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C u r s o d e P ó s - G r a d u a ç ã o e m Estudos Linguisticos d a F A L E / U F M G
1996
H. J . VERMEERi A TEORIA
DA FUNCIONALIDADE
(SKOPOSTHEORIE) EA
SUPREMACIA DA FINALIDADE"
I . Introdução
1 Cf. HOLZ-MÄNTTÄRI (1984) e HÖNIG & KUßMAUL (1982) para uma discussão
complementar.
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que importa é que a intenção de comunicar seja realizada no texto
de chegada" ( 1 9 8 5 : 6 ) . Para tal fim, a tradução passa a ser
considerada como uma função a partir de sua finalidade, retratada
através da fórmula abaixo: 2
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escolhidos aqueles aspectos que, talvez por não terem sido tratados
suficientemente a fundo na literatura anterior, pudessem adquirir
interesse e importância à luz da Teoria de Funcionalidade. Um dos
aspectos recorrentes é sempre a interdependência entre língua e
cultura. Entende-se que língua e cultura existem apenas numa
relação de troca mútua. No caso da tradução, essa relação espelha-
se na transferência de um texto em um situação de comunicação de
partida com uma língua e cultura específicas para um outro texto,
o texto de chegada, em uma situação de comunicação de chegada
expressa através de uma outra língua e cultura.
O modelo de comunicação escolhido para orientar as
discussões no âmbito da Teoria de Funcionalidade constitui-se da
seguinte forma:
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- A descrição de seu objeto de estudo, ou seja, neste caso,
a descrição do relecionamento da teoria da supremacia
da funcionalidade com a tradução;
- A apresentação do quadro de regras dessa teoria.
Dentro desse quadro de regras, uma teoria da tradução se
divide em três partes:
1. As regras gerais do objeto de estudo, ou seja, as condi-
ções de funcionamento cia tradução;
2. As regras específicas no nível do objeto de estudo, ou
seja, seus dados culturais, lingüísticos e textuais;
3. Suas meta-regras que dizem respeito à descrição do
funcionamento da tradução.
A pergunta seguinte indaga sobre a aplicabilidade de uma
Ciência da Tradução. Os autores defendem a elaboração de uma
teoria que consiga:
- observar as leis que a regem;
- exemplificá-las;
- facilitar a compreensão, desenvolver e solidificar a capaci-
dade crítica do tradutor.
Todavia, ainda segundo os autores, nenhuma teoria de
tradução vai formar o respectivo tradutor. Ela pode, contudo, levar
ao aperfeiçoamento do exercício da tradução, permitindo que o
leigo venha a conhecer suas leis, proporcionando-lhe uma maior
compreensão do processo tradutório. Em suma, os paradigmas cultu-
rais e/ou lingüísticos devem ser conhecidos antes de se proceder a
uma tradução, mesmo naqueles casos em que as línguas de partida
e de chegada possuam estruturas de superfície parecidas e se
encontrem culturalmente próximas.
Com base nas reflexões acima, apresenta-se abaixo o corpo
central da Skopostheorie, a Teoria da Funcionalidade, advogando
sempre, segundo Vermeer, a supremacia da finalidade.
Uma finalidade implica necessariamente em fidelidade a uma
ação determinada. Isso leva-nos ao conceito da Teoria de Ação
(cf. HARRAS, 1978) e às suas ligações com a Ciência da Tradução.
A finalidade de uma ação é alcançar um objetivo que sempre
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li
consiste na mudança de um estado existente para um estado
diferente, sendo que a expectativa com respeito a esse último é de
que ele seja sempre mais favorável. A Teoria da Funcionalidade é
uma variante da Teoria da Ação e se diferencia desta última
enquanto parte de uma situação pré-determinada, concreta: o texto
a ser traduzido. Antes mesmo que uma tradução seja feita, já existe
uma ação. Trata-se, portanto, de decidir, a partir dela, (1) se, (2) o
que e (3) como continuar com a ação já iniciada para dar prossegui-
mento ao processo tradutório e vir a gerar o produto visado: o texto
de chegada.
A Teoria da Funcionalidade, sendo uma teoria de objetivos
que advoga a supremacia da finalidade, tem seu nome definido a
a partir do grego skopós (alvo), que é usado pelos autores de
maneira sinonímica com os termos finalidade, objetivo, função e
escopo. A função dentro da Teoria da Funcionalidade tem dois
significados distintos: a noção de finalidade/escopo e a função
matemática de interdependência de grandezas nas quais se baseiam
as fórmulas apresentadas no texto.
Através de exemplos práticos, os autores mostram o
condicionamento cultural dos atos lingüísticos e extra-1 ingüísticos,
estabelecendo que há normas para os atos e que, dentro delas,
existe uma margem limitada para variantes de comportamento.
Deduzem, assim, que as relações entre variantes e finalidade são
específicas da respectiva cultura. Encontram-se aqui os casos de
tradução nos quais possam ocorrer comportamentos específicos,
positivos e/ou negativos, entre a cultura de partida e a cultura de
chegada. Pode-se resumir dizendo que, lato sensu, toda ação é uma
reação a uma situação; no caso específico da tradução temos uma
reação à situação de comunicação de chegada, incluindo-se aqui
tanto a cultura quanto a língua de chegada.
