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uma nova postura para um
novo paradigma

A física quântica, com base em seu famoso “efeito


do observador” (o olhar do observador transforma
possibilidades quânticas em experiências reais
na consciência dele mesmo), está nos
induzindo a uma mudança de paradigma
científico: a passagem do primado da matéria
para a primazia da consciência (para mais
detalhes, leia meu livro O universo
autoconsciente). O novo paradigma é
abrangente. Trata-se de uma ciência da espiri-
tualidade que inclui a materialidade.
A ciência materialista não foi capaz de en-
frentar os desafios das últimas cinco décadas.
Nossas instituições sociais – capitalismo, demo-
cracia, educação liberal, sistemas de saúde e de
cura –, historicamente enraizadas no idealismo,
ou mesmo na espiritualidade, foram desfi
guradas pelo materialismo, e suas raízes
espirituais quase não podem ser reconhecidas.
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Hoje, vivemos inúmeros problemas de ordem social
e cultural, em que se destacam o aquecimento global, o
terrorismo e as constantes crises econômicas. Mas há
outros dilemas não menos importantes. Um imenso
abismo está se abrindo entre ricos e pobres, e a classe
média está sendo comprimida. Nossa democracia se
curva à influência sempre crescente da mídia e do di-
nheiro. A educação não inspira. Os custos de saúde
crescem assustadoramente, e assim por diante.
A origem de todos esses problemas está na ideia
mecanicista de que há um conflito entre espírito e ma-
téria. Mas a boa notícia é que essa aparente contradição
vem se desfazendo com a consolidação do novo para-
digma científico, abrangente e integrador, que, baseado
na física quântica, redescobre a espiritualidade ao afir-
mar que é a consciência, e não a matéria, o substrato
para tudo o que existe.
Num lampejo, então, pressenti o desafio. E foi assim
que a ideia do livro e o movimento de que ele faz parte
vieram-me à mente. Devemos aplicar os princípios e usar
a orientação da física quântica para devolver a espiritu-
alidade e a unidade ao nosso meio social, às nossas
instituições sociais.
Adotar essa nova perspectiva e levar essa mensa-
gem à sociedade é tarefa do ativista. A física quântica
nos provê de ideias transformadoras que podem nos
modificar individualmente e restaurar nossas instituições
sociais, devolvendo unidade àquilo que estava separado.
Para identificar e fazer acontecer essa mudança, é
importante lembrar que a física quântica é a física das
possibilidades; que as nossas sensações, nossos senti-

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mentos, ações e intuição são compartimentos da reali-
dade mediados pela consciência e por meio dela
manifestados (via colapso da onda de possibilidades
quânticas). Portanto, o pensamento quântico nos restitui
o livre-arbítrio para podermos concretizar algumas des-
sas possibilidades. Essas escolhas livres estão nos liber-
tando descontinuamente de hábitos passados. Elas
provêm de uma inter-relação cósmica que chamamos de
não localidade quântica – a capacidade de comunicação
sem sinais (detidamente explicada em outros livros de
minha autoria, como O universo autoconsciente, A física
da alma e Criatividade para o século 21).
E a ideia central do ativismo quântico é justamente
a de que, imbuídos desse espírito, possamos transformar
o mundo e a nós mesmos.
É fato que estamos vivendo um novo estágio de
evolução da consciência, o que nos permitirá aumentar
a nossa capacidade de processar novos significados e
novos valores. Para isso, temos de despertar o potencial
criativo dormente em cada um de nós. Uma criatividade
que pode ser conquistada por qualquer pessoa. Uma
transformação que afeta diretamente o modo como agi-
mos, abrindo caminho para ações que gerem benefícios
a ser compartilhados por todos.
Em 2009, as cineastas Ri Stewart e Renee Slade
realizaram um documentário chamado O Ativista Quân-
tico, que proporciona uma visão geral das ideias
básicas desse movimento. O livro do mesmo nome, por
sua vez, é a explicação dessas ideias de forma mais
prática, criando um manifesto para mudanças pessoais
e sociais. De diversas maneiras, trata-se de uma certifi
cação do
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poder decisório dos indivíduos, do pensamento íntegro
e da vivência reta, preparando-nos para implementar
soluções para muitos problemas “impossíveis” que o
materialismo nos legou.
No livro, também discuto essas soluções mais a
fundo: a economia espiritual, que lida com nosso bem-
-estar holístico, e não apenas com nossas necessidades
de consumo material; a democracia, que usa o poder
para servir ao significado, em vez de usá-lo para dominar
os outros; a educação, que nos liberta do jugo do conhe-
cido; a religião, que integra e une; e novas e econômicas
práticas de saúde, que restauram nossa integridade.
Incluo também as cartas abertas escritas por mim ao
presidente Barack Obama, apresentando ao estadista
norte-americano sugestões para ajudar a resolver os
grandes problemas atuais, segundo os princípios do
ativismo quântico.
O documentário O ativista quântico levou a ideia
do ativismo quântico para o primeiro plano da atenção
pública. O livro aprofunda seus conceitos e comprova
sua aplicação prática em nosso dia a dia. Já esta edição
compacta consiste em uma apresentação às ideias bási-
cas do movimento, um convite à sua iniciação. Espero
que ela lhe inspire a assistir ao filme e a ler o livro. Bem-
-vindo ao mundo do ativista quântico.

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as evidências científicas da
espiritualidade

A ciência descobriu a espiritualidade. Hoje, há


uma teoria científica logicamente consistente
sobre Deus e a espiritualidade com base na física
quântica e no primado da consciência. E temos
dados experimentais replicados apoiando essa
teoria. Noutras palavras, embora a mídia ainda
não alardeie isso, há agora uma ciência viável da
espiritualidade prenunciando uma mudança de
paradigma, a superação da atual visão de mundo
que estimula exclusivamente a materialidade.
Você pode chamar a nova ciência de ciência
de Deus, mas não precisa fazê-lo. Na nova ciên-
cia, não existe Deus como um imperador todo-
-poderoso, fazendo julgamentos a torto e a direito;
existe uma inteligência pervasiva que também é
o agente criativo da consciência, e que você pode
chamar de Deus, se quiser. Mas esse Deus é ob-
jetivo, é científico.

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E o que devemos fazer a respeito disso? O que
podemos fazer para devolver Deus – na verdade, nossa
própria fonte superior de causação – e a espiritualidade
a nossas vidas e à sociedade? A resposta que apresento
é o ativismo quântico, um movimento renovador com
tríplice propósito.
Primeiro, recorremos ao ativismo a fim de chamar a
atenção da mídia para o pensamento quântico e o primado
da consciência; isso vai gerar apoio a novas pesquisas e
conferir peso e reconhecimento ao novo paradigma em
detrimento da ciência mecanicista tradicional.
Segundo, usamos o poder transformador da física
quântica para nos transformar individualmente e nos
tornar exemplos e arautos da mudança social.
Terceiro, reconhecemos que a atual estrutura so-
cial, dominada pelo materialismo, não favorece a ini-
ciativa das pessoas comuns que desejam ter uma vida
significativa, criativa e transformadora. Assim, defen-
demos o ativismo como instrumento de mudança de
nossas instituições sociais, de maneira a permitir que
todos possam realizar seu potencial humano e alcançar
a felicidade, o que só é possível por meio de metas
criativas e espirituais.

