglês de Halliday (1970) e do português de
Cagliari (2007), cujos elementos fundamentais de notação são os grupos
tonais, tons, tonalidade e tonacidade. Finalmente, procede-se à análise
comparativa dos dados acústicos e lingüísticos com o intuito de notar as
semelhanças e diferenças de escolhas dos padrões entoacionais de
enunciados para o mesmo contexto em línguas diferentes.

56 - II SELIN
Sessão de Debates

Estudo acústico da pronúncia e percepção de pares


mínimos vocálicos da Língua Inglesa por alunos de
nível intermediário e avançado

Maisa Jussara MARTINS (UNESP/FCLAr)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

O presente trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado e traz os


resultados parciais obtidos por meio da análise acústica de alguns pares
mínimos vocálicos da Língua Inglesa, produzidos por aprendizes da língua,
falantes de português brasileiro. Considerando as características de produção
desses fonemas em cada sujeito, foi possível observar as características
acústico-articulatórias de cada som analisado. Ademais, foi observado se
os informantes envolvidos na pesquisa foram capazes de notar e reproduzir
esses fonemas adequadamente. Ao final, a freqüência de tal processo
possibilitou verificar se os sujeitos brasileiros perceberam a distinção dos
fonemas ou se produziram um único som. De acordo com Kent & Read
(1992), os segmentos vocálicos são caracterizados, em termos acústicos,
por meio da freqüência de seus formantes, sendo este um parâmetro
determinante para a distinção desse tipo de som. Tendo isso em vista,
realizou-se a medição da freqüência dos formantes F1 e F2 das vogais
produzidas pelos informantes deste estudo. Assim, com o uso do programa
de computador Praat (versão 5.1.08), foi possível obter e analisar os dados
de fala dos sujeitos investigados. Espera-se que o desenvolvimento e os
resultados deste trabalho incitem a reflexão sobre a importância de se avaliar
a competência oral dos aprendizes sob uma perspectiva fonético-acústica,
fato que certamente contribuirá para a solução de problemas referentes ao
ensino-aprendizagem de pronúncia em Língua Inglesa.

II SELIN - 57
Sessão de Debates

A produção e percepção de alguns fonemas da


língua inglesa por alunos de um curso de Letras

Marcela Ortiz Pagoto de SOUZA (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a produção e a percepção


de alguns fonemas da língua inglesa (variedade americana), que se
diferenciam ou são ausentes no português brasileiro (PB). Os fonemas
selecionados para serem base deste estudo foram as vogais e as consoantes
fricativas e líquidas, que freqüentemente causam dificuldades na
aprendizagem da LE (língua estrangeira). Também almejamos observar a
contribuição da fonética acústica para o ensino/aprendizagem da pronúncia
de uma LE. Para tanto, a coleta de dados foi realizada com alunas do quarto
ano do curso de Licenciatura em Letras (Inglês / Português), todas falantes
nativas de português brasileiro (PB), a partir de testes de produção e
percepção. Os dados foram gravados em um microcomputador com
dispositivos de análise de fala e estão sendo analisados com o auxílio do
programa PRAAT (Doing Phonetics by Computer, version 4.0.51). No que
diz respeito à produção e percepção, nossa intenção é observar como
determinados fonemas da língua inglesa são produzidos e percebidos por
tais alunos, futuros professores de inglês como Língua Estrangeira (ILE),
verificando, desta maneira, sua proficiência / acuidade lingüística e fazer
um estudo sobre a pronúncia e a compreensão de alunas que estão deixando
o curso de graduação. Finalizando, esclarecemos que a coleta e a análise
dos dados se restringirão ao nível segmental da língua para tentarmos
identificar qual é a importância de se analisar acusticamente os segmentos
da LI para a aquisição da pronúncia, uma vez que acreditamos que a
produção e a percepção de sons isolados são de extrema importância e
eficácia ao aprendizado de uma Língua Estrangeira.

58 - II SELIN
Sessão de Debates

Contribuições ao estudo da ambiguidade da


linguagem sob a ótica enunciativa

Marcos Luiz CUMPRI (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Letícia Marcondes REZENDE (Orientadora)

Este trabalho tem em seu bojo a intenção de contribuir ao estudo


da ambiguidade da linguagem, a qual consideramos ser fundamental e
constituinte. Na ponta da esteira que nos dá suporte teórico-metodológico
temos o postulado do linguista Antoine Culioli. Resumidamente, a teoria
de Culioli - Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE) -
prioriza a procura da linguagem nas línguas (nos dados linguísticos) ao
buscar as invariantes processuais responsáveis pela variação ao invés de
uma categorização gramatical. Iniciativa que o leva a não dividir o estudo
da língua em abordagens fonéticas, semânticas, morfologias, etc., por crer
que tais divisões não trazem uma visão do todo da linguagem. A tarefa de
traçarmos um esboço da ambiguidade da linguagem nos condiciona a
considerarmos os tipos de relações que há entre a ambiguidade e o sujeito
enunciador durante a construção dos sentidos e a construirmos um sistema
de representação que suporte a generalização no qual o significado e a
sintaxe são inseparáveis a fim de que se observem valores semântico-
discursivos veiculados por marcas de diferentes ordens (entoacional, lexical,
morfológica, etc.) geradas na relação léxico-gramatical. Assim, nosso
objetivo é mostrar que falar sobre a ambiguidade é trazer à tona o cenário
sociopsicológico responsável pela atribuição de infinitos valores à
enunciação. Mesmo porque, cada ato enunciativo é a construção ímpar de
um espaço orientado e determinado, o qual estabiliza os valores referenciais.
Dessa forma, consideramos que é a ambiguidade da linguagem a
proliferadora desse jogo incessante e magnífico de significações. Esse jogo
fundador da comunicação.

II SELIN - 59
Sessão de Debates

O léxico político-ideológico do primeiro jornal


impresso em língua portuguesa – século XVIII

Mariana Giacomini BOTTA (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES /


Colégio Doutoral Franco-Brasileiro)
Clotilde de Almeida Azevedo MURAKAWA (Orientadora)

A tese que está em desenvolvimento propõe a análise do conteúdo


político-ideológico presente no vocabulário usado nos textos do primeiro
jornal impresso em língua portuguesa, a “Gazeta de Lisboa”, criado no
século XVIII. Nesta época, a Europa passava por uma agitada fase política,
marcada por guerras, disputas de territórios, alianças e assinaturas de
tratados, que deram início à divisão do continente da maneira mais próxima
a que se conhece hoje, à atividade industrial e ao surgimento das repúblicas.
Noventa edições da “Gazeta de Lisboa”, que vão de 1715 a 1810, compõem
o corpus que serve de base para a análise lexicológica proposta que, por se
pautar na noção de ideologia, pretende aliar aos estudos do léxico uma
perspectiva discursiva. Considera-se que é a ideologia que determina as
tomadas de decisão, linguísticas ou não, do enunciador. A seleção das
unidades a serem estudadas foi realizada por meio de análises quantitativas
e qualitativas, por se entender que esta dupla abordagem já se mostra
frutífera em recentes pesquisas de Análise do Discurso, como mostram os
trabalhos de lexicologia política de M. Tournier (1996), D. Mayaffre (2004)
e de M. Veniard (2007). Por meio das análises quantitativas (programa
Léxico 3), foi possível comprovar que as unidades mais frequentes no corpus
são relacionadas à corte/reino, à sua administração e à política externa e
militar. A seleção das unidades também leva em consideração o contexto
em que as mesmas estão inseridas e a presença de traços subjetivos e/ou
emotivos. Desta forma, o trabalho de análise parte de dois conceitos
principais e opostos: guerra e paz. Um segundo objetivo proposto é a
confecção de um glossário com as unidades lexicais mais utilizadas na
disseminação das notícias e ideias políticas do século XVIII.

60 - II SELIN
Sessão de Debates

As ambiguidades linguísticas na tradução


automática: aplicação de conhecimento linguístico
na resolução de problemas

Maria Paula Fiorim PIRUZELLI (UNESP/FCLAr – Bolsista FAPESP)


Bento Carlos DIAS-DA-SILVA (Orientador)

A tradução automática (TA) se caracteriza pelo uso de computadores


no processo de tradução de frases e textos entre línguas naturais, podendo
ser realizada com ou sem assistência humana. Os desafios para alcançar
uma TA de qualidade foram percebidos logo no início das pesquisas e grande
parte deles pode ser atribuída à dificuldade em se modelar o comportamento
linguístico humano. Um dos problemas mais recorrentes e que apresenta
difícil equacionamento é a manifestação do fenômeno das ambiguidades
linguísticas. Dentro desse contexto, e trabalhando nos domínios linguístico
e linguístico-computacional, esta pesquisa de mestrado tem por objetivo
descrever, dos pontos de vista léxico-gramatical e semântico-conceitual,
os diferentes tipos de ambiguidades linguísticas no processo de TA de textos
do inglês para o português e propor heurísticas para resolver ou minimizar
os efeitos da manifestação desse fenômeno. Iniciada no primeiro semestre
de 2009, a pesquisa possibilitou uma primeira sistematização teórica nos
seguintes tipos de ambiguidade: (a) ambiguidades de origem lexical,
decorrentes da homonímia/polissemia ou da classificação categorial
múltipla; (b) ambiguidade de origem estrutural da extensão da frase (global)
ou de constituintes (local), decorrentes das diferentes possibilidades
configuracionais como, por exemplo, a possibilidade de fixação múltipla
de constituintes na estrutura sintática da frase ou de seus constituintes, a
possibilidade de reposicionamento múltiplo de constituintes deslocados e
a possibilidade de classificação sintática incerta ou múltipla de constituintes
da frase; e (c) as de origem semântico-pragmática, decorrentes das diferentes
possibilidades de especificação de antecedentes, de referentes ou de
interpretação contextual. Do ponto de vista empírico, realizaram-se uma
coleta preliminar de TAs de ocorrências de frases do corpus e suas
respectivas análises. As investigações futuras incluirão: (i) intensificação
da seleção de ocorrências de frases para exemplificar os diferentes tipos de
ambiguidade sob estudo, (ii) descrição e análise das ocorrências em termos
dos tipos e (iii) proposição das heurísticas para a resolução dos tipos de
ambiguidade estudados com base nas propostas apontadas na literatura
estudada.
II SELIN - 61
Sessão de Debates

A variante paulista do kaingang na aldeia Icatu:


descrição funcional sobre aspectos semânticos e
morfossintáticos

Maria Sueli Ribeiro da SILVA (UNESP/IBILCE – Bolsista CNPq)


Erotilde Goreti PEZZATTI (Orientadora)

A língua kaingang pertence à família linguística Jê e abrange os


Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e o interior de São
Paulo. A aldeia Icatu é a primeira aldeia kaingang do Oeste Paulista, sendo
atualmente habitada por índios kaingang e terena. Nela, o kaingang é hoje
transmitido por duas falantes mais velhas e pelos professores da Escola
Indígena da Aldeia que, em cumprimento à Política Nacional de Educação
Escolar Indígena (1993), surgiu para preservar tradições culturais, sociais
e língua nativa. Na escola de Icatu, as crianças são alfabetizadas em língua
portuguesa, mas também aprendem a língua-mãe de sua etnia. Assim, esta
pesquisa trata da descrição da variante paulista do kaingang, visando,
juntamente com professores kaingang de Icatu e uma das falantes mais
velhas, a compreender qual o funcionamento e uso desta na atualidade, a
fim de contribuir com o processo de conscientização e reavivamento
linguístico-cultural nessa comunidade. Como nosso intuito é verificar a
língua em uso, tomamos como base teórica a Gramática Discursivo-
Funcional, de Hengeveld e Mackenzie (2008), que considera o discurso
como um processo de interação comunicativa ou como um produto desse
processo, descrevendo e explicando o que venha a ser uma língua natural,
de forma pragmática e psicologicamente adequada, ou seja, em seu contexto
de interação verbal, esclarecendo usos e propósitos comunicativos. Para
compreender e descrever o kaingang de Icatu, coletamos em campo,
sentenças e textos elaborados pelos professores kaingang e uma das falantes
mais velhas. Por meio de glosas, analisamos os componentes semânticos e
morfossintáticos dessa variante. Pretendemos, assim, mostrar como esses
falantes se servem da variante paulista do kaingang em seu contexto
comunicativo e sociointeracional, transmitindo e perpetuando seu uso entre
os descendentes.

62 - II SELIN
Sessão de Debates

As grafias das vogais pretônicas: registros da


inserção dos escreventes em práticas orais e
letradas

Marilia Costa REIS (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Luciani Ester TENANI (Orientadora)

Nesta apresentação, mostraremos que as grafias não-convencionais


referentes à escrita de <e, i, o, u>, na sílaba pretônica, podem dar indícios
da inserção dos sujeitos escreventes em práticas de oralidade e de
letramento. As grafias analisadas foram escritas por estudantes de quinta-
série, de uma escola estadual do interior paulista. Na modalidade falada
por esses escreventes, certas palavras com ortografia em <e, i> e <o, u>,
podem ser realizadas foneticamente como [e ~ i] e [o ~ u], respectivamente,
de modo que <e> poderá representar tanto [e], quanto [i] da fala, do mesmo
modo como <o> poderá representar [o] ou [u]. Por outro lado, [i] poderá
ser representado tanto por <e>, quanto por <i>, na escrita, do mesmo modo
como [u] poderá ser representado por <o> ou por <u>. Esta correspondência
não-biunívoca entre grafemas e fonemas, com relação às vogais, poderá
levar o escrevente a ter dúvidas na escrita de palavras com os grafemas
citados, resultando nos chamados erros ortográficos. Apresentaremos uma
análise detalhada desses erros, em seus aspectos estruturais e enunciativos,
levantando indícios das diferentes informações consideradas pelos
escreventes ao formularem suas hipóteses quanto à grafia para as palavras.
Para tanto, partimos de uma perspectiva teórica que não considera a escrita
em oposição à fala, mas que, como produto da enunciação (assim como a
fala), é constituída pelo encontro entre práticas sociais de oralidade e de
letramento. Partindo desta concepção, entendemos os erros ortográficos
como pontos de observação da relação que os sujeitos estabelecem com a
linguagem, particularmente com a fonologia da língua, bem como de
materialização dos imaginários sobre a escrita, que são construídos no
interior das práticas sociais orais e letradas em que estão inseridos esses
sujeitos.

II SELIN - 63
Sessão de Debates

Para uma gramática da produção: análise da marca


“mesmo” sob a ótica da Teoria das Operações
Predicativas e Enunciativas

Milenne BIASOTTO-HOLMO (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Letícia Marcondes REZENDE (Orientadora)

Os estudos gramaticais limitam-se, muitas vezes, a repetir


classificações, e as análises são feitas olhando-se separadamente as partes
que compõem o enunciado. Os fenômenos gramaticais são abordados de
forma estática, tendo como objeto de análise o enunciado já estabilizado.
Neste trabalho, consideramos os mecanismos geradores do enunciado, isto
é, acreditamos na necessidade de se analisar o produto lingüístico não de
modo superficial, mas buscando a gênese dos enunciados, os mecanismos
gerais de construção da significação. Isso remete à construção de uma
gramática da produção, que leva em conta não somente a manifestação
linguística, mas também a linguagem, em detrimento de uma gramática do
produto linguístico. Quando as abordagens que descrevem estados de língua
em termos de categorizações atribuem rótulos às marcas lingüísticas, de
modo que elas sejam relacionadas a categorias, o foco de suas análises
recai sobre as categorias e não sobre as marcas analisadas, e assim, não
explicam como e porque determinada marca pertence a uma categoria e
não a outra, ou ainda a extrema mobilidade com que ela se desloca de uma
categoria para outra e as causas dessa variação. É o caso da marca “mesmo”,
que transita em várias classes gramaticais: adjetivo, substantivo, advérbio,
marcador do discurso, etc. O valor gramatical atribuído a uma expressão
linguística não é estável e não se encaixa em uma classificação, mas resulta
de uma articulação entre um mecanismo invariante e as experiências
diversificadas dos sujeitos. Assim, uma expressão não traz em si um
conteúdo inerente, mas é de natureza variável, maleável, e se define pela
função que adquire nas interações das quais participa. Pretendemos buscar
a identidade semântica que se encontra em funcionamento nos empregos
da marca “mesmo”, com a finalidade de recuperar as operações que
sustentam os enunciados por meio das marcas deixadas pelos enunciadores
no momento da enunciação, e chegar, assim, a um entendimento dos
processos envolvidos na utilização dessa marca.

64 - II SELIN
Sessão de Debates

A gramaticalização de “depois”

Moema Guiduce NOGUEIRA (UNESP/IBILCE)


Sebastião Carlos Leite GONÇALVES (Orientador)

Este trabalho objetiva descrever as acepções de sentido de “depois”


a partir dos princípios teóricos provenientes da Teoria da Gramaticalização
(HEINE et alii, 1991; HOPPER & TRAUGOTT, 1993; 1999; TRAUGOTT
& KÖNIG, 1991; BYBEE et alii, 1994). Por meio do processo de
Gramaticalização, palavras de uma categoria lexical plena (nomes, verbos,
adjetivos) podem passar a fazer parte de uma categoria gramatical
(preposições, advérbios, conjunções, auxiliares etc) e a exercer funções
referentes à organização interna do discurso ou a estratégias comunicativas
(HOPPER & TRAUGOTT, 1993). Neste trabalho, pretende-se, recorrendo
a esse modelo, descrever e explicar os vários usos de “depois”, em especial
seu sentido de conector. Esse item apresenta uma origem como elemento
indicador de noção espacial em latim, passa a expressar a noção temporal
e pode transcender o mundo do espaço e do tempo, passando a domínios
mais abstratos, tornando-se um elemento de função argumentativa. Do ponto
de vista argumentativo, as ocorrências de “depois” indicam um
funcionamento desse item como conector, quando tem valor semelhante a
“além disso”; nesse sentido, ele liga partes do texto, dando-lhes uma
orientação lógica e assumindo a função de adicionar argumentos. Assim, é
possível que o processo de gramaticalização seja responsável pela mudança
de “depois” de advérbio a conector se for levado em consideração que,
após esse processo, esse item se torna mais gramatical na medida em que
passa a funcionar em uma sintaxe textual, monitorando as partes em que o
texto se segmenta e relacionando-as. Dessa forma, os diferentes usos de
“depois” que possuem uma origem espacial/temporal e se explicam, segundo
Heine et al. (1991), por um processo de gramaticalização espaço > (tempo)
> texto, constituem objeto de estudo deste trabalho que propõe mapear na
diacronia a trajetória de gramaticalização desse item, comparando seu
comportamento com dados do português atual.

II SELIN - 65
Sessão de Debates

As estruturas de inversão Sujeito-Verbo e a


Concordância Verbal: um estudo sociolinguístico
sincrônico nos gêneros escritos de imprensa do
Português Brasileiro

Paola Goussain de Souza LIMA (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Odette Gertrudes Luiza Altmann de Souza CAMPOS (Orientadora)

Este trabalho traz o estudo de estruturas de Inversão Sujeito-Verbo


(ISV) e a influência das mesmas no processo de concordância verbal nos
gêneros escritos de imprensa do Português Brasileiro (PB), datados entre
2008 e 2010. Para tanto, selecionamos, como corpus desta pesquisa, os
gêneros Editorial, Carta, Manchete, Coluna e Entrevista – seções que
apresentam traços mais informais e subjetivos de seus usuários/leitores,
dos jornais Folha de São Paulo, Jornal da Tarde e Já e das revistas Istoé
Gente, Época, Malu Mulher e Aparecida, por serem meios de comunicação
de imprensa escrita, direcionados a diferentes leitores e com grande
circulação nacional. A partir de definições sobre o sujeito posposto, fizemos
um levantamento de suas ocorrências nos gêneros escritos de imprensa,
analisamos os dados, levantando, ao final, nossas considerações sobre a
relação posição do sujeito X concordância verbal. Nosso objetivo foi
compreender melhor as ISV na escrita atual do Português Brasileiro, assim
como investigar os processos sintáticos, os contextos de ocorrência e as
restrições envolvidas na concordância verbal destas estruturas. Trazemos a
hipótese de que o Sujeito Posposto, na escrita, assim como ocorre na fala,
desfavoreça a CV, pois, por não se apresentar em posição de tópico e não
condizer com a definição, dada pela Gramática Tradicional, “ser de quem
se diz alguma coisa”, características estas principais para a identificação
do Sujeito em uma oração, o usuário da língua tende a identificá-lo como
sendo outro termo da oração, havendo ou não um termo que ocupe a posição
inicial da oração em seu lugar.

66 - II SELIN
Sessão de Debates

Subjetividade e o processo de input na aquisição da


linguagem da criança

Patrícia de Cuzzo CURY (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

O presente estudo focaliza a fala dos pais (input) dirigida à criança.


Além disso, pretende analisar a aquisição da linguagem da criança, por
meio de uma abordagem discursiva, dialógica e enunciativa, tomando como
base os enunciados dos pais dirigidos à criança (input) e observando os
recursos argumentativos por eles utilizados, por meio dos gêneros do
discurso. Para tanto, serão utilizados os dados de A. (20-33 meses) e de
seus pais, a partir de registros feitos mensalmente (10 registros), em
situações de interação da criança com os pais, em momentos rotineiros
(refeições, banho, brincadeiras). Acreditamos que os pais exercem um papel
fundamental na aquisição da linguagem oral infantil. Dessa forma,
pretendemos estudar a argumentação na fala dos pais (partindo dos ou por
meio dos gêneros do discurso) e observar de que maneira a criança se
apropria desta fala e a utiliza em outras situações, mostrando, assim, uma
maior autonomia linguística. Partindo desses pressupostos, tomaremos como
referência as ideias do Círculo de Bakhtin (1988), que considera a
enunciação fator fundamental para os estudos da interação verbal. Para o
autor, a enunciação é puro produto de interação social, quer se trate de um
ato de fala determinado pela situação imediata quer pelo contexto mais
amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada
comunidade linguística. Bakhtin (1988) acredita que a verdadeira substância
da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas,
nem pela enunciação monológica isolada, mas pelo fenômeno social da
interação verbal, realizada por meio da enunciação.

II SELIN - 67
Sessão de Debates

As grafias não-convencionais da coda silábica nasal


em dados de escrita de jovens e adultos em
processo de alfabetização

Priscila Barbosa Borduqui CAMPOS (UNESP/IBILCE)


Luciani Ester TENANI (Orientadora)

No presente trabalho, analisamos a posição de coda silábica nasal


em relação às diferentes vogais que preenchem o núcleo da sílaba, à
tonicidade e às possibilidades gráficas de seu preenchimento. No que se
refere à estrutura da sílaba, tomamos como base a teoria proposta por Selkirk
(1982), segundo a qual a estrutura interna da sílaba tem uma organização
hierárquica universal que é constituída de um ataque e uma rima, a qual
domina os nós de núcleo e coda. O corpus de pesquisa é constituído de
textos escritos por jovens e adultos em processo de alfabetização de uma
escola municipal da periferia da cidade de São José do Rio Preto. A
metodologia de análise baseia-se em uma análise qualitativa segundo o
paradigma indiciário proposto por Ginzburg, pois acreditamos que, ao
considerar a singularidade dos dados, teremos fortes indícios da inserção
do escrevente tanto em práticas orais quanto em práticas letradas. Para
análise dos dados, consideramos as variáveis: estrutura da sílaba (coda
simples), tipo de segmento (vogal /a/ versus demais vogais), tonicidade
(sílaba tônica versus átona). Os dados foram organizados de acordo com
(i) os tipos de registros da rima e (ii) tipos de não-registros da coda. Os
registros foram classificados como convencionais e não-convencionais.
Quanto aos registros não-convencionais, organizamos uma categorização
de acordo com a não-convenção ortográfica que envolve a coda (“banco”/
“bamco”) e a vogal (“maçaranduba”/ “maçarunduba), além de outros casos
os quais não se encaixam em nenhuma das categorias (“hortelã”/
“ortelanaaã”; “bengala” / “benhegala”). Buscamos, através dessa reflexão,
compreender como o escrevente lida com a complexidade da grafia de
sílabas com coda nasal, contribuindo, por um lado, com reflexões teóricas
acerca da aquisição da escrita, particularmente da escrita de jovens e adultos,
e, por outro, com trabalhos sobre a organização da sílaba no Português
Brasileiro.

68 - II SELIN
Sessão de Debates

Pausas em diferentes interpretações da canção


Mamãe Baiana

Renata Pelloso GELAMO (UNESP/IBILCE)


Lourenço CHACON (Orientador)

Propomos analisar o papel da pausa na organização prosódica de


diferentes interpretações da canção Mamãe Baiana. Segundo Nespor e
Vogel (1986), a frase entonacional é o domínio de um contorno de entonação
e pausas podem funcionar como limites desse constituinte. O algoritmo
de I prevê as seguintes restrições: (a) evitar reestruturação em qualquer
lugar que não corresponda ao final de uma frase nominal; (b) evitar
separação entre um argumento obrigatório e seu verbo. A canção Mamãe
Baiana, composta por Xerêm e Joraci Camargo, foi gravada por Aracy de
Almeida, em 1956, e por Cris Aflalo, em 2003. Identificamos a localização
de pausas nas interpretações de Mamãe Baiana com base numa
concordância superior a 70% entre um grupo de cinco juízes. Esse grupo
foi formado por fonoaudiólogos com experiência nas áreas de Fonologia
e/ou Voz. A partir da concordância dos juízes, observamos: (1) na
interpretação de Aracy de Almeida, um total de 35 pontos de pausa. Desses
pontos de pausa, 25 corresponderam a limites de I e 10 romperam com
esse constituinte; (2) na interpretação de Cris Aflalo, os juízes detectaram
um total de 34 pontos de pausa. Desses pontos de pausa, 26 corresponderam
a limites de I e 8 romperam com esse constituinte. Esses pontos de pausa
desempenharam diferentes papéis. Além de delimitarem (ou romperem)
constituintes da língua, pausas coincidiram também com: (a) delimitação
de estruturas musicais; (b) reforço de rimas; (c) limites de verso.
Entendemos, portanto, que a pausa pode desempenhar diferentes papéis
na interpretação de uma canção, fato que demonstra sua natureza
heterogênea. Mostra-se também como uma marca do funcionamento da
língua, na medida em que indicia, por exemplo, momentos de negociação
do intérprete com os outros constitutivos de seu enunciado.

II SELIN - 69
Sessão de Debates

Criações lexicais e expressividade na poética de


João Cabral de Melo Neto: contribuições aos
estudos do léxico no discurso literário

Rosana Maria Sant’Ana COTRIM (UNESP/FCLAr)


Clotilde de Almeida Azevedo MURAKAWA (Orientadora)

A ciência e a tecnologia têm sido consideradas as principais


responsáveis pela dinâmica da renovação lexical das línguas naturais.
Circunstâncias há, no entanto, em que a formação de palavras se dá mais
por estratégia discursiva do que para o preenchimento de uma lacuna
existente no léxico. É o caso da neologia estilística que, por corresponder a
uma forma de criação lexical baseada na busca da expressividade e, como
tal, quase sempre, resultar da literatura, pouco concorre para o
enriquecimento do léxico de uma língua. Há que se considerar, porém, que
ela evidencia as potencialidades dos processos de renovação do léxico e
delineia a competência lexical do falante. Além disso, seu inegável valor
expressivo e os efeitos de sentido por ela alcançados no discurso em que se
inserem são dignos de consideração. As criações lexicais literárias, como
qualquer outra marca discursiva, aparecem sempre ligadas a uma situação
de enunciação, por isso jamais podem ser sentidas fora do discurso. Numa
perspectiva discursiva, a constituição dos sentidos de um texto é determinada
pelas posições ideológicas que permeiam as formações discursivas (na
abordagem foucaultiana do termo) que compõem o interdiscurso. Sob essa
ótica, o presente trabalho consiste numa proposta de estudo das criações
lexicais em poemas de João Cabral de Melo Neto, escritor pertencente ao
movimento modernista brasileiro, reconhecido, entre outras coisas, pela
habilidade de manejo com o léxico. Os objetivos da pesquisa são descrever
o processo de criação das unidades lexicais neológicas, demonstrar o valor
expressivo de cada uma delas e depreender seu(s) efeito(s) de sentido
engendrado(s) no discurso cabralino. Para a determinação do caráter
neológico da unidade lexical adota-se o critério lexicográfico, cujos corpora
de exclusão compõem-se de dicionários de vulto e circulação na língua
portuguesa, com edições circunscritas, respectivamente, ao momento
anterior, contemporâneo e posterior às produções do autor.

70 - II SELIN
Sessão de Debates

A marcação do plural na fala de duas crianças


pequenas: subjetividade e enunciação

Rosângela Nogarini HILÁRIO (UNESP/FCLAr)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

O presente estudo tem como objetivo analisar, na fala de crianças


cuja língua materna é o PB, um fenômeno bastante comum, porém pouco
estudado: a marcação agramatical de número. Trata-se da marcação do
morfema de plural {-s} que algumas crianças fazem apenas no nome, sem
a sua respectiva marcação no determinante, em um sintagma nominal (Ex.
“a meninas”). A incidência de “erros” deste tipo parece ir de encontro a
uma possível influência do input (adulto), já que, comumente, o que elas
escutam na fala dos adultos, é a marca de plural no determinante – e não no
nome (Ex. “as menina”). A partir de um corpus longitudinal composto por
duas crianças (A. e M.) com idade entre 22 e 36 meses, buscaremos analisar
este “erro” na fala infantil tomando-o como fonte de informações sobre
como a criança estabelece padrões e “regras” para suas produções verbais.
Buscaremos, ainda, confrontar as informações acerca do desenvolvimento
cognitivo da criança com os enunciados por ela emitidos, no intuito de
delimitar em que medida o input, a interação e o fator cognitivo se articulam
na elaboração não apenas da gramática, mas também do discurso da criança.
As reflexões propostas por Vygostsky (2005, 2007), Bruner (1994) e Bakhtin
(1997) nortearão a análise do corpus, pois nos basearemos em uma
concepção sócio-interacionista e dialógica, compreendendo o processo de
aquisição da linguagem não apenas como a apropriação do código linguístico
em si, mas como a própria constituição do sujeito enquanto falante e autor
de seu discurso, demarcando sua subjetividade enquanto “eu” enunciador.
Estas “marcas” enunciativas não se expressam apenas no emprego de
categorias linguísticas específicas (como pronomes pessoais, por exemplo),
mas também no uso particular da língua, como é possível observar no caso
da marcação agramatical de plural feita pela criança.

II SELIN - 71
Sessão de Debates

O processo de (re)construção de conhecimentos


pedagógicos de professores de língua inglesa em
formação inicial

Sandra Mari KANEKO-MARQUES (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Maria Helena VIEIRA-ABRAHÃO (Orientadora)

A formação inicial de professores de língua inglesa deve construir


conhecimentos acerca do processo de ensino e aprendizagem de forma a
aprimorar a prática pedagógica de tais profissionais, para torná-los
autônomos e aptos a construir suas próprias teorias acerca de sua prática.
Para tanto, é necessário favorecer a constante reflexão sobre a prática de
ensino, propiciando o início do processo de (re)construção de conhecimentos
pedagógicos. Inserido nesse contexto, este trabalho tem por objetivo
apresentar dados parciais de uma pesquisa de doutorado que investiga um
curso de formação inicial de professores de língua inglesa de uma
universidade pública localizada no interior paulista, buscando discutir como
se dá o processo de (re)construção da prática pedagógica desses futuros
professores em disciplinas referentes à Prática de Ensino. Em face dessa
perspectiva, objetiva-se verificar como os conhecimentos teórico-práticos
se articulam no processo de (re)construção da prática pedagógica,
observando se e como os saberes construídos na formação inicial estão
presentes na prática de ensino de alunos-professores, com o intuito de
compreender como eles avaliam suas ações pedagógicas, quais os
significados dessas ações e quais as justificativas atribuídas para as tomadas
de decisão e resolução de problemas na prática de ensino realizada nos
estágios. Para tanto, serão discutidos dados provenientes de análises do
plano de ensino da disciplina, questionários semi-estruturados aplicados
aos alunos-estagiários, entrevista com o professor-formador (gravada em
áudio), observações de aulas de Prática de Ensino e aquelas ministradas
pelos alunos-professores (ambas gravadas em vídeo e/ou áudio), sessões
de visionamento das aulas regidas pelos futuros professores. Por meio dos
resultados obtidos, foi possível considerar que a auto-avaliação e a reflexão
os auxiliaram a compreender suas ações didático-pedagógicas e a apontar
encaminhamentos para a melhoria das situações de ensino e aprendizagem,
favorecendo o processo de aprendizagem dos alunos, contribuindo também
para seu desenvolvimento profissional.

72 - II SELIN
Sessão de Debates

Teletandem Brasil: Conflitos no processo de ensino


e aprendizagem de línguas no meio virtual e suas
abordagens

Solange dos Santos LIMA (UNESP/IBILCE)


Maria Helena VIEIRA-ABRAHÃO (Orientadora)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados


parciais de uma pesquisa de doutorado em desenvolvimento na Unesp de
São José do Rio Preto – SP. A pesquisa teve como foco o estudo das
interações entre os parceiros brasileiros e estrangeiros no projeto Teletandem
Brasil e do contexto de ensino de línguas a distância, mediado pelo
computador, focalizando os conflitos (de crenças, linguísticos e culturais)
que emergem a partir das interações. Buscamos responder às seguintes
perguntas de pesquisa: 1. Quais foram os conflitos (de crenças, tecnologia
e cultura) observados nas interações? 2. Quais foram os procedimentos e
as teorias utilizados pelos interagentes e mediadores na busca de soluções
para os conflitos encontrados? 3. Com base nos dados, o que integraria
uma possível agenda teórica e de procedimentos que possa subsidiar as
interações no teletandem e a formação inicial de professores?

II SELIN - 73
Sessão de Debates

Uma análise dos contextos de uso da construção se


não me engano

Taísa Barbosa ROBUSTE (UNESP/FCLAr – Bolsista FAPESP)


Maria Helena de Moura NEVES (Orientadora)

Com base em uma teoria funcionalista da linguagem, este trabalho


tem o objetivo de estudar alguns aspectos da relação entre a construção
condicional se não me engano e os modalizadores epistêmicos. O que se
analisa são os contextos de uso e os efeitos de sentido, ligados à frequência
em corpus de língua falada e escrita da construção em estudo. Uma outra
direção de análise refere-se à possibilidade da condicional se não me engano,
pela fixidez de forma que apresenta, ser vista como de algum modo
suscetível de apreciação dentro das categorias de análise da
gramaticalização. Com relação à comparação da frequência de uso da
construção nos dois tipos de corpus analisados, foi encontrado um número
elevado de ocorrências em corpus de língua escrita, contrariando o que se
esperava, visto que, no que tange às mudanças linguísticas, a língua escrita
é mais conservadora do que a língua falada. Observou-se, no entanto, que
a maioria das ocorrências analisadas são provenientes de diálogos ou de
reprodução de diálogos, ou seja, de uma modalidade que se aproxima
bastante da língua falada. As ocorrências analisadas de língua escrita foram
retiradas de um banco de dados com mais de cem milhões de ocorrências
de língua escrita, disponível no Centro de Lexicografia da Faculdade de
Ciências e Letras da UNESP, Araraquara. As ocorrências analisadas de
língua falada são pertencentes ao ‘corpus mínimo’ do Projeto Norma Urbana
Culta (NURC).