A discussão sobre a interrelação entre ação e finalidade
prossegue com a análise do conceito de norma. Para Reiß &
Vermeer, "normas são convenções explícitas ou tácitas, específicas
de uma cultura" (1984:97). Assim, essas normas regulamentam
comportamentos recorrentes em determinados tipos de situações,
os quais se tornam a constante da ação. Tem-se, por conseguinte,
que uma ação tem sentido quando, dentro de uma determinada
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situação, ela se conserva dentro da adequação conforme os padrões,
isto é, as normas dessa cultura.
Considera-se que os atos são duplamente intencionais tanto
por adequarem-se à situação de comunicação de chegada dentro
das normas da respectiva cultura quanto por pretenderem alcançar
uma finalidade. Assim sendo, a ação pode ser definida como a
função de dois fatores: a avaliação de uma determinada situação e
a intenção gerada por ela, ou seja, a função da ação. Para Reiß &
Vermeer (1984:98), essa função é definida pela seguinte fórmula:
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mas simplesmente afirma que há intenções e que os atos são
direcionados por elas. Em suma, a finalidade é o fator dominante
dentro da Ciência da Tradução.
A partir do escopo de uma tradução, uma ação é definida
como bem sucedida quando ela pode ser explicada como adequada
a uma situação específica. Nesse tipo de interação, o primeiro a
exigir essa explicação será o emissor do texto a ser traduzido. Ele
é que deve explicar sua intenção. Nem sempre, porém, a ação
corresponde à intenção, mas esta pode persistir até a ação adequar-
se às suas imposições. O receptor, por sua vez, tenta também
conseguir uma explicação ou interpretação para o procedimento do
emissor. Essas duas explicações ou interpretações podem, contudo,
não corresponder entre si. Pode ainda ocorrer entre os participantes
uma expectativa recíproca, chamada de co-orientação reflexiva.
Resumidamente, o valor atribuído a uma ação é determinado pelo
emissor através de sua intenção e pelo receptor através de
interpretação da intenção do emissor. Sendo assim, a verdade de
uma ação depende de uma teoria de valores orientada na finalidade
e é, por conseguinte, uma verdade subjetiva ou relativa. Dentro da
Ciência da Tradução, uma ação (nesse caso, uma tradução) é
considerada bem sucedida quando o seu valor para o emissor não
mostra divergências discrepantes em relação ao valor estabelecido
pelo receptor para essa mesma ação/tradução.
Finalizando, Reiß e Vermeer concluem que a função de uma
tradução é responsável pela adoção de um tipo específico de ação
para sua realização no qual a finalidade da tradução é superior ao
modo cie execução. A tradução é basicamente uma interação onde
essas finalidades seguem uma ordem hierárquica. A maneira como
essa interação ocorre depende também das relações entre os
participantes da interação. O receptor faz parte da finalidade da
tradução como um constituinte especial. Em decorrência da
determinação de sua finalidade, certas partes do texto de partida
podem estar sujeitas a mudanças de peso antes, durante e depois
de uma tradução. Podem também existir finalidades hierarquica-
mente distintas para as várias partes do texto. Enfim, a finalidade
de uma tradução pode divergir da finalidade do texto de partida.
180
3. Conclusão
181
«ias
f
atualizada, isso deve ser visto como um indicador da validade
da teoria apresentada4 (REIß & VERMEER,1984/91 :viii).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Translatorik und einen Promotionsstudiengang Translatologie, in
Kääntäja/Översättaren 3, p.4-6, 1985.
* Sechs Jalire sind im heutigen Wissenschaftsbetrieb eine lange Zeit. Seitdem die
erste Auflage dieses Buches 1984 erschien, ist in der Übersetzungs- und
Dolmetschwissenschaft viel gearbeitet und mancher Fortschritt erzielt worden.
Wenn dieses Buch dabei immer noch unverändert und lediglich durch eine kurze
weiterführende Bibliographie ergänzt erscheinen kann, so darf dies wohl als ein
Hinweis auf die Gültigkeit der vorgetragenen Theorie gelten.
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REIß, K. & VERMEER, H. j. Grundlegung einer allgemeinen Translations-
theorie. (2 8 ed. 1991). Tübingen: Niemeyer, 1984.
SNELL-HORNBY, M. Translation Studies: an integrated approach.
Amsterdam/Philadelphia: Benjamins, 1988.
VERMEER, H. j. Skopos und Translationsaußraf - Aufsätze. Heidelberg,
1990.
VERMEER, H. j. Kulturspezifik des translatorischen Handelns. Vorträge
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VERMEER, H. J. Aufsätze zur Translationstheorie. Heidelberg, 1983.
VERMEER, H. j. Sprachen und Kulturanthropologie. Ein Plädoyer für
interdisziplinäre Zusammenarbeit in der Fremdsprachendidaktik, in
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