Deus, causação descendente


e livre-arbítrio

Há alguns anos, estava realizando uma palestra no Bra-


sil sobre o recém-surgido paradigma da ciência baseado
na física quântica. Um participante me desafiou:

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– Já ouvi falar muito sobre novas interpretações
que integram ciência e espiritualidade. Mas isso não é
só teoria? Quando é que vocês vão nos apresentar com-
provações ou dados?
Por um instante, fiquei abalado, mas depois res-
pondi:
– Na verdade, fizemos nosso trabalho. As evidên-
cias científicas da espiritualidade, incluindo dados ex-
perimentais, estão aqui. Mas eu pergunto: o que estamos
fazendo com elas?
A pergunta deu margem a muitos questionamen-
tos, alguns dos quais descrevo a seguir.

• Se a espiritualidade foi restabelecida pela ciên-


cia em nossa vida, então devemos observá-la.
Minha formação religiosa diz que devemos ser
virtuosos. Eu gostaria de me tornar um ser hu-
mano mais amoroso, sincero, justo e solidário.
A nova ciência pode me ajudar?
• Quando penso na espiritualidade, penso em
Deus, e tenho dúvidas sobre Ele. Essas dúvidas
fizeram com que eu me voltasse para objetivos
materiais, que não me deixaram mais feliz. Eu
gostaria de resgatar a espiritualidade em minha
vida. O que tem a dizer a nova ciência?
• Se a espiritualidade é real, isso significa ter de
abdicar de metas materiais em seu benefício? E
se eu quiser explorar meu potencial criativo?
• Desisti de Deus, pois não entendo como um Deus
bom permite que aconteçam tantas coisas ruins.
Não consigo aceitar a divisão entre bem e mal

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do cristianismo popular. A nova ciência pode
me ajudar nessa questão?
• Gostaria de trabalhar em soluções para nossos
problemas sociais. Isso é espiritual?

Hoje, há muita gente confusa em relação à ética,


ao valor da religião e da espiritualidade, e mesmo sobre
o livre-arbítrio e a criatividade na busca do potencial
humano; isso é resultado das afirmações categóricas e
desmedidas da ciência convencional em prol do mate-
rialismo científico – todas as coisas (objetos materiais,
pensamentos e ideias como espiritualidade e Deus) po-
dem ser reduzidas a partículas elementares de matéria
e suas interações.
O cristianismo popular deveria oferecer respostas
a tais disposições, mas suas concepções simplistas não
nos ajudam a lidar com essas afirmações. Assim, a ideia
de que Deus é uma ilusão e que seria melhor esquecê-lo
foi ganhando terreno.
Mas o Deus que os cientistas tradicionais denigrem
é justamente aquele da crença popular simplista: um Deus
onipotente que, de seu trono celeste, julga as pessoas e
as envia para o céu ou para o inferno; um Deus que criou
o mundo e todas as espécies vivas de uma só vez, há seis
mil anos; um Deus que permite que coisas ruins aconte-
çam a pessoas boas; um Deus que se supõe perfeito e que,
no entanto, tem imagens imperfeitas – ou seja, nós.
Pois bem, precisamos ser claros. Que natureza de
Deus a física quântica e o pensamento do primado da
consciência estão postulando? O Deus da nova ciência
é compatível com o Deus de que falam as grandes tra-

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dições religiosas? Discuti essas questões num livro re-
cente, Deus não está morto, e apresento um
rápido resumo de seus pontos básicos.
Na ciência materialista, existe apenas uma fonte
de causação: as interações materiais. Damos a elas o
nome de causação ascendente, pois a causa sobe desde
o nível básico das partículas elementares até os átomos,
as moléculas e a matéria densa que inclui as células
vivas e o cérebro. Tudo bem, só que, segundo a física
quântica, os objetos são ondas de possibilidade, e tudo
que as interações materiais conseguem fazer é transfor-
mar possibilidade em possibilidade, mas nunca em re-
alidades que experimentamos. Como o dualismo, este
também é um paradoxo. Para transformar possibilidade
em realidade, é necessária uma nova fonte de causação,
e vamos chamá-la de causação descendente.
Quando percebemos que a consciência é a base de
toda a existência e que objetos materiais são possibili-
dades da consciência, então também percebemos a
natureza da causação descendente: ela consiste na es-
colha de uma das facetas do objeto multifacetado da
onda de possibilidades, que então se manifesta como
uma realidade. Como a consciência está escolhendo uma
de suas próprias possibilidades, e não algo separado,
não existe dualismo.
A física quântica pode ter um caráter preditivo e
determinista para um grande número de coisas; contudo,
para eventos isolados e/ou objetos individuais, existe
espaço para a liberdade de escolha e para a criatividade.
Por que não podemos usar nossa liberdade de es-
colha para criar nossa própria realidade e fazer com que

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só aconteçam coisas boas? Essa é uma boa pergunta. E
como é possível não estarmos conscientes de que esta-
mos fazendo escolhas da maneira como sugeri? Esta é a
resposta crucial. O estado de consciência a partir do qual
fazemos escolhas é um estado mais sutil, extraordinário,
de uma consciência interconectada na qual somos todos
um, uma consciência quântica “superior”. Por isso, é
apropriado chamar de descendente a causação dela
proveniente, e de Deus a sua fonte.
Veja, a unidade interconectada da consciência é
aquela em que as conexões se dão sem sinal; o nome
técnico para essas conexões sem sinal é não localidade
quântica. Como você deve saber, na teoria da relativi-
dade de Einstein todas as interações no espaço e no
tempo devem ocorrer por meio de sinais. Assim, para
usar as palavras do físico Henry Stapp, a causação des-
cendente não local deve ocorrer “fora” do espaço e do
tempo, embora seja capaz de produzir um efeito – a
realidade – no espaço e no tempo.
Se você percebeu paralelos entre essa ideia e a
evocação que costuma ser feita em discussões espiritu-
ais de alto nível – “Deus é tanto transcendente ao mundo
como imanente a ele” –, isso é bom. Antes do advento
da física quântica, era desse modo que os mestres espi-
rituais tentavam mostrar que a relação entre Deus e o
mundo não é dualista. E quando as pessoas leigas se
queixavam da obscuridade dessa afirmação, eles diziam
que Deus é inefável, o que só aumentava a dificuldade
de compreensão.
Na nova ciência, a relação entre Deus-consciência
e a consciência comum egoica é clara: na segunda, co-