74 - II SELIN
Sessão de Debates

O processo de aquisição da linguagem de uma


criança bilíngue: aspectos sociais e culturais

Tatiana de Oliveira Nino VANZO (UNESP/FCLAr)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

Há algum tempo o bilingüismo tem despertado o interesse de


pesquisadores, que através de diferentes estudos tentam desvendar, entre
outras coisas, se, quando e com que extensão as crianças finalmente falarão
duas línguas (HOUWER, 1900:4); o que acontece quando duas línguas são
adquiridas e utilizadas simultaneamente; se esse é um fenômeno que
favorece ou desfavorece o desenvolvimento cognitivo-linguístico da criança
e qual o papel do interlocutor em todas essas questões. Porém, há muito
ainda para ser explorado, sobretudo no que diz respeito ao papel da
socialização linguageira e dos aspectos culturais a ela relacionados nesse
processo. O debate natureza/cultura está longe de terminar, mas acreditamos
que o componente cultural tenha efetivamente um impacto no processo de
aquisição da linguagem, no caso, por crianças bilíngues (DEL RÉ, 2006).
Considerando que a socialização é a maneira pela qual o indivíduo torna-
se membro de uma sociedade e que a aquisição de conhecimento
sociocultural armazenado por uma criança será controlada pelo seu nível
de desenvolvimento cognitivo, social e linguístico, através de interações
sociais (OCHS; SCHIEFFELIN, 1999), procuraremos analisar como se dá
essa socialização em uma criança bilíngue (I., dos 9 aos 10 anos).
O estudo será realizado a partir de gravações mensais, durante o
período de um ano, com uma menina, filha de mãe inglesa e pai brasileiro,
nascida e vivendo no Brasil. Os registros são de situações cotidianas da
criança com a mãe, com a irmã menor e com uma amiga. Como
embasamento teórico, utilizaremos a noção de interação dialógica de
Bakhtin (1997), para analisar as questões linguístico-discursivas que se
produzem no interior do diálogo, a de cultura, discutida por Tomasello
(1993, 2003) e a de socialização, presente nos trabalhos de Ochs (1999).

II SELIN - 75
Sessão de Debates

A cadeia referencial e a correferencialidade em


textos com mais de um objeto-de-discurso: análise
de mecanismos de coesão textual

Vinício Moreira DOS SANTOS (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Letícia Marcondes REZENDE (Orientadora)

A construção da cadeia referencial, isto é, a rede de manutenção e


recuperação de um objeto-de-discurso, não é apenas um mecanismo crucial
para o sucesso da interação entre falante e ouvinte, mas também um dos
casos mais salientes do fenômeno da coesão textual, apontado como um
dos elementos chave na configuração e delimitação do objeto texto. O
propósito deste trabalho é promover um experimento com alunos de Ensino
Médio, divididos em dois grupos, aos quais serão pedidas, respectivamente,
a produção de uma narrativa que tenha um único objeto-de-discurso como
tema e outra, que contemple tanto o objeto-de-discurso do primeiro grupo,
quanto outro objeto-de-discurso de propriedades semânticas próximas, bem
como completa identidade gramatical (isto é, mesmo gênero e mesmo
número). Nosso objetivo, desta maneira, é comparar como se dá a construção
da cadeia referencial a cerca do objeto no primeiro grupo de redações com
as cadeias referencias do segundo grupo, onde há a possível “concorrência”
entre os dois objetos-de-discurso presentes. Para tanto, tomamos como
aporte teórico a Linguística de Texto, no que diz respeito aos mecanismos
de coesão textual, fazendo uso do inventário proposto por Halliday e Hasan
(1979) e, posteriormente, remodelado por Koch (2009), bem como de
preceitos e ligações com a Gramática Funcionalista, em especial o
tratamento dado por Dik (1989) à focalização.

76 - II SELIN
Sessão de Debates

Avaliação de proficiência oral em contexto de


ensino-aprendizagem de teletandem: contribuições
de um estudo na área de português para falantes de
outras línguas

Viviane Aparecida Bagio FURTOSO (UNESP-IBILCE)


Douglas Altamiro CONSOLO (Orientador)

Avaliar o desempenho por meio de interação mediada por recursos


eletrônicos, em comparação com as práticas de se avaliar proficiência de
modo presencial e por meio de testes tradicionais, caracteriza-se como
aspecto inovador na área de avaliação (CONSOLO, 2006). Tal avaliação,
inserida em um contexto de aprendizagem de línguas como o Projeto
Teletandem Brasil: línguas estrangeiras para todos (TTB), permite explorar
seus mais variados aspectos na formação de professores, dentre os quais se
destacam a formação para ensino e avaliação e a preparação adequada para
o uso das novas tecnologias no contexto educacional. Sendo assim, este
trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, de natureza
etnográfica, que pretende investigar características da avaliação de
proficiência oral em Português para Falantes de Outras Línguas (PFOL)
em contextos eletrônicos, com vistas à formação de professores de línguas.
Os dados serão coletados por meio de interações eletrônicas entre brasileiros
e estrangeiros vinculados ao TTB e serão agrupados e categorizados de
acordo com o conteúdo, e interpretado à luz do referencial teórico que
incluirá discussões acerca da: formação de professores de língua estrangeira;
área de PFOL; avaliação e da Educação a distância. Os resultados deste
estudo oferecerão subsídios para otimizar a avaliação no contexto
investigado, bem como para a formação de professores e para a avaliação
de proficiência oral em PFOL mediada pelo computador.

II SELIN - 77
76 - II SELIN
SESSÃO DE PAINEIS

II SELIN - 77
Sessão de Paineis

A elaboração de ontologias linguísticas no âmbito da


Web Semântica: Uma ontologia no domínio de
artefatos da indústria da borracha

Abner Maicon Fortunato BATISTA (UNESP/IBILCE)


Cláudia ZAVAGLIA (Orientadora)

Este trabalho tem como objetivo geral realizar um estudo sobre a


elaboração de ontologias procurando dar ênfase à relevância de teorias e
recursos linguísticos na construção de ontologias para a Web Semântica e
para aplicações de Processamento de Linguagem Natural (PLN). Partindo
de uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Carlos a respeito
da criação de um vocabulário no domínio de Artefatos da Indústria da
Borracha – AIB, este trabalho terá como objetivo específico delinear o
esquema conceitual desse domínio, tendo em vista a elaboração de uma
ontologia. Na era da informação, ontologias têm ganhado notoriedade por
viabilizarem importantes aplicações computacionais. Uma delas é a de um
novo conceito de Web denominado Web Semântica. Segundo Bernes-Lee
et al. (2001), “A Web Semântica é uma extensão da Web atual, onde a
informação possui um significado claro e bem definido, possibilitando uma
melhor interação entre computadores e pessoas.” A proposta da Web
Semântica é a de organizar o grande caos de dados da Web, entrelaçando
os significados das palavras na rede, o que permitiria com que o
processamento de informação, realizado por humanos, possa também ser
efetuado automaticamente possibilitando a criação de aplicativos que
facilitem de sobremaneira a interação homem-máquina. Para estruturar o
conhecimento do domínio de AIB, estabelecendo as relações entre os
conceitos, pretende-se lançar mão da Teoria do Léxico Gerativo de James
Pustejovsky (1995), valendo-se, sobretudo, da Estrutura Qualia, que
especifica quatro aspectos do sentido de uma palavra, a saber: constitutivo,
formal, télico e agentivo. Em seguida, o esquema conceitual deverá ser
implementado em OWL (Ontology Web Language), uma linguagem
computacional voltada para Web Semântica. Os resultados serão a
elaboração da ontologia do domínio de AIB e a sua implementação
computacional para reuso em Web Semântica e em outras aplicações de
PLN.

80 - II SELIN
Sessão de Paineis

Proposta de análise para a Língua wauja (Arawák)

Adriana Viana POSTIGO (UNESP/FCLAr- Bolsista FUNDECT)


Cristina Martins Fargetti (Orientadora)

Este projeto de pesquisa tem por objetivo descrever a fonologia e


morfossintaxe do Wauja (Arawák), língua falada por aproximadamente 410
indígenas, que vivem na Aldeia Piyulaga, no Alto Xingu (Parque Nacional
do Xingu), Mato Grosso. Na investigação fonológica, buscaremos: (a)
descrever os segmentos: fones, alofones, fonemas consonantais, vocálicos
e glides; (b) verificar o padrão silábico e o processo da silabificação; (c)
verificar o comportamento do acento e a nasalidade dos segmentos
aproximantes, e (d) descrever os processos morfofonológicos, tendo por
base a teoria autossegmental proposta por Goldsmith (1990, 1995),
Kenstowics (1994) e Clements; Hume (1995). Na investigação
morfossintática o foco será: (a) identificar as classes de palavras ou partes
do discurso, (b) descrever as categorias gramaticais nominais e verbais, (c)
verificar a ordem dos constituintes em termos de S(ujeito), V(erbo) e
O(bjeto), (c) verificar o tipo de oração (independente/dependente), e (d)
descrever os processos morfossintáticos, por meio de uma perspectiva
teórica funcional-tipológica desenvolvida por autores como Shopen (1985),
Comrie (1989), Givón (1991), Dixon (1994), Whaley (1997), entre outros.
Este projeto de pesquisa, portanto, busca contribuir para a documentação,
descrição e análise das línguas indígenas brasileiras, em especial, as línguas
da família arawák.

II SELIN - 81
Sessão de Paineis

Análise discursiva do Dicionário Português-


Espanhol de Julio Martínez Almoyna

Adriano Caseri de Souza MELLO (UNESP/IBILCE)


José Horta NUNES (Orientador)

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise inicial sobre
o Dicionário Português-Espanhol de Julio Martínez Almoyna, pela
perspectiva discursiva de análise de dicionários. Nosso objeto é um
dicionário bilíngue português-espanhol, produzido por Julio Martínez
Almoyna e seus colaboradores, editado em Portugal pela Editora Porto,
com novas edições durante a segunda metade do século XX. Com base nos
trabalhos em Análise de Discurso (Foucault, Mazière, Nunes, Orlandi,
Pêcheux), tomamos os dicionários como lugares de discursos. Por meio
dos procedimentos de análises de dicionários desenvolvidos por Nunes
(2006), mostraremos na análise do prefácio deste dicionário, as condições
de produção, a posição do sujeito lexicográfico e sua função-autor, a imagem
que o sujeito constrói de seu público leitor, a imagem de língua, em especial,
a imagem que constrói da língua portuguesa e da língua espanhola, além
da imagem que constrói do dicionário. Na análise dos verbetes,
apresentaremos se correspondem com as afirmações que o lexicógrafo faz
em seu prefácio e se suas definições são feitas para o público destinado
segundo o autor. Esta análise faz parte do trabalho de dissertação em
desenvolvimento no programa de pós-graduação em Estudos Linguísticos
da UNESP/Ibilce, no curso de mestrado. Nossa pesquisa tem como objetivo
analisar discursivamente, uma série de dicionário bilíngues português-
espanhol, que pertence ao acervo das bibliotecas das universidades públicas
do estado de São Paulo.

82 - II SELIN
Sessão de Paineis

A Problemática do Ensino da Língua Portuguesa no


Ensino Primário em Contexto Sociolinguístico
Urbano nas Grandes Cidades de Moçambique:
Maputo, Beira e Nampula

Alexandre António TIMBANE (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Rosane de Andrade BERLINCK (Orientadora)

A Língua Portuguesa (LP) em Moçambique tem estatuto de língua


oficial. Na escola ela é obrigatória desde o ensino primário até ao
universitário. Sublinha-se que a LP é menos usada pois a maior parte dos
moçambicanos fala uma ou mais das vinte Línguas Bantu (LB) espalhadas
pelo país. O ensino primário é um nível inicial onde é preciso se criar bases
sólidas para que o aluno aprenda com facilidade nos níveis seguintes. A
criança da cidade tem a vantagem de aprender o português como Língua
Materna (L1) no seu meio social enquanto a da zona rural tem o português
como Língua Segunda (L2). O trabalho visa analisar os problemas
sociolinguísticos de crianças que têm o português como L2 e suas relações
com insucesso escolar nas grandes cidades de Moçambique. Assim,
problematizamos o tema em estudo em duas questões: a) Será que crianças
que têm a LP como L1/L2 progridem sob ponto de vista linguístico com o
programa elaborado para o ensino primário? b) Por que é que os pais/
encarregados de educação vivendo na zona urbana tendem a ensinar a LP
às crianças ao invés de uma LB? A pesquisa incidirá nas cidades de Maputo,
Beira e Nampula. A escolha se justifica pela existência duma população
linguísticamente heterogénea bem como surgimento de português de
Moçambique. Como método de pesquisa aplicar-se à abordagem
quantitativa onde teremos dois questionários: No primeiro questionário
vamos inquerir 90 alunos (6 a 8 anos), sendo 30 em cada uma das 3
províncias escolhidas. No segundo, inquiriremos 60 pais sendo 20 por
província. Entrevistaremos também 12 professores com pelo menos 2 anos
de experiência sendo quatro por província. A pesquisa chama atenção aos
professores e aos pedagogos para observância de aspectos sociolinguísticos
nas sala de aulas com vista a melhorar a qualidade de ensino da LP em
Moçambique.

II SELIN - 83
Sessão de Paineis

Linguística de Corpus e Grego antigo: o uso de


ferramentas computacionais de análises lexicais

Alexandre Wesley TRINDADE (UNESP/FCLAr - Bolsista FAPESP)


Anise de Abreu Gonçalves D’Orange FERREIRA (Orientadora)

O objetivo deste trabalho é verificar procedimentos típicos da


Linguística de Corpus, em corpus de língua grega antiga, produzindo
exemplos concretos de como preparar textos em arquivos eletrônicos, num
padrão que seja adequado à leitura e à manipulação de dados, e de como
trabalhar com programas computacionais de análise linguística, tais como
concordanciadores, etiquetadores, frequenciadores. Anterior à análise
linguística, há etapas de pré-processamento (coleta, armazenamento,
limpeza de textos, organização do corpus, criação de cabeçalhos) em que
se exige a preparação de textos em arquivos, em formato eletrônico, prontos
para serem lidos e processados por programas computacionais, também
criteriosamente selecionados. A Linguística de Corpus é uma abordagem
empírica no estudo de língua que considera a linguagem como um sistema
probalístico, o que acarreta admitir uma diferença entre realizações
teoricamente plausíveis previstas pelo sistema e a frequência com que esses
traços ocorrem, o uso real. Essa diferença de frequências entre traços
linguísticos de várias ordens (lexicais, sintáticas, semânticas) é bastante
significativa pois tem revelado que a linguagem apresenta padrões e que a
variação é sistemática. O corpus deve conter um conjunto de dados
linguísticos, tanto orais quanto escritos, criteriosamente selecionados,
representativos de uma língua e, principalmente, deve estar em formato
eletrônico legível por computador, para se fazer descrição e análise de língua
auxiliadas por ferramentas computacionais (aplicativos). O uso de corpora
eletrônicos permite o processamento de uma quantidade enorme de dados.

84 - II SELIN
Sessão de Paineis

Caracterização lexicogramatical dos verbos com


clítico se inerente do português do Brasil e estudo
do seu alinhamento semântico com verbos do inglês
da base da WordNet de Princeton

Aline Camila LENHARO (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Bento Carlos DIAS-DA-SILVA (Orientador)

Este trabalho discute a caracterização lexicogramatical de um


subgrupo de verbos do português, os verbos com clítico SE inerente, aqui
rotulados “verbos do Tipo Vse”, dentro do contexto de estudo do
alinhamento semântico entre redes wordnets, mais especificadamente entre
a base do português, a WordNet.Br, em construção, e a base do inglês, a
WordNet de Princeton, construída para o inglês norte-americano. Essas
redes léxico-semânticas são bases relacionais de dados lexicais
computacionalmente implementadas e visam a simulação, de modo formal
e explícito, de parcelas do léxico mental, distribuído nas categorias dos
substantivos, verbos, adjetivos e advérbios. Assim, da perspectiva de dois
domínios complementares, o linguístico e o linguístico-computacional, este
trabalho tem como objetivo aprofundar a descrição dos verbos do Tipo
Vse do ponto de vista gerativista, iniciado na pesquisa do mestrado, e ampliá-
la no âmbito de dois outros modelos, um cognitivista e outro funcionalista,
com vistas a uma caracterização precisa e computacionalmente tratável
desse tipo de construção verbal. No domínio linguístico, a investigação
visa reunir os subsídios teóricos e descritivos suficientemente ricos e
expressivos para, no domínio linguístico-computacional, proceder ao estudo
do alinhamento semântico entre essa classe de verbo do português e verbos
do inglês que integram a base da WordNet de Princeton.

II SELIN - 85
Sessão de Paineis

Um príncipe encantado? Não, um príncipe para


encantá-la: a adolescência moderna e o romantismo
“sem ilusão”

Amanda Cristina Martins RAIZ (UNESP/FCLAr)


Edna Maria Fernandes dos Santos NASCIMENTO (Orientadora)

Ao buscar sentido para a vida, o ser humano sente que é necessário


interagir com outros seres. Por meio dessa interação, ele verifica a
possibilidade de reconhecer comportamentos, hábitos e gostos de outros
seres que são semelhantes aos seus, além de também poder reconhecer os
que são diferentes. Para Landowski (2001), a interação social acontece
com base nas identidades e alteridades dos seres. Esse pensamento do
sociossemioticista francês (2001) é discutido em Presenças do outro, obra
na qual apresenta a semiotização do comportamento social. A constituição
da sociedade se dá pela presença de diversos grupos, cujos membros que
deles fazem parte ali permanecem por questões de afinidade. Em
contrapartida, nesse momento também são reconhecidas as diferenças e,
somente assim, o sentido acontece. A metodologia teórica da Semiótica
francesa foi desenvolvida com vistas à reflexão da estruturação e
organização textual e preocupa-se com questões relativas ao entendimento
das condições de produção e de apreensão do sentido de um texto. Nosso
corpus se dedica a verificar como estão figurativizadas as formas de vidas
da adolescente moderna/contemporânea em periódicos direcionados ao
público juvenil. O texto midiático é construído de modo a nos permitir
visualizar as configurações das formas de vida do adolescente de hoje,
pois é na interação mediada no texto que percebemos as modelagens
figurativas usadas pelo enunciador para criar imagem(ns) de seu
enunciatário. Ao se dirigir ao seu enunciatário, o enunciador de Capricho e
Atrevida faz referência ao termo “romantismo sem ilusão”. Pretendemos
então verificar como o enunciador desses periódicos constrói a imagem de
seu enunciatário no momento em que aponta em seu texto “cinco passos
para conquistar o seu príncipe”. O desenvolvimento de nosso trabalho tem
como embasamento teórico a Semiótica greimasina e os estudos de Eric
Landowski na denominada Sociossemiótica.

86 - II SELIN
Sessão de Paineis

Os usos não-convencionais da vírgula em textos de


alunos da quinta série do Ensino Fundamental

Ana Carolina ARAÚJO (UNESP/IBILCE)


Luciani Ester TENANI (Orientadora)

A vírgula é pouco investigada do ponto de vista linguístico, embora


se mostre um recurso extremamente rico e desafiador por sua natureza
complexa que abrange várias dimensões da linguagem, como as prosódica,
sintática, textual e discursiva (CHACON, 1998). Considerando esse cenário,
este trabalho tem como objetivo analisar a presença não-convencional da
vírgula em relação às normas em textos escritos por alunos de quinta série
(sexto ano, na atual nomenclatura) do Ensino Fundamental de uma escola
estadual paulista. Os textos selecionados que comporão o corpus desta
pesquisa fazem parte do Banco de Dados de Escrita originado do Projeto
de Extensão Universitária “Desenvolvimento de oficinas de leitura,
interpretação e produção de texto no Ensino Fundamental”, desenvolvido
no IBILCE/UNESP. Parte-se da hipótese de que existam relações entre
essas ocorrências não-convencionais de vírgula com possíveis fronteiras
de domínios prosódicos e/ou com informações letradas. Portanto, por meio
desse tipo de ocorrências, será investigado como se dá(dão) a(s)
relação(ções) que o escrevente faz entre enunciados orais/falados e letrados/
escritos. Quando as vírgulas não são empregadas conforme previsto pelas
normas gramaticais, verificamos, em uma amostra dos dados, que tanto
fronteiras prosódicas quanto informações letradas podem motivar essas
ocorrências. Interessa-nos, pois, explicitar como se dá o entrecruzamento
da relação entre enunciados orais/falados e letrados/escritos e como se
observa a relação da pontuação e, mais especificamente, da vírgula com
várias dimensões da linguagem.

II SELIN - 87
Sessão de Paineis

Mapeamento e análise das ocorrências dos


processos de sândi vocálico externo nas sessenta
primeiras Cantigas de Santa Maria

Ana Carolina Freitas Gentil Almeida CANGEMI


(UNESP/FCLAr- Bolsista FAPESP)
Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo principal deste trabalho é analisar a ocorrência dos


processos de sândi vocálico externo no Português Arcaico (PA) encontrados
nas sessenta primeiras Cantigas de Santa Maria (CSM), do ponto de vista
dos encontros intervocabulares ocorrentes. As CSM são um conjunto de
quatrocentas e vinte composições, com notação musical, compiladas em
galego-português por Afonso X (1221-1284) – o rei Sábio. Elas são
provenientes da produção lírica religiosa em galego-português, que
constituem, segundo especialistas, um monumento literário importante até
os dias de hoje, não apenas por sua qualidade artística, mas também por
seu testemunho da língua da época. Para a escansão dos versos e
consequentemente o mapeamento de elisões, hiatos e ditongos, foi utilizada
uma metodologia que se baseia no mapeamento de todas as soluções para
os encontros vocálicos intervocabulares, a partir da notação que receberam
nos testemunhos manuscritos das CSM. A presente metodologia busca
abstrair da escansão dos versos em sílabas poéticas os limites entre as sílabas
fonéticas e foi inaugurada, no Brasil, por Massini-Cagliari (1995), com o
intuito de buscar as características prosódicas de línguas mortas ou de
períodos passados de línguas vivas através da estrutura métrico-poética da
poesia. Nas sessenta primeiras CSM obtivemos 4308 ocorrências de
encontros vocálicos intervocabulares. Desses, 2073 (48,1%) são referentes
aos processos de elisão, 1894 (44,0%) referentes ao processo de hiato, 310
(7,2%) de encontros de ditongos decrescentes com vogal, 5 (0,1%) de
encontros de ditongos crescentes com vogal, 5 (0,1%) processos ainda não
nomeados pela literatura especializada e 21 (0,5%) processos de ditongação.

88 - II SELIN
Sessão de Paineis

O discurso administrativo da Secretaria Especial dos


Direitos e Políticas para Mulheres e a constituição
do sujeito feminino

Ana Lídia PUIA (UNESP/IBILCE)


José Horta NUNES (Orientador)

Este projeto, adotando princípios da Análise de Discurso de linha


Francesa, que foi iniciada com os estudos M. Pêcheux e que é trabalhada
no Brasil por Eni Puccinelli Orlandi, busca analisar o discurso administrativo
sobre a mulher e mostrar como se constituem e se manifestam o político, o
jurídico e o assistencial no interior deste discurso administrativo produzido
pela Secretaria Especial dos Direitos e Políticas para Mulheres. Além disso,
este trabalho procura analisar, por meio do discurso das políticas públicas
para as mulheres, tanto a posição do sujeito mulher quanto a construção de
uma memória social sobre o feminino. Nesta pesquisa, o discurso
administrativo sobre a mulher também será analisado em meio à sua relação
com a cidade, visto que esta constrói redes de significação que contribuem
para a construção do sujeito e de seus modos de se significar na e pela
linguagem e também no e pelo social. O corpus para a realização desta
pesquisa será composto por cartilhas e por folders, fornecidos pela Secretaria
Especial dos Direitos e Políticas para Mulheres, que se localiza no município
de São José do Rio Preto, e por entrevistas que serão realizadas com alguns
dos sujeitos que compõem o corpo administrativo, jurídico, médico e
assistencial desta Secretaria. Assim, com a leitura e com a análise do material
selecionado, poder-se-á verificar como o discurso administrativo sobre a
mulher se significa e como ele caracteriza o sujeito enquanto mulher por
meio de dizeres que, já institucionalizados, circulam na sociedade.

II SELIN - 89
Sessão de Paineis

Relações intergenéricas entre práticas de escrita na


internet e na escola

Andrea Cristian FUSCO (UNESP/IBILCE)


Fabiana Cristina KOMESU (Orientadora)

É sabido que o advento da internet revolucionou a comunicação


humana. No Brasil, notadamente nesta última década, esse meio de
comunicação tornou-se referência para determinados grupos, como o de
jovens que dele faz uso para a comunicação. De fato, a rede parece abrir
portas para uma percepção diferenciada em relação ao modo de interação
com o outro, seja por meio de redes sociais ou de blogs (“diários” virtuais
em que há predomínio de textos escritos), flogs (“diários” virtuais em que
há predomínio de fotografias) e MSN (programa que permite a troca de
mensagens de maneira síncrona). Nesse contexto digital, o papel da
linguagem torna-se fundamental. De uma perspectiva dos estudos da
Enunciação e do Discurso, interessa-nos estudar o fenômeno do chamado
“internetês”, popularmente conhecido como o português digitado na
internet. De maneira específica, interessa-nos investigar as relações entre
práticas de escrita na rede e práticas de escrita na escola, observando os
efeitos do uso do MSN Messenger (comumente utilizado por jovens no
processo de comunicação via rede) nas produções escritas escolares. O
conjunto do material será formado de textos produzidos por um grupo de
alunos de uma Escola Municipal de São José do Rio Preto (SP), na faixa
etária de 13 a 15 anos. Todos têm acesso à internet e são usuários de MSN.
Paralelamente, será coletado um conjunto de textos escritos em ambiente
escolar, o qual servirá de amostra de controle para a pesquisa. Nossa hipótese
é a de quem escreve mais (escreve mais vezes em contextos diversos, faz o
exercício de reflexão sobre a própria escrita), escreve melhor, já que tem
competência linguística (e discursiva) para circular por gêneros de ordem
diversa, com o reconhecimento de modos de representação construídos
sobre a (sua) escrita, sobre o (seu) interlocutor e sobre si mesmo (BAKHTIN,
1997; AUTHIER-REVUZ, 1990; CORRÊA, 2004).

90 - II SELIN
Sessão de Paineis

A transformação do português falado em


Moçambique em norma

Artinésio Widnesse SAGUATE (UNESP/IBILCE- Bolsista do Programa


Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford).
Roberto Gomes CAMACHO (Orientador)

Este projeto de pesquisa tem por objetivo fazer uma análise de


dados que mostrem o estágio atual das condições de/não padronização do
português falado em Moçambique. Atualmente, a política linguística vigente
em Moçambique adotou, para seu uso oficial, o padrão da norma européia.
Entretanto, estudos sobre a situação linguística em Moçambique mostram
que o português falado neste país é, de certa forma, diferente do da norma
adotada, no que concerne a aspetos fonético-fonológico, lexical, sintático,
semântico. De outro modo, estudos de natureza similar mostram uma grande
diversidade sócio-linguística e cultural determinada, basicamente, pela
variedade das línguas étnicas (línguas bantu) faladas neste país. Além disso,
cresce, no país, cada vez mais, um sentimento de autonomia e
autodeterminação no âmbito linguístico, social, cultural, político. A questão
que se coloca, especificamente para o âmbito linguístico, é a seguinte: há
ou não condições para a transformação do português falado em Moçambique
em norma padrão? Em caso positivo, que variedade deve ser selecionada?
Os resultados deste projeto revestem-se de grande importância para uma
política linguística para o País, porque a questão da disparidade entre o
padrão europeu e a prática real do português falado “mexe” com todas as
“sensibilidades”: sociais, políticas, institucionais, culturais, etc. Por outro
lado, a diversidade sócio-linguística, causada sobretudo pelas línguas bantu,
merece uma atenção especial.

II SELIN - 91
Sessão de Paineis

Estudo das características acústico-perceptual das


fricativas do Português do Brasil

Audinéia FERREIRA-SILVA (UNESP/FCLAr- Bolsista CNPQ)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

A Teoria Quântica (Stevens, 1972, 1989) defende que, mesmo dentro


da variabilidade do sinal acústico, é possível isolar regiões dentro das quais
grandes mudanças no sinal acústico não implicam mudanças na percepção.
Da mesma forma que, em outras regiões do sinal acústico, pequenas
variações no sinal podem acarretar grandes mudanças na percepção dos
segmentos. Desta forma, a percepção da distintividade de um segmento
estaria ligada a uma região específica do sinal acústico. Mudanças acústicas
nessa região acarretariam, portanto, mudanças na percepção desse segmento.
Diante disso, o objetivo deste projeto é descrever do ponto de vista acústico-
perceptual as fricativas do Português Brasileiro e verificar em que medida
parâmetros acústicos como duração e frequência podem interferir na
percepção de fricativas. Para tanto, será montado um corpus constituído de
palavras dissílabas, reais e logatomas (palavras que não existem, mas que
respeitam a fonotaxe da língua), com as estruturas CV. CV, CV. CVC e
CVC. CV. As posições de onset e coda serão ocupadas pelas fricativas
labiodentais1, alveolares e palato-alveolares2. A posição de núcleo, por
sua vez, será ocupada pelas vogais /a/, /i/ e /u/. As gravações serão realizadas
em ambiente acusticamente tratado com vistas a evitar que o ruído do
ambiente comprometa a qualidade acústica das gravações, e,
consequentemente, as análises. Uma vez gravado o corpus, serão mensuradas
as durações relativas e as frequências das fricativas. A partir desse
procedimento, serão realizadas ampliação e redução da duração e frequência
das fricativas. Os sinais acústicos provenientes das manipulações serão
apresentados a 15 ouvintes que deverão identificar a fricativa que estão
ouvindo. Com esse procedimento, seremos capazes de relacionar
característica acústica e perceptibilidade das fricativas do Português
Brasileiro.
1
As fricativas labiodentais somente ocuparão a posição de ataque, com prevê o sistema
fonológico do PB.
2
As fricativas velares e glotais encontradas em alguns dialetos não serão alvos de
investigação deste projeto. Essas fricativas são normalmente avaliadas nas investigações
sobre os róticos.

92 - II SELIN
Sessão de Paineis

Complexidade gramatical e proficiência oral do


professor de inglês como língua estrangeira:
contribuições à validação do teste oral do EPPLE
(Exame de Proficiência para professores de Língua
Estrangeira)

Bruna BUSNARDI (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Douglas Altamiro CONSOLO (Orientador)
Considerando-se as inúmeras discussões e pesquisas acerca da
proficiência oral (PO) de futuros professores de ILE e a necessidade de se
(re)definir o perfil da PO desejada para que o futuro professor possa atuar
satisfatoriamente no cenário formal de LE após sua formação inicial, este
pesquisa de mestrado, ainda em fase inicial, tem como objetivo colaborar
para a validação do teste oral do EPPLE (Exame de Proficiência para
professores de Língua Estrangeira), aplicado a formandos de cursos de
Licenciatura em Letras no Brasil com o objetivo de avaliar o nível de
proficiência linguística desses futuros professores. Para tanto, pretende-se
comparar os resultados obtidos no teste oral do EPPLE com a atuação desses
professores em sala de aula, após sua formação inicial. O foco estará na
complexidade gramatical presente na linguagem oral produzida pelos alunos
em formação. Em um primeiro momento, avaliar-se-ão as transcrições do
teste a fim de determinar a complexidade gramatical presente na linguagem
oral produzida pelos examinandos durante a realização das tarefas orais do
exame. Na segunda etapa, selecionar-se-ão três alunos que sejam
representativos de três faixas diferentes atestadas pelo EPPLE. As aulas
desses professores serão observadas e gravadas em áudio e, posteriormente,
transcritas, a fim de se verificar a complexidade gramatical na linguagem
oral produzida por eles. Em um terceiro momento, comparar-se-ão os dados
obtidos por meio do EPPLE com aqueles obtidos por meio da gravação das
aulas dos três professores-participantes, buscando averiguar se a
complexidade gramatical da linguagem oral produzida durante a realização
das tarefas do teste condiz com a da linguagem produzida por eles enquanto
professores de ILE. Pretende-se contribuir, com esta investigação, para o
desenvolvimento de uma descrição mais detalhada do descritor gramática
e estrutura sintática na escala holística do exame, bem como para a criação
de escala analítica referente ao mesmo descritor.

II SELIN - 93
Sessão de Paineis

A voz média grega: ensino e aprendizagem e


linguística de corpus

Caio Vieira Reis de CAMARGO (UNESP/FCLAr- Bolsista FAPESP)


Anise Abreu Gonçalves D’Orange FERREIRA (Orientadora)

Este projeto tem como objetivo fazer uma descrição da voz média
do grego antigo, de forma a levantar, analisar e classificar seus empregos
em um corpus de estudo específico, em Apolodoro, prosador do séc. II a.C,
por meio de um corpus digitalizado e programas específicos que permitem
a análise automática e verificação estatística dos dados. Embora tal
abordagem empírica seja mais comum em estudos de línguas modernas, o
enfoque deste trabalho se volta para o ensino e aprendizagem da leitura do
grego clássico, uma língua estrangeira literária, não usada para comunicação,
A primeira etapa do projeto prevê efetuar uma tradução inicial e uma análise
semântico-cognitiva com base no corpus selecionado, cujo levantamento
de dados será feito por meio do computador e programas específicos. Dessa
forma, obter-se-ão exemplos contextualizados da voz média, a fim de que
seja possível mapear essas ocorrências e aprofundar nas nuances do emprego
desse aspecto do verbo grego. Para tanto, foram escolhidas passagens no
texto de Apolodoro que se encontram no Livro I, referentes à teogonia, o
que também permite ao aluno o contato com questões mitológicas e literárias
da cultura helênica. A proposta inclui a elaboração de um glossário para os
textos selecionados e, com base nas teorias apresentadas por Rutger J. Allan
(2003), Vásquez (1999), Contrad (2005) Sardinha (2009), entre outros
autores buscar-se-á definir o escopo da voz média, por meio de classificações
que tangem, principalmente, aspectos semânticos. O resultado deste estudo
será apresentado na forma de um material para suporte didático, dividido
em seções teóricas voltadas para os aspectos da morfologia verbal, seções
de tradução, contendo os textos selecionados, exercícios e seus glossários
correspondentes e uma última, dedicada a questões da mitologia grega.

94 - II SELIN
Sessão de Paineis

Construções adverbiais causais nas variedades


lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional

Carolina Cau SPÓSITO (UNESP/IBILCE- Bolsista FAPESP)


Erotilde Goreti PEZATTI (Orientadora)

Objetiva-se com esse projeto investigar a relação adverbial Causal


nas variedades do português, fornecendo uma explanação satisfatória das
orações ligadas por meio de relação Causal, estabelecendo suas propriedades
semânticas e morfossintáticas. Como objetivos específicos, pretende-se
verificar:
1) Na hierarquia de relações adverbiais, em que posição se encontra a
relação Causal, considerando a Hierarquia de Rebaixamento Adverbial
proposta por Cristofaro (2003):
Propósito > Temporal > Condição de Realidade, Razão;

2) quais as propriedades semânticas da relação Causal que se dão no


nível representacional;

3) quais as propriedades morfossintáticas que caracterizam a relação


Causal.
Como universo de investigação, serão utilizadas ocorrências reais de
uso que expressem relação causal extraídas do córpus oral organizado
pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, intitulado
“Português oral” que foi desenvolvido no âmbito do Projeto “Português
Falado: Variedades Geográficas e Sociais”, do qual resultou um córpus
de amostragens de variedades do português falado em Portugal, Macau,
Goa, Timor Leste, Brasil e nos países africanos de língua oficial
portuguesa. Tal córpus é constituído por 86 gravações, tanto de conversas
formais quanto informais. Cada ocorrência será então analisada de acordo
com os seguintes fatores:

II SELIN - 95
Sessão de Paineis

Nível Interpessoal:
1. Presença ou ausência de marcador discursivo;
2. Função Retórica;

Nível Representacional:
3. Identidade dos participantes das orações envolvidas;
4. Factualidade;

Nível Morfossintático:
5. Tipo de oração principal;
6. Tipo de oração inserida;
7. Presença ou ausência de operador;
8. Tipo de operador;
9. Dependência verbal;
10. Forma verbal;
11. Posição da oração subordinada em relação à matriz;
12. Manifestação do participante principal do evento dependente;
13. Codificação do participante principal do evento dependente;

Nível Fonológico:
14. Quebra entonacional.