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nexões e comunicações devem usar sinais; na primeira,
a comunicação sem sinal é a norma.
A existência de comunicações não locais entre
pes-soas foi confi rmada e replicada em milhares de
experi-mentos. Como as interações materiais nunca
podem simular a não localidade, essa prova
experimental da existência de Deus, visto como uma
consciência superior, uma interconexão não local de
todas as coisas, é definitiva.
Temos livre-arbítrio? Se somos capazes de acessar
nossa consciência superior e fazer escolhas a partir dela,
pode apostar que sim; temos a total liberdade de escolha
dentre as possibilidades quânticas apresentadas em
qualquer ocasião. Dispomos de livre-arbítrio para esco-
lher o mundo, bem como Deus e a natureza divina, a
criatividade e a transformação espiritual.
A física quântica é a física das possibilidades, e sua
mensagem incontroversa é que temos potencialmente a
liberdade de escolher, dentre essas possibilidades, re-
sultados que podem ser vivenciados.

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ativismo quântico

Com certeza, o novo paradigma quântico forta-


lece e incentiva algumas pessoas que precisam
fazer mudanças pessoais, buscando a iluminação
espiritual ou a salvação de que falam as tradições.
Mas são poucos aqueles que ouvem os clarins da
transformação espiritual. E os demais? E aqueles
que preferem formas mundanas de significado
para resolver problemas mundanos?
A verdade é que temos realizado atos indi-
viduais de transformação espiritual em pequena
escala há milênios, mas isso não tem ajudado
muito nossas sociedades. Isso pode ter sido inte-
ressante no passado, quando estávamos desco-
nectados localmente. Nos últimos tempos, porém,
o aumento no número de conexões locais entre
nós foi exponencial.
Hoje, problemas locais tornam-se universais
com velocidade espantosa. A solução de proble-

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mas globais exige nada menos do que criatividade e
transformação globais. Como produzir uma mudança
transformadora em escala global? É preciso um novo tipo
de espiritualidade. É disto que trata o ativismo quântico.
Além disso, o modo como as pessoas ganham a vida
hoje impede a maioria delas de se ocupar com questões
como signifi cado e transformação. Se você trabalha
numa linha de montagem e não faz nada que agregue
signifi cado à sua vida enquanto labora, depois do expe-
diente só vai querer se divertir, para manter-se em seu
estilo de vida condicionado, previsível e controlável.
Precisamos mudar nossos sistemas sociais a fim de dar
às pessoas a oportunidade da transformação.

Problemas sociais em
escala global

Dois problemas e a tentativa de solucioná-los me ajuda-


ram a escrever O ativista quântico. O primeiro já foi
mencionado: com base nas evidências científicas da
criatividade e da espiritualidade, como podemos
restaurar Deus em nossas vidas e no mundo? O
segundo problema, ou melhor, conjunto de problemas,
é ainda mais urgente.
O meio ambiente está ameaçado pelo
aquecimento global. O terrorismo, as guerras e a
violência generali-zada deterioram as relações
humanas e entre os povos. Vivemos crises econômicas
em escala global com fre-quência cada vez maior.
Estes são três dos maiores de-safi os do nosso tempo,
porém há outros não menos importantes, a seguir
mencionados. 14

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• O capitalismo, idealizado para dar oportunida-
des a todos, hoje reproduz a mesma lacuna
entre ricos e pobres que víamos na época feudal.
O que deu errado em nosso modelo econômico?
• A democracia, surgida da ideia de um governo
“do povo, pelo povo e para o povo”, se deixou
cercar pela mídia e pelo dinheiro, de maneira
que o poder se concentrou novamente nas mãos
de poucos e está sendo usado para a dominação.
• A educação liberal, idealizada para estimular o
uso da mente com o propósito de processar
novos significados, hoje é um processo formal e
voltado para o mercado: prepara-nos mais para
preencher empregos que outros criaram para
nós e menos para explorarmos/desenvolvermos
os significados que vislumbrávamos para nossas
vidas.

E não é tudo. Os custos cada vez maiores com a


saúde constituem outro problema para o qual não há
uma cura à vista. As religiões estão abandonando sua
missão de estudo e disseminação dos valores espirituais
e tornando-se mais e mais parecidas com as instituições
mundanas, que procuram meios para dominar os demais.
Que outro motivo as religiões teriam para se interessar
tanto por política?
E por último, mas não menos importante, mesmo
diante do nascente paradigma, o establishment cientí-
fico parece pouco interessado em revisar sua visão de
mundo, e menos ainda em mudar sua postura baseada
no materialismo científico; Deus e, na verdade, todos

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os nossos fenômenos interiores são epifenômenos, se-
cundários à matéria.
Encaremos os fatos. A criatividade individual e a
transformação de um punhado de pessoas não causam
qualquer abalo na disposição da mente global para iniciar
mudanças que levarão a soluções para esses problemas.
É preciso um novo tipo de ativismo – o ativismo
quântico –, no qual o foco está tanto nas mudanças in-
dividuais como nas mudanças coletivas necessárias para
transformar. E, para dar impulso à criatividade e à trans-
formação em grande escala, devemos mudar os sistemas
sociais, tornando-os mais abertos à possibilidade de
modificações significativas.

Um novo tipo de ativismo

É justo admitir haver ativistas buscando soluções para


o planeta. Se ocorrem guerras injustas, há pacifistas
protestando contra elas. Se presenciamos a perigosa
destruição de nosso meio ambiente, também há ecolo-
gistas lutando por sua preservação. Se a ciência mate-
rialista e a tecnologia ameaçam as religiões, temos
ativistas defendendo antigos costumes religiosos para
preservar seus valores. Então, qual a importância de
introduzir outro tipo de ativismo? Afirmo que o ativismo
praticado atualmente não atinge resultados efetivos por
ter dois defeitos.
Primeiro, uma notável falta de sincronia em sua
abordagem – falta de sincronia entre aquilo que os ativis-
tas pensam e falam e o modo como realmente vivem e

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agem. Em outras palavras, os ativistas não têm autoridade
moral. Por exemplo, vemos pacifistas que lutam por sua
causa, mas não têm paz interior – seus protestos só pola-
rizam, não unem as pessoas na paz. Acompanhamos
ambientalistas perdidos em atividades consumistas e
materiais que, muitas vezes, acabam destruindo o próprio
ambiente por eles defendido. E temos ativistas religiosos
recorrendo a uma das atividades mais antirreligiosas que
podem existir: a violência na forma do terrorismo.
Segundo: os ativistas de hoje não têm novos para-
digmas a oferecer, não dispõem de novos modelos
interpretativos para a solução de conflitos, para a dimi-
nuição de diferenças ou para demonstrar por que a arte,
as humanidades e a espiritualidade são importantes. Na
ausência de novos paradigmas organizadores, não surge
nenhuma solução de longo prazo para os problemas que
enfrentamos.
Mesmo assim, quem pode duvidar da importância
atual do ativismo?
Precisamos de mudanças sociais, precisamos de
ativistas que produzam mudanças sociais; quanto a isso,
não há dúvida. Nos Estados Unidos, chegamos a eleger
presidente um ex-organizador de comunidades caren-
tes, pensando em mudanças. O establishment não vai
mudar por iniciativa própria, pois nunca o fez. Com
efeito, apenas agirá para perpetuar seus antigos méto-
dos, realizando, na melhor das hipóteses, somente
mudanças triviais.
A falta de sincronia entre aquilo em que acredita-
mos e o modo como vivemos deve-se à incongruência
de nosso sistema de crenças.

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Queremos ser ativistas porque acreditamos num
mundo ideal, no qual prevaleçam a justiça, a paz e o
amor. São conceitos idealistas que, no Ocidente, tiveram
origem no pensamento platônico, e, no Oriente, nos
Upanishads, no taoísmo e na Cabala; fazem parte de
uma filosofia chamada idealismo monista – a consciência
e suas ideias vêm primeiro, a consciência é a base ho-
lística de toda a existência; tudo o mais, como manifes-
tações materiais, é secundário. Em outras palavras, a
integridade é primária, enquanto a fragmentação mate-
rial do mundo manifestado é secundária.
Nós temos nos esquecido de vivenciar essa natu-
reza holística fundamental de nossa existência; hoje,
nossos ativistas, não muito diferentes dos arautos do bem
contra o mal, perpetuam a separação que cria os proble-
mas que desejamos resolver. Supostamente, “combate-
mos” os criadores de problemas, negatividade com
negatividade. E mais: a linguagem que usamos para
descrever nosso conflito é separatista. Já perdemos a
integridade que desejamos atingir.
A principal razão para nossa amnésia coletiva é a
ciência moderna (pré-quântica), baseada no materia-
lismo científico, a ideia de que a matéria – consistente
em objetos separados e independentes – é a base de toda
a existência, e que tudo o mais, inclusive a consciência,
é secundário. O sucesso dessa concepção materialista
de ciência ao explicar os fenômenos naturais e, em es-
pecial, o sucesso de um fruto dessa ciência – a tecnologia,
na melhoria de nossas condições de vida – são tão gran-
des, tão generalizados, que toda a nossa cultura tem sido
influenciada, aberta ou veladamente, pela metafísica

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materialista subjacente a ela. E os ativistas nascidos e
criados nessa cultura materialista universal não con-
seguem deixar de alimentar conceitos metafísicos
conflitantes, que geram a falta de sincronia entre seu
pensamento, seu discurso e suas ações.
Ao preparar um artigo sobre Gandhi, um repórter
ficou impressionado com o fato de o líder indiano dirigir-
se a grandes multidões sem recorrer a uma única ano-
tação. Quando perguntou à sra. Gandhi como ele fazia
isso, ela respondeu: “Bem, nós, pessoas comuns, pensa-
mos uma coisa, dizemos outra e fazemos uma terceira;
mas, para Gandhi, são todas a mesma coisa”. Não po-
demos nos tornar Gandhis da noite para o dia, mas po-
demos adaptar uma prática visando a essa meta. É disso
que trata o ativismo quântico.
A (re)descoberta científica de Deus e a elucidação
do que é Deus fazem parte da mudança de paradigma
que está em curso na ciência: a passagem de um conhe-
cimento fundamentado na matéria para um saber cujo
elemento essencial é a consciência; a transição de uma
metafísica materialista para outra idealista.
O novo paradigma científico apoia-se em duas
premissas metafísicas. Uma delas consiste em postular
que a consciência é a base de toda a existência. Esta
concepção é muito antiga, a base do idealismo monista,
já mencionado, ou da filosofia perene. Mas nossa se-
gunda premissa é que torna de fato científico esse novo
paradigma: a física quântica é a lei do movimento di-
nâmico das possibilidades, dentre as quais a consciência
manifesta os mundos de nossas experiências externas
e internas.

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E é esse princípio que nos desperta para um novo
estilo de vida integral, e que pode nos levar a instituir
mudanças individuais e sociais. Um dos objetivos decla-
rados do ativismo quântico é justamente alcançar esse
modo de vida integral, traduzido na congruência entre
pensamento, vida e experiência.
Assim, podemos afirmar que poder do ativismo
quântico provém do uso dos aspectos transformadores
da física quântica, tanto para a exploração interior (o
self) como para a exterior (a sociedade).

Incluindo a totalidade da experiência


humana em nossa ciência

Quando discutimos objetos e eventos singulares, preci-


samos enfrentar o problema da medição, também cha-
mado de “efeito do observador”: de que modo nossa
medição ou observação altera a – ou causa o “colapso”
da – possibilidade e a transforma em realidade. Como
já mencionei, a solução do problema da medição é
pensar no colapso como o resultado da escolha feita por
uma consciência não local. E Deus não joga dados.
Temos o determinismo estatístico para muitos objetos e
muitos eventos, assegurando uma ciência preditiva das
coisas inanimadas. Mas também temos a liberdade de
escolha, o livre-arbítrio, para atos individuais de seres
biológicos, sempre que isto for capaz de funcionar por
meio da consciência não local. Neste caso, também, a
memória adquirida de reações prévias a estímulos pro-
duz um comportamento previsível e condicionado do

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estado comum da consciência ao qual damos o nome
de ego, o domínio do comportamento previsível na
psicologia (tal como expliquei em O universo
autocons-ciente). Nosso desafio é nos erguermos
acima do ego para chegar à consciência superior,
com acesso à criatividade e à transformação.
Para incluir o ser humano como um todo em nossa
ciência, precisamos validar nossas experiências interio-
res; e simplesmente chamá-las de epifenômenos da
matéria não ajuda. Como codificou o psicólogo Carl
Jung, além de sentir o externo, há outros aspectos inter-
nos discerníveis de nossa experiência consciente, con-
sistentes em pensamento, sentimento e intuição. Desses
três elementos, dois não são computáveis, o sentimento
e a intuição, e por isso não podemos sequer processá-los.
O que sentimos? Sentimos movimentos semelhantes
a energias, que instrumentos materiais não podem medir.
Na China, chamam esses movimentos de chi; na Índia,
de prana; no Ocidente, são chamados de energia vital.
Essas culturas antigas, por exemplo, criaram todo um
sistema medicinal baseado no conceito de energia vital,
como a acupuntura e a terapêutica ayurvédica, que não
pode ser reduzido a uma medicina alopática tradicional.
O que intuímos? Esta é a mais sutil de nossas expe-
riências sutis, e por isso as opiniões variam um pouco.
Mas uma longa lista de tradições e filosofi as aponta que
as coisas que intuímos podem ser imaginadas como ar-
quétipos, contextos de alguns dos conceitos que mais
prezamos. Para citar os principais exemplos, temos a
verdade, a beleza, a justiça, o amor e a bondade. Natu-
ralmente, não podemos computar o pensamento intuitivo.