Tal pesquisa ainda não obteve resultados, uma vez que se encontra
em fase de levantamento de dados.

Referência Bibliográfica:
CRISTOFARO, S. (2003) Subordination. Oxford: University Press.

96 - II SELIN
Sessão de Paineis

Polissemia nos usos auxiliares do verbo TER:


arbitrariedade ou iconicidade?

Cleiliane Sisi PEIXOTO (UNESP/IBILCE- Bolsista FAPESP)


Roberto Gomes CAMACHO (Orientador)

Do ponto de vista sincrônico do português brasileiro atual, o verbo


TER apresenta vários usos, dentre os quais o uso mais concreto o define
como verbo pleno e usos mais abstratizados o definem como auxiliar de
tempo, aspecto e modalidade. De uma perspectiva formalista da linguagem,
as expressões linguísticas são arbitrárias quanto ao uso, ao sentido e à função
que desempenham no contexto interativo. Nesse sentido, a polissemia, o
uso de uma forma linguística para expressar mais de uma função, seria,
portanto, arbitrária. A despeito da existência de vários Funcionalismos, o
enfoque funcionalista crê na integração entre função da linguagem e
estrutura linguística e, por isso, considera as expressões linguísticas em
uso, em termos das funções que desempenham no contexto extralinguístico.
Assim, para os funcionalistas, as expressões linguísticas não são arbitrárias,
mas motivadas por fatores extralinguísticos. Apoiada nos pressupostos
teóricos de autores como Croft; Cruse (2004), Dik (1989; 1997), Haiman
(1980; 1985) Hengeveld (2004; 2005; 2008), Langacker (1985), entre outros,
essa pesquisa pretende analisar os usos auxiliares do verbo TER sob uma
perspectiva diacrônica, com o intuito de verificar se a polissemia nos usos
sincrônicos, ou seja, se as noções de tempo, aspecto e modalidade expressas
por TER são arbitrárias ou resultantes de um processo de mudança semântica
motivada por uma similaridade de sentido entre essas noções. A hipótese
principal motivadora desse estudo é a de que a polissemia nos usos auxiliares
do verbo TER consiste em uma variação sincrônica resultante de uma
extensão semântica motivada por processos cognitivos como a metáfora e
a metonímia. Por terem sido desenvolvidas, hipoteticamente, por processo
de extensão semântica, as noções de tempo, aspecto e modalidade
configuradas por TER partilhariam atributos semânticos comuns. Logo,
essa polissemia não seria arbitrária, mas icônica.

II SELIN - 97
Sessão de Paineis

‘Diário de Viagens do Barão de Mossâmedes’:


aspectos lexicais e elaboração de um glossário

Daniane da Silva ASSUNÇÃO (UNESP/FCLAr)


Clotilde de Almeida Azevedo MURAKAWA (Orientadora)

O painel compreenderá o projeto, em fase inicial de desenvolvimento,


na Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa – UNESP/CAr, na
linha de pesquisa “Estudos do léxico”. A pesquisa tem como objetivo geral
estudar a língua escrita, na segunda metade do século XVIII, especialmente
o seu léxico, a partir do Diário de Viagem do Barão de Mossâmedes (1771-
1773), considerando a estreita relação entre língua e cultura. O estudo será
realizado através da edição do Diário, com critérios filológicos, pois os
estudos linguísticos, em especial os de natureza histórica, assim o exigem;
e do inventário dos campos lexicais mais importantes e característicos do
povo, da cultura e da organização político-administrativa da Capitania de
Goyaz na época. Após a análise dos dados inventariados no corpus,
fundamentada nas discussões de autores da Lexicologia, da Lexicografia,
da Filologia, da Paleografia e da Linguística Histórica, como Maria Tereza
Camargo Biderman (1978; 2001), Edward Sapir (1969), Maria Helena de
Paula (2007), Vera Lúcia Costa Acioli (2003), Phablo Roberto Marchis
Fachin (2008), Antônio César Caldas Pinheiro e Gustavo Neiva Coelho
(2006), Carlos Alberto Faraco (1991), Heitor Megale (2004), Lidia Almeida
Barros (2004), Tony Berber Sardinha (2000), César Nardelli Cambraia
(2005), será confeccionado um Glossário, obedecendo a técnicas
lexicográficas específicas. Este projeto é relevante devido à importância
histórica e linguística do corpus de análise, um diário de viagem manuscrito
da segunda metade do século XVIII, das minas goianas, em nome do
português José de Almeida de Vasconcellos Soveral e Carvalho, que recebeu
o título de Barão de Mossâmedes pelo Marquês de Pombal.

98 - II SELIN
Sessão de Paineis

Aprendizagem de línguas em contexto Teletandem: a


telecolaboração e o desenvolvimento da competência
intercultural em uma parceria português/ espanhol

Denize Gizele RODRIGUES (UNESP-IBILCE)


Ana Mariza BENEDETTI (Orientadora)
O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação
(TICs), propiciou, a indivíduos dispostos a aprenderem uma língua
estrangeira, o contato linguístico-cultural com todo o mundo. Em meio a
novas formas de contato com a informação, a aprendizagem formal (sala
de aula) deixou de ser a única maneira para se estar em contato com uma
língua estrangeira em seus diversos aspectos tanto linguísticos quanto
culturais, muito menos a única forma de se aprendê-la residindo fora do
contexto em que ela é comumente usada; aprendizagem por imersão, por
exemplo. Por meio de ferramentas de comunicação instantânea (Skype e
Oovoo, por exemplo) aliadas à projetos pedagógicos como o Teletandem
Brasil: línguas estrangeiras para todos, os indivíduos podem não só adquirir
conhecimento de uma língua estrangeira (LE), mas também desenvolver o
que Byram1 define como ‘competência comunicativa intercultural’ tratando-
se do conjunto de sensibilidades culturais que conferem, ao aprendiz de
LE, habilidades para mediar entre diferentes perspectivas culturais (a
estrangeira e a materna) quando em situações de comunicação. Por meio
do projeto Teletandem Brasil são formadas parcerias entre aprendizes
dispostos a ensinarem e a aprenderem uma língua em contexto
telecolaborativo. A presente pesquisa, então, busca observar como o
contexto de aprendizagem telecolaborativa pode ser profícuo para a troca
intercultural e consequentemente, para o desenvolvimento da competência
intercultural dos aprendizes. Especificamente, pretende-se verificar como
ocorre o desenvolvimento da competência intercultural em ambiente
telecolaborativo de protótipo Teletandem em uma parceria português/
espanhol, bem como observar de que maneira os princípios de autonomia e
de reciprocidade no ensino/ aprendizagem de línguas podem, efetivamente,
auxiliar os integrantes da parceria, ora no papel de tutores ora no papel de
aprendizes de línguas em contexto telecolaborativo de protótipo Teletandem.
1
BYRAM, M. Teaching and Assessing Intercultural Communicative Competence.
Clevedon: Multilingual Matters, 1997.

II SELIN - 99
Sessão de Paineis

Uma análise da tradução de vocábulos relacionados


à violência, em quatro obras de Patrícia Melo,
traduzidas por Clifford Landers

Elisangela Fernandes MARTINS (UNESP/IBILCE)


Diva Cardoso de CAMARGO (Orientadora)

Neste painel será apresentado um projeto de pesquisa que tem por


objetivo analisar as opções de tradução adotadas por Clifford Landers para
traduzir vocábulos recorrentes e preferenciais da autora Patrícia Melo,
relacionados à violência, nas obras: The Killer (1997), In Praise of Lies
(1999), Inferno (2003) e Lost World (2009), em relação às respectivass
obras originais O matador (1995), Elogio da mentira (1998), Inferno (2001)
e Mundo perdido (2006). A pesquisa fundamenta-se no arcabouço teórico-
metodológico dos Estudos da Tradução Baseados em Corpus (Baker, 1993,
1995, 1996, 2004; Camargo, 2005, 2007) e Linguística de Corpus (Berber
Sardinha, 2004). Recorremos, também, aos estudos sobre normalização de
Baker (1996) e Scott (1998), a fim de observar aproximações e
distanciamentos nas traduções dos vocábulos preferenciais de Patrícia Melo.
Para tanto, construímos um corpus paralelo formado pelos quatro textos
originais e as respectivas traduções. O estudo conta com o auxílio das
ferramentas WordList, KeyWord e Concord, disponibilizadas pelo programa
computacional WordSmith Tools, a fim de proceder à extração dos
vocábulos para análise. Desse modo, com o apoio da fundamentação teórica
adotada e o uso das ferramentas de busca, analisaremos como são traduzidas,
para os leitores de língua inglesa, os vocábulos e expressões mais recorrentes
e preferenciais nas quatro obras, que estão relacionadas ao tema da violência.

100 - II SELIN
Sessão de Paineis

Variáveis influenciadoras da continuidade ou


descontinuidade das parcerias de Teletandem

Emeli Borges Pereira LUZ (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Ana Mariza BENEDETTI (Orientadora)

Devido a surpreendente expansão tecnológica observada nas últimas


décadas, o ensino e aprendizagem de línguas viu-se desafiado a adequar-se
a um contexto digital cada vez mais emergente. Como o momento atual
(re)cria necessidades linguísticas e culturais, obviamente que os modelos e
práticas de ensinar e aprender devem ser reconsiderados. Mediante o uso
de aplicativos de troca de mensagens eletrônicas e da possibilidade de tele-
convenções com auxílio de uma webcam e de um microfone, o projeto
“Teletandem Brasil: línguas estrangeiras para todos” disponibiliza um
aprendizado de línguas de maneira colaborativa, autônoma e reflexiva, onde
os participantes se propõem a aprender uma língua estrangeira e ajudar o
parceiro no aprendizado da língua materna. Este trabalho insere-se no
projeto Teletandem Brasil e seu objetivo, por meio da averiguação (i) dos
vínculos estabelecidos pelos participantes com o teletandem, (ii) da
motivação e comprometimento dos participantes com a atividade, (iii) do
cumprimento dos princípios de teletandem (separação de línguas,
reciprocidade e autonomia) e (iv) da contribuição do professor mediador,
verificar como essas variáveis interagem e influenciam a continuidade ou
descontinuidade da parceria de teletandem. O referencial teórico exposto
nesta investigação encontra-se fundamentado na aprendizagem colaborativa,
nos princípios norteadores do teletandem, em fatores relacionados à
competência intercultural, em aspectos motivacionais além de outros fatores
presentes nas interações decorrentes dos diferentes contextos sociais,
institucionais e tecnológicos a que estão inseridos. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, de natureza etnográfica, cujo escopo é investigar pares-
interagentes de teletandem, constituídos por falantes de português e inglês,
e de português e espanhol.

II SELIN - 101
Sessão de Paineis

A modalização sob o prisma da “Dinâmica de


Forças”: um estudo comparativo

Fernanda Barini CAMARGO (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Maria Helena de Moura Neves (Orientadora)

Este trabalho aspira à apresentação de uma das etapas do projeto


de pesquisa intitulado À luz da gramática: um estudo da modalização no
texto literário, desenvolvido pela aluna ao longo de seu Mestrado
Acadêmico. O projeto tem por objetivo investigar enunciados presentes
em textos literários sob o viés gramatical, visando à inter-relação funcional
do processo de modalização que opera na estruturação do enunciado. Para
a realização do trabalho, foi adotada, como abordagem norteadora da
investigação, a perspectiva da linguística cognitiva, com suas noções de
esquemas de imagem, como abordagem recente no estudo da linguagem
humana e que se aproxima do modelo gramatical funcionalista. T a l m y
(1988), conhecido, sobretudo, através de seus trabalhos com linguística
cognitiva, que relaciona estruturas linguísticas formais à semântica,
apresenta uma semântica da modalidade de raiz que sugere noções de
dinâmica de forças. O pesquisador demonstra, através de esquemas, como
entidades linguísticas interagem em relação à noção de força, categoria
que inclui alguns conceitos como “manifestação de força”, “resistência”,
“superação”, “bloqueio” e “remoção de bloqueio”. Sweetser (1990), ao
adotar a proposta de analisar a modalidade sob o prisma das forças e
barreiras, investiga verbos modais de raiz da língua inglesa. Seu trabalho
prova que a pesquisa da modalidade em termos de dinâmica de forças é
possível, estendendo tal ponto de vista aos domínios epistêmico e de atos
de fala. Nesse estágio da pesquisa, pretende-se apresentar um estudo
comparativo entre proposta de Talmy (1988) em seu estudo sobre a Dinâmica
de Forças como parâmetro cognitivo e linguístico e a pesquisa de Sweetser
(1990), com a aplicação do método a estruturas modalizadoras da língua
inglesa, com suas considerações, divergências e resultados.

102 - II SELIN
Sessão de Paineis

Misticismo e religiosidade em romances policiais


contemporâneos

Fernanda MASSI (UNESP/FCLAr)


Arnaldo CORTINA (Orientador)

Gênero “narrativa policial” foi criado por Edgar Allan Poe no século
XIX e é composto, fundamentalmente, por um crime, de autoria
desconhecida, e uma investigação acerca da identidade deste criminoso.
Em pesquisa de mestrado, estudamos os vinte e dois romances policiais
contemporâneos mais vendidos no Brasil de 2000 a 2007 e estabelecemos
três “categorias temáticas” para enquadrá-los, quais sejam “misticismo e
religiosidade”, “temáticas sociais” e “thrillers”. A partir de uma análise
aprofundada do corpus, destacamos características comuns em cada uma
das “categorias temáticas”. Essa caracterização nos mostrou o quanto o
romance policial contemporâneo se distanciou do romance policial
tradicional e como eles podem ser organizados em grupos, por possuírem
traços comuns.
Nesse projeto de doutorado, analisamos os romances policiais mais
vendidos no Brasil no período de 1980 a 2009 que apresentaram a temática
“misticismo e religiosidade” em seus enredos. Partindo da semiótica
greimasiana ou semiótica discursiva na análise da construção do sentido,
analisamos as figuras, os temas, os atores, os actantes e outros elementos
constituintes de uma narrativa que caracterizam a vertente “misticismo e
religiosidade” do romance policial contemporâneo. Tendo em vista que a
narrativa policial apresenta um enredo fechado em torno do crime, a
categoria “misticismo e religiosidade” é a que mais se distancia do modelo
tradicional. Assim, pretendemos verificar como e por que a temática
“misticismo e religiosidade” se incorporou ao romance policial
descaracterizando esse gênero e quais alterações ocorreram nesse novo
modelo ao longo das décadas que iremos analisar.

II SELIN - 103
Sessão de Paineis

Por uma análise dos usos não-convencionais da


vírgula: discussões sobre um objeto de estudo

Geovana Carina Neri SONCIN (UNESP/IBILCE- Bolsista FAPESP)


Luciani Ester TENANI (Orientadora)

Propõe-se, nesta apresentação, discutir o projeto de pesquisa “O uso


não-convencional da vírgula em textos de alunos da última série do Ensino
Fundamental: possibilidades de identificação dos constituintes prosódicos”
(FAPESP – Proc. 2009/11416-8), vinculado à linha de pesquisa Oralidade
e Letramento, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da
UNESP, campus de São José do Rio Preto. Esse projeto de pesquisa tem
como objetivo central descrever e analisar o uso não-convencional da vírgula
em textos escritos por alunos de 8ª série/9º ano do Ensino Fundamental de
uma escola estadual do interior paulista. De acordo com os PCNs, o aluno
de 8ª série, por estar inserido em um contexto de escolarização de, no
mínimo, nove anos, utiliza, em sua escrita, recursos linguísticos a fim de
expressar diferentes circunstâncias e pontos de vista discursivos; nesse
sentido, temos como pressuposto que o uso da vírgula é um desses recursos
da escrita disponíveis ao escrevente para indiciar e/ou marcar suas posições
enunciativas. Particularmente, buscaremos argumentar, por meio de uma
análise prosódica e discursivo-textual, que o uso não-convencional da
vírgula é um lugar privilegiado para reflexões acerca de língua, linguagem
e escrita e, além disso, é um lugar interessante para vislumbrar a relação
estabelecida entre o escrevente e seu texto durante o processo de
textualização. Acreditamos que imagens são construídas sobre o que seja a
língua e sua organização prosódica, bem como sobre o que seja a escrita e
seu funcionamento. Em termos teóricos, essa pesquisa se fundamenta na
concepção de escrita enquanto heterogeneamente constituída, conforme
defende Corrêa (2004), e no ritmo da escrita, proposto por Chacon (1998).
Além dessas propostas teóricas, assume-se a conceituação bakhtiniana de
gêneros discursivos e adotam-se as descrições prosódicas do português
brasileiro feitas por Tenani (2002) e Fernandes (2007), que tomaram como
modelo a Fonologia Prosódica de Nespor & Vogel (1986).

104 - II SELIN
Sessão de Paineis

Estudo do Pretérito Perfeito do Modo Indicativo nas


Cantigas de Santa Maria

Gisela Sequini FAVARO (UNESP/FCLAr- Bolsista FAPESP)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

Este painel tem como objetivos principais a análise e o estudo


comparativo de processos morfofonológicos desencadeados pela flexão
verbal entre duas sincronias da língua portuguesa: Português Arcaico (PA)
e Português Brasileiro (PB). Para a realização deste estudo, serão
considerados como objeto os processos morfofonológicos desencadeados
pela flexão verbal em PA e PB. O corpus escolhido é formado de Cantigas
de Santa Maria (CSM), que correspondem a um monumento literário de
mais elaborada importância da literatura medieval galego-portuguesa. A
partir do mapeamento das formas verbais ocorrentes no corpus, os dados
são categorizados em tipos, quanto ao processo morfofonológico verificado;
em seguida, são descritos os processos fonológicos encontrados,
estabelecendo-se o contexto morfológico de sua aplicação, com vistas à
identificação dos processos morfofonológicos. Ao observarmos os processos
de alomorfias que envolvem as flexões verbais, notamos inúmeras
semelhanças entre o galego-português e o português padrão atual, entre os
quais podemos citar: neutralização morfofonológica e crase da vogal
temática nas 2ª e 3ª conjugações na primeira pessoa do singular no pretérito
perfeito do indicativo e harmonização vocálica da vogal temática da primeira
conjugação na primeira e terceira pessoa do singular respectivamente.
Assim, através desta pesquisa, pretendemos mostrar o quanto os processos
desencadeados pela flexão verbal da língua se modificaram e o quanto se
mantiveram, colaborando para a elucidação de alguns fatos do passado
linguístico do português que podem contribuir para esclarecer fatos da sua
estrutura atual.

II SELIN - 105
Sessão de Paineis

Análise da adaptação de um dicionário bilíngue


francês-português europeu para a variante brasileira

Helena Yuriko Sakano FERNANDES (UNESP/IBILCE)


Maria Cristina Parreira da SILVA (Orientadora)

Nosso trabalho pretende atender a uma proposta de uma importante


editora internacional especializada na produção de dicionários, que decidiu
investir na adaptação para o português do Brasil de seu dicionário bilíngue
francês-português europeu, publicado em 2009, com cerca de 24 mil
entradas, somadas as duas direções. Esses editores convidaram, para
colaborar em tal processo, um grupo de pesquisadores brasileiros, no qual
nos inserimos. Aproveitando esse trabalho prático de adaptação,
especificamente dos 6 mil verbetes da direção francês-português que nos
couberam - trabalho, aliás, bastante relevante por aumentar, no mercado
internacional, a disponibilidade de dicionários bilíngues com a nossa
variante -, resolvemos fazer um levantamento das questões teóricas
correlacionadas a ele, de maneira a contribuir com os campos da lexicologia
e lexicografia, sobretudo no que se refere à relativamente recente
metalexicografia brasileira voltada a dicionários bilíngues. Nesse âmbito,
discutiremos também reflexões acerca dos problemas de tradução
implicados e, em especial, tentaremos contribuir com as discussões
relacionadas às diferenças entre as duas grandes variantes da língua
portuguesa, a brasileira e a europeia. Para tanto, a adaptação dos verbetes,
já em andamento, fornece-nos o corpus para a análise, a qual será, na
sequência, refinada com o auxílio da leitura de novas referências e das
reflexões feitas durante as disciplinas do curso.

106 - II SELIN
Sessão de Paineis

O projeto Teletandem Brasil: as relações entre as


comunidades virtuais, as comunidades discursivas e
as comunidades de práticas

Jaqueline Moraes da SILVA (UNESP/IBILCE)


Solange ARANHA (Orientadora)

Este trabalho se propõe a analisar a relação entre o conceito de


Comunidade Discursiva (SWALES, 1990; 1992), o conceito de Comunidade
Virtual (LÉVY,1996; 1999) e a noção de Comunidade de Prática
(WENGER, 1998; 2006), com o intuito de investigar se os interagentes do
Projeto Teletandem Brasil configuram uma Comunidade Virtual específica.
É relevante ressaltar que o Projeto Teletandem Brasil tem como objetivos
principais vincular a pesquisa acadêmica da universidade a ações sócio-
pedagógicas na área de ensino de línguas estrangeiras e aplicar uma nova
ação pedagógica de aprendizagem de línguas à distância. Para o
desenvolvimento da pesquisa, partiremos da hipótese de que os interagentes
do TT se agrupariam em uma CV que compartilha características comuns à
noção de CD (SWALES 1990; 1992) e à noção de CP (WENGER, 1998;
2006). Primeiramente, com o objetivo de definir os critérios para a busca
de parâmetros para o estabelecimento de uma comunidade específica
pretendemos elaborar um questionário, com base no conceito de comunidade
virtual (LÉVY, 1999), e submetê-lo aos participantes das respectivas línguas
do TTB. Tal questionário nos permitirá realizar uma análise quantitativa
dos dados. Além disso, pretendemos realizar entrevistas virtuais com os
participantes com o intuito de coletar dados qualitativos. Os resultados de
um questionário, elaborado pelo grupo de estudos “Os Gêneros textuais e
o Projeto Teletandem Brasil”, coordenado pela Profa Dra Solange Aranha,
que buscou responder questões com base nos parâmetros de CD também
será utilizado como corpus de comparação. Acredita-se que a relevância e
justificativa deste trabalho estão apoiadas em duas grandes áreas: a área de
Educação, mais especificamente o letramento digital, e a área de Linguística
Aplicada, principalmente, no que diz respeito às implicações didáticas e
pedagógicas do meio digital no processo educacional.

II SELIN - 107
Sessão de Paineis

As Vogais Portuguesas em Três Momentos da


História da Língua: séculos XIII, XV e XVI

Juliana Simões FONTE (UNESP/FCLAr)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo deste painel é apresentar as propostas do Projeto de


Doutorado desenvolvido por esta autora, cuja finalidade é estudar as
qualidades vocálicas do português em três momentos da história da língua:
séculos XIII, XV e XVI, com o intuito de se investigar mudanças
significativas ocorridas no quadro das vogais portuguesas, ao longo dos
séculos referidos. Como corpora para esta pesquisa, serão consideradas as
Cantigas de Santa Maria de Afonso X, para o século XIII; o Cancioneiro
Geral de Garcia de Resende, para o século XV; e Os Lusíadas de Camões,
para o século XVI. A metodologia a ser empregada neste estudo baseia-se,
principalmente, na análise das rimas presentes nas obras referidas. Por meio
da análise das rimas de textos poéticos, é possível obter pistas satisfatórias
sobre a realização fônica das vogais portuguesas, em momentos passados
da língua, que não possuem registros orais. No caso das vogais pretônicas,
que não são contempladas pelas rimas dos textos poéticos, será empregada
uma metodologia baseada na análise da grafia dessas vogais, nos corpora
analisados. Os dados serão analisados à luz de uma abordagem fonológica
não-linear, em especial o modelo da Geometria de Traços de Clements &
Hume (1995) - para o português, Cagliari (1999). A partir deste trabalho,
será possível obter uma descrição fonológica das principais transformações
ocorridas no sistema vocálico do português, ao longo da história da língua.

108 - II SELIN
Sessão de Paineis

Projeto Teletandem Brasil – línguas estrangeiras


para todos sob a perspectiva dos gêneros

Kelly Cristina Molinari da SILVA (UNESP-IBILCE)


Solange ARANHA (Orientadora)

O presente projeto está inserido em um projeto maior denominado


“Projeto Teletandem Brasil - Língua Estrangeira para Todos” (Telles, 2005),
que tem como objetivo estudar e divulgar a aprendizagem de língua
estrangeira no meio virtual. Objetiva-se com este estudo buscar investigar
se as interações de Teletandem, tanto em língua inglesa quanto em língua
portuguesa, podem ser configuradas como um gênero novo nas perspectivas
teóricas da análise de gêneros textuais propostas por Miller (1984), Swales
(1990), Bhatia (1993), e Bazerman (2004). A noção de gêneros emergentes
também será contemplada (Marcuschi, 2002). Esta investigação será
desenvolvida por meio de uma pesquisa de natureza qualitativa descritiva
cujo corpus é constituído pelas interações realizadas por três pares
interagentes, (falantes de língua inglesa e língua portuguesa), registradas
em áudio e vídeo. Os dados serão observados e analisados, para se responder
as duas perguntas de pesquisa, baseando-se nos princípios sugeridos por
Bhatia (1993). A primeira é verificar se há propósitos comunicativos
compartilhados nas sessões de Teletandem. A segunda é comparar uma
sessão com a outra para se verificar se há características léxico-gramaticais
específicas entre elas e através dessas comparações, poder verificar há
configuração ou não de um gênero novo.

II SELIN - 109
Sessão de Paineis

Descrição do sistema ortográfico em documentos


manuscritos do século XVII No Brasil

Kelly Priscilla Lóddo CEZAR (UNESP/FCLAr)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

Com o objetivo de investigar o sistema de ortografia do Brasil


Colônia, a partir de uma perspectiva histórica e linguística, o presente estudo
pretende realizar a análise documental de manuscritos do século XVII
publicados no país. Nesta pesquisa, a análise de documentos se constituirá
no método principal de estudo, uma vez que essa abordagem tem, nesse
tipo de material, seu foco de investigação. Para o tratamento histórico dos
documentos, os dados serão submetidos a uma análise da ortografia com
um enfoque linguístico, seguindo a metodologia de Cagliari (2001a). A
partir dessa abordagem, serão investigadas as características do sistema de
ortografia desse período. O estudo prevê um tratamento estatístico de dados
para corroborar a interpretação dos elementos principais do sistema e das
variantes gráficas das palavras. A pesquisa está sendo realizada a partir dos
manuscritos contidos na obra intitulada Por minhas letras e Sinal:
Documentos do ouro do século XVII (2006), de autoria de Heitor Megale
e Sílvio de Almeida Toledo Neto. Essa obra foi selecionada por apresentar
a transcrição de documentos manuscritos do século XVII, lavrados na época
das bandeiras e que tipificam a escrita desse período. Para análise dos dados
buscará em gramáticas e em tratados de ortografia antigos um referencial
para comparação e interpretação. A revisão da história da ortografia ajudará
a compreender a escrita dos documentos, já que os próprios ortógrafos
formulam regras de uso e, em alguns casos, divergem entre si. A partir da
compreensão e interpretação das regras de emprego e uso das letras e demais
marcas da escrita será possível analisar, descrever e apresentar o sistema
ortográfico contribuindo para a história da ortografia da Língua Portuguesa.

110 - II SELIN
Sessão de Paineis

Os valores atribuídos ao pretérito perfecto


compuesto espanhol nas regiões dialetais
argentinas

Leandro Silveira de ARAUJO (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Rosane de Andrade BERLINCK (Orientadora)

Considerando que grande parte das descrições de uso do pretérito


perfecto compuesto (Este año lo hemos pasado mal) assume um caráter
generalizador, isto é, apresenta uma realização comum da forma verbal a
toda América hispânica ou, quando muito, a grupos de países que congregam
diversas regiões dialetais, propomos um estudo mais apurado da realização
deste fenômeno na Argentina. A escolha do país decorre da inexistência de
uma análise que sistematize e descreva o uso do pretérito perfecto compuesto
em suas sete regiões dialetais, visto que os poucos estudos encontrados
assinalam somente uma escassez da forma na região bonaerense e uma
produtividade acentuada em regiões mais ao norte da Argentina, sem
informar, contudo, o contexto de uso ou a ocorrência em outras regiões. A
fim de obter essas informações, analisaremos entrevistas radiofônicas menos
formais (disponíveis na rede mundial de computadores) de uma grande
cidade de cada região dialetal da Argentina, pois acreditamos que este gênero
discursivo pode nos fornecer uma situação propícia para o uso desta forma
verbal, além, é claro, de resgatar uma fala menos monitorada. Deste modo,
nosso trabalho assumirá um caráter empírico constituído, respectivamente,
pela elaboração de um corpus, pela seleção de ocorrências do fenômeno,
pela descrição de valores e contextos de uso e, finalmente, pela elaboração
de um texto conclusivo que exponha os dados obtidos. Todo o estudo será
orientado pela Teoria da Variação e Mudança Linguísticas.

II SELIN - 111
Sessão de Paineis

A noção de palavra em dados de escrita de adultos


em processo de alfabetização: relação entre
oralidade e letramento

Lívia Barbosa Borduqui CAMPOS (UNESP/IBILCE)


Luciani Ester TENANI (Orientadora)

No presente trabalho, elegemos como objeto de investigação as


flutuações de segmentações não-convencionais encontradas em textos de
jovens e adultos na fase inicial de alfabetização. Acreditamos que tais
flutuações podem ter relações com: (a) limites de constituintes prosódicos,
mais especificamente o limite da palavra fonológica e do grupo clítico, e
(b) limites de palavra ortográfica. Por meio da análise das flutuações,
buscaremos observar, quanto à organização fonológica, a reestruturação
de alguns constituintes prosódicos, principalmente os domínios da palavra
fonológica e do grupo clítico, por estar em jogo a separação ou a junção, na
escrita, de sílabas átonas de diferentes classes morfológicas e, quanto à
aquisição da escrita, o trânsito do sujeito escrevente por práticas de oralidade
e letramento, uma vez que acreditamos estar em jogo um sujeito que, ao
construir seu imaginário do que seja a escrita, precisa lidar com as práticas
sociais pelas quais circula, da oralidade e do letramento. Para a análise
fonológica, utilizaremos a teoria da fonologia prosódica, proposta por
Nespor e Vogel (1986), a qual mapeia a estrutura fonológica a partir de
informações morfossintáticas. Para a análise das práticas de oralidade e de
letramento, apoiaremo-nos na proposta de Corrêa (2004) sobre o modo
heterogêneo de constituição da escrita.

112 - II SELIN
Sessão de Paineis

Letramento digital de professores de inglês como


língua estrangeira
Livia Maria ORTEGA (UNESP/IBILCE)
Maria Helena VIEIRA-ABRAHÃO (Orientadora)

Como sabemos, os avanços tecnológicos, em especial a internet,


têm rompido barreiras físicas das salas de aula. Sente-se a necessidade de
se compreender o papel do professor de línguas nesse novo contexto de
ensino e aprendizagem e, mais ainda, o professor necessita sentir-se seguro
com relação a essas novas ferramentas de que se dispõe. O presente projeto
tem por objetivo investigar as dificuldades – técnicas ou de letramento –
que podem surgir no decorrer de um curso de extensão voltado para as
práticas digitais e online, e suas influências na (des)motivação dos
professores cursistas, observando como eles reagem frente aos novos
desafios propostos. O curso apresenta um formato semipresencial (blended
Learning), sendo organizado para ser ministrado em encontros presenciais,
complementados com atividades virtuais, momentos de interação entre
coordenadores, colaboradores e cursistas. Com este formato, o curso
contempla atividades que serão desenvolvidas de forma síncrona (oficinas,
seminários, chat, interações via skype) e assíncrona (fórum, wiki, webquest).
As atividades desenvolvidas nos encontros presenciais serão ministradas
em forma de oficinas, com foco no desenvolvimento de competências
técnicas referentes às webtecnologias que nortearão as atividades online.
Já as atividades virtuais terão um caráter teórico com momentos de estudos
individuais, de reflexões coletivas e de construção de material didático. O
curso pretende oferecer aos professores de Língua Inglesa de Nova
Andradina/MS, Araraquara/SP e São José do Rio Preto/SP, momentos de
aprendizagem técnica quanto aos recursos webtecnológicos disponíveis na
escola e contribuições teóricas e práticas ao mediar ações de ensino/
aprendizagem de Línguas. Além disso, outro objetivo do curso é
proporcionar a esses profissionais experiências de ensino de Língua Inglesa
em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e sugerir atividades de
integração de webtecnologia (sites educacionais, softwares) em atividades,
cujo objetivo é o desenvolvimento de competência linguístico-comunicativa
(reading, writing, listening e speaking) na língua alvo. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa de cunho etnográfico (Bogdan e Biklen, 1998; Erickson,
1986) que se valerá dos seguintes instrumentos de coleta de dados: registros
na plataforma Moodle, questionários dialogados (Abreu, 2009) e entrevistas.
No processo de análise dos registros, os dados e perspectivas serão
triangulados para a construção de categorias e asserções.

II SELIN - 113
Sessão de Paineis

A construção referencial no gênero crônica e o


emprego do nome próprio

Lívia Maria Turra BASSETO (UNESP/IBILCE)


Clélia C. Abreu Spinardi JUBRAN (Orientadora)

Para realização dessa pesquisa de doutorado, tomar-se-á como base


teórica a Linguística Textual de linha sócio-cognitivo-interacionista, mais
especificamente, a teoria da Referenciação, para a qual o processo de
construção do referente não se dá numa relação especular entre linguagem
e mundo, mas num processo que se efetua no e pelo discurso. Assim, o
referente, ou objeto de discurso, é construído social e culturalmente a partir
das práticas sociais e remodelado, no interior do discurso, em função dos
propósitos comunicativos dos parceiros da interlocução verbal. À
apresentação e remodelação do referente no discurso, dá-se o nome,
respectivamente, de categorização e recategorização referencial. Com base
nesse aparato teórico, pretende-se a análise de crônicas políticas escritas
por Diogo Mainardi, inicialmente publicadas na revista Veja e,
posteriormente, transpostas para o livro Lula é minha anta. A partir de uma
leitura inicial dos textos, pretende-se refletir a respeito do constante uso de
nomes próprios nesse gênero textual, relacionando-os às estratégias de
progressão referencial a eles ligadas, sejam por catáfora ou anáfora. Tal
reflexão foi suscitada por se considerar que o nome próprio empregado nas
crônicas, quando distanciado de seu contexto, pode sofrer um
“esvaziamento” de sentido, uma vez que, diferentemente das descrições
definidas ou indefinidas, ele não traz características do referente em questão,
mas apenas uma nomeação individual instituída socialmente. Assim,
podendo ser “esquecido” com o tempo, buscam-se, nas crônicas, estratégias
de progressão referencial, que, quando relacionadas ao emprego do nome
próprio, retomando-o ou antecipando-o, podem levar a uma elucidação do
referente em questão. No entanto, vale ressaltar que esse trabalho é apenas
inicial, não havendo ainda conclusões certas sobre o assunto, mas apenas
hipóteses a serem constatadas (ou não) com essa pesquisa.

114 - II SELIN
Sessão de Paineis

O discurso educativo da rede Globo na perspectiva


de M. Foucault

Marcelo de Paula SOUZA (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Maria do Rosário de Fátima Valencise GREGOLIN (Orientadora)

Pesquisa de mestrado em linguística e língua portuguesa que tem


como proposta central, sustentada pelo método arquegenealogico de Michel
Foucault, observar e analisar um conjunto de discursos de caráter didático,
discursos educativos, transmitidos, em suas diversas manifestações
temáticas, pela rede Globo de televisão em sua programação nacional desde
de 2007. As investigações feitas a partir das materialidades singulares
do corpus audiovisual – estrategicamente selecionado, editado, transcrito
– mostram como o discurso da emissora, de ressonância massificadora
e ideologicamente autoritário, constrói, desconstrói e reconstrói
identidades ao reproduzir noções contraditórias sobre esses temas
pedagógicos ao utilizarem largamente as técnicas subjetivas em processos
de confissão, dissimulando o gênero “aula” para centenas de milhares
de expectadores que o recebem como entretenimento. Estudar o
interdiscurso desses documentos significa localizar as vozes históricas que
os constituem, revisitar as memórias comemoradas em acontecimentos
discursivos inéditos, observando as idéias reiteradas e as idéias silenciadas
durante as atualizações que promovem, em rede nacional, a idealização de
um sujeito educado, leitor, saudável, cidadão, engajado, bem sucedido e
feliz. Observar a construção do discurso na memória e o acontecimento
enunciativo que produz a subjetividade na TV Globo é, sobretudo, o nosso
objetivo para, assim, revelar possíveis lapsos na postura politicamente
correta, incoerências da programação e preconceitos manifestados pela
emissora.