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Mesmo no caso de pensamentos mentais, os com-
putadores podem processar seu conteúdo, mas não seu
significado. Obviamente, portanto, sentimento, intuição
e pensamento não podem ser reduzidos a fenômenos
secundários da matéria. O pensamento correto exige
que, nessas experiências de pensamento, sentimento e
intuição, estejamos causando o colapso de possibilidades
quânticas de três mundos não materiais distintos, cada
um correspondendo a cada uma dessas experiências.
Como o mundo físico, todos esses múltiplos mundos de
possibilidade são mundos dentro da consciência. O
mundo da consciência é um multiverso!
Desse modo, a classificação das possibilidades
quânticas da consciência em quatro compartimentos,
quatro mundos diferentes – físico (dos sentidos), vital
(dos sentimentos), mental (dos pensamentos) e supra-
mental (das intuições) –, decorre da estrutura conceitual
da física quântica e de nossa experiência direta.
Como esses compartimentos distintos da realidade
interagem sem o paradoxo do dualismo? A consciência
medeia sua interação quando, simultânea e não local-
mente, causa o colapso de possibilidades nos diversos
compartimentos para sua experiência.
Tomemos como exemplo uma situação bem conhe-
cida. Você vê uma pessoa atraente do sexo oposto. Há
a sensação de um corpo físico manifestado. Há um sen-
timento associado a um ponto na região do corpo próxima
a seu coração, que os orientais chamam de chacra car-
díaco. Há um pensamento em sua mente: “Puxa, seria
bom conhecer essa pessoa”. E pode até haver uma in-
tuição supramental, mapeada num pensamento: “Estou

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apaixonado”. Nota-se aqui, claramente, a consciência
mediando a interação de seus diversos compartimentos
para que possam se manifestar de uma só vez.

Recriar um mundo de soluções

A beleza do novo paradigma é que a causação ascen-


dente, de cunho materialista, e a causação descendente,
que insere Deus no cenário, juntas, posicionam-se para
nos proporcionar a realidade manifestada. Materialidade
e espiritualidade se integram. É por isso que acredito
que um ativismo fundado na nova ciência de base quân-
tica será bem-sucedido, enquanto outros movimentos
ativistas falharam por estar fundados na separação.
Você precisa perceber o único aspecto comum a
cada um dos problemas catastróficos que mencionei
anteriormente: o conflito. O terrorismo atual tem raízes
no conflito entre materialismo e religião. E não diz
respeito apenas aos fundamentalistas islâmicos do
Oriente Médio em luta contra o império materialista do
“Grande Satã”, os Estados Unidos, mas também aos
cristãos fundamentalistas que atuam dentro desse
mesmo país. Problemas econômicos e ecológicos de-
vem-se indiretamente ao conflito entre interesses indi-
viduais e coletivos, entre valores do ego (como egoísmo
e competitividade excessiva) e valores do ser (como
cooperação, filosofia win-win, intuição, criatividade,
sentimento, felicidade). Em última análise, essas causas
também podem ser decorrentes do conflito entre ma-
terialismo e espiritualidade. Examinando de perto, a

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principal razão para que os custos com saúde cresçam
é nosso medo da morte e a ignorância acerca do que
constitui a vida, a saúde e a sabedoria – novamente,
materialidade e espiritualidade. O declínio do signifi-
cado, da ética e dos valores em nossas religiões, famí-
lias, sociedades e escolas deve-se claramente ao conflito
entre exterior e interior. A educação liberal está divi-
dida entre valores materiais e valores humanísticos e
espirituais. Entrar no mundo das soluções verdadeiras
é resolver o conflito entre materialidade e espirituali-
dade, entre exterior e interior. E é este o poder da nova
ciência. Ela integra.
Na primeira vez em que percebi as coisas dessa
forma, as soluções desfilaram diante do olho da mente:
a ciência dentro da consciência, integrando materiali-
dade e espiritualidade, imanência e transcendência,
exterior e interior; a economia espiritual, que lida tanto
com as necessidades externas e materiais quanto com
as necessidades internas e sutis; empresas profunda-
mente ecológicas, ambientalmente sustentáveis, que se
dedicam tanto ao modo exterior quanto ao interior de
produção e de consumo; uma democracia a serviço do
significado; uma educação liberal que nos prepara não
só para o mercado de trabalho como para a exploração
do significado da vida; uma saúde integradora, que
valoriza tanto a medicina alopática materialista quanto
a medicina alternativa sutil; e religiões abertas que en-
sinam a universalidade dos valores e a vivem segundo
esses preceitos num espírito pós-secular.
Todas essas soluções, como você irá perceber, têm
mais uma característica comum: elas aumentam o acesso

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das pessoas à exploração de significados e valores. Mas
como adotar essas soluções em nossa sociedade?
Enquanto pensava nessa questão, recorreu-me um
velho sonho, no qual havia apenas figuras abstratas. Elas
estavam dançando, brincando, divertindo-se muito. Uma
voz ao fundo disse: “São os anjos do fazer”. Então, a
cena mudou. Apareceram outras figuras abstratas, e
estas também pareciam felizes, mas eram diferentes,
estavam apenas sentadas em silêncio. A voz disse: “São
os anjos do ser”. E a cena mudou novamente, os anjos
do fazer voltaram. E assim por diante. Os anjos do fazer
e os anjos do ser surgiam e desapareciam, alternada-
mente. Quando acordei, compreendi o mistério funda-
mental da criatividade e da transformação. É a
alternância entre fazer e ser. Do-be-do-be-do.* Combinar
as forças do fazer e do ser.

Levar as lições da física quântica


à criatividade

Materialistas e racionalistas veem a criatividade como


um processo racional de tentativa e erro, consistente
apenas no fazer. Focalize um problema, engendre uma
teoria, descubra consequências comprováveis dessa
teoria, faça um experimento. Se funcionar, “bingo!”,
você tem uma solução. Se os dados experimentais não

* O autor faz um jogo de palavras, lembrando uma frase cantaro-


lada por Frank Sinatra em algumas canções, como Strangers in the
Night, e que remete aos verbos to do (fazer) e to be (ser). [N. do T.]

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se ajustarem à previsão inicial, volte à prancheta e ide-
alize outra teoria experimental. Tudo fazer-fazer-fazer.
Em contraste, as religiões e tradições espirituais do
mundo enfatizam o ser, ser-ser-ser. O mundo do fazer é
considerado ilusório e, por isso, é ignorado.
A física quântica nos ajuda a integrar essas duas
dimensões. Lembre-se, a física quântica é a física das
possibilidades; as possibilidades proliferam quando fi-
camos sentados em silêncio no modo “ser”, sem fazer
nada. De vez em quando, escolhemos uma dentre as
possibilidades que precipitam uma ação, no modo “fa-
zer”. Vamos alternando entre o modo “ser” e o modo
“fazer” até chegarmos descontinuamente à nossa
per-cepção: a solução.
Podemos, assim, processar inúmeras possibilidades
ao mesmo tempo no modo “ser”, e nossas chances de
encontrar a solução serão muito superiores àquelas do
método no qual exploramos uma tentativa de cada vez.
E os pesquisadores da criatividade nos dizem que essa
é, de fato, a maneira pela qual o processo de inventivi-
dade funciona em pessoas criativas (para maiores deta-
lhes sobre o tema, consulte Criatividade para o século 21).
Produzimos os problemas do nosso mundo e temos
de recriar o mundo das soluções. Para tanto, a criativi-
dade quântica é nossa principal ferramenta. Mas de
modo algum isso é tudo que o ativismo quântico tem a
oferecer. O ativismo convencional separa “nós” (os cor-
retos) “deles” (os malfeitores). A física quântica diz que
tudo é movimento da consciência; nós somos o mundo.
Não existe isso de nós contra eles. Só o movimento na
direção da consciência ou afastando-se dela, e nem

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sempre é fácil perceber a diferença. De uma coisa po-
demos ter certeza: quando a consciência é não local, ela
é abrangente. Quando praticamos a inclusão na solução
de conflitos, almejamos tocar a consciência não local.
No ativismo convencional, tentamos mudar o sis-
tema e, ao mesmo tempo, queremos nos manter inalte-
rados – nós, os sujeitos, continuamos hierarquicamente
superiores a um mundo-objeto –, uma hierarquia sim-
ples. Não nos damos conta de que fazemos parte do
sistema, de que o sistema já corrompeu nosso modo de
pensar. Será possível permitir que nosso ativismo nos
mude enquanto mudamos o sistema? Este é um relacio-
namento hierárquico entrelaçado (ou emaranhado) com
o processo de mudança: nós nos recriamos quando re-
criamos o mundo.
Por isso, o ativismo quântico; por isso, este mani-
festo quântico pela mudança pessoal e social. Usamos
os aspectos transformadores da física quântica – causa-
ção descendente, criatividade quântica, não-localidade
e hierarquia entrelaçada no relacionamento entre sujeito
e objeto – para mudarmos a nós mesmos e a sociedade.

Como saber se a nova ciência é científica?

Antes que você se entusiasme com esses argumentos,


deve estar pensando: até agora, tudo o que li ainda é
teórico. Onde estão os dados?
Para recapitular, o novo paradigma baseado na
consciência quântica ou em Deus fundamenta-se em
uma premissa ontológica impossível de ser comprovada:

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a consciência é a base da existência. Não podemos de-
monstrá-la porque a ciência nunca nos permite compro-
var sua premissa ontológica mais básica.
Mas nossa próxima premissa – a de que a física
quântica é a lei obedecida pelas possibilidades da cons-
ciência – é de fácil comprovação científica. A causação
descendente e a classificação das possibilidades da
consciência em quatro compartimentos decorrem da
estrutura conceitual da física quântica e de nossa expe-
riência direta.
Certa vez, perguntaram a Bertrand Russell, ateu
declarado, o que ele diria se, após a morte, descobrisse
que Deus existe. E Russell respondeu que perguntaria
a Deus: “Por que você não nos mostrou os dados, Se-
nhor?”. Muito bem, Bertrand, Deus mostrou-nos os da-
dos! Comprovamos Deus, a causação descendente e a
existência de corpos sutis de forma bem adequada.
Verifico a causação descendente em uma imensa
variedade de dados. Há evidências definitivas sobre visão
remota e potencial transferido. As qualidades sentidas da
percepção (chamadas qualia), os insights “ah-ha!” da
criatividade, as lacunas fósseis nos dados da evolução
biológica e os diversos casos de cura espontânea são
exemplos categóricos de causação descendente. Se ten-
tarmos explicar qualquer desses dados com modelos
materiais da realidade, teremos paradoxos de lógica.
As evidências dos corpos sutis são abundantes em
fenômenos como doenças psicossomáticas, sonhos, te-
lepatia mental, experiências de quase morte e reen-
carnação, cura pela medicina alternativa (ayurveda,
acupuntura e homeopatia), altruísmo e espiritualidade

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(para uma lista abrangente de todas essas comprovações,
consulte Deus não está morto).
Em suma, temos procurado pela realidade, e ela
consiste na consciência, tanto em seu estado manifestado
como no não manifestado (chamado potentia na física
quântica e inconsciente pelos psicólogos). Ficou entu-
siasmado? E o que você pretende fazer a respeito?
A ciência materialista não tem valores e não incor-
pora o signifi cado como uma entidade viável. Logo, no
materialismo não há escopo para o ativismo. Coisas que
acontecem conosco e em nosso mundo são epifenômenos
sem signifi cado e sem valor para a dança da matéria.
Podemos atribuir falsos signifi cados e valores às
coisas para tornar nossas sociedades toleráveis (como
na filosofi a existencialista), mas essa falta de autentici-
dade está destinada a criar ambiguidades nas interpre-
tações desses atributos e fragilizá-las.
Mas, se a consciência é primária, significado e
valor são reais e devem ser o foco de nossas vidas. No
entanto, o novo paradigma ainda não substituiu o antigo
– longe disso. Assim, o ativismo torna-se um instrumento
de mudança das bases sobre as quais construímos nosso
conhecimento científi co, uma alternativa prática para
restaurar o signifi cado e o valor em nossa vida e em
nossos sistemas sociais.

Ativismo quântico e evolução

Graças ao senso comum, hoje a maior parte das pessoas


educadas acredita que evolução biológica é sinônimo

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de darwinismo. O fato é que os dados fósseis proporcio-
nam fortes evidências para a evolução, mas contradizem
a tese de Darwin quando confrontados às famosas lacu-
nas fósseis e a outras anomalias.
A verdade é que a evolução darwiniana é contínua,
mas as lacunas fósseis são provas de ocasionais descon-
tinuidades na evolução. Em trabalho anterior,
Evolução criativa, demonstrei que tais lacunas são
evidências da causação descendente pela consciência,
consistente na criatividade biológica.
Na nova ciência, a evolução deve ser vista como a
manifestação progressiva das possibilidades da consci-
ência. Nessa óptica, o mundo físico é como o hardware
de um computador – faz representações dos outros três
mundos sutis. Com o tempo, as representações vão me-
lhorando. Evolução é o processo de desenvolvimento
dessa capacidade da matéria: fazer representações.
A primeira fase da evolução biológica está com-
pleta, e consiste em fazer representações cada vez me-
lhores das possibilidades dos movimentos vitais da
consciência que, por sua vez, representam mais e mais
possibilidades desses mesmos movimentos vitais, que
representam funções biológicas na forma de órgãos cada
vez melhores.
A segunda fase começa com a evolução do sofisti-
cadíssimo órgão do neocórtex do cérebro, no qual o
signifi cado mental pode ser representado.
A terceira fase da evolução consiste em desenvol-
ver a capacidade de representar os arquétipos supra-
mentais diretamente no plano físico, mas isso está em
nosso futuro evolucionário de longo prazo.