II SELIN - 115
Sessão de Paineis

Estudo do processo de harmonização vocálica das


vogais médias pretônicas na variedade do noroeste
paulista

Márcia Cristina do CARMO (UNESP/IBILCE - Bolsista FAPESP)


Luciani Ester TENANI (Orientadora)

Neste trabalho, apresentamos nosso projeto de Doutorado (FAPESP


– Proc. 2009/09133-8), por meio do qual objetivamos explicar o processo
fonológico de harmonização vocálica das vogais médias pretônicas em
nomes e verbos na variedade do noroeste paulista. O processo de
harmonização vocálica consiste na atuação de uma vogal alta na sílaba
seguinte à da pretônica-alvo em favor do alçamento desta, como em
v[i]stido, g[u]rdura, s[i]gurar e p[u]dia. Como corpus de pesquisa, são
utilizadas amostras de fala espontânea de 38 informantes retiradas do banco
de IBORUNA, resultado do projeto ALIP (FAPESP 03/08058-6). Nossa
pesquisa segue o arcabouço teórico da Teoria da Variação e Mudança
Linguística (LABOV, 1972), e, portanto, considera variáveis linguísticas e
sociais que possam ser influenciadoras da aplicação do processo. Quanto
às variáveis linguísticas consideradas, têm-se: (i) vogal-gatilho presente
na sílaba subsequente à sílaba da pretônica-alvo; (ii) tonicidade da vogal-
gatilho presente na sílaba subsequente à sílaba da pretônica-alvo; (iii)
altura da vogal presente na sílaba entre as sílabas da pretônica-alvo e da
vogal-gatilho; (iv) grau de atonicidade da pretônica-alvo; (v) estrutura da
sílaba em que a pretônica-alvo ocorre; e (vi) localização morfológica da
vogal-gatilho. No que diz respeito às variáveis sociais, são considerados:
(i) sexo/gênero (feminino e masculino); (ii) grau de escolaridade (1º ciclo
do Ensino Fundamental, 2º ciclo do Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Ensino Superior); e (iii) faixa etária: de 7 a 15 anos, de 16 a 25 anos, de 26
a 35 anos, de 36 a 55 anos e acima de 55 anos. Para a análise fonológica
dos dados, será utilizado o arcabouço teórico da Teoria da Otimalidade,
teoria gramatical surgida no início da década de 90 e que concebe a
existência, na Gramática Universal, de um conjunto de restrições passíveis
de violação.

116 - II SELIN
Sessão de Paineis

A sociolinguística e o ensino de língua portuguesa:


uma proposta para um ensino aprendizagem livre de
preconceitos

Maridelma Laperuta MARTINS (UNESP/FCLAr)


Rosane de Andrade BERLINCK (Orientadora)

Trata-se de um projeto de pesquisa que se inicia a partir de um


percurso de 7 anos no ensino de língua portuguesa no curso de Letras da
UNIOESTE – campus Foz do Iguaçu-PR, observando o discurso dos alunos
de graduação e de professores de E.F. e E.M. (com quem trabalho em cursos
de formação continuada) sobre suas atitudes linguísticas e concluindo,
empiricamente, a existência de preconceito linguístico nesses discursos. A
partir dessa conclusão, trago à tona a hipótese de que é por meio da escola
que se pode fazer um trabalho de conscientização linguística que possa
amenizar discursos e atitudes preconceituosas sobre a linguagem (das
pessoas com relação à sua própria língua e com relação à língua do “outro”,
como por exemplo, “não sei português”, “fulano fala tudo errado”, “menas
dói no ouvido, né?”). Fazendo uma pesquisa aplicada de abordagem
qualitativa, pretendo: 1. averiguar/comprovar, por meio de entrevistas não
estruturadas com um grupo de professores de E.F. e com um grupo de alunos
do mesmo nível, seus discursos preconceituosos sobre a linguagem; 2.
discutir/debater com esse mesmo grupo de professores os pressupostos
teóricos da Sociolinguística; 3. elaborar, ainda com esse mesmo grupo de
professores, uma sequência de atividades de ensino que aborde
amplamente questões como variação e mudança linguísticas,
homogeneidade e heterogeneidade linguísticas, normas (padrão, não padrão,
culta, etc.), o vernáculo, estigma e prestígio, preconceito linguístico, entre
várias outras (atividades essas que serão aplicadas aos alunos já citados);
4. verificar, novamente por meio de entrevistas não estruturadas com o
mesmo grupo de professores e alunos, os resultados da aplicação dessas
atividades pelos professores, o que confirmará ou não a hipótese desta
proposta de pesquisa.

II SELIN - 117
Sessão de Paineis

Direito e verdade: contribuições CXCzda Linguística


à análise do discurso jurídico

Marília Valencise MAGRI (UNESP/FCLAr)


Antonio Suarez ABREU/Roberto Leiser BARONAS (Orientadores)

A emergência das formas jurídicas ao longo da História demonstra


que o Direito não é supra-social, mas determinado por um embate
institucionalizado de práticas discursivas, por meio da qual a construção
da verdade condiciona-se à eficácia de uma mensagem semiológica. Ao
demonstrar que toda e qualquer relação tecida no meio social está baseada
em relações de poder, entendemos que a perspectiva discursiva contribui
significativamente para a problematização das instituições, procedimentos
e conteúdos jurídicos, já que o Direito reflete tal constituição. Da mesma
forma, tomamos a concepção de verdade como produto de lutas discursivas
para desconstruir a idéia de que o discurso jurídico seria imparcial, isento
e universal. Assim sendo, não seria possível apreendê-lo de forma objetiva
e neutra, evidenciando-se a constante instabilidade da noção de “verdade”
e de “realidade” no âmbito das relações jurídicas. Na esteira das
contribuições da Linguística Forense, área em desenvolvimento nos países
europeus, o presente trabalho objetiva refletir em que medida a Linguística
discursiva pode contribuir para a prática jurídica, focalizando para tanto
construção na verdade como ponto central do embate jurídico. Para tanto,
propomos um exercício de análise que toma um caso jurídico atual de grande
repercussão na mídia, objetivando refletir de que forma as categorias teórico-
analíticas da AD de linha francesa contribuem para a construção da verdade
processual na seara jurídica.

118 - II SELIN
Sessão de Paineis

As interrogativas de conteúdo na história do


português brasileiro: uma abordagem
discursivo-funcional

Michel Gustavo FONTES (UNESP/IBILCE - Bolsista FAPESP)


Erotilde Goreti PEZATTI (Orientadora)

As interrogativas de conteúdo, dentro da literatura linguística, já


foram estudadas a partir dos princípios do formalismo linguístico,
especialmente pelos trabalhos de linha gerativista, para os quais a linguagem
é uma espécie de cálculo e a sintaxe é vista como autônoma. Uma vez que
se concebe a linguagem enquanto instrumento de interação verbal e que se
vê a sintaxe como determinada por níveis linguísticos mais abrangentes (a
semântica e a pragmática), propõe-se um novo enfoque para o estudo das
interrogativas de conteúdo: este projeto, a partir de um ponto de vista
funcional, objetiva observar e explicar o comportamento morfossintático,
semântico e pragmático das interrogativas de conteúdo do português
brasileiro. A denominação interrogativas de conteúdo provém de trabalhos,
como Hengeveld et al (2007) e Mackenzie (2008), desenvolvidos dentro
da linha funcionalista a partir dos princípios e da metodologia da teoria da
Gramática Discursivo-Funcional (GDF), adotada como norteadora desta
pesquisa. Tais trabalhos apresentam preocupações que se voltam
prioritariamente aos estudos tipológicos, analisando, portanto, várias
línguas. Desta forma, o objetivo central deste trabalho é caracterizar a
configuração morfossintática, semântica e pragmática das interrogativas
de conteúdo na diacronia do português brasileiro, num período que inicia
no século XVIII e termina no século XX, e, a partir de uma comparação
entre cada sincronia, observar o comportamento diacrônico dessa estrutura.
Para tanto, utiliza-se um corpus diacrônico (referentes aos séculos XVIII e
XIX) composto de textos de dois gêneros – peças de teatro e cartas pessoais
– e, para o corpus do português contemporâneo (século XX), utilizam-se
textos escritos – cartas pessoais e peças de teatros - e orais provenientes do
NURC. Os dados coletados serão analisados de acordo com cinco fatores:
(i) Funções pragmáticas envolvidas na sentença; (ii) Categoria semântica
codificada pelo elemento-Q; (iii) Estatuto do elemento-Q; (iv) Tipo de
predicado e (v) Configuração morfossintática da interrogativa.

II SELIN - 119
Sessão de Paineis

As primeiras experiências de professores do CEL


com o teletandem

Micheli Gomes de SOUZA (UNESP/IBILCE)


João Antonio TELLES (Orientador)

O projeto Teletandem Brasil, desenvolvido na UNESP de Assis e


de São José do Rio Preto, coloca aprendizes brasileiros de línguas
estrangeiras em contato com falantes dessas línguas que aprendem o
português como língua estrangeira. Dessa forma, estabelecem-se parcerias
nas quais, por meio de ferramentas de comunicação virtuais como o Skype,
um aprende a língua do parceiro e “ensina” sua própria língua. O painel As
primeiras experiências de professores do CEL com o teletandem objetiva
apresentar algumas respostas de professores do CEL sobre o primeiro
contato com a prática de teletandem. Como parte o objetivo final do projeto
Teletandem Brasil está previsto a expansão do teletandem para os Centros
de Estudo de Línguas. O primeiro passo nessa direção se deu por meio de
um curso para os professores da rede, no período de maio a agosto de 2009,
incluindo a prática de 16 horas de teletandem português-espanhol com
parceiros no Uruguai. Essas atividades representam o primeiro contato dos
professores com o teletandem, e por meio de discussões e de depoimentos
na rede Teleduc de ensino (online) demonstraram suas expectativas, e
dúvidas em relação a esse contexto. Esse painel traz uma apresentação
geral do projeto de mestrado Os primeiros contatos de professores em -
serviço com a prática de teletandem e algumas considerações sobre a
primeira pergunta de pesquisa: O que dizem os professores brasileiros e
uruguaios quanto ao primeiro contato com o contexto de ensino/
aprendizagem de línguas à distância, denominado teletandem?

120 - II SELIN
Sessão de Paineis

Subjetividade na aquisição da escrita:


um estudo de caso

Natalia Aparecida Gomes GRECCO (UNESP/FCLAr- Bolsista CAPES)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

Considerando a linguagem como o espaço no qual o sujeito constrói


e é construído por ela, propomos aqui a análise de um caso no qual podemos
perceber, através da produção escrita de uma criança (autor), a relação
subjetividade/alteridade (François, 1994). Partimos da hipótese, em
concordância com Bakhtin (1992), que autorar é assumir uma posição
valorativa, ou seja, fazer um recorte dos eventos da vida a partir de uma
posição axiológica e ainda, posicionar-se perante a esfera heteroglótica,
posicionando-se diante da guerra de vozes sociais (heteroglossia). Além
disso, a questão da alteridade também está presente no processo autoral,
pois é necessário que o autor se coloque axiologicamente frente a si mesmo,
tornado-se outro para si, uma vez que precisamos passar pela consciência
do outro para nos constituir (Brait, 2005). Assim, considerando que o
presente trabalho encontra-se em fase inicial de desenvolvimento,
selecionamos um texto de um aluno do segundo ano do Ensino Fundamental
de uma escola municipal da rede de ensino de Araraquara, texto este que
foi elaborado em uma das atividades propostas pela professora em sala de
aula. Acreditamos que essa fase de aprendizagem seja interessante de ser
observada visto que, nesse período, a criança (sem distúrbios) já adquiriu
ou está em processo de aquisição da escrita, passou pelo processo de
apreensão do simbólico, mudando sua visão de mundo. Ressaltamos,
também, que para essa produção escrita não houve nenhuma interferência
de nossa parte nas atividades propostas pela professora responsável pela
classe. Para a análise dos dados, estamos elaborando um quadro com
categorias que julgamos imprescindíveis na delimitação desse processo,
tais como: pronomes, verbos, nomes, entre outros. Por meio de suas
estratégias de escrita no ato de autorar, tentaremos separar o autor-pessoa
do autor-criador e entender como essas duas faces se interdefinem ou se
diferenciam.

II SELIN - 121
Sessão de Paineis

Enunciados ecolálicos: um enfoque discursivo

Natália Faloni COELHO (UNESP/IBILCE)


Lourenço CHACON (Orientador)

Em contato prévio que tivemos com crianças com problemas de


linguagem, em atividades do Estágio Supervisionado de Distúrbios da
Linguagem Infantil, que fez parte de nossa formação curricular no curso de
Fonoaudiologia da UNESP/Marília, verificamos que uma das manifestações
linguísticas que estas crianças podem apresentar são as chamadas “falas
ecolálicas”. Desse contato, bem como de nossa participação no Grupo de
Pesquisa Estudos sobre a linguagem (GPEL/CNPq), surgiu nosso interesse
pelo desenvolvimento deste estudo. Dessa forma, a proposta da presente
pesquisa é investigar, sob ótica discursiva, o funcionamento de enunciados
tidos como ecolálicos em uma criança com diagnóstico fonoaudiológico
de Distúrbio de Linguagem. Para desenvolvimento do estudo, serão
utilizados dados de gravações de, ao menos, uma sessão de terapia
fonoaudiológica dessa criança. A investigação proposta será orientada pelos
seguintes objetivos: (1) identificar os contextos discursivos em que,
preferencialmente, emergem esses enunciados; e (2) observar em que medida
esses enunciados projetariam, na superfície discursiva, elementos que se
poderiam recuperar da heterogeneidade constitutiva do discurso. A análise
dos dados será realizada com base em subsídios teóricos provenientes de
estudos de natureza enunciativo-discursiva, mais especificadamente, sob o
olhar da Análise do Discurso de orientação francesa. Entendemos que esses
subsídios possibilitarão entender as chamadas falas ecolálicas como marcas
de heterogeneidade constitutiva de todo discurso, ou, em outras palavras,
indícios de que o não-afirmado precede e domina o afirmado.

122 - II SELIN
Sessão de Paineis

A influência da língua inglesa na formação de nomes


comerciais no Brasil: questões de identidade
cultural e fonológica

Natália Cristine PRADO (UNESP/FCLAr)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

Esta pesquisa de Doutorado tem como objetivo principal a análise


das adaptações fonológicas que podem ocorrer na pronúncia de nomes
comerciais com elementos de origem inglesa por falantes do Português
Brasileiro (PB). Diante do contínuo processo de globalização, resultado do
poderio econômico e cultural que os Estados Unidos adquiriram no cenário
atual, é compreensível que a sociedade brasileira se prenda a um padrão de
consumo norte-americano, o que faz com que o anglicismo se torne
necessário para marcar uma diferença entre os consumidores que podem e
os que não podem consumir determinados produtos; assim, torna-se
importante observar a influência do inglês na língua portuguesa em contexto
comercial no Brasil. Este estudo se realizará sobretudo a partir de teorias
fonológicas não-lineares – especialmente os modelos métrico de Hayes
(1995), lexical de Mohanan (1986), prosódico de Nespor & Vogel (1986) e
auto-segmental (Geometria de Traços) de Clements e Hume (1995). A partir
da ocorrência (ou não) de adaptações fonológicas, poderemos observar se
a identidade fonológica desses nomes pode ser considerada “brasileira” ou
não, mensurando, desta forma, a força e a influência dos sistemas cultural
e fonológico do inglês sobre o PB. Portanto, o estudo que se propõe neste
projeto tem o intuito de contribuir para as análises das adaptações
fonológicas que podem acontecer quando um termo de uma língua
estrangeira é inserido no contexto linguístico do PB.

II SELIN - 123
Sessão de Paineis

O sistema de gêneros nas interações do projeto


Teletandem Brasil

Nathasa Rodrigues PIMENTEL (UNESP/IBILCE)


Solange ARANHA (Orientadora)

Os vários tipos de textos produzidos em sociedade se acomodam


em conjuntos de gêneros dentro de sistemas de gêneros, os quais fazem
parte dos sistemas de atividades humanas. A escrita requer certas situações
para ser realizada através de documentos, e para isso há necessidade de
organizar essas situações, por meio de regras gerais de adequação e correção,
uma vez que cada área requer um sistema de atividades a ser seguido para
a realização de uma tarefa (BAZERMAN, 2005). O Teletandem Brasil é
um projeto desenvolvido em parceria com universidades da França, Itália e
Estados Unidos que objetiva facilitar a interação de falantes nativos de
diversos países para a troca de conhecimentos linguísticos através da
colaboração on-line. Essa interação online gera textos de diversos tipos,
que podem fazer parte de gêneros diferentes. Este trabalho pretende
investigar quais são as atividades realizadas durante as interações do Projeto
Teletandem Brasil no processo de ensino/aprendizagem de língua uma
estrangeira e se essas se constituem em um sistema compartilhado entre
interagentes distintos. Para a investigação serão registradas sessões de
interação de dois pares que participam do projeto. Os registros serão
gravados em áudio, que posteriormente serão transcritos, para verificar se
há existência de regras gerais de adequação e correção para o desenvol-
vimento das interações dos participantes.

124 - II SELIN
Sessão de Paineis

Estudo de um corpus paralelo constituído por três


obras de Milton Hatoum, com foco na tradução de
marcadores culturais.

Patrícia Dias Reis FRISENE (UNESP/IBILCE)


Diva Cardoso de CAMARGO (Orientadora)

Esta pesquisa propõe um estudo de corpus composto por três obras


do escritor amazonense Milton Hatoum, traduzidas para o inglês: Relato
de um certo oriente/The tree of the seventh heaven/Tale of a certain orient,
traduzida por Ellen Watson e republicada com revisão de John Gledson,
Dois irmãos/The brothers e Cinzas do Norte/Ashes of the Amazon, traduzidas
por John Gledson. A pesquisa enfocará a tradução de marcadores culturais
nas três obras, bem como a observação de traços de simplificação e de
explicitação nos textos de chegada. O arcabouço teórico-metodológico
fundamenta-se, sobretudo, na proposta dos estudos da tradução baseados
em corpus (BAKER, 1993, 1995, 1996, 2004) e nos princípios da linguística
de corpus (BERBER SARDINHA, 2000, 2004). Para a investigação dos
marcadores culturais, tomaremos por base, também, trabalhos sobre
domínios culturais (NIDA, 1945; AUBERT, 1981, 2006). A pesquisa será
realizada semi-automaticamente, por meio de uma combinação de análises
com o auxílio do programa computacional WordSmith Tools, criado por
Mike Scott, e de análises manuais. Desse modo, poderemos observar as
soluções de tradução dos marcadores culturais em virtude de diferenças
culturais entre a língua de partida e a língua de chegada, assim como outras
tendências a serem evidenciadas na tradução dos três textos literários.

II SELIN - 125
Sessão de Paineis

A aprendizagem de uma língua estrangeira como


possibilidade de constituição de outra subjetividade

Patrícia FALASCA (UNESP/FCLAr- Bolsista CAPES)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

A presente pesquisa discute a questão da aprendizagem de uma


língua estrangeira como possibilidade de constituição de uma outra
subjetividade, diferente daquela já formada em língua materna. Trata-se de
buscar marcas linguísticas e não linguísticas que evidenciem, na fala de
alunos adultos, aprendizes de inglês como língua estrangeira, a emergência
desta outra subjetividade, proveniente do contato com a outra língua/
ideologia. Neste sentido, procuraremos também relatar a postura dos alunos
em relação a este conflito ideológico no qual se encontram inseridos. Para
tanto, são realizadas gravações semanais, durante um semestre letivo, de
aulas de inglês como língua estrangeira para alunos adultos que já
conseguem se comunicar na língua alvo. Para obtermos uma maior
aproximação com os alunos e na tentativa de comparar seus objetivos com
o resultado que vêm alcançando em relação a esse processo, realizamos,
também, entrevistas em ambas as línguas (materna e estrangeira), antes e
depois do período de filmagens. Para a análise dos dados, tomamos como
base a noção de que é apenas na linguagem e através dela que se efetua o
processo de subjetivação, para utilizar o termo de Préneron (2009, no prelo)
e de que a língua é dependente da interação entre indivíduos socialmente
organizados e não pode ser separada do conteúdo ideológico que esta
sociedade veicula por meio dela (Bakhtin, 1997). A partir destes
pressupostos, consideramos que o aprendiz adulto de língua estrangeira,
com sua identidade/subjetividade completamente formada em língua
materna, se depara, ao entrar em contato com a língua alvo, com uma
ideologia diferente daquela vinculada à sua língua materna e deve, para
nela se inserir, permitir o desdobramento de outra subjetividade, que esteja
de acordo com as expectativas desta nova ideologia presente,
necessariamente, na língua que se propõe a aprender.

126 - II SELIN
Sessão de Paineis

A criança bilíngue e a construção da identidade

Paula Cristina BULLIO (UNESP/FCLAr- Bolsista CAPES)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

Este projeto tem como objetivo observar e analisar os dados de


uma pesquisa longitudinal com uma criança bilíngue de dois anos de idade
que fala francês e português. Considerando a falta de consenso para o termo
“bilinguismo”, tomaremos aqui a noção proposta por HOUWER (1990:3)
segundo a qual trata-se de um processo análogo ao de aquisição da língua
materna, em que o indivíduo adquire uma outra língua ao mesmo tempo,
ou seja, uma mesma criança é exposta a mais de uma língua desde o
nascimento. Acreditamos que a criança constrói a língua e adquire valores
sociais, na troca de experiências e, essencialmente, na interação (OCHS,
Elinor & SCHIEFFELIN, B. B:1999) – ela não é uma “tabula rasa”, vazia,
pronta para receber informações que depois serão repetidas. As trocas
verbais “definem” a formação das ideologias e a constituição da
subjetividade da criança, que cresce e se desenvolve biologicamente,
psicologicamente e socialmente em um ambiente ideológico (BAKHTIN,
1997). Partindo dessas concepções, propomos, neste trabalho, analisar como
se dá esta construção quando a criança é exposta a duas línguas desde o
nascimento, embora apenas uma delas seja utilizada na comunidade em
que vive. Sendo assim, trataremos estas línguas como língua dominante e
língua não dominante. O objetivo é verificar o processo de gramaticalização
por meio da marcação de pessoa em posição sujeito (pronomes e verbos),
sempre levando em consideração a singularidade de cada criança e de sua
relação com a(s) língua(s). Interessa-nos, também, considerando a
importância da socialização no processo de aquisição da linguagem, isto é,
a maneira pela qual o indivíduo torna-se membro de uma sociedade
(OCHS:1999), observar como se dá essa socialização nas duas línguas,
como se dá a constituição da identidade em ambas e as marcas de
subjetividade que podemos encontrar nelas.

II SELIN - 127
Sessão de Paineis

A configuração da imagem do interlocutor no gênero


Reportagem

Rafael Henrique PALOMINO (UNESP/FCLAr)


Renata Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

Esta pesquisa propõe uma reflexão sobre como o gênero reportagem,


veiculado na revista impressa, instaura seu interlocutor. Partimos do
pressuposto de que a projeção da imagem do interlocutor no enunciado é
fruto da refração da posição ocupada por ele na atividade da imprensa.
Supomos que essa projeção, conforme reincida e seja apreciada socialmente,
pode entrar para a configuração do gênero. Nossos objetivos são ver: (1)
como se configura a imagem do interlocutor a que as reportagens visam;
(2) como essa imagem de interlocutor influi na produção do enunciado; (3)
como essa imagem de interlocutor influi na leitura; (4) que limitações a
essa imagem de interlocutor podem advir do próprio gênero. Conforme o
método de Bakhtin (1999:124), propomos proceder à análise fazendo,
primeiro, uma consideração sobre o contexto pragmático e sócio-histórico
da atividade de imprensa da época de nosso corpus e, depois, o estudo dos
enunciados, relacionando-os ao contexto. Delimitamos o gênero reportagem
por seus traços diferenciais com relação ao gênero notícia: aquele é maior,
mais profundo, analítico e interpretativo, tem linguagem mais livre e mais
espaço para a subjetividade. Consideramos reportagem, ainda, apenas os
enunciados que informem e reflitam sobre temas recentes da vida pública.
Adotamos um corpus de reportagens do último trimestre de 2008 das revistas
Veja, IstoÉ, CartaCapital e Época. Procederemos, primeiro, à análise dos
veículos em separado, e depois cruzaremos os dados obtidos em cada um,
de forma a obter certo panorama das práticas discursivas que, neste gênero,
tangem ao interlocutor, e podermos atingir os objetivos propostos.

128 - II SELIN
Sessão de Paineis

Linguagem verbal e linguagem não-verbal em


produções escritas escolares

Raquel Wohnrath ARROYO (UNESP/IBILCE)


Fabiana Cristina KOMESU (Orientadora)

Nosso objetivo, neste trabalho de pesquisa em fase inicial de


desenvolvimento, é estudar o modo como os sujeitos trabalham com recursos
extraverbais em um ambiente multimodal de computador com acesso à
internet. Da perspectiva teórico-metodológica assumida, interessa-nos
observar a relação que o sujeito estabelece com a linguagem verbal e não-
verbal e com os modos de representação construídos sobre a escrita, sobre
seu interlocutor e sobre si mesmo (cf. BAKHTIN, 1997; CORRÊA, 2004).
Tencionamos coletar produções textuais de caráter escolar (escritas em papel
e no computador com acesso à internet), desenvolvidas por crianças na
faixa etária de 06 a 09 anos de idade, regularmente matriculadas em uma
Escola Municipal de Ensino Fundamental da cidade de São José do Rio
Preto (SP). Considerando a internet como meio que disponibiliza novas
formas de comunicação, interação e articulação dos conhecimentos (cf.
LÉVY, 1993, 1999; KRESS & VAN LEEUWEN, 2001), acreditamos que
os estudos que visam ao debate sobre o desenvolvimento da capacidade
cognitiva e da competência discursiva dos usuários são necessários,
observando-se que, mesmo nas escolas em que o uso do computador é
facultado, há, comumente, a repetição de modelos utilizados em livros
didáticos impressos, pautados no desenvolvimento de habilidades centradas
na percepção e discriminação de formas. Acreditamos, assim, na relevância
dos estudos da chamada linguagem não-verbal como modo de investigar o
processo de aquisição de escrita (e de leitura) de crianças que participam
de práticas sociais em que o letramento digital parece implicar novas
estratégias de textualização (cf. SOARES, 2004; COSCARELLI &
RIBEIRO, 2005; BUZATO, 2006).

II SELIN - 129
Sessão de Paineis

Análise do Discurso e Semiologia: ressignificações


da memória discursiva em ambiente virtual

Renan Belmonte MAZZOLA (UNESP/FCLAr – Bolsista FAPESP)


Maria do Rosário de Fátima Valencise GREGOLIN (Orientadora)

Este projeto de pesquisa propõe dois movimentos investigativos que


se complementam: a) do ponto de vista teórico-metodológico, propomos
discutir a necessidade de articulação entre o arcabouço teórico da Análise
do Discurso de linha francesa e teorias semiológicas; b) do ponto de vista
analítico, propomos investigar o funcionamento e os efeitos de sentido da
ressignificação da arte em ambiente virtual. Portanto, a articulação entre
Análise do Discurso e Semiologia atende a uma exigência do nosso objeto
de análise, cuja natureza é multimodal (verbal e não verbal) e cujos suportes
e meios de circulação são digitais. Assim, tendo em vista que a Análise do
Discurso emergiu, no final da década de 60, na França, como uma
metodologia para a apreensão discursiva de sequências enunciativas verbais;
e que hoje ela se debruça sobre enunciados não verbais, ou cuja natureza
combina elementos verbais com não verbais, nossa pesquisa discutirá os
deslocamentos teóricos necessários para que a teoria possa descrever e
explicar essas materialidades discursivas de objetos contemporâneos. Para
isso, elegemos como objeto de análise a (re)apropriação de obras canônicas
(da literatura e da pintura) nas mídias digitais, pois esse movimento de
leitura e reescrita implica transformação nas formas materiais, na
historicidade, na relação entre sujeitos e a memória social e cultural etc.
Nosso corpus é constituído por duas modalidades de reapropriações
discursivas no meio digital: as reescritas de comunidades de fan fictions
(narrativas de fãs que intervêm no universo ficcional de obras canônicas
da literatura) e as reescritas parodísticas da pintura ocidental clássica
(presentes em sites e blogues nos quais são realizadas releituras da
iconografia de Leonardo da Vinci, Salvador Dalí, Vincent van Gogh etc.).
Dessa maneira, poderemos compreender um mesmo fenômeno – a
ressignificação – expresso verbal e imageticamente por meio de uma teoria
discursiva que possibilite um olhar semiológico para esses objetos.

130 - II SELIN
Sessão de Paineis

Integração conceptual e esquemas de imagem como


recursos metacognitivos para o ensino de verbos de
movimento em inglês

Rosana Ferrareto Lourenço RODRIGUES (UNESP/FCLAr)


Antônio Suárez ABREU (Orientador)

Em todas as línguas do mundo, os verbos de movimento são utilizados


polissemicamente para expressar situações diversas de seus sentidos
originais. Conhecer alguns dos seus principais usos polissêmicos é muito
importante para se aprender inglês com eficiência. Por essa razão,
acreditamos que uma descrição dos principais sentidos dos verbos de
movimento em inglês, a partir da teoria da integração conceptual e dos
esquemas de imagem, estudados por Fauconnier e Turner (2002) e
vinculados ao modelo da linguística cognitiva, pode dar origem a um
importante recurso metacognitivo para ampliar, por exemplo, a competência
de leitura do aprendiz de inglês como língua estrangeira. Um exemplo, em
português, seria o emprego do verbo ir em seu sentido original de deslocar-
se, em uma frase como “Ele foi a São Paulo”. É bastante comum, porém,
vê-lo empregado em frases como: Ele se foi (significando morrer); Ele foi
de contínuo a presidente da empresa (ser promovido profissionalmente);
Ele vai mal (estado); Esse tapete não vai bem com esse sofá (ser compatível).
Em inglês, ao estudar o verbo to go, verificamos, também, uma profusão
de sentidos polissêmicos além do sentido original que aparece, por exemplo,
em She goes to work by bus. Alguns exemplos seriam: I want this memo to
go to all managers (ser enviado); Where does this road go? (ser estendido
de um lugar a outro); This dictionary goes on the top shelf (ser colocado).
He is going mad (transformar-se). Considerando que o domínio desses
sentidos normalmente é ensinado de maneira assistemática, misturado aos
sentidos polissêmicos de outros verbos, principalmente no desenvolvimento
da competência da leitura, pretendemos apresentar uma aplicação didática
dos resultados da análise realizada. Para tanto, nosso corpus foi extraído
de provas de língua inglesa dos três últimos exames do vestibular brasileiro
da Fuvest.

II SELIN - 131
Sessão de Paineis

Análise reflexiva e colaborativa na (re)construção


das Identidades profissionais, sociais e culturais de
professores de LE (inglês) em pré-serviço

Selma Maria Abdalla Dias BARBOSA (UNESP/IBILCE)


Maria Helena VIEIRA-ABRAHÃO (Orientadora)

Este projeto de pesquisa tem como objetivo investigar e analisar


de forma crítica e colaborativa o processo de (re)construção das identidades
culturais, profissionais e sociais de alunos do curso de Letras de uma
Universidade Federal do extremo norte do Tocantins. Esta pesquisa será
qualitativa, longitudinal, de base etnográfica e cunho reflexivo e
colaborativo, na medida em que prioriza a interação entre as partes
envolvidas no processo, corroborando para uma reflexào dialética e
dialógica dos temas propostos ao grupo. Será utilizado como instrumento
de investigação, dentre outros (questionários, entrevistas, aulas gravadas
em áudio e vídeo) relatos reflexivos produzidos pelos sujeitos dessa
pesquisa, os quais são alunos que estejam ingressando na realidade de
observação e regência na sala de aula de língua estrangeira (neste caso a
inglesa) nas Escolas de Rede Pública de Ensino.O gênero autonarrativo
denominado relato-reflexivo, são estórias de vidas desses alunos-
professores, que em momentos pontuais serão dialogadas com o leitor-
pesquisador. No intuito de mapear a (re)construção de identidades culturais,
sociais e profissionais, nos propomos a analisar concomitantemente, os
aspectos afetivos e cognitivos, como por exemplo, as crenças que subjazem
o processo de formação de professores de língua estrangeira. Enfatizamos
que o termo identidade proposto neste estudo, assume uma natureza
multifacetada, provisória, fragmentada e mestiça, o qual será analisado
dentro dos construtos inter e transdisplinares vigentes da Linguística
Aplicada.

132 - II SELIN
Sessão de Paineis

Graus de gramaticalização, prototipia e


especialização das construções e dos conectivos
concessivos

Silvana ZAMPRONEO (UNESP/FCLAr)


Maria Helena de Moura NEVES (Orientadora)

A concessão é complexa, já que: (i) do ponto de vista lógico-


semântico, é concebida como negação de relações causais e condicionais
pressupostas e, do ponto de vista pragmático, como oposição de argumentos;
(ii) ocorre entre orações, sintagmas, frases e parágrafos; (iii) há diferentes
graus de factualidade das construções. Diante dessa complexidade sintático-
semântico-pragmática e da multifuncionalidade dos conectivos e das
construções concessivas, surgem algumas perguntas que constituem o
problema da pesquisa: 1. Existiriam construções e conectivos concessivos
prototípicos? Em caso afirmativo, a concessão prototípica seria a
pressuposicional (lógico-semântica e subjetiva) ou a não pressuposicional
(pragmático-discursiva, dialógica e intersubjetiva); a factual, a eventual
ou a contrafactual?; 2. Haveria um continuum de gramaticalização que iria
das relações lógico-semânticas subjetivas, via relações pragmáticas
intersubjetivas de oposição de argumentos, até relações discursivo-
pragmáticas de restrição e correção ao que se disse antes? Como essas
relações se configurariam nos níveis da Gramática Discursivo-Funcional
(GDF) de Hengeveld e Mackenzie (2008)?; 3. Existiriam, no português
brasileiro contemporâneo, diferentes estágios de gramaticalização de um
mesmo conectivo concessivo, o que o aproximaria ora de advérbio, ora de
conjunção prototípica, ora de marcador discursivo?; 4. Seria possível falar
em especialização dos conectivos, ou seja, conectivos que se vêm
especializando na marcação de valores específicos, como o semântico e o
discursivo apontados, e conectivos especializados na marcação de
factualidade, eventualidade e contrafactualidade? Objetiva-se, pois, analisar
a prototipia e a especialização das construções e dos conectivos concessivos
e os possíveis graus de gramaticalização em que se encontram tais
conectivos. A pesquisa fundamenta-se nos pressupostos da Gramática
Funcional e da GDF; em teorias de base funcionalista sobre gramaticalização
e (inter)subjetivização; e em teorias de base funcionalista-cognitivista sobre
prototipia. Realiza-se análise quantitativa e qualitativa de um corpus de
ocorrências de língua escrita extraídas da base de dados armazenada no
Centro de Estudos Lexicográficos da FCL/Ar.