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E o que está nos detendo? O fato de ainda não
conseguimos integrar pensamento racional e sentimento.
O que nos impede? Os circuitos cerebrais instintivos de
emoções negativas com os quais nascemos. Perceba que
as representações feitas pela mediação do pensamento
e do sentimento não constituem a realidade, e são sem-
pre imperfeitas. Por isso, precisamos evoluir, chegar à
terceira fase para que nossa capacidade de fazer repre-
sentações possa florescer plenamente.
As tradições espirituais veem a jornada de trans-
formação como uma jornada espiritual – uma caminhada
rumo ao espírito, ao não manifestado, deixando para trás
as necessidades do mundo manifestado. Você não pode
mudar o mundo sem mudar a si próprio. Primeiro, evolua
observando o seu interior; o mundo exterior cuidará de
si mesmo.
Essa visão, no entanto, é incompleta. A jornada
transformadora da pessoa moderna, do ativista quântico,
é diferente. Somos o mundo em nosso interior e exterior.
Sim, precisamos transformar o interior; mas também
precisamos prestar atenção à evolução que envolve o
exterior. Desse modo, interior e exterior necessitam ser
integrados. Esta é a tarefa do ativismo quântico.
A ciência dentro da consciência nos diz que o
mundo manifestado foi idealizado para representar cada
vez melhor as possibilidades do não manifestado à me-
dida que o tempo passa, graças à evolução. A transfor-
mação é importante, em primeiro lugar, para atender ao
jogo evolucionário da consciência, e só secundariamente
como salvação pessoal em espírito. O objetivo supremo

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é atingir a unidade enquanto estamos no meio da sepa-
ração manifestada.
A causação descendente, como mencionado antes,
envolve escolhas dentre as possibilidades quânticas. Mas
há sutilezas. Fazemos escolhas o tempo todo. Qual o seu
sabor de sorvete preferido: chocolate ou creme? Ficamos
tão apegados à nossa preferência que, se escolhemos o
sorvete de creme em vez do de chocolate, do qual
gostamos mais, achamos que fizemos uma grande des-
coberta criativa. Este é o tipo de escolha que os econo-
mistas do consumo exploram em nós. É um exemplo de
causação descendente, sim, mas não há nele a liberdade
plena do movimento quântico; qualquer que seja nossa
escolha, nossa liberdade de opção estará comprometida
pelo condicionamento passado. E quando estamos con-
dicionados, não vemos mais as possibilidades como tal.
O colapso consciente com verdadeira liberdade de
escolha é descontínuo, não local e hierarquicamente
entrelaçado. Este último item requer uma explicação um
pouco mais detalhada.
A hierarquia simples você conhece: quando alguém
é o manda-chuva e tem um subordinado, o primeiro é o
nível causal de uma hierarquia simples. Um relaciona-
mento é uma hierarquia entrelaçada quando a causali-
dade flutua de um lado para o outro entre os níveis, ad
infinitum. E mais: a eficácia causal dos níveis de uma
hierarquia entrelaçada é apenas aparente. A verdadeira
eficácia causal está num domínio que transcende a ambos.
É isso que acontece num evento de colapso quân-
tico com verdadeira liberdade de escolha. Sempre que
temos uma experiência na qual fazemos escolhas, esco-

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lhemos entre coisas conhecidas; não temos de fato a li-
berdade de optar por algo desconhecido.
Quando escolhemos algo desconhecido, como
numa experiência criativa, nunca sentimos que estamos
fazendo escolhas. Chamo esse estado não ordinário do
sujeito/self de self quântico (que as tradições chamam
de espírito ou estado de superconsciência), em contraste
com o ego condicionado, normalmente experimentado.
A verdade é que a autêntica escolha é a de uma cons-
ciência transcendente – ou, se preferir, Deus.
Atingimos a verdadeira liberdade quando adota-
mos qualquer um dos três aspectos quânticos da causa-
ção descendente da escolha – descontinuidade, não
localidade e hierarquia entrelaçada. Praticamos o pri-
meiro na criatividade, o segundo no desenvolvimento
da consciência social e o terceiro nos relacionamentos
íntimos. Tudo isso envolve não apenas o que nos é in-
terno, mas também o externo.
Assim, como ativistas quânticos, não saímos do
mundo; nós vivemos o mundo. Combinamos pensamento
correto com vida correta. Agimos conforme falamos.
Fazemos viagens frequentes até o sutil.

Viver corretamente

Pensar corretamente proporciona o contexto, e viver


corretamente – pondo em prática nosso discurso – oferece
o ângulo transformador para um ativista quântico. A
questão de vivermos corretamente tem dois aspectos. O
primeiro está relacionado com a escolha pessoal de cada

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um em viver corretamente. Seu modo de vida deve pro-
piciar sua própria jornada pessoal de criatividade e
transformação; deve proporcionar à pessoa mais tempo
para relaxar e apenas ser, por exemplo. Este é o aspecto
que as tradições espirituais convencionais, especial-
mente o budismo, enfatizam.
O segundo aspecto da vida correta é mais parecido
com o ativismo convencional, pois tentamos mudar nos-
sas instituições sociais para fazer com que acompanhem
nossa jornada evolucionária. É fato que, através de boa
parte de nossa história após a revolução agrícola, esta-
belecemos hierarquias simples tão fortes que a maior
parte da humanidade foi impedida de explorar signifi-
cado e valores. No século 18, com o advento do capita-
lismo, da democracia e da educação liberal, as coisas
mudaram um pouco. Essas instituições levaram ao de-
senvolvimento de uma classe média cuja prerrogativa é
a exploração do significado.
As coisas mudaram novamente no século 20, na
década de 1950, quando o materialismo científico come-
çou a ganhar forças. Uma moléstia pós-moderna tomou
conta da psique coletiva da humanidade, com o que
virou moda a desconstrução de nossos grandes ideais.
Em trinta anos, por volta da década de 1980, a classe
média norte-americana já estava encolhendo, mas só
recentemente é que nos demos conta disso. Coinciden-
temente, estamos vivendo o processo de criação de um
novo paradigma na ciência, que promete devolver o
significado e os valores à nossa visão de mundo. A jor-
nada evolucionária que agora conduz as pessoas à ex-

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ploração do significado pode recomeçar. Isso exige uma
revisão de nossas instituições sociais.
Além disso, as metas materialistas criaram condi-
ções de crise, uma conjuntura difícil cuja solução também
exige uma nova leitura de nossos sistemas sociais. E esta
revisão, que visa favorecer a exploração de significados
e valores, é uma meta importante do ativismo quântico.
Participar desse processo, para o ativista quântico, é um
ideal, um exemplo daquilo que o Bhagavad Gita chamou
de karma yoga – a transformação pela ação social.

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bibliografia

GOSWAMI, Amit. The self-aware universe: how cons-


ciousness creates the material world. Nova York:
Tarcher/Putnam, 1993. [O universo autoconsciente:
como a consciência cria o mundo material. 2.ed. São
Paulo: Aleph, 2008.]

______. The visionary window: a quantum physicist’s


guide to enlightenment. Wheaton, IL: Quest Books,
2000. [A janela visionária: um guia para a ilumina-
ção por um físico quântico. São Paulo: Cultrix, 2006.]

______. Physics of the soul: the quantum book of


living, dying, reincarnation, and immortality. Char-
lottsville, VA: Hampton Roads, 2001. [A física da
alma: a explicação científica para a reencarnação,
a imortalidade e a experiência de quase-morte.
2.ed. São Paulo: Aleph, 2008.]

______. The quantum doctor: a physicist’s guide


to health and healing. Charlottsville, VA: Hampton
Roads, 2004. [O médico quântico: orientações de
um físico para a saúde e a cura. São Paulo: Cultrix,
2006.]

36

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UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ATIVISMO QUÂNTICO

______. God is not dead: what quantum physics tells us


about our origins and how we should live. Charlottsville,
VA: Hampton Roads, 2008. [Deus não está morto: evidências
científicas da existência divina. São Paulo: Aleph, 2008.]

______. Creative evolution: a physicist’s resolution between


Darwinism and intelligent design. Wheaton, IL: Theosophi-
cal Publishing House, 2008. [Evolução criativa das espécies:
uma resposta da nova ciência para as limitações da teoria
de Darwin. São Paulo: Aleph, 2009.]

______. Creativity at the time of crisis and paradigm shift.


Center for Quantum Activism, 2011. [Criatividade para o
século 21: uma visão quântica para a expansão do potencial
criativo. São Paulo : Aleph, 2012.

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Sobre Amit Goswami

Ph.D em física nuclear, o indiano Amit Goswami é


referência mundial em estudos da consciência que
buscam conciliar ciência e espiritualidade. É criador do
Ativismo Quântico, um movimento que hoje conta com
milhares de pessoas em busca de transformação
pessoal e social através dos princípios da física
quântica.

Goswami participou do famoso filme “Quem Somos


nós?”, é professor emérito da Universidade do Oregon
– EUA, e autor de vários livros, todos publicados no
Brasil.

É também fundador da primeira escola de


transformação brasileira baseada na visão de mundo
quântica, a Quantum Academy, onde ministra
diversos cursos online e presenciais.
LIVROS DE AMIT GOSWAMI
PUBLICADOS NO BRASIL

Consciência quântica
Uma nova visão sobre o amor, a morte, e o sentido
da vida

Por meio de uma visão que integra ciência e


espiritualidade, este livro transformador utiliza os
princípios quânticos para explicar pensamentos,
sentimentos e intuições; sonhos; karma, morte e
reencarnação; evolução e propósito, entre outros
temas cruciais para entendermos, afinal, quem
somos nós.

CLIQUE E SAIBA MAIS

O universo autoconsciente
Como a consciência cria o mundo material

Em O Universo Autoconsciente, Amit Goswami


aponta as inconsistências da ciência convencional
enquanto explora e explica as descobertas da
física quântica. O acadêmico também discute o
processo de separação entre mente e corpo e
resgata a herança filosófica das grandes tradições
religiosas.

CLIQUE E SAIBA MAIS


A física da alma
A explicação científica para a reencarnação, a
imortalidade e as experiências de quase morte

A Física da Alma é uma das mais importantes


obras do físico nuclear Amit Goswami. Utilizando
métodos científicos, o autor responde diversas
questões comuns à humanidade: existe mesmo
uma alma que sobreviva à morte e transmigre de
um corpo para outro? Será que a reencarnação é
científica?

CLIQUE E SAIBA MAIS

O ativista quântico
Princípios da física quântica para mudar o mundo
e a nós mesmos

Numa demonstração clara e descomplicada de


que a física quântica pode – e deve – ser utilizada
como parte da solução de diversos problemas da
atualidade, Goswami convida-nos ao ativismo
quântico: uma nova forma de pensar, intervir e
transformar nossa realidade social e pessoal; um
verdadeiro comprometimento com o mundo em
que vivemos e com a nossa própria evolução e
felicidade.

CLIQUE E SAIBA MAIS


Criatividade para o século 21
Uma visão quântica para a expansão do potencial
criativo

Em Criatividade para o Século 21, Amit Goswami


ratifica sua coerência intelectual e amplifica sua
sensibilidade para novamente oxigenar o
pensamento científico. Dessa vez o pesquisador
propõe novas formas de abordar a consciência, a
mente, a criatividade e até a própria ciência.

CLIQUE E SAIBA MAIS

Economia da consciência
Construindo um novo paradigma econômico a
partir dos princípios da física quântica

Numa demonstração clara e descomplicada de


que a física quântica pode – e deve – ser utilizada
como parte da solução de diversos problemas da
atualidade, Goswami convida-nos ao ativismo
quântico: uma nova forma de pensar, intervir e
transformar nossa realidade social e pessoal; um
verdadeiro comprometimento com o mundo em
que vivemos e com a nossa própria evolução e
felicidade.

CLIQUE E SAIBA MAIS


Deus não está morto
Evidências científicas da existência de Deus

Deus Não está Morto é uma das principais obras


do físico nuclear Amit Goswami. De forma
racional, o autor recorre aos princípios científicos
da física quântica para responder
afirmativamente a uma das questões mais
antigas, controversas e, para muitos, cruciais da
história humana: Deus existe?

CLIQUE E SAIBA MAIS

Evolução criativa
Uma resposta da nova ciência às limitações da
teoria de Darwin

Neste livro revolucionário, Goswami aponta as


limitações da ciência materialista convencional e
propõe uma teoria inovadora e inclusiva sobre a
evolução das espécies, apresentando evidências
incontestáveis de que a evolução dos seres no
planeta não se deve apenas ao processo da
seleção natural, mas também a uma força criativa
espontânea e inteligente.

CLIQUE E SAIBA MAIS

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