II SELIN - 133
Sessão de Paineis

O leitor das crônicas machadianas da Gazeta de


Notícias

Sílvia Maria Gomes da Conceição NASSER (UNESP/FCLAr)


Prof. Dr. Arnaldo CORTINA (Orientador)

“O leitor machadiano das crônicas da Gazeta de Notícias” tem como


objetivo delinear o perfil do leitor das crônicas publicadas por Machado de
Assis, nesse jornal, durante o período de 1883 até 1897. Ao se referir ao
leitor, é possível fazê-lo a partir de duas perspectivas: uma delas estuda o
leitor enquanto um indivíduo real, sujeito do processo comunicativo, cultural
e socialmente constituído e determinado historicamente; a outra o enfoca
enquanto categoria do próprio texto. É nessa última perspectiva que o leitor
machadiano será estudado. É como contribuição para a construção dos
sentidos das crônicas machadianas que este trabalho se volta: delinear os
perfis dos seus leitores é desvendar elementos constituintes do seu sentido,
uma vez que todas as escolhas do enunciador estiveram sujeitas à imagem
por ele construída do enunciatário. Para a realização dessa análise proposta,
serão consideradas principalmente as crônicas nas quais o sujeito para quem
o enunciador se dirige é materializável na língua, ou seja, em que o
enunciatário – manipulado cognitiva e pragmaticamente pelo enunciador –
é materializado, a fim de se conformar uma imagem de leitor constituída
por Machado de Assis. Os mecanismos de construção do sentido que
remetem ao “fazer receptivo” do leitor, concebido como feixe de estratégias
do próprio texto literário, serão examinados a partir da observação das
crônicas selecionadas.

134 - II SELIN
Sessão de Paineis

Orações encaixadas em posição de sujeito:


gramaticalização e dessentencialização de orações
matrizes
Solange de Carvalho FORTILLI (UNESP/IBILCE - Bolsista FAPESP)
Sebastião Carlos Leite GONÇALVES (Orientador)
Orações em posição argumental de sujeito podem encaixar-se em
matrizes cujo núcleo é um verbo, um substantivo ou um adjetivo, como
mostram, respectivamente, as ocorrências em (01).
(01) a. Parece // que vai chover.
b. É verdade // que vai chover.
c. É lógico // que eu vou.
Para os propósitos descritivos do presente trabalho, interessam-nos matrizes
de natureza adjetival que se organizam sem o recurso da cópula, como em
(02):
(02) Lógico // que eu vou.
Para investigar, especificamente, a configuração sintática das construções
como em (02), parte-se da hipótese de que elas são resultantes de processos
de mudança identificados com a gramaticalização e a dessentencialização,
por meio dos quais ocorrem a redução da cópula da oração matriz e,
consequentemente, do complexo oracional, que de bi-oracional passa a
mono-orocional, e do estatuto categorial do adjetivo matricial, que passa a
ter um funcionamento adverbial. A oração “que eu vou”, em (02), parece
se encaixar numa matriz adjetival, dada a presença do complementizador
“que”, porém, uma reanálise começa a se esboçar em favor do
funcionamento adverbial do constituinte “lógico”. Há, portanto, nesse tipo
de enunciado, aspectos que, se analisados juntos, podem explicar essa nova
configuração que as chamadas orações matrizes de orações encaixadas em
posição de sujeito vêm ganhando. Observações preliminares indicam que
quanto mais gramaticalizadas, mais essas orações atuam na expressão de
atitude do falante, nem tanto pelo funcionamento que é típico dos adjetivos,
mas pelo caráter enfático que a estrutura adquire, dada a ausência da cópula.
A investigação empírica baseia-se em amostras do português falado na região
de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo (Projeto ALIP-Amostra
Linguística do Interior Paulista). Interessam-nos orações subjetivas que
apresentam, na matriz, a alternância [ser + adjetivo] / [adjetivo], que,
possivelmente, resulta de mudança identificada com a gramaticalização.

II SELIN - 135
Sessão de Paineis

Estudo da tradução de termos simples, expressões


fixas e semifixas presentes em um corpus paralelo
da subárea de Antropologia das Civilizações

Talita Serpa FRISENE (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Diva Cardoso de CAMARGO (Orientadora)

Com o propósito de examinar o uso do léxico na subárea de


Antropologia das Civilizações, procedemos à compilação de um corpus de
estudo, no formato paralelo, a partir de duas obras de autoria do antropólogo
Darcy Ribeiro e das respectivas traduções para a língua inglesa. Nossa
pesquisa insere-se em um projeto maior, PETra II, coordenado por Camargo
(2008), sobre características semelhantes e diferentes observadas na
tradução especializada no que concerne ao uso do conjunto léxico mais
frequente. Quanto à fundamentação teórica, baseamo-nos em Baker (1993,
1995, 1996, 2000), que propõe um arcabouço teórico-metodológico para
os Estudos da Tradução Baseados em Corpus, apoiando-se principalmente
no conceito de normas de Toury (1978) e nos estudos envolvendo Linguística
de Corpus (Sinclair, 1991). O trabalho de levantamento de dados foi
realizado com o auxílio das ferramentas fornecidas pelo programa
computacional WordSmith Tools. Contrastamos os dados do corpus
principal em relação aos dados de dois corpora comparáveis, formados de
textos de mesma natureza, originalmente escritos em português e em inglês.
Alguns resultados encontrados na primeira fase de análise mostram termos
simples como: “escravaria” /slaves; “culto”/worship; “pajelança”/
shamanism; “indianismo”/indianism; “patronato”/executives;
“macroetnia”/macroethnicity; “aldeamento”/settlement; “deculturação”/
deculturation; “etnocídio”/ethnocide; “genocídio”/genocide; “mito”/ myth;
“racismo”/ racism; e “preconceito”/ prejudice. Quanto às expressões fixas
e semifixas foram registradas, por exemplo: “ninguendade de não-índios”
/nobodyness of non-indians; “sincretismo da pajelança indígena”/syncretism
of indigenous shamanism; “protocélula étnica”/ ethnic proto-cell; “família
patriarcal”/ patriarchal family; “solidariedade elementar fundada no
parentesco”/ elementary solidarity founded on kinship; “alienação cultural”/
cultural alienation; “sistema de castas”/ caste system; e “retração das tribos
indígenas”/ withdrawal of interior Indian tribes. O estudo também permitirá
a elaboração de dois glossários, contendo termos simples e expressões fixas
e semifixas, acompanhados de seus cotextos, os quais poderão fornecer
subsídios a pesquisadores, tradutores, alunos de tradução e profissionais
da subárea de Antropologia das Civilizações.

136 - II SELIN
Sessão de Paineis

Estudo dos clíticos fonológicos nas cantigas


religiosas de Santa Maria

Tauanne Tainá AMARAL (UNESP/FCLAr – Bolsista CAPES)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo desta pesquisa é estudar o direcionamento da adjunção


de clíticos fonológicos no Português Arcaico, a partir das Cantigas de Santa
Maria (de Afonso X, o rei Sábio), a fim de se chegar à determinação do
direcionamento da cliticização e às pistas da formação de constituintes
prosódicos. Trata-se de averiguar a possibilidade de se considerar o grupo
clítico como constituinte prosódico relevante no PA. Para comprovar tal
possibilidade três fatores foram considerados: as pistas que vêm da música,
as que vêm da estrutura poética e o processo de sândi. Os resultados obtidos
acerca da possibilidade de os clíticos do PA assumirem proeminência poética
e musical apontam para a consideração da tonicidade do clítico no nível
lexical. Desta forma, o clítico só poderia ser adjungido a um constituinte
prosódico que preservasse a tonicidade da palavra, no nível lexical – o
grupo clítico, portanto. Com relação à possibilidade de os clíticos em PA
assumirem proeminência no nível poético, verificou-se que existe a
possibilidade de os clíticos suportarem os acentos da poesia. Ora, como os
acentos poéticos sempre recaem sobre sílabas acentuadas, essa
possibilidade, mesmo que esporádica, sugere que os clíticos tinham
tonicidade de algum tipo. Sobre o processo de sândi, pôde ser verificado
que os estudos realizados apontam para a atonicidade fonológica dos clíticos,
fazendo com que eles estejam sujeitos aos processos de sândi, caracterísitica
que comprova, novamente, a possibilidade de se considerar o grupo clítico
um constiuinte prosódico. A metodologia baseia-se no mapeamento dos
pronomes oblíquos e reflexivos clítico. Desta forma, a pesquisa visa uma
análise quantitativa e qualitativa dos dados, uma vez que, a partir da
quantificação da ocorrência dos pronomes oblíquos e reflexivos clíticos e
do seu posicionamento, pretende-se chegar a afirmações quanto à formação
de constituintes prosódicos superiores.

II SELIN - 137
Sessão de Paineis

Estudo das formas aumentativas e diminutivas em


Português Arcaico

Thais Holanda de ABREU (UNESP/FCLAr- Bolsista FAPESP)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

Este painel tem como objetivos o mapeamento e a análise de


processos morfofonológicos - sobretudo aqueles relacionados a fenômenos
prosódicos, como o acento - a partir dos modelos da Teoria da Fonologia
Lexical (FL) e da Fonologia Métrica. Considera-se como objeto os processos
morfofonológicos desencadeados pela adjunção dos sufixos de grau -inno
e variações, para o diminutivo, e –on(a), para o aumentativo, a bases
nominais, no Português Arcaico, século XIII. Para analisarmos os processos
morfofonológicos, esta pesquisa realizou, até o momento, a coleta e o
mapeamento de dados nas 420 Cantigas de Santa Maria (CSM) e também
nas 100 primeiras cantigas de escárnio e maldizer. O levantamento de dados
nas CSM revelou maior produtividade dos nomes diminutivos (45
ocorrências de diminutivo contra 9 de aumentativo). Em contraposição
ocorreu uma maior produtividade dos aumentativos nas 100 primeiras
cantigas de escárnio e maldizer (8 ocorrências de aumentativo contra 4 de
diminutivo). Essa situação pode ser explicada por meio do próprio objetivo
intrínseco aos textos do corpora, o de louvar a Virgem Maria e enaltecer os
milagres realizados por ela, favorecendo o uso de uma linguagem com uma
conotação afetiva – no caso das CSM- e o de difamar hábitos da corte,
propiciando o uso de uma linguagem mais pejorativa – no caso das cantigas
de escárnio. Após o mapeamento das ocorrências, este trabalho tem
investigado algumas propriedades dos diminutivos e aumentativos. Para a
FL, tais formações ocorrem em um nível lexical intermediário (nível â)
tanto em PB como em PA. Embasando-se na teoria da Fonologia Métrica,
diminutivos e aumentativos podem ser considerados formas compostas em
PA, pois se constatou a existência de dois acentos lexicais em algumas
ocorrências mapeadas nas CSM (um primário e um secundário), fato esse
a ser confirmado ainda nos dados que estão sendo mapeados nas 431 cantigas
de escárnio.

138 - II SELIN
Sessão de Paineis

O estudo do emprego da vírgula e do ponto em


textos escritos por alunos do último ano do Ensino
Fundamental

Vanessa Cristina PAVEZI (UNESP/IBILCE- Bolsa da Secretaria da


Educação do Estado de São Paulo)
Luciani Ester TENANI (Orientadora)

O projeto apresentado tem por interesse o estudo da pontuação


oscilante – ora vírgula, ora ponto – em textos de alunos do último ano do
Ensino Fundamental de uma Escola Estadual de São José do Rio Preto
(SP). Contamos com um conjunto de textos coletados no ano letivo de
2008. Nesses textos, analisaremos, mais especificamente, o emprego não-
convencional da vírgula e do ponto e a falta e/ou o excesso desses sinais de
pontuação. A fundamentação teórica se baseia, por um lado, na
heterogeneidade constitutiva da escrita, proposta por Corrêa (2004), e, por
outro lado, na fonologia prosódica, nos moldes de Nespor & Vogel (1986).
A metodologia de análise está baseada no paradigma indiciário proposto
por Ginzburg (1968). Têm-se por objetivos discutir: (i) como se dá a relação
entre o oral/falado e o letrado/escrito por meio da análise do emprego da
vírgula e do ponto; e (ii) em que medida o emprego da vírgula e do ponto
podem estar relacionados ao gênero textual e ao domínio, do escrevente,
de cada gênero analisado. Uma vez alcançados esses objetivos, esse trabalho
poderá contribuir para a compreensão de como se dá o processo de aquisição
da escrita com base em enunciados escritos por alunos que estão terminando
o Ensino Fundamental.

II SELIN - 139
Sessão de Paineis

Características semântico-discursivas de sujeitos


com doença de Parkinson e de sujeitos sem lesão
neurológica

Ymorian Vilela ZWARG (UNESP/IBILCE- Bolsista FAPESP)


Lourenço CHACON (Orientador)

Grande parte dos trabalhos da literatura biomédica sobre Doença de


Parkinson citam a ocorrência de hesitações e pausas, consideradas como
inadequadas, na fala desses sujeitos. Nesses trabalhos, esses fenômenos
são atribuídos, preferencialmente, às dificuldades motoras causadas por
essa doença. Em contraposição a essa tendência, trabalhos de orientação
enunciativo-discursiva têm observado relações semânticas envolvidas no
que a literatura biomédica frequentemente chama de “problemas de fala”,
nos enunciados de sujeitos parkinsonianos. Para os autores desses trabalhos,
marcas de hesitação (como pausas silenciosas, pausas preenchidas,
alongamentos, gaguejamentos, repetições e falsos inícios) indiciariam
momentos em que o sujeito que enuncia volta-se sobre seu próprio
enunciado, sobre o enunciado do seu interlocutor ou, ainda, sobre fatos
contextuais de sua produção enunciativo-discursiva. Esses trabalhos
mostram ainda que, em alguma medida, essas características (quando
marcadas por pausas e hesitações) diferem quando comparados sujeitos
com Doença de Parkinson e sujeitos sem lesão neurológica. Nossa proposta
é verificar em que medida características levantadas por esses trabalhos
dependem, em sua ocorrência, do apoio de pausas e hesitações em
enunciados de sujeitos com doença de Parkinson e em enunciados de sujeitos
sem lesão neurológica. Trata-se, portanto, de um trabalho comparativo.
Para desenvolvê-lo, extrairemos dados de registros de sessões de
conversação entre um documentador e sujeitos com Doença de Parkinson
e sujeitos sem lesão neurológica diagnosticada. Analisaremos os dados
embasados em teorias enunciativo-discursivas.

140 - II SELIN
COMUNICAÇÕES
Comunicações

Estudos fonológicos da língua guató (Macro-Jê)

Adriana Viana POSTIGO (UNESP/FCLAr- Bolsista FUNDECT)


Rogério Vicente FERREIRA (Orientador)

Esta dissertação teve por objetivo apresentar uma análise fonológica


sobre a língua do povo guató do estado de Mato Grosso do Sul. Todos os
dados apresentados neste trabalho foram coletados por meio de pesquisa
de campo, com o auxílio de três colaboradores bilíngues. Os pressupostos
teóricos fundamentam-se na teoria autossegmental, com o uso da geometria
de traços proposta por Clements; Hume (1995). Para cumprir com os
objetivos propostos, o trabalho está dividido em quatro seções: I. Povo e
língua guató, com informações sobre a demografia e localização, descrições
sobre o povo e sua trajetória desde o reconhecimento da etnia até a
demarcação das terras, uma sistematização comparativa dos registros e
estudos prévios e algumas considerações sobre a filiação genética entre a
língua guató e o tronco linguístico Macro-Jê; II. Descrição dos segmentos,
no qual apresentamos as consoantes e vogais, com os fones, fonemas e
contrastes em ambientes idênticos e análogos, os tons alto e baixo e a
variação do tom médio, as oposições tonais, downdrift ou downstep, a
classificação do sistema tonal e acentual, apontamentos articulatórios,
acústicos e breves comentários sobre os espectrogramas obtidos com o
auxílio programa Praat. III. Estrutura silábica, com a identificação dos
padrões silábicos CV e V, a distribuição de sílabas na palavra, os
agrupamentos vocálicos, a ressilabificação como resultado de processos
morfofonológicos, algumas considerações sobre a coda silábica a partir de
dados encontrados nos estudos anteriores e nos nossos; IV. Processos
fonológicos e morfofonológicosmais produtivos: inserção de [j] em
sintagmas verbais e inserção de [dA] em sintagmas nominais, elisão de
vogais [a] e [o] nos morfemas {mà-} e {gò-}, apagamento de [j] diante de
vogal anterior alta [i] e assimilação regressiva do traço de nasalidade.

142 - II SELIN
Comunicações

A escrita e sua caracterização no ciberespaço:


resultados parciais

Agenor Almeida FILHO (UNESP/FCLAr)


Rosane de Andrade BERLINCK (Orientadora)

Indubitavelmente, as conversas em salas de bate-papo possuem a


dinamicidade de uma conversa real, mas com a particularidade de se realizar
por meio da digitação, o que torna essa escrita também particular. A partir
da consideração de que: a) marcas dialetais caracterizam falares de regiões
diversas e falares diversos podem estar atrelados a diferenças de sexo, faixas
etárias e graus de escolaridade; b) A língua se manifesta na modalidade
falada e escrita e que fala e escrita possuem fortes relações entre si, c) o
sistema de escrita do PB é comum a todas as regiões brasileiras e d) que o
internetês possui tanto aspectos da língua oral quanto da língua escrita, a
pergunta que se faz necessária no contexto deste trabalho é se, à semelhança
da língua oral, a escrita usada nas salas de bate-papo (fortemente marcada
pela língua oral) apresenta diferenças que sejam particulares a internautas
de regiões diferentes, a determinada faixa etária, graus de escolaridade e
sexo. Perguntamos, nesse sentido, quais são as convergências e divergências
na escrita de internautas, considerando-se essas variáveis extralingüísticas.
Necessário se faz, portanto, avaliar se há um perfil dialetológico do
“internetês” dos falantes das cinco regiões geográficas brasileiras, com
vistas a se verificar a escrita de internautas em diferentes lugares do país,
de diferentes faixas etárias e graus escolaridade e sexo, nas escritas das
salas de bate-papo. Para alcançar os objetivos propostos foram
desenvolvidas as seguintes etapas: a) seleção de textos provenientes das
salas de bate-papo; b) levantamento das formas escritas que divergem da
ortografia oficial; c) descrição das formas divergentes; d) análise dos
processos fonológicos e/ou morfológicos subjacentes na forma escrita
divergente; e e) comparação das formas divergentes usadas nos textos dos
internautas das cinco capitais avaliadas.

II SELIN - 143
Comunicações

Um recorte na cidade: modos de conceber o índio


fora da aldeia

Águeda Aparecida da Cruz BORGES


(UNICAMP/UNEMAT - Bolsista FAPEMAT)
Mónica Graciela ZOPPI-FONTANA (Orientadora)

A complexidade e o dinamismo presentes na atualidade dificultam a


compreensão de certos fenômenos no espaço/tempo vividos. Isso é
determinante no modo de ser dos sujeitos, da história, da cultura e afeta o
processo de identificação desses sujeitos. Perguntamos-nos quem somos,
por que escolhemos isso ou aquilo? Pensando assim, entender o Outro, o
diferente é fundamental para que se possa construir qualquer que seja o
projeto visando a proposição de alternativas para uma vida melhor.
Desenvolvo, desde 2003, uma pesquisa sobre os índios Xavante em Barra
do Garças-MT, e percebo o quanto a presença deles na cidade produz
discursos conflituosos. Esta proposta se deve ao meu estranhamento quando
encontrei um grupo de índios Xavante nas redondezas da antiga Rodoviária
da referida cidade, em 1982, já que esperava encontrá-los nas aldeias; uma
ignorância talvez marcada pela aprendizagem escolar e pelo discurso
familiar, ou pela exaltação romântica ou pelo preconceito construído a partir
da visão européia, configurando um retorno à memória, não como
lembrança, mas como memória discursiva, interdiscurso, “algo que fala
antes, em outro lugar e independente” (ORLANDI: 2006, p.21). A memória
discursiva possui um laço estreito com os processos de identificação e
contribui para explicar o porquê deste trabalho, pois, após vinte anos, me
deparei com os Xavante no ‘mesmo’ espaço, no entanto em condições bem
diferentes: ali abriga, hoje, mendigos, bêbados, prostitutas, andarilhos, ou
seja, pessoas que sobrevivem à margem. Que sentidos guardam/mostram
esses sujeitos no cenário em foco? Qual é o acontecimento discursivo? São
algumas perguntas que nos levam a buscar o funcionamento desse recorte
da cidade.

144 - II SELIN
Comunicações

Formas de representação do discurso musical em


contos de Machado de Assis

Alexsandre Escorsi Messias MORO (UNESP/FCLAr - Bolsista CNPq)


Renata Maria Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

Em nossa dissertação, buscamos compreender a produtividade das


ideias do “Círculo de Bakhtin” no exame do diálogo e da interação entre o
sistema de linguagem musical e o sistema de linguagem verbal. Analisamos
formas de representação do discurso musical em contos de Machado de
Assis (1839-1908). Para tanto, refletimos inicialmente sobre a relação de
M. M. Bakhtin (1895-1975) com a música, o seu pensamento musical e sua
importância teórica para a constituição da metodologia dialógica de análise
da linguagem. Como são as ideias do Círculo sobre dialogismo, discurso
direto, indireto e indireto livre, polifonia, modulação tonal e sinfonismo
dialógico? A partir dessas ideias, como é possível analisar os alcances
objetivos do pensamento musical de Machado de Assis em seus contos?
Sendo assim, expomos e comentamos a estrutura, a organização e o
funcionamento do material, da forma e do conteúdo do “som significante”
representado na linguagem verbal e musical. Por meio dessa concepção
bakhtiniana, estudamos os alcances de continuidades e descontinuidades
materiais, formais e semânticas do pensamento musical nas relações do
sujeito com os elementos de linguagem musical e verbal. Desse modo,
exploramos como o discurso musical de Machado de Assis foi percebido e
tratado em perspectiva literária historiográfica e musicológica. Discorremos
sobre como o sujeito, o tempo e o espaço aparecem refletidos, refratados e
acomodados no diálogo da literatura com a música. Também examinamos
como os temas do discurso musical machadiano são modulados no gênero
conto e como eles são representados em esferas de atividades da cultura
musical brasileira. Por fim, analisamos a posição dialógica do sujeito autor
na enunciação do discurso musical e sua movimentação temática.

II SELIN - 145
Comunicações

A relação língua-cultura no ensino de LE: um estudo


sobre professores em serviço

Ana Cristina Biondo SALOMÃO (UNESP/IBILCE - Bolsista FAPESP)


Maria Helena Vieira ABRAHÃO (Orientadora)

A expansão tecnológica, que fornece a possibilidade de contato


com pessoas de diferentes países e culturas, altera sensivelmente nossas
relações sociais e a maneira como vemos e interpretamos o mundo em que
vivemos, trazendo impacto significativo na maneira como entendemos a
relação entre língua, cultura e sociedade. A relação entre língua e cultura
tem sido há muito tempo estudada, na área da Linguística Aplicada, por
vários pesquisadores na busca de compreender como elas interagem no
processo de aprendizagem de uma língua estrangeira. Poucos estudos, ainda,
enfocam tal questão da relação entre língua e cultura e da visão do papel da
cultura no ensino de línguas sob o ponto de vista dos professores que já se
encontram atuando em sala de aula, fazendo cursos de formação continuada.
Esta apresentação pretende trazer alguns dos resultados parciais de um
estudo sobre a relação de comunicação intercultural mediada por
computador estabelecida na parceria de um grupo brasileiro de professores
de espanhol como língua estrangeira e um grupo uruguaio de professores
de português como língua estrangeira, na realização de sessões de
teletandem, parte integrante do projeto “Teletandem Brasil: línguas
estrangeiras para todos”, da UNESP, com apoio FAPESP (processo 15.071-
5). As sessões de teletandem, parte de um curso de extensão híbrido
oferecido pelo projeto “Teletandem Brasil” para professores da rede pública
de uma cidade no interior do estado de São Paulo, intitulado “Formação do
Professor para o Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras em
Tandem”, ocorreram entre maio e agosto de 2009. Tal curso foi considerado
híbrido por contar com 4 aulas teóricas presenciais, de 4 horas de duração
cada, atividades no ambiente virtual Teleduc e sessões teletandem com
parceiros estrangeiros (uruguaios). Os resultados trazem implicações para
a área de formação de professores de línguas estrangeiras na
contemporaneidade.

146 - II SELIN
Comunicações

A escrita (de si) na virtualidade

Ana Claudia Cunha SALUM (UNICAMP)


Maria José CORACINI (Orientadora)

Objetivamos discutir as representações de professor, língua, aluno,


profissão e aspectos da(s) identidade(s) que emergem das escritas (de si)
de professores de inglês inscritos em sites de relacionamento virtual e,
desse modo, observar traços da sua constituição identitária. Com base no
pressuposto de que do falar de si irrompem desejos, desvaneios,
(dis)sabores, (in)satisfações, que revelam a identidade camaleônica do
sujeito e a sua constitutividade heterogênea (ECKERT-HOFF, 2008:139),
nossa análise gira em torno da escrita (de si) em comunidades virtuais de
relacionamento e o que essa escrita pode desvelar da constituição identitária
desses professores. Este trabalho é um recorte de nossa pesquisa de
doutorado em andamento, que consiste na leitura de relatos e descrições
de/sobre professor, língua, aluno, enfim, sobre variados temas que
circundam o universo do professor de línguas, no intuito de compreender a
construção das suas representações no meio virtual. Tomamos como objeto
de análise relatos e descrições contidas nos Fóruns de duas comunidades
virtuais de relacionamento de professores de inglês, a saber, Orkut e ELT-
online community, em que os professores revelam, comentam e discutem
sobre diversos aspectos do ser e do fazer do professor de inglês.
Especificamente para esta apresentação, selecionamos excertos em que os
professores narram suas histórias de vida, as quais nos possibilitam desvelar
uma constituição identitária dispersa e fragmentada. Amparados por uma
perspectiva teórica discursiva-desconstrutivista, como resultado parcial de
nossas análises, notamos que pela escrita (de si) em contextos virtuais de
relacionamento vislumbramos o desejo do professor em recuperar algo do
seu passado, a fim de explicar o seu presente. No entanto, sendo as histórias
inapreensíveis em sua totalidade (uma vez que memória é sempre
interpretação), restou a esses professores preencherem essas brechas com
construções imaginárias, que permitiram a ilusão de explicar seus fracassos,
seus sucessos, seus (des)gostos, suas razões, suas concepções e suas
escolhas.

II SELIN - 147
Comunicações

Grau de Gramaticalização de perífrases verbais:


ferramentas de análise

Ana Maria Hernandes da FONSECA (UNESP/IBILCE - Bolsista FAPESP)


Sebastião Carlos Leite GONÇALVES (Orientador)

No presente trabalho apresentamos, inicialmente, dois tipos de


critérios que permitem aferir o grau de gramaticalidade de perífrases verbais:
(i) o critério da frequência token e type da construção, norteado pela
tendência em gramaticalização de que formas mais gramaticalizadas se
tornem mais frequentes no discurso e apresentem um número maior de
funções (BYBEE, 2003); e (ii) os critérios de auxiliaridade (HEINE, 1993;
LOBATO, 1975; LONGO, 1990; LONGO & CAMPOS, 2002), os quais
permitem estabelecer a conexidade (LEHMANN, 1982) entre os elementos
que compõem uma construção verbal perifrástica, considerando que quanto
maior o número de critérios de auxiliaridade atualizado numa construção,
mais gramaticalizada ela estará. Em um segundo momento, mostramos,
com base em dois estudos de caso – gramaticalização e multifuncionalidade
da construção IR+INFINITIVO (FONSECA, 2009) e de construções com
os verbos ANDAR, CONTINUAR, FICAR e VIVER seguidos de gerúndio
(FERNANDES, 2010) – que tais critérios, por apresentarem resultados
divergentes quanto aos graus de gramaticalização, estariam indiciando uma
especialização para objetivos diferentes de pesquisa: para um estudo que
leve em conta formas diferentes de codificação de uma mesma função,
ESTRATIFICAÇÃO, nos termos de Hopper (1991), como é o caso do estudo
de Fernandes (2010), a ferramenta mais adequada seria o critério da
frequência; já para um estudo que leve em conta uma forma e os diferentes
domínios funcionais que ela pode integrar sincronicamente,
DIVERGÊNCIA, também nos termos de Hopper (1991), conforme
apresenta Fonseca (2010, inédito), a ferramenta mais adequada seria a
verificação dos critérios de auxiliaridade. No momento, é possível
concluirmos que não há incoerência entre os dois tipos critérios, na
investigação de um mesmo fenômeno gramatical, como o da formação de
perífrases; o que defendemos é que o que deve nortear a escolha de um ou
outro conjunto de critérios é decisão metodológica anterior do analista,
pautada pelos princípios da estratificação e da divergência (HOPPER, 1991):
se se parte da função para a forma ou se se parte da forma para a função.

148 - II SELIN
Comunicações

O ethos na linguagem da criança: um caminho para


a identidade enunciativa

Ana Paula CINTA (UNESP/FCLAr - Bolsista CAPES)


Alessandra DEL RÉ (Orientadora)

Partindo da noção de ethos proposta por Maingueneau (1999) e dos


dados de uma criança (A, 20-33 meses), pretende-se desvendar a relação
entre a construção da identidade e de sua própria imagem, por meio de
filmagens em situações de interação com seus pais e pessoas próximas, em
atividades de seu dia-a-dia. Para tanto, dentro de uma perspectiva sócio-
interacionista (Bruner), verificar como se dá a relação dessa criança com a
linguagem, uma espécie de espelho refletida pela língua. Assim, com base
na afirmação de F. François (2006) de que a criança entra na linguagem de
maneiras diferentes, será analisada a trajetória de uma criança em particular
no processo de aquisição, resultado de escolhas feitas por ela, e que
contribuíram para a formação de seu ethos. Se houver uma boa
correspondência entre a imagem que o orador faz de seu auditório, e vice-
versa, haverá eficácia do discurso, fato a partir do qual depreende-se que a
construção discursiva se faz num jogo especular em que o orador constrói
sua imagem em função da imagem que ele cria de seu auditório.
Considerando que os estudos que têm privilegiado a questão do ethos
referem-se ao discurso do adulto, propomos observar como se constrói a
imagem do enunciador, isto é, a criança que desempenha o papel de ator da
enunciação, no discurso por ela produzido, e que revela um processo de
constituição de um sujeito (enunciador).

II SELIN - 149
Comunicações

Um olhar semiótico para as obras do gênero


Fantasia mais vendidas no período de 1980 a 2007

Bruna Longo BIASIOLI (UNESP/FCLAr)


Arnaldo CORTINA (Orientador)

Por meio do levantamento que feito através do Jornal Leia, do Jornal


do Brasil, da revista Veja e da revista Época, chegamos à lista dos livros
que se enquadram no gênero Fantasia mais vendidos durante o período de
1980 e 2007 e, posteriormente, pretendemos analisar todos os livros
coletados de acordo com a teoria semiótica greimasiana. Tendo em mente
que a Fantasia é um gênero literário que se expande e, cada vez mais, é
aceito pelos públicos jovem e adulto, o objetivo principal deste projeto de
doutorado é delinear o perfil do leitor desse tipo de texto, a fim de detectar
o que esse público busca nos livros que lê. Esse projeto de doutorado é
uma continuação de trabalhos desenvolvidos pela pesquisadora em sua
graduação (Estágio Departamental e Iniciação Científica) e em sua pós-
graduação (mestrado), desenvolvidos nesta mesma Instituição de ensino e
sob os cuidados do mesmo orientador proposto para o curso de doutorado.
Para este evento, pretendemos definir os objetivos e propostas do trabalho,
bem como explicar nossos critérios ao definir o gênero Fantasia. Além
disso, pretendemos ilustrar como a teoria semiótica pode ser um suporte
teórico-metodológico de grande eficiência para analisar, no caso de nosso
estudo, sobretudo textos fantásticos. Mostraremos, também, alguns dos
livros mais vendidos no período que a pesquisa abarca para conhecimento
do público.

150 - II SELIN
Comunicações

Discussões em torno das variantes do espanhol em


um curso multimedial de formação contínua de
professores

Carla Mayumi MENEGHINI (UNESP/IBILCE)


Maria Helena Vieira ABRAHÃO (Orientadora)

Esta é uma investigação de natureza qualitativa, que se insere dentro


do projeto temático guarda-chuva “Teletandem Brasil: línguas estrangeiras
para todos” (2006). Ela tem como foco investigar as contribuições
tecnológicas e linguísticas do projeto de extensão “Formação do Professor
para o Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras em Tandem”,
proposto para a formação contínua de professores de espanhol de Centros
de Estudos de Línguas do interior paulista, dentro desse novo contexto
multimedial de ensino e aprendizagem de línguas, que é o projeto temático.
Nesta apresentação, focalizo os posicionamentos dos professores envolvidos
no curso com relação às variantes do espanhol, apresentadas por ocasião
da coleta de dados. Em 2005 foi sancionada a Lei Federal 11.161/05, que
tornou obrigatória a oferta da língua espanhola nas escolas de ensino médio
do país, além de prever sua implantação no prazo de cinco anos. No entanto,
isso ainda não se efetivou no Brasil, segundo dados de uma reportagem do
Jornal O Estado de São Paulo (disponível em http://www.estadao.com.br/
estadaodehoje/20100115/not_imp495939,0.php ). Em um contexto de
dificuldade de implantação da lei e de outros problemas relacionados à
política linguística contraditória adotada no país (ORIENTAÇÕES
DIDÁTICAS DO ESPANHOL, 2006; PINTO E VENÂNCIO DA SILVA,
2009), seria importante refletir sobre os posicionamentos dos professores
de espanhol com relação às variantes espanholas, buscando, dessa forma,
um olhar mais crítico em torno desses posicionamentos e relacioná-los às
políticas linguísticas. Para isso, esta pesquisa tem por dados primários
aqueles registrados no ambiente virtual Teleduc (fóruns e bate-papos), bem
como as gravações em áudio das aulas presenciais / videoconferência e das
entrevistas. Por meio da análise em busca de recorrências, os dados
categorizados e triangulados procurarão apresentar tais posicionamentos.

II SELIN - 151
Comunicações

Interação via videoconferência no ensino-


aprendizagem de língua espanhola: análise do
processo de mediação online em tempo real

Carla Raqueli Navas LORENZONI (UNESP/FCLAr)


Ucy SOTO (Orientadora)

As novas tecnologias possibilitam o desenvolvimento de trabalhos


diferenciados em relação ao processo de interação, seja ele síncrono ou
assíncrono, oral ou escrito. Esta pesquisa está focada na análise do processo
de mediação / interação oral em um curso online via videoconferência em
tempo real. Esse curso, relacionado à aquisição de Língua Espanhola, está
centrado em aspectos pertinentes à compreensão leitora. Além disso, está
direcionado a universitários regularmente matriculados no primeiro semestre
dos cursos de Licenciatura em Letras / Espanhol – diurno e noturno, da
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Com a pesquisa, refletiremos
sobre a concepção de linguagem que a define como “lugar de interação,
que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos
tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e / ou comportamentos,
levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente
inexistentes.” (Koch, 1993). Desta forma, procuraremos, verificar o
aproveitamento da videoconferência no processo de interação que permeia,
por sua vez, o processo de ensino e aprendizagem de Língua Espanhola e,
com isso, identificar algumas questões, como reflexões e / ou sugestões
para os professores que atuam ou desejam atuar na modalidade EaD. É
válido lembrar que diversos aspectos abordados nesta pesquisa podem ser
úteis para o trabalho de ensino de ensino e aprendizagem de outras línguas
estrangeiras.

152 - II SELIN
Comunicações

As cartas de Chico Xavier: uma análise semiótica

Cintia Alves da SILVA (UNESP/FCLAr - Bolsista CNPq)


Jean Cristtus PORTELA (Orientador)

Atividade organizadora de um sistema de crenças, práticas e valores,


a psicografia ou escrita mediúnica integra as manifestações culturais letradas
que pretendem legitimar o referencial doutrinário do espiritismo kardecista
no Brasil. Seu produto imediato, o texto psicográfico, constitui peça
fundamental na consolidação e atualização desse sistema religioso, que, ao
valorizar uma cultura bibliográfica, impulsiona, por consequência, a
dinâmica de um crescente mercado editorial espírita. Essa prática
popularizou-se, no Brasil, principalmente graças a Francisco Candido Xavier
(1910-2002), o médium Chico Xavier, como é mais conhecido, que se
destaca em meio ao cenário religioso e cultural por uma produção
bibliográfica de mais de 450 títulos, atingindo a marca de 50 milhões de
exemplares vendidos, cuja renda foi inteiramente doada para instituições
de caridade. A esse respeito, ele dizia que os livros não lhe pertenciam,
uma vez que ele mesmo não havia escrito nenhum. “Eles escreveram”,
afirmava. Mas quem seriam “eles”, os “autores” dessas obras que Chico
declarava receber mediunicamente? Teriam essa escrita e esses “escritores”
marcas claras de autonomia/individualidade? Com base nos estudos da
linguagem, sob a perspectiva da Semiótica da Escola de Paris, preconizada
por A. J. Greimas e seus colaboradores, propomos realizar uma investigação
semiótica sobre os processos de construção da autoria, compreendida como
identidade do enunciador, nas cartas familiares escritas por Chico Xavier e
atribuídas a “autores espirituais”, buscando compreender como se dá a
constituição dos diferentes éthe manifestados em sua epistolografia
psicográfica. Por meio da análise das cartas psicografadas, pretende-se
demonstrar como a configuração semiótica (enunciva e enunciativa) desses
textos concorreria para caracterizá-los como um gênero do discurso,
diferenciando-os dos textos epistolares “típicos” e ampliando, por
consequência, a sua compreensão como produtos de uma prática semiótica
que, por seu impacto sociocultural e editorial, merece ser mais
profundamente estudada.

II SELIN - 153
Comunicações

Metaliteratura e Interdiscursividade: uma busca pelo


diálogo entre criação e teoria em O Recital, de Luís
Fernando Veríssimo

Claudio BRITES (Universidade Cruzeiro do Sul)


Maria Valíria Aderson de Mello VARGAS (Orientadora)

A palavra caminha ao lado do homem, de sua realidade tangível.


Não fabricamos as coisas com o dizer, elas existem independentes de nossa
vontade, contudo, as significamos com as palavras. E temos consciência,
em menor ou maior grau, dessa nossa relação com a linguagem. Isso se faz
evidente em nossa postura ativa durante o falar, o comunicar. Estamos o
tempo todo dando significado ao que dizemos, organizando nossas
exposições, retomando, corrigindo, reavaliando, pois sabemos da
importância de sermos entendidos e sabemos que esse entendimento só é
possível pela linguagem. Podemos dizer que a postura que assumimos nessas
situações de retomada, reavaliação, reconstrução, resignificação é uma
postura metaenunciativa, enunciação tratando de enunciação. Essa atitude
reflexiva da linguagem também se faz presente na literatura. É o que
podemos chamar de metaliteratura, ou metaficção, que é uma ficção que,
de modo geral, inclui em si mesma um comentário sobre sua própria
identidade narrativa e/ou linguística, “Narcisista” (HUTCHEON, 1970),
pretendemos mostrar como se configura o interdiscurso e a heterogeneidade
constitutiva na metaliteratura, com a hipótese de que sua natureza reflexiva
acaba dialogando diretamente com o discurso da teoria literária.
Inevitavelmente, a criação metaliterária trás para dentro a teoria literária
que a cerca. Por conta disso, a metaliteratura pode servir de ponto de partida
para interessados em desvendar os segredos da ficção. O texto analisado
será uma crônica do escritor Luis Fernando Veríssimo, O recital, que aborda
como se dá a construção de um conto. Teremos como base para essa análise
as teorias da Análise do Discurso de linha francesa, mais especificamente
os textos de Pêcheux, Focault e Maingueneau, no que concerne aos conceitos
de ideologia, formação discursiva, cenas da enunciação, interdiscurso e
heterogeneidade discursiva. Como base para as reflexões teóricas sobre
teoria literária, usaremos as reflexões de Poe e Todorov.

154 - II SELIN
Comunicações

A não-concordância verbo-sujeito: uma regra


inovadora em contextos de língua escrita do
Português brasileiro?

Cleber Alves de ATAIDE (UFPB - Bolsista CAPES)


Maria Elizabeth Affonso CHRISTIANO (Orientadora)

O objetivo deste artigo é fornecer uma interpretação funcionalista


de orientação norte-americana, sob a perspectiva do processo de
gramaticalização, do fenômeno da não-concordância verbo-sujeito no
Português do Brasil. Partimos das hipóteses de que nas cláusulas de estrutura
VS o termo que ocupa a posição de sujeito se reorganiza no nível
sintagmático e se ressintaticisa, despindo-se de características prototípicas
e assumindo parte do comportamento sintático-semântico de objeto.
Acreditamos também que a ordem VS pode estar refletindo uma estrutura
heterogênea, representando construções que manifestam alguma estratégia
discursiva dos falantes por isso tende a não concordar com o sujeito plural.
Para concretizar nossa idéia, decidimos empreender esta pesquisa, tomando
por base um corpus constituído por textos escritos, que são exemplares do
monitoramento da língua, como textos publicados em jornais, trabalhos de
dissertação, de teses, e outros documentos escritos nos quais se fique
evidente o uso da regra inovadora “a não-concordância” verbo-sujeito.
Optamos por essa escolha, porque pretendemos cotejar os resultados para
compreender até que ponto a regra da não-concordância com o sujeito
posposto vem se fixando sobre os estilos monitorados da língua escrita,
caracterizando, portanto, por uma possível mudança linguística, uma vez
que, em contextos mais monitorados da língua, começa a aparecer com
freqüência. Os princípios teóricos que orientam nossas análises partem dos
trabalhos sobre gramaticalização encontrados em Berlinck (1997), Castilho
(1997), Furtado da Cunha (1999), Givón (1995), Lehmann (1982),
Martelotta (2009) e Martelotta; Votre & Cezário (1996).

II SELIN - 155
Comunicações

Estratégias de construção textual do chat


educacional sob a perspectiva textual-interativa

Crisciene Lara Barbosa PAIVA (UNESP/FCLAr - Bolsista CNPq)


Ucy SOTO (Orientadora)

O objetivo deste trabalho é apresentar uma descrição, sob a


Perspectiva Textual-Interativa, tal como descrita por Jubran (2006, 2007),
de estratégias de construção textual do chat educacional que estão inscritas
na superfície textual. No âmbito de uma descrição textual-interativa,
segundo Jubran (2006), é “fundamental que o produto lingüístico sob análise
seja abordado dentro do contexto sociocomunicativo do qual emerge, a
partir das marcas concretas que a situação enunciativa imprime nos
enunciados” (p. 29). Jubran (2006) ressalta, ainda, que “as condições
comunicativas que sustentam a ação verbal inscrevem-se na superfície
textual, de modo que se observam marcas do processamento formulativo-
interacional na materialidade lingüística do texto” (p. 29). O corpus de
análise constitui-se de sessões de chat de dois cursos de espanhol, intitulados
“Español para Turismo”, ministrados totalmente a distância. Cada curso
foi nomeado a um professor responsável para dirigir turmas distintas de
alunos, os quais já tinham um conhecimento básico da língua estrangeira.
Dessa forma, as sessões foram escritas em língua espanhola, sem o uso de
recursos de áudio e vídeo, por participantes brasileiros. Os cursos foram
oferecidos como um curso de extensão de 40h no segundo semestre de
2007, na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista,
campus Araraquara. O programa de chat utilizado foi o da plataforma
moodle. O chat foi uma das atividades obrigatórias do curso, realizado
com uma metodologia de trabalho por tarefas que, necessariamente, tinham
que ser discutidas via chat entre alunos e entre alunos e professor.

156 - II SELIN
Comunicações

O(s) obscuros(s) dizer(es) do sujeito e a inscrição


social da família

Cynara Maria Andrade TELLES (REUNI - Bolsista CAPES)


Nadea Regina GASPAR (Orientadora);
Lucília Maria Sousa ROMÃO (Co-orientadora)

O objetivo do presente trabalho é investigar através de entrevistas, a


materialidade discursiva das mães de filhos autistas, e as muitas vozes
representadas em seus dizeres. Utilizaremos como referencial teórico a
Análise do Discurso de filiação francesa, que marca seu lugar na ciência
apoiada na materialidade da língua falada, escrita e documentada pelo
homem que se contextualiza num determinado processo histórico.
Denominada uma disciplina de interpretação, trabalha num vaivém de um
já-dito, com sentidos já legitimados antes e em algum lugar, e a possibilidade
para a abertura de novos sentidos, por meio da deriva, da paráfrase, e da
metáfora. Teremos neste trabalho, como foco principal o conceito de sujeito
faltoso, errante, marcado por um caráter singular, e que circula por várias
posições discursivas. O sujeito (do inconsciente) que assume sua posição,
quando convocado pela ideologia a ocupar esse lugar, se caracteriza por
uma posição transversal e dispersa, com campos de opacidade que o fazem
percorrer territórios obscuros, preso a uma rede de memórias, e inscrito em
uma rede social que lhe garante um lugar. Este conceito se contrapõe ao
conceito de indivíduo estabilizado e mensurável, fonte de seu agir e dizer,
claramente definido e representado pela ciência positivista. Na
particularidade desse trabalho nos interessa investigar os efeitos do discurso
científico sobre as mães, e a criança denominada autista, pois, dada a
precocidade do quadro, a grande maioria dos teóricos que estudam tal
patologia, reconhecem como fator predisponente, uma falha no
estabelecimento do vínculo mãe-bebê.

II SELIN - 157
Comunicações

O discurso instalado pelos sites de pesquisa:


sentidos sobre a mulher na política

Daiana de Oliveira FARIA (USP/FFCLRP)


Lucília Maria Sousa ROMÃO (Orientadora)

Pensando nas implicações sociais do funcionamento da linguagem,


os estudos discursivos, em particular a Análise do Discurso (AD), concebe
a linguagem a partir da sua relação com a história, questionando a
historicidade dos dizeres e a ilusão de transparência da linguagem. Isso
posto, mobilizamos os pressupostos da teoria de AD trazendo-os para a
atualidade, observando por meio deles o funcionamento da língua no suporte
eletrônico, constituindo nosso corpus de análise com os chamados SERPs
(Search Engine Results Page) que contornam os resultados das buscas
realizadas nos sites de pesquisa. Julgamos que os resultados obtidos nestas
buscas vêm a confirmar a existência de um discurso dominante,
estratificando os sentidos dominantes construídos historicamente por meio
do funcionamento da memória discursiva e, ao mesmo tempo, como este
discurso, que tende à hegemonia, pode ser rompido e desconstruído. Dada
as novas discursividades impulsionadas pela inserção das tecnologias de
informação e comunicação (TIC’s), observamos o funcionamento discursivo
dos SERP´s, neste caso Google, AltaVista, Cadê? e Bing. Mobilizamos os
pressupostos conceituais da teoria de Análise do Discurso de matriz francesa
para interpretar os modos de produção, constituição e circulação do discurso,
em suporte eletrônico, sobre os significantes “Dilma Rousseff” e “Marina
Silva”, nomes de mulheres que têm ganhado relevância nos últimos dois
anos no âmbito político e que inscrevem um modo bastante singular de
atualização da memória discursiva sobre ser mulher em nosso país. Nesse
estudo, buscamos combinar a teoria do discurso e as sobre a sociedade
contemporânea para flagrar os sentidos de mulher na política.

158 - II SELIN
Comunicações

Interface música e linguística no estudo do


português arcaico

Daniel Soares da COSTA (UNESP/FCLAr- Bolsista CNPq)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo principal deste trabalho é desenvolver, por meio de uma


interface entre a Música e a Linguística, uma nova proposta metodológica
que auxilie na busca de dados sobre a ocorrência de acentos (lexicais ou
prosódicos) em línguas mortas. No caso deste trabalho, o estudo se concentra
no Português Arcaico. A metodologia aqui desenvolvida baseia-se na
observação, em textos poéticos musicados, dos tempos fortes dos compassos
musicais junto com a observação das sílabas dos textos e da métrica do
poema. Utilizando como corpus um recorte de cem Cantigas de Santa Maria
de Afonso X, tomadas a partir da edição de Anglés (1943) que traz as
partituras transcritas para a notação musical atual, fizemos um mapeamento
das coincidências entre as proeminências musicais e as sílabas das palavras
na tentativa de localizar acentos no interior dos versos dessas cantigas.
Pudemos observar, por meio da aplicação dessa metodologia, que as
proeminências musicais marcam a sílaba tônica das palavras em mais de
sessenta por cento dos casos. Além disso, a metodologia também nos
proporcionou a chance de estudarmos fenômenos até então inéditos no
estudo da prosódia do Português Arcaico, tais como a observação dos limites
de ocorrência do acento secundário e também do acento frasal. Outros pontos
analisados foram tonicidade de monossílabos e o status prosódico de clíticos,
palavras proparoxítonas, questões de silabação, determinação da pauta
prosódica de palavras que não estão mais em uso e choques acentuais.
Trabalhos nesse sentido vêm sendo desenvolvidos, há alguns anos, por
pesquisadores pertencentes ao grupo de pesquisa Fonologia do Português:
Arcaico & Brasileiro - registrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do
CNPq.

II SELIN - 159
Comunicações

Os instrumentos linguísticos na revista do IHGB

Dantielli Assumpção GARCIA (UNESP/IBILCE- Bolsista FAPESP)


José Horta NUNES (Orientador)

Em 1838, funda-se na cidade do Rio de Janeiro, a partir de um projeto


apresentado à Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) por
Januário da Cunha Barbosa e por Raymundo José da Cunha Mattos, o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Essa Instituição tinha
como meta a coleta, a metodização e a divulgação de materiais produzidos
sobre a história e a geografia do Brasil. A Revista do IHGB é um lugar em
que se pode observar esse objetivo sendo alcançado. Essa Revista inicia
suas publicações em 1839 e mantém sua circulação até os dias atuais. Neste
trabalho, refletiremos sobre como o saber linguístico constitui o discurso
da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no século XIX
(1838-1889), analisando especificamente de que maneira os instrumentos
linguísticos (principalmente os dicionários) são coletados e divulgados nas
Revistas do IHGB. A Revista do IHGB dedicou-se à publicação/
documentação de vários instrumentos linguísticos. Sua prática centraliza-
se na produção de vocabulários bilíngues de línguas indígenas. Contudo, a
Revista publica também uma obra regionalista que traz palavras da província
de S. Pedro do Rio Grande do Sul e uma obra de especialidades (Dicionário
Topográfico da Província do Espírito Santo). Assim, refletiremos, neste
trabalho, sobre como se constituem os instrumentos linguísticos e como
eles formulam um discurso que discorrerá sobre as línguas do Brasil. Para
isso, analisaremos os textos introdutórios, a nomenclatura, a definição, a
etimologia apresentados nesses instrumentos linguísticos. Nossa perspectiva
teórica é a da Análise de Discurso em articulação com a História das Ideias
Linguísticas.

160 - II SELIN
Comunicações

Estruturação do conhecimento e relações


semânticas: uma ontologia para o domínio da
Nanociência e Nanotecnologia

Deni Yuzo KASAMA (UNESP/IBILCE - Bolsista CAPES)


Claudia ZAVAGLIA (Orientadora)

O Processamento de Língua Natural (ou PLN) tem sido objeto de


estudo de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento. O léxico
é, sem sombra de dúvida, elemento essencial para o tratamento automático
de dados linguísticos, sendo a sua análise semântica fator crucial para um
efetivo processamento computacional que, não raro, encontra barreiras em
questões ligadas a uma representação semântica eficaz e que permita ser
representada em linguagem de máquina. Na Terminologia, esse tratamento
semântico favorece o estabelecimento de relações existentes entre unidades
lexicais especializadas, e determina a elaboração de definições
terminológicas coerentes e representativas ao campo de especialidade ao
qual pertencem. Nesse sentido, propomos neste trabalho traçar uma estrutura
conceitual do domínio da Nanociência e Nanotecnologia, em língua
portuguesa do Brasil, visando a criação do que modernamente se conhece
por ontologias, cujos preceitos nortearam o desenvolvimento desta pesquisa.
Aliada a essas práticas, encontra-se a importância da adoção de um modelo
que permita representar formalmente as relações semânticas existentes entre
os diversos termos que compõem essa área técnico-científica. A busca por
essas unidades lexicais especializadas e suas relações deu-se em um córpus
formado por textos de tipologia diversa, com o auxílio de ferramentas
computacionais – de extração semiautomática de termos e ferramenta
Unitex, um processador de córpus que nos permitiu individualizar as
relações semânticas no domínio, observando-se a ocorrência de expressões
como, por exemplo, é usado em, é composto(a) por, é medido por (segundo
a Estrutura Qualia de Pustejovsky, 1995). A modelagem do domínio em
questão e sua representação em uma linguagem corrente e atual (a saber, a
linguagem OWL) fez-se com o auxílio da ferramenta Protégé. Defendemos
aqui a necessidade, cada vez mais crescente, da adoção de métodos eficazes
para o delineamento de estruturas conceituais a fim de executar tarefas
computacionais que utilizam informação linguística.

II SELIN - 161
Comunicações

Harmonia nasal em Terena (ARUAK)

Denise SILVA (UNESP/FCLAr - Bolsista CAPES)


Cristina Martins FARGETTI (Orientadora)

O presente trabalho é um recorte da dissertação de mestrado


Descrição fonológica da língua Terena (aruak) e tem por objetivo apresentar
o processo morfofonológico da harmonia nasal na língua terena. A harmonia
é um padrão fonológico em que uma seqüência de vogais e/ou consoantes
deve ter a mesma especificação de um traço particular, referido como traço
harmônico. Entre os padrões em que um segmento parece ter o traço
harmônico, mas é neutro ao processo, estão os casos em que a harmonia é
morfologicamente induzida. A língua Terena é um exemplo desse tipo de
harmonia, porém a raiz nunca inicia o processo. As obstruintes
prenasalizadas são alofones das obstruintes surdas. Ocorrem somente com
a presença de um morfema de primeira pessoa. Dessa forma, as obstruintes
desvozeadas pré nasalizam-se e vozeiam-se quando nomes e verbos estão
vinculados à primeira pessoa. No caso da língua Terena, as obstruintes
surdas não só se nasalizam como bloqueiam o espalhamento da nasalidade.
Quando não há obstruintes na raiz, a afixação resulta em espalhamento da
nasalidade por todos os segmentos na 1ª pessoa. A oclusiva glotal é
transparente à nasalização, enquanto oclusivas e fricativas são alvos. As
reflexões e elaboração desta discussão foram realizadas a partir de pesquisa
de campo, que contou com coleta e análise de dados lingüísticos. A coleta
contou com entrevista que objetivou gravar sentenças da língua terena em
diversas situações, tanto em contexto de uso, como sentenças isoladas,
separadas por blocos verbais, considerando em ambas as formas de gravação
aspectos linguísticos como tempos, modos e aspectos verbais, gênero,
número, tipos de sentenças, etc, e a comparação desses dados com dados
apresentados em estudos anteriores, feitos por outros autores.

162 - II SELIN
Comunicações

A relação entre “hipercorreção” e preconceito


linguístico

Elizete Beatriz AZAMBUJA (UNICAMP - Bolsista FAPEMAT)


Eni ORLANDI (Orientadora)

Neste espaço, busco ampliar a discussão em que tenho como


observatório a produção da “hipercorreção” e que estou desenvolvendo há
algum tempo, mais profundamente agora ao longo do doutorado. Assim, a
minha finalidade é trazer alguns pontos sobre a relação desse fato linguístico
com o preconceito, tomando como sustentação teórica a Análise de Discurso
de linha francesa. Para refletir sobre o preconceito, fundamento-me,
principalmente, na discussão desenvolvida por Orlandi (2002). Para essa
autora o preconceito lingüístico tem como base a afirmação de que “não se
pode falar ‘errado’” e lembra-nos que esse é um dos preconceitos mais
efetivos, considerando que os sujeitos se constituem pela e na linguagem,
Para análise, apresento enunciados que constituem o corpus que está ainda
em processo de constituição. A partir desse material, chamo a atenção para
as regularidades nas “hipercorreções” produzidas, colocando-as em questão
como fato linguístico que aponta para a relação do sujeito constituído pelo
desejo (inconsciente, ideológico, nesse ponto de vista) de resistência à
discriminação linguística. Dito de outro modo, um vestígio da vontade de
“pertencimento” ao grupo dos que “sabem falar”.

II SELIN - 163
Comunicações

Constituição do enunciatário no mundo virtual

Fernando Moreno da SILVA (UNESP/FCLAr )


Arnaldo CORTINA (Orientador)

A proposta do trabalho é analisar a imagem do leitor brasileiro de


blog. A pesquisa foi norteada pela semiótica francesa, por meio da
enunciação, fazendo uso dos conceitos de enunciador e de enunciatário,
instâncias linguísticas que correspondem ao que a Retórica chama,
respectivamente, de ethos e de pathos: imagens construídas ao longo do
texto do destinador e do destinatário do enunciado.as colocaç focando
ooramento da Technorati brasileiraestacavam: (i) Paz, amor e magia e meu
estudolog esperto para eu ver. m a Dentre várias possibilidades e critérios
de escolha do material a ser analisado, estabeleceu-se como parâmetro de
investigação os blogs mais acessados, partindo do pressuposto de que nos
blogs mais visitados estaria a maioria dos blogueiros, e onde estivesse a
maioria dos blogueiros estaria o retrato de sua constituição. Para chegar a
um corpus que contivesse os blogs mais acessados do país, a pesquisa usou
duas metodologias, reunindo uma amostragem referente a todo o ano de
2006, ano-base sobre o qual se debruça o estudo. O primeiro método foi
proceder a um levantamento dos blogs mais votados pelos próprios
internautas. Das 41 listas colhidas ao longo do ano, dois blogs se destacavam,
ambos do portal UOL: “Paz, amor e magia” e “EspalhaMerda”. No se-
gundo método, apreendeu-se o corpus a partir de duas listas publicadas na
mídia. A Revista Época publicou em julho de 2006 os oito blogs com maior
número de acessos. No mesmo ano, o site IDG Now! lançou um ranking
com os dez blogs mais populares da internet brasileira. As duas listas foram
construídas pelo número de links que cada blog possui dentro da blogosfera.
A pesquisa mostrou que nesse mosaico da blogosfera predomina
invariavelmente três características: o desejo de buscar uma identificação
com o que lê (narcisismo); a sensação de caminhos sem barreiras
(pseudoliberdade); e uma leitura descontraída (lúdico).

164 - II SELIN
Comunicações

Os dizeres da/sobre a ditadura militar nas tramas do


jornal Última Hora

Francis LAMPOGLIA (UFSCar - Bolsista CAPES)


Valdemir MIOTELLO (Orientador)

No presente trabalho, utilizaremos as bases teóricas da Análise de


Discurso de matriz francesa (PÊCHEUX, 1997), bem como as teorias sobre
a hemeroteca digital (BUSE, 2008) e mídia, a fim de estudar o
funcionamento discursivo das manchetes e reportagens sobre a ditadura
militar brasileira entre 1964 e 1969 do jornal Última Hora, que se encontra
disponível no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Interessa-
nos compreender o modo como são produzidos efeitos de sentido e a forma
com que o sujeito se posiciona diante da repressão, da censura e do silêncio.
Cientes de que o estudo da linguagem se inscreve nas práticas sociais,
assim como o estudo do discurso não existe fora da linguagem, já que
história e língua se afetam mutuamente, entendemos a relevância de se
estudar as manchetes dos jornais como materialidades discursivas que são
atravessadas ideologicamente, marcando o contexto sócio-histórico em que
foram produzidas e os efeitos de sentido que emanam das palavras. Os
veículos de comunicação de massa, mais precisamente a mídia impressa,
como jornais e revistas, possuem um papel mediador entre o leitor e a
circulação de sentidos sobre a realidade. Contudo, ao relatar um fato, o
sujeito-jornalista o faz de determinada posição discursiva, modulando a
narração dos acontecimentos de forma a enquadrar-se nos interesses do
jornal, o que rompe com a falácia de que o jornal retrata a realidade tal
qual ela é. O discurso jornalístico acrescido do fator tempo produz um
material rico para os estudos da Análise do Discurso de matriz francesa,
permitindo o acesso aos sentidos que circulavam na época da repressão e
que refletem até hoje na sociedade brasileira.

II SELIN - 165
Comunicações

O espanhol andino de Canta (Peru)

Gerardo Manuel García CHINCHAY (UFMS - Bolsista CAPES)


Rogério Vicente FERREIRA (Orientador)

A configuração atual de Hispano-América se deve à posição de


vantagem que teve a língua espanhola frente às línguas indígenas
americanas. No espaço andino, especialmente no Peru, este contato e
posterior substituição de línguas têm configurado um espanhol diferente
do padrão. Sendo ele conhecido como o espanhol andino.Este espanhol
obtém-se de duas maneiras: A primeira, como segunda língua de
aprendizagem, dos falantes nativos de quechua ou aimara; a segunda, como
língua materna em zonas onde antes se falava uma das línguas andinas.
Sobre este segundo aspecto, um exemplo real acontece com os falantes da
província de Canta, localizada na região de Lima, aos 101 km da cidade de
Lima, capital do Peru. Em Canta, só existem atualmente falantes
monolingues de espanhol, mas essa variedade de espanhol possui certas
marcas de um antigo contato com as línguas andinas. Essas marcas são
visíveis em todos os níveis desde o fonológico, morfossintático e até o
léxico. No plano fonológico, encontram-se três novos fonemas, no
morfossintático, chama a atenção o comportamento pronominal dos casos
acusativo e dativo. No léxico, encontram-se abundantes palavras indígenas
adotadas e não adotadas, assim como híbridos. Nossa pesquisa baseia-
se nos seguintes teóricos: sobre o contato de línguas, Thomason (2001),
Muysken (1996); transferências, Thomason e Kaufman (1988); Substrato,
Malmberg (1967), Alcaráz e Martinez (1997) e por ultimo a teoria da
multicausalidade ou causa múltipla de Makiel (1967) e aplicada no mundo
hispânico por De Granda (1999).

166 - II SELIN
Comunicações

A formação do leitor de textos latinos: questões


metodológicas

Giovanna LONGO (UNESP/FCLAr - Bolsista CAPES)


Arnaldo CORTINA (Orientador)
João Batista Toledo PRADO (Co-orientador)

Por estar o estudo do latim voltado essencialmente à aquisição de


uma competência receptiva escrita, o ensino dessa língua antiga deve ter
como foco a formação de leitores. A eficaz compreensão de textos antigos
depende de um processo de aprendizagem que passe por três níveis de
competência: o nível linguístico, o nível textual e o nível intertextual. O
trabalho no nível linguístico envolve o conhecimento da fonologia de uma
língua, sua morfologia e a sintaxe do período, além dos dados lexicais.
Sem esses conhecimentos, não é possível entrar em contato com um texto
original. No entanto, para ler de fato um texto, sabe-se que conhecer as
regras gramaticais de uma língua não é suficiente. E em se tratando de uma
língua antiga como o latim, dadas a distância temporal e as diferenças
culturais que medeiam a época de produção de um texto clássico e os dias
atuais, o entendimento do texto em sua totalidade depende necessariamente
dos conhecimentos envolvidos em outros dois níveis de competência: o
textual e o intertextual. É somente a partir do conhecimento dos mecanismos
de construção de sentido do texto e do reconhecimento das várias vozes
nele presentes que é possível tomar um texto clássico, ao mesmo tempo,
como um objeto de significação e como um objeto cultural. O
encaminhamento das questões envolvidas no ensino de latim feito nesses
moldes permite estreitar o distanciamento cultural existente entre o mundo
antigo e o contemporâneo, evitando anacronismos e interferências na leitura
e na interpretação de textos latinos.

II SELIN - 167
Comunicações

Formação de palavras na poesia de João Cabral de


Melo Neto: um estudo léxico-estilístico

Gisele ALVES (UNESP/FCLAr - Bolsista CNPq)


Clotilde de Almeida Azevedo MURAKAWA (Orientadora)

Nosso objetivo no presente estudo consiste em refletir acerca das


formações de palavras empregadas pelo pernambucano João Cabral de Melo
Neto em sua produção poética, enfatizando a relação entre as formações
vocabulares e o estilo literário do autor. A opção pela poesia cabralina
justifica-se por constituir o corpus de uma pesquisa de maior amplitude,
que está sendo desenvolvida em forma de tese de doutoramento. Na tessitura
de sua poesia, João Cabral explora o recurso de formação vocabular por
meio de processos derivacionais diversos (prefixação, sufixação,
composição e outros), o que vem a constituir um mecanismo bastante
produtivo ao longo de sua obra literária. Diante de dados já levantados
como mais-que-chama, gavião-peneira, poeta-hortelão, morto-água, sonho-
filme, comarca-cheiro, dentre outros, é possível constatar os efeitos
expressivos que tais formações conferem ao texto poético. Portanto, tendo
como embasamento os aparatos teóricos e metodológicos da Lexicologia,
Morfologia e Estilística, a partir dos trabalhos de Sandmann (1991), Basílio
(2008), Bally (1975) e Martins (2003), dentre outros teóricos vários,
buscamos coletar, descrever e analisar os dados, enfatizando o tipo de
constituição dos novos vocábulos que são criados e os efeitos, as nuances,
os contornos expressivos e estilísticos que esses vocábulos instauram no
contexto da poesia de João Cabral.

168 - II SELIN
Comunicações

Da oralidade à obra estética: o trajeto transformativo


dos gêneros discursivos no interior do método de
criação dramática de Luís Alberto de Abreu

Hélio Márcio PAJEÚ (UFSCAr - Bolsista FAPESP)


Valdemir MIOTELLO (Orientador)

Edificada sob a criação colaborativa, a obra de Luís Alberto de Abreu


torna-se fruto de um movimento dialógico, na qual esta se arquiteta por
meio de enunciados de diferentes sujeitos, de horizontes sociais distintos,
que participam da sua concepção e da relação com outros discursos, textos
e elementos transtextuais que evidenciam as vozes e o emaranhado de fios
ideológicos que se entrecruzam no âmago de suas criações. A fim de
destrinchar o percurso transformativo do discurso cotidiano em obra estética
no método de criação utilizado por Abreu, recorremos a categorias
preconizadas por Bakhtin, quais sejam: gêneros do discurso, estilo, autor e
herói, carnavalização e dialogismo. Para objeto desta compreensão
selecionamos duas obras assinadas por ele: Narradores de Javé (2000) e
Borandá (2004). Estas possuem características que as levam ao encontro
do pensamento bakhtiniano de que o discurso nasce nos entremeios
cotidianos e que a polifonia que circunda e configura sua arquitetônica
erige seu significado no interior das relações de alteridade entre sujeitos,
em que o ‘outro’ é indispensável na concepção do ‘eu’, e o discurso destes
se constituem à medida que se inserem numa perspectiva exotópica. Isso
nos leva a crer que Abreu, enquanto enunciador, para conceber seu discurso,
pondera a voz do outro que aparece presente na sua e que intervém na
estrutura e formação de suas narrativas. Deste modo, buscaremos refletir
como este dramaturgo se vale de discursos de pessoas comuns, transforma-
os em heróis e os leva ao centro da trama, no intento de identificar no seu
método criativo como se dá a passagem dos gêneros primários aos
secundários e a possibilidade de fusão do real (vida cotidiana, ética) com o
fictício (dramático, estética), bem como a influência desse movimento na
constituição identitária dos participantes do processo de criação que é
circulada através de discursos disseminados pela mídia.

II SELIN - 169
Comunicações

O discurso político: da resistência ao espetáculo


nos jogos da mídia

Israel de SÁ (UFSCAr - Bolsista FAPESP)


Vanice Maria Oliveira SARGENTINI (Orientadora)

O discurso político se estabeleceu, desde o início da Análise do


Discurso, como principal objeto de pesquisa. Ainda que novos objetos
ganhassem espaço nos estudos discursivos a partir da década de 1980, o
discurso político continuou como objetivo privilegiado em função do
surgimento de novas materialidades, que provocaram modificações também
nos métodos de análise, e sua grande heterogeneidade. Nesse sentido, o
período em que o Brasil esteve sob regime militar (1964 – 1985) foi marcado
por grande movimento discursivo que provocou rupturas marcantes na
linearidade histórica. Do fechamento do regime, que culminou no aumento
da repressão, à distensão política, que deu cabo à lei de anistia, notou-se o
movimento de uma sociedade repressiva para uma sociedade midiática.
Verificava-se, quase sempre pela resistência armada, a tentativa de
estabelecer uma identidade da/para a esquerda, com a constituição de
mecanismos discursivos que visavam, no momento mais repressivo, ao
estabelecimento dessa idéia. Assim, propomos a análise de textos
doutrinários veiculados pelos movimentos de resistência ao regime militar
e que procuravam, na clandestinidade de sua circulação, estabelecer um
diálogo tanto com o Estado quanto com a população, instaurando-se como
sujeito porta-voz, na busca incessante de constituição de uma identidade
para si. Para tanto, torna-se importante a utilização das formulações teóricas
da AD fincada nos estudos de Michel Pêcheux e sustentada pela Nova
História em seu diálogo com Michel Foucault. Também a noção de
identidade, sempre flutuante, e os processos de subjetivação aparecem de
maneira relevante neste trabalho na medida em se trata da produção
discursiva de sujeitos que procuravam se constituir em lugar e momento de
exclusão/marginalização. Tem-se, então, a problematização da produção
discursiva da esquerda radical na constituição de uma identidade de si, que
será diluída com o processo de abertura política e o fortalecimento da mídia
que deu início a um processo de espetacularização do discurso político.

170 - II SELIN
Comunicações

Cinema glauberiano: a constituição de sujeitos


errantes nos discursos sociopolíticos

Janaina de Jesus SANTOS (UESB)


Cleudemar Alves FERNANDES (Orientador)

Neste trabalho, investigaremos as identidades sociopolíticas,


atravessadas por poderes e saberes, tomadas como acontecimento e
memória, na tessitura discursiva da produção cinematográfica. Para tanto,
fundamentamo-nos nos pressupostos teóricos da Análise do Discurso de
origem francesa, nas contribuições de Michel Foucault, bem como nas
discussões dos estudos culturais. Nesta pesquisa, erigiremos uma visão
aprofundada do discurso fílmico, a fim de depreender algumas de suas
facetas na produção ocidental, da década de 1970 e aventar algumas
proposições acerca de seu funcionamento, tendo como fio condutor uma
análise de recortes de cenas do filme Claro (1975), de Glauber Rocha.
Nesse arcabouço teórico, avançamos a hipótese de que muitos trabalhos
em Análise do Discurso sobre o discurso fílmico ocidental, do século XX,
ainda não consideraram alguns aspectos da materialidade da imagem em
movimento, no que diz respeito aos efeitos de sentido produzidos pelas
técnicas de filmagem e de montagem. Por essa razão, tentamos avaliar o
alcance das análises realizadas em AD sobre o discurso em imagem em
movimento e sugerir algumas possibilidades analíticas, em face aos novos
objetos que se têm colocado para esse campo do conhecimento. Nesse
sentido, esse estudo investiga como as práticas discursivas recriadas na
materialidade visual e verbal evocam memórias em Claro; problematiza o
fio discursivo das identidades sociopolíticas, no jogo entre poderes e saberes;
e analisa a produção de subjetividades inscrita nas práticas de filmagem e
montagem, entre regularidade e singularidade da materialização discursiva.
Portanto, nosso objeto é concebido como produção discursiva na trama da
história, em que há a exterioridade inscrita na construção dos sujeitos e das
práticas do fazer fílmico. Dessa maneira, propomos o estudo do filme como
prática discursiva no regime de atualidade e repetibilidade da materialidade,
que evidencia as potencialidades do sujeito no desenvolvimento de técnicas
de si, na recriação de novos acontecimentos.

II SELIN - 171
Comunicações

Relações Adverbiais Independentes nas Variedades


Lusófonas Faladas à Luz da Gramática Discursivo-
Funcional

Joceli Catarina Stassi SÉ (UNESP/IBILCE - Bolsista FAPESP)


Erotilde Goreti PEZATTI (Orientadora)

Este trabalho investiga as relações adverbiais independentes nas


variedades lusófonas, à luz da Gramática Discursivo-Funcional. Construções
independentes são aqui entendidas como orações adverbiais que, apesar de
apresentarem a forma de estrutura subordinada, não dependem de nenhuma
oração anterior ou posterior a elas, sendo destacadas prosodicamente por
pausas, por marcadores discursivos ou por ambos. Partindo da hipótese de
que todas as relações adverbiais podem aparecer como independentes em
todas as variedades lusófonas, este projeto objetiva determinar os tipos de
relação que acontecem como “independentes”, as propriedades de cada
relação adverbial; as propriedades que se aplicam a cada variedade e, por
fim, verificar se todas as variedades compartilham das mesmas propriedades.
O universo de investigação é constituído por ocorrências reais de uso
extraídas do corpus oral organizado pelo Centro de Lingüística da
Universidade de Lisboa, abrangendo as seguintes variedades: (1) Brasileira;
(2) Portuguesa; (3) Africana, incluindo: São Tomé e Príncipe; Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau e Moçambique; e (4) Timor Leste. Primeiramente,
serão identificadas todas as relações adverbiais, a seguir serão selecionadas
as relações adverbiais que constituem Atos Discursivos independentes, e
posteriormente serão analisadas suas propriedades pragmáticas (papel da
construção no discurso, presença de marcadores discursivos), semânticas
(factualidade e tipo de relação semântica), morfossintáticas (tipo de
marcador, forma verbal) e fonológicas (quebra entonacional e tessitura).

172 - II SELIN
Comunicações

Heranças do passado e algumas mudanças: uma


análise comparativa entre as vogais do português
arcaico e as vogais do português brasileiro atual

Juliana Simões FONTE (UNESP/FLCAr)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo desta comunicação oral é apresentar os resultados obtidos


na pesquisa de Mestrado desenvolvida por esta autora, que consiste em
uma investigação das qualidades vocálicas do português arcaico (PA),
período trovadoresco, a partir da consideração das rimas e da grafia das
Cantigas de Santa Maria (CSM) de Afonso X, remanescentes da segunda
metade do século XIII. A metodologia empregada no estudo das vogais
tônicas e átonas finais do PA baseia-se, nesse trabalho, no mapeamento de
todas as ocorrências dessas vogais nas rimas das CSM. Ao observar as
possibilidades e impossibilidades de rima, no corpus analisado, essa
pesquisa trouxe informações sobre a realização fônica das vogais
portuguesas, em um momento passado da língua, que não possui registros
orais. Para o estudo das vogais pretônicas do PA, foram considerados os
casos de variação gráfica entre <e> e <i>, e entre <o> e <u>, identificados
nas CSM. Esse trabalho mostrou que muitos dos contextos fonológicos
responsáveis pelo levantamento de vogal pretônica, em algumas variedades
do português brasileiro atual, também influenciavam o alçamento dessa
vogal no PA. Além disso, essa pesquisa mostrou que é possível obter
informações sobre a realização fonética das vogais pretônicas do português
partindo de dados de natureza escrita. A partir desse trabalho, foi possível
verificar como se estruturavam as vogais do português (em posição tônica,
pretônica e átona final), na época dos trovadores, e quais foram as
transformações por que passaram essas vogais ao longo da história da língua.

II SELIN - 173
Comunicações

Uma perspectiva discursiva sobre a hesitação

Julyana Chaves NASCIMENTO (UNESP/IBILCE - Bolsista CAPES)


Lourenço CHACON (Orientador)

O objetivo geral deste trabalho foi compreender a hesitação numa


perspectiva discursiva. Tomamos a hesitação como processo de negociação
problemática com outros constitutivos do sujeito/ do discurso que mostra
(i) a deriva e (ii) a ancoragem do sujeito. Baseamo-nos em material composto
por conversações entre documentador fonoaudiólogo (JN) e parkinsoniano
(NL). Percebemos a determinação desse material pelo contexto institucional
da saúde, tal que o objeto discursivo saúde/ doença se mostrava na cadeia
significante. Selecionamos seis recortes representativos da circulação da
saúde/ doença no processo discursivo JN/NL e delineamos como objetivos
específicos: (a) determinar em que pontos da cadeia o objeto discursivo
se mostrava; (b) identificar as posições discursivas engendradas no processo
discursivo JN/NL; (c) analisar a hesitação no contexto da relação entre as
posições discursivas e os outros mobilizados no processo discursivo. A
análise permitiu: (a) determinar que o objeto discursivo era mostrado na
forma de metáforas, bem como permitiu determinar sua ressonância em
pontos em que não era mostrado na cadeia; (b) identificar que o objeto
discursivo ancorava posições ocupadas no processo discursivo; (c) detectar
marcas da hesitação em pontos em que o objeto discursivo ressoava na
cadeia, o objeto discursivo emergia amarrado a outros objetos de discurso,
outro objeto de discurso ressoava na cadeia, o sujeito se detinha para conferir
homogeneidade à cadeia, o sujeito se ancorava e lançava a cadeia para
outra região de sentido garantindo a homogeneidade da cadeia, o sujeito
deslocava sua posição e lançava a cadeia para outra região de sentido.
Com base nos resultados: (I) firmamos que a hesitação constitui processo
de negociação problemática, indício de deriva e ancoragem; (II)
vislumbramos que a hesitação constituiria processo de deslocamento de
ancoragem e de lançamento da cadeia para outra região de sentido; (III)
suspeitamos que a hesitação denunciaria regiões de sentido interditadas
para a enunciação.

174 - II SELIN
Comunicações

Literatura e Cinema: a Representação do Feminino


em Daisy Miller

Linda Catarina GUALDA (UNESP/ASSIS)


Ana Maria CARLOS (Orientadora)

A comunicação objetiva investigar como se constrói a representação


feminina na obra literária Daisy Miller e na sua tradução homônima, tendo
como ponto de partida a protagonista do romance. O ideal feminino
apresentado é criação masculina e por isso merecem atenção especial. A
personagem faz referência a uma construção social que tem a ver com a
distinção masculino/feminino, colocando a mulher numa posição de
inferioridade e veiculando uma imagem negativa – dependente, tola e
mesquinha. Estamos interessados nesse estereótipo de mulher que se
constrói a partir dos mitos concebidos e se incorporam ao gênero dando-
lhes um caráter de naturalidade. Acreditamos que tal representação equivale,
no contexto da obra, a uma apropriação do olhar masculino sobre o corpo
feminino. Os signos do cinema hollywoodiano estão carregados de uma
ideologia patriarcal que sustenta nossas estruturas sociais e que constrói a
mulher de maneira específica – maneira tal que reflete as necessidades
patriarcais e o inconsciente patriarcal A partir de uma leitura intersemiótica,
que rejeita a noção de fidelidade e vê a obra alvo como uma tradução do
texto de partida, pretendemos gerar uma reflexão a respeito da identidade
de gênero criada e veiculada sob uma ótica masculina.

II SELIN - 175
Comunicações

Estudo lexical dos nomes indígenas da mesorregião


dos Pantanais Sul-mato-grossense: acidentes
geográficos

Lucimara Alves da Conceição COSTA


(UFMS Três Lagoas – Bolsista CAPES)
Vitória Regina Spanghero FERREIRA (Orientadora)

Este trabalho tem como objetivo principal fazer um estudo lexical


dos nomes de origem indígena presentes nas regiões de Aquidauana,
Corumbá e Miranda, que fazem parte da mesorregião dos Pantanais-sul-
mato-grossense. Procura-se, por meio de uma análise semântica dos termos
selecionados, definir, apresentar a classificação, a taxionomia e a etimologia
dos topônimos indígenas presentes no processo de nomeação dos acidentes
geográficos das regiões supracitadas, porém, destacamos que será dado
um enfoque maior ao significado e ao contexto em que podem ocorrer
esses termos e não à análise morfológica dos mesmos. O recorte toponímico
analisado faz parte do corpus dos topônimos indígenas da mesorregião dos
Pantanais sul-mato-grossense e foram coletados por meio de cartas
topográficas na escala 1:250. 000, disponíveis no site do IBGE- Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Como método classificatório dos
topônimos, recorremos ao modelo taxionômico proposto por Dick (1990),
no qual são apresentadas 27 categorias, divididas em Taxionomia de
Natureza Física (11 taxes), e de 16 taxes de Natureza Antropo- Cultural.
Para definição do significado dos termos utilizamos dicionários bilíngües
português/ indígena e castelhano/indígena e também o dicionário da língua
portuguesa Houaiss, versão eletrônica (2001). Quanto aos topônimos não
encontrados em dicionários, como o caso dos nomes de origem Terena e de
alguns nomes de origem Kadiwéu, recorremos à pesquisa de campo, de
forma a obter por meio de entrevistas com falantes nativos, a definição dos
termos. Entretanto, convém ressaltar que os resultados apresentados neste
estudo são apenas dados parciais e preliminares de uma pesquisa ainda em
desenvolvimento.

176 - II SELIN
Comunicações

Adaptações prosódicas e segmentais do reggae


cantado na zona rural de São Luís - MA: discutindo
os dados da pesquisa

Márcia Helena Sauaia Guimarães ROSTAS (UNESP/FCLAr)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo desta pesquisa consiste em estudar a maneira como


regueiros maranhenses da zona rural da cidade de São Luís, falantes
monolíngües de português brasileiro, na variedade rural ludovicense
(doravante PBRL), adaptam fonética e fonologicamente o inglês dos reggaes
cantados nessa língua, com vistas a obter seqüências que façam sentido na
sua língua materna (por exemplo, ao invés de cantarem “Kill him with the
no”, produzem “cadê o metanol?”). Analisando os padrões fonológicos do
PBRL, variedade nativa dos sujeitos da pesquisa, e a interferência em uma
língua “estrangeira” que é nativizada no som, com finalidades de obtenção
de um sentido também “nativo”, busca-se também discutir a identidade
fonológica do Português. A hipótese inicial é a tendência para a manutenção
de vogais tônicas e de traços de consoantes em posições tônicas,
substituição/adaptação/supressão/reinterpretação de vogais e consoantes
em posições átonas, prevalecendo a percepção de falantes de português,
não fluentes em inglês, daquilo que ouvem nas músicas, e a busca de sentido
em uma seqüência sonora aparentemente sem sentido. No entanto, no
decorrer da pesquisa, foram identificados os processos utilizados pelos
falantes do PBRL para a adaptação fonológica da língua original (Inglês)
em direção à língua alvo: a manutenção da qualidade da vogal tônica, a
monotongação, a ditongação, a semelhança entre consoantes, a simplificação
e a complexificação do padrão silábico e a manutenção da posição do acento.
Dentre estes processos, há uma incidência maior na semelhança entre
consoantes, na manutenção da posição do acento e na manutenção da
qualidade da vogal tônica.

II SELIN - 177
Comunicações

Estudo da variação/mudança das preposições de


complementos locativos de verbos de movimento do
português brasileiro com colaborações da Teoria
das Operações Predicativas e Enunciativas de
Antoine Culioli

Marcos Luiz WIEDEMER (UNESP/IBILCE)


Sebastião Carlos Leite GONÇALVES (Orientador)
Paula de Souza GONÇALVES (UNESP/FCLAr)
Letícia Marcondes REZENDE (Orientadora)

O presente trabalho busca articular dois projetos de pesquisa que,


apesar de apresentarem embasamentos teóricos diferentes, compartilham
de um mesmo objetivo, a saber: entender a evolução da variação entre
algumas preposições do português brasileiro. Primeiramente,
apresentaremos os resultados do atual processo de variação/mudança da
análise das preposições de complementos locativos de verbos de movimento
(ir, chegar, vir, andar, entrar) do PB falado no interior paulista (Projeto
Amostra Linguística do Interior Paulista). Embasam, portanto, essa primeira
parte da investigação postulados da Sociolinguística (LABOV, 1972) e da
gramaticalização (HOPPER, 1991; LEHMANN, 2002). Nosso objetivo mais
direto é evidenciar quais fatores (linguísticos e sociais) atuam na variação/
mudança linguística que envolve o fenômeno em questão. O quadro de
resultados aponta para o seguinte cenário: (a) evidências atuais de mudança
implementada pela completa substituição da preposição A; (b)
especialização por generalização da preposição PARA, que assume grande
parte dos papéis abarcados pelo domínio das preposições; (c) especialização
por especificação da preposição EM, que adquire significados específicos.
Num segundo momento, baseando-nos nos postulados da Teoria das
Operações Predicativas e Enunciativas de Antoine Culioli (CULIOLI, 1999,
2000), mostraremos que existe uma invariância de funcionamento, entre
tais preposições, que sustenta sua variação. Discutiremos três grandes
questões envolvidas no estudo da semântica preposicional e que,
apresentadas de modo pontual, dizem respeito à definição semântica da

178 - II SELIN
Comunicações

preposição, ao modo como essa definição explica os diferentes valores


semânticos por ela adquiridos em discurso e à relação entre “preposição
Y”, i.e. entre o termo consequente, independentemente da categorização
sintática que lhe é atribuída, e o termo X, antecedente. A relevância desse
estudo conjunto reside em dois pontos: (i) na investigação da variação/
mudança e na obtenção de um quadro de usos das preposições de verbos de
movimento na história do português brasileiro; (iii) na descrição do
funcionamento das preposições no português brasileiro por meio de uma
definição semântica que, sustentada por operações observadas em seus
empregos, seria capaz de explicar os diferentes valores semânticos que lhe
são atribuídos no uso da língua.

II SELIN - 179
Comunicações

Considerações sobre os Enunciados de caminhão

Maria Auxiliadora Gonçalves DE MESQUITA (UNESP/FCLAr)


Antônio Suárez ABREU (Orientador)

A presente comunicação tem como objetivo apresentar algumas


considerações sobre o gênero discursivo enunciado de caminhão,
correspondendo à parte da tese intitulada Enunciados de caminhão:
identidade do caminhoneiro. Será apresentado um histórico sobre o uso
dos enunciados de caminhão, como será designado por opção teórica, mas
que pode ainda ser encontrado com a designação de “frase de para-choques
de caminhão”, “legenda de para-choque” ou “letreiros de caminhão”. As
sentenças lingüísticas usadas pelos caminhoneiros são exemplos bem nítidos
da simbologia lingüística, que expressam a relação que os caminhoneiros
estabelecem com o mundo. As frases de para-choque de caminhão podem
ser consideradas como um gênero em virtude de sua especificidade ante as
várias formas de expressões linguísticas. Os enunciados de caminhão
nascem de um contexto real e exprimem os pensamentos e sentimentos dos
caminhoneiros. Não há registro de quando começou o uso dos enunciados
nem quem foi a primeira pessoa a usá-los. Sabe-se que essa prática tornou-
se popular a partir da década de 50, atingindo seu apogeu entre os anos de
70 e 80 no Brasil. O que era muito comum nas décadas de 50 a 80,
atualmente, encontra-se em desuso. Inicialmente o uso era nos para-choques
na parte dianteira e traseira. Atualmente, encontram-se os enunciados em
outros lugares: nas laterais, na cabine e na parte de trás. Em alguns casos,
são propagandas. O desejo de lucro tomou o espaço da sentimentalidade,
da expressão do humor, do uso espontâneo para o uso comercial,
especialmente porque as empresas preferem utilizar os seus caminhões para
a divulgação de suas marcas. São muitos os temas. São muitos os
sentimentos. O caminhoneiro, certamente, carrega por todo o país os
diferentes dizeres.

180 - II SELIN
Comunicações

Charge jornalística impressa: estabilidade e


instabilidade no estilo do gênero

Maria Madalena Borges GUTIERRE (UNESP/FCLAr)


Renata Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

Esta pesquisa contempla o estudo da movimentação do gênero charge,


integrado ao discurso jornalístico crítico-opinativo, tal como se constitui
em contexto nacional e a partir de dados referenciais que o situam na história
social e política do país. Adotamos como perspectiva teórica o princípio
dialógico presente nas reflexões do Círculo de Bakhtin e por meio do qual
discutimos a organização e o funcionamento da linguagem em gêneros de
discurso. Objetivamos investigar e analisar os fatores condicionantes dos
movimentos da linguagem e do gênero relativos às interferências da
repressão e da censura política à imprensa alternativa e à imprensa “séria”
durante a Ditadura Militar no Brasil Consideramos na análise do corpus a
organização dos recursos expressivos verbais e não verbais e os efeitos de
sentido que se produzem na enunciação, com destaque às categorias de
pessoa, tempo e espaço, à identificação de papéis enunciativos e à construção
de identidades sociais. Para discutir os movimentos da linguagem na
configuração do estilo, adotamos um tratamento enunciativo-discursivo,
em que os papéis intersubjetivos definem-se e se manifestam na linguagem
em uso, no diálogo, tanto no que concerne à totalidade do jornal e ao
contexto sócio-histórico em que o chargista fundamenta seu texto, tanto no
que diz respeito à orientação do gênero a um leitor coletivo, social e
historicamente identificado. A proposta de investigar estabilidade e
instabilidade na configuração do estilo do gênero charge, tendo em vista o
caráter social e representativo dos modos de enunciar, permite o resgate de
dados históricos da linguagem, seu funcionamento, sua organização e
utilização em diferentes condições e por diferentes sujeitos, o que reitera,
de acordo com as reflexões bakhtinianas, a necessidade de promover estudos
da linguagem em estreitos vínculos com a vida.

II SELIN - 181
Comunicações

Para uma descrição dos aspectos fonéticos das


nasais do português e do espanhol

Maria Sílvia Rodrigues ALVES (UNESP/FCLAr)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

A presente pesquisa apresenta como tema a evolução da percepção


em contextos nasais do espanhol por falantes nativos do português brasileiro.
Devido a uma preocupação com o estudo das línguas naturais, tornou-se
necessário eleger um sistema linguístico específico como objeto de análise.
Considerando a fonética descritiva, no que diz respeito às nasais, propomos
a realização de um estudo comparativo entre o Português Brasileiro e o
Espanhol, língua aprendida no Brasil como língua estrangeira. Dentre os
elementos da fonética, escolhemos examinar as nasais por essas
apresentarem algumas diferenças se comparadas em uma descrição entre o
português e o espanhol. Nesse sentido, vemos que a presente proposta se
faz pertinente, pois são raros os estudos que se prestam a uma atenção
detalhada das nasais na tangência das duas línguas ora mencionadas. Além
disso, com o intuito de verificar a qualidade e evolução da percepção das
nasais, contaremos com um grupo de falantes em estágio de contato inicial
com a língua espanhola em ambiente de aprendizagem no contexto
brasileiro. Sabemos da crescente relação do brasileiro com a língua
espanhola nos dias atuais. O convívio entre as duas línguas provém de suas
origens e, muitas vezes, falantes do português e do espanhol são
acompanhados por uma impressão de que compartilham semelhante sistema
fonético devido a grande proximidade entre as línguas. Nesse sentido, é
necessário considerarmos o singular caráter estrangeiro da língua espanhola
para brasileiros, devido a sua expressiva semelhança com o português.

182 - II SELIN
Comunicações

A constituição dos sujeitos e dos sentidos no


espaço urbano: a alteridade em um corpus de
redações

Maria Teresa MARTINS (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


José Horta NUNES (Orientador)

As reflexões a serem apresentadas neste trabalho inserem-se nos


estudos que temos feito em nossa tese de doutoramento em curso no Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas de São José do Rio Preto sob a
orientação do Prof. Dr. José Horta Nunes. O objetivo geral do trabalho é
compreender a constituição dos sujeitos-moradores de alguns bairros da
Zona Norte da cidade, bem como dos sentidos para bairro, por meio da
análise de um corpus formado por i. redações de alunos-moradores da Zona
Norte; ii. planos diretores da cidade; iii. recortes de dois jornais que circulam
no município. Em nossas análises, notamos o funcionamento da alteridade,
apontando para a presença do outro no discurso dos sujeitos-moradores.
Nesta apresentação, exporemos os resultados das análises das redações
produzidas pelos sujeitos-moradores que compõem nosso corpus,
enfatizando o funcionamento da alteridade por meio da argumentação, das
referências espaciais e do não-verbal. Argumentativamente, a presença do
operador mas marca a polifonia instaurada pelas vozes do sujeito-morador
e do senso comum, trabalhadas no fio do discurso e que colocam em disputa
polêmica os sentidos para bairro. As referências espaciais vão se construindo
de modo a separar e a demarcar o socius e o hostis. Por fim, o não-verbal
traz para a discursividade dos alunos a imagem que eles têm dos de fora,
que carrega imbricada consigo a imagem que os de fora têm dos de dentro.

II SELIN - 183
Comunicações

Erotismo e Contemplação em “Infância” de Manoel


de Barros

Marina Haber de FIGUEIREDO (UFSCar)


Valdemir MIOTELLO (Orientador)

Esta pesquisa propõe analisar os textos “Obrar”, “Ver”, o “O


apanhador de desperdício”, “Latas”, “Achadouros” e “Sobre Sucatas”,
presentes no livro Memórias Inventadas: A Infância; “Nomes” e “Sobre
importâncias”, do livro Memórias Inventadas: A Segunda Infância;
publicados, respectivamente, em 2003 e 2006, ambos de Manoel de Barros.
A hipótese é a de que este corpus represente a arquitetônica de Barros ao
apontar para a construção de um discurso contrário ao proferido pelo sistema
político-social contemporâneo, pois, enquanto o discurso hegemônico, com
sua lógica excludente e acumulativa, prega um respeito ao mundo cartesiano
e lógico representado pelo mundo do trabalho, surge a construção de um
contradiscurso expresso pelos sujeitos dos textos supracitados, que
preconizam o mundo por meio de uma ótica que valoriza o subjetivismo
concreto e, ao mesmo tempo, contemplativo e erótico, representado pela
visão e voz de um sujeito adulto-criança, em sua infância. A importância
deste projeto reside em evidenciar a construção estética desse contra-
discurso, por meio de uma análise bakhtiniana sobre sujeito, tempo e espaço.
As noções teórico-analíticas estudadas pelo Círculo de Bakhtin (o que
compreende os escritos de Bakhtin, Voloshinov e Medvedev) fundamentam
a proposta desta pesquisa (especificamente dialogismo – enquanto noção
filosófica norteadora do Círculo russo – , ética-estética, sujeito, cronotopia
e carnavalização), uma vez que co-laboram para uma melhor compreensão
acerca da constituição do contradiscurso estético de Barros.

184 - II SELIN
Comunicações

A diversidade de versões do livro sagrado no jogo


das vozes em interação

Mariú Moreira Madureira LOPES (Universidade Presbiteriana


Mackenzie – Bolsista FAPESP)
Maria Helena de Moura NEVES (Orientadora)

Considerando-se que a linguagem tem um estatuto particular no


conjunto das atividades humanas, entende-se que estudos voltados à
tradução de textos sagrados permitem uma compreensão da língua em seu
real funcionamento. Assim, objetiva-se analisar essa modalidade de texto
a partir de sua identificação como um texto sensível (SIMMS, 1997),
levando-se em consideração as características do contexto de situação
(‘campo’, ‘teor’ e ‘modo’) e das metafunções (‘ideacional, ‘interpessoal’ e
‘textual’), propostas por Halliday (1979; 1995). A sensibilidade não se
configura como uma propriedade imanente ao texto, mas revela-se na
interação verbal, na medida em que se evidencia na recepção da tradução.
Sua identificação, associada ao conjunto de elementos contextuais e
situacionais em traduções bíblicas, torna possível considerar a existência
de um universo que se distingue segundo: uma esfera sagrada (OTTO, 1992;
ELIADE, 1996); uma ‘consciência linguística’ (CRYSTAL, 1992);
participantes distintos, por exemplo, Deus—homem; tradutor—leitor. A
pesquisa envolve a análise do processo de construção textual em três
traduções religiosas do Novo Testamento dedicadas a segmentos religiosos
distintos: Versão Almeida Revista e Atualizada; Bíblia de Jerusalém;
Tradução ecumênica, com base em edições gregas do texto bíblico.

II SELIN - 185
Comunicações

Discurso, intelectualidade e saber: práticas


discursivas e representativas do intelectual e do
saber na cibermídia

Mauricio Junior Rodrigues DA SILVA(UNIFRAN)


Maria Regina MOMESSO (Orientadora)

O presente texto tem por objetivo analisar as dimensões discursivas


que o saber apresenta na modernidade líquida. Essa proposta há de ser
desenvolvida em um campo fundamentalmente contemporâneo, no qual a
questão do saber e da intelectualidade ganham cada vez mais relevância: a
cibermídia. O intelectual não é tomado aqui como um efetivo sujeito
detentor de cognição, muito menos enquanto uma classe ou categoria social
centralizadora de saber ou de poder. Mas sim, como um construto discursivo,
cultural e histórico, ou ainda como uma representação engendrada a partir
de certas práticas discursivas. Nesse sentido, tampouco o saber há de ser
pensado como mero ato de aquisição de conhecimento. Ao contrário, o
mesmo deve ser interpretado como elemento de poder associado à imposição
de uma prática de racionalidade. As perspectivas teóricas utilizadas são
tributárias de Michel Foucault, que junto com Michel Pêcheux representam
a base teórica e metodológica da Análise de Discurso Francesa (AD). Ao
relacionar tal escopo teórico ao objeto proposto, é possível observar nos
meandros da cibermídia práticas de discurso diversas, que engendram
perspectivas distintas de representação e de identidade acerca do intelectual.
Em outros termos, o que o presente trabalho busca efetivamente perceber
que mecanismos discursivos e efeitos de sentido são produzidos quando o
assunto é a intelectualidade e o saber. Para tal fim, optou-se por eleger
como corpus do referido trabalho e-textos do site CPFL Cultura, um espaço
virtual dedicado a divulgar encontros, palestras e atividades culturais em
geral, que a CPFL Energia promove, divulga ou patrocina. Em resumo, é
possível se perguntar quais são as estratégias discursivas que a CPFL
Cultura apresenta e como estas se relacionam à produção de práticas
representativas atinentes à intelectualidade.

186 - II SELIN
Comunicações

A variação de pluralidade nas estruturas


predicativas da variedade falada na região de São
José do Rio Preto

Mircia Hermenegildo SALOMÃO (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Roberto Gomes CAMACHO (Orientador)

A atuação de processos de redução e de supressão de segmentos


consonantais em fenômenos redundantes, como a concordância nominal
tende a suprimir marcas de pluralidade, provocando a possibilidade de
ambiguidade referencial. Um fenômeno fonológico, que reflete
simultaneamente um processo gramatical de concordância é o da supressão
de /S/, que afeta a marcação de pluralidade no SN. Esse trabalho tem por
objetivo submeter a um tratamento variacionista, de base quantitativa, dados
de marcação variável de plural no SN em contexto de predicativo, obtidos
em corpus coletado na região de São José do Rio Preto. A pesquisa foca-se
na tentativa de confirmar se a ausência de marcas de pluralidade em
fenômenos de concordância nominal tem sua explicação metodológica
situada na repetição de estruturas em paralelismo formal ou se ausência de
marcas de pluralidade em fenômenos de concordância nominal deve-se a
uma explicação metodológica mais plausível que se situe no plano funcional,
devido à ocorrência de redundância. Dessa maneira, a principal hipótese,
desse trabalho, é a de que marcas redundantes de plural no SN sujeito e no
verbo poderiam provocar a ausência de pluralidade no predicativo, visto
que uma vez marcada a sentença, esta marcação de plural não precisaria se
repetir, já que a sentença não correria o risco de se tornar ambígua. Em
consonância com essa hipótese, pretende-se verificar se a aplicação do
princípio da economia é a explicação mais aceita para esse tipo de variação
nas estruturas predicativas.

II SELIN - 187
Comunicações

As muitas vozes que permeiam o discurso religioso:


o dialogismo e a construção do sentido nas cartas
encíclicas do Papa Bento XVI

Nanci Moreira BRANCO (UFSCar)


Valdemir MIOTELLO (Orientador)

Este trabalho tem como objetivo analisar como se dão as relações


dialógicas e a construção do sentido para manutenção da ideologia, no
discurso religioso católico atual, aqui representado pelas cartas encíclicas
do papa Bento XVI. O domínio desse autor sobre a arte da escrita faz com
que suas encíclicas apresentem textos bem organizados e em diálogo com
fundamentos filosóficos de grande importância na história, como o
marxismo, por exemplo. Entendemos que mesmo um discurso tão
consolidado como o religioso sofre influências de vários outros com os
quais partilha e aos quais contrapõe idéias ou delas faz uso para estabelecer
o sentido do seu discurso. Cabe, então, verificar: que discursos opostos
devem ser mantidos apagados para a preservação da hegemonia do discurso
oficial? Que discursos o confrontam? Entendemos que um discurso que se
pretende dominante tende a excluir outros que não pertençam ao seu
universo – que não são aceitos ou são desprestigiados. Então a questão
fundamental é entender os discursos dos quais é preciso se defender e aos
quais é preciso recorrer para se constituir. Apesar dos riquíssimos diálogos
estabelecidos, entendemos que o autor recorre a esses para sustentar o
discurso conservador da Igreja, na intenção de um possível apagamento
dos diversos sentidos do signo. Com isso, esta análise pretende elucidar a
importância de compreender o trabalho de linguagem realizado neste
discurso, pois entende-se que o autor, na tentativa de reafirmar sua ideologia,
não a faz pela simples repetição de um discurso tradicional, mas usa o
diálogo e o embate com outros discursos para manter a sua verdade e torná-
la dominante. O pensamento norteador dessa análise são os estudos do
filósofo russo Mikhail Bakhtin sobre Dialogismo e Ideologia.

188 - II SELIN
Comunicações

Um estudo comparativo sobre os processos


morfofonológicos na formação de nomes deverbais
com os sufixos -çon/-ção e -mento em Português
Arcaico e Português Brasileiro

Natália Cristine PRADO (UNESP/FCLAr)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

O objetivo deste trabalho é fazer uma ponte entre o passado e o


presente, comparando processos morfonológicos desencadeados pela
derivação, ou seja, processos que alteram a forma dos morfemas. Realizamos
este estudo entre duas sincronias da língua portuguesa: o Português Arcaico
(PA), dos séculos XII-XIII, e o Português Brasileiro (PB), dos séculos XX-
XXI. Nesses dois periodos da língua portuguesa, observamos os processos
morfofonológicos desencadeados por dois sufixos derivacionais específicos,
formadores de nomes deverbais em PA e em PB, isto é, nomes formados a
partir de bases verbais: -çon e –mento, para o PA, e –ção e –mento, para o
PB. Para a coleta dos dados no PA, escolhemos como corpus as Cantigas
de Santa Maria (CSM), já para a observação do PB, contamos com um
recorte do banco de dados do Laboratório de Lexicografia da UNESP
(LabLEX). A partir desses dados, procedemos às analises dos processos
morfofonológicos com os sufixos selecionados, utilizando o aparato teórico
das teorias fonológicas não-lineares, sobretudo a Geometria de Traços e a
Fonologia Lexical. Os processos morfofonológicos encontrados no PA
foram a alomorfia da vogal temática, a haplologia (que também co-ocorreu
com a alomorfia da vogal do radical) e a fusão de vogais semelhantes; para
o PB, também encontramos a alomorfia da vogal temática, a haplologia
(igualmente com alguns casos em que ocorreu seguida da alomorfia da
vogal do radical) e a supressão da vogal temática. Concluímos, em uma
análise comparativa, que o processo de formação de nomes deverbais com
os sufixos estudados é bastante parecido nas duas sincronias da língua e
que os processos morfofonológicos ocorridos nesses dois períodos são
basicamente os mesmos, sendo que a haplologia foi o que mais ocorreu
tanto em PA quanto em PB.

II SELIN - 189
Comunicações

Língua Tapayúna: Aspectos Sociolinguísticos e uma


Análise Fonológica Preliminar

Nayara da Silva CAMARGO (UNICAMP)


Lucy SEKI (Orientadora)

A língua Tapayúna, objeto de estudo desta pesquisa, faz parte do


tronco linguístico Macro-Jê, família Jê. É falada por um povo de mesmo
nome que se localiza no norte do Mato Grosso (MT) em uma aldeia
denominada Kaweretxikô. O trabalho tem como objetivos (1) apresentar
um levantamento sociolingüístico da língua Tapayúna e (2) realizar uma
análise fonológica preliminar da língua. O trabalho inclui uma introdução,
três capítulos, conclusão, bibliografia e ainda um apêndice com fotos do
povo Tapayúna. Na introdução, são apresentados os objetivos, metodologia
de pesquisa, fundamentação teórica e informações sobre o trabalho de campo
e sobre os auxiliares Tapayúna. No Capítulo I, são abordados aspectos
históricos e sociolinguísticos do Tapayúna, mostrando que a língua sofreu
e ainda sofre uma forte pressão do Suyá e Mebengôkre (Kayapó), línguas
proximamente aparentadas. O Capítulo II é dedicado à análise fonética da
língua e o Capítulo III, à análise fonológica baseada em teoria linear
estruturalista (Pikeana). Na conclusão são resumidos os resultados da
pesquisa e previsões de futuros trabalhos sobre a língua Tapayúna, com a
intenção de ampliar as informações já existentes, tanto no que diz respeito
a estudos Sociolinguísticos quanto a estudos sobre a Fonologia. O apêndice
contém fotos do povo.

190 - II SELIN
Comunicações

O tempo da linguagem compreendido em etapas

Patricia Ormastroni IAGALLO (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Luiz Carlos CAGLIARI (Orientador)

O tempo é uma noção bastante complexa. No que se refere à


linguagem, o tempo deve ser regido por coordenadas gerais, e por isso,
pode ser passível de uma descrição. Os níveis de compreensão do tempo
na linguagem podem ser sistematizados em etapas: interpreta-se o tempo
do mundo, depois o tempo da linguagem e, por último, o tempo do discurso
entendido como o “mundo possível” criado pela linguagem. Um modelo
descritivo geral do tempo localizaria a noção de tempo de um enunciado
coerentemente com as informações gramaticais. Este trabalho apresenta
algumas considerações e conclusões que foram tratadas na Dissertação
intitulada “O Tempo na Língua Portuguesa” (IAGALLO, 2010), em que
foram investigadas, entre outras coisas, as localizações temporais que
servem de momentos de referência ao tempo dos enunciados, sem perder
de vista o momento da produção-recepção do ato de enunciar. Partindo-se
da hipótese lógica de que o passado deveria ser sempre passado, o futuro
sempre futuro e o presente sempre presente, e descobrindo-se quais são os
lugares temporais, e utilizando principalmente construtos inspirados em
Reichenbach, mostraremos como se dá a relação entre os momentos dos
eventos, os momentos da fala e o momento presente pressuposto da
enunciação. Faremos, portanto, em etapas, um mapeamento da construção
da compreensão do tempo linguístico.

II SELIN - 191
Comunicações

Uma investigação de traduções de textos da área


médica sob a luz dos estudos da tradução baseados
em corpus

Paula Tavares Pinto PAIVA (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


Diva Cardoso DE CAMARGO (Orientadora)

Este estudo compara termos médicos com base em palavras-chave


em português e seus equivalentes em inglês extraídos de dois subcorpora
paralelos de textos nas subáreas médicas de cardiologia e cirurgia
cardiovascular. A investigação também observou traços de simplificação e
de explicitação apresentados pelos tradutores de cada subárea. Além disso,
foram comparados resultados a partir dos textos produzidos pelos dois
tradutores deste estudo com os resultados dos textos produzidos por
tradutores de outras duas subáreas médicas observadas em estudo anterior
(Paiva, 2006). Para tanto, foi adotada como fundamentação teórica a
proposta dos estudos da tradução baseados em corpus (Baker, 1993, 1995,
1996, 2000; Camargo, 2005, 2007), a metodologia da linguística de corpus
(Berber Sardinha, 2000, 2004; Tognini-Bonelli, 2001) e, em parte, princípios
da terminologia (Aubert, 1996; Barros, 2004; Krieger & Finatto, 2004).
Para a compilação do corpus de estudo foram utilizados artigos científicos
extraídos de revistas brasileiras bilíngues da área médica, e para os corpora
comparáveis foram coletados artigos de revistas médicas brasileiras e
estrangeiras de renome nas comunidades médicas das respectivas subáreas.
A pesquisa contou com o auxílio do programa de análise lexical WordSmith
Tools versão 3.0. O levantamento de termos médicos com base em palavras-
chave em português para cada subárea permitiu a elaboração de dois
glossários com os respectivos termos equivalentes em inglês, acompanhados
do seu contexto em ambas as línguas, que foram, em seguida, inseridos em
um programa de memórias de tradução. Como a tradutora de cardiologia é
falante nativa de língua portuguesa e o tradutor de cirurgia cardiovascular
é falante nativo de língua inglesa, também foi possível comparar o uso de
estratégias lingüísticas adotadas por parte de cada tradutor.

192 - II SELIN
Comunicações

O consensual e o polêmico no texto argumentativo


escolar

Rinaldo GUARIGLIA (UNESP/FCLAr – Bolsista CNPq)


Renata Maria Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

Este estudo examina duas categorias dialógicas regidas pela


argumentação nas redações argumentativas escolares: o consenso e a
polêmica, que respondem pela propagação de ideias do senso comum, e,
por extensão, de outras ideias que se confrontam com esses enunciados
consensuais: os enunciados polêmicos. Por meio da reflexão bakhtiniana,
três matrizes dialógicas são investigadas em redações escolares: os diálogos
do sujeito-produtor com outras vozes sociais, com a proposta de redação e,
principalmente, com o interlocutor-examinador. Esses diálogos inserem,
em meio à dispersão do discurso, um conjunto de propriedades que ora são
manifestações da categoria consensual, ora da polêmica; e estão de acordo
com o exercício argumentativo do texto. Entre as propriedades dialógicas
estão: a aplicação de aspectos generalizantes, a organização de enunciados
descritivo-causais, a observação de um raciocínio lógico formalizado, o
distanciamento da proposta de redação ou a aproximação com ela, a inserção
de enunciados interrogativo-retóricos e a ocorrência de determinados
marcadores linguísticos. O texto argumentativo escolar apresenta
invariavelmente não apenas enunciados consensuais, mas também
rompimentos com a ordem do senso comum, que caracterizam a categoria
polêmica. Embora a finalidade precípua do ensino de redação seja o
aprendizado da modalidade escrita, entendemos que os objetivos desse
ensino também devem compreender uma formação crítica do aprendiz. Há
relevante perspectiva de estudo em Análise do Discurso, sob a perspectiva
das reflexões bakhtinianas – principalmente no que tange à concepção de
dialogismo – são fundamentais para a compreensão do consenso e da
polêmica. Consideramos ainda os aportes de Barthes sobre o estereótipo,
de Rancière sobre a interpretação preexistente e de Geertz sobre o senso
comum como um sistema social. O córpus de pesquisa compreende redações
produzidas durante um processo seletivo universitário em 2004.

II SELIN - 193
Comunicações

A construção do herói no discurso de Xanana


Gusmão

Roberta Gonçalves de Sousa MIRANDA


(Universidade Presbiteriana Mackenzie)
Regina Helena Pires DE BRITO (Orientadora)

Ao observar a forma como as colônias portuguesas foram


abandonadas a própria sorte quando ocorreram suas independências tardias
e como essa situação permitiu que um país pequeno e pacífico como Timor-
Leste, fosse invadido e dominado por um outro povo que, durante 25 anos,
exerceu uma política de opressão e terror, surgiu o interesse em estudar sua
história através de uma das figuras que levou esse povo guerreiro à liberdade:
Kay Rala Xanana Gusmão. A história de vida de Xanana Gusmão está
entrelaçada com a história de Timor e seu povo. Ao longo de sua vida,
proclamou discursos que versava sobre sua vida e seu país. Sua gana por
liberdade sempre esteve explicita em seu discurso contagiante, que atraia
não apenas seguidores, mas também conduzia militantes na busca pela
independência. Partindo da premissa que a linguagem determina a nossa
maneira de conceber a realidade, revelando uma ou várias visões de mundo
existentes em uma determinada formação social, o interesse em relação à
possibilidade de analisar a linguagem como discurso nasceu do contato
com a linha teórica da Lingüística, mais especificamente com a Análise do
Discurso, uma vez que esse campo nos dá subsídios necessários para
estudarmos elementos discursivos, a fim de identificarmos, por meio de
inferências, não apenas a visão de mundo dos sujeitos inseridos no discurso,
mas também o que determinou aquela visão nele revelada. Neste âmbito, o
presente estudo pretende identificar traços construtores do ethos do líder
timorense Xanana Gusmão, com base em elementos da Análise do Discurso,
analisando o depoimento de defesa de Xanana Gusmão, escrito durante o
domínio indonésio, quando, como líder de Resistência, se encontrava na
prisão.

194 - II SELIN
Comunicações

Implicações culturais na semiótica tensiva

Rubens César BAQUIÃO (UNESP/FCLAr)


Renata Facuri Coelho MARCHEZAN (Orientadora)

A semiótica greimasiana desenvolveu estudos profundos calcados


na fenomenologia, que é uma corrente filosófica cujas reflexões se
concentram na percepção, no modo como a atividade sensório-motora
determina a existência humana. O conceito de corpo é fundamental no
pensamento fenomenológico na medida em que os fenômenos físicos do
universo são percebidos pelas sensações corpóreas. O homem reconhece a
existência dos fenômenos físicos por meio dos sentidos fisiológicos, que
percebem tanto estímulos internos quanto externos em relação ao corpo.
Assim, toda a experiência entre homem e mundo está ligada à atividade
sensório-motora. Nossa proposta é trabalhar com a semiótica do discurso e
entender como a figura de Jesus Cristo é representada de diferentes formas
no decorrer da história. Essas diferentes representações estão relacionadas
aos valores da cultura no interior da qual o discurso foi produzido. O
arcabouço teórico é a semiótica discursiva e alguns dos conceitos básicos
são: O conceito de tensividade: Os esquemas tensivos que regulam a
interação entre o sensível e o inteligível. O sensível abarca tudo que se
relaciona às tensões passionais, ao afeto, e o inteligível é marcado pelo
relaxamento das tensões e diz respeito à compreensão e ao entendimento;
O conceito de práxis enunciativa: Entende-se que toda enunciação integra
elementos de outras enunciações, mas cada enunciação se caracteriza por
uma particularidade que a diferencia das enunciações com as quais se
relaciona; O conceito de semiosfera: A semiosfera é o campo no qual
diferentes culturas dialogam, é na semiosfera que as diferenças culturais se
resolvem, é um domínio que regula as heterogeneidades culturais. Assim,
demonstraremos que é possível analisar transformações culturais e históricas
com o arcabouço da semiótica discursiva, que nos possibilita trabalhar desde
o nível imanente das estruturas lingüísticas até o nível do discurso e suas
implicações nos valores culturais e históricos.

II SELIN - 195
Comunicações

Dicionário Temático infantil (DTI): uma proposta de


elaboração para o português do Brasil

Sheila de Carvalho Pereira GONÇALVES (UNESP/IBILCE)


Cláudia ZAVAGLIA (Orientadora)

O dicionário é ferramenta importante no processo ensino e


aprendizagem que vem ocupando um espaço cada vez maior nas pesquisas
acadêmicas, além de ser foco, como o livro didático, de criteriosas análises.
De acordo com o Programa Nacional do livro didático (PNLD), os
dicionários são divididos em 3 acervos que os classificam em Tipo 1, Tipo
2 e Tipo 3 de acordo com o público-alvo, o nível de ensino e a quantidade
de verbetes. Nosso objeto centra-se nas obras do tipo 2, ou seja, as que
apresentam um número mínimo de 3.500 e máximo de 10.000 entradas,
além de uma proposta lexicográfica adequada a alunos em fase de
consolidação do domínio da escrita, segundo os proponentes. O presente
trabalho pretende propor uma diferente organização da macroestrutura: a
estruturação em campos temáticos e da microestrutura desses dicionários.
Para tanto, utilizaremos os pressupostos da Lexicologia e da Lexicografia,
privilegiando a teoria dos campos léxicos, para a configuração de nosso
modelo. Como metodologia para a execução da pesquisa, adotamos os
seguintes critérios: (i) seleção dos dicionários do tipo 2 previamente
analisados e aprovados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC),
elencados no endereço eletrônico <http://portal.mec.gov.br/seb>, a saber:
Dicionário Escolar da Língua Portuguesa Ilustrado com a Turma do Sítio
do Pica-Pau Amarelo, Caldas Aulete, editora Nova Fronteira, 2005;
Dicionário Ilustrado de Português de Maria Tereza Biderman, editora Ática;
2004; Dicionário da Língua Portuguesa ilustrado, editora Saraiva Júnior,
2005; (ii) análise da macro e microestrutura das obras selecionadas; (iii)
seleção dos campos temáticos a serem utilizados em nosso dicionário, a
partir de pesquisas realizadas com alunos de escolas públicas e particulares
e (iv) seleção das unidades léxicas para a nomenclatura do DTI a partir dos
campos temáticos selecionados e organizados onomasiologicamente. Como
resultados finais, acreditamos, a partir de nossas análises, que um dicionário
infantil organizado por meio de campos temáticos possa ser um instrumento
útil e valioso nas mãos daqueles que estão sendo iniciados nas atividades
de ensino e aprendizagem do vocabulário.

196 - II SELIN
Comunicações

Antropônimos de pronúncia inglesa: adaptações


fonológicas realizadas por falantes do Português
Brasileiro

Suzana Maria Lucas Santos DE SOUZA (DINTER: UNESP/UFMA/IFMA)


Gladis MASSINI-CAGLIARI (Orientadora)

Este estudo tem como propósito investigar processos fonológicos


desencadeados por falantes do português brasileiro (PB) ao pronunciar
prenomes estrangeiros que entraram no léxico antroponímico brasileiro
via língua inglesa. Observa-se que tal fenômeno se dá em função do
desconhecimento do sistema fonológico do inglês por parte desses falantes,
que por conseguinte, realizam acomodações de pronúncia com base no
sistema fonético-fonológico de sua língua materna. Pretende-se mostrar
neste recorte da pesquisa os processos de fricatização do <R>, de velarização
do < l >, bem como o de ressilabação dos nomes, decorrente da inserção da
vogal epentética /i/. Percebe-se que a manifestação desses processos acarreta
em pronúncia tipicamente brasileira. Neste sentido, o tema da pesquisa
relaciona-se de forma direta com a definição de uma “identidade fonológica”
do português, inserindo-se na polêmica discussão dos limites entre o que
se convenciona chamar “estrangeirismo” (palavra estrangeira não adaptada)
e “empréstimo” (palavra estrangeira já adaptada à língua de
chegada). Verifica-se que, com o passar do tempo, os anglicismos podem
também sofrer um processo de adaptação morfológica, passando a fazer
parte da língua portuguesa. Trata-se, dessa forma, não apenas de um
processo de nativização ortográfica, mas de uma questão de incorporação
ao léxico da língua de destino. O corpus desta investigação cientifica é
constituído por uma lista de nomes próprios em inglês adquirida em escolas
públicas na cidade de São Luís-MA. Tenciona-se, por meio de gravações
conduzidas com sujeitos falantes nativos de ambas as línguas, realizar
análises espectrográficas a fim de demonstrar, em uma perspectiva fonético-
acústica, as distinções entre uma língua e outra.

II SELIN - 197
Comunicações

As relações concessivas no português falado sob a


perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional

Talita Storti GARCIA (UNESP/IBILCE)


Erotilde Goreti PEZATTI (Orientadora)

O presente estudo investiga as relações de concessão no português


falado no noroeste do Estado de São Paulo, do ponto de vista da Gramática
Discursivo-Funcional, proposta por Hengeveld e Mackenzie (2008). As
relações de concessão, na visão da Gramática Tradicional, estão restritas
às orações concessivas. De acordo com os gramáticos (BECHARA, 1999;
BUENO, 1963; CUNHA e CINTRA, 2001), as concessivas são classificadas
como orações subordinadas adverbiais por exercerem a função sintática de
adjunto adverbial (critério sintático) e dependerem da oração principal para
que se estabeleça sentido completo (critério semântico). Em nossos dados,
no entanto, a concessão pode ocorrer por meios não-oracionais, como
exemplificado em: (1) ...o motorista que ocasionou o acidente que:: em
parte digamos né? que... não teria tido tanta culpa apesar da sua falta de
atenção... mas analisando a situação eu vi que ele... não teve como evitar o
acidente... (AC-103-NE,88). Trataremos, dessa forma, tanto dos casos
oracionais quanto dos casos não-oracionais. O objetivo desta pesquisa
consiste em verificar se há distinções semântico-pragmáticas entre as várias
conjunções que assinalam a relação concessiva. Nossa hipótese é a de que
essas diferenças podem estar relacionadas aos níveis e camadas propostos
pela Gramática Discursivo-Funcional. O universo de pesquisa consiste no
córpus do Iboruna, o banco de dados do Projeto ALIP (Amostra Linguística
do Interior Paulista). Esse córpus faz um mapeamento da variedade
linguística de algumas cidades do noroeste paulista que se localizam
próximas a São José do Rio Preto. Os resultados mostram que a mesma
conjunção pode introduzir relações concessivas que atuam em diferentes
Níveis e camadas. A relação de concessão pode consistir em Conteúdo
Proposicional, no Nível Representacional, e em Atos e em Moves, no Nível
Interpessoal, a depender da posição que ocorrem. No Nível Morfossintático,
a relação concessiva pode se expressar por meio de Sintagmas ou Orações.

198 - II SELIN
Comunicações

A gramaticalização de juntivos adversativos na


história do português
Tatiana Mazza DA SILVA (UNESP/IBILCE)
Sebastião Carlos Leite GONÇALVES (Orientador)
Este trabalho apresenta as conclusões da dissertação de mestrado
que investigou o processo de mudança sintática, semântica e pragmática
dos adversativos porém, contudo, todavia, entretanto e no entanto do século
XIII ao XXI. Sob a perspectiva da gramaticalização, a hipótese é a de que
esses itens obedecem a uma trajetória do tipo advérbio > conjunção, possível
de ser verificada por meio de análises contextuais. Segundo Hopper e
Traugott (2003), a gramaticalização é um processo pelo qual itens e
construções lexicais passam, em determinados contextos, a assumir funções
gramaticais ou, se já gramaticalizados, continuam a desenvolver novas
funções gramaticais. Compartilhando dessa concepção clássica, o presente
trabalho conjugou as análises quantitativa e qualitativa, a fim de investigar
como ocorrem as mudanças que afetam o estatuto sintático, semântico e
pragmático dos itens adversativos estudados. Com base nos critérios de
freqüência token e type (HEINE, 1991; BYBEE et al. 1994; BYBEE, 2002,
2003), verificamos as ocorrências desses itens levando em conta os seguintes
fatores: (i) posição sintática; (ii) relação semântica-discursiva; (iii) co-
ocorrência com outras conjunções; (iv) relação lógico-argumentativa
estabelecida pelos itens, a partir dos postulados de Ducrot (1977, 1981);
(v) nível de articulação; (vi) presença de negação; (vii) tipo de negação;
(viii) correlação modo-temporal entre as orações; (ix) possibilidade de
paráfrase com o mas. O material selecionado consistiu de fontes históricas
e também de dados de escrita do português contemporâneo. Para o estudo
diacrônico, foram selecionados textos pertencentes ao “Corpus Diacrônico
do Português”, organizado por Longhin-Thomazi (2007) complementados
pelos dados do “Banco Informatizado de Textos”, do Projeto para a História
do Português (BIT-PROHPOR), de responsabilidade dos pesquisadores da
Universidade Federal da Bahia. Para representar o século XX, foram
selecionados alguns textos do Banco Lexicográfico da UNESP-Araraquara
e, representativo do século XXI, selecionamos alguns textos de caráter
opinativo-argumentativo (painel de leitores, editoriais, crônicas
jornalísticas) do jornal “Folha de São Paulo”. A principal conclusão é a de
que o valor adversativo desses itens emergem em diferentes momentos da
história do português e, nos usos contemporâneos que deles se faz, pode-se
afirmar que eles não se encontram gramaticalizados no mesmo grau.

II SELIN - 199
Comunicações

A voz da mídia internacional de/sobre o


ambientalista e seringalista Chico Mendes

Thaís Harumi Manfré YADO (UFSCar)


Lucília Maria Sousa ROMÃO (Orientadora)

Através do escopo da Análise do Discurso (AD) de matriz francesa,


busca-se nessa pesquisa, observar o funcionamento discursivo através dos
conceitos de memória discursiva e de sujeito. Para Pêcheux (1999), a
memória discursiva implica na percepção do já-dito como condição da
linguagem, em que os sentidos são sempre carregados de diversos outros
significados constituídos anteriormente que traçam “um percurso escrito
discursivamente em outro lugar”, e o conceito de sujeito é compreendido,
como sendo um resultante social e não empírico - individual, mas trata-se
de um sujeito que expressa um conjunto de outras vozes que integram dada
realidade social, e sua voz se constitui e se integra ao lugar sócio-histórico
em que se encontra (Fernandes, 2005). Busca-se analisar a materialidade
discursiva presente nos relatos midiáticos internacionais em dois momentos
diferentes: o primeiro, a voz que relata, poucos dias depois, detalhes da
morte do seringalista Chico Mendes, morto em dezembro de 1988, que na
época era considerado um grande líder sindical e um ambientalista muito
reconhecido por sua luta a favor da preservação da Floresta Amazônica; o
segundo, busca-se apresentar a voz midiática vinte anos depois da morte
desse mesmo seringalista, em que a mídia apresenta uma visão mais
idealizada desse mesmo sujeito, chegando a comparar o líder sindical Chico
Mendes, como o líder pacifista indiano Gandhi, e o jovem revolucionário
Che Guevara.

200 - II SELIN
Comunicações

Semioses da subversão em Caio Fernando Abreu:


um estudo semiótico

Thiago Ianez CARBONEL (UNESP/FCLAr)


Arnaldo CORTINA (Orientador)

Neste trabalho, apresentaremos parte dos estudos desenvolvidos no


âmbito de um projeto de doutorado que tem por meta a investigação dos
constructos retóricos-discursivos da homoafetividade na Literatura
Brasileira contemporânea, em particular em um conjunto restrito de autores
localizados nas duas últimas décadas do século XX. O suporte teórico que
sustenta nosso olhar engloba como eixo central a Semiótica proposta por
Greimas e desenvolvida por seus seguidores nas linhas da semiótica
Moderna (Fontanille, Zilberberg), acoplando a esta estrutura teórica as
perspectivas discursivas da retórica (ethos e pathos) e do dialogismo
bakhtiano. Nossa hipótese de pesquisa é a possibilidade de, através desse
ferramental teórica, verificar-se a existência de regularidades na edificação
dos discursos em torno da homoafetividade. Nesse contexto, interessa-nos
em especial a obra ficcional de Caio Fernando Abreu, autor gaucho de
grande proeminência nos anos 80 e 90, cuja obra constitui, hoje, o cânone
da literatura de temática homoerótica no Brasil. Abreu, em suas narrativas,
explora os lugares da subversão no universo homoerótico, tornando visível
o percurso de criação do próprio sentido subversivo na performance de
suas personagens e nos programas narrativos por elas desempenhados.
Partimos, como esboço analítico, de uma investigação em torno do conto
“Pela noite” (in: Triangulo das águas, 1983), observando como o autor
explora, particularmente no plano discursivo (sem exclusão da dimensão
narrativa), o jogo de oposições valorativas entre o licenciado e o subversivo.
Nesse texto de Abreu é patente a articulação entre o sentido estabelecido
pela performance das personagens e a construção dos referidos espaços da
subversão.

II SELIN - 201
Comunicações

Construção de um saber sobre o professor de


línguas: aspectos da singularidade

Vilma Aparecida Botelho FREITAS (Universidade Federal de Uberlândia)


Ernesto Sérgio BERTOLDO (Orientador)

Este trabalho é um recorte de nossa tese que está em andamento e


pretende discutir a construção teórica e prática de um grupo de professores
de língua estrangeira durante o curso de Letras, mais especificamente na
disciplina Prática de Ensino, desdobrando-se nos dois primeiros anos da
entrada no mercado de trabalho. Dentre os vários aspectos que consideramos
merecedores de atenção, elegemos para esta apresentação dois aspectos
que envolvem a questão dos estágios supervisionados. Um deles se refere à
maneira universal, ou ainda, homogeneizadora que essa experiência se
configura. Pensamos que homogeneizar os que são por princípio a pura
diferença traz para si o engodo de atender minimante a uma suposta demanda
do professor em formação. O que pode decorrer dessa operação é que haverá
o apagamento do sujeito. Nesse processo, parece-nos que não se tem como
relevante o “como” seria estar no mundo e ainda, “como” estar no lugar do
professor. O outro ponto é a tendência que se cria quanto à reprodução de
modelos prontos, que se pretendem “todo”, completos para ensinar uma
língua estrangeira. Perguntamos: até que ponto a FP institucionalizada nesse
modelo possibilita que o professor seja despertado para um ultrapassamento
do saber-fazer? Não seria esse saber-fazer algo que poderia resultar na
reprodução de um (mesmo) modelo? É curioso observar que ao mesmo
tempo que a reprodução é combatida no interior dos cursos, as demandas
institucionais conduzem seus processos de modo a não possibilitar a ruptura
com o discurso da universidade, ou melhor dizendo, com a histerização
dos discursos que fizeram parte da formação desses professores. Para essa
discussão, apontamos algumas concepções teóricas, tais como a de sujeito,
subjetividade, de linguagem e discurso, partindo da Análise do Discurso
francesa e dando ênfase a certos conceitos oriundos da psicanálise freudo-
lacaniana.

202 - II SELIN
Comunicações

Sujeitos na Rede Eletrônica: Sentidos em Espiral

Vivian Lemes MOREIRA (USP/FFCLRP)


Lucília Maria de Sousa ROMÃO (Orientadora)

O presente trabalho tem como objetivo refletir sob a ótica da Análise


do Discurso de filiação francesa sobre o modo como o sujeito procura,
instala e organiza seus arquivos na rede eletrônica, por meio do processo
da folksonomia, utilizando-se das tags para fazer falar (e calar) certas
palavras; problematizando, assim, o modo como os dizeres são instalados
e como circulam na rede. A folksonomia configura-se pela prática de
categorização colaborativa das informações na malha digital utilizando tags,
essas que funcionam como palavras-chave atribuídas pelo sujeito-navegador
para indexar de forma livre, e atribuir sentidos que ele deseja em conteúdos
da malha digital utilizando a linguagem natural. Ela surge no contexto da
Web 2.0, que é caracterizada pela organização e ampliação das formas de
produção de dizeres e arquivos pelo sujeito na malha digital. Esse contexto
modifica não apenas o modo de organização dos dizeres, mas também o
modo de constituição e circulação dos mesmos, visto que o sujeito passa a
ter uma outra relação com as palavras. Será analisado como o surgimento
do suporte eletrônico faz circular outros modos de dizer, organizar, indexar
e significar os arquivos, utilizando-se da inteligência coletiva para a
elaboração de novos métodos de organização e busca das informações na
Web.

II SELIN - 203
Comunicações

Usos não-convencionais de vírgulas em chats


infantis

Viviane Vomeiro Luiz SOBRINHO (UNESP/IBILCE – Bolsista FAPESP)


Fabiana Cristina KOMESU (Orientadora)

Fundamentado na noção de heterogeneidade da escrita (CORRÊA,


2004) e de gêneros do discurso (BAKHTIN, 1997), este trabalho objetiva
descrever as características linguísticas de um conjunto de “conversas”
on-line coletadas em um bate-papo virtual em aberto destinado a crianças
entre 08 e 12 anos de idade. Com enfoque na pontuação e, principalmente,
na ausência de vírgulas (em lugares em que vírgulas poderiam ser utilizadas
pelos escreventes), observa-se que os usos não-convencionais de vírgulas,
nos enunciados digitais, colocam em evidência o trânsito do escrevente de
bate-papo virtual entre práticas orais/faladas e práticas letradas/escritas.
As ausências de vírgulas, como recurso de pontuação, foram sistematizadas
em duas regularidades mais gerais: ausência total de vírgulas e “quebras de
linhas”. É possível observar essas regularidades ora como “marcas” da
relação entre oralidade/fala e letramento/escrita, empreendida pelo
escrevente, e ora como tentativas de “apagamento” de uma possível relação
(intersemiótica) que poderia ser estabelecida entre oralidade/fala e
letramento/escrita por meio do uso (convencional) de vírgulas. Para
estabelecer um recurso de comparação entre os aspectos orais/falados e a
ausência de vírgulas na escrita digital, utiliza-se, como ferramenta de análise,
o modelo de fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1986). A hierarquia
prosódica – sobretudo, as características dos constituintes mais altos, frase
entoacional e enunciado fonolólogico – serve como critério metodológico
para a comparação entre ritmo da fala, organizado pelos constituintes
prosódicos, e ritmo da escrita (CHACON, 1998), organizado pelos sinais
de pontuação. Na análise de dados, buscou-se uma abordagem qualitativa
e quantitativa, que possibilitasse o a apreensão tanto de indícios e rastros
residuais da relação sujeito/linguagem quanto traços mais gerais desses
enunciados no que tange à ausência de vírgulas, traços esses que apontam
para as características constitutivas do bate-papo virtual em aberto enquanto
gênero do discurso.

204 - II SELIN
Comunicações

O processo de individualização do sujeito no


discurso publicitário

Walkiria Aparecida David SILVA (UNESP/IBILCE – Bolsista CAPES)


José Horta NUNES (Orientador)

O objetivo desta pesquisa é analisar, a partir da perspectiva teórica


da Análise de Discurso, as páginas publicitárias da revista Veja,
considerando as marcas verbais e não-verbais do processo de
individualização do sujeito na materialidade do discurso. O discurso
publicitário, como todo discurso, constitui-se numa prática, inserida em
determinado conjunto social, em dada conjuntura histórica. O discurso como
prática tem ação transformadora, pois é um trabalho simbólico entre o
homem e sua realidade social. Na contemporaneidade, tal discurso é
considerado fundamental nesta sociedade de consumo, da qual todos, de
uma maneira ou de outra, fazemos parte. Nesse sentido, pode-se afirmar
que os textos de propaganda são poderosas armas de uma guerra ideológica.
Pensando na relação entre o sujeito e a sociedade, na constituição do sujeito
contemporâneo e focalizando certas especificidades do funcionamento da
linguagem na sociedade atual, entendemos que o discurso da propaganda
circula socialmente seja reforçando os valores sociais já existentes, seja
deslocando os mesmos, na tentativa de produzir valores mais condizentes
com as necessidades do Mercado. Trabalhando detalhadamente as
possibilidades simbólicas e imaginárias da linguagem, o texto
propagandístico realiza arranjos verbais e imagéticos que interpelam – cada
um a seu modo – e individualizam o sujeito-leitor. Não se trata, portanto,
de enganação, de “sedução” ou de manipulação dos sentidos, mas do próprio
funcionamento deste discurso, que interpela os leitores, os consumidores
da propaganda. O sujeito contemporâneo está em meio a controversos
processos de identificação, já que, com a falta do Estado, surgem outros
articuladores simbólicos – como o Mercado – com o domínio ideológico
do capitalismo. O discurso publicitário, então, está inscrito na formação
discursiva capitalista. A individualização do sujeito no discurso publicitário
passa pelo processo de identificações a que são suscetíveis os indivíduos
do complexo social.

II SELIN - 205
Índice por autor
SESSÃO DE DEBATES

Alessandra Jacqueline VIEIRA


Aline Mara FERNANDES
Amanda D’Alarme GIMENEZ
Ana Carolina SPERANÇA
Ana Helena Rufo FIAMENGUI
Assunção Aparecida Laia CRISTÓVÃO
Azenaide Abreu Soares VIEIRA
Camila Maria da Costa KAMI
Carla Jeanny FUSCA
Cassia Maria DAVANÇO
Cássio Florêncio RUBIO
Cibele Naidhig de Souza CARRASCOSSI
Claudiana Nair Pothin Narzetti COSTA
Cristiane Jussara ROMANATTO
Denise SILVA
Elisângela Alves GUSMÃO
Erasmo Roberto MARCELLINO
Felipe Iszlaji de ALBUQUERQUE
Francisco Vanderlei Ferreira da COSTA
Gabriela Maria de OLIVEIRA
George Henrique NAGAMURA
Glaucia Andrioli CHIARELLI
Jacqueline JORENTE
Juliana Spirlandeli BATISTA
Kelly Cristina TANNIHÃO
Lívia Monteiro de Queiroz MIGLIORINI
Luana PASSOS
Lúcia Regiane LOPES-DAMASIO
Ludmila Belotti Andreu FUNO
Luciana Mercês RIBEIRO
Maira CAMILLO

206 - II SELIN
Índice por autor

Maira Coutinho FERREIRA


Maira Sueco Maegava CORDULA
Maisa Jussara MARTINS
Marcela Ortiz Pagoto de SOUZA
Marcos Luiz CUMPRI
Mariana Giacomini BOTTA
Maria Paula Fiorim PIRUZELLI
Maria Sueli Ribeiro da SILVA
Marilia Costa REIS
Milenne BIASOTTO-HOLMO
Moema Guiduce NOGUEIRA
Paola Goussain de Souza LIMA
Patrícia de Cuzzo CURY
Priscila Barbosa Borduqui CAMPOS
Renata Pelloso GELAMO
Rosana Maria Sant’Ana COTRIM
Rosângela Nogarini HILÁRIO
Sandra Mari KANEKO-MARQUES
Solange dos Santos LIMA
Taísa Barbosa ROBUSTE
Tatiana de Oliveira Nino VANZO
Vinício Moreira DOS SANTOS
Viviane Aparecida Bagio FURTOSO

SESSÃO DE PAINÉIS

Abner Maicon Fortunato BATISTA


Adriana Viana POSTIGO
Adriano Caseri de Souza MELLO
Alexandre António TIMBANE
Alexandre Wesley TRINDADE
Aline Camila LENHARO
Amanda Cristina Martins RAIZ
Ana Carolina ARAÚJO
Ana Carolina Freitas Gentil Almeida CANGEMI
Ana Lídia PUIA

II SELIN - 207
Índice por autor

Andrea Cristian FUSCO


Artinésio Widnesse SAGUATE
Audinéia FERREIRA-SILVA
Bruna BUSNARDI
Caio Vieira Reis de CAMARGO
Carolina Cau SPÓSITO
Cleiliane Sisi PEIXOTO
Daniane da Silva ASSUNÇÃO
Denize Gizele RODRIGUES
Elisangela Fernandes MARTINS
Emeli Borges Pereira LUZ
Fernanda Barini CAMARGO
Fernanda MASSI
Geovana Carina Neri SONCIN
Gisela Sequini FAVARO
Helena Yuriko Sakano FERNANDES
Jaqueline Moraes da SILVA
Juliana Simões FONTE
Kelly Cristina Molinari da SILVA
Kelly Priscilla Lóddo CEZAR
Leandro Silveira de ARAUJO
Lívia Barbosa Borduqui CAMPOS
Livia Maria ORTEGA
Lívia Maria Turra BASSETO
Marcelo de Paula SOUZA
Márcia Cristina do CARMO
Maridelma Laperuta MARTINS
Marília Valencise MAGRI
Michel Gustavo FONTES
Micheli Gomes de SOUZA
Natalia Aparecida Gomes GRECCO
Natália Faloni COELHO
Natália Cristine PRADO
Nathasa Rodrigues PIMENTEL
Patrícia Dias Reis FRISENE
Patrícia FALASCA

208 - II SELIN
Índice por autor

Paula Cristina BULLIO


Rafael Henrique PALOMINO
Raquel Wohnrath ARROYO
Renan Belmonte MAZZOLA
Rosana Ferrareto Lourenço RODRIGUES
Selma Maria Abdalla Dias BARBOSA
Silvana ZAMPRONEO
Sílvia Maria Gomes da Conceição NASSER
Solange de Carvalho FORTILLI
Talita Serpa FRISENE
Tauanne Tainá AMARAL
Thais Holanda de ABREU
Vanessa Cristina PAVEZI
Ymorian Vilela ZWARG

COMUNICAÇÕES

Adriana Viana POSTIGO


Agenor Almeida FILHO
Águeda Aparecida da Cruz BORGES
Alexsandre Escorsi Messias MORO
Ana Cristina Biondo SALOMÃO
Ana Claudia Cunha SALUM
Ana Maria Hernandes da FONSECA
Ana Paula CINTA
Bruna Longo BIASIOLI
Carla Mayumi MENEGHINI
Carla Raqueli Navas LORENZONI
Cintia Alves da SILVA
Claudio BRITES
Cleber Alves de ATAIDE
Crisciene Lara Barbosa PAIVA
Cynara Maria Andrade TELLES
Daiana de Oliveira FARIA
Daniel Soares da COSTA
Dantielli Assumpção GARCIA

II SELIN - 209
Índice por autor

Deni Yuzo Kasama


Denise SILVA
Elizete Beatriz AZAMBUJA
Fernando Moreno da SILVA
Francis LAMPOGLIA
Gerardo Manuel García CHINCHAY
Giovanna LONGO
Gisele ALVES
Hélio Márcio PAJEÚ
Israel de SÁ
Janaina de Jesus SANTOS
Joceli Catarina Stassi SÉ
Juliana Simões FONTE
Julyana Chaves NASCIMENTO
Linda Catarina GUALDA
Lucimara Alves da Conceição COSTA
Márcia Helena Sauaia Guimarães ROSTAS
Marcos Luiz WIEDEMER e Paula de Souza GONÇALVES
Maria Auxiliadora Gonçalves DE MESQUITA
Maria Madalena Borges GUTIERRE
Maria Sílvia Rodrigues ALVES
Maria Teresa MARTINS
Marina Haber de FIGUEIREDO
Mariú Moreira Madureira LOPES
Mauricio Junior Rodrigues DA SILVA
Mircia Hermenegildo SALOMÃO
Nanci Moreira BRANCO
Natália Cristine PRADO
Nayara da Silva CAMARGO
Patricia Ormastroni IAGALLO
Paula Tavares Pinto PAIVA
Rinaldo GUARIGLIA
Roberta Gonçalves de Sousa MIRANDA
Rubens César BAQUIÃO
Sheila de Carvalho Pereira GONÇALVES
Suzana Maria Lucas Santos DE SOUZA

210 - II SELIN
Índice por autor

Talita Storti GARCIA


Tatiana Mazza DA SILVA
Thaís Harumi Manfré YADO
Thiago Ianez CARBONEL
Vilma Aparecida Botelho FREITAS
Vivian Lemes MOREIRA
Viviane Vomeiro Luiz SOBRINHO
Walkiria Aparecida David SILVA

II SELIN - 211
II SEMINÁRIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS
DA UNESP
13 a 15 de outubro de 2010
Instituto Ciencias e Letras
Araraquara - SP
Realização:

Programa de Pós-Graduação em
Estudos Linguísticos –S.J.Rio Preto
Programa de Pós-Graduação em
Linguística e Língua Portuguesa -Araraquara

Apoio:

CAPES
FUNDUNESP
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Pós-Graduação em Linguística
e Língua Portuguesa

Produção Gráfica:
HP Publicidade - 16-33222992

Impressão:
Grafica Cefali - 16-3335-6252

Araraquara - São Paulo - Brasil


Setembro de 2010

222 - II SELIN